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1. TÍTULO
2. INTRODUÇÃO
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Funari (2008, p. 11), a educação patrimonial “constitui um campo de ação, por definição, inter e transdisciplinar.
Insere-se nas preocupações pedagógicas e não pode ser dissociada das discussões sobre o sentido mesmo do
ensino”.
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Para Rüsen (2001), a consciência histórica é algo amplo e elementar do pensamento histórico, está relacionada
com a vida humana prática, pois as interpretações que os homens fazem da evolução temporal orientam, de maneira
intencional, suas práticas no tempo. Ao configurar a consciência histórica, o homem articula em sua vida prática
a experiência e as intenções no tempo, orientando o agir e o sofrer no tempo. A consciência histórica é, assim, o
modo pelo qual a relação dinâmica entre experiência do tempo e intenção do tempo se realiza no processo da vida
humana. [...] A consciência histórica é o trabalho intelectual realizado pelo homem para tornar suas intenções de
agir conformes com a experiência do tempo. Esse trabalho é efetuado na forma de interpretações das experiências
do tempo. Estas são interpretadas em função do que se tenciona para além das condições e circunstâncias dadas
da vida. (RÜSEN, 2001, p. 58-59)
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São somente “eles” (artesãos), que são chamados para falar em nome de todos. Tem
gente aqui que só comercializa o produto final e fala como se soubesse ao menos
queimar as peças”.
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Infomação fornecida pela SOAMI – Sociedade de Artesãos e Amigos de Icoaraci
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São muitos os questionamento e um único direcionamento: por meio das memórias das
mulheres ceramistas, seus modos de socialização e representações de vida cotidiana é possível
conceber a construção de suas identidades.
3. JUSTIFICATIVA
adquirem o valor de um bem - um bem cultural - e é por meio deles que o grupo se vê e quer
ser reconhecido pelos outros.
Naturalizado como Patrimônio Cerâmico da Comunidade Oleira de Icoaraci, essa
condição possibilita que a produção e comercialização da cerâmica “arqueológica”, hoje
conhecida nacional e internacionalmente, torne possível hoje o sustento de centenas de pessoas.
Mais que uma questão econômica, depreende-se aqui a relação afetiva estabelecida entre os
envolvidos com a produção desta arte. Em especial às ceramistas que desde muito cedo
aprenderam o ofício e internalizaram serem as responsáveis pela perpetuação desta atividade.
Uma vez escolhida a cerâmica marajoara como símbolo da identidade cultural brasileira,
desde o século XIX, momento em que o Estado Imperial Nacional precisava escolher uma
identidade, não se sabia ao certo a proporção que essa escolha iria tomar para a sociedade
icoaraciense, quando através do “Mestre Cabeludo” foi realizada a primeira inserção de
grafismo indígena na cerâmica produzida no local.
O que se sabe ao certo é que, atualmente, à cultura Marajoara foi atribuída um novo
significado pela comunidade oleira do Distrito de Icoaraci no que se refere à produção da
cerâmica “arqueológica”. Essa ressignificação, apresenta-se na forma de representações
simbólicas que acabam por denotar um novo sentido à sua existência. A essa discussão
recorremos aqui a Eric Hobsbawm (1995) quando define as “tradições inventadas” como um
conjunto de práticas, normalmente governadas por regras aceitas aberta ou tacitamente, de
natureza simbólica ou ritual, que buscam inculcar certos valores e normas de comportamento
pela repetição, que automaticamente implica continuidade com o passado. As tradições
inventadas, ainda segundo Hobsbawm (op. cit. 12), usam as referências ao passado não apenas
para trabalhar coesão social, mas também para legitimar suas ações. Dadas as muitas
ressignificações que esse passado pode se apresentar, destaca-se aqui o uso dessas
reconstruções no uso político, como bem registra a professora Anna Maria Linhares:
ação educativa das escolas onde ministro as aulas de História, percebi a realização do processo
de criação dos artefatos pelas ceramistas que com muito cuidado manuseiavam aquela
atividade. Observava sua afeição com aquela peça, que mais parecia um carinho de mãe que
uma simples ação rotineira. Sempre quis conhecer os mecanismos utilizados pelos artesãos para
transformarem argila em obras de arte. Afinal, o conhecimento que se tem a respeito da
confecção desses artefatos tem início e fim na Feira do Artesanato localizada na Orla de
Icoaraci, onde se contempla e adquirem as peças.
Em meio às muitas conversas informais, feitas com ceramistas que desenvolvem a arte
desde a infância, uma fala me chamou atenção. Fiz uma colocação indevida, quando identifiquei
um artesão como oleiro, imediatamente, fui retificada “ele não é oleiro, oleiro é aquele que sabe
trabalhar com o torno”. Essa correção me despertou para buscar embasamento sobre as etapas
e tarefas que estes artesãos realizam, desde a extração da argila, passando pelo design, pela
queima das peças, pela pintura até comercialização da arte.
Sem carteira assinada, sem políticas públicas voltadas para atender as demandas
emergentes, as questionava como concebiam o trabalho que realizavam. Percebi, em meio às
suas respostas a gratidão a seus familiares, geralmente às suas mães que repassavam o
conhecimento da arte e foram responsáveis por garantir um ofício a essas mulheres que na luta
pela sobrevivência, destinam suas forças para garantir a sustentabilidade de suas famílias. Como
bem afirma a mestra Zuíla:
Criei todos os meus filhos com este ofício. Pra mim essas peças valem mais do que
dinheiro, me fazem lembrar de minha mãe. É só o que eu sei fazer. Assim como minha
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mãe me ensinou, também ensinei meus filhos, que não seguiram o meu exemplo. Cada
um foi estudar e seguiu seu rumo.
Hoje, quando falamos em patrimônio, duas idéias vêm a nossa mente. Em primeiro
lugar pensamos nos bens que transmitimos aos nossos herdeiros - e que
podem ser materiais, como uma casa ou uma jóia, com valor monetário determinado
pelo mercado. Legamos, também, bens de pouco valor comercial, mas de grande
significado emocional, como uma foto, um livro autografado ou uma imagem
religiosa do nosso altar doméstico. Tudo isso pode ser mencionado em um testamento
e constitui o patrimônio do indivíduo. (FUNARI; PELEGRINE, 2006, p. 9).
Essa afirmação me deixou ainda mais angustiada, quando percebo que aquilo que eu
aprendi desde que nasci e que para mim é motivo de orgulho: a produção cerâmica de Icoaraci,
reconhecida pela beleza e singularidade local, encontra-se ameaçada. Já que não se trata
simplesmente em aprender o ofício, através de um curso programado, uma vez que não são
todos que conseguem administrar com perfeição cada etapa da produção. Afinal, fazer artefato
requer habilidade, conhecimento e precisão manual. A questão vai bem mais além: se os jovens
que estão diretamente ligados às famílias de ceramistas, optam por não desempenharem a arte
oleira, então essa atividade estará fadada ao esquecimento.
Essa reflexão traz à tona a magnitude da temática da preservação dos bens patrimoniais
ameaçados pelo aumento dos processos de globalização cultural, com a Globalização,
ampliação das facilidades de comunicação e, consequentemente, a transmissão dos valores
culturais. Fato mais do que constatado quando evidenciamos a cidade cada vez mais um espaço
dos negócios, das empresas, do capital, eis o temor que suscita da perda das identidades, das
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Como afirma Circe Bittencourt (2009), “Dar aula” é uma ação complexa que exige o
domínio de vários saberes característicos e heterogêneos. E mais, “os professores mobilizam
em seu ofício os saberes das disciplinas, os saberes curriculares, os saberes da formação
profissional e os saberes da experiência”. (BITTENCOURT, 2009, p. 51).
O papel do professor na constituição das disciplinas merece destaque. Sua ação nessa
direção tem sido muito analisada, sendo ele o sujeito principal dos estudos sobre
currículo real, ou seja, o que efetivamente acontece nas escolas e se pratica nas salas
de aula. O professor é quem transforma o saber a ser ensinado em saber apreendido,
ação fundamental no processo de construção do conhecimento. Conteúdos, métodos
e avaliações constroem-se nesse cotidiano e nas relações entre professores e alunos.
Efetivamente, no ofício do professor o saber é constituído, e a ação docente não se
identifica apenas com a de um técnico ou a de um “reprodutor” de um saber produzido
externamente. (BITTENCOURT, 2009, p. 50 - 51).
O fazer cerâmica, inclui-se no objeto dos direitos culturais que na sua abrangência
contempla o processo de formação de indivíduos, o reconhecimento de formas de vida
em suas dimensões simbólicas e materiais, o direito à criação, à fruição, à difusão de
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A consolidação desses direitos deve ser efetivada pelo Estado conforme preceitua a
Constituição Federal de 1988 que foi profícua na garantia de direitos na área da cultura popular
e patrimônio:
Art. 215 - O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso
às fontes da cultura nacional, e incentivará a valorização e a difusão das manifestações
culturais.
123 § 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e
afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório
nacional;
§ 2º - A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para
os diferentes segmentos étnicos nacionais;
§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando
ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que
conduzem à:
I - defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;
II - produção, promoção e difusão de bens culturais;
III - formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas
dimensões;
IV - democratização do acesso aos bens de cultura;
V - valorização da diversidade étnica e regional;
Art. 216 - Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver; conhecimento;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
Evidenciada a responsabilidade do Estado como agente na preservação compartilhada
destes bens, conforme apontado no parágrafo primeiro da Constituição:
§1º O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o
patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância,
tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação
(BRASIL, 1988).
Permite-nos pensar que o papel do Estado está em dirimir ações públicas visando sanar
as deficiências no modo de produção e comercialização desta atividade.
Sob esta ótica, no âmbito das políticas voltadas à preservação do patrimônio, a Educação
Patrimonial tem ganhado destaque nas últimas décadas por promover a interação entre os
campos da Educação e do Patrimônio Cultural. Pretendemos assim, por meio desta discussão,
levar à sala de aula as atividades educativas voltadas ao campo do patrimônio, concebidas
enquanto um processo transversal nas práticas preservacionistas institucionais, servindo
também como um instrumento de reconhecimento e valorização de referências culturais, de
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forma coletiva e democrática. Dito isto, é intenção nossa provocar no aluno esse olhar
questionador, crítico, contemplativo no sentido de estar junto a este trabalhador/trabalhadora
na luta pela garantia dos seus direitos. Defendemos criar situações de aprendizado sobre o
processo cultural, através da execução desta ação de Educação Patrimonial, de modo que
possamos conquistar um ensino e aprendizagem dinamizado e expandido, muito além do
ambiente escolar, inserindo a comunidade neste processo e permitindo aos alunos e a
comunidade conhecer suas histórias e tradições.
4. OBJETIVOS
4.1 GERAL
4.2 ESPECÍFICOS
5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Não cabe a um educador ditar o que é patrimônio. Antes de qualquer coisa é preciso
possibilitar ao educando que perceba sua condição na sociedade, assim como escolha do que
deve ser eleito como patrimônio. Seguindo esta perspectiva, e com o intuito de atingir os
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sociedade. Essas memórias devem ser guardadas e registradas para as sociedades futuras. O
caminho traçado na ação educativa, na salvaguarda do patrimônio é um estímulo, um exercício
de sensibilidade que a educação pode proporcionar para além do conhecimento. Segundo Nora
(1993): Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não há memória espontânea,
que é preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar celebrações,
pronunciar elogios fúnebres, notariar atas, porque essas operações não são naturais. É por isso
a defesa, pelas minorias, de uma memória refugiada sobre focos privilegiados e
enciumadamente guardados nada mais faz do que levar à incadescência a verdade de todos os
lugares de memória. (NORA, 1993; p. 13)
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Turismo e patrimônio cultural. São Paulo: Contexto, 2008.
FUNARI, Pedro Paulo; PELEGRINI, Sandra, C., A. Patrimônio histórico e cultural. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
HOBSBAWM, Eric. A Era dos extremos: o breve século XX. 1914-1991. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995. p.13.
LINHARES, Anna Maria Alves. Um grego agora nu: índios marajoara e identidade nacional
brasileira. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Pará, Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas, Programa de Pós-Graduação em História, Belém, 2015.
MOORE, Henrieta. The Problems of Origins: Poststructuralism and Beyond. In: Interperting
Archaeology: Finding Meaning in the Past, editado por I. Hodder, M. Shanks, A. Alexandri,
V. Buchli, J. Carman, J. Last e G. Lucas, pp. 51-53. London & New York: Routledge, 1995.
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brasileira. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Pará, Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas, Programa de Pós-Graduação em História, Belém, 2015.
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TAVARES, Auda Edileusa Piani. SABERES TRADICIONAIS COMO PATRIMÔNIO
IMATERIAL NA AMAZÔNIA INTERCULTURAL: saberes, fazeres, táticas e resistência
dos ceramistas de Icoaraci. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Pará, Núcleo de
Altos Estudos Amazônicos, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do
Trópico Úmido, Belém, 2012.
7. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
Levantamento
X
Bibliográfico
Elaboração de
instrumentos de X X
pesquisa.
Visitação em campo X X
Organização de
X
Dados
Análise e
Interpretação de X
Dados
Elaboração de
X
conclusões e Escrita.
Elaboração do
X
Relatório e Escrita
Revisão do Relatório X
Defesa da Dissertação X