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JOSÉ REGALLA

ISRAEL SOB A PERSPETIVA BÍBLICA


Título do original: O Lado Desconhecido de Israel - A região sob a perspetiva bíblica

Capa: Cristina Regalla


Fotografias da capa: Imagem retirada de Garnier Fréres - Géographie des Hébreux, 1837
e Maqueta de Jerusalém - José Regalla, 1995
Lisboa, janeiro 2011

CONTACTOS COM O AUTOR:


E-mail: jregalla@yahoo.com ou
Pr. do M. F. A. N.º 2, Idanha
2605-097 Belas
Portugal

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…Arrancar-vos-ei dentre os povos, reunir-vos-ei fora dos países
por onde estais dispersos... Eis o que diz o Senhor Deus:
Quando eu reunir os israelitas dentre os povos, através
dos quais foram dispersos, manifestarei desta maneira
a minha santidade aos olhos das nações e habitarão
a terra que eu dei ao meu servo Jacob
(Ezequiel 20: 34; 28: 25)

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ÍNDICE
Apresentação ....................................................................................... 8

Capítulo I
Interpretação da Bíblia ........................................................................ 15
As Alianças, o Modo de Deus Lidar com a Humanidade ...... 19
As Tribos Perdidas de Israel e a Ciência ................................ 33
Introdução à Profecia Bíblica .............................................................. 40
Interpretação Literal das Profecias sobre Israel ..................... 46
O Significado da Expressão ‘Fim dos Tempos’................................... 57

Capítulo II
Israel, um Mistério para o Mundo ....................................................... 61
Israel no Âmbito Profético e Histórico ................................................ 67
Origem de Israel ...................................................................... 67
Emigração para o Egito ........................................................... 70
O Êxodo .................................................................................. 70
Particularidade da Aliança Divina com Abraão ...................... 78
Objetivo da Lei Mosaica ......................................................... 79
Israel Durante a Permanência em Canaã ................................. 81
Breve História do Período da Diáspora ................................... 96
A Diáspora e o Registo Bíblico ............................................... 99
Profecias sobre o Processo de Restauração de Israel ............. 101
A Restauração Política de Israel (O Estado de Israel) ........... 103
O Caminho para a Paz ........................................................... 113
Guerras e Outros Conflitos ............................................. 114
Processo para a Paz ......................................................... 118
O Tratado de Paz e a Profecia ................................................ 123
5
O Arrebatamento ................................................................... 125
Tempo de Angústia para Jacob (A Tribulação) ..................... 127
O Sonho de Nabucodonosor ..................................... 132
Profecia das Setenta Semanas .................................. 139
A Atuação do Anticristo ....................................................... 143
O Papel de Jerusalém no Plano de Deus ............................... 151
O Julgamento das Nações ..................................................... 156
Restauração Espiritual de Israel (O Reino Milenar de Cristo ou
O Milénio) .......... 157
Israel no Livro do Apocalipse ............................................................. 167
O Aparecimento do Anticristo ou a Besta que Subiu do
Mar ........... 171
O Aparecimento do Falso Profeta ou a Besta que Subiu da
Terra ....... 183
A Batalha do Harmaguedon ................................................. 194
O Milénio .............................................................................. 196
O Julgamento do Grande Trono Branco (O Juízo Final) ...... 197
O Advento da Eternidade ..................................................... 200
Israel, Canal da Revelação e Bênção de Deus para o Mundo ............ 202
A Eleição de Israel no Passado ............................................ 202
A Presente Rejeição do Evangelho ...................................... 203
A Salvação de Israel ............................................................. 203
Perspetiva Futura .................................................................. 204

Capítulo III
O Tempo da Igreja e os Tempos dos Gentios.
A Igreja Substituiu Israel? .......... 210
O Amor de Deus ............................................................................... 219
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A Violência Contra o Reino de Deus ................................................ 227
Nota Final .......................................................................................... 240
Bibliografia Consultada ..................................................................... 242

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APRESENTAÇÃO
Nesta obra é dada a conhecer, sob uma perspetiva pouco conhecida, a
origem da instabilidade no Médio Oriente e em Israel em particular.
Embora Israel esteja em situação de desgraça, pois, segundo a Bíblia, está
sob o juízo de Deus por causa da sua desobediência, há várias predições,
importantes para os tempos atuais, que se estão a cumprir. A profecia
bíblica relacionada com o papel do povo israelita e da sua nação na
História é analisada. Serão referenciados os exílios, a Diáspora e o
regresso do povo judeu à sua terra ou a sua restauração política.
Através dessa informação, talvez se venha a perceber, por exemplo,
porquê e como Deus escolheu os judeus para serem o Seu povo eleito e
como as Suas Alianças salvaguardam o Seu Plano para a Humanidade, no
qual o povo judeu teve e terá uma função a desempenhar. Segundo a
Bíblia, Israel, em torno do qual girarão acontecimentos mundiais
relevantes, será cada vez mais o centro das atenções internacionais.
O meu entendimento sobre a profecia bíblica, que ditou o estudo aqui
descrito, no geral enquadrado no método futurista de interpretação e na
escola pré-milenista dispensionalista que a igreja primitiva seguia, não foi
desprovido de crítica. Foi resultante do conhecimento adquirido, em que
toda a mensagem bíblica, de alguma forma complexa, foi sendo
confrontada e esclarecida através da leitura de livros e artigos das várias
correntes cristãs sobre o mesmo assunto, a maior parte dos quais aqui
citados, além de pregações.
Embora sem ser exaustivo, tentarei mostrar como essas profecias, as mais
antigas feitas há quase 3.500 anos, se cumpriram. Muitos cristãos referem-
se ao Antigo Testamento (AT) como sem valor, se comparado com o
Novo Testamento (NT). Contudo, sem o Antigo, o NT fica privado de
grande parte do seu sentido, sendo, portanto, muitas vezes mal
interpretado ou estudado de forma incompleta, perdendo-se, assim, muito
da sua mensagem.
Depois, porque intimamente ligados ao povo judeu, serão analisados os
sinais que antecedem a Segunda Vinda de Jesus, muitos dos quais ligados
ao estado da sociedade e do planeta no ‘fim dos tempos’, ou seja, a
situação em que, segundo a Bíblia, a Humanidade e a Natureza estarão
quando Jesus Cristo regressar em poder e glória à Terra. É de assinalar que
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a maioria destes sinais já se cumpriu ou está a cumprir-se, demonstrando,
assim, a exatidão da palavra profética. Será também dada informação para
a compreensão do que é biblicamente designado por, ‘tempos dos gentios
ou pagãos’ (Daniel 2; Lucas 21: 24), ‘tempo de Israel’ e ‘tempo da Igreja’,
assunto mal explicado, inclusive por algumas igrejas. Com isto tenta-se
promover uma reflexão sobre a Bíblia e a mensagem nela contida.
Para melhorar a compreensão dos assuntos aqui expostos, tentarei ser
claro e simples e, para melhor enquadramento dos assuntos, poderei ser
repetitivo. Antes de tratar o tema do livro, também com o mesmo objetivo,
farei uma introdução sobre a interpretação bíblica e a profecia, bem como
um breve esclarecimento sobre a expressão ‘fim dos tempos’. Pela mesma
razão, será feita uma breve abordagem científica à origem do atual povo
judeu e serão incluídos, no final do livro, os subcapítulos: ‘O Tempo da
Igreja e os Tempos dos Gentios. A Igreja Substituiu Israel?’, ‘O Amor de
Deus’ e ‘A Violência Contra o Reino de Deus’. O caráter de novidade que
os assuntos transportam para muitos leitores e a quantidade de informação
transmitida, assim o exigem. A negrito e em itálico são transcritas as
passagens bíblicas diretamente ligadas ao assunto abordado. As restantes,
por falta de espaço, são indicadas entre parênteses, considerando-se
proveitosa a sua consulta, no sentido de examinar os respetivos contextos.
A fonte dessas transcrições é, salvo indicação em contrário, a Bíblia
Sagrada, 4.ª edição (1971) da Difusora Bíblica, Missionários Capuchinhos,
Lisboa.
Quem, após a sua leitura integral, analisar este escrito, honestamente terá
que concordar que a argumentação apresentada é baseada na informação
bíblica, na evidência histórica e nas conclusões lógicas delas decorrentes.
Embora seja impossível, em qualquer área do conhecimento, trabalhar ou
estudar sem pressuposições, evitou-se trazê-las para esta análise,
nomeadamente as de ordem teológica. A informação aqui transmitida
poderá ser melindrosa, contudo, dever-se-á ter em atenção que é
totalmente baseada na Bíblia, especialmente no Antigo Testamento.
Já nos primeiros séculos da igreja a doutrina neotestamentária sofreu a
influência de várias correntes de pensamento, que originaram vários
métodos de interpretação das Escrituras que a levaram a afastar-se do
ensino de Cristo e dos apóstolos. Como consequência, a mensagem
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bíblica é transmitida de forma fragmentada e a profecia, que compõe
quase um quarto do seu conteúdo, é esquecida ou interpretada de modo
alegórico. Esse afastamento impediu e impede que a grande maioria do
povo cristão tenha conhecimento do Plano de Deus, onde se encontra o
Seu propósito e programação futuros. Assim, muitos dos que, por
atribuição, deveriam transmitir a mensagem bíblica deixaram de
compreender as Escrituras e avançaram (e avançam) com interpretações
particulares e arbitrárias, baseadas em tradições humanas e intuições muito
próprias, contribuindo para a depreciação da doutrina bíblica e abrindo
espaço para o surgimento de outras ‘fés’. Se assim não fosse, talvez
houvesse outra consciência e sensibilidade para os assuntos que a Bíblia
contém e viessem a atenuar-se os preconceitos que levam as pessoas à
indiferença e a não debaterem os temas cristãos com seriedade.
O ensino bíblico original de Cristo e dos apóstolos é o único que protege
do erro doutrinário. Paulo afirmou: Mas tenho medo que se corrompam
no entendimento e abandonem a simplicidade e a pureza da fé em
Cristo, assim como Eva foi seduzida pela astúcia da serpente (2 Coríntios 11:
3). Lucas iniciou o seu Evangelho com a seguinte informação (sublinhado
do autor): Já que muitos empreenderam compor uma narração dos
factos que entre nós se consumaram, como no-los transmitiram os que
desde o princípio foram testemunhas oculares e se tornaram servidores
da Palavra, resolvi eu também, depois de tudo ter investigado
cuidadosamente desde a origem, expor-vos por escrito e pela sua ordem,
ilustre Teófilo, a fim de que reconheças a solidez da doutrina em que
fostes instruído (Lucas 1: 1-4). O evangelista, ao consultar os escritos que
existiam e investigar sobre os factos ocorridos, demonstrou preocupar-se
com a autenticidade do que iria transmitir. O apóstolo João, na sua
primeira epístola, para defesa contra o paganismo, gnosticismo e outras
doutrinas, disse: escrevi-vos estas coisas acerca dos que vos enganam (1
João 2: 26). Pedro, com o mesmo propósito, afirmou: e estai sempre prontos
a responder, para vossa defesa, com doçura e respeito, a todo aquele que
vos perguntar a razão da vossa esperança (1 Pedro 3: 15). Hoje, tal como
nesse tempo, é necessário explicar, com provas, quais as razões que levam
a ter confiança na Bíblia e a saber que Deus é o seu Autor.

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A Bíblia, constituída por 66 livros escritos ao longo de vários séculos,
abarca uma mensagem coerente e centrada na vinda do Messias. Os seus
escritores, de formações diferentes, foram quarenta, entre os quais se
encontravam os reis David e Salomão; os sacerdotes Jeremias e Ezequiel;
Moisés e Amós, pastores de ovelhas. O soldado Josué e o estadista Daniel.
Esdras o escriba e Neemias, mordomo. Lucas foi médico, Pedro e João
pescadores, e Paulo, teólogo e fariseu. A mesma inspiração foi
apresentada sob pontos de vista distintos. Evidentemente que não é o
único livro que reclama ter inspiração divina, contudo, é o único que
apresenta provas consistentes para apoiar as suas citações, como se
observará.
Com exceção da manifestação direta e soberana de Deus ou Teofania
(Êxodo 3: 1-15; Atos 9: 3-6), a certeza da Sua existência só pode ser alcançada
percorrendo, simultaneamente, o caminho da fé e o da razão. Esta é a
condição indispensável para o entendimento da Sua revelação e natureza.
Sem um conhecimento básico do que a Bíblia ensina sobre a Sua pessoa,
qualquer crente pode encontrar-se a adorar uma caricatura do verdadeiro
Deus e aceitar facilmente uma falsa representação teológica d’Ele,
podendo vir a sofrer psicológica e espiritualmente.
A fé em Deus não pode ser produto de um sentimento cego ou
supersticioso. Ela tem que ter um fundamento, senão é abstrata, tornando-
se desequilibrada, emotiva, geradora de intolerância ou facciosismo. Jesus
afirmou-o claramente: conhecereis a verdade e a verdade libertar-vos-á
(João 8: 32); Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda
a tua alma, e com toda a tua mente (Mateus 22: 37).
O fundamento da fé bíblica, a fé num Deus vivo, é a crença na Palavra de
Deus constituída, quer pelas Suas promessas e condições, quer pela
comprovação dessas declarações através de factos históricos que
demonstram a Sua existência. Evidentemente que também há a
intervenção divina, como sua geradora e consumadora (Hebreus 12: 2), pois é
a Sua parte que se cumpre naquele que se submete às condições por Ele
requeridas (João 6: 44, 45; 14: 21). Esta fé torna-se, assim, criadora de
confiança, de certeza, pois também tem uma base racional. A capacidade
crítica da abordagem racional não pode ser afastada, pois é indispensável
para não se cair na crença ingénua ou na incredulidade total. Este é o
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início do caminho que leva ao conhecimento de Deus e que permitirá ao
ser humano relacionar-se com Ele de forma correta, crendo nas promessas
das coisas invisíveis e crescer espiritualmente. Esta fé não entra em
conflito ou negação da razão, permitindo compreender o significado da
cruz - a morte de um Justo, exigida pela justiça de Deus, o perdão gratuito
para os pecadores e a renúncia do ego do cristão (Mateus 16: 24) –
considerado loucura por quem não crê (1 Coríntios 1: 17, 18, 23).
O apóstolo Paulo classificou o culto verdadeiro como racional, onde a
emotividade vazia não tem lugar. O crente, com um desejo sincero em
agradar a Cristo, deve assumir a sua cruz e consagrar-Lhe a vida. Deve,
assim, resistir à sua vontade e submeter-se ao Seu senhorio, dedicando-se-
Lhe em obediência e serviço. Deve também, através da Palavra, procurar
conhecer a vontade divina e conformar a sua mente ao modo de pensar de
Deus, de forma a que os seus planos ou aspirações sejam definidos pelas
verdades bíblicas e não pelo que é temporal: Rogo-vos, pois, irmãos, pela
misericórdia de Deus, que ofereçais os vossos corpos como ofertas vivas,
santas e agradáveis a Deus; este é o culto racional que lhe deveis
prestar. Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela
renovação da vossa mente, a fim de conhecerdes a vontade de Deus: o
que é bom, o que lhe é agradável e o que é perfeito (Romanos 12: 1, 2). A
conjunção ‘pois’ mostra que o v. 1 vem na sequência de um determinado
assunto, neste caso, o povo judeu e a sua recusa da graça divina e do Plano
de Salvação por intermédio de Cristo. A oferta do corpo como sacrifício
vivo nada tem a ver com a prática do castigo corporal, condenado
biblicamente: Têm, na verdade, uma aparência de sabedoria, pela sua
afetada piedade, humildade e severidade para com o corpo, mas não têm
nenhum valor real e só servem para satisfazerem a carne (Colossenses 2: 20-
23).

O livro de Job também o mostra de modo claro e perturbante. Job


questionou, procurou bases sólidas para a sua fé, não se acomodou, por
isso, interrogava, indagava os porquês do seu sofrimento injusto e,
principalmente, o aparente silêncio de Deus. A fé não pode ser obscura e a
ignorante. A razão dá-lhe o ânimo, pois considera a casualidade e a
probabilidade dos factos.

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*
Não posso deixar de transcrever as palavras de Ingrid Betancourt ,
retiradas da entrevista dada ao jornal El País, em 25 de setembro de 2008,
galardoada, pelo Rei de Espanha com o Premio Príncipe de Astúrias de la
Concordia:
Sempre me senti abençoada, mimada pela vida. Quando tudo isto me aconteceu –
o meu rapto, a morte do meu pai, a solidão da minha mãe – eu tinha duas opções:
negar a existência de Deus e pensar que tudo acontecia por acaso e sem razão, um
caos sem explicação ou resposta, ou encontrar Deus.
No inferno da selva não podemos aceitar um deus qualquer. O Deus ritual da
nossa infância já não é suficiente. Não chega acreditar que Deus é amor, ou que
não o podemos explicar. Na selva precisamos de um Deus racional. Se a nossa fé
não for racional, se não tivermos a certeza de que Deus existe, não conseguimos
iniciar uma relação com ele. A tradição não chega. A religião católica não nos
incentiva a ler a Bíblia, como se fôssemos intelectualmente diminuídos. É muito
difícil explicar, mas o que estou a tentar dizer é que percebi, ao ler a Bíblia, que
Deus não é energia, ou luz, ou partículas de gás no cosmos; Deus é humano. Por
outras palavras a sua relação connosco é uma relação de palavras, e penso que
isso é fundamental: perceber que somos seres de palavras. Descobri um Deus com
sentido de humor, com um sentido de autoridade, um Deus que educa, um Deus
que ama, mas, acima, de tudo, um Deus, que é capaz de tudo. Isto significa que
ele podia ter feito, em vez de seres humanos, robôs perfeitos programados para
fazerem o bem. Por isso, a questão é: porque é que Ele fez-nos pessoas com livre
arbítrio e não robôs? A resposta é bonita: um robô pode ser programado para
amar, mas se não tiver a liberdade de não o fazer, o seu amor não tem valor.
O cristianismo, sem negar a importância da decisão individual, afirma
haver sentido na História, pois é nela que Deus desenvolve o Seu Plano
sendo Cristo o seu centro. Pode haver quem se revolte contra Deus,
tentando frustrar esse Plano, e quem tente realizar a Sua vontade e
trabalhar para o progresso do Seu Reino, mas, em ambos os casos, Deus
permanece no controlo. Esta visão é incompatível, por exemplo, quer com
a visão grega, quer com a visão existencialista ateísta. Na primeira, a
História é cíclica, as coisas acontecem em ciclos infinitamente repetidos, o
que não permite encontrar nela um sentido verdadeiro, um propósito. Para

*
Senadora e ativista anticorrupção franco-colombiana. Foi raptada em 23 de Fevereiro pelo grupo
guerrilheiro FARC e libertada no dia 2 de Julho de 2008.

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o existencialismo ateísta a História, como um todo, é desprovida de
sentido. É deixado a cada um encontrar o seu caminho da existência
através de decisões significativas. A obra de Camus, ‘A Peste’, ilustra este
aspeto, pois as coisas permanecem como sempre foram (Hoekema, 1989).
Não podia deixar de agradecer à minha querida amiga Helena Ferronha
pelas horas que dividiu comigo em conversas, por vezes quase
intermináveis, sobre os assuntos contemplados neste livro, bem como
pelos seus comentários críticos sempre pertinentes e revisão do texto. À
colega e amiga Teresa Rocha pelo seu sentido crítico, rigorosamente
metódico, empregue na análise desta obra.
Quero ainda agradecer à minha querida companheira de longos anos,
Manuela, toda a sua paciência, compreensão e amor. Aos meus filhos,
Pedro, Cristina, Joana e Ricardo, que me estimularam e colaboraram de
alguma forma para este livro, muito especialmente à Cristina, pela sua
ajuda no design da capa. Também não posso esquecer o Ricardo que me
apoiou desde o primeiro momento, lançando novas ideias e sugestões, e
incentivando-me em permanência.
Por último, agradeço à minha Mãe, a quem muito devo pela sua
dedicação, preocupação, abnegação e, sobretudo, pelo seu amor
incondicional e apoio na feitura deste livro.
A todos quantos, direta ou indiretamente, contribuíram para esta obra o
meu muito obrigado.

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Capítulo I

INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA
No início do cristianismo havia duas versões judaicas da Bíblia ou AT
cristão, a hebraica e a grega. A hebraica ou Tanakh começou a ser coligida
por volta do séc. IV a.C.. É composta por vinte e quatro livros, agrupados
em três volumes: o Pentateuco (Tora) com cinco, os Profetas (Nevi’im)
com oito e os Escritos (Ketuvim) com onze. Através dela ficou
estabelecido o cânone judaico, isto é, o conjunto de escritos reconhecidos
como inspirados por Deus e, consequentemente, norma de fé e prática de
vida do povo judeu. Ficou concluída nos finais do séc. I d.C., depois de os
chefes religiosos judeus, reunidos em Jamnia, na atual Palestina, terem
decidido considerar como textos canónicos da religião judaica apenas os
que existiam em língua hebraica e alguns capítulos escritos em aramaico,
que tivessem sido redigidos em Israel, que não estivessem em contradição
com a Lei de Moisés ou Tora e que não fossem posteriores ao tempo do
profeta Esdras (450-420 a.C.). O Nevi’im e o Ketuvim foram parcialmente
compilados no séc. VI a.C., de escritos oriundos dos séc. VII e VIII a.C., e
vulgarizados depois do exílio babilónico, entre os séc. V e II a.C.
(wiki/Datação da Bíblia).
A versão grega foi traduzida entre os séc. III e I a.C., em Alexandria, e
ficou conhecida como a Versão dos Setenta (LXX) ou Septuaginta, pois,
segundo a lenda, setenta e dois rabinos trabalharam nela e tê-la-iam
traduzido em setenta e dois dias. Era seguida pela comunidade judaica que
vivia em Alexandria e inclui mais 7 livros do que a versão hebraica:
Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico, 1 e 2 de Macabeus, além de
outros fragmentos constituídos por seis capítulos e dez versículos (v.v.)
acrescentados ao livro de Ester e dois capítulos ao de Daniel, a ‘História
de Susana’ e ‘Bel e o Dragão’. Estes não foram aceites pelos chefes
religiosos judeus, que os classificaram como históricos e não inspirados
por Deus. Atualmente, em Israel, só os judeus de origem etíope seguem a
Septuaginta.
No séc. IV, a Igreja Católica elegeu a versão grega para o seu AT,
considerando canónicos os sete livros rejeitados em Jamnia, que passou a
designar por deuterocanónicos. No Concílio de Trento (1545 a 1563),
15
como resposta à Reforma protestante, houve uma confirmação desses
livros como parte integrante das Sagradas Escrituras, pois Martinho Lutero
(1483-1546) tinha adotado o cânone da Palestina classificando esses livros
como apócrifos. Ambas as versões cristãs contêm trinta e nove livros em
comum, mais quinze do que a versão hebraica, devido a terem sido
considerados como vários alguns dos livros que os judeus contam como
um só. A versão católica, devido à inclusão dos sete livros
deuterocanónicos, passou a conter quarenta e seis livros. A Igreja
Ortodoxa Russa torna facultativa a aceitação da Septuaginta.
A fé judaica foi transmitida ao cristianismo num regulamento escrito.
Jesus recorreu várias vezes aos escritos bíblicos hebraicos para ensinar aos
discípulos a Palavra de Deus (Mateus 5: 17, 18; Lucas 16: 31; João 5: 37-47, etc.) e os
apóstolos referiam essas Escrituras como autoridade (Romanos 3: 21; 15: 4; 2
Timóteo 3: 16; 2 Pedro 1: 21, etc.). Paulo afirmou que as revelações dadas pelos
profetas, bem como as instruções apostólicas, fazem parte do fundamento
da Igreja: ...mas sois concidadãos dos santos e membros da família de
Deus, edificados sobre o alicerce dos apóstolos e dos profetas, com
Cristo por pedra angular (Efésios 2: 20). Assim, os escritos dos apóstolos e
dos evangelistas da igreja primitiva, foram constituídos doutrina
apostólica. De um modo geral, a sua confirmação como proféticos ou
divinamente inspirados levou algum tempo, não só porque esses
documentos tinham que ser conhecidos e aceites por todas as igrejas da
época, como também pelo exame cuidado de vários outros escritos
submetidos a processo de autenticação e que, na sua grande maioria,
foram considerados contrários à doutrina transmitida pelos apóstolos. Os
escritos de Paulo, por exemplo, foram colocados por Pedro ao nível das
‘outras Escrituras’, ou seja, do AT, pouco depois de terem sido
concluídos: ...como o nosso caríssimo irmão Paulo vos escreveu segundo
a sabedoria que lhe foi dada, falando disto em todas as suas cartas, nas
quais há algumas passagens difíceis de entender, que os incultos e
inconstantes deturpam, como o fazem com as outras Escrituras, para a
sua própria perdição (2 Pedro 3: 15, 16). Embora os seus escritos tenham sido
redigidos durante o séc. I d.C., só no séc. III d.C. é que surge o termo NT
para designar a coleção que integra, que é o segundo volume do cânone
cristão, composto por 27 livros.

16
Até à descoberta dos Pergaminhos do Mar Morto, em 1947, em Qumran,
as cópias manuscritas completas da Bíblia Hebraica ou Tanakh mais
antigas eram o Codex Aleppo (930 d.C.) e o Códice de Leningrado (1008
d.C.). Esta descoberta fez recuar, num milénio, a história dos manuscritos
judaicos. Dos cerca de 800 manuscritos encontrados, 220 são referentes ao
Tanakh, onde, com exceção do livro de Ester, estão representados todos os
seus livros, embora, na sua maior parte, sejam fragmentos. Entre eles
encontram-se dois rolos, um dos quais completo, com o livro de Isaías,
datados entre 150 a.C. e 70 d.C. Os seus conteúdos foram mantidos sem
erros durante 1.000 anos o que demonstra a técnica desenvolvida pelos
escribas judeus (wiki/Manuscrito).
Segundo a tradição judaica, os livros que constam da versão hebraica da
Bíblia foram escritos num período de aproximadamente 1.000 anos, entre
os séc. XV a.C. e V a.C.. Embora o autor de Génesis não seja mencionado
em nenhum local do livro, o testemunho do restante AT é de que Moisés é
o seu autor. Além disso, também os antigos escritores judaicos e os
primeiros dirigentes da igreja primitiva testificaram, unanimemente, a sua
autoria.
Muitos especialistas têm declarado que os livros que integram a versão
hebraica só começaram a ser escritos no século VI a.C.. Contudo, uma
inscrição descoberta por arqueólogos israelitas em meados de 2008, cuja
datação pelo 14C mostrou remontar ao séc. X a.C., revelou-se ser o escrito
hebraico mais antigo, cerca de 1.000 anos, do que os pergaminhos do Mar
Morto que datam do séc. I a.C.. Este antigo texto, escrito com tinta numa
peça de cerâmica em forma de trapézio, é semelhante a alguns trechos
bíblicos, tais como Isaías 1: 17, Salmos 72: 3 e Êxodo 23: 3. Foi decifrado
por Gershon Galil, da Universidade de Haifa, que afirmou ser uma
declaração social relativa a escravos, viúvas e órfãos. Este achado em
hebraico tão antigo torna plausível ter a Bíblia sido escrita vários séculos
antes do que as estimativas atuais afirmam (AFP, 2010).
Já no primeiro séc. da igreja, ainda não organizada, havia correntes
doutrinárias que se confrontavam com a oposição forte dos apóstolos, dos
quais se destacava Pedro (Atos 15: 1-5). Essas doutrinas, surgidas de
influências diversas como, por exemplo, do judaísmo, da filosofia
helenística e do gnosticismo, ou até de convicções pessoais, pretendiam
17
adaptar a doutrina de Cristo às suas ideias. Assim, há já muitos séculos
que a doutrina bíblica tem sofrido tentativas de adulteração ou tem mesmo
sido deturpada. Jesus já havia acusado os religiosos judaicos pelo mesmo
motivo: …E vós porque transgredis o mandamento de Deus por causa
da vossa tradição?…É vão o culto que me presta, ensinando doutrinas
que são preceitos humanos (Mateus 15: 1-14). A isso, também se deveu o
facto de não ter sido reconhecido como o Messias (João 5: 16, 37-47; João 8: 31-
59).
Pedro advertiu: Assim como houve entre o povo falsos profetas, assim
também haverá entre vós falsos doutores que introduzirão
disfarçadamente seitas perniciosas e que, renegando o Senhor que os
resgatou, atrairão sobre si mesmos uma rápida perdição. Muitos
seguirão as suas dissoluções, e, por causa deles, o caminho da verdade
será blasfemado (2 Pedro 2: 1, 2). E o apóstolo João afirmou: Todo aquele
que se aparta e não permanece na doutrina de Cristo, não tem a Deus.
Mas aquele que permanece na doutrina, esse possui o Pai e o Filho (2
João 1: 9).

Jesus afirmou que as Escrituras não podem falhar (Mateus 24: 35) e Paulo
confirma-o: Toda a Escritura é divinamente inspirada e útil para
ensinar, para convencer, para corrigir, para instruir na justiça (2 Timóteo
3: 16). A sua mensagem é coerente e constante através de todos os seus
livros.
É fundamental interpretá-la de acordo com as próprias Escrituras e não
sujeitá-la às arbitrariedades do exegeta que a tornará confusa e
desinteressante. É evidente que também devem ser tidos em consideração
os aspetos histórico e literário contidos nos seus livros.
Muitas igrejas ou denominações descuidam a pregação das Escrituras no
seu todo, e não alertam para os erros doutrinários ou para as crenças
populares confrontando-os com a Palavra bíblica, deixando, assim, que as
distorções se acumulem. A parábola do trigo e do joio (Mateus 13: 24-30)
salienta que haverá sempre uma semeadura má, paralela à da Palavra de
Deus: Ora, enquanto dormiam os homens, veio o inimigo, semeou joio
no meio do trigo e afastou-se (Mateus 13: 25).

18
AS ALIANÇAS, O MODO DE DEUS LIDAR COM A HUMANIDADE
Para se entender a totalidade da mensagem bíblica, é importante ter-se
conhecimento do modo divino de lidar com o ser humano, fundamentado
em Alianças. Através delas, Deus tem ministrado a verdade de forma
progressiva, não significando que Ele tenha experimentado formas
diferentes de alcançar o ser humano. São constituídas por propósitos e
parâmetros, compromissos e responsabilidades e fazem parte do Seu Plano
de Salvação da Humanidade. Abrangem dois princípios básicos, Deus
estabelece as promessas e os compromissos e aos seres humanos cabe
aceitá-los, em consciência e voluntariamente, com fé obediente.
As Suas promessas, ao longo da História, fazem parte de um único Plano
que se concretizou no sacrifício vicário de Jesus, o Plano Universal:
Porque Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único,
para que todo o que n’Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna (João
3: 16).
A promessa da vinda do Messias é transversal a todo o AT. E porquê?
Deus prometeu o Salvador antes da promulgação das maldições
subsequentes à queda do homem: Farei reinar a inimizade entre ti e a
mulher, entre a tua descendência e a dela... (Génesis 3: 15). A descendência
da mulher é Cristo, que esmagaria a cabeça da antiga serpente ou Satanás
(Apocalipse 12: 9), que lhe feriria o calcanhar, e que apontava já para o
sofrimento e martírio de Jesus, o Messias. Esta é a primeira referência à
vinda do Cristo.
Posteriormente, encontra-se a segunda confirmação dessa promessa a
Abrão: E todas as nações da terra serão abençoadas na tua
descendência, porque obedeceste à minha voz (Génesis 22: 18). O apóstolo
Paulo confirma-o: Ora as promessas foram feitas a Abrão e à sua
descendência. Não se diz: E aos teus descendentes, como se fossem
muitos, mas sim: E à tua descendência, como de um só, que é Cristo
(Gálatas 3: 16). A mesma promessa foi confirmada a Isaque (Génesis 26: 4, 5), e a
Jacob (Génesis 28: 14). Este, por sua vez, renovou-a aos seus filhos: O cetro
não escapará a Judá, nem a autoridade à sua descendência. Até à vinda
do Pacífico, ao qual todos os povos obedecerão (Génesis 49: 10). A promessa
do Filho também é confirmada por Moisés, figura principal para o povo
judeu, e mediador do pacto da Lei. Ele profetizou a respeito do Profeta
19
que viria (Deuteronómio 18: 15-19), e que o povo deveria ouvir e obedecer, sob
pena de ter que prestar contas disso a Deus.
Nesse Plano, como se verá através da leitura deste livro, Israel, no âmbito
da Aliança Abraâmica, tinha e tem como missão ser um sinal para o
mundo: Vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor e os servos que eu
escolhi, a fim de que me reconheçais, e me acrediteis e compreendais
que eu é que sou Deus. Antes de mim não houve nenhum Deus, e depois
de mim também não haverá (Isaías 43: 10). Na verdade, o propósito divino
supremo para com Israel era que fosse uma bênção para os gentios e os
levasse ao conhecimento de Deus (Génesis 12: 1-3; Isaías 49: 3). Isso não só
demonstraria a Sua existência, mas que Ele estaria também ativamente
envolvido em desenvolver a História de Israel e a cumprir o Seu propósito
para toda a Humanidade.
É aqui que a profecia realiza a sua função, importantíssima para os nossos
dias, porque expõe antecipadamente o Plano de Deus para que todos
possam conhecê-lO, entender e crer que é o único Deus. É a razão
evidente, não apenas da existência de Deus, mas também de que a Sua
mensagem, contida na Bíblia, é verdadeira.
Por não ter cumprido a sua parte nessa Aliança, Israel foi penalizado: O
Senhor dispersar-te-á entre todos os povos, de uma extremidade à outra
da terra... E, até no meio dessas nações, não encontrarás repouso nem
ponto de apoio para a planta dos teus pés... (Deuteronómio 28: 64-67). Este
povo tem sido rebelde desde o princípio e a sua condição atual nada tem
de diferente. Por isso, a pior punição está por vir, pois será durante a
Grande Tribulação, que culminará na batalha de Harmaguedon.
Mas, porque a promessa de Deus em relação a esse povo é incondicional,
é Ele próprio quem a vai cumprir. Essa promessa inclui as seguintes
promessas incondicionais:
a) O regresso de Israel à Terra Prometida, no ‘fim dos tempos’, em
incredulidade: ...Não faço isto por causa de vós, israelitas, mas por causa
do meu santo nome que haveis profanado entre os pagãos para onde
fostes. Quero manifestar a santidade do meu augusto nome, que
aviltastes, profanastes entre as nações pagãs, a fim de que elas saibam
que eu sou o Senhor – o oráculo do Senhor Deus -, quando a seus olhos
tiver mostrado a minha santidade pelo meu procedimento a vosso
20
respeito. Retirar-vos-ei dentre as nações, recolher-vos-ei de todos os
países e vos restabelecerei em vossa terra (Ezequiel 36: 22-24). Plantá-los-ei
na sua terra e não serão mais arrancados da terra que lhes dei, diz o
Senhor, teu Deus (Amós 9: 15).
b) Um futuro glorioso sob a regência de Jesus Cristo, no Seu Reino
Milenar: No meio da tua angústia, quando tiveres sofrido todos estes
infortúnios, depois de muitos dias, voltarás ao Senhor, teu Deus, e
escutarás a Sua voz. Porque o Senhor, teu Deus, é um Deus ciente e não
te abandonará, nem se esquecerá da aliança que jurou aos teus pais
(Deuteronómio 4: 30, 31); Levanta-te e resplandece! Chegou a tua luz, a glória
do Senhor levanta-se sobre ti. Vê, a noite cobre a terra e a escuridão, os
povos, mas sobre ti levanta-se o Senhor, e a sua glória te ilumina. As
nações caminharão para a tua luz, e os reis, para o resplendor da tua
aurora. ...chamar-te-ão a cidade do Senhor, a Sião do Santo de Israel
(Isaías 60: 1-14).
A restauração política já ocorreu em 1948 e a futura restauração espiritual
terá lugar quando Jesus Cristo regressar, no fim da Tribulação, para
salvar o Seu povo da destruição, durante a batalha final – Harmaguedon –
da última guerra mundial.
Muito resumidamente, vejamos como Deus tem lidado com a
Humanidade: Jesus declarou: Meu Pai trabalha continuamente e eu
também trabalho (João 5: 17). Por outras palavras, ambos estão a cuidar,
incessantemente, da restauração do Homem, para restabelecer o que está
perdido. As Alianças foram as seguintes: Aliança Adâmica, Aliança com
Noé, Aliança Abraâmica/Aliança com os israelitas/Aliança Davídica e a
Nova e Eterna Aliança.
Antes da queda havia uma Aliança baseada nas relações de amor e
confiança que Deus tinha estabelecido com o Homem. Este, por não
acreditar no cumprimento da Sua Palavra, violou a Sua soberania*,
desobedendo-Lhe. Assim, o domínio que Deus tinha atribuído a Adão,
(Génesis 1: 26), não se manifestou. Segundo a Bíblia, o pecado foi


* Asoberania de Deus não é arbitrária, pois tem por base as leis naturais e espirituais que, na Sua
perfeição, estabeleceu e através das quais tudo o que existe se rege: Ou não me é lícito fazer o que
quiser do que é meu? (Mateus 20: 15).
21
estabelecido através dessa rebelião e a influência de Satanás passou a
exercer-se na Terra (ver o subcapítulo ‘A Violência Contra o Reino de
Deus’). Ainda segundo a Bíblia, a soberania divina, um dos atributos de
Deus, é inerente à Sua eternidade, omnipotência, omnisciência,
omnipresença e imutabilidade. Deus é o Ser Supremo do Universo, Aquele
que está relacionado com poder, portanto, Deus é o poder supremo do
Universo: O Senhor reinará eternamente e para sempre (Êxodo 15: 18). As
Escrituras revelam como esse poder é exercido.
Deus fez com Noé a Sua primeira grande Aliança. Segundo a tradição
judaica, foram dadas a Noé, após o Dilúvio, como regras para a
Humanidade, as Sete Leis ou mandamentos, também chamadas Brit Noah
(Pacto de Noé). Genericamente, essas leis foram: 1) Não cometer idolatria;
2) Não assassinar; 3) Não roubar; 4) Não cometer imoralidades sexuais; 5)
Não blasfemar; 6) Não maltratar os animais; 7) Estabelecer sistemas e leis
de honestidade e justiça (wiki/Seven Laws of Noah). Estes Princípios estão
incorporados na Tora, que contém seiscentos e treze mandamentos para os
judeus e sete para os não judeus.
A Aliança com Noé foi o modelo da que Deus viria a fazer com Abraão, a
Aliança Abraâmica: Em virtude da aliança que faço contigo, vais tornar-
te pai duma imensidão de povos. O teu nome não será Abrão, mas sim
Abraão, porque vou fazer com que sejas pai duma imensidão de povos.
Vou dar-te uma enorme descendência; de ti hão de surgir vários povos e
haverá reis entre os teus descendentes. Hei de manter firme a minha
aliança contigo e com os teus futuros descendentes, como uma aliança
eterna. Serei eu o teu Deus e o Deus dos teus descendentes (Génesis 17:
4-7).
Embora esta Aliança fosse iniciada por Deus, requeria o consentimento de
Abraão, que correspondeu (Génesis 15). O chamamento de Deus pôs em
movimento o plano salvífico de Deus. Na sua vigência ficou estabelecida
uma promessa de troca de poderes, com um conjunto de direitos e deveres
associados ao contrato. Instituiu Israel como nação e como povo de Deus.
Seria uma nação sacerdotal, testemunhando Deus no Mundo através da
Sua proclamação às nações e tinha como propósito missionário,
compartilhar a bênção com a Humanidade. Essa promessa era condicional

22
(Êxodo 19: 4-6). Os termos da Aliança Abraâmica foram renovados com Isaac
e com Jacob.
Posteriormente, através de Moisés (1.250 a.C.), Deus estabeleceu a
conhecida Aliança com os israelitas, cujas condições foram instituídas nos
Dez Mandamentos e nas outras leis da Tora, conhecidas como Lei
Mosaica. O compromisso bilateral, aí ratificado, está bem explícito: Hoje
declaraste que o Senhor seria o teu Deus, e que seguirias os seus
caminhos, cumprindo as suas leis, mandamentos e preceitos e
obedecendo às suas ordens. E o Senhor declarou hoje também que tu,
povo de Israel, serias o seu povo particular, cumprindo os seus
mandamentos tal como ele tinha dito (Deuteronómio 26: 17-18).
O destino do povo hebreu passou, pois, a estar ligado a esta Aliança, à
qual Deus pretendia que ele viesse a demonstrar uma obediência sincera e
firme. Contudo, a própria Aliança já reconhecia que, devido às fraquezas
humanas, por vezes, fracassariam, pelo que proveu o sistema geral de
sacrifícios (Levítico 1: 2).
Se o povo Lhe obedecesse, Ele seria o seu Deus e considerá-lo-ia o Seu
Povo (Êxodo 19). Com isso, Deus tencionava que as outras nações, ao
observarem a fidelidade de Israel a Deus, O buscassem e integrassem a
comunhão da fé. Depois, através do Redentor prometido, ser-lhes-ia feito
um convite para participarem dessas promessas. A Aliança foi renovada
antes da entrada na Terra Prometida: Por isso, cumpram todos os
mandamentos que hoje vos dou, para serem fortes e chegarem a tomar
posse da terra, para a qual se dirigem (Deuteronómio 11: 8; 9: 3-5 ; 11: 26-28). A
única maneira de o povo e os seus descendentes permanecerem para
sempre na terra de Canaã era guardarem esses preceitos, amando o Senhor
e obedecendo à Sua lei (Deuteronómio 30: 15-20). O objetivo final de Deus foi,
através do povo da Aliança, trazer ao mundo o Salvador. Esta a razão de o
ter acompanhado de perto, sujeitando-o ao castigo quando se desviava da
lei da Aliança que tinha ratificado (Deuteronómio 9: 3-5 ; 11: 26-28). Deste modo
veio a impedir que o povo hebreu, mais tarde judeu, se compatibilizasse
com as práticas pagãs e a idolatria das nações vizinhas, perdendo a sua
identidade.
Através dessa Lei, o sacrifício de animais, que era um assunto importante
no Antigo Testamento, atinge posição maior, ficando sujeito a um
23
determinado procedimento exigido por Deus. O animal teria que ser
perfeito e a pessoa que o oferecia tinha que se identificar com ele antes de
o matar. Quando feito com fé providenciava-lhe o perdão dos pecados
(Levítico 1: 1-4). Havia outro sacrifício que era executado no Dia de Expiação
ou Yom Kippur. Neste, o sumo sacerdote tinha que levar dois bodes (Levítico
16). Um dos animais era sacrificado como oferta pelo pecado do povo de
Israel e facultava o perdão (Levítico 16: 15). O outro era solto no deserto
e providenciava a libertação do pecado (Levítico 16: 20-22). O animal morria
no lugar do pecador. Estes sacrifícios tipificavam a obra expiatória de
Jesus Cristo como o Cordeiro de Deus: Eis o cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo (João 1: 29).
Mais tarde, (cerca de 1.000 a.C.), Deus firmou a Aliança Davídica. Israel
teria um rei da linhagem de David, cujo trono seria de possessão perpétua
da família davídica, descendentes da tribo de Judá, sendo que este Rei, que
é Cristo, reinaria sobre a nação como um todo (2 Samuel 7: 12-17; 1 Crónicas 17: 3-
15). Israel veio a rejeitá-la quando renegou Jesus Cristo, o Messias.
Contudo, será cumprida no Reino Milenar, pois é uma promessa
incondicional.
Através de Jeremias (650 a.C.) predisse a Nova Aliança: Diz o Senhor:
Vem aí o tempo em que farei uma nova aliança com o povo de Israel e
com os habitantes de Judá. Não será como a aliança que fiz com os seus
antepassados quando os agarrei pela mão, para os tirar do Egito. Mas
eles não guardaram essa aliança embora eu fosse como um marido para
eles. A nova aliança que nessa altura farei com o povo de Israel será
assim: vou gravar a minha lei dentro deles, vou escrevê-la nos seus
corações. Serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Palavra do Senhor!
(Jeremias 31: 31-33).
A Nova Aliança foi selada com o sangue de Jesus (1 d.C.), com o Seu
sacrifício voluntário e morte expiatória: Isto é o meu sangue, o sangue da
nova aliança, que é derramado por muitos, para remissão de pecados
(Mateus 26: 28). Esta Aliança é superior à Abraâmica, praticada no AT: Mas
agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador
de um melhor concerto, que está confirmado em melhores promessas
(Hebreus 8: 6).

Através da Nova Aliança o ser humano tem, mediante Jesus Cristo e pelo
24
Espírito Santo, a liberdade e o direito de se aproximar de Deus com a
certeza de que é aceite, amado e bem-vindo. Já não necessita das leis
sacrificiais, cerimoniais, sociais ou cívicas. O cristão morreu para a Lei
como meio de salvação, e passou a viver para Deus por meio de Cristo:
Vocês morreram com Cristo, cortando com os princípios do mundo. Já
não poderão viver como se ainda pertencessem ao mundo. As proibições
como: não toques nisto, não comas daquilo, não pegues nisso, referem-
se a coisas que desaparecem com o uso e não passam de preceitos e
doutrinas dos homens. Essas coisas têm aparência de sabedoria, porque
se apresentam com um certo aspeto religioso, humildade e domínio do
próprio corpo. Mas isso não tem nenhum valor e apenas serve para
satisfazer o amor-próprio (Colossenses 2: 20).
Desde a época de Moisés até à primeira vinda de Cristo, cerca de 1.250
anos, Deus batalhou para que a nação de Israel andasse nos Seus
caminhos: Estendi as mãos todos os dias a um povo rebelde, que andava
por maus caminhos, seguindo apenas os seus planos pessoais (Isaías 65:
2; Romanos 10: 21), e fosse Sua testemunha na Terra. É neste período que se
enquadram as profecias do Sonho de Nabucodonosor (Daniel 2: 1-47), e das
Setenta Semanas (Daniel 9: 21-27), abordadas no subtítulo ‘Tempo de
Angústia para Jacob (A Tribulação)’. Na verdade, Deus tem um destino
para o povo judeu e para o território que lhe prometeu (Génesis 15: 18-21),
demonstrado pelas promessas que fez aos patriarcas e através das vozes
dos profetas. A grandeza do reinado de Salomão (1 Reis 4: 21, 24), que
alcançou o apogeu, entre 966 e 926 a.C., mostra o que poderia ter sido
Israel se esse rei não tivesse ido atrás das loucuras e dos prazeres do
mundo. Esta foi a razão por que Israel perdeu o seu reinado universal.
Como consequência, prosseguiu o sistema de governação humano ou os
tempos dos pagãos (Lucas 21: 24), como é biblicamente designado. Este
tempo abarca, também, os impérios gentílicos que, a partir de Babilónia,
surgiriam no Mundo até à segunda vinda do Messias, depois da
Tribulação, mencionados no Sonho de Nabucodonosor e que Deus deu a
conhecer a Daniel com o objetivo de transmitir a sua interpretação ao
próprio imperador. A Igreja, estabelecida nestes tempos dos pagãos, tem
uma função importantíssima, como se verá no subcapítulo ‘O Tempo da
Igreja e os Tempos dos Gentios. A Igreja substituiu Israel?’. O período da
Igreja suspende, temporariamente, o plano de Deus para Israel abrangido
25
pelas Alianças, Abraâmica, (renovada antes da entrada na Terra
Prometida), e Davídica. Este interregno está ligado à rejeição do reinado
do Messias, que trouxe a cegueira espiritual a Israel: Eu não quero,
irmãos, que ignoreis este mistério†, para vos não considerardes sábios:
Deu-se o endurecimento duma parte de Israel, até que a totalidade dos
gentios haja entrado... (Romanos 11: 25). Deus prosseguirá o Seu plano, após
o Arrebatamento da Igreja e depois do período de Tribulação que se lhe
seguirá, com a integração de Israel na Nova Aliança, que se dará no
estabelecimento do Reino Milenar de Cristo na Terra, após a aceitação do
Messias Jesus Cristo, por parte de Israel.
A perda sofrida por Israel não é, pois, irreparável. Esta nação virá a liderar
no planeta durante o Reino Milenar de Cristo (Daniel 2: 44). Nessa altura,
Israel abrangerá todo o território prometido e será a única potência
planetária, cuja sede será Jerusalém. Os tempos dos pagãos terão, então,
chegado ao fim: E Jerusalém será calcada pelos gentios até se
completarem os tempos dos pagãos (Lucas 21: 24).
O cumprimento espiritual da Aliança Abraâmica dá-se na Nova Aliança,
na qual a Igreja se integra: Cristo resgatou-nos da maldição da lei,
fazendo-se maldição por nós, pois está escrito: Maldito seja todo aquele
que é suspenso no madeiro, para que a bênção de Abraão se estendesse
aos gentios, e para que, pela fé, recebamos a promessa do Espírito (Gálatas
3: 13, 14); Ele é a nossa paz, Ele que de dois povos (judeus e não judeus) fez
um só, destruindo o muro de inimizade que os separava, anulando pela
sua carne, a lei, os preceitos e as prescrições, a fim de, em si mesmo,
fazer dos dois um só homem novo, estabelecendo a paz, e reconciliando
com Deus, pela cruz, uns e outros num só corpo, levando em si próprio,
a morte à inimizade. Veio Ele para anunciar a paz a vós que estáveis
longe, e a paz também àqueles que estavam perto; portanto, é por Ele
que ambos temos acesso junto do Pai num mesmo Espírito (Efésios 2:
14-18). Quando um pagão é salvo não é submetido às leis judaicas e aos
costumes da Antiga Aliança. É acrescentado como uma ‘pedra viva’ à
Igreja em construção (1 Pedro 2: 5). Quando um judeu é salvo, também é

† Otermo mistério, no Novo Testamento, designa uma verdade que esteve escondida em Deus, mas
que nele foi revelada (Efésios 3: 5). Assim, o conjunto das verdades reveladas no Novo Testamento
é considerado mistério, pois estava oculto no Antigo Testamento.
26
acrescentado à Igreja e fica liberto da lei judaica e das suas penalidades
(Romanos 8: 1). Ambos ficam sob uma lei superior a lei do Espírito da
vida, em Cristo Jesus (Romanos 8: 2).
A Igreja surgiu no tempo dos pagãos e com ele coexistirá até ao seu
Arrebatamento: Na casa de meu Pai há muitas moradas; se assim não
fora, ter-vo-lo-ia dito, pois vou preparar-vos um lugar. E, quando eu
tiver ido e vos tiver preparado lugar, virei outra vez e levar-vos-ei
comigo, para que, onde eu estiver, estejais vós também (João 14: 2, 3). Este
acontecimento dar-se-á para Cristo livrar a Sua Igreja, a Igreja verdadeira,
espiritual ou invisível, com a qual se encontrará nos ares (I Tessalonicenses 4:
15-18), do período de Tribulação por que vai passar a Terra: e esperardes do
céu o seu Filho, que ressuscitou dos mortos, Jesus, o qual vos livrou da
ira futura (1 Tessalonicenses 1: 10). Embora tenha sido tirada a Israel a missão
de transmitir a mensagem de Salvação e dada aos cristãos (Mateus 21: 42-43),
essa nação ainda tem um papel a desempenhar.
Deus cessou o Seu relacionamento com o Israel físico, como consequência
da rejeição de Jesus, o Messias e fundou a Igreja ou corpo de Cristo, que
tem um papel importantíssimo, como instrumento de Deus no Seu Plano e
mostra aos séculos futuros a extraordinária riqueza da sua graça, pela
bondade que teve para connosco em Cristo Jesus (Efésios 2: 7). Contudo,
isto não significa que esta tenha sido uma solução de momento, pois,
embora fosse um mistério, já fazia parte do Seu Plano: Deus elegeu a
Igreja ...antes da constituição do mundo (Efésios 1: 4), tendo-lhe dado a
conhecer o mistério da Sua vontade, segundo o beneplácito que n’Ele de
antemão estabelecera, para ser realizado ao completarem-se os tempos;
reunir sob a chefia de Cristo todas as coisas; que há no Céu e na Terra
(Efésios 1: 9, 10). A Igreja foi um mistério no tempo do AT: ...a igreja
...ministério este que foi escondido aos séculos e às gerações passadas,
mas que, agora, foi manifesto aos seus santos. A estes Deus quis dar a
conhecer as riquezas da glória deste mistério entre os gentios... (Colossenses
1: 24-27). Paulo, na sua carta aos Efésios, revela esse mistério, que reúne
todos os homens como povo de Deus.
Ao contrário de Israel, que tem uma vocação terrena, a Igreja tem um
propósito eterno, uma vocação celestial, pois está a ser edificada em Cristo
(Efésios 3: 11; Mateus 16: 16). Ele nos salvou e nos chamou para a santidade,

27
não devido às nossas obras; mas em virtude do seu desígnio (Plano) e
graça, que nos foi dada em Jesus Cristo antes de todos os séculos, e que
agora se manifestou com a aparição do nosso Salvador... (2 Timóteo 1: 9, 10).
Portanto, a eleição da Igreja é um ato soberano de Deus que ocorreu antes
da fundação do mundo. Esta foi a Sua decisão, que entendeu necessária
para a concretização do Seu Plano Universal. Quem é eleito possui
características específicas, ligadas ao Seu propósito. É neste sentido que os
salvos são denominados escolhidos, pois o termo ‘eleito’ é um título e não
um adjetivo: ...o Cordeiro vencê-los-á, porque é o Senhor dos senhores e
o Rei dos reis; e os chamados, os eleitos e os fiéis que estão com Ele
também vencerão (Apocalipse 17: 14).
Tal como aconteceu com Israel, a Igreja não foi eleita com um sentido
individual, mas coletivo, como povo, havendo sempre a possibilidade de
todos os homens poderem pertencer ao povo eleito. Paulo, na sua carta a
Tito, afirmou: ...e de adquirir para si, purificando-o, um povo zeloso de
boas obras (Tito 2: 14), ou aos coríntios: E que conciliação há entre o
templo de Deus e os ídolos? Porque nós somos o templo de Deus vivo,
como Deus diz; Habitarei e andarei entre eles, e serei o seu Deus, e eles
serão o meu povo (2 Coríntios 6: 16), ou ainda aos romanos: Como diz Oseias:
Chamarei meu povo ao que não era meu povo e amada à que não era
amada (Romanos 9: 25).
Por isso, é importante conhecer a vocação do Corpo de Cristo que, como
ato soberano de Deus, não depende do êxito nem do fracasso humanos:
Prossigo em direção à meta, para obter o prémio da soberana vocação
de Deus em Cristo Jesus (Filipenses 3: 14). Ele salvou-nos e chamou-nos
para a santidade, não devido às nossas obras, mas em virtude do seu
desígnio e graça, que nos foi dada em Jesus Cristo antes de todos os
séculos e que agora se manifestou com a aparição do nosso Salvador... (2
Timóteo 1: 9). Nessa vocação, Deus inicia uma nova relação com os crentes,
que passaram a ter uma vida de íntima comunhão com Ele, os Seus filhos
e amigos: Predestinou-nos para sermos Seus filhos adotivos por meio de
Cristo Jesus, ... (Efésios 1: 5). Ninguém tem maior amor do que aquele que
dá a vida pelos seus amigos (João 15: 13).
Pela vocação celestial da Igreja, Deus providenciou o meio para poder
trabalhar no corpo de cada cristão, enquanto este viver no mundo - ser
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morada e templo de Deus: ...o vosso corpo é templo do Espírito Santo,
que habita em vós, que recebestes de Deus, ... (1 Coríntios 6: 19). O Espírito
Santo que tinha sido prometido, o qual é o penhor da nossa herança,
enquanto esperamos a completa redenção daqueles que Deus adquiriu
para o louvor da Sua glória (Efésios 1: 13, 14). A vida do cristão deve ter em
conta a presença permanente do Espírito nele: O próprio Espírito atesta
em união com o nosso espírito que somos filhos de Deus (Romanos 8:
16). Os cristãos não foram chamados e escolhidos apenas para conhecer a
sua vocação, mas para andar de acordo com ela: que andeis duma
maneira digna do chamamento que recebestes (Efésios 4: 1).
Portanto, Cristo é a cabeça de toda a Igreja que é o Seu corpo e o
complemento d’Aquele que cumpre tudo em todos (Efésios 1: 23) e o seu
fundamento, a principal pedra de esquina, do propósito eterno de Deus.
A Igreja é o instrumento através do qual Cristo se revela aos homens. Os
seus membros foram salvos para louvor e glória da Sua graça. É também
chamada a Noiva de Cristo (Apocalipse 19: 7, 8), e constituída por crentes
verdadeiros, unidos na sua fé viva em Cristo. Tem como fundamento
principal ou rocha a frase de Pedro: Cristo, o Filho de Deus vivo e sobre
esta pedra Cristo continuará a edificar a Sua Igreja (Mateus 16: 16, 18). Eis que
ponho em Sião uma pedra angular, escolhida, preciosa; e quem puser
nela a sua confiança, não será confundido. A honra é, então, para vós
que credes. Mas para os incrédulos, a pedra que os edificadores
rejeitaram tornou-se a pedra angular (1 Pedro 2: 6, 7). Ao cristão compete
semear e regar a Palavra: Eu plantei, Apolo regou, porém, foi Deus quem
deu o crescimento. Assim, nem o que planta nem o que rega é alguma
coisa, mas só Deus, que dá o crescimento (1 Coríntios 3: 6, 7), isto é, anunciar
Cristo morto e ressuscitado, e evangelizar, porque, de acordo com o
coração de cada um, serão ou não chamados por Deus: Não fostes vós que
me escolhestes, fui eu que vos escolhi...; Porque muitos são os
chamados, mas poucos os escolhidos (João 15: 16; Mateus 22: 14; ver a parábola do
semeador, Mateus 13: 3-23). É no âmbito da Sua soberania que tem lugar o Plano
Universal, isto é, a salvação através do Salvador, onde se enquadram, quer
a eleição divina, quer a perseverança do cristão.
A eleição é uma das maiores demonstrações da graça de Deus, no âmbito
da salvação de todos os homens. Por isso, a morte sacrificial de Jesus

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Cristo foi conhecida desde antes da fundação do mundo (1 Pedro 1: 20). O
Senhor aguarda que todos os homens se disponham a contribuir para a
execução do Seu Plano. No passado, no seio do povo judeu, e atualmente
no da Igreja, o ser humano tem tido a possibilidade de se tornar membro
do povo eleito. A salvação foi sempre oferecida a todos: Isto é bom e
agradável diante de Deus, nosso Salvador, que deseja que todos os
homens se salvem, e conheçam a verdade. Porque há um só Deus e um
só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem, que se deu
em resgate por todos, tal é o testemunho que foi dado no tempo devido
(1 Timóteo 2: 3-6).
Todos os seres humanos convertidos ao senhorio de Cristo são membros
da Igreja, onde o Senhor é o verdadeiro Sumo Sacerdote e os cristãos reis
e sacerdotes: Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa,
povo adquirido, a fim de anunciardes as virtudes d'Aquele que vos
chamou das trevas para a Sua luz admirável (1 Pedro 2: 9); Àquele que nos
ama e que nos lavou dos nossos pecados e nos fez reis e sacerdotes para
Deus, Seu Pai, glória e poder para todo o sempre. Amém (Apocalipse 1 : 6).
O sacerdócio, em relação aos cristãos, tem em vista a sua capacidade
como povo: E vós mesmos, como pedras vivas, entrai na construção dum
edifício espiritual, por meio dum sacerdócio santo, cujo fim é oferecer
sacrifícios espirituais que serão agradáveis a Deus, por Jesus Cristo (1
Pedro 2: 5).
Como o acesso ao Pai é direto, não são necessários mediadores como na
religião judaica: Portanto, é por Ele que ambos temos acesso junto ao
Pai num mesmo Espírito (Efésios 2 : 18). É por esse motivo que, tendo em
atenção o Sumo Sacerdócio de Cristo, Paulo afirmou: Cristo Jesus, que
morreu, e ainda mais, que ressuscitou, Ele que está à direita de Deus,
Ele que intercede por nós (Romanos 8: 34).
Embora as eleições de Israel e da Igreja tenham sido feitas com um
sentido coletivo, Deus tem tido um propósito para cada membro, podendo,
por isso, pela Sua graça, levantar homens para executar determinada
tarefa. Nas Escrituras há diversos exemplos. Eis alguns deles: a escolha de
David para governar o Seu povo: Escolheu a David Seu servo, tomando-o
dos apriscos das ovelhas (Salmo 78: 70); a eleição de Maria para dar à luz o
Salvador da Humanidade: Mas ao chegar a plenitude dos tempos, Deus
30
enviou o Seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei (Gálatas 4: 4);
a escolha de Pedro para ir a casa de Cornélio, dando, assim, início à
salvação dos pagãos em Cristo: Depois de longa discussão, Pedro
ergueu-se e disse-lhes: Irmãos, sabeis que Deus me escolheu desde os
primeiros dias para que os pagãos ouvissem da minha boca a palavra da
Boa Nova e abraçassem a fé (Atos 15: 7-12; Atos 11: 5-12).
A eleição de Jacob, ligada à prossecução do Seu Plano no âmbito da
Aliança Abraâmica, é um bom exemplo da soberania divina: ...para que se
afirmasse a liberdade da eleição divina, só dependente da escolha
d’Aquele que chama e não das obras, foi-lhe dito: ....Amei Jacob e odiei
Esaú (Romanos 9: 11, 12). Deus elegeu Jacob para patriarca das doze tribos de
Israel, início do Seu povo eleito, antes dele nascer: Ora, mesmo antes do
nascimento dos filhos, quando não tinham feito bem nem mal, para que
se afirmasse a liberdade da eleição divina, só dependente da escolha
d’Aquele que chama e não das obras, foi-lhe dito: O mais velho será
servo do mais novo, segundo o que está escrito... (Romanos 9: 11-13). Por isso,
Paulo conclui que não há injustiça da parte de Deus, pois mantém-se fiel
ao que planeou (Romanos 9: 14).
Estas chamadas ou escolhas pontuais são distintas do propósito eterno da
eleição, pois não implicam desconsideração ou perda para os restantes
membros, fazendo apenas parte do método que Deus soberanamente
estabeleceu e considerou ser o melhor para o cumprimento do Seu Plano.
Paulo disse que para se ser filho de Deus está-se dependente da livre e
soberana expressão da misericórdia de Deus, aberta a todos os seres
humanos, e não de algo que se seja ou faça (Romanos 10: 12). No entanto, a
participação e responsabilidade humanas não são anuladas. Eis um
exemplo: Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: A
severidade para com os que caíram, e a bondade para contigo, se
permaneceres no bem; de outro modo, também tu serás cortado (Romanos
11: 22). Paulo também afirmou: Portanto, Deus usa de misericórdia com
quem quer, e endurece aquele que quer (Romanos 9: 18). Disse ainda que se
deu o endurecimento de uma parte de Israel (Romanos 11: 25), onde o
contexto o relaciona com a sua incredulidade, desobediência e teimosia
(Romanos 10: 21; 11: 20). Além disso, Paulo declara que as razões por que Deus
encerrou a todos na desobediência e a Escritura encerrou todas as
31
coisas sob o domínio do pecado são, respetivamente, para usar de
misericórdia com todos (Romanos 11: 32) e para que a promessa fosse dada
aos crentes pela fé em Jesus Cristo (Gálatas 3: 22). Portanto, a eleição não é
incondicional. É dado ao ser humano o dom da liberdade para aceitar ou
resistir, quer à graça salvífica de Deus, quer ao dom do Espírito Santo
(Lucas 6: 47 e 9: 24, Atos 7: 51 e Apocalipse 22: 7).
As Escrituras mostram a ação e a eleição de Deus (por meio do Espírito
Santo) na salvação do homem, mas deste é esperada a manifestação do
fruto do arrependimento e da fé. Aqui enquadra-se a perseverança do
Cristão: Desejamos, porém, que cada um de vós mostre o mesmo zelo,
mantendo intacta a sua esperança, até ao fim, de modo que não vos
torneis tíbios, mas imiteis aqueles que, pela fé e perseverança, se
tornaram herdeiros das promessas (Hebreus 6: 11, 12). A soberania de Deus
não anula, pois, a responsabilidade humana na perseverança de fé durante
a sua peregrinação neste mundo. Permanecer na fé e na sua prática
confirma a sua esperança e herança. Cristo advertiu: ...resfriará a
caridade da maioria; mas aquele que se mantiver firme até ao fim, será
salvo (Mateus 24: 12, 13). Jesus disse ainda que, se a pessoa não permanecer
n’Ele, será cortada (João 15: 6; Romanos 11: 17-21; 1 Coríntios 9: 27). Eis alguns outros
exemplos bíblicos. Paulo afirmou que se pode estar separado de Cristo e
cair da graça (Gálatas 5: 4); naufragar na fé (1 Timóteo 1: 19); abandonar a fé (1
Timóteo 4: 1); e que quem negar Cristo, também será negado (2 Timóteo 2: 12;
Mateus 10: 33). A carta aos Hebreus declara que o cristão é a casa de Deus, se
conservar firme a confiança e a glória da esperança até ao fim: Cristo,
porém, é fiel, como filho, à frente da Sua própria casa, a qual somos
nós, se conservarmos firmemente até ao fim a confiança e a esperança
de que nos gloriamos (Hebreus 3: 6); que deve cuidar para que ninguém
no seu meio tenha um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo
(Hebreus 3: 12, 13); e que se torna participante de Cristo, desde que conserve
firmemente, até ao fim, a fé dos primeiros dias (Hebreus 3: 14).
A Igreja de Cristo, contudo, tem uma existência temporária. Durará o
período de tempo que medeia entre o seu surgimento, no dia de
Pentecostes (Atos 1: 4, 5, 8; Atos 2: 1-4) e a futura volta de Jesus Cristo, que virá

32
para a levar para junto de Si – o Arrebatamento* (João 14: 3; Mateus 24: 36-44; 1
Tessalonicenses 4: 13-18), onde permanecerá até ao fim do período de
Tribulação: Eis que veio o Senhor com milhares dos seus santos (Judas 1:
7; ver também Zacarias 14: 5). A Igreja não pode perder de vista o seu objetivo
primordial, a esperança das coisas invisíveis, eternas, enquanto exerce a
sua missão social: Não fixo a minha atenção nas coisas que estão à vista,
mas naquelas que ainda se não veem. Pois o que se vê é passageiro, mas
o que ainda não se vê é eterno (2 Coríntios 4: 18).
Na sua carta aos Romanos, Paulo declarou que o remanescente do Seu
povo será salvo (Romanos 11: 1-5 e 26-29). Isso terá o seu cumprimento quando
Jesus Cristo, no Seu regresso à Terra para estabelecer o Seu Reinado, for
reconhecido por Israel como o Messias a quem trespassou: Encherei de
espírito de bondade e de oração os descendentes de David e os outros
habitantes de Jerusalém. Hão de contemplar aquele a quem
atravessaram com uma lança e chorarão por ele, como se chora a morte
de um filho único ou de um primeiro filho (Zacarias 12: 10). Nessa altura o
povo judeu ficará abrangido pela Nova Aliança.
Como se disse, no Arrebatamento, Cristo virá ao encontro da Sua igreja
nos ares, pois é o Seu povo celestial (I Tessalonicenses 4: 15-18); na Sua segunda
vinda, para livrar Israel da batalha do Harmaguedon, pisará a terra no
Monte das Oliveiras, pois é o Seu povo terreno (Zacarias 14: 4, 5).
Nenhum ser humano é obrigado a servir a Deus. Contudo, é-lhe oferecida
essa oportunidade, desde que aceite as Suas condições. Atualmente, está a
ser testado e provado através dos princípios e ordenanças do Evangelho de
Jesus Cristo.

AS TRIBOS PERDIDAS DE ISRAEL E A CIÊNCIA


A Bíblia é uma coleção de histórias, factos, metáforas, analogias,
parábolas, etc.. Se se considerar todo o conteúdo bíblico simbólico, o seu
aspeto concreto é anulado, ficando então comparável a uma qualquer obra
de ficção e passando então o cristianismo a ser uma lenda. Por outro lado,

* OArrebatamento constitui a primeira fase ou etapa da Segunda Vinda de Jesus Cristo. É o
momento em que Jesus buscará a Sua Igreja e está claramente explicado por Paulo em 1
Tessalonicenses 4: 13-18.
33
se for considerado literal, então muitas passagens tornar-se-ão
inexplicáveis ou absurdas. A falta de fé também pode considerar
simbólico um texto literal. Por exemplo, a ressurreição de Cristo pode ser
tão inacreditável para alguns, que acabam por considerá-la um símbolo. O
batismo e a Santa Ceia são literais e ao mesmo tempo simbólicos. São
factos ocorridos mas também representam uma realidade espiritual.
Ao estudar-se a Palavra de Deus torna-se importante discernir o que é
literal do que é simbólico, pois ambos existem nas Escrituras. Contudo, a
tarefa de o saber é, por vezes, difícil, mas não impossível.
Por exemplo, a história de Abraão é literal. O povo israelita está aí para
demonstrar isso. De acordo com a narrativa de Génesis 12, Abraão foi
chamado com o propósito divino de redimir e salvar a Humanidade. A
intenção de Deus era que houvesse um homem que O conhecesse e O
servisse, e guardasse os Seus caminhos. Que dos seus descendentes
surgisse uma nação escolhida, separada das práticas ímpias das suas
vizinhas, que fizesse a vontade de Deus. Dessa nação viria Jesus Cristo, o
Salvador do mundo.
Recentemente, a ciência veio comprovar que o povo judeu tem uma
origem comum. Skorecki et al. (1997) e, mais recentemente, Nebel et al.
(2001), efetuaram testes sanguíneos em judeus asquenazes*, sefardita e
curda, e examinaram os cromossomas Y, de que só os homens são
portadores. Este cromossoma determina o sexo masculino e é passado
diretamente do pai para todos os seus filhos, existindo numa única cópia
(haploide) no genoma masculino. Em mais de 95% da sua extensão, não
troca genes com nenhum outro segmento genómico, isto é, não se
recombina. Assim, é transmitido de geração em geração como um bloco
de genes, que é chamado haplótipo. Os diferentes haplótipos permanecem
inalterados em linhagens patrilineares até que ocorra uma mutação, que é
um acontecimento raro. Dessa maneira, o cromossoma Y fornece
informações que permitem traçar vínculos genéticos que alcançam

*
As comunidades de judeus asquenazes e de origem sefardita separaram-se há cerca de 2.000 anos,
no ano 70 d.C.. Os atuais asquenazes descendem da população que se fixou na Europa Oriental e na
Alemanha, há centenas de anos, enquanto que os sefarditas têm origem nos judeus residentes na
África do Norte, em Espanha e em Portugal.

34
dezenas de gerações no passado.
A análise do cromossoma Y realizada por esses investigadores, e a
comparação dos resultados obtidos com os de vários grupos Árabes –
Palestinianos, Beduínos, Jordanos, Sírios e Libaneses – bem como de
populações não Árabes da Transcaucásia – turcos, arménios e curdos
muçulmanos, levou à conclusão de que os judeus, apesar de viverem
separados há mais de 1.000 anos, mantêm uma identidade genética
indicadora de um ancestral comum.
Comprovaram também que os judeus sefarditas estão geneticamente muito
próximos dos judeus do Curdistão e que só pequenas diferenças existem
entre estes dois grupos e os judeus asquenazes da Europa (Países do Leste
Europeu, Espanha e Portugal). Interessante, também, é saber que os judeus
curdos apresentam uma afinidade genética maior com os outros judeus, do
que com os curdos de origem muçulmana. Em relação aos grupos árabes a
relação genética é distante, sugerindo que judeus e palestinianos não são o
mesmo povo.
Outro exemplo são os seguintes v.v.: Na tenda da reunião da porta de
fora do véu que cobre o testemunho, Aarão e os seus filhos colocarão
este óleo para arder desde a tarde até de manhã na presença de Javé.
Manda vir para junto de ti, de entre os filhos de Israel, o teu irmão
Aarão e os seus filhos, a fim de exercerem o sacerdócio em minha
honra: Aarão com Nadab, Abiú, Eleazar e Itamar, seus filhos (Êxodo 27:
21; 28: 1).
A Bíblia menciona que, após o êxodo do Egito, tornou-se necessário
designar uma ordem especial para desempenhar os deveres sacerdotais,
sendo a tribo de Levi a escolhida para esse fim. Ainda segundo a Bíblia,
Aarão, os seus filhos e respetivos descendentes do sexo masculino foram
selecionados por Deus para servirem, perpetuamente, como sacerdotes. A
tradição judaica diz que os Coanitas – membros do sacerdócio judaico -
são descendentes diretos de Aarão, o irmão de Moisés. Seria, pois, uma
linha patrilinear, passada de geração em geração, sem interrupção durante
mais de 3.000 anos (mais de 100 gerações). Também confirma que, no
regresso do exílio de Babilónia, a linhagem sacerdotal foi comprovada, o
que demonstra que a pureza genealógica era preservada: E entre os
sacerdotes: Filhos de Hobia, filhos de Accos, filhos de Berzelai, o
35
galaadita, assim chamado por ter tomado por esposa uma das filhas de
Berzelai. Eles procuraram esclarecer a sua genealogia, mas não a
puderam encontrar, pelo que foram excluídos do sacerdócio (Esdras 2: 61,
62; Neemias 7: 63, 64).
Estudos genéticos realizados por Skorecki et al. (1997) demonstraram uma
origem comum no seio dos membros do sacerdócio judaico, apoiando,
assim, a tradição oral judaica. Esses estudos comprovaram que 98,5% dos
Coanitas atuais apresentam um certo tipo de assinatura genética que só se
repetia, abaixo de 30%, nos membros dos outros grupos judaicos e que
entre os não-judeus, a sequência, praticamente, é inexistente. A presença
desse marcador em não Coanitas não é de surpreender uma vez que os
judeus não formam uma comunidade geneticamente definida. Outros
cromossomas Y integraram o seu pool genético, através de homens não
judaicos. Como se sabe, o status judaico é determinado pela mãe e a
origem tribal pela linha paterna.
Num segundo estudo foi feita a pesquisa de outros marcadores genéticos
num número superior de amostras de ADN. Os resultados mostraram a
existência de seis marcadores cromossómicos em 97 dos 106 Coanitas
testados (Thomas et al. 1998). Este conjunto de marcadores foi designado
Cohen Modal Haplotype (CMH), a assinatura genética padrão da família
sacerdotal judaica.
O Dr. David Goldstein, colaborador no segundo estudo, teve esta
afirmação interessante:
O facto de mais de 90 por cento dos Cohens compartilharem os mesmos
marcadores genéticos após este período de tempo é uma prova da devoção das
suas esposas ao longo dos anos. Mesmo uma baixa taxa de infidelidade teria
reduzido drasticamente essa percentagem.
Em África, há dois povos muito antigos que são reconhecidos como
judeus: os Falashas e os Lembas. Os Falashas (Parfitt, 1986), cujo significado
é estrangeiro, são assim chamados pejorativamente. Também são
designados por Beta-Israel (casa de Israel). Na Etiópia formavam uma
comunidade atrasada e fechada, que preservava usos e costumes
milenares, mantinha as rígidas leis da Tora, dizendo-se descendente da
tribo perdida de Dan. Em 1947, foram reconhecidos pelos rabinos de
Israel.
36
Os Lembas (Ross, 2000), tribo negra do norte da África do Sul, praticam a
circuncisão, casam-se apenas entre si, guardam um dia por semana para
orações (o shabat) e não comem carne de porco nem carne de hipopótamo,
considerado parente do porco. A origem da tribo africana começou a ser
estudada, nos anos 80 do séc. passado, pelo historiador inglês Tudor
Parfitt, diretor do Centro de Estudos Judaicos de Londres.
A sua tradição oral diz que eles viviam num lugar chamado Senna, de
onde partiram em grupo. Parfitt (1986) descobriu no sul do Iémen uma
pequena vila com esse nome. Segundo as lendas locais, até o século X, era
um vale fértil, abastecido por um açude. Quando este secou, a maioria das
pessoas partiu.
Estudos de ADN feitos pelo geneticista inglês David Goldstein (Thomas et al.
2000), da Universidade de Oxford, confirmaram a sua ascendência judaica
e, surpreendentemente, entre o clã sacerdotal Buba, um dos que formam a
tribo, a incidência da assinatura genética foi de 53%, superior ao dos
sacerdotes asquenazitas, judeus emigrados para a Europa Oriental em
consequência da Diáspora. Nos outros clãs, situou-se nos 9%.
Geneticamente, os Lembas são parentes dos Coanitas. Os Buba são o
principal clã desta tribo, tal como os Coanitas que no passado eram a elite
dos judeus e de cuja linhagem saíam os sumos sacerdotes. Goldstein
também conseguiu calcular uma data para a origem da assinatura genética.
Segundo ele, teria pertencido a um ancestral que viveu entre os 2.600 e os
3.250 anos atrás. Pela tradição judaica, o período coincide com a vida de
Arão. Segundo o livro de Reis, o reino de Israel foi destruído por uma
brutal invasão Assíria no ano 722 a.C.. A perda não se resumiu a terras.
Das dez tribos que o constituíam nunca mais ninguém soube do seu
paradeiro. É pois, muito interessante, verificar que nos nossos dias estão a
ser encontrados os descendentes dessas tribos.
Os judeus, que no estudo se identificaram como Levitas, não apresentaram
o conjunto comum de marcadores como acontecia com os Coanitas.
Talvez porque, quando os romanos destruíram o Templo de Jerusalém, em
70 d.C., os levitas desapareceram da história como um grupo distinto,
misturando-se à multidão dos cativos e dos forasteiros judeus pelo mundo
inteiro. Contudo, formaram três grupos, um deles com o CMH. Segundo a

37
tradição, os Levitas também devem apresentar uma assinatura genética de
um antepassado patrilinear comum.
Atualmente, estão em curso estudos nesse sentido, que poderão trazer mais
informação importante sobre a história da Diáspora (Thomas et al. 1998). Estes
estudos demonstraram uma clara relação genética entre os Coanitas e a
respetiva linhagem direta a partir de um ancestral comum e suportam as
afirmações bíblicas de que Aarão permaneceria para sempre: Cingirás
com o cíngulo Aarão e os seus filhos, aos quais imporás as tiaras. O
sacerdócio pertencer-lhes-á por uma lei perpétua. É assim que sagrarás
e os seus filhos. Ungi-los-ás como ungiste o pai, e serão sacerdotes ao
meu serviço. Esta unção conferir-lhes-á o sacerdócio para sempre, de
geração em geração (Êxodo 29: 9; 40: 15).
Em 2005, a Autoridade Religiosa Judaica, composta por um painel de
rabinos (Rabinato), reconheceu a origem judaica de outra tribo, esta de
origem indiana, Lu-Shi, que se concentra numa região próxima a Uttar
Pradesh. O nome significa literalmente ‘Dez Tribos’. Essa decisão baseou-
se em dados científicos, culturais e religiosos que provaram que os seus
membros são os descendentes da tribo de Manassés, o irmão de Efraim.
Ambos foram os únicos descendentes de José, filho favorito do patriarca
Jacob, neto de Abraão. Embora sem nenhuma prova, o estreito parentesco
entre as duas tribos poderia explicar, em princípio, a proximidade
geográfica que os seus descendentes elegeram para o exílio, ao contrário
das outras oito tribos das quais nunca mais se teve notícia. A Lu-Shi, com
75.000 a 1,2 milhões de pessoas, está radicada nas regiões de Mizoram e
Manipur, situadas no nordeste da Índia. Foi descoberta em 1979 por um
rabino que se surpreendeu com os seus rituais judaicos. Conservam uma
bênção coletiva que declara: ‘nós, os filhos de Manassés, ainda levamos o
legado’. Devido à decisão dos rabinos, mais de mil dos agora chamados
‘Filhos de Manassés’ foram amparados nos últimos anos pela Lei do
Retorno ao Estado de Israel, que permite a nacionalização automática dos
judeus e respetivos descendentes até à terceira geração.
A identificação das tribos perdidas de Israel é interessantíssima, tendo em
conta que o livro do Apocalipse menciona que, durante o futuro período

38
da Tribulação ou do Tempo de Angústia para Jacob* como é designado
no AT, essas tribos estariam reunidas: Ouvi, então, o número dos que
foram assinalados: cento e quarenta e quatro mil** assinalados, de todas
as tribos dos filhos de Israel (Apocalipse 7: 4), seguindo-se a respetiva
listagem (Apocalipse 7: 5-8).


*
Jacob e Israel são a mesma pessoa, o filho mais novo de Isaac: Disse-lhe Deus: O teu nome é
Jacob. Já não te chamarás Jacob, porém Israel será o teu nome. E chamou-o Israel (Génesis 35: 10).
Jacob teve doze filhos, que deram origem às doze tribos que formavam o povo hebreu ou Israel.
**
Este número representa os judeus que se converterão a Jesus Cristo no período da Grande
Tribulação, após o arrebatamento da Igreja de Cristo, que não se contaminarão com as falsas
doutrinas e que substituirão a igreja na pregação do evangelho. Nesse tempo, a Igreja de Cristo já
estará nas bodas do Cordeiro, que também é representada pelo mesmo número (Apocalipse 14: 1-5; 19: 1,
6, 7).

39
INTRODUÇÃO À PROFECIA BÍBLICA
O apóstolo Pedro afirmou: E temos ainda bem confirmada a palavra dos
profetas, à qual bem fazeis em prestar atenção, como a uma lâmpada
que brilha num lugar escuro, até que venha o dia, e a estrela da manhã
nasça nos vossos corações; mas sabei, antes de tudo, que nenhuma
profecia da Escritura é de interpretação particular. Porque jamais uma
profecia foi proferida pela vontade dos homens. Inspirados pelo Espírito
Santo é que os homens santos falaram em nome de Deus (2 Pedro 1: 19-21).
Com esta afirmação o apóstolo estava a chamar a atenção para a
importância de se enquadrar cada profecia no plano global de revelação do
qual faz parte.
Em termos bíblicos, a profecia tem dois significados. Numa definição
mais abrangente refere-se a tudo o que Deus tem a dizer à Humanidade.
Assim, como proclamação de Deus acerca das coisas que não se poderiam
saber de outro modo, a Bíblia é um livro totalmente profético. A profecia
também engloba as revelações de Deus que permitem saber o que vai
acontecer no futuro. Quase um terço das Escrituras corresponde à predição
e é declarada por Deus como sendo a maior prova de que somente Ele é
Deus: Lembrai-vos dos tempos passados, desde o princípio. Sim, eu sou
Deus e não há nenhum semelhante a mim; Eu anuncio o futuro, desde o
princípio, e de antemão o que ainda não se cumpriu. Os meus desígnios
realizar-se-ão, executarei todas as minhas vontades (Isaías 46: 9-10).
Em relação ao seu cumprimento, as profecias podem ser condicionais ou
incondicionais. Estas últimas são deliberações divinas, resultantes
exclusivamente da Sua vontade, e que se relacionam com acontecimentos
que ocorrem no tempo determinado por Deus. Os maiores exemplos são a
morte vicária de Jesus na cruz do calvário, descrita, por exemplo, em
Isaías 53: 4-12, o regresso do povo judeu à Terra Prometida e a Segunda
Vinda de Cristo, no ‘fim dos tempos’.
As profecias condicionais são as que dependem unicamente da ação
humana, isto é, do seu posicionamento em relação à vontade de Deus. As
profecias dirigidas a Israel, antes da entrada em Canaã, enquadram-se
nesta natureza. A Bíblia informa que Israel foi uma nação formada por
Deus, com origem no patriarca Abraão, com o objetivo de ser um reino
sacerdotal na Terra para anunciar aos demais povos a fé no verdadeiro e
40
único Deus: Mas vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma
nação santa. São estas palavras que tu dirás aos filhos de Israel (Êxodo 19:
3-6).

Deus, antes da entrada na Terra Prometida, colocou diante do povo de


Israel a escolha: a bênção ou a maldição. Se obedecessem à Sua Palavra e
permanecessem separados do pecado e da iniquidade das nações vizinhas,
a bênção viria e ficaria com eles (Deuteronómio 28: 1-14). Se, por outro lado,
adotassem os caminhos dos ímpios, ficariam sob a maldição (Deuteronómio 28:
15-68). O povo, na sua maioria, não levou a sério a Sua advertência e adiou
sempre a obediência a Deus, resultando nas vicissitudes por que tem
passado ao longo da sua História. As principais consequências sofridas
foram: o cativeiro na Assíria e em Babilónia e a Diáspora a partir do ano
70 d.C. profetizadas por Moisés nessa altura.
Israel, desobedecendo em consciência à vontade de Deus e seguindo os
mesmos erros das nações vizinhas, rejeitou o governo teocrático e sofreu
consequências.
Se, desde o início, Deus declarasse que Israel não iria converter-se em
devido tempo e que a missão que lhe era destinada seria passada aos
cristãos, estaria a interferir negativamente na sua liberdade de decisão,
perdendo valor a sua execução. Israel não pode culpar Deus pela perda
desse privilégio: Jesus disse-lhes: nunca lestes nas Escrituras: A pedra
que os construtores rejeitaram transformou-se em pedra angular? Isto é
obra do Senhor e é admirável aos nossos olhos. Por isso vos digo: O
reino de Deus ser-vos-á tirado e será confiado a um povo que produzirá
os seus frutos. ... os príncipes dos sacerdotes e os fariseus, ao ouvirem as
suas parábolas, compreenderam que eram eles os visados (Mateus 21: 42, 43,
45).

Como Deus não podia esperar eternamente pela conversão daquele povo,
determinou, posteriormente, através da Profecia das 70 Semanas‡,
descrita em Daniel 9: 25-27, um período de 490 anos ou setenta semanas
de anos para que Israel se convertesse e se tornasse verdadeiro testemunho
de Deus para o mundo, enviando-lhe o Messias. A contagem do tempo

‡ AProfecia das 70 semanas está descrita em Daniel 9: 25-27 e é examinada no subcapítulo ‘Tempo
de Angústia para Jacob’.
41
começou com a ordem para reconstruir a cidade de Jerusalém, destruída
por Nabucodonosor quando, no ano 586 a.C., invadiu e levou cativo o
povo judeu para Babilónia. Nesta mesma altura Deus deu ao imperador
babilónico, através de um sonho, a informação sobre o início do sistema
de governação humano (na vigência do qual nos encontramos) que
substituiria o reinado universal de Israel até à vinda do Messias e
estabelecimento do seu Reino Milenar.
O nascimento de Jesus Cristo foi predito pela voz dos profetas:
...Porquanto um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado, que
tem a soberania sobre os seus ombros, o qual se chamará conselheiro
admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da Paz. O seu império será
grande e a sua paz não terá fim sobre o trono de David e sobre o seu
reino. Ele estabelecê-lo-á e mantê-lo-á pelo direito da justiça... (Isaías 9: 5),
e está diretamente ligado ao Plano de Deus, desde a eternidade, de salvar a
Humanidade, e possibilitar ao povo desobediente ouvir a Sua mensagem
redentora, anteriormente proferida pelas vozes dos profetas, para vir a
fazer parte do Reino de Deus.
A oferta do Seu próprio Filho foi a única maneira encontrada por Deus de
reconciliar o ser humano com Ele. Mas, segundo a Bíblia, ao homem
ainda resta fazer algo, isto é, crer em Jesus e segui-lo como seu Senhor:
Porque Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único,
para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna
(João 3: 16). A obra redentora de Deus só tem efeito prático na vida de uma
pessoa quando ela passa a ter uma atitude de fé no verdadeiro Messias. A
partir de Jesus, todas as coisas passaram a girar em torno Dele, para Ele e
por Ele.
Embora o Seu trabalho Lhe viesse a trazer dor, pois teve que enviar o Seu
próprio Filho, não desistiu. Jesus declarou: Meu Pai trabalha
continuamente e eu também trabalho (João 5: 17). Por outras palavras,
ambos estão a atuar, incessantemente, para a restauração do Homem, para
restabelecer o que está perdido e fazer novas todas as coisas. O versículo
(v.) anterior também contém uma declaração espantosa de Jesus, ao
afirmar que Deus era o Seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.
No passado, Deus tentou, em contínuo, levar a Humanidade ao
arrependimento, apesar de esta, desde a sua queda, se ter mostrado
42
rebelde. Logo nos seus primórdios, como resultado de uma vivência
iníqua, surgiu uma corrupção extrema (Génesis 6: 5, 11) que levou Deus a
entrar em juízo contra a humanidade culpada, através do dilúvio, e a
limitar, não só a longevidade, como também a Sua interferência direta no
modo de proceder do ser humano: O meu Espírito não permanecerá
indefinidamente no homem, pois o homem é carne e os seus dias não
ultrapassarão os cento e vinte anos (Génesis 6: 3). A partir daí, Deus
permitiu que a Humanidade escolhesse o seu próprio caminho, deixando
de a proteger. Contudo, não deixou de a advertir para as consequências
dos seus atos. Posteriormente, por consentimento de Abraão, formou um
povo para ser Seu testemunho e, através dele, enviar o Seu Filho.
Atualmente, nesta era da Graça ou da Igreja, na Sua longanimidade, Deus
aguarda que o Homem oiça a Sua mensagem e se converta. O modo como
o ser humano vive não é o que Deus pretendia para ele.
Uma grande parte do ser humano está programada, contudo, também
possui um certo grau de livre arbítrio, que é a capacidade de escolher o
que deseja fazer, dizer e pensar. Assim, o ser humano é, até certo ponto,
dono do seu próprio destino, no sentido da tomada decisões, da aceitação
ou rejeição das situações, de escolher entre alternativas, ou seja, a sua
vontade conduz as suas ações. Contudo, não tem a capacidade de controlar
totalmente o curso dos acontecimentos nem as circunstâncias da sua vida.
Porém, se recorrer a Deus e alterar as condições de acordo com a Sua
vontade, as situações podem mudar. A cidade de Nínive é um exemplo:
Levanta-te, vai a Nínive, à grande cidade, e anuncia-lhe que a sua
maldade subiu até à minha presença (Jonas 1: 2). Jonas foi pela cidade
durante todo o dia, e clamava, dizendo: Daqui a quarenta dias, Nínive
será destruída (Jonas 3: 4). Quando o rei e os seus habitantes se
arrependeram, Deus poupou-os: Deus viu as suas obras, como se
convertiam do seu caminho, e, arrependendo-se do mal que tinha
resolvido fazer-lhes, não lho fez (Jonas 3: 5-10). E Jonas declarou: Porque
sabia que sois um Deus misericordioso e clemente, paciente, cheio de
bondade e pronto a renunciar aos vossos castigos (Jonas 4: 2). Esta
afirmação de Jonas foi confirmada por Deus: e então, não hei de
compadecer-me da grande cidade de Nínive, onde há mais de cento e
vinte mil pessoas, que não sabem discernir entre a sua mão direita e a

43
sua mão esquerda, e um grande número de animais? (Jonas 4: 11).
Porque Israel O rejeitou e a obra redentora de Deus em relação à
Humanidade não podia parar, Jesus Cristo estabeleceu a Igreja, que veio
substituir Israel na pregação da mensagem de Deus, para que o mundo
inteiro pudesse ser salvo (Mateus 21: 43). Mas Israel não foi renegado:
Pergunto, pois: Teriam eles tropeçado (rejeição e crucificação de Cristo),
para cair? De modo algum; mas, pela queda, veio a salvação para os
gentios (Igreja), a fim de lhes provocar a emulação (Romanos 11: 11).
Poder-se-á argumentar que Deus, na Sua presciência, sabia que nem todas
as pessoas Lhe obedeceriam pelo que teria de respeitar o seu certo grau de
livre arbítrio, não as castigando. Mas, a incredulidade do homem não
influencia os atributos de Deus, que permanece fiel, mesmo quando não
acredita na Sua Palavra*. Paulo, na carta à igreja de Roma, afirmou: Que
importa se alguns deles não creram? Acaso a sua incredulidade
destruirá a fidelidade de Deus? De modo algum (Romanos 3: 3, 4).
Quase todas as profecias preditivas são dirigidas a Israel e à vinda do
Messias. De facto, Deus declarou aos israelitas que eles seriam um sinal
para o mundo, glorificando-se a Si mesmo neles e através deles (Isaías 46:
13). Deus também lhes disse: Vós sois as minhas testemunhas, diz o
Senhor, e os servos que eu escolhi, a fim de que me reconheçais e me
acrediteis e compreendais que eu sou. Antes de mim não havia Deus
nenhum, e não haverá outros depois de mim (Isaías 43: 10). Por outras
palavras, Deus usaria os judeus e a sua terra como testemunho, quer
positivo, quer negativo, tanto para eles próprios, como para o mundo. Isso
não só demonstraria a Sua existência, mas também que estaria ativamente
envolvido em desenvolver a História de Israel e a cumprir o Seu propósito
para toda a Humanidade. A profecia expõe, antecipadamente, o Plano de
Deus e o seu objetivo é que todos possam conhecê-lO, crer Nele e
entender que Ele é o único Deus. É a razão persuasiva, não apenas da
existência de Deus, mas também de que a Bíblia é a Palavra de Deus.
A Bíblia afirma que Cristo veio para Israel e, através de Israel, para o


*
Este assunto é analisado no capítulo: ‘Israel, Canal da Revelação e Bênção de Deus para o
Mundo’.
44
mundo como Salvador de toda a Humanidade: ...para que o mundo fosse
salvo por ele (João 3: 17; ver também Mateus 15: 24; Atos 3: 25, 26). Quase todas as
restantes profecias se desenrolam a partir dessa base, pelo que é aí que se
encontra o seu significado. Atualmente, o seu entendimento pode parecer
complicado porque, por vezes, não se tem em consideração que algumas
das suas partes já foram cumpridas, enquanto que outras o serão
futuramente. As profecias podem ter um cumprimento próximo e outro
mais dilatado no tempo, na proximidade da Segunda Vinda de Cristo ou
‘últimos tempos’. Este facto é designado por condensação profética. De
um modo geral, o contexto situa a época em que os eventos proféticos têm
lugar, referindo-se, por exemplo, aos ‘últimos tempos’ ou ‘naquele dia’ ou
‘o Dia do Senhor’ ou ‘nesses dias’ ou ‘nessa altura’ ou ‘no tempo’: No
tempo em que vos cumularei de bens, no tempo em que vos hei de
reunir. Farei de vós objeto de glória e de louvor entre todos os povos da
terra, quando tiver realizado, diante dos vossos olhos, a vossa
restauração, diz o Senhor (Sofonias 3: 20); Portanto eis que nesses dias,
nesse tempo em que eu realizarei a restauração de Judá e de Jerusalém,
juntarei todas as nações e conduzi-las-ei ao vale de Josafat; Ali entrarei
com eles em juízo acerca de Israel, meu povo e minha herança. A quem
eles espalharam por entre as nações, repartindo a minha terra entre si
(Joel 4: 1, 2); Pois, nessa altura, a aflição será tão grande como nunca foi
vista, desde o princípio do mundo até ao presente, nem jamais o será
(Mateus 24: 21). A aflição ou Tribulação é o futuro período de sete anos,
durante o qual Deus irá julgar quem O rejeitou e completar o Seu Plano de
Salvação para a nação de Israel.
A Bíblia é um livro coerente do princípio ao fim, que tem como tema
central Jesus, o Messias. Há quem diga que não é digna de crédito, por ter
sido escrita por homens, talvez por desconhecer que ela se comprova
através de eventos históricos que ocorreram milhares de anos após terem
sido profetizados. Esse registo do cumprimento profético, que pode ser
testemunhado pelo mundo, é suficiente para a validar.
Deus não deu as profecias apenas para alguns privilegiados, mas
manifestou ...aos seus servos as coisas que brevemente devem
acontecer... (Apocalipse 1: 1). Isso significa que a Palavra profética pode ser
entendida e que Ele, como seu Autor, espera que lhe seja dada atenção,
45
como a uma lâmpada que brilha num lugar escuro (2 Pedro 1: 19), que seja
estudada e que dela seja tirado o máximo proveito, pois é preciosa. O
apóstolo Pedro afirmou que a profecia é inspirada por Deus, o Espírito
Santo e que não procede de homens (2 Pedro 1: 21): Porque jamais uma
profecia foi proferida pela vontade dos homens. Inspirados pelo Espírito
Santo é que os homens santos falaram em nome de Deus.
Eis o que Deus proferiu às nações céticas, desafiando-as a predizerem o
futuro através dos seus deuses: Vinde e preparai a vossa defesa, diz o
Senhor: alegai os vossos argumentos, diz o rei de Jacob*. Apresentem-se
e anunciem-nos o que vai acontecer. Que predições fizestes no passado
para que lhes prestemos atenção? Anunciai-nos o futuro, a fim de
podermos verificar o seu cumprimento. Anunciai o que acontecerá no
futuro, e ficaremos sabendo que vós sois deuses. Fazei qualquer coisa, a
fim de que possamos medir-nos! Mas nada sois, a vossa obra nada é; é
abominável quem vos escolhe (Isaías 41: 21-24).
As Escrituras ensinam que a base do cumprimento das profecias bíblicas é
a atuação de Deus: Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos:
Que vês, Jeremias? Respondi: Vejo um ramo de amendoeira. Viste bem,
disse-me o Senhor, porque eu vigiarei sobre a minha palavra para a
cumprir (Jeremias 1: 11, 12). Deus liga o Seu próprio nome às promessas.
Identifica-Se pelo menos dez vezes como o Deus de Abraão, o Deus de
Isaac, e o Deus de Jacob (Êxodo 3: 15, 16; 1 Crónicas 29: 18; Mateus 22: 32; Atos 3: 13,
etc.). Foi assim que Se revelou a Moisés. Ao mesmo tempo, deu-lhe o Seu
nome, Yahweh, que significa Eu sou Aquele que é.
A Sua existência não depende de nenhum outro e é Dele que tudo o mais
depende. Jesus usou o facto de Yahweh ser conhecido como o Deus de
Abraão, Isaac e Jacob para defender a ressurreição: E quanto à
ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus disse: Eu sou o Deus de
Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob? Não dos mortos, mas dos
vivos é que ele é Deus (Mateus 22: 31, 32).

INTERPRETAÇÃO LITERAL DAS PROFECIAS SOBRE ISRAEL


Há, no AT, a informação de que as 12 tribos seriam reunidas no ‘fim dos
tempos’: Por isso refere-lhe o oráculo seguinte: Eis o que diz o Senhor
46
Deus: meu povo, vou abrir os vossos túmulos; tirar-vos-ei deles e vos
restabelecerei na terra de Israel. Sabereis então que eu é que sou o
Senhor, ó meu povo, quando tiver aberto os vossos túmulos e vos tiver
levantado deles (Ezequiel 37: 12, 13).
Este mesmo profeta foi mais preciso quando disse: O Senhor dirigiu-me
novamente a palavra e disse-me: Ezequiel, pega num pau de madeira e
escreve nele ‘Reino de Judá; pega em seguida noutro pau e escreve nele
‘Reino de Israel’. Segura os dois paus um contra o outro, de maneira
que pareçam um só. Quando o teu povo te perguntar o que isso quer
dizer, anuncia-lhes que eu, o Senhor Deus, vou pegar no pau que
representa Israel e junta-lo ao que representa Judá. Dos dois farei um
só pau, que segurarei na minha mão. Segura os dois paus na tua mão,
de modo que o povo os veja. Diz-lhes em seguida que eu, o Senhor Deus,
vou tirar o meu povo das nações para onde foram; vou reuni-los e trazê-
los de volta para o seu país. Farei deles uma nação na sua terra, nas
montanhas de Israel; serão governados por um só rei (Cristo) e nunca
mais serão divididos em duas nações, nem em dois reinos (Ezequiel 37: 19-
22).

Também exemplificativa da interpretação literal, eis outra passagem


bíblica: Encherei de espírito de bondade e de oração os descendentes de
David e os outros habitantes de Jerusalém. Hão de contemplar aquele a
quem atravessaram com uma lança e chorarão por ele, como se chora a
morte de um filho único ou de um primeiro (Zacarias 12: 10). Este texto é
bem claro em termos de destinatário: os descendentes de David e os
outros habitantes de Jerusalém que são, com certeza, os judeus, e
profetiza o seu reconhecimento do Messias anteriormente rejeitado.
Mais adiante vem outra profecia sobre o regresso de Jesus Cristo a
Jerusalém, no Monte das Oliveiras (Zacarias 14: 4), confirmada no NT, em
Atos 1: 11. É igualmente literal. Estas profecias foram proferidas entre
520 a.C. e 470 a.C..
O mesmo tipo de interpretação terá de ser feito com inúmeras outras
passagens. Foi esse modo de entender o texto bíblico que possibilitou
começar a falar-se de um ressurgimento da nação de Israel muito antes de
isso acontecer. Embora o fosse afirmado pelos intérpretes judaicos há

47
muito tempo, os cristãos só muito mais tarde começarem a analisar
literalmente a Palavra profética.
Em 1864, o estudioso das Escrituras, Dr. John Cumming, questionou-se,
no seu livro The Destiny of Nations as Indicated in Prophecy, sobre a
conservação da identidade judaica apesar da dispersão desse povo entre
tantas nações e afirmou:
As profecias sobre a sua restauração são feitas de maneira definida e ainda estão
por se cumprir. Como nação foram cortados e dispersos e é como nação que serão
reunidos e restaurados.
Dois anos depois, outro autor, James Grant, escreveria no seu livro ‘O fim
das coisas’:
A vinda de Cristo em pessoa, para restabelecer o Seu reino milenar na Terra, não
ocorrerá antes de os judeus regressarem à sua terra e os seus inimigos, bem como
de Cristo, reúnam os exércitos, de todas as partes do mundo, e comecem o cerco
de Jerusalém....
Esta afirmação foi, no mínimo, inovadora e, como era de esperar,
encontrou muita oposição entre outros eruditos bíblicos, pois, na época
pensava-se que tudo deveria ser entendido no sentido espiritual, simbólico.
Oitenta e dois anos passados sobre o livro de James Grant, Israel renascia
confirmando que a interpretação literal é forma correta para o
entendimento da profecia bíblica. A realidade profética não podia ser
contestada. Mesmo assim, por incrível que pareça, ainda hoje subsistem
teologias que procuram diminuir ou mesmo anular a importância desse
facto.
O movimento sionista de Theodor Herzl, iniciado em 1896, e outros
semelhantes, ainda não existiam. Era um movimento nacionalista
preponderantemente laico e secular que visava a fundação de um Estado
nacional judaico. Vale a pena lembrar que o jornalista judeu-húngaro
Theodor Herzl (1860-1904) foi tido como um sonhador ao falar da
restauração dos judeus como uma nação no seu próprio território, tendo
sido apelidado o ‘Júlio Verne judeu’.
Herzl, escreveu no seu livro ‘O Estado judeu’, de 1896:
A Palestina é a nossa inolvidável pátria histórica. Esse nome por si só seria um
toque de reunir poderosamente empolgante para o nosso povo, não se resolveria

48
através da integração em outras sociedades ou países, nem era de origem
económica, social ou religiosa, mas sim nacional.
Via como única solução possível, buscar a proteção de um estado próprio
no qual exerceriam uma soberania, e organizariam e estabeleceriam o seu
próprio estado nacional.
Scofield, ainda como pastor da igreja Trinitarian Congregational Church
of East Northfield, sediada em Machachusetts, publicou, em 1909, a
Scofield Reference Bible - a primeira Bíblia com notas, muitas delas
mencionando o retorno dos judeus à terra dos seus antepassados e da sua
restauração como nação.
A título de curiosidade, Isaac Newton, além de físico, foi um estudioso
das Escrituras, tendo sempre acreditado no cumprimento literal das
profecias. Morreu em 1727 e estava convicto do retorno literal do povo
judeu às terras da sua origem. A Wikipédia tem um registo sobre este
assunto.
Hal Lindsey, evangelista americano e professor no Campus Crusade for
Christ, no seu livro publicado em 1970 e intitulado The Late Great Planet
Earth, escreveu:
Mantenha os seus olhos sobre o Médio Oriente. Se este é o momento que nós
acreditamos que é, esta área tornar-se-á uma fonte constante de tensão para todo o
mundo. O medo de outra guerra mundial será quase totalmente centrado nos
problemas da área. Vai tornar-se tão grave que só Cristo ou o Anticristo poderá
resolvê-lo. É claro que o mundo vai escolher o Anticristo.
Os estudos hermenêuticos das profecias, que recusam aceitar as
referências a Israel no sentido literal, perdem a oportunidade de entender o
rumo da História sob a perspetiva bíblica. O sentido literal das Escrituras e
o entendimento do papel de Israel na História, bem como os factos reais
do retorno dos judeus e o renascimento do Estado Judaico, estão
interligados.
A própria Bíblia ensina a forma mais adequada para ser estudada e
compreendida. Não se trata aqui de uma didática desenvolvida por uma
determinada igreja. As próprias Escrituras afirmam que, se não for assim,
haverá dificuldade em assimilar e entender aquilo que Deus quer ensinar
através da Sua Palavra: A quem pretende ele ensinar sabedoria? A quem

49
quer fazer compreender lições de doutrina? Aos meninos acabados de
desleitar, aos que acabam de deixar os seios? É ordem sobre ordem,
ordem sobre ordem, norma sobre norma, norma sobre norma, ora para
cá, ora para lá (Isaías 28: 9, 10).
As Escrituras afirmam que os assuntos não estão relacionados num só
capítulo, ou numa só página, nem estão concentrados num só local. Vários
escritores e profetas bíblicos ocuparam-se dos mesmos temas. Assim, para
se ter um melhor entendimento, deve-se ir analisando o que cada um
escreveu sobre determinado assunto. É seguir o que disse o profeta Isaías
ora para cá, ora para lá. Esta é a maneira correta de se estudar a Palavra
de Deus, porque quando se fica pelo que um autor disse, corre-se o risco
de não interpretar corretamente essa mensagem. Comparando o que todos
os autores disseram sobre determinado assunto passar-se-á a ter a doutrina
verdadeira.
Paulo, por exemplo, utilizou esse método para provar que todo o ser
humano comete pecados (Romanos 3), para demonstrar os frutos da fé, em
Hebreus 11 e para mostrar que a justiça de Deus é obtida pela fé (Romanos
10).

Jesus Cristo empregou-o para provar a Sua divindade: E, começando por


Moisés, e seguindo por todos os profetas, explicou-lhes, em todas as
escrituras, tudo o que lhe dizia respeito (Lucas 24: 27). Uma análise do
contexto deste v. mostra que estes discípulos não tinham entendido que era
necessário que Cristo padecesse (Lucas 24: 26), pois não consideravam esse
aspeto, embora tivesse sido previsto pelas Escrituras: Jesus disse-lhes
então: Ó homens sem inteligência e lentos de espírito em crer em tudo
quanto os profetas anunciaram! (Lucas 24: 25). Jesus, através dessa
conversa, desvendou o sentido das palavras proferidas anteriormente pelos
profetas a Seu respeito, ajudando-os a entender que tudo o que havia
acontecido com Ele não deveria ser visto como um acidente. Para isso,
seguiu o método de ora para cá, ora para lá, pois começou por Moisés,
foi correndo toda a Bíblia, passou pelos profetas e foi mostrando as
referências à Sua pessoa.
No NT há uma passagem que transmite algo interessante sobre o ensino e
a interpretação bíblica: ...Ora um etíope, eunuco, e alto funcionário da
rainha Candace, da Etiópia, e superintendente de todos os seus tesouros,
50
que tinha ido em peregrinação a Jerusalém, regressava, na mesma
altura, sentado no seu carro, a ler o profeta Isaías. O Espírito disse a
Filipe: Vai e acompanha aquele carro. Filipe, acorrendo, ouviu o etíope
a ler o profeta Isaías e perguntou-lhe: Compreendes porventura, o que
estás a ler? E como poderei eu compreender, respondeu, sem alguém
que me oriente? E convidou Filipe a subir e a sentar-se junto dele.
...Então, Filipe tomou a palavra e, partindo desta passagem da escritura,
anunciou-lhe Jesus (Atos 8: 27-35). Verifica-se aqui que há quem ensina e
quem aprende. Esta prática vem desde os tempos de Moisés: E ensinar
aos filhos de Israel todas as leis que o Senhor lhes deu por intermédio de
Moisés (Levítico 10: 11). No livro de Neemias há uma descrição muito clara
do ensino: No primeiro dia desse mês, reuniu-se todo o povo na praça
que está em frente da porta da Água. Pediu-se então ao escriba e
sacerdote Esdras para trazer o livro da Lei de Moisés, que o Senhor
tinha dado a Israel... Ali, na praça que está em frente da porta da Água,
Esdras esteve a ler o livro desde a manhã até ao meio dia, na presença
de homens e mulheres e de todos os que já eram capazes de entender. E
todos estavam atentos à leitura da lei. ...Os levitas Josué, Bani,
Cherebias, Jamin, Acub; Chabetai, Hodias, Masseias, Quelitá, Azarias,
Jozabad, Hanan, Pelaías explicavam a lei ao povo que permanecia no
seu lugar. Liam em voz alta o livro da Lei de Deus, traduziam-no e
explicavam-no para que todos compreendessem a escritura. ...Todo o
povo se afastou então para comer e beber, repartindo uns com os outros.
Fizeram uma grande festa, porque tinham compreendido o que lhes
tinham ensinado (Neemias 8: 1-12).
A interpretação bíblica, como se pode inferir destas passagens, tanto é
aplicada para evangelizar não crentes, como para elucidar o povo de Deus.
Mas o problema maior não é a interpretação em si, mas a manipulação a
que pode ser sujeita. As Escrituras contêm assuntos difíceis de entender,
como já o apóstolo Pedro o afirmara: falando disto em todas as suas
(Paulo) cartas, nas quais há algumas passagens difíceis de entender, que
os incultos e inconstantes deturpam, como o fazem com as outras
escrituras, para a sua própria perdição (2 Pedro 3: 16). Deve-se dar a maior
atenção a esta questão pois, quem interpreta de modo errado, está sujeito a
sofrer e/ou a causar danos a terceiros. A hermenêutica ajuda a entender as

51
ideias e os significados que estão contidos em palavras e que precisam de
ser explicados a quem estiver interessado. Quanto maior for o rigor no
entendimento da Palavra de Deus, maior será a distância para o caminho
de perdição, como afirmou Pedro, por isso deve ser dada sem desvios nem
distorções. Esse rigor na interpretação traz vida ao cristão e não uma
discussão interminável.
Paulo adverte sobre o zelo sem entendimento, numa vida de religiosidade,
porque pode gerar o fanatismo: Posso afirmar em favor deles que têm
uma grande preocupação com as coisas de Deus, somente essa
preocupação não é esclarecida. Não entendem como é que Deus põe as
pessoas em boas relações com ele. Eles procuram à sua maneira
conseguir isso, sem se sujeitarem ao plano de Deus (Romanos 10: 2, 3).
Esclarecendo os Seus discípulos sobre o que os esperava por parte dos
religiosos, Jesus Cristo afirmou: ...e aproxima-se a hora em que todo
aquele que vos matar julgará prestar um serviço a Deus. Procederão
assim por não terem conhecido nem o Pai nem a mim. Mas, disse-vos
isto para que, quando chegar aquela hora, vos lembreis de que já vo-lo
tinha dito isso. E não vo-lo disse desde o princípio, porque estava
convosco (João 16: 2, 3). Há outra passagem, nos Evangelhos, também
demonstrativa do fanatismo religioso: Não penseis que vim trazer a paz à
terra; não vim trazer a paz, mas a espada. Porque vim separar o filho do
pai, a filha da sua mãe e a nora da sogra; de tal modo que os inimigos
do homem serão os seus familiares (Mateus 10: 34-36). No Salmo 32: 8, 9,
encontra-se o seguinte: Vou ensinar-te e mostrar-te o caminho que deves
seguir; quero aconselhar-te; os meus olhos estarão em ti. Não queiras
ser como o cavalo e o muar sem inteligência, cujo ímpeto só se domina
com a mordaça e o freio; de outro modo não se aproxima de ti. Estes v.v.
realçam a necessidade de o ser humano procurar entender as coisas
reveladas por Deus.
Paulo afirmou: Pois vós, que há muito tempo devíeis ser mestres,
necessitais ainda que alguém vos ensine os primeiros rudimentos dos
oráculos de Deus, e tornastes-vos tais que necessitais de leite em vez de
comida sólida (Hebreus 5: 12), o que é mais uma prova de que, nos cultos ou
reuniões da igreja primitiva, a Palavra de Deus era ensinada no seu todo, a
base para uma fé madura e racional. Havia a consciência de que era

52
necessário dar ao povo de Deus alimento forte. A Igreja crescia porque as
Escrituras eram estudadas a fundo, pregava-se com unção e poder, e a
oração era diária (Marcos 16: 20). A pregação que informa e esclarece é a
melhor maneira de transmitir fielmente a Palavra de Deus, pois o seu
fundamento são as Escrituras. As mensagens de uma boa parte dos
grandes pregadores na história da Igreja foram deste tipo. Deve ser
pregada a Palavra de Deus e não o que o homem pensa ou acha. O
pregador concebe a pregação de modo a explicar a Palavra que recebeu:
Porque era Deus que reconciliava consigo o mundo, em Cristo, não lhe
levando mais em conta os pecados dos homens e pondo nos nossos
lábios a mensagem da reconciliação (2 Coríntios 5: 19). Importa, pois, que a
Palavra transmita ou que quem a ouve entenda o seu significado autêntico:
Procura apresentar-te diante de Deus como um homem digno de
aprovação, como um operário que não tem de que se envergonhar, que
distribui retamente a palavra da verdade (2 Timóteo 2: 15).
A Bíblia tem uma importância concreta. Descreve algo de profundo sobre
a experiência humana, boa ou má. Narra histórias de guerra e paz, de
traições e fidelidades, de paixões e desilusões, de dramas e alegrias, de
desespero e esperança. No seu todo, dá a perceber a preocupação e a
verdade dos caminhos que o ser humano pode percorrer, bem como do que
pode transmitir. Relata experiências de seres humanos com Deus, consigo
próprios e com outros. Por exemplo, a experiência de Jacob no vale de
Jaboque (Génesis 32: 22-32) é importante como parte da sua história com Deus.
No cumprimento da ordem de Deus: Volta para o país dos teus pais, para
a tua terra natal; eu serei contigo (Génesis 31: 3), Jacob teve que se preparar
para encarar o irmão Esaú, a quem tinha enganado, teve que enfrentar a ira
do sogro, que se julgava prejudicado e teve que passar o mencionado vale
com terríveis lutas, mas de onde saiu uma nova pessoa, não mais o Jacob
trapaceiro, mas o Israel consagrado a Deus. Era preciso esquecer e perdoar
o passado e enfrentar os novos desafios que Deus tinha reservado para ele.
A experiência com Deus deve ser colocada como parte normal do
relacionamento do homem com Ele. É muito claro o elemento
experimental da relação com Deus em Hebreus 11: 6: Sem fé, ninguém
pode agradar a Deus. Quem se aproxima de Deus deve acreditar que ele
existe e que é ele quem recompensa os que o procuram; e de João 15: 7:

53
Se vos estiverdes em mim e as minhas palavras estiverem em vós,
pedireis tudo o que quiserdes e ser-vos-á concedido. Deus, através dos
comportamentos e experiências de homens responsáveis, revela a
condição humana e, mais importante, informa o ser humano de que, apesar
de tudo isso, há um caminho de esperança.
A constituição do Estado de Israel é o cumprimento da promessa de Deus
e é necessária para o regresso de Jesus Cristo e a futura instituição do Seu
Reino Milenar. Biblicamente, está predito que até ao regresso de Cristo
não haverá paz nessa região: ...e até ao fim haverá guerra e devastação
decretada (Daniel 9: 26). A presença de Israel no Médio Oriente nunca foi
tolerada pelos seus vizinhos. Os atuais conflitos neste país podem e devem
ser entendidos no âmbito dos acontecimentos globais preditos nas
Escrituras. Deus está a recomeçar a agir com o povo israelita, de forma
coletiva, levando-o ao seu destino final, que é o reconhecimento do seu
Messias e o estabelecimento do Seu Reino.
Com relação a essa restauração profetizada, a Bíblia fornece numerosos
pormenores do que aconteceria quando os judeus retornassem à sua terra.
Por exemplo, o livro de Isaías afirma: Um dia Jacob lançará raízes, Israel
produzirá botões e flores, e encherá a terra de seus frutos (Isaías 27: 6).
Oseias acrescentou que os israelitas retornariam: Virão sentar-se debaixo
da sua sombra; crescerão como o trigo, propagar-se-ão como vinha, e a
sua fama será como a do vinho do Líbano (Oseias 14: 7). O escritor norte-
americano Mark Twain, no seu livro de viagens ‘Seguindo o Equador’,
publicado em 1897, ao visitar a Terra Santa, descreveu-a como uma terra
deserta e miserável, onde apenas havia espinhos e pedras. No entanto,
desde o regresso dos judeus, a agricultura tem sido um dos maiores
empreendimentos económicos de Israel. Esse país tão pequeno é agora o
maior exportador de frutas e de vegetais para a Europa, expedindo,
inclusive, flores para a Holanda.
A grande capacidade militar de Israel também foi prevista. Quem se
lembrar da reunificação de Jerusalém, como consequência da Guerra dos
Seis Dias, em 1967, não ficará indiferente ao ler esta profecia de Zacarias
dirigida para o tempo em que Deus faria de Jerusalém um copo
inebriante para todos os povos circunvizinhos. …Naquele dia, farei dos
chefes de Judá como que um braseiro ardente sobre um monte de lenha,
54
um facho aceso no meio dos feixes; devorarão à direita e à esquerda
todos os povos da vizinhança e Jerusalém permanecerá firme e estável
(Zacarias 12: 2, 3, 6). E sabendo que na época em que esta profecia foi
proferida, há cerca de 2.500 anos, Jerusalém estava destruída por causa da
ocupação babilónica, ainda causa mais admiração.
Uma análise breve das três guerras impostas a Israel, nas quais lutou para
se defender da ameaça de destruição por parte dos países árabes vizinhos,
Egito, Jordânia, Líbano e Síria, mostrará fortes evidências de que elas são
o cumprimento das palavras dadas por Deus a Zacarias e acima
mencionadas. Sem a intervenção divina, Israel, por si só, não poderia
reimplantar-se. A restauração política dos judeus na sua própria terra e o
retorno à sua identidade nacional são fundamentais para o cumprimento da
profecia da Segunda Vinda de Jesus Cristo: Juntarei todas as nações para
darem batalha contra Jerusalém. ...Nesse dia os seus os pés pousarão
no Monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém, para o lado do
oriente... (Zacarias 14: 2, 4).
Quando lhe foi imposta a guerra de 1948-49, que se seguiu à
Independência, Israel foi vitorioso apesar de ter um contingente de
soldados e armas muito inferior e uma população de apenas 650.000
habitantes.
A Guerra dos Seis Dias, em 1967, foi, contra todas as probabilidades,
ganha tão rápida e decisivamente, que a revista Newsweek publicou um
artigo sobre o assunto, intitulando-o, Terrible Swift Sword.
A Guerra do Yom Kippur, em 1973, encontrou Israel novamente com um
número muito inferior de soldados, e, dessa vez, pelo facto de o ataque ter
ocorrido num feriado religioso, o povo foi apanhado de surpresa. No
entanto, apesar de terem sofrido muitas baixas, puseram as forças árabes
em retirada.
A rejeição do Messias Jesus, segundo os religiosos judaicos, baseia-se no
facto de ainda não terem sido cumpridas as seguintes profecias (Simmons,
2007):

- Construção do Terceiro Templo: Farei com eles uma aliança que lhes
garantirá paz e segurança para sempre; farei crescer a sua população e
colocarei o meu templo no seu país para sempre. Ali farei a minha
55
morada e serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Quando eu ali
colocar o meu templo para ficar no meio deles para sempre, então as
nações ficarão a saber que eu sou o Senhor, que faço de Israel um povo
santo (Ezequiel 37: 26-28);
- Reunião de todos os judeus na Terra Prometida: Não tenhas medo que eu
estou contigo. Trarei os teus filhos desde o oriente e congregarei os que
te pertencem desde o ocidente. Digo ao norte: Devolve-os! E ao sul: Não
os retenhas! Tragam-me os meus filhos lá de longe e as minhas filhas
dos confins da terra (Isaías 43: 5, 6);
- Estabelecimento de uma era de paz mundial, com o fim do ódio, da
opressão, do sofrimento e da inquietação: Ele será o juiz entre as nações e
o árbitro nas questões entre os povos. Então eles hão de converter as
suas espadas em arado e as suas lanças em foice. Nenhum povo
levantará a espada contra outro nem voltarão a ser treinados para a
guerra (Isaías 2: 4);
- União de toda a Humanidade através do Deus de Israel: O Senhor reinará
sobre toda a terra. Todos o adorarão como único Deus e só a ele
reconhecerão como Deus (Zacarias 14: 9).
Como se verá ao longo deste livro, estas profecias serão cumpridas na Sua
Segunda Vinda. A Bíblia prenuncia as duas vindas do Messias, primeiro
como servo e depois como rei (Zacarias 9: 9, 10).
Sabe-se que Jesus veio em humildade: Exulta de alegria, ó filha de Sião,
enche-te de júbilo, ó filha de Jerusalém. Eis que o teu rei vem a ti, justo
e salvador, humilde, montado num jumento, no potrinho de uma
jumenta (Zacarias 9: 9). Esta profecia cumpriu-se na entrada de Jesus em
Jerusalém (João 12: 12-16: Mateus 21: 1-11; Marcos 11: 1-11 e Lucas 19: 28-40).
Quando regressar, virá como Rei: Ele exterminará os carros de guerra de
Efraim, e os cavalos de Jerusalém; o arco de guerra será quebrado, e ele
proclamará a paz entre as nações; o seu império estender-se-á de um
mar a outro mar (Zacarias 9: 10). Esta profecia será cumprida durante a
batalha do Harmaguedon e no estabelecimento do Seu Reino Milenar,
depois do período de Tribulação.

56
O SIGNIFICADO DA EXPRESSÃO ‘FIM DOS TEMPOS’
A Segunda Vinda de Jesus Cristo está associada às expressões, ‘naquele
dia’, ‘Dia do Senhor’, ‘fim dos tempos’, ‘tempo do fim’, ‘fim do século’,
‘últimos dias’, ‘última hora’, isto é, ao fim do sistema humano de
governação que, nessa altura, será mundial, sob a égide de um homem,
conhecido biblicamente como o homem do pecado e o filho da perdição (2
Tessalonicenses 2: 3), ou o Anticristo (1 João 2: 18).

Jesus, em Jerusalém, repreendeu os líderes religiosos, por não terem


reconhecido os sinais da Sua primeira vinda. Cometerá a última geração o
mesmo erro em relação à Sua segunda vinda? A Bíblia anuncia que o ‘fim
dos tempos’ será precedido de uma série de acontecimentos planetários
nunca antes ocorridos.
Na Biblioteca Bíblica encontra-se a seguinte informação sobre o
significado do ‘Dia do Senhor’ na Bíblia:
É uma expressão, muitas vezes no contexto de acontecimentos futuros, que se
refere ao momento em que Deus vai intervir de forma decisiva para o julgamento
e/ou salvação. Diversamente formulado como o “dia do Senhor” (Amós 5:18), o
“dia de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Cor. 1:8; cf. 2 Cor. 1:14), o “dia de Deus”
(2 Pedro 3:12; Apocalipse 16:14), ou “os últimos dias,” a expressão destaca o
aspeto inconfundível de Deus. Deus vai tornar visível o Seu governo de justiça,
chamando as nações para um acerto de contas, bem como indivíduos, dispensando
a punição para alguns e dando início a salvação para os outros.
No Antigo Testamento, a expressão “dia do Senhor” ocorre dezoito vezes na
literatura profética, na maioria das vezes nos livros de Joel e Sofonias. Não é
encontrada em Daniel. Uma expressão similar que chega mais próximo a ela é
“naquele dia”, que ocorre 208 vezes no Antigo Testamento, cuja metade das
ocorrências está nos profetas. No Novo Testamento, as expressões equivalentes,
como “Dia de Jesus Cristo”, são encontrados em 1 Coríntios 1:8, 2 Coríntios 1:14,
Filipenses 1:6, 10 e 2 Pedro 3:10, 12. “Dia do Senhor” aparece em 2
Tessalonicenses 2:2.
Não se pode separar o regresso de Jesus Cristo do futuro de Israel. O seu
restabelecimento político, depois de quase 2.000 anos (1948), foi
profetizado para o ‘fim dos tempos’ (Isaías 43: 6; Jeremias 30: 10 e 31: 8-12; Ezequiel
36: 24, 35-38). Esta restauração é também o início do cumprimento de outras
profecias relacionadas com este País para os ‘últimos dias’, onde se

57
incluem a Tribulação ou Tempo de Angústia para Jacob, como é
designado no AT, e a restauração espiritual de Israel quando da instituição
do Reino Milenar de Cristo. Além destas, outras profecias dirigidas
também para o ‘fim dos tempos’ e relacionadas, quer com acontecimentos
resultantes de perturbações naturais, quer com as mais diversas áreas da
atividade humana, atingirão o seu auge nesta mesma época.
Serão estas profecias de ordem simbólica? Não, de modo algum. Da
primeira vez, ao chegar a plenitude dos tempos (Gálatas 4: 4), Jesus Cristo,
veio para, no cumprimento literal da profecia, resgatar os que se
encontravam sob o jugo da lei e para que recebêssemos a adoção de
filhos (Gálatas 4: 5). Nessa época o mundo conhecido, na vigência do Império
Romano, estava unificado política e culturalmente, existindo um
intercâmbio comercial, populacional e intelectual grande. Era o tempo
adequado à difusão da mensagem do Evangelho. O regresso pessoal de
Cristo dar-se-á também num tempo oportuno, em que o sistema de
governação humano será global, realidade nunca anteriormente existente
(Apocalipse 19: 11-21; Zacarias 14: 4-5). Esta Sua segunda vinda não deve ser
também rejeitada, no sentido literal.
Eis algumas das profecias do AT que foram literalmente cumpridas na
Sua Primeira Vinda:
Isaías 7: 14 – nascimento de uma virgem;
Miqueias 5: 2 – nascimento em Belém;
Oseias 11: 1 – a chamada do Egito;
Isaías 11: 2 – ungido com o Espírito;
Zacarias 9: 9 – entrada triunfal em Jerusalém;
Zacarias 11: 12, 13 – compra do campo do oleiro;
Salmo 34: 20 – nenhum osso foi quebrado;
Salmo 69: 21 – deram-Lhe fel e vinagre;
Salmo 22: 16 – mãos e pés trespassados;
Salmo 22: 18 – lançaram sortes sobre as suas vestes;
Isaías 53: - a reconciliação da Humanidade com Deus, através da Sua
morte na cruz.

58
Algumas das profecias do Antigo e do Novo Testamentos que serão
cumpridas, literalmente, na Sua Segunda Vinda:
1 Tessalonicenses 4: 16 – Ele mesmo virá;
1 Tessalonicenses 4: 16 – Ele virá com grande clamor;
João 14: 3 – que Ele os receberá para Si mesmo;
Atos 1: 11 – Ele virá novamente à Terra;
Zacarias 14: 4 – descerá no mesmo monte de onde subiu (Monte das
Oliveiras);
Mateus 24: 30 e 1 Pedro 4: 13 – nas nuvens do Céu com grande poder e
glória;
Job 19: 25 – levantar-se-á sobre a Terra;
2 Tessalonicenses 2: 8 – que destruirá o Anticristo;
Mateus 25: 31 – que se sentará no Seu trono;
Mateus 25: 32 – que todas as nações se hão de congregar diante Dele para
julgamento;
Isaías 9: 6, 7; Lucas 1: 32; Ezequiel 21: 25-27 – que terá o trono de
David;
Jeremias 23: 5, 6 – que esse trono estará na Terra;
Daniel 7: 13, 14 – que Cristo há de ter um reino;
Daniel 7: 18, 22, 27 – e que o há de governar com os Seus santos;
Salmo 72: 11; Apocalipse 15: 4; Isaías 49: 6, 7 – que todos os reinos e
nações o hão de servir;
Génesis 49: 10 – que a Ele se hão de congregar os povos;
Isaías 45: 23 – que todo o joelho se dobrará perante Ele;
Zacarias 14: 16; Salmo 86: 9 – que hão de ir de todo o mundo para
adorar o Rei;
Jeremias 3: 17; Isaías 33: 20, 21 – que o Seu trono estará em Jerusalém;
Salmo 2: 8, 9; Isaías 9: 7 – que Cristo há de reger todas as nações;
Isaías 9: 7 – que governará com justiça;

59
Ezequiel 40 a 48 – que o Templo de Jerusalém há de ser reedificado;
Ezequiel 43: 2-5 e 44: 4 – a glória do Senhor há de voltar ao templo;
Isaías 40: 5 – que a glória do Senhor será revelada;
Cristo há de cumpri-las, literalmente, como cumpriu as profecias que se
referiam à sua Primeira Vinda (João 19: 28-30), pois prometeu: E, quando eu
tiver ido e vos tiver preparado lugar, virei outra vez, e levar-vos-ei
comigo, para que, onde eu estiver estejais vós também (João 14: 3) e está
profetizado para Israel: Nesse dia os seus pés pousarão no monte das
Oliveiras, que está defronte de Jerusalém (Zacarias 14: 4).
São as próprias Escrituras que fornecem a sua necessária validação. Cristo
voltará para salvar o Seu povo da destruição e para pôr fim ao sistema de
governação humano sob a regência do Anticristo, que será extremamente
injusto, corrupto, imoral e mentiroso. Estabelecerá, então, o Seu Reino
Milenar, que governará coadjuvado pelos santos, anteriormente
arrebatados: Vinde, benditos do meu Pai, recebei em herança o reino que
vos está preparado desde a criação do mundo; Felizes e santos os que
participam da primeira ressurreição! ...serão sacerdotes de Deus e de
Cristo e reinarão com ele durante mil anos (Mateus 25: 34; Apocalipse 20: 6).
Não será o fim do mundo no sentido em que, popularmente é entendido. O
planeta Terra e a Humanidade continuarão a existir (Miqueias 4: 1-4; Sofonias 3:
14-20; Zacarias 8: 3-8, 20-23 e 14: 10-21; Isaías 2: 2-5; 11: 1-12; 25: 6-9 e 65: 18-25), pelo
menos por mais mil anos (Apocalipse 20: 4).
Será o fim de uma época, os tempos dos gentios, pois Cristo colocará
todas as coisas no seu lugar. Deus deu a conhecer o mistério da sua
vontade, segundo o beneplácito que n’Ele de antemão estabelecera, para
ser realizado ao completarem-se os tempos: reunir sob a chefia de Cristo
todas as coisas que há no céu e na terra, realizando assim o propósito
planeado por Ele em Cristo (Efésios 1: 9, 10).
Jesus Cristo não trará o fim, mas um novo começo. Ele é a esperança para
o futuro do mundo e para todas as pessoas que invocam o Seu Nome.

60
Capítulo II

ISRAEL, UM MISTÉRIO PARA O MUNDO


A História do povo judeu tem sido um conflito constante. Impérios e
nações, uns após outros têm tentado apagá-lo das páginas da História
mundial. Desde os Faraós até aos pogroms*, desde Haman (Ester 3: 8, 9) até
Hitler, de Antíoco Epifânio (o rei grego) até ao vindouro Anticristo, todos
procuraram, procuram ou procurarão aniquilar os judeus. Na verdade, a
paz nunca chegou àquela nação, cuja capital acolhe o nome de "cidade da
paz", Jerusalém.
Para o mundo, a nação de Israel e o povo judeu são difíceis de
compreender. A sua existência desafia as tendências históricas.
Constituem uma pequeníssima fração da humanidade mas são citados por
todos. Destacam-se neste planeta, sendo importante a sua contribuição
para as diversas áreas do conhecimento tais como, literatura, ciência, arte,
música, finanças e medicina entre outras. Deus declarou que queria que
Israel viesse a ser a primeira de todas as nações que ele criou, em glória,
em renome e em dignidade, e que seria um povo consagrado ao Senhor...
(Deuteronómio 26: 19), o que vai ter o seu cumprimento no Milénio, como se
verá adiante.
Os hebreus fizeram parte de vários impérios ou civilizações passados. Os
egípcios, os babilónicos e os persas que encheram o mundo de esplendor e
glória, e depois enfraqueceram e perderam-se. Seguiram-se os gregos e os
romanos que provocaram uma enorme agitação, tendo depois
desaparecido. O povo judeu sobreviveu a todos eles e mantém, hoje, a sua
identidade nacional. Continua a ser uma comunidade étnica que partilha
uma história, uma religião, uma língua, mitos, símbolos e práticas
culturais.
Lewin (2008) expressa que a permanência histórica deste povo exige uma
interpretação particular, pois é difícil explicar a sua sobrevivência, dada a
particularidade da sua múltipla inserção em culturas e países,
acompanhada, na grande maioria dos casos, de situações de perseguições

*
Movimentos populares de violência contra os judeus.
61
físicas ou simbólicas, expulsões e discriminações, segregação em guetos e
restrições ao exercício da sua cultura e religião, criações literárias
depreciativas e, sobretudo, a atribuição, nos países cristãos, da culpa da
morte de Jesus.
Em 1066 ocorreu o Massacre de Granada e, entre os séculos XII e XV, os
judeus são expulsos do Norte da Europa, dominada pelos cristãos. Os
grandes massacres sucederam-se em diversos países: Alemanha, Inglaterra
(1290), França (1306 e 1394) e Espanha (1391). Quando, em 1492, os
judeus são expulsos de Espanha, entre 80 mil e 90 mil terão fugido para
Portugal. Em 1506 deu-se o grande massacre de Lisboa, também
conhecido por pogrom de Lisboa (Barros, 2006). Os judeus passam a habitar a
Europa Oriental. O exemplo português é chocante. Novinsky (2006)
expressa:
O Estado português, estimulado pelo modelo oferecido pelos reis católicos e
continuado por Carlos V, criou o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição pela
vontade expressa do rei D. João III, apoiado pelo Papa. Quando da sua criação, o
Tribunal tinha um único objetivo: perseguir e punir os portugueses acusados de
praticar secretamente a religião judaica.
Uma feroz propaganda antissemita começou a ser pregada nos púlpitos, nos
sermões e numerosas obras anti-judaicas, publicadas na Espanha e em Portugal,
prepararam o genocídio de milhares de portugueses. O anti-judaísmo pregado
pelos membros do alto clero católico e pelos conservadores dirigentes do Estado
português, assim como a legislação discriminatória, produziram resultado
imprevisto: aumentou a resistência dos cristãos-novos. Essa resistência em adotar
o catolicismo em Portugal não teve paralelo na história. Cristãos-novos armaram-
se de estratégias clandestinas que passaram de geração em geração. A sociedade
ibérica ficou dividida em dois mundos, um visível e outro secreto. Esse mundo
secreto criou ramificações e produziu consequências, em nível económico e
cultural, que apenas hoje estão sendo estudadas em profundidade.
Os descendentes dos judeus convertidos ao catolicismo em Portugal, em 1497,
foram oprimidos e perseguidos durante 3 séculos em todo império. Leis
continuamente promulgadas proibiam os portugueses cristãos-novos de deixar
Portugal. Assim mesmo, em cada nau que saía do Tejo embarcavam fugitivos
clandestinos. A maior parte dos cristãos-novos que conseguiu sair de Portugal,
passou para a América, além de levas inteiras terem se dirigido para o Norte da
África, Levante, Itália, Balkans e principalmente, em fins do século XVI, para a
Holanda, considerada pelos portugueses a Nova Jerusalém.
62
Sem território e reconhecimento social, e sempre considerados
estrangeiros, o que tem movido os judeus a resistirem e a não
abandonarem a sua identidade apesar da adversidade?
Historicamente, a destruição do templo em todas as culturas antigas
implicou o seu desaparecimento como entidades políticas autónomas. O
povo judeu, em discordância com o que aconteceu a essas civilizações,
tem permanecido e mantido intacta a sua identidade, apesar de ter passado
por uma conjugação desfavorável de diversos fatores ao longo do seu
percurso histórico milenar. Este facto causa perplexidade, dada a
dificuldade de entendimento, surgindo, assim, diversas tentativas de
explicação dessa continuidade do judaísmo.
Lewin (2008) declara que a Bíblia apela para a integridade do judaísmo ao
afirmar que todo o judeu carrega consigo a presença divina, onde quer que
esteja. Com isso, o judeu não se encontra abandonado por Deus e, como
resultado, produz um sentimento de pertença conformista. O judeu carrega
dentro de si a religião e a pátria/nação. Esses fatores de ordem simbólica
fortaleceram a sua esperança de sobrevivência dando-lhe a força para
enfrentar condições sociopolíticas hostis. Também afirma que, acima de
tudo, deve ser creditado aos profetas um papel singular, pois a sua função
tem sido importante ao denunciarem os desvios e os castigos futuros. Os
profetas, abarcando uma pluralidade de temas, demonstraram a sua
preocupação pela manutenção do monoteísmo e a abominação do
paganismo e da apostasia. Criticaram, também, as transgressões dos
governantes e dos poderosos, censuraram a injustiça social, o jogo do
poder político e respetivos interesses. Ainda segundo Lewin, os sábios e as
lideranças comunitárias e religiosas também têm representado um modelo
reconhecido e legitimado de conduta, contribuindo também para essa
continuidade judaica.
De facto, o extraordinário dos profetas israelitas não é o comportamento
frenético ou de êxtase e de exibição de poderes sobre-humanos, comum
entre os videntes ou adivinhos de outras religiões. Bem pelo contrário,
distinguem-se pela coerência, clareza e inteligibilidade das suas profecias.
Enquanto os videntes proferem declarações vagas sobre o futuro, aqueles
pronunciaram declarações específicas, muito precisas, sobre
acontecimentos futuros relacionados com o desenrolar do Plano de Deus.
63
À medida que se foi desenvolvendo o movimento profético, o aspeto
racional da profecia tornou-se cada vez mais evidente e a mensagem
tornou-se o foco central. O seu ‘dom profético’ era reconhecido, visto que
a sua legitimidade estava vinculada à Palavra de Deus, sendo o profeta o
seu mensageiro: Porque o Senhor Javé nada faz sem revelar o seu
segredo aos profetas seus servos (Amós 3: 3-7).
Para Rebe, essa continuidade deve-se ao cumprimento das mitzvot* na vida
diária dos seus membros, como a observância do Sabat, colocar o tefilin, e
a educação ministrada às crianças. Estas e todas as outras mitzvot
incorporadas na Tora têm sido, desde a sua outorga no Monte Sinai,
observadas pelos judeus da mesma maneira, no decorrer dos séculos, sem
mudanças.
O escritor judeu Ariel, no livro que escreveu, em 1995, sobre os
fundamentos espirituais do judaísmo, afirma que é difícil imaginar a
identidade judaica sem uma crença em Deus. Contudo essa crença tem
sido um obstáculo ao seu relacionamento com o judaísmo, pois, para eles,
este nada tem a ver com Deus. Declara, também, que as razões pelas quais
o judaísmo e a fé monoteísta surgem ligados têm de ser encontradas fora
dos grandes desafios e dos ataques à crença tradicional, pois ao contrário
dos seus antepassados, os judeus atuais procuram, muitas vezes,
explicações materiais, científicas, políticas, económicas e psicológicas
para acontecimentos e experiências surgidas nas suas vidas.
No seu testamento ético dirigido aos filhos, Ariel diz reconhecer que a
causa principal da necessidade da sobrevivência do judaísmo está acima
de qualquer explicação racional e que a razão mais forte que os filhos
podem encontrar para serem judeus é a satisfação de serem parte de tudo
aquilo que compõe a vida judaica.
Embora estas e outras explicações sejam plausíveis aos olhos seculares,
segundo Robison, (2002), o segredo da imortalidade da sua identidade
encontra-se em Isaías 41: 8, 9: Porém, tu, Israel, meu servo, Jacob, a
quem escolhi, linhagem de Abraão, o meu amigo; tu, a quem eu trouxe

*
Mitzvot, plural de mitzvah que significa, simultaneamente, ‘mandamento’ e ‘ligação’. Quando se
cumpre uma mitzvah, seja o que for e aonde for, expressa-se sempre uma ligação a Deus. Na religião
judaica, esta palavra refere-se aos 613 mandamentos dados na Tora.
64
dos confins da terra, e chamei das regiões remotas, a quem disse: tu és
meu servo, eu te escolhi e não te rejeitei. É o povo escolhido! Deus não
escolheu o povo judeu por causa do seu número, do seu poder ou da sua
grandeza. Ele é soberano e escolheu Israel para ser o veículo do Seu Plano
para o mundo, que contém, pelo menos, três objetivos (Robison, 2002):
a) Levar a Sua palavra ao mundo. De acordo com Deuteronómio 4: 1, 2 e
Romanos 3: 1, 2, Deus usou o povo judeu para elaborar a Bíblia. O Antigo
e o Novo Testamentos foram, ambos, escritos por pessoas do povo judeu;
b) Ser o testemunho do único Deus verdadeiro para o mundo: E este povo
que eu formei há de narrar as minhas glórias (Isaías 43: 21);
c) Ser o portador para trazer o Messias ao mundo. A passagem de
Miqueias 5: 2 afirma que o Rei de Israel, o Messias, viria dos judeus e
nasceria em Belém. Dessa maneira, a redenção para o mundo emanaria do
ventre de uma mãe judia.
Vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor, e os servos que eu
escolhi, a fim de que me reconheçais e me acrediteis e compreendais que
eu sou. Antes de mim, não havia deus nenhum, e não haverá outros
depois de mim. Sou eu, sou eu o Senhor, não há outro salvador a não
ser eu (Isaías 43: 10-12). Nesta profecia, Deus declara que Israel é a prova
irrefutável, quer para si próprio, quer para todo o mundo, de que Ele é
Deus e de que não há outro.
Quando o povo judeu entrou na Terra Prometida, Deus avisou-o de que se
se deixasse corromper e praticasse a idolatria e a imoralidade dos
anteriores habitantes desse território, seriam lançados para fora dela
também (Deuteronómio 28: 63; 1 Reis 9: 7; 2 Crónicas 7: 20; etc.). Contudo, também
afirmou não permitiria que o Seu povo fosse destruído, mas que o
preservaria como um grupo étnico e nacional identificável: Estarei
contigo, oráculo do Senhor, para te salvar. Aniquilarei os povos entre os
quais te dispersei. A ti, porém, não te destruirei; castigar-te-ei com
equidade, não te deixando impune (Jeremias 30: 11; ver também Jeremias 31: 35-37).
É um facto evidente que tudo isto aconteceu rigorosamente como tinha
sido previsto. Se se considerar que outros povos acreditaram que uma
certa área geográfica era a sua ‘terra prometida’ e depois foram expulsos
pelos seus inimigos, este acontecimento é pouco relevante. Porém, as
65
profecias abaixo mencionadas e os seus cumprimentos, são absolutamente
peculiares dos judeus. A ocorrência desses eventos, exatamente como
profetizados, jamais poderia ter acontecido por acaso provando que os
judeus são o povo especial de Deus (Hunt, 2002):
- Seriam espalhados entre todos os povos, de uma à outra extremidade da
Terra (Deuteronómio 28: 64; confirmar em 1 Reis 9: 7; Neemias 1: 8; Amós 9: 9; Zacarias 7: 14;
etc.). Assim aconteceu como a nenhum outro povo na História. O ‘judeu
errante’ é encontrado literalmente em todos os lugares.
- Foram avisados de que seriam motivo de espanto, de conversa e de
escárnio entre os povos, para onde o Senhor vos vai levar (Deuteronómio 28:
37; ver também 2 Crónicas 7: 20 e Jeremias 44: 8, entre outros). Por inacreditável que
pareça, isso tem acontecido durante toda a História dos judeus e a atual
geração continua a saber muito bem o que isso é. A difamação, as
maledicências e piadas, o puro ódio conhecido como antissemitismo,
mesmo entre aqueles que se intitulam cristãos, é um facto singular e
persistente.
- Os profetas declararam que esse povo, na sua Diáspora, não seria apenas
difamado, diminuído e discriminado, mas que os judeus seriam
perseguidos e mortos como nenhum outro povo na face da Terra iria ou
viria a ser: Com a guerra, fome e peste, hei de persegui-los e todas as
nações do mundo se encherão de medo ao olharem para eles (Jeremias 29:
18). A História oferece prova evidente do facto. Nenhum registo histórico
de qualquer outro grupo étnico ou povo contém algo que se assemelhe ao
pesadelo de terror, humilhação e destruição que os judeus têm sofrido ao
longo da sua existência. Os israelitas ficarão então a saber que eu sou o
Senhor seu Deus e as nações ficarão a saber que os israelitas foram
para o exílio, por causa das transgressões que cometeram contra mim.
Por isso desviei deles o meu olhar e permiti que os seus inimigos os
derrotassem e matassem na guerra. Dei-lhes o que mereciam por causa
da sua imoralidade e maldade e desviei deles o meu olhar (Ezequiel 39: 22-
24).

66
ISRAEL NO ÂMBITO PROFÉTICO E HISTÓRICO
É importante compreender que os sinais do ‘fim dos tempos’, dados por
Jesus aos Seus discípulos, bem como os sinais que antecederiam a Sua
volta, são dirigidos ao povo judeu. Os v.v., 16 e 20, de Mateus 24, por
exemplo, identificam claramente a quem a mensagem é endereçada:
Então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes ...Orai para
que a vossa fuga não se dê no inverno, nem no sábado. Portanto, Israel é
o grande sinal do ‘tempo do fim’, quer para os incrédulos, quer para a
Igreja!
Analisar-se-ão algumas previsões bíblicas sobre Israel, bem como o
respetivo cumprimento durante todo o seu percurso até aos nossos dias.
Serão também examinadas profecias que mostrarão que Israel terá um
futuro glorioso e que os acontecimentos mundiais girarão em torno dele.
Não há a pretensão de se esgotar o assunto, apenas de transmitir aspetos
importantes da mensagem bíblica que, pela sua atualidade, são testemunho
da sua veracidade.
A Bíblia informa que Deus iniciaria o processo de regresso dos judeus à
sua terra antes do início da Tribulação. Esse facto já se cumpriu, estando
o palco a ser preparado para o tempo em que Israel sofrerá flagelos ainda
maiores do que os horrores do Holocausto, durante a II Guerra Mundial,
também chamado Tempo de angústia para Jacob. O antissemitismo
atingirá dimensões extremas, será de âmbito mundial e provocará o
extermínio de dois terços do povo judeu. Deus protegerá o Seu
remanescente de modo que, antes da Segunda Vinda de Jesus, Israel será
salvo. Na verdade, a Segunda Vinda incluirá o propósito divino de libertar
Israel fisicamente da perseguição mundial durante a batalha do
Harmaguedon, sendo então restaurado o Israel espiritual.

ORIGEM DE ISRAEL
A Bíblia relata que o início da história singular de Israel deu-se com
Abrão: O Senhor disse a Abrão: Deixa a tua terra... e vai para a terra
que eu te indicar. Farei de ti um grande povo... Abençoarei aqueles que
te abençoarem e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem. E todas as
famílias da terra serão em ti abençoados (Génesis 12: 1-3).
67
Os v.v. de Génesis 12: 1-8 registam a saída obediente de Abrão de Ur dos
Caldeus, a sua terra natal, onde tinha vivido com a sua família, em
idolatria, por muitos anos. Ao ter aceitado, Abrão permitiu que Deus
pudesse executar o Seu Plano para este mundo. O Senhor, teu Deus,
escolheu-te para seres um povo especial entre todos os povos que estão
sobre a face da terra, um povo do Senhor (Deuteronómio 7: 6).
Seguidamente, encontramos Abrão a chegar à ‘terra de Canaã’, que Deus
identificou como sendo a que ele e os seus descendentes viriam a possuir:
...Deus disse a Abrão: Ergue os teus olhos e, do sítio onde estás,
contempla o norte, o sul, o oriente e o ocidente. Toda a terra, que estas
vendo, dar-ta-ei, a ti e aos teus descendentes, para sempre (Génesis 13: 14,
15).

Os v.v. seguintes são uma demonstração das muitas confirmações de Deus


relativamente a essa promessa especial a respeito da terra: Naquele dia, o
Senhor estabeleceu aliança com Abrão, dizendo-lhe: Dou esta terra à
tua descendência, desde o rio do Egito (no deserto do Sinai) até ao
grande rio, o Eufrates... (Génesis 15: 18-21).
Posteriormente, Deus fez uma aliança com Abrão: Abrão prostrou-se com
o rosto por terra, e Deus disse-lhe: A aliança que faço contigo é esta:
serás pai de inúmeros povos. Já não te chamarás Abrão, mas sim
Abraão, porque eu farei de ti o pai de inúmeros povos. Tornar-te-ei
extremamente fecundo, farei que de ti nasçam povos e terás reis por
descendentes. Estabeleço uma aliança contigo e com a tua posteridade,
de geração em geração; será uma aliança eterna, em virtude da qual eu
serei o teu Deus e da tua descendência (Génesis 17: 3-7).
A mesma promessa é repetida ao filho de Abraão, Isaac, em mais de uma
ocasião. Por exemplo: Vive aí durante algum tempo; eu estou contigo e
abençoar-te-ei, pois é a ti e à tua descendência que eu darei toda esta
terra, e cumprirei o juramento que fiz a Abraão, teu pai. Multiplicarei a
tua posteridade como as estrelas do céu, dar-lhe-ei todas estas regiões, e
nela serão abençoadas todas as nações da terra, porque Abraão
obedeceu à minha voz e cumpriu os meus preceitos, os meus
mandamentos e as minhas leis (Génesis 26: 3-5). A promessa dupla da terra e
do Messias é repetida novamente a Jacob, a quem Deus, mais tarde,
denominou Israel: ...Esta terra, na qual te deitaste, dar-ta-ei assim como
68
à tua posteridade... E todas as famílias da terra serão abençoadas em ti e
na tua descendência (Génesis 28: 13, 14).
Deus procurou estabelecer a Aliança Abraâmica com cada geração
seguinte, a partir de Isaac, filho de Abraão (Génesis 17: 21). Por outras
palavras, não bastava que Isaac fosse filho de Abraão, era preciso aceitar,
pela fé, as promessas de Deus. Só então é que Deus poderia dizer: O
Senhor apareceu-lhe naquela noite e disse-lhe: Eu sou o Deus de
Abraão, teu pai. Nada temas, pois estou contigo. Abençoar-te-ei e
multiplicarei a tua descendência, por causa de Abraão, meu servo (Génesis
26: 24).

Durante os vinte primeiros anos do casamento de Isaac com Rebeca (Génesis


25: 20, 26), esta permaneceu estéril até que Isaac orou a Deus, pedindo que a
sua mulher concebesse (Génesis 25: 21). Este facto demonstra que o
cumprimento da Aliança não se dá por meios naturais, mas somente pela
graça de Deus, em resposta à oração e busca da Sua face.
Isaac também tinha de ser obediente a Deus para continuar a receber as
bênçãos do acordo. Quando uma fome assolou a terra de Canaã, por
exemplo, Deus proibiu Isaac de descer ao Egito e mandou-o ficar onde
estava. Se Lhe obedecesse, teria a promessa divina: ...cumprirei o
juramento que fiz a Abraão, teu pai (Génesis 26: 3).
Isaac e Rebeca tiveram dois filhos gémeos: Esaú e Jacob. Seria de esperar
que as bênçãos da Aliança fossem transferidas para o primogénito, Esaú.
Porém, Deus revelou a Rebeca que o seu filho mais velho serviria o mais
novo. Posteriormente, Esaú veio a desprezar a sua primogenitura (Génesis 25:
31-34). Além disso, ignorou os padrões dos seus pais, ao casar-se com duas
mulheres que não seguiam o Deus verdadeiro. Em resumo, Esaú não
demonstrou qualquer interesse pelas bênçãos da Aliança de Deus. Por isso,
Jacob, que realmente ambicionava as bênçãos espirituais futuras, recebeu
as promessas destinadas a Esaú (Génesis 28: 13-15).
Como nos casos de Abraão e de Isaac, o concerto com Jacob requeria ‘a
obediência da fé’ (Romanos 1: 5) para a sua perpetuidade. Durante boa parte
da sua vida, esse patriarca serviu-se da sua própria habilidade e destreza
para sobreviver e progredir. Mas só quando Jacob, por fim, obedeceu ao
mandamento e à vontade de Deus (Génesis 31: 13) e saiu de Haran regressando

69
à terra prometida de Canaã, mais expressamente, a Betel (Génesis 35: 1-7), é
que Deus renovou com ele as promessas do acordo feito com Abraão
(Génesis 35: 9-13).

A EMIGRAÇÃO PARA O EGITO


A partir de Génesis 37 é contada a história de José, filho de Jacob, que foi
vendido pelos irmãos ciumentos a comerciantes ismaelitas que iam para o
Egito. Foi comprado como escravo por Potifar, eunuco do Faraó. José
ganhou fama, interpretando sonhos dos oficiais e do próprio Faraó, tendo
chegado a ocupar o cargo de vice-rei do Egito. Enquanto isso, Israel vivia
um período de carestia devida a uma longa estiagem, o que levou os filhos
de Jacob a irem até ao Egito atrás de alimento. Então aconteceu a saga
conhecida, contada em Génesis 42 a 45, de como José reconhece e perdoa
aos irmãos. Chamou-os e entregou-lhes a terra de Goshen para que aí
vivessem e a cultivassem. Finalmente toda a família de Jacob vai para o
Egito. No trajeto, Deus diz a Jacob: Não hesites em descer ao Egito,
porque tornar-te-ei aí uma grande nação (Génesis 46: 3).
A Bíblia regista que a família de Jacob, nessa época, era constituída por
um total de 70 pessoas (Génesis 46: 27), entre as quais se encontravam os 12
filhos de Jacob, que deram origem às tribos de Israel.
Depois da morte de Jacob e dos filhos, os israelitas aumentaram como
povo: Os israelitas foram fecundos e multiplicaram-se; tornaram-se tão
numerosos e tão poderosos que encheram o país (Êxodo 1: 7). Os filhos de
Israel partiram de Ramsés para Sukot, em número de cerca de
seiscentos mil homens, sem contar com as crianças (Êxodo 12: 37).

O ÊXODO
De seguida, o texto bíblico começa a narrar a história de Moisés, que foi
escolhido por Deus para libertar o povo de Israel do Egito, onde habitava
como escravo. Em Êxodo 14 é narrada a saída do Egito.
Ao sair, conduzido por Moisés, o povo hebreu não possuía uma religião
definida, nem um templo. Nas quatro décadas de caminhada pelo deserto
Deus falou diretamente com Moisés (Êxodo 14: 15) que, quando chegou ao

70
Sinai e acampou com o povo, recebeu Dele todas as leis para serem
adotadas pelos seus (Êxodo 20: 1-17). Da montanha, o Senhor chamou Moisés,
e disse: ...Dirás o seguinte à casa de Jacob, anunciarás o seguinte aos
filhos de Israel; Vistes o que fiz aos egípcios, e como vos transportei
sobre as asas de águia para vos trazer até mim. Doravante, se escutares
a minha voz e se fordes fiéis à minha aliança, sereis, entre todos os
povos, uma propriedade minha. Toda a terra me pertence. Mas vós
sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa. São estas
palavras que tu dirás aos filhos de Israel (Êxodo 19: 3-6).
Moisés desceu para junto do povo e deu-lhe o código moral ou os Dez
Mandamentos (Êxodo 20: 1-17). Durante a caminhada pelo deserto disse-lhe:
Escuta, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás ao
Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com
todas as tuas forças. ...Recorda-te de toda essa travessia de quarenta
anos que o Senhor, teu Deus, te fez sofrer no deserto, a fim de
experimentar pela adversidade e conhecer profundamente o teu coração
e verificar se permanecerias fiel ou não, às suas leis. Sim, ele fez-te
sofrer e passar fome; depois, alimentou-te com esse maná que não
conhecias e que os teus pais também não conheceram, para te ensinar
que o homem não vive somente de pão, mas de tudo o que sai da boca do
Senhor. As tuas vestes não envelheceram sobre ti, e os teus pés não se
magoaram durante estes quarenta anos. Reconhecerás, então, na tua
consciência, que só o Senhor, teu Deus, te castiga, mas procede como
um pai que castiga seu filho. Observarás os mandamentos de Senhor,
teu Deus, andando nos seus caminhos e reverenciando-o (Deuteronómio 6: 4-
5; 8: 2-6).

Somente após Moisés ter recebido de Deus as normas fundamentais da


Lei, bem como as instruções exatas quanto à construção da Tenda Sagrada
(o Tabernáculo), é que os hebreus passaram a ter um local específico de
culto, abrigando nessa Tenda os objetos sagrados: a Arca da Aliança, a
Mesa dos Pães ázimos, o Candelabro de sete braços (Menorah). Havia
também um altar para queimar as ofertas sacrificiais, outro para queimar
incensos e uma pia de bronze. Era o início da religião judaica.
A caminhada não foi fácil. O povo revoltou-se diversas vezes contra
Moisés e contra o Senhor.
71
No limiar da Terra Prometida, Moisés falou novamente ao povo, dizendo:
Saberás, então, que é o Senhor, teu Deus, que marcha adiante de ti,
como um fogo devorador... Não é pelo teu valor nem pela retidão do teu
coração que entrarás na posse de suas terras, mas é devido à sua
iniquidade que o Senhor, teu Deus, desapossa essas nações em teu favor
para cumprir a palavra que jurou aos teus pais, Abraão, Isaac e Jacob.
...Vede, proponho-vos hoje a bênção ou a maldição: a bênção, quando
obedecerdes aos mandamentos do Senhor, vosso Deus, que hoje vos
prescrevo; e a maldição, se não obedecerdes aos mandamentos do
Senhor, vosso Deus, e vos afastardes do caminho que hoje vos mostro,
para seguirdes deuses estrangeiros que não conheceis (Deuteronómio 9: 3-5 ;
11: 26-28).

Moisés, por incumbência de Deus, explicou pormenorizadamente as


bênçãos e as maldições que acompanhavam o pacto do Sinai e convidou a
nova geração a renová-lo; porém, a sua ratificação final com Deus só seria
feita em Canaã depois de o povo atravessar o Rio Jordão. A obediência
traria bênçãos e a desobediência acarretaria maldições. Se os israelitas
tivessem prestado atenção às advertências de Moisés, teriam sido salvos
de grandes sofrimentos através da sua História. Eis a lista de bênçãos e
maldições, das quais se transcrevem algumas (ver Deuteronómio 27 e 28):
Lista de algumas das bênçãos resultantes da obediência (Deuteronómio 28, v.v. 1-
14):

Prosperidade extraordinária e geral ..................................... 2-6


Livramento dos inimigos ..................................................... 7
Abundância de produção ..................................................... 8, 11, 12
Bênçãos ................................................................................ 9, 10
Proeminência entre as nações .............................................. 1, 10, 13

Lista de algumas das maldições resultantes da desobediência (Deuteronómio


28, v.v. 15-68):
Maldições pessoais .................................................................... 16-20
Pestes ........................................................................................ 21, 22
Secas ......................................................................................... 23, 24
72
Derrota nas guerras ................................................................... 25-26
Pragas ....................................................................................... 27, 28
Calamidades ............................................................................ 29
Exílios ...................................................................................... 32-37
Invasões dos inimigos .............................................................. 49, 50
Devastação da terra .................................................................. 47-52
Canibalismo em tempo do cerco .............................................. 53
Pragas ....................................................................................... 58-62
Dispersão entre as nações ......................................................... 64-68

Transcrevem-se, na íntegra, as mais relevantes:

Versículos 32-36 – Teus filhos e tuas filhas serão entregues a um povo


estrangeiro; os teus olhos o verão e se consumirão de dor à sua espera,
mas a tua mão ficará impotente. O fruto do teu solo e todo o teu trabalho
serão devorados por um povo que não conheces; serás sem cessar
oprimido e tiranizado e acabarás por enlouquecer com o espetáculo que
os teus olhos hão de ver. O Senhor ferir-te-á nos joelhos com uma
úlcera maligna, e nas coxas com uma úlcera incurável que se estenderá
da planta dos teus pés ao cimo da cabeça. O Senhor conduzir-te-á, a ti e
ao rei que tiveres escolhido, para uma nação que nem tu nem os teus
pais conheceram; e ali servirás a deuses estrangeiros, feitos de madeira
e de pedra! (Cumpriu-se nos Exílios Assírio – 722 a.C. e Babilónico entre
597-586 a.C.);
Versículo 48 – Servirás na fome, na sede, na nudez e na mais extrema
miséria os inimigos suscitados contra ti pelo Senhor; eles colocar-te-ão
um jugo de ferro no pescoço até te aniquilarem (Cumpriu-se nas
invasões dos assírios – 722 a.C. e dos babilónicos entre 597-586 a.C.);
Versículos 49, 50 – O Senhor lançará sobre ti uma nação longínqua,
vinda dos confins da terra, veloz como a águia, de língua
incompreensível, uma nação implacável que não terá respeito pelos
velhos, nem piedade pelo adolescente! (Cumpriu-se na ocupação pelos
Romanos, cujo símbolo era a águia, 63 a.C. – 313 d.C.);

73
Versículo 52 – Ela sitiará todas as tuas cidades, até que caiam, em todo o
país, as tuas mais fortes e altas muralhas, em que punhas a tua
confiança; sitiar-te-á em toda a terra que o Senhor, teu Deus, te tiver
dado (Cumpriu-se na destruição de Jerusalém e do Templo pelos romanos,
no ano 70 d.C.);
Versículo 53 – Como resultado da miséria, com que serás oprimido pelo
teu inimigo, devorarás o fruto das tuas entranhas, a carne dos teus
filhos e das tuas filhas que o Senhor teu Deus, te tiver dado (Cumpriu-se
no cerco de Samaria - 2 Reis 6: 28 – cerca de 560 a.C.; Jeremias 19: 9 –
630 a.C.; Lamentações 2: 20 - 586 a.C.);
Versículos 64-67 - O Senhor dispersar-te-á entre todos os povos de uma
extremidade à outra da terra; e ali servirás a deuses estrangeiros, feitos
de madeira e de pedra, que nem tu nem teus pais conheceram. E, até no
meio dessas nações, não encontrarás repouso nem ponto de apoio para a
planta dos teus pés. O Senhor dar-te-á ali um coração apavorado, fará
com que os teus olhos desfaleçam e porá a angústia na tua alma.
(Cumpriu-se no ano 70 d.C com a Diáspora e continua a cumprir-se nas
tribulações por que tem passado nos países do seu desterro);
Moisés profetiza a restauração espiritual de Israel: Quando, pois,
sobrevierem todos esses acontecimentos, a bênção ou a maldição, que
deixo à tua escolha, se os tomares a peito no meio de todos os povos
entre os quais o Senhor te tiver desterrado, e te voltares de novo para o
Senhor, teu Deus, e obedeceres à sua voz, tu e teus filhos, com todo o
seu coração, o Senhor, teu Deus, terá piedade de ti, porá fim ao teu
exílio e te juntará de novo, tirando-te do meio dos povos entre os quais o
Senhor te dispersou. Mesmo que os teus exilados se encontrassem na
extremidade dos céus, mesmo dali te chamaria o Senhor, teu Deus, e
mesmo ali iria procurar-te. O Senhor, teu Deus, reconduzir-te-á ao país
que teus pais possuíram e que, por tua vez, possuirás, fazendo-te
prosperar e multiplicar mais que a teus pais. O Senhor, teu Deus,
circuncidará teu coração teu coração e o da tua posteridade, para que
ames o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração e com toda a tua alma,
a fim de que possas viver. O Senhor, teu Deus, desencadeará então todas
as maldições sobre os teus inimigos e sobre aqueles que te odiarem e
perseguirem, e tu, voltando ao que é justo, serás dócil à voz do Senhor e
74
cumprirás todos os seus mandamentos que hoje te prescrevo (Deuteronómio
30: 1-8).

Esta profecia cumprir-se-á no fim da Grande Tribulação* com a


restauração do Israel espiritual ou o Reino Milenar de Cristo, com capital
em Jerusalém.
Moisés informou Israel que a promessa de Deus não era incondicional,
mas sim uma promessa de Bênção ou de Maldição. Para ser uma promessa
de bênção, cabia a Israel escutar, com o coração, os mandamentos do
Senhor. Mais tarde, quando acabou de escrever todas as palavras da Lei
num livro, deu ordem aos levitas, portadores da Arca da Aliança do
Senhor, dizendo: Mandai reunir à minha volta todos os anciãos das
vossas tribos e os vossos magistrados. Quero dirigir-lhes estas palavras e
tomar como testemunhas contra eles o céu e a terra. Porque sei que,
depois da minha morte, corromper-vos-eis, desviando-vos do caminho
que hoje vos prescrevi; sei que sereis atingidos pelo infortúnio nos
tempos que hão de vir, por terdes feito o que desagrada ao Senhor, por o
terdes ofendido com as obras das vossas mãos (Deuteronómio 31: 28, 29).
As profecias anteriores esboçavam, a partir daquele momento, toda a
História futura da nação hebraica, realçando o cativeiro babilónico, a sua
destruição nas mãos dos romanos e a diáspora. Formam uma das
evidências mais surpreendentes e indiscutíveis da inspiração divina da
Bíblia.
Deuteronómio 4: 20-34, descreve a profecia que Moisés transmitiu ao
povo, antes de morrer, há cerca de 3.500 anos, sobre a sua futura diáspora
e a sua restauração como nação espiritual, depois de passar pela angústia
(Tribulação). Chama-se a atenção para os v.v. 26 a 31: ...tomo hoje como
testemunhas contra vós os céus e a terra, não tardareis a desaparecer do
país, cuja posse ides tomar agora, passando o Jordão; os vossos dias não
se prolongarão ali, antes sereis exterminados. O Senhor dispersar-vos-á
entre os povos, e ficareis reduzidos a poucos entre as nações, para onde

*
A Grande Tribulação corresponde ao segundo período de três anos e meio dos 7 anos de
Tribulação, em que a aflição de Israel será inimaginável. Será um tempo de ira e perseguição
satânicas contra os crentes (Apocalipse 12: 12). Este assunto será desenvolvido no subtítulo ‘Tempo
de Angústia para Jacob ou Tribulação’.
75
o Senhor vos conduzirá. Lá adorareis deuses, obra das mãos dos
homens, deuses de madeira e de pedra, que não veem nem ouvem, que
não comem nem sentem.
Então recorrerás ao Senhor, teu Deus, e voltarás a encontrá-lo, se o
procurares com todo o teu coração e com toda a tua alma.
No meio da tua angústia, quando tiveres sofrido todos estes infortúnios,
depois de muitos dias, voltarás ao Senhor, teu Deus, e escutarás a sua
voz. Porque o Senhor, teu Deus, é um Deus clemente e não te
abandonará, nem permitirá que te percas, nem se esquecerá da aliança
que jurou aos teus pais.
Depois disso, Moisés subiu das estepes de Moab ao monte Nebo... E o
Senhor disse-lhe: Esta é a terra que jurei dar a Abraão, a Isaac e a
Jacob, dizendo: Dá-la-ei à vossa posteridade. Viste-a com os teus olhos,
mas não entrarás nela. E Moisés, o servo de Deus, morreu ali... mas
ninguém, até hoje, soube o lugar da sua sepultura (Deuteronómio 34: 1-6).
Tendo em atenção o que tem sido descrito, é oportuno observar aqui o
caráter de Deus, pois Ele é Santo e justo em tudo o que faz, isto é, não faz
aceção de pessoas nem subverte o direito. Poder-se-á alegar que o Seu
modo de proceder foi para o tempo do AT. Porque hoje se vive a Nova
Aliança, Deus não age mais deste modo. Pois, mas é um equívoco.
Somente na eternidade O poderemos compreender totalmente.
De facto, é extremamente impopular, hoje em dia, falar sobre a severidade
divina. Para muitos cristãos, a bondade divina é que importa, quando, na
verdade, tanto esta quanto a severidade devem ser consideradas se se
quiser crescer espiritualmente. Não foi inutilmente que o apóstolo Paulo
asseverou que ambas devem ser ponderadas.
Analise-se, de modo breve, o que menciona a Bíblia, em Romanos 11,
acerca da severidade de Deus para com a Sua Igreja. Paulo escreveu este
capítulo para informar a igreja de Roma sobre o futuro de Israel. Afirmou
que os ramos naturais da oliveira tinham sido quebrados para que o
zambujeiro fosse enxertado. Isto significa que Israel rejeitou Jesus para
que surgisse a Igreja, através da Sua morte e ressurreição: Dirás então:
Foram cortados os ramos para que eu fosse enxertado. Isto é verdade.
Por causa da sua incredulidade foram quebrados, e tu estás firme pela
76
fé. Não te ensoberbeças por isso, mas teme! Porque, se Deus não
perdoou aos ramos naturais, teme que ele te não perdoe também a ti.
Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: A severidade para
com os que caíram, e a bondade para contigo, se permaneceres no bem;
de outro modo, também tu serás cortado (Romanos 11: 19-22).
Contudo, futuramente, após o Arrebatamento da Igreja e o juízo sobre a
Terra durante a Tribulação, Deus inserirá novamente a nação de Israel na
oliveira verdadeira e não será mais retirada: E eles (judeus) também, se
não permanecerem na incredulidade, serão enxertados, pois Deus tem
poder para os enxertar de novo. Porque se tu foste cortado do
zambujeiro natural, e contra a tua natureza foste enxertado numa boa
oliveira, quanto mais aqueles que, por natureza, lhe pertencem hão de
ser enxertados na sua própria oliveira! (Romanos 11: 23, 24).
Ao observarem-se os v.v. 20 e 21 verifica-se que, pela sua incredulidade,
foram quebrados os ramos naturais. Então, se Deus não poupou Israel do
sofrimento, não o poderá fazer também com a Igreja que for rebelde? O
Seu julgamento acontecerá, não quando a Sua paciência se esgotar, mas
quando o cálice da iniquidade do mundo se encher. Depende da Sua
vontade e de maneira alguma da Sua paciência. É infinito em paciência e o
julgamento não será um ato de impaciência, mas de justiça e, nessa Sua
infinita longanimidade, espera e leva os homens ao arrependimento: Ou
desprezas as riquezas da sua benignidade, paciência e longanimidade,
desconhecendo que a bondade de Deus te leva ao arrependimento? ...E,
se Deus, querendo mostrar a sua ira e tornar manifesto o seu poder,
suportou com muita paciência, os vasos da ira, preparados para a
perdição...? (Romanos 2: 4; 9: 22). Deus é tão bondoso para o ser humano que
o suporta e não desiste dele, mesmo quando reiteradas vezes Lhe
desagrada. Stephen Charnock (1628–1680), pastor presbiteriano, declarou:
Os grandes homens do mundo são ligeiros a irarem-se e não tão prontos a
perdoarem uma injúria, nem a suportarem um ofensor. É o desejo de poder sobre
si próprio que faz o homem agir de modo inconveniente quando provocado. Um
príncipe que se controla a si próprio é rei sobre si mesmo como também dos seus
súbditos. Deus é tardio em Se irar por causa da grandeza do Seu poder. Ele tem
tanto poder sobre Si mesmo quanto sobre as Suas criaturas.
O ser humano, de um modo geral, confunde a paciência de Deus com a
77
Sua não existência. Pelo facto de pecar e não ser imediatamente punido,
conclui que não existe um legislador moral a quem todos darão conta:
Porque a sentença contra as más obras não é executada imediatamente,
o coração dos homens enche-se de desejos de fazer mal (Eclesiastes 8: 11).
Durante a demorada peregrinação através do deserto despontaram
características de caráter político, religioso, social e até mesmo económico
que se tornariam marcantes na trajetória daquele povo e que
influenciariam o comportamento e as tradições das grandes religiões
monoteístas do mundo moderno.

PARTICULARIDADE DA ALIANÇA DIVINA COM ABRAÃO


Na Aliança que Deus fez com Abraão, Isaac, e Jacob (Israel), há cinco
elementos que distinguem os seus descendentes de todos os outros povos
da Terra. Eis a ordem por que foram dados (Hunt, 1999):
1) A promessa de que o Messias viria ao mundo por Israel;
2) A promessa de um determinado território que foi dado a Israel como
possessão para sempre;
3) A lei mosaica e os seus subsequentes pactos de promessa, que
definiram um relacionamento especial entre Deus e Israel;
4) A manifestação visível da presença de Deus entre eles; e
5) O reinado prometido do Messias, no trono de David em Jerusalém,
sobre o Seu povo e sobre o mundo inteiro.
Somente na ação de Deus se poderá encontrar uma explicação razoável
para a existência de Israel e do seu povo. Segundo Robinson (2002), a
existência e o propósito deste povo estão contidos no seguinte v.: Para
que todos vejam e saibam, considerem e juntamente entendam que a
mão do Senhor fez isso, e o Santo de Israel o criou (Isaías 41: 20). De acordo
com este v., há quatro razões para essa existência, tendo para isso sido
usada a expressão: para que todos:
1) Vejam e entendam que é um povo singular neste planeta;
2) Saibam que a sua existência só pode ser explicada sobrenaturalmente;
3) Considerem que foi Deus quem realizou essa obra e procurem um
relacionamento com Ele e,
78
4) Juntos entendam que o Deus de Israel é o verdadeiro Deus.
A História de Israel é relevante para todos os povos do mundo, tanto
judeus, como não-judeus e prepara-os para que respondam, pela fé, ao
Deus de Israel, que, para isso, lança um desafio ao mundo: Apresentem a
vossa queixa e as vossas provas, diz o Senhor, o rei do povo de Jacob.
Aproximem-se e anunciem-nos o que vai acontecer. Vejamos o que
vocês tinham anunciado das coisas que já aconteceram! Anunciem-nos
o que há de vir, para sabermos o que vai acontecer. Digam-nos o que vai
acontecer no futuro e saberemos então que sois verdadeiramente deuses.
Façam qualquer coisa de bom ou de mal e todos seremos testemunhas
do que virmos (Isaías 41: 21-23).
Deus protege e guarda o Seu povo da destruição: Não temas, porque estou
contigo; não te aflijas, porque sou o teu Deus; eu torno-te forte, ajudo-
te, protejo-te com a minha mão direita vitoriosa... Porque eu, o Senhor,
sou o teu Deus, seguro-te pela mão digo-te: Não tenhas medo, eu
mesmo te ajudarei. Não tenhas medo, Israel, povo descendente de Jacob,
tratado como um bicho e pisado como um verme. Eu mesmo serei a tua
ajuda. Palavra do Senhor (Isaías 41: 10, 13, 14).
As Escrituras estão tão certas da presença contínua do povo judeu sobre a
Terra que chegam a afirmar que só se o Universo falhasse é que deixaria
de existir Israel: Assim fala o Senhor, que manda o sol para iluminar o
dia, e a lua e as estrelas para iluminar a noite; que agita as ondas
encapeladas do mar e cujo nome é Senhor dos Exércitos. Se algum dia
deixarem de subsistir estas leis diante de mim, oráculo do Senhor, então
poderá também a linhagem de Israel deixar de existir, para sempre,
como nação diante dos meus olhos (Jeremias 31: 35-37).

OBJETIVO DA LEI MOSAICA


A lei mosaica é composta de todo o código de leis formado por 613
disposições, ordens e proibições (Rindlisbacher, 2004). Pode ser dividida nos
Dez Mandamentos, que regulamentam a relação do ser humano com Deus
e com o seu próximo; no Livro da Aliança das Ordenanças Civis e
Religiosas, que explica e expõe detalhadamente o significado dos Dez
Mandamentos para Israel, como, por exemplo, a definição dos crimes
contra a propriedade e as respetivas punições, e nas Leis Cerimoniais, que
79
regulavam o ministério no santuário do Tabernáculo e, posteriormente, no
Templo, tais como os sacrifícios e todo o simbolismo cerimonial.
Anteriormente a essa expressão objetiva da vontade de Deus, já se
observava o pacto das obras no relacionamento entre o ser humano e
Deus. Estava ligado à obediência que, ao ser exercida pelo homem, o
capacitava a cumprir o papel para o qual fora criado: mas não comas o
(fruto) da árvore da ciência do bem e do mal, porque, no dia em que o
comeres, certamente morrerás (Génesis 2: 17). Mas não era a única
ordenança. Os imperativos, sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a Terra
e dominai-a (Génesis 1: 28), também foram ordens claras de Deus ao ser
humano, por isso, eram leis. Contudo, esse relacionamento não estava
limitado à obediência pois também envolvia o sentimento de plena alegria
em servi-lO, bem como a glorificação do Criador, através do ser humano.
A lei mosaica foi dada ao povo israelita: Porque o preceito é uma
candeia, a disciplina uma luz, e a correção do que ensina é caminho da
vida (Provérbios 6: 23). E Provérbios 29: 18 menciona: Sem a revelação, o
povo dissipa-se; mas o que guarda a lei é feliz. Relativamente à lei, o
apóstolo Paulo afirmou: Para que é então a lei? Foi ordenada por causa
das transgressões, até que chegasse a ‘Descendência’, a quem a
promessa fora feita... (Gálatas 3: 19). Deus pretendia que Israel fosse a
lâmpada que iluminasse a escuridão espiritual em que viviam os outros
povos. Por isso, Balaão, um profeta não judeu, foi forçado a declarar:
...Este povo vive solitário, e não se confundirá com as nações ...Como
são formosas as tuas tendas, ó Jacob! As tuas moradas, ó Israel (Números
23: 9; 24: 5). Balaão reconheceu, assim, que o Deus de Israel velava pelo seu
povo através da Lei. A prostituta Raabe, que vivia em Jericó, declarou aos
dois espiões judeus: Sei que o Senhor vos entregou esta terra, e todos os
seus habitantes estão desanimados por vossa causa. Ouvimos dizer como
o Senhor secou as águas do mar Vermelho diante de vós, quando saíste
do Egito, e como, além do Jordão, tratastes os dois reis dos amorreus,
Seon e Og, que matastes. Ao sabermos disto nosso coração desfaleceu, e
mais ninguém tem coragem de vos resistir, porque o Senhor, vosso Deus,
é o Deus da alturas, nos céus e na terra (Josué 2: 9-11). Quando a rainha de
Sabá foi a Israel visitar o rei Salomão, exclamou maravilhada: ...É
verdade tudo o que ouvira dizer no meu país a respeito das tuas obras e

80
da tua sabedoria! Não o queria crer antes de ver com os meus próprios
olhos. Pois bem, o que me tinham dito era apenas metade da tua imensa
sabedoria; ela ultrapassa a fama que de ti chegara aos meus ouvidos!
Felizes os teus servos! Felizes os servos que estão diante de ti e ouvem a
tua sabedoria. Bendito seja o Senhor, teu Deus, que te escolheu e te
colocou no seu trono, como rei do Senhor, teu Deus! É por causa do seu
amor a Israel que ele quer conservar para sempre, que te fez rei, para
que governes e administres a justiça (2 Crónicas 9: 5-8).
Os povos vizinhos reconheciam que Israel era uma nação peculiar e o seu
Deus era por eles respeitado (1 Reis 8: 41-43): Quando o estrangeiro, que não
pertence ao vosso povo de Israel, vier de um país longínquo por causa do
vosso nome (pois espalhar-se-á por toda a parte a grandeza do vosso
nome, a força da vossa mão e o poder da vosso braço), quando vier orar
neste templo, ouvi-o da alto dos céus, do alto da vossa mansão, ouvi-o e
fazei tudo o que este estrangeiro vos pedir. Então todos os povos da terra
conhecerão o vosso nome, vos temerão como o vosso povo de Israel, e
saberão que o vosso nome é invocado sobre esta casa que eu edifiquei
(Rindlisbacher, 2004).

ISRAEL DURANTE A PERMANÊNCIA EM CANAÃ


Após a travessia do deserto, já sem a chefia de Moisés, mas sob o
comando firme de Josué, entraram em Canaã (atual Palestina), cuja
conquista se iniciou entre 1220 e 1200 a.C.. A região tomada foi então
dividida em 12 áreas, de acordo com o número de tribos provenientes dos
descendentes de Jacob: Ruben, Simeão, Levi, Judá, Zebulom, Issacar,
Dan, Gade, Aser, Naftali, José e Benjamin. A Bíblia refere ainda as meias
tribos de Manassés e Efraim, que receberam os nomes dos dois filhos de
José que foram adotados e abençoados por Jacob (Génesis 48: 5). Deu-se,
assim, a primeira instalação significativa dos israelitas de uma forma
organizada e livre.
Aos poucos todo o território foi sendo ocupado pelas tribos de Israel,
conforme Deus tinha ordenado a Moisés: ...todavia é a sorte que decidirá
a distribuição da terra; cada um receberá o seu quinhão, segundo a
designação das tribos patriarcais. Por sorteio é que se distribuirá a terra
entre a família maior e a família menor (Números 26: 55, 56). Contudo, essa
81
ocupação não foi pacífica. Tiveram que combater contra os povos aí
instalados e expulsá-los: ...Mas o povo que habita essa terra é poderoso!
As cidades são muito grandes e fortificadas... Caleb mandou calar o
povo, sublevado contra Moisés, e disse: Subamos ali e apoderemo-nos do
país, porque certamente seremos vencedores! (Números 13: 28, 30).
Relativamente à conquista e destruição das nações existentes nessa zona,
torna-se necessário entender que, antes de serem considerados
injustificáveis, esses acontecimentos devem ser analisados no seu contexto
e à luz das diretivas que impediam o povo hebreu de agir de forma
irrefletida ou independente. Como exemplo, veja-se a passagem de
Génesis 15: 16: É apenas à quarta geração que eles voltarão para aqui,
pois a iniquidade dos amorreus não chegou ainda ao seu termo. Deus,
antes de dar esta informação a Abraão tinha-lhe dito que os seus
descendentes iriam viver como estrangeiros numa terra que os escravizaria
durante quatrocentos anos (Génesis 15: 13), e que somente depois disso eles
tomariam posse da terra que lhes havia prometido. Este facto mostra que
Deus, durante esse período de tempo, adiou a Aliança que fez com Abraão
e aguardou pelo arrependimento do povo que vivia em Canaã, em relação
aos seus pecados de incesto, sacrifício de crianças, ocultismo, etc. (Levítico
18: 1-23). Só depois os castigou, expulsando-os do seu território: Não vos
contaminareis com nenhuma dessas coisas, porque foi assim que se
contaminaram as nações que vou expulsar diante de vós (Levítico 18: 24).
Houve, pois, segundo informa a Bíblia, um motivo forte para Deus usar os
israelitas como instrumento de juízo para castigar aquele povo.
Como reação à indispensabilidade dessa conquista, o povo, desesperado,
murmurava: ...Porque não morremos no país do Egito ou não morremos
neste deserto? Porque nos conduz o Senhor a essa terra onde seremos
mortos à espada e onde nos arrebatarão as nossas mulheres e os nossos
filhos? Melhor seria que voltássemos para o Egito... (Números 14: 2, 3). Esse
desânimo perante a adversidade demonstra a natureza humana, bem
retratada na resposta de Deus, através de Moisés: ...Quando deixará este
povo de me ultrajar? Durante quanto tempo não terá confiança em mim,
apesar de tantos prodígios que tenho realizado no meio dele? (Números 14:
11).

82
A Bíblia declara que: Tendo Deus falado outrora aos nossos pais, muitas
vezes e de muitas maneiras, pelos profetas, agora falou-nos nestes
últimos tempos pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo e por
quem igualmente criou o mundo. Sendo ele o resplendor da sua glória e
a imagem da sua substância e sustendo todas as coisas pela sua palavra
poderosa, depois de haver completado a purificação dos pecados,
sentou-se à direita da Majestade Divina nas alturas (Hebreus 1: 1-3). Paulo
disse: Porquanto o que de Deus se pode conhecer ...Deus lho
manifestou, desde a criação do mundo. As suas perfeições invisíveis,
tanto o seu eterno poder como a sua divindade, tornam-se visíveis,
quando as suas obras são consideradas pela inteligência... (Romanos 1: 19,
20). Os céticos afirmam que Deus devia revelar ao mundo, de modo
visível, o Seu poder e glória. Mas será que uma palavra ou ação clara e
direta da parte de Deus aumentaria a probabilidade de obediência?
Aparentemente não, se se tiver em conta o exemplo do povo israelita
daquele tempo, que dispunha de inúmeras provas materiais da existência
de Deus. Perante a atuação divina não reagiu com amor e adoração, pelo
contrário, respondeu muitas vezes com rebelião e medo. A presença
visível de Deus não aperfeiçoou a sua fé, pois manteve-se sempre
inconstante. Os milagres que testemunhou não alimentaram o tipo de fé
que agrada a Deus (Hebreus 11).
Esta discussão não é nenhuma novidade. Os judeus também pediram que
Jesus lhes fizesse ver sinais. Em ambas as vezes, foi-lhes indicado o sinal
de Jonas (Mateus 12: 38-42 e 16: 1-4), que não perceberam. Normalmente é assim
que acontece, os que pedem sinais extraordinários não conseguem ver o
que Deus já manifestou diante deles: ...Como se vê, sabeis interpretar o
aspeto do céu, mas, quanto aos sinais dos tempos, não sois capazes de os
interpretar! (Mateus 16: 3).
A Bíblia mostra claramente que não é a presença visível de Deus, nem os
Seus sinais que vão levar a Humanidade ao arrependimento e a voltar-se
para Ele. Quando Jesus curou os dez leprosos, só um voltou e glorificou a
Deus: ...caiu aos pés de Jesus com a face em terra e agradeceu-lhe. Era
um samaritano. Tomando a palavra, Jesus disse: Não foram dez os que
ficaram limpos? Onde estão os outros nove?... (Lucas 17: 16-19).
As Escrituras declaram que aquilo que o ser humano pode conhecer a
83
respeito de Deus, foi-lhe manifesto (Romanos 1: 19). Também dizem que não
se pode conhecer Deus através de esforços e métodos humanos: Pois, já
que o mundo, com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na
sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os crentes por meio da loucura
da pregação (1 Coríntios 1: 21). Paulo afirmou que nem mesmo os incrédulos
podem negar o conhecimento sobre o Deus bíblico, nem o Seu poder e
divindade, visíveis através do que existe e do que por Ele foi revelado nas
Escrituras (Romanos 1). Deus e a Sua revelação não são incompreensíveis:
...Por isso, desde o dia em que o ouvimos dizer, não cessamos de orar a
Deus por vós, pedindo-lhe que alcanceis o pleno conhecimento da sua
vontade, com toda a sabedoria e inteligência espiritual. Deste modo,
podereis viver dum modo digno do Senhor, agradando-lhe em tudo,
frutificando em toda a boa obra e crescendo no conhecimento de Deus
(Colossenses 1: 9, 10). Jesus Cristo afirmou: Glorifiquei-te na terra, tendo
consumado a obra que me deste a fazer (João 17: 4). Pode-se conhecer Deus
observando a pessoa, a vida, as obras e os ensinos de Jesus: ...Quem me
vê, vê o Pai (João 14: 9).
Mesmo durante o Reino Milenar de Cristo, muitos dos que nascerem
nessa época, irão optar manifestamente pela rejeição do senhorio visível
de Cristo. Satanás irá reunir uma multidão de rebeldes e tentar, pela última
vez, derrotar Deus: ...Satanás... sairá da sua prisão para seduzir as
nações dos quatro cantos da terra... Reuni-las-á para o combate...
Espalharam-se por toda a superfície da terra e cercaram o
acampamento dos santos e a cidade bem-amada (Apocalipse 20: 7-9).
Haverá sempre quem, na sua presunção, pense que a única visão correta
do mundo é a sua, que na sua insensatez demonstre todo o seu ódio à
religião. Existirá sempre quem confunda a mensagem bíblica com a
violência ou com as atrocidades cometidas por homens em nome de Deus.
Em analogia, será como afirmar que a descoberta da radioatividade é má
porque foi utilizada para o fabrico da bomba atómica. No fundo, são tão
dogmáticos quanto algumas das religiões que condenam. Thomas Nagel*,


*
Thomas Nagel - filósofo americano, nascido na ex-Jugoslávia, Professor Universitário
de Filosofia, na Universidade de Nova Iorque. As suas principais áreas filosóficas de
interesse são a filosofia da mente, filosofia política e ética.
84
no capítulo ‘O Naturalismo evolucionista e o Medo da Religião’, do seu
livro The Last World, afirma, com a sinceridade que falta a muitos dos que
se dizem ateus:
Quando falo de medo da religião, não me refiro à hostilidade totalmente
compreensível em relação a certas religiões e instituições religiosas estabelecidas,
por causa das suas doutrinas morais, políticas sociais e influência política
discutíveis. Nem me refiro à associação de várias crenças religiosas com a
superstição e a aceitação de falsidades empíricas evidentes. Estou a falar de algo
muito mais profundo - ou seja, o medo da própria religião. Falo por experiência
própria, pois eu mesmo estou altamente sujeito a esse medo: quero que o ateísmo
seja verdade e fico incomodado com o facto de que algumas das pessoas mais
inteligentes e bem informadas sejam crentes religiosos. Não significa
simplesmente que eu não acredite em Deus e, naturalmente, espero que esteja
certo na minha crença. Significa que eu espero que não haja Deus! Não quero que
exista um Deus; não quero que o Universo seja assim.
Israel tomou posse da Terra Prometida porque a promessa de Deus era
incondicional e havia no seu seio quem confiasse Nele. Contudo, todos os
que duvidaram foram castigados e perderam o direito de entrar em Canaã,
como pode ser observado nesta passagem: Mas, assim como é certo que
eu vivo e que a glória do Senhor enche toda a terra, todos estes homens,
que viram a minha glória e os meus prodígios, no Egito e no deserto,
que me tentaram já dez vezes e não obedeceram à minha voz, jamais
verão a terra que prometi, sob juramento, aos seus antepassados. Não a
verá nenhum dos que me ultrajaram. Mas o meu servo Caleb, porquanto
foi animado por um espírito diferente e me obedeceu fielmente, fá-lo-ei
entrar no país que percorreu e a sua descendência possui-lo-á (Números 14:
20-24). Para se alcançar as bênçãos de Deus, deve-se permanecer no Seu
agrado e não temer, mesmo que as situações e circunstâncias da vida
sejam extremamente contrárias, isto é, deve-se confiar firmemente Nele.
Pode-se também redarguir sobre a razão de terem que lutar pela posse da
terra, uma vez que Deus a tinha prometido. Este é, sem dúvida, um aspeto
muito importante do relacionamento permanente do crente com Deus: só
se luta por aquilo em que se acredita. É uma demonstração de fé, que tem
por base as Suas promessas e a confiança incondicional que se tem Nele.
Como consequência, a fé é fortalecida através dos resultados obtidos,
impedindo que a dúvida se instale: Ora, sem fé, é impossível agradar a
85
Deus, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia
que ele existe e que é remunerador daqueles que o procuram (Hebreus 11:
6).

O que Deus prometeu pode ser pedido com plena certeza de fé.
Acreditando e agindo, ver-se-á a vitória: Pedi e dar-se-vos-á; procurai e
encontrareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois, quem pede recebe; e quem
procura encontra; e ao que bate abrir-se-á... Ora bem: se vós, sendo
maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai
que está nos céus dará coisas boas àqueles que lhas pedirem (Mateus 7: 7, 8,
11). Um exemplo, entre muitos: Então, Jesus respondeu-lhe: Ó mulher,
grande é a tua fé! Faça-se como desejas. E, a partir daquele instante, a
filha dela achou-se curada (Mateus 15: 28).
Deus ouve os Seus porque os ama, porque os convida para um
relacionamento pessoal e verdadeiro com Ele, e não pelo seu
merecimento. Cristo reconciliou o ser humano com Deus. Hoje, o crente
tem de ser identificado pela centralidade da sua vida em Cristo, não só por
considerar plenamente quem Cristo é e o que fez, mas também por Nele
ter todo o seu regozijo. Não por se enaltecer na carne, nem em rituais
religiosos, em cerimónias externas, ou em realizações humanas. Nada
disto tem valor para a salvação. O prazer, a vida e a confiança do cristão
estão em Cristo, que é a sua vida (Filipenses 1: 21), o seu exemplo (Filipenses 2: 5),
o seu alvo (Filipenses 3: 12-14) e a sua força (Filipenses 4: 13). O cristianismo não é
aquilo que se faz para Deus, mas o que Deus fez pelo Homem, em Cristo.
Paulo colocou muito bem esta questão: Não vos conformeis com este
século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, a fim de
conhecerdes a vontade de Deus: O que é bom, o que lhe é agradável e o
que é perfeito (Romanos 12: 2). Se estais mortos em Cristo, para os elementos
deste mundo, porque é que ainda vos submeteis a essas prescrições,
como se vivêsseis no mundo? ‘Não tomes, não proves, não toques...’
proibições estas que se tornam perniciosas pelo uso que delas se faz e
que não passam de preceitos e doutrinas dos homens. Têm, na verdade,
uma aparência de sabedoria, pela sua afetada piedade, humildade e
severidade para com o corpo, mas não têm nenhum valor real e só
servem para satisfazerem a carne (Colossenses 2: 20-23). Muito haveria a dizer

86
sobre este assunto, mas não se enquadra no âmbito deste livro.

As tribos como unidades geográficas


(Fonte: Sociedades Bíblicas Unidas, 1995)

Voltando ao assunto, o território foi dividido em 12 parcelas que foram


distribuídas por todas as tribos de Israel, com exceção dos Levitas, ou
filhos de Levi, pois Deus ordenou: O Senhor disse a Moisés: Manda
aproximar a tribo de Levi e apresenta-a ao sacerdote Aarão, para o
auxiliarem. O levitas cumprirão os seus deveres e os de toda a
congregação, diante da tenda de reunião, fazendo o serviço do
tabernáculo. Devem ficar de guarda diante da tenda do encontro ao teu
serviço e de todos os israelitas, cumprindo as funções sagradas do
santuário. ...Na verdade tomei os levitas do meio dos filhos de Israel, em

87
vez de todos os primogénitos, primícias da maternidade dos filhos de
Israel. Os levitas pertencem-me (Números 3: 6, 7, 12).
Os levitas eram uma tribo secular. Posteriormente, tornou-se na tribo
sacerdotal, em que todos os seus membros ocupavam cargos subordinados
ao sacerdócio, a fim de se distinguirem dos descendentes de Arão, que
eram os sacerdotes. A divisão do sacerdócio era a seguinte: o sumo
sacerdote, os sacerdotes comuns e os levitas. Embora os levitas não
tivessem ficado com território o total de tribos continuou a ser de 12, uma
vez que Manassés e Efraim, filhos de José adotados e abençoados por
Jacob, também receberam a sua parte.
Com a morte de Josué, por volta de 1200 a.C., o povo passou a ser
governado pelos Juízes, que conduziram as tribos nas guerras contra os
cananeus, os moabitas e os filisteus, estes considerados os inimigos mais
poderosos da época e que se concentravam na faixa de costa do mar
mediterrâneo.
Houve, então, forte pressão da população para que fosse eleito um Rei
para julgá-los e liderá-los nas contínuas batalhas contra os seus inimigos.
Isso ficou a dever-se, quer a desvios religiosos de alguns membros das
comunidades, que abalaram a relação com Deus, quer à idade avançada do
profeta Samuel, o último Juiz.
Sabe-se que o povo de Israel fez exatamente o que não devia fazer, tal
como profetizou Moisés, e tornou-se um povo amaldiçoado voltando a
ficar cativo de povos idólatras, como veremos a seguir.
Antes de a nação de Israel entrar na Terra Prometida, Deus tinha dado
instruções rigorosas quanto ao que deviam fazer com os moradores de
Canaã: Porém, das cidades destas nações, que o Senhor, teu Deus, te dá
em herança, nenhuma coisa que tem fôlego deixarás com vida. Antes,
destrui-las-ás totalmente: aos hititas, os amorreus, os cananeus, os
perizeus, os heveus e os jebuseus, como te ordenou o Senhor, teu Deus,
(Deuteronómio 20: 16, 17); confirmar em Números 33: 51-53.
Deus, depois de os israelitas atravessarem o Jordão e entrarem em Canaã,
repetiu essa ordem. Em várias ocasiões, o livro de Josué declara que a
destruição das cidades e dos cananeus pelos israelitas foi ordenada pelo
88
Senhor (Josué 6: 2; 8: 1, 2; 10: 8). Essa ordem foi dada porque Deus sabia
que se o Seu povo convivesse com os cananeus, adotaria as práticas desses
habitantes, que se entregavam, totalmente, à depravação moral. O culto
aos deuses cananeus incluía todos os tipos de atos sexuais, incluindo o
incesto e a bestialidade. Estavam, pois, envolvidos em todas as formas de
idolatria, prostituição cultual, violência, queima de crianças em sacrifícios
aos seus deuses e espiritismo (Deuteronómio 12: 31; 18: 9-13). Levítico
18: 20-30 confirma-o, especialmente o v. 30.
Contrariamente às ordens de Deus, os israelitas não destruíram totalmente
o povo cananeu (Juízes 1: 28, 36), tendo Deus cessado a Sua ajuda na
expulsão total do inimigo (Deuteronómio 7: 2, 5, 16; 12: 3; 30: 16). Isso
levou a que o povo israelita não se tivesse separado totalmente dessa
cultura maligna (Juízes 2: 11-13), preferindo os benefícios materialistas,
os prazeres imorais dos cananeus, aceitando, p. ex., o casamento misto
com os cananeus (Juízes 3: 5, 6), assim como o culto idólatra a Baal e a
Astarté (Juízes 2: 12, 13).
Apesar dessa desobediência, como Deus havia feito uma promessa a
Abraão, teria de a cumprir: que da sua descendência nasceria uma nação
abençoada.
Neste período, Israel teve muitos profetas, pessoas escolhidas por Deus,
que tinham uma mensagem comum de exortação à fidelidade a Deus e de
advertência em relação às consequências da desobediência, como guerras,
mortes, destruição e exílios.
Moisés (1455-1405 a.C.) libertou o povo da escravidão do Egito,
conduziu-o à Terra Prometida e fez com Deus uma Aliança no Monte
Sinai. O compromisso bilateral, aí estabelecido, está bem explicado em
Deuteronómio 26: 17-19: Glorificaste hoje o Senhor, prometendo que ele
seria o teu Deus e que andarias nos seus caminhos, observando
fielmente as suas leis, os seus preceitos e os seus mandamentos. Ele quer
que venhas a ser a primeira de todas as nações que ele criou, em glória,
e renome e em dignidade, e sejas assim, um povo consagrado ao Senhor,
teu Deus, como ele te disse. O destino do povo judeu passou a estar ligado
a esta Aliança.

89
Moisés previu acontecimentos que ocorreriam séculos mais tarde, como a
diáspora e a restauração espiritual de Israel. Isto é profecia preditiva
porque o fez antes mesmo de terem entrado na Terra Prometida. Contudo,
o exemplo mais dramático é o mencionado em Deuteronómio 28: 49: ...o
Senhor lançará sobre ti uma nação longínqua, vinda dos confins da
terra, veloz como a águia. A águia citada é certamente uma referência a
Roma. No ano 63 a.C., Pompeu marchou sobre Jerusalém com as legiões
romanas ostentando estandartes com o símbolo de uma águia. Quando os
judeus a viram identificaram imediatamente a profecia de Moisés. Pompeu
sitiou a cidade e, quando a invadiu, matou cerca de 12.000 judeus. A
invasão romana foi acompanhada pelo desabar da visão do mundo tida
pelos judeus da época, que achavam que Deus os protegeria, esquecendo-
se das advertências dos antigos profetas. De facto, embora constantes ao
longo da História hebraica, o período compreendido entre 740 a.C. e 70
d.C. foi o mais abundante em profecias sobre o futuro de Israel e podem
ser encontradas na maior parte dos livros proféticos de Isaías (700-680
a.C.), Jeremias (585-580 a.C.), Ezequiel* (590-570 a.C.), que acompanhou
os judeus no cativeiro babilónico, e Daniel (536-530 a.C.). O traço comum
entre todas elas é o apelo à lealdade à Aliança feita por Moisés.
Por volta do ano 1050 a.C., terminada a conquista da Terra Prometida e
durante o reinado do seu primeiro rei, Saul, as 12 tribos de Israel,
pressionadas pelas constantes guerras com os povos vizinhos, uniram-se e
formaram um único reino.
Os reis que lhe sucederam foram David e Salomão. David sucedeu a Saul,
por volta do ano 1000 a.C.. Expandiu o território de Israel e conquistou a
cidade de Jerusalém, onde instalou a capital do reino. Mas foi sob o
reinado de Salomão que Israel alcançou o apogeu, entre 966 a.C. e 926
a.C.. Salomão teve a glória de construir o primeiro Templo de Jerusalém.
A título informativo, depois deste houve mais dois templos: o construído
por Zorobabel, descendente de David e neto do rei Joaquim de Judá, após
exílio na Babilónia, e o construído por Herodes, onde Jesus foi diversas


*
O túmulo deste profeta, que se situa na pequena cidade de Kifl, a sul de Bagdad, está a ser
renovado pelo Ministério do Turismo e Antiguidades do Iraque.
90
vezes e de onde expulsou os ‘vendilhões’. Foi destruído pelos romanos, no
ano 70 da nossa era.
Roboão, filho de Salomão, sucedeu-lhe em 922 a.C.. Nessa época o reino
de Israel foi dividido em dois: a Norte, na Samaria, o Reino das Dez
Tribos, também chamado Reino de Israel, que foi formado pelas tribos de:
Rúben, Issacar, Zebulom, Dan, Naftali, Gade, Aser, Efraim, Manasses e
Simeão. A Sul, o Reino das Duas Tribos, também chamado Reino de
Judá, constituído pelas tribos de Judá e Benjamim, com capital em
Jerusalém, que manteve uma certa ortodoxia. A divisão foi causada pelo
pecado de Salomão e pela firmeza do seu herdeiro Roboão, por causa dos
impostos (1 Reis 12: 3-11).
No ano 722 a.C., o Reino de Israel foi invadido pelos Assírios e as dez
tribos que o constituíam foram levadas cativas, não havendo referências
bíblicas do seu regresso do exílio. Contudo, sabe-se pelo segundo livro
Crónicas que habitavam em Judá membros de todas as tribos de Israel que,
provavelmente, já lá residiam quando o seu reino foi destruído.
Em 587 a.C., o imperador Nabucodonosor invade Jerusalém, destrói o
Primeiro Templo e exila os judeus em Babilónia. Levados à força, os
prisioneiros de Judá e de Benjamim, e também da tribo de Levi passaram
cerca de 70 anos como escravos sob o seu domínio. O fim do exílio
possibilitou o seu regresso a Jerusalém, que foi reconstruída e, juntamente,
o seu Templo. Judá, Benjamin e Levi constituíram o povo que hoje é
designado por judeu. Este reorganizou-se depois em três subgrupos,
conhecidos como Israel, Coanita e Levi. Do nome de Judá surgiram as
denominações judeu e judaísmo.
Os profetas de Israel e de Judá eram dotados do dom divino de revelação e
profetizaram durante o período da monarquia até um século depois da
destruição de Jerusalém por Nabucodonosor. Assessoraram reis em
assuntos relacionados com a religião, ética e política, ou foram seus
críticos no âmbito da prioridade da relação do indivíduo com Deus. Eram
guiados pela firme convicção da necessidade de justiça e emitiram
censuras enérgicas a respeito da moralidade da vida nacional judaica. As
suas experiências reveladoras foram registadas nos seus livros.

91
O apelo unânime e permanente dos profetas esteve sempre dirigido para os
valores humanos fundamentais. Palavras como as de Isaías 1: 17: Cessai
de fazer o mal, aprendei a fazer o bem, procurai o que é justo; socorrei o
oprimido; fazei justiça ao órfão; defendei a viúva, continuam a guiar a
Humanidade na sua busca por justiça social.
Os profetas mais influentes do período pré-exílio foram, Joel (835-830
a.C.), Jonas (760 a.C.), Amós (760-755 a.C.), Miqueias (740-710 a.C.) e
Oseias (715-710 a.C.). Protestaram contra os israelitas que praticavam a
idolatria e exploravam os pobres. Nessa época os profetas faziam o papel
de advogados sociais e eram críticos veementes da monarquia e do povo.
Um dos mais importantes foi Amós, o profeta pastor de Israel, que
profetizou numa altura de prosperidade. Achava-se inconsolado por causa
das infrações à justiça cometidas pelos povos vizinhos de Israel e também
acusava Israel de ingratidão para com Deus e de transgressão da Aliança
em consequência da exploração dos pobres. Por isso, acreditava que tudo
o que estava a acontecer culminaria com a destruição de Israel. Embora
um pouco extenso, vale a pena transcreverem-se algumas passagens do
livro: Assim fala o Senhor: Por causa do triplo e do quádruplo crime de
Israel, não mudarei o meu decreto. Porque vendem o justo por dinheiro
e o pobre por um par de sandálias; esmagam sobre o pó da terra a
cabeça do pobre. Confundem os pequenos, porque o filho e o pai
dormem com a mesma jovem, profanando o meu santo nome. Porque se
estendem ao pé de cada altar sobre as roupas recebidas em penhor, e
bebem no templo do seu Deus o vinho dos que foram multados. Apesar
disso, fui eu que exterminei diante deles os amorreus (Amós 2: 6-8); Ouvi
esta palavra vacas de Basan, que viveis na montanha de Samaria. Vós
que oprimis os fracos e vexais os pobres, vós que dizeis a vossos
maridos: trazei e bebamos! (Amós 4: 1); Ai dos que vivem comodamente em
Sião! Ai dos que vivem tranquilos no monte da Samaria! Ai dos nobres
do primeiro dos povos, aos quais acorre a casa de Israel. Passai a Calne
e contemplai; e ide de lá a Hamat, a grande; descei a Get dos filisteus;
serão estas cidades de melhor condição que estes reinos, ou o seu
território será mais extenso que o vosso? Julgais distante o dia mau, e
estais a aproximar-vos do reino da violência. Deitados em leitos de
marfim, estendidos indolentemente nos seus divãs, comem os melhores

92
cordeiros do rebanho e os mais escolhidos novilhos do estábulo. Folgam
ao som da harpa, e inventam como David, instrumentos de música;
bebem vinho por grandes copos, perfumam-se com óleos preciosos, sem
se compadecerem da ruína de José (Israel). Por isso irão deportados à
frente dos cativos, e terá fim esse bando de voluptuosos, diz o Senhor
Deus dos exércitos (Amós 6: 1-7).
Nessa época de aparente prosperidade, esta pregação pareceu loucura:
...Amasias, sacerdote de Betel, mandou dizer a Jeroboão, rei de Israel:
Amós conspira contra ti do meio da casa de Israel. A terra não pode
mais suportar os seus discursos. Porque isto disse Amós: Jeroboão
morrerá pela espada e Israel será deportado para longe do seu país.
Amasias disse a Amós: Sai daqui, vidente, foge para a terra de Judá e
come lá o teu pão, profetizando. Mas não continues a profetizar em
Betel, porque aqui é o santuário do rei e a corte real (Amós 7: 10-13). A
verdade é que, passados cerca de 30 anos (720 a.C.), a Assíria invadiu e
destruiu o reino de Israel.
Miqueias via em Judá os mesmos problemas que Amós viu em Israel.
Além de explorarem os pobres, idolatravam Baal e Astarote, deuses dos
caldeus e cananeus. Seriam repreendidos por isso. Profetizou no Templo,
criticando os sacerdotes e o seu serviço, por isso se tornou impopular,
também porque predizia a destruição do templo: Pois bem! Por vossa
causa Sião será como um campo, Jerusalém será reduzida a um monte
de pedras, e o monte do templo será como brenha (Miqueias 3: 12).
A História mostra que as suas profecias se cumpriram em 720 a.C.,
quando os Assírios invadiram o Reino do Norte, destruindo Samaria, e em
587 a.C., quando do cerco dos babilónios e da destruição de Jerusalém, em
que mataram e exilaram boa parte da população.
O Templo de Salomão, o primeiro templo, era a parte central da vida
judaica e tornou-se numa peça importante no plano profético de Deus.
O povo não ouvia os profetas, por isso o julgamento chegou também às
tribos do sul, Judá. O maior profeta deste tempo foi Isaías, que iniciou o
seu ministério em 700 a.C.. Nessa época Judá vivia prosperamente e Isaías
criticava severamente os pecados do povo, tendo previsto o julgamento
que viria: Ai da nação pecadora, do povo carregado de iniquidades da

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raça de malfeitores, dos filhos malvados! Abandonaram o Senhor,
renegaram o Santo de Israel, e voltaram-lhe as costas. A vossa terra está
deserta, as vossas cidades incendiadas. Os inimigos devastam, à vossa
vista, o vosso país devastado com assolação de inimigos (Isaías 1: 4, 7).
A transgressão privou-os da bênção e da proteção de Deus. A terra e o seu
povo foram finalmente subjugados por Nabucodonosor e o seu exército
ente 605-586 a.C.. Isaías também profetizou a destruição do império
babilónico, o que veio a suceder em 539 a.C., quando foi capturada por
Ciro, do império Medo-Persa: Suscitarei contra eles os Medos, que não
se interessam pela prata, nem cobiçam o ouro. Então Babilónia, a flor
dos reinos, ornamento de que se orgulham os caldeus, será como
Sodoma e Gomorra, que Deus destruiu. Nunca mais será habitada, nem
povoada até ao fim dos tempos. O árabe não mais levantará ali as suas
tendas, os pastores não apascentarão ali os seus rebanhos (Isaías 13: 17, 19,
20).

Depois de Isaías surge o profeta Jeremias que, sempre avesso às


convenções, fez o seu sermão à porta do Templo, criticando os seus
serviços. Em pé nas escadarias anunciou a sua destruição: Farei da casa
em que é invocado o meu nome e na qual depositais a vossa confiança,
deste lugar que vos dei, a vós e a vossos pais, o mesmo que fiz de Siló
(Jeremias 7: 14). Siló foi o local aonde, antes de Jerusalém ser transformada
por David na capital do reino, foi construído um pequeno templo, no qual
a Arca ficou guardada sob os cuidados da família de Eli, também
sacerdote. Ali, Josué (que sucedeu a Moisés) acampou o povo pela última
vez (Josué, 18: 1). Esse templo foi, presumidamente, destruído pelos filisteus:
Porventura, esta casa, onde o meu nome é invocado, é a vossos olhos um
covil da ladrões? Também eu vejo assim, oráculo do Senhor. Ide,
portanto, à minha casa de Siló, onde a princípio habitou o meu nome, e
vede o que lhe fiz por causa da maldade do meu povo de Israel (Jeremias 7:
11-12).

Jeremias, mais do que Isaías, atacava as autoridades de Jerusalém pelo seu


erro e arrogância, que pensavam que podiam fazer o que quisessem e
manter as eternas garantias de Deus. A sua mensagem era clara: ‘não
existem garantias eternas e vocês vão pagar pela desobediência'. No
capítulo 26 voltou a predizer a ruína do Templo e de Jerusalém, e passou a
94
correr perigo de morte: Mal, porém, Jeremias acabara de repetir o que o
Senhor lhe ordenara dizer ao povo, os sacerdotes, os profetas e a
multidão lançaram-se sobre ele exclamando: à morte! (Jeremias 26: 8). Em
consequência dessa predição, tornou-se impopular e foi expulso da cidade
depois de ter criticado as relações externas de Judá (Jeremias 27: 12-17).
Passou a ser reconhecido após a tomada de Jerusalém e à destruição do
primeiro Templo por Nabucodonosor. Permaneceu em Judá e profetizou o
fim do cativeiro que teria a duração de 70 anos: Esta terra converter-se-á
em deserto e desolação e, durante setenta anos, estas gentes servirão o
rei da Babilónia. Decorridos estes setenta anos, castigarei o rei da
Babilónia e os seus habitantes por causa dos seus crimes, oráculo do
Senhor, assim como o país dos caldeus, que transformei numa terra de
solidão (Jeremias 25: 11, 12). A sua profecia mais conhecida é sobre a
restauração espiritual de Israel: Dias virão, oráculo do Senhor, em que
firmarei nova aliança com as casas de Israel e de Judá (Jeremias 31: 31).
Nessa época Jesus Cristo será reconhecido como o Messias e aceite por
Israel, ficando, então, a nação israelita abrangida pela Nova Aliança.
Todos os profetas previram a restauração de Israel e bênçãos futuras (Amós
9: 14, 15). A profecia mais importante de Jeremias é a promessa de um
Salvador, O Messias: Dias virão, oráculo do Senhor, em que farei brotar
de David um rebento de justiça, que será rei, governará com sabedoria e
exercerá no país o direito e a justiça. Sob o seu reinado, Judá será salvo
e Israel viverá em segurança. Então será este o seu nome: Javé, nossa
justiça! (Jeremias 23: 5, 6).
Os judeus habitaram a Terra Prometida até ao ano 70 da nossa era.
Sofreram vários exílios, dos quais se destacam dois: o do reino de Israel
pela Assíria, em 722 a.C. e o de Judá por Babilónia. Este foi concluído em
três levas: a primeira em 605 a.C., no quarto ano do rei Joaquim, a
segunda em 597 a.C., e a terceira e última em 586 A.C.. Durou 70 anos, de
605 a.C. a 536 a.C.. O retorno a Israel deu-se entre 536-535 a.C., pelo
decreto do rei persa Ciro, que conquistou o império babilónico e libertou
Israel do seu poderio.
Ciro havia permitido que 50.000 judeus exilados voltassem a Jerusalém
sob a liderança do governador Zorobabel (Esdras 1: 2-4; 2: 64, 65; 3: 2; 5: 1). Este
reconstruiu o templo que, embora não fosse tão glorioso como a de
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Salomão, durou mais tempo, permanecendo por mais de 500 anos, de 515
a.C., até próximo do final do primeiro século a.C..
Durante os seguintes quatro séculos, os judeus conheceram diversos graus
de autonomia, sob o domínio persa (536-333 a.C.) e, posteriormente, o
grego-ptolemaico-selêucida (332-63 a.C.).
O domínio romano surgiu em 63 a.C. e durou até 313 d.C.. Neste período
houve algumas revoltas contra a dominação romana. Herodes I, o rei
idumeu, que governou a Judeia de 37 a.C. até 4 d.C., estabeleceu
instituições culturais, erigiu magníficas construções e restaurou o antigo
templo de Zorobabel, transformando-o num esplendoroso edifício, o
terceiro Templo de Jerusalém.
Durante os primeiros 150 anos da Era Cristã, os judeus rebelaram-se duas
vezes contra os ocupantes romanos. Ambas as revoltas foram brutalmente
reprimidas e seguidas de restrições severas à sua liberdade.
A primeira, designada Grande Revolta Judaica, iniciou-se em 66 d.C. e
terminou oficialmente em 70 d.C., embora a luta tenha se prolongado até
73 d.C., com a tomada da fortaleza de Massada. Foi sufocada pelas tropas
do comandante romano (e futuro imperador), Vespasiano, secundado por
seu filho, Tito. Morreram mais de um milhão de judeus e o Templo de
Jerusalém foi destruído, restando apenas o Muro das Lamentações.
A segunda foi a rebelião de Shimon Bar Kochba, em 132-135 d.C., em
consequência da qual centenas de milhares de judeus morreram, milhares
foram levados cativos e proibidos de entrar em Jerusalém, depois de os
romanos terem retomado a Judeia e Jerusalém. Estas foram posteriormente
por eles renomeadas Palestina e Aelia Capitolina, respetivamente.
O que se descreveu resumidamente, é apenas a visualização do filme, cujo
argumento - Bênçãos e Maldições - foi apresentado por Moisés junto da
Terra Prometida, há 3.500 anos.

BREVE HISTÓRIA DO PERÍODO DA DIÁSPORA


A partir do ano 70 da nossa era, dá-se a diáspora, indo os judeus para
outros países da Ásia Menor e do sul da Europa. Nessa época teve início o
judaísmo rabínico. Esta corrente de pensamento compreendeu uma nova
96
forma de adoração, pois desapareceu a ideia de o templo ser o único lugar
destinado ao louvor. A partir de então, a religião judaica passou a ser uma
fé que pode ser praticada em qualquer lugar do mundo.
As comunidades judaicas estabelecidas nos países do Leste Europeu ficam
conhecidas por asquenazitas (netos de Noé). Os judeus do norte de África
– sefarditas – migraram para a Península Ibérica. Expulsos de lá pelo
crescente cristianismo do século XV, deslocaram-se para os Países Baixos,
Balcãs, Turquia, Palestina e, estimulados pela colonização europeia,
chegaram ao continente americano.
Depois do domínio romano, o território judeu sofreu outras invasões,
permanecendo sempre sob jurisdição estrangeira até à fundação do Estado
judaico em 1948. Por lá passaram o Império Romano do Oriente ou
Bizantino (313-636), os Árabes (636-1099), os Cruzados (1099-1291), o
Sultanato Mameluco (1291-1516), Domínio Otomano (1517-1917),
Domínio Britânico (1918-1948).
Durante o domínio Bizantino, a terra de Israel passou a ser
predominantemente cristã. Os judeus foram desapossados da sua
autonomia, do direito de exercerem cargos públicos e proibidos de
entrarem em Jerusalém, exceto uma vez ao ano – dia do Tishá BeAv – em
que iam lamentar-se da destruição do Templo. Em 614 D.C. houve um
breve domínio persa, cuja invasão foi apoiada pelos judeus, dada a sua
esperança messiânica da libertação. Como agradecimento por essa ajuda
foi-lhes outorgada a administração de Jerusalém, que durou somente três
anos, pois o exército bizantino voltou a entrar na cidade.
No final do século XI, ainda sob o domínio Árabe, a comunidade judaica
em Israel diminuiu consideravelmente e perdeu a sua coesão organizativa
e religiosa.
Quando da Primeira Cruzada, em 1099, Jerusalém é capturada e a maioria
dos habitantes não cristãos é massacrada. Entrincheirados nas suas
sinagogas os judeus defenderam o seu bairro sem sucesso, tendo sido
queimados ou vendidos como escravos.
Veio o domínio Mameluco e instaurou-se a decadência. Os centros
urbanos em ruínas, a maior parte de Jerusalém estava abandonada e a
pequena comunidade judaica empobrecida.

97
No início do domínio Otomano viviam cerca de 1.000 famílias judaicas
nas terras de Israel. Nesse período, o governo do sultão Solimão, o
Magnífico, estimulou a imigração judaica. Em meados do século XVI a
população judaica aproximava-se dos 10.000 habitantes. Depois,
instaurou-se a decadência novamente e, no século XIX, o atraso cedeu,
gradualmente, lugar ao progresso. Em 1860, foi construído o primeiro
bairro judaico fora das muralhas de Jerusalém. Nos vinte e cinco anos
seguintes surgiram mais sete, que formam o núcleo da Cidade Nova. Em
1870, a maioria da população era judaica. Surgiram povoações rurais e a
língua hebraica, restringida à liturgia e à literatura ressurgiu. Estava
preparado o cenário para o início do movimento sionista, o movimento de
libertação nacional do povo judeu, que se estabeleceu, em 1897, como
Organização Sionista. O termo provém de Sião, sinónimo tradicional de
Jerusalém e de Judeia.
Inspirados pela ideologia sionista, dois grandes fluxos de judeus da
Europa Oriental chegaram ao território no fim do século XIX e princípio
do século XX. Quando começou a Primeira Guerra Mundial, a população
judaica era de 85.000 habitantes, bastante mais do que as que aí viviam no
começo do século XVI, apenas 5.000 almas.
Em dezembro de 1917, as forças britânicas comandadas pelo general
Allenby, entraram em Jerusalém, terminando assim, o domínio otomano.
Durante a administração britânica, a imigração judaica começou a
aumentar, tendo atingido o número de 135.000 pessoas no final da década
de 30, antes da Segunda Guerra Mundial.
O renascimento nacional judaico provocou o surgimento da resistência de
árabes nacionalistas. Surtos de intensa violência tornaram-se frequentes,
em que a população judaica era alvo de ataques, e campos e viaturas
destruídos. A continuação dos distúrbios anti-judaicos levou as
autoridades britânicas a recomendar a divisão do território em dois
estados, um judeu e outro árabe. Os árabes opuseram-se energicamente a
tal plano.
Apesar das fortes restrições impostas à imigração judaica, esta continuou
ilegalmente tendo entrado 85.000 judeus entre 1945 e 1948.

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A incapacidade britânica de conciliar ambas as comunidades levou o
governo britânico a exigir que a “Questão Palestiniana” fosse levada à
Sociedade das Nações, em abril de 1947. Em 29 de novembro desse ano a
Assembleia votou favoravelmente a formação de dois estados, um judeu e
outro árabe. A comunidade Judaica aceitou e a árabe recusou, lançando
ataques, num esforço para frustrar a resolução aprovada.
Em 14 de maio de 1948, o Estado de Israel é proclamado. Nessa altura
residiam aí 650.000 judeus.

A DIÁSPORA E O REGISTO BÍBLICO


A dispersão dos judeus pelas nações e povos é profetizada no Antigo e no
Novo Testamentos. Esse facto não pode ser negado, pois, hoje em dia, os
judeus são encontrados em todo o mundo e em quase todas as nações. Por
exemplo, as seguintes palavras que Moisés proferiu há 3.500 anos,
referem-se, com exatidão, à sua Diáspora:
Vê, ofereço-te hoje, de um lado, a vida e o bem; de outro, a morte e o
mal. Recomendo-te hoje que ames o Senhor, teu Deus, que andes nos
seus caminhos, que guardes os seus preceitos, as suas leis e os seus
decretos. Se assim fizeres, viverás, engrandecer-te-ás e serás abençoado
pelo Senhor, teu Deus, na terra em que vais entrar para a possuir. Mas,
se o teu coração se alhear de mim, se não obedeceres, se te extraviares a
ponto de te prostrares diante de deuses estrangeiros para os adorares,
declaro-vos hoje que certamente morrereis, que os vossos dias não se
prolongarão na terra em que ides entrar para a possuir, depois de teres
passado o Jordão. Tomo hoje por testemunhas os céus e a terra contra
vós; coloco diante de ti a vida a morte, a felicidade e a maldição. Escolhe
a vida, e então viverás com a tua posteridade.
Mas, se não escutares a voz do Senhor, teu Deus, se não praticares todos
os seus preceitos e as suas leis que hoje te prescrevo, ...Sereis arrancados
da terra de que ireis tomar posse. O Senhor dispersar-te-á entre todos os
povos de uma extremidade à outra da terra; e ali servirás a deuses
estrangeiros, feitos de madeira e de pedra, que nem tu nem teus pais
conheceram. E, até no meio dessas nações, não encontrarás repouso
nem ponto de apoio para a planta dos teus pés. O Senhor dar-te-á ali um

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coração apavorado, fará com que os teus olhos desfaleçam e porá a
angustia na tua alma. A tua vida estará como em suspenso diante de ti.
Tremerás de noite e de dia e não acreditarás no teu próprio viver...
(Deuteronómio 30: 15-19; 28: 15, 63-66).

No NT, as palavras de Jesus também o predisseram: Virão dias para ti em


que os teus inimigos te hão de cercar de trincheiras, sitiar-te-ão e
estreitar-te-ão de todos os lados; hão de esmagar-te contra o solo, bem
como a teus filhos que estiverem dentro de ti, e não deixarão em ti pedra
sobre pedra, por não teres reconhecido o tempo em que foste visitada
(Lucas 19: 43-44). Mas quando virdes Jerusalém sitiada por exércitos, ficai
sabendo que a sua ruína está próxima. Serão passados a fio de espada,
serão levados cativos para todas as nações; e Jerusalém será calcada
pelos gentios até se completarem os tempos dos pagãos (Lucas 21: 20, 24).
Cerca de quarenta anos depois de Jesus ter dito estas palavras, o general
romano Tito foi enviado com as suas tropas para controlar uma rebelião
judaica de ordem nacionalista. A violência dos romanos, com certeza
provocada pela resistência judaica, foi tão grande que incendiaram a
cidade e destruíram o Templo. Cumpriu-se literalmente a profecia de
Jesus: e não deixarão em ti pedra sobre pedra. Posteriormente, em 132
D.C., como já foi referido, na sequência de uma nova rebelião, centenas de
milhares de judeus morreram, milhares foram levados cativos e proibidos
de entrar em Jerusalém.
Jesus falava muitas vezes por parábolas, isto é, histórias com um
significado simbólico que, por vezes, necessitavam de interpretação. Em
determinada ocasião contou a parábola da figueira, que é um símbolo
profético da nação israelita. Várias vezes Jesus referiu a figueira. Numa
das vezes amaldiçoou-a, tendo ela secado imediatamente: E vendo uma
figueira à beira do caminho, aproximou-se, mas não encontrou nela
senão folhas. Disse então: (Nunca mais nascerá fruto de ti! E, naquele
mesmo instante, secou a figueira) (Mateus 21: 19). Por que razão o fez? A
interpretação é a seguinte: tinha chegado o tempo de Israel dar fruto de
arrependimento, fé, obediência e amor. Mas Cristo, em vez desse fruto, ao
fim de três anos de ministério, encontrou orgulho, hipocrisia e uma
religiosidade adulterada. Ao amaldiçoar a figueira, Jesus profetizou o
julgamento de Deus sobre o estado espiritual de Israel, que se manifestaria
100
poucos anos depois com a diáspora. Nessa altura, os judeus sobreviventes
foram vendidos como escravos e o povo em geral foi disperso por muitas
nações. A partir do ano 70, Israel deixou de existir como nação, com um
território próprio. Os judeus procuraram sobreviver em condições de
grande adversidade.
Quando se procura a razão dos vários exílios e da diáspora, encontramos,
no AT, sempre a mesma explicação - por causa da contínua desobediência
às leis e aos mandamentos de Deus: Desde aquele dia os israelitas
saberão que eu sou o Senhor, seu Deus. Reconhecerão as nações que,
por causa das próprias faltas, Israel foi deportado, que, por causa da sua
infidelidade, eu lhes ocultei a minha face e os entreguei nas mãos dos
seus inimigos, a fim de que morressem pela espada. Ocultando-lhes a
minha face, não lhes fiz senão o que mereciam as máculas deles e as
prevaricações próprias (Ezequiel 39: 22-24).
No livro de Ezequiel, por exemplo, encontra-se o motivo da destruição de
Jerusalém e do Templo, por Nabucodonosor - a idolatria a que
secretamente se entregavam os sacerdotes de Deus. Enquanto no Templo e
publicamente diziam adorar o Criador do céu e da Terra, secretamente,
adoravam os ídolos do Egito. Em Ezequiel 8: 7-13, há uma descrição
muito viva e curiosíssima desse culto secreto: Deus ordena ao profeta que
raspe uma parede, e, quando ele o faz, aparece uma porta oculta. O profeta
entra por ela e chega a um local escondido, onde os sacerdotes do
Altíssimo e os Anciãos da casa de Israel estavam adorando os ídolos.

PROFECIAS SOBRE O PROCESSO DE RESTAURAÇÃO DE ISRAEL


O mesmo Jesus que predisse a destruição de Jerusalém e a Diáspora do
Seu povo, também profetizou que Israel regressaria à sua terra: Aprendei
a parábola tirada da figueira: Quando os seus ramos se tornam tenros e
as folhas começam a despontar, sabeis que o verão está próximo. Assim
também, quando virdes tudo isto, ficai sabendo que ele está próximo, à
porta (Mateus 24: 32, 33). São aqui preditos dois eventos futuros intimamente
ligados:
- A figueira voltaria a brotar, isto é, Israel voltaria à existência;
- O sinal de que o verão estaria próximo, isto é, que a Segunda Vinda de
101
Jesus estaria para breve.
Ezequiel foi um dos profetas do AT que profetizaram esta restauração:
…Arrancar-vos-ei dentre os povos, reunir-vos-ei fora dos países por
onde estais dispersos... Eis o que diz o Senhor Deus: Quando eu reunir
os israelitas dentre os povos, através dos quais foram dispersos,
manifestarei desta maneira a minha santidade aos olhos das nações e
habitarão a terra que eu dei ao meu servo Jacob (Ezequiel 20: 34; 28: 25).
Estas profecias cumpriram-se nos nossos dias. A restauração de Israel
ocorreu em 14 de maio de 1948, cumprindo a resolução da ONU de
29/11/1947, tomada após acesa discussão. Foi, de certo modo, uma forma
de o mundo compensar os judeus do seu terrível sofrimento nos campos
de concentração nazis durante a segunda guerra mundial.
Israel já foi politicamente restaurado: a figueira está de novo entre as
outras árvores (Lucas 21: 29). À luz da profecia, a restauração de Israel só
pode ter um significado: Jesus voltará em breve.
Israel, depois da Diáspora, a partir do ano 70 D.C., manteve-se longe da
sua terra até que, em 14 de maio de 1948, lhe foi novamente concedida
uma pátria por decisão da Sociedade das Nações, precursora da ONU. Até
essa data decorreram cerca de 1.900 anos, durante os quais o seu território
esteve ocupado pelos romanos, árabes, europeus, turcos e, por último,
britânicos. Embora entre estranhos, os judeus mantiveram a sua identidade
durante 19 séculos. Constatação interessante, uma vez que membros de
outros povos perdem a sua identidade em poucas gerações.
Eis algumas passagens bíblicas sobre a restauração de Israel: Jeremias 23:
7, 8, 19, 20; 30: 2, 3; Oseias 11: 10; Amós 9: 11-15; Joel 3: 1, 2; Isaías
66: 8. De acordo com os capítulos 36 e 37 de Ezequiel (590-570 a.C.),
haveria, primeiro, uma restauração política dos judeus na sua própria terra
e um retorno à sua identidade nacional (Ezequiel 36: 16-24): A palavra do
Senhor foi-me dirigida nestes termos: Filho do homem, quando os
israelitas habitavam no seu território, mancharam-se pela sua conduta e
pelos próprios atos: O seu procedimento era a meus olhos como
impureza mensal de uma mulher. Também sobre eles desencadeei o meu
furor, por causa do sangue que haviam derramado no país e dos ídolos
com que o profanaram; dispersei-os por entre as nações, distribuí-os

102
pelos países estrangeiros: Lá os julgarei conforme o seu procedimento e
os seus atos. Em todos os povos para onde foram, profanaram o meu
santo nome, pois se dizia deles: É o povo do Senhor; deixaram o seu
país. Eu então quis salvar a honra do meu santo nome, que os israelitas
tinham profanado entre as nações, para onde haviam ido. Por isso
declara à casa de Israel o seguinte: Eis o que diz o Senhor Deus: Não
faço isto por causa de vós, israelitas, mas para honra do meu santo
nome que haveis profanado entre os pagãos para onde fostes. Quero
manifestar a santidade do meu augusto nome que aviltastes, profanastes
entre as nações pagãs, a fim de que elas saibam que eu sou o Senhor,
oráculo do senhor Deus, quando a seus olhos tiver mostrado a minha
santidade pelo meu procedimento a vosso respeito. Retirar-vos-ei dentre
as nações, recolher-vos-ei de todos os países e vos restabelecerei em
vossa terra.

A RESTAURAÇÃO POLÍTICA DE ISRAEL


(O ESTADO DE ISRAEL)
O atual Estado de Israel pertenceu ao Mandato Britânico da Palestina.
Anteriormente fazia parte do Império Otomano. Posteriormente ao
nascimento do sionismo político, em 1897, e à Declaração de Balfour, a
Sociedade das Nações, após a Primeira Guerra Mundial, atribuiu a
administração da Palestina ao Reino Unido, com o estatuto de território
sob mandato. Embora a Grã-Bretanha a administrasse, de facto, desde
1917, o Mandato entrou em vigor em 1922 e expirou em maio de 1948,
com a fundação de Israel, dois anos depois da independência da
Transjordânia, correspondente à atual Jordânia.
A Declaração de Balfour foi redigida, em 2 de novembro de 1917, pelo
secretário britânico dos Assuntos Estrangeiros, Arthur James Balfour, e
enviada ao Lord Rothschild, onde expressa a sua vontade de conceder ao
povo judeu facilidades para povoar a Terra de Israel caso a Inglaterra
conseguisse derrotar o Império Otomano, que, até então, dominava aquela
região. A França e a Itália, aliadas de Londres na Primeira Guerra
Mundial, ratificam espontaneamente essa Declaração, acautelando deixar
o Oriente sob administração exclusiva do Império Britânico. Os EUA

103
aprovaram-na em agosto de 1918 (wiki/Declaração_de_Balfour1).
No fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo tomou conhecimento da
dimensão do Holocausto e do massacre de seis milhões de judeus pelos
nazis. Como consequência disso e de os sentimentos antissemitas ainda
estarem exaltados, um grande número de refugiados deixou a Europa para
se juntar aos judeus na Palestina. Contudo, o Mandato Britânico tinha
instituído uma política de restrição à imigração judaica. Os grupos
militantes judaicos procuraram infiltrar clandestinamente o maior número
possível de refugiados judeus na Palestina, enquanto retomavam os
ataques contra alvos britânicos e repeliam ações violentas dos
nacionalistas árabes. Com as pressões a avolumarem-se, a Grã-Bretanha
decide abrir mão da administração da Palestina e entrega a administração
da região à ONU (wiki/História_de_Israel1). O aumento dos conflitos entre
judeus, ingleses e árabes forçou a reunião da Assembleia Geral da ONU,
realizada em 29 de novembro de 1947, presidida pelo brasileiro Oswaldo
Aranda, que decidiu, através da Resolução 181, o plano da divisão da
Palestina Britânica em dois estados, um judeu e outro árabe, que deveriam
formar uma união económica e aduaneira. A cidade de Jerusalém ficaria
sob a administração direta da Organização. Este plano foi elaborado pelo
UNSCOP (United Nations Special Committee On Palestine), e destinava-
se a resolver o conflito entre judeus e árabes. Na mencionada reunião
encontravam representados 56 dos 57 países membros: 33 deles votaram a
favor, 13 contra e 10 abstiveram-se. Apenas a Tailândia esteve ausente. A
decisão foi bem recebida pela maioria das chefias judaicas, embora tenha
recebido críticas de outras organizações, por não permitir o
estabelecimento do estado israelita em toda a Palestina. Porém, os países
da Liga Árabe (Egito, Síria, Líbano e Jordânia) manifestaram-se
abertamente contra a proposta e não reconheceram essa decisão o que
conduziu à Guerra Civil de 1947-1948, também conhecida por guerra
palestino-sionista. Meses depois, em 14 de maio de 1948, algumas horas
antes do fim do Mandato Britânico na Palestina (que foi determinado pela
ONU para as 12 horas do dia 15 de maio) David Ben Gurion assinou a
Declaração de Independência do Estado de Israel. No meio do conflito já

1
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104
instaurado, é declarada a independência do Estado de Israel. Os Estados
árabes reagem imediatamente e os seus exércitos entram na Palestina.
Começava a primeira guerra árabe-israelita que ficou conhecida como a
Guerra da Independência (wiki/História_de_Israel 1).
Em janeiro de 1949, Israel realizou as primeiras eleições parlamentares e
aprovou as leis para assegurar o controle da educação, além do direito de
retorno ao país para todos os judeus. A economia floresceu com o apoio
estrangeiro e remessas particulares.
Os fatores que viabilizaram a fundação de Israel no território da Palestina
foram analisados, sob o ponto de vista da política internacional, por
Gomes, A. R. (2003). Do seu trabalho transcreve-se:
A criação de Israel, decidida na ONU, em 1947, violou os direitos fundamentais
do povo árabe palestino (70% do total da população nesse ano), garantidos pela
Carta das Nações Unidas e pelo Pacto da Sociedade das Nações, ambos fontes do
Direito Internacional, e violou o título jurídico adquirido pelos árabes através do
acordo firmado com os países da Entente, durante a Primeira Guerra Mundial, que
garantia a independência da Palestina, causando revolta generalizada no mundo
árabe, já profundamente ressentido do imperialismo ocidental na região.
Considerando a conjuntura internacional desse período, delineada pela Guerra
Fria, e considerando que os principais atores do sistema internacional tinham
consciência de que tal decisão causaria a hostilidade dos países árabes,
acarretando altíssimos custos militares, políticos e económicos, uma vez que a
Liga Árabe declarou não reconhecer uma decisão que considerava ilegal, tivemos
interesse em conhecer quais foram as expectativas de ganhos que levaram os
EUA, a ex-URSS e outros países a assumirem os riscos e os custos dessa decisão.
Várias conclusões foram obtidas. Os EUA não tinham nenhuma expectativa de
ganho com o apoio à criação de Israel, pelo contrário, esse evento acarretou
pesados custos à nação norte-americana, advertidos permanentemente pelos
Secretários de Estado e Defesa. A decisão pró-Israel foi uma iniciativa do
Presidente Truman para defender seu interesse pessoal nas eleições seguintes,
quando pretendia contar com o apoio da comunidade judaica de seu país. A
posição de Truman garantiu a forte pressão dos EUA, na forma de chantagem e
suborno, sobre vários países que sustentavam posições contrárias, na votação da
partilha, na ONU. Quanto à decisão soviética, não há uma compreensão
conclusiva. Stalin, durante muitos anos, um antagonista intransigente ao projeto


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105
sionista, surpreendeu a todos apoiando de última hora a criação de Israel, na
votação na ONU. Grande parte dos estudiosos considera que o objetivo soviético
era simplesmente prejudicar a Grã Bretanha. Aparentemente, nessa mudança de
posição momentânea, houve um equívoco nos cálculos políticos, percebido pouco
tempo depois, levando esse país a reconsiderar novamente sua posição em favor
dos árabes. Grande parte dos países de ambos os blocos assumiram simplesmente
o alinhamento automático às decisões das duas superpotências. Por último, cabe
destacar que o interesse do Brasil era permanecer alinhado com os EUA e, nesse
sentido, Oswaldo Aranha, como Presidente da Assembleia Geral, prestou um
serviço fundamental. No dia da votação, devido à avaliação de que a proposta
pró-Israel seria derrotada, Oswaldo Aranha decidiu encerrar mais cedo os
trabalhos, adiando a votação, dando, assim, aos sionistas o tempo que
necessitavam para “convencer” os países contrários, a fim de mudar seu voto.
A restauração de Israel é curiosa pois não se encontra nada de análogo na
História de qualquer outro povo, além de inexplicável, a não ser por
intervenção divina. Deus está a reunir o Seu povo, na terra que lhe
prometeu, em ritmo e número sem precedentes, não porque eles o
mereçam, mas por causa da promessa que fez a Abraão, a Isaac e a Jacob.
Tem sido um fenómeno moderno que excede em muito o êxodo original
dos seus ancestrais do Egito para a terra prometida. Cumpriu-se a Palavra
que promete o nascimento de uma nação num só dia: Quem jamais ouviu
tal coisa? Quem jamais viu coisa semelhante? Porventura nasce um
povo num só dia, nasce ao mesmo tempo uma nação inteira? (Isaías 66: 8).
O surgimento do Estado de Israel é o cumprimento parcial da profecia de
Ezequiel 36: 16-24 e o primeiro grande sinal de que estamos no ‘fim dos
tempos’. O cumprimento pleno da profecia de Ezequiel será no
estabelecimento do Reino de Cristo na Terra, com sede em Jerusalém,
durante O Milénio. Outros profetas também o declararam, como Isaías,
Jeremias, Zacarias, etc..
Por que teria essa promessa de ser cumprida nos ‘últimos dias’? A razão é
óbvia e de grande importância. A Segunda Vinda de Jesus Cristo não
poderia acontecer se não existisse território, nem houvesse domínio
judaico sobre Jerusalém. É a Jerusalém que Cristo regressará durante a
guerra do Harmaguedon, para salvar o Seu povo dos seus inimigos que
tentarão exterminá-lo (Zacarias 14: 3, 4).

106
Em 4 agosto de 2009, o primeiro ministro israelita Benjamin Netanyahu
ao discursar para centenas de novos imigrantes dos Estados Unidos e do
Canadá, que desembarcaram no Aeroporto Ben-Gurion, afirmou que, pela
primeira vez em 2.000 anos, está previsto que o número de judeus que
vivem em Israel venha a superar o número de judeus que vivem na
diáspora*. “O futuro dos judeus é aqui, na terra de Israel”, acrescentou.
Nessa mesma ocasião, Tony Gelbart, presidente e cofundador da Nefesh
**
B'Nefesh , felicitou os novos imigrantes e confessou:
As pessoas perguntam-me sempre 'Como pode explicar o fenómeno de as pessoas
decidirem imigrar para Israel e iniciarem uma nova vida?’ E eu respondo-lhes:
Existe esse conceito chamado sionismo.
A profecia de Ezequiel 36: 21, 22: Eis o que diz o Senhor Deus: Não faço
isto por causa de vós, israelitas, mas para honra do meu santo nome...
mostra que o povo israelita, no ‘fim dos tempos’, voltaria para a sua terra,
numa atitude de incredulidade. Os judeus que estão a regressar a Israel
ainda não estão a obedecer à voz de Deus, o que confirma Deuteronómio
30: 1, que declara que quando os judeus, que se encontrarem espalhados
por toda a Terra, recordarem as bênçãos e maldições e se converterem a
Deus, então dar-se-á início ao seu processo de imigração total: Quando,
pois, sobrevierem todos esses acontecimentos, a bênção ou a maldição,
que deixo à tua escolha, se os tomares a peito no meio de todos os povos
entre os quais o Senhor te tiver desterrado, e te voltares de novo para o
Senhor, teu Deus, e obedeceres à sua voz, tu e teus filhos, com todo o
seu coração, o Senhor, teu Deus, terá piedade de ti, porá fim ao teu
exílio e te juntará de novo, tirando-te do meio dos povos entre os quais o
Senhor te dispersou. Nessa época, nenhum judeu será deixado fora de
Israel: Reconhecerão que sou eu, o Senhor, seu Deus, porque depois de
os haver exilado entre os povos, os reuni na sua terra, sem por lá deixar
um único (Ezequiel 39: 28).


*
Segundo dados de 2009, Israel tinha 7,4 milhões de habitantes, dos quais, 5,5 milhões são judeus.
A Jewish Agency estimava, em 2007, em cerca de 13 milhões o total de judeus em todo o mundo.
**
Nefesh B'Nefesh é uma organização que encoraja a imigração dos judeus para Israel, a partir dos
Estados Unidos e do Canadá. Foi fundada por Rabbi Yehoshua Fass e Tony Gelbart, em 2002, e
coopera com a Jewish Agency for Israel.
107
De facto, para muitos judeus atuais, o retorno à sua terra é um mero
acontecimento casual da História sem qualquer significado profético.
Outros argumentam que Deus não os traria de volta a Israel, pois não são
dignos disso. Uma grande percentagem é ateia ou agnóstica e, exceto os
judeus Messiânicos, rejeitaram o Cristo. Muitos são humanistas
materialistas.
Na maior parte das nações ocidentais, e mesmo em Israel, muitos judeus,
secularizados, deixaram há muito de participar nos deveres religiosos,
embora mantenham o sentimento nacional. Muitos deles lembram-se de
ter tido ascendentes religiosos, embora tenham crescido em lares onde a
educação e observância religiosa judaicas já não eram uma prioridade.
Desenvolveram sentimentos ambivalentes no que toca aos seus deveres
religiosos. Por um lado, mantêm uma ligação às suas tradições por razões
de identidade, mas, por outro lado, as influências da sociedade ocidental, a
vida quotidiana e as pressões sociais tendem a afastá-los da religião.
Estudos recentes, feitos na comunidade judaica americana, indicam que
muitas das pessoas que se identificam como sendo de herança judaica já
não se identificam como membros da religião judaica. As várias seitas
judaicas nos EUA e no Canadá encaram este facto como uma situação de
crise, demonstrando também sérias preocupações com as crescentes taxas
de casamentos mistos e assimilações na sua comunidade. Contudo, nos
últimos 50 anos todas as principais seitas judaicas têm assistido a um
aumento de popularidade, com um número crescente de jovens a participar
na educação judaica, a aderir às sinagogas e a tornarem-se mais
observantes das suas tradições. Atualmente existe o movimento Ba’al
Teshuva, que engloba os judeus que regressam às práticas religiosas.
Historicamente o termo Ba'al Teshuvah refere-se a um judeu que não
seguiu a Halakhah (a Lei Judaica) e que, através de um processo de
introspeção e arrependimento, retornou ao caminho correto
(wiki/História_judaica1).

Israel tem sido rebelde desde o princípio e a sua condição atual nada tem
de diferente. Também, nem sempre tem agido com honestidade para com
os povos seus vizinhos ou para com os palestinianos. Por isso, a pior


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108
punição está por vir, durante a Grande Tribulação, que culminará na
batalha de Harmaguedon, como será abordado no subtítulo ‘Tempo de
Angústia para Jacob (A Tribulação)’.
Jeremias também profetizou para os ‘últimos dias’: Porque isto diz o
Senhor: Soltai gritos de júbilo por causa de Jacob. Aclamai a primeira
das nações. Fazei ressoar os vossos louvores, exclamando: O Senhor
salvou o seu povo, o resto de Israel. Eis que os trarei do país do Norte, e
congregá-los-ei dos confins da terra. O cego e o coxo, a mulher grávida
e a que deu à luz, virão entre eles. Será imensa a multidão que há de
voltar, e voltará em lágrimas. Conduzi-los-ei às águas correntes, por
caminhos em que não tropeçarão, porque sou como um pai para Israel,
e Efraim é o meu primogénito, Nações ouvi a palavra do Senhor! Levai
a notícia à ilhas longínquas e dizei: Aquele que dispersou Israel o
reunirá e guardará, como o pastor guarda o seu rebanho. Porque o
Senhor resgatou Jacob e libertou-o das mãos do seu dominador.
Regressarão entre gritos de alegria às alturas de Sião, e correrão aos
bens do Senhor: Ao trigo, ao vinho, ao azeite, ao pequeno rebanho e ao
gado. A sua alma será como um jardim bem regado, e a sua fraqueza
cessará (Jeremias 31: 7-12). Diz esta profecia que os judeus regressariam em
grande número e com choro: Será imensa a multidão que há de voltar, e
voltará em lágrimas... e, mais adiante, Deus declara que exultariam de
alegria quando chegassem a Jerusalém: Regressarão entre gritos de
alegria às alturas de Sião....
Se analisarmos as circunstâncias em que se deram as grandes vagas
migratórias para o território israelita, observamos que aconteceram como
consequência de guerras - e voltará em lágrimas. Entre 1948 e 1951, cerca
de 700.000 judeus emigraram para Israel, sendo dois terços deles
compostos por judeus deslocados pela Guerra na Europa e sobreviventes
do Holocausto. Jeremias 16: 14-17 também especifica: Portanto, eis que
dias vêm, diz o Senhor, em que não se dirá mais: Vive o Senhor: que fez
subir os filhos de Israel da terra do Egito, mas sim: Vive o Senhor, que
fez subir os filhos de Israel da terra do norte, e de todas as terras para
onde os tinha lançado; porque eu os farei voltar à sua terra, que dei a
seus pais. Eis que mandarei vir muitos pescadores, diz o Senhor, os
quais os pescarão; e depois mandarei vir muitos caçadores, os quais os

109
caçarão de todo monte, e de todo outeiro, e até das fendas das rochas.
Pois os meus olhos estão sobre todos os seus caminhos; não se acham
eles escondidos da minha face, nem está a sua iniquidade encoberta aos
meus olhos. Os judeus regressariam como consequência de guerras e
perseguições (caçadores), e por chamamento (pescadores); Jesus disse:
Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens (Mateus 4: 19).
Em 1989, depois da falência da Cortina de Ferro, centenas de milhares de
judeus imigraram para Israel, a partir da União Soviética que, até essa
altura, recusava deixá-los sair. Agradecidos e comovidos, chegavam ao
aeroporto Ben Gurion, em Tel Aviv, onde muitos deles beijaram o chão
quando saíam do avião, chorando de alegria.
É também de salientar a história dos judeus etíopes e do seu regresso a
Israel, descrita por Asher Naim* no seu livro. De modo breve: Durante
quase 3.000 anos, os judeus negros da Etiópia, conhecidos como falashas
(que se autodenominam Beta Israel), sofreram as mesmas descriminações
que os outros têm passado na diáspora, mantiveram a sua fé e identidade
lutando contra a fome, a seca e as guerras tribais, sem nunca terem saído
do seu local de habitação. Os membros dessa comunidade, de faces
queimadas com traços semitas, seguiam a religião judaica, observando o
Shabat, mantendo rígidas as leis rituais tal como são descritas na Tora.
Pensa-se que sejam descendentes de uma das dez tribos perdidas do tempo
do rei Salomão e da rainha de Sabá.
Em maio de 1991, protagonizaram um êxodo milagroso. Com a Etiópia
envolvida numa profunda e brutal guerra civil, 14.200 membros dessa
comunidade foram transportados de avião para Jerusalém pelas Forças de
Defesa de Israel. A Operação Salomão foi organizada pelo próprio autor
do livro e durou 25 horas. Deu continuidade à Operação Moisés,
implantada em 1985, cujo sucesso foi relativo, pois, durante três anos, só
conseguiu retirar 8.000 judeus.
Atualmente existem em Israel 80.000 falashas, permanecendo ainda na
Etiópia entre 18.000 e 26.000.


*
Diplomata israelita, que serviu como adido cultural no Japão e nos Estados Unidos e como
embaixador na ONU, Finlândia, Coreia do Sul e Etiópia.
110
Outras ondas de imigração foram efetuadas por via aérea e receberam
nomes especiais:
- Operação Tapete Mágico, cujo piloto-chefe foi Robert Maguire que
levou, em 380 voos secretos, grande parte dos 50 mil judeus do Iémen.
Decorreu entre 18 de novembro de 1949 e 24 de setembro de 1950.
Maguire também transportou milhares de judeus da China, do Iraque e do
Irão para Israel, antes de ser encarregue desta Operação.
- Operação Esdras e Neemias. Os judeus iraquianos receberam permissão
para deixar o país no prazo de um ano, com a garantia de preservação da
sua cidadania. Entretanto, foram congeladas as propriedades dos que
emigraram e foram impostas restrições económicas àqueles que optaram
pela permanência no país. Entre 1950 e 1951, 104 mil judeus foram
retirados do Iraque, por via aérea. Outros 20 mil saíram clandestinamente
através do Irão.

Plano de Partilha de 1947 Mapa da fronteira


Azul – israelitas; Vermelho - árabes pós-guerra da independência
(Fonte: http://www.palestinalivre.org/taxonomy/term/12) (Fonte: M. Bard. The 1948 War)

111
Quem conhecer as profecias de Isaías e souber destas operações, lembrar-
se-á com certeza de uma para os ‘tempos do fim’: Quem são estes que
voam como as nuvens, como as pombas que voltam ao seu pombal? (Isaías
60: 8):

A seguir à Segunda Guerra Mundial, entre 1948 e 1952, deu-se uma


imigração maciça proveniente da Europa e dos países árabes.
Durante as décadas de 80 e 90, do séc. XX, Israel absorveu mais de 1
milhão de imigrantes.
Embora ameaçados pelos inimigos, têm sido bem sucedidos, pois a terra
que já foi deserta é novamente produtiva, vejam-se as profecias de
Ezequiel 36: 35, 36: Dir-se-á: Esta terra que estava devastada, tornou-se
como que um jardim do Éden! Estas cidades em ruínas, desertas e
assoladas, estão agora restauradas e repovoadas. Então as nações, que
permaneceram à vossa volta hão de saber que eu sou o Senhor que
reconstruí o que estava derrubado, cultivei o que estava inculto. Sou eu
o Senhor que o digo e fá-lo-ei. Contudo, a paz não será efetiva antes da
vinda de Cristo.
O atual território judeu ainda não corresponde à totalidade prometida por
Deus a Abraão e à sua descendência (Génesis 15: 18), na qual a extensão da
terra iria do Egito até ao rio Eufrates (atual Iraque). Essa promessa quase
se cumpriu no reinado de Salomão: Salomão dominava sobre todos os
reinos, desde o rio Eufrates até à terra dos filisteus e até à fronteira do
Egito. Estes reinos pagavam tributo e ficaram-lhe sujeitos durante todo
o tempo da sua vida. ...Salomão dominava sobre todo o país que estava
além do rio Eufrates e sobre todos os reis dessas regiões, desde Tafsa até
Gaza e teve paz com todos os povos vizinhos (1 Reis 4: 21, 24). Os judeus
tomarão posse dela quando, após a batalha do Harmaguedon, Cristo
instaurar o Seu Reino Milenar a partir de Israel. Ficarão na posse de um
território cerca de dez vezes maior do que têm hoje. As fronteiras
englobarão metade do Egito, todo o atual Estado de Israel, o Líbano, a
Síria, a Jordânia, metade do Iraque e quase a totalidade da Arábia Saudita:
Então as nações, que permaneceram à vossa volta hão de saber que eu
sou o Senhor que reconstruí o que estava derrubado, cultivei o que
estava inculto. Sou eu o Senhor que o digo e fá-lo-ei (Ezequiel 36: 36).

112
Os profetas do AT referiram também que o povo judeu é o escolhido e que
Deus tem um destino para ele e para a terra que lhe deu. O NT também
declara esse facto. Como já mencionei, Israel é hoje considerado, em
termos do ‘fim dos tempos’, o relógio de Deus, pois os acontecimentos
que aí se vão dando mostram a aproximação da volta do Messias.
Em conclusão, durante a atual era (da Igreja) estão a cumprir-se profecias
específicas relacionadas com o plano profético de Deus para Israel, onde
se incluirá o reconhecimento, por parte do povo israelita, de que Jesus
Cristo é o Messias prometido e não reconhecido quando da Sua primeira
vinda como Salvador (Zacarias 12: 10). Por exemplo, a destruição profetizada
de Jerusalém e do seu Templo, que aconteceu em 70 D.C., é relativa a
Israel (Mateus 23: 28; Lucas 19: 43-44; 21: 20-24). No v. 24 foi também profetizada a
última diáspora desse povo, que terminará completamente quando se
completarem os tempos dos pagãos. Que acontecimento profético está
associado a esta afirmação de Jesus? O facto de Jerusalém se encontrar
novamente sob domínio judaico é sinal de que o tempo dos pagãos está a
terminar. Isto acontecerá quando Cristo voltar e derrotar o Anticristo
durante a guerra do Harmaguedon, salvando o Seu povo da destruição e
instaurar o Seu Reino Milenar, com sede na santa cidade.

O CAMINHO PARA A PAZ


Depreende-se, da atual situação, não restar outra alternativa a Israel senão
seguir o rumo de uma paz negociada. Um dos problemas a resolver nesse
conflito tem a ver com os refugiados palestinianos, problema que se
arrasta há mais de 50 anos. A rejeição árabe do plano de partilha, contido
na Resolução N.º 181, da Assembleia Geral da ONU, de 1947 e a guerra
daí resultante, quando da declaração da independência de Israel, em 1948,
está na base da sua existência. Com a vitória de Israel, a maioria desses
refugiados, cerca de 750.000, foi proibida de voltar para as suas terras.
Entretanto, parte foi expulsa de alguns países árabes, como a Jordânia.
Sem ter para onde ir, muitos fixaram-se sul do Líbano onde permanecem
em campos de refugiados até hoje.
Também nessa época, os judeus que viviam nos territórios árabes e que
foram expulsos sem receberem qualquer compensação pelos bens aí
deixados, atingiram um número equivalente ao dos refugiados árabes,
113
cerca de 700.000.
Segundo a versão israelita, a responsabilidade pela tragédia dos refugiados
palestinianos é dos líderes árabes, por terem lançado a guerra contra a
independência de Israel, bem como dos próprios refugiados, por terem
fugido das suas casas. De acordo com a versão árabe, Israel é culpado por
tê-los expulsado à força e com crueldade. Existe alguma verdade em
ambas as versões. No entanto, Israel não se opõe ao seu regresso desde
que se instalem na Faixa de Gaza ou na Cisjordânia; os palestinianos, por
outro lado, exigem que os refugiados tenham o direito de retornar
inclusive, se assim o quiserem, para o território israelita. Israel não aceita,
tendo em atenção que são cerca de 4 milhões e que já vivem no território
judaico 6 milhões de habitantes, sendo 1 milhão destes árabes-israelitas.
As outras questões são Jerusalém, as fronteiras definitivas e os colonatos
judaicos nos territórios ocupados.

Guerras e Outros Conflitos:


A Guerra da Independência ou a Primeira Guerra árabe-israelita, teve
início com a retirada dos ingleses da Palestina e a Independência de Israel,
em 1948. Com o apoio do Egito, Jordânia, Líbano, Síria e Iraque, os
bairros e as cidades judaicas foram atacados. Terminou em 1949, saindo
Israel vencedor e conquistado cerca de 75% do território que seria
destinado aos palestinianos, bem como a parte ocidental da cidade de
Jerusalém. Deu-se a evasão de árabes palestinianos e a invasão da Faixa
de Gaza pelo Egito, e da Cisjordânia pela Transjordânia posteriormente
designada Jordânia. O plano inicial da ONU (Resolução 181), que previa o
estabelecimento de dois estados, um judaico e outro árabe, não foi aceite
pelos árabes, estando na origem do conflito.
Em 1956 dá-se a Guerra do Suez, após o bloqueio do Canal do Suez, por
parte do Egito, a navios israelitas.
Em 1967, Israel é novamente atacado por países vizinhos e deu-se a
Guerra dos Seis Dias. Israel conquistou o Sinai, a Faixa de Gaza, a
Cisjordânia e os Montes Golã. Em junho desse ano Jerusalém foi
reunificada e Israel passou a ter acesso ao Muro das Lamentações, o atual
local mais sagrado da religião judaica. O fracasso dos Estados Árabes
114
nesta guerra levou à criação e envolvimento de organizações árabes não-
estatais no conflito, sendo a mais importante a Organização para a
Libertação da Palestina (OLP).
Entre o final da década de 60 e início da década de 70, do século passado,
grupos palestinianos lançaram ataques contra alvos israelitas em vários
pontos do mundo, onde se inclui o massacre de atletas judeus nos Jogos
Olímpicos de verão, de 1972, em Munique, Alemanha. Israel reagiu com a
Operação Cólera de Deus, no decurso da qual foram executados os
responsáveis pelo massacre.
Entre 1968 e 1970 houve a Guerra de Desgaste do Egito contra Israel, com
ações estáticas esporádicas ao longo do Canal de Suez, que aumentaram
gradualmente até chegar a ser uma guerra total limitada.
Em 6 de outubro de 1973, durante o feriado de Yom Kipur, Israel é atacado
por uma força conjunta de tropas da Síria e do Egito apoiadas pela
Jordânia que deu origem à Guerra do Yom Kipur. O ataque surpresa abre
duas frentes de combate e impõe grandes perdas ao exército israelita. A
contraofensiva teve alguma demora, mas em algumas semanas consegue
repelir o ataque e pressionar os exércitos árabes. Novamente os EUA e a
União Soviética impõem a Israel um recuo. Mesmo assim Israel vence a
guerra. Os árabes derrotados descobrem no petróleo uma arma de guerra:
usando a OPEP, boicotam o fornecimento aos países que apoiaram Israel e
provocam o pânico mundial com o aumento do preço dos seus derivados.
A crise económica global que sucedeu ao boicote gerou uma onda de
antipatia contra Israel.
Em 1981, Israel bombardeou o reator nuclear Osirak, no Iraque, durante a
chama Operação Ópera, com fim de o desabilitar. Havia a suspeita de que
o Iraque pretendia utilizar este reator para o desenvolvimento de armas
nucleares.
Em 1982, através da ‘Operação Paz para a Galileia’, Israel interveio na
Guerra Civil Libanesa, para destruir as bases da OLP que, em resposta,
lançou mísseis contra o norte de Israel (wiki/Israel). Este conflito veio a
resultar na Guerra do Líbano de 1982. Ocorreu nesta altura o massacre de
Sabra e Shatilla, campos de refugiados palestinianos localizados numa
área controlada pelo exército israelita, perpetrado por milícias cristãs das

115
Forças Libanesas, após o assassinato do Presidente do país Bachir
Gemayel. O Knesset, Parlamento de Israel, considerou Ariel Sharon,
Ministro da Defesa do país, responsável pelo massacre por ter falhado na
proteção dos refugiados. O número de vítimas foi elevado, mas Sharon
negou qualquer responsabilidade. Contudo, como consequência das
repercussões do massacre, foi demitido do cargo que detinha na época.
Israel retirou a maior parte das suas tropas do Líbano, em 1986, mas
manteve uma zona de segurança até 2000.

Mapa atual de Israel


(Fonte: Wikipedia Commons)

Em 1987, inicia-se uma grande violência (‘a revolta das pedras’ - Intifada)
nos territórios ocupados e no setor árabe de Jerusalém. Ao longo de seis
anos, foram mortas mais de mil pessoas, muitas das quais por atos internos
de violência dos palestinos.

116
Em 1988, Yasser Arafat declarou o Estado Palestiniano, que foi
reconhecido pelo Brasil, Argentina e Uruguai, de acordo com as fronteiras
de 1967.
Em 1991, Israel é atacado por mísseis SCUD, provenientes do Iraque e dá-
se início à Guerra do Golfo.
Em 1994, dá-se o Massacre do Túmulo dos Patriarcas, quando Baruch
Goldstein, colono israelita, membro do movimento de extrema-direita
Kach, abriu fogo contra palestinianos muçulmanos desarmados que
rezavam na da Mesquita Ibrahim, situada no Túmulo dos Patriarcas, em
Hebron, Cisjordânia. Este ato hostil, a continuação da construção dos
colonatos judaicos e a deterioração das suas condições económicas levam
a que os Estados Árabes deixem de apoiar os Acordos de Paz que estavam
a ser implementados. Por outro lado, o apoio da opinião pública israelita
aos referidos Acordos também diminuiu, quando Israel foi atingido por
ataques suicidas palestinianos. Em novembro de 1995, Yitzhak Rabin é
assassinado por um militante de extrema-direita judeu.
Em 1996 dá-se a escalada do terrorismo árabe fundamentalista contra
Israel.
Em 2000, após o colapso das negociações de Camp David, começa uma
nova onda de violência, a Segunda Intifada.
Em 2006, no dia 12 de julho, estala a Segunda Guerra do Líbano, na
sequência de um ataque da milícia Hezbollah, que vitimou nove soldados
israelitas. Israel invadiu o Líbano pelo Sul, infligindo pesadas perdas
militares, económicas e humanas a esse país. Os ataques do Hezbollah
também vitimaram dezenas de soldados israelitas e provocaram o êxodo
de milhares de cidadãos israelitas das cidades situadas no Norte de Israel,
além de sérios danos económicos.
A intervenção militar no Líbano durou cerca de um mês e teria vitimado
cerca de 120 israelitas (a maioria soldados) e mais de 1.000 libaneses (a
maioria civis). Foi negociado um cessar-fogo mediado pelos EUA e pela
França, com a promessa da entrada de tropas internacionais na zona ao Sul
do rio Litani e o fim dos ataques mútuos entre o Hezbollah e Israel.

117
Em 2008, após foguetes serem disparados a partir da Faixa de Gaza,
controlada pelo Hamas, terminou o cessar-fogo entre o Hamas e Israel.
Israel respondeu com uma série de ataques aéreos.
Em janeiro de 2009, as tropas israelitas entraram em Gaza marcando o
início de uma ofensiva terrestre.

Processo para a Paz:


Acordos de Camp David – são assinados em 1978, constituindo um marco
para a paz tão esperada no Médio Oriente e uma promessa de autogoverno
palestiniano.
Tratado de Paz Israelo-Egípcio - firmado em 1979, levou a várias
iniciativas por parte de Israel e de outros países, no sentido de promover o
processo de paz no Médio Oriente.
Conferência de Paz de Madrid, em outubro de 1991. Foi convocada na
sequência do Tratado de Paz Israelo-Egípcio, pelos Estados Unidos e pela
União Soviética, e assistiram além de Israel, a Síria, o Líbano, a Jordânia e
os Palestinianos.
Acordos de Oslo I – Em 1993, as delegações de Israel e Jordano-
palestiniana chegam a um acordo que abriu as portas a um reconhecimento
do Estado de Israel, à autonomia da Cisjordânia e Gaza, e ao futuro
estatuto de Jerusalém. Este documento regularia as relações entre as duas
partes durante um período de cinco anos de negociações.
Tratado de Paz Israelo-Jordano – é assinado em 1994.
Acordos de Oslo II – Em 1995 é assinado o acordo que regulava e estendia
o regime de autonomia na Cisjordânia.
Protocolo da retirada de Hebron – em 1997, sob o mandato de Netanyahu
foi implementada a retirada israelita da cidade de Hebron, na Cisjordânia.
Acordo (Memorando) de Wye Plantation – em 1998, Israel comprometeu-
se a ceder mais 13% do território cisjordano.
Memorando de Sharm el-Sheikhh – em 1999, Israel e a OLP
comprometem-se a implementar todos os acordos firmados desde 1993,
nos Acordos de Oslo.

118
Comunicado Trilateral (Camp David) – em 2000, o Presidente dos EUA
Bill Clinton, o Primeiro Ministro israelita Ehud Barak e o presidente da
Autoridade Palestiniana Yasser Arafat reuniram-se em Camp David.
Durante a cimeira, Barak apresentou um plano para a constituição de um
Estado palestiniano na Faixa de Gaza e 91% da Cisjordânia. Em
contrapartida Israel ficaria com o controlo de todas as fronteiras e
principais cursos de água, e anexaria, definitivamente, 12% do Vale do
Jordão, a região mais fértil da Cisjordânia. Reservava-se ainda o direito de
permanecer entre 12 a 30 anos noutros 10% dessa região. Yasser Arafat
rejeitou o plano e exigiu, como pré-condição para a continuação das
negociações, a retirada de Israel para as fronteiras de junho de 1967.
Contudo, no comunicado final, os três líderes declararam comprometer-se
em avançar com as negociações, com base na Resolução 242 e 338 do
Conselho de Segurança das Nações Unidas, para pôr termo a décadas de
conflitos e chegar a uma paz justa e duradoura.
Durante o seu mandato, Ariel Sharon dirigiu a construção do Muro da
Cisjordânia, que se iniciou em 2002, e realizou a Retirada Unilateral da
Faixa de Gaza, em 2005.
Iniciativa Árabe de Paz (Plano Saudita – Libanês) – em 2002, o Conselho
de Estados Árabes reafirmaram que uma paz justa e global no Médio
Oriente era uma opção estratégica para os países árabes e requeria um
compromisso semelhante por parte de Israel.
Roteiro para a Paz (Road Map) – em 2003, a Administração dos EUA
anunciou oficialmente um roteiro para uma solução permanente de dois
Estados no conflito israelo-palestiniano. Este documento foi aprovado
pelos mediadores para o Médio Oriente que constituem o Quarteto, os
Estados Unidos, a União Europeia (UE), a Rússia e a ONU. Foi depois
aprovado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, na sua
Resolução 1515. Esta proposta estabelece, claramente, as fases, os prazos
e os pontos de referência para o recomeço das negociações entre Israel e a
Autoridade Palestiniana, e prevê a criação de um Estado Palestiniano
independente na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. A criação desse Estado
está vinculada à realização, em três fases, de algumas condições:
1) A reorganização dos serviços de segurança da Autoridade Palestiniana
em três organismos sob autoridade de um Ministro do Interior que
119
combatesse efetivamente o Hamas, a Jihad Islâmica e as Brigadas dos
Mártires de Al-Aqsa, e eventualmente, outros grupos que aparecessem na
região; o desmantelamento dos colonatos israelitas construídos depois de
março de 2001 e a retirada progressiva das tropas israelitas dos territórios
ocupados;
2) A criação de um Estado Palestiniano independente e a realização de
uma conferência internacional sobre o ‘Roteiro para a Paz’;
3) Terminar definitivamente o conflito com um acordo final sobre as
fronteiras, o estatuto de Jerusalém e o futuro dos refugiados e colonatos
israelitas.
Estes últimos aspetos deveriam ter acontecido até 2005, bem como os
Estados árabes terem firmado acordos de paz com Israel.
Contudo, o ‘Roteiro para a Paz’ continuou ineficaz: Israel exige que a
violência palestina seja controlada antes de começar a implementar a sua
parte do acordo e os palestinianos afirmam que é impossível reduzir os
níveis de violência se as cidades continuarem tomadas e as incursões
israelitas prosseguirem. Israel decidiu desocupar a Faixa de Gaza, mas
mesmo assim, continua a não haver qualquer possibilidade de negociações
de paz.
Acordos de Genebra – Em 2003, acordo não oficial delineado por
indivíduos da esquerda israelita e palestinianos próximos da Autoridade
Palestiniana, sob a direção do trabalhista e ex-ministro da Justiça israelita
Yossi Beilin e do assistente de Yasser Arafat Yasser Abed Rabbo. Este
acordo não foi aceite por amplos setores palestinianos.
Plano de Retirada – Em 2004, o primeiro Ministro Ariel Sharon anunciou
a sua intenção de retirar unilateralmente as forças israelitas de Gaza e da
parte norte da Cisjordânia. Permite reduzir as pressões internacionais
sobre Israel e as fricções com os palestinianos.
Conferência de Annapolis – Em novembro de 2007, uma reunião
internacional foi convocada para base naval dos EUA em Annapolis,
Maryland, com o objetivo de reativar o processo de paz para o Médio
Oriente. Após várias reuniões bilaterais entre o presidente palestiniano
Mahmoud Abbas e o Primeiro Ministro israelita Ehud Olmert, o
Presidente dos EU pediu uma reunião internacional de representantes das
120
nações que apoiam uma solução de dois Estados. Neste encontro, o
primeiro ministro de Israel, Ehud Olmert, e o presidente palestino,
Mahmoud Abbas, comprometeram-se a fazer tudo o fosse necessário para
chegar a um acordo de paz até ao final de 2008.
Em abril de 2008, o presidente sírio Bashar al-Assad, numa entrevista a
um jornal do Qatar, disse que a Síria e Israel tinham estado a discutir um
tratado de paz de um ano, com a Turquia como mediador. Esta informação
foi confirmada por Israel, em maio de 2008.
Desde essa altura, mantém-se o impasse nas negociações de paz para o
Médio Oriente. Mas a esperança no seu estabelecimento continua viva.
Assim, em 4 de março de 2010, quando o enviado especial do governo dos
Estados Unidos para o Médio Oriente, George Mitchell, estava na região
para se encontrar com líderes israelitas e palestinianos, o ministro dos
negócios estrangeiros de Israel, Avigdor Lieberman, pouco antes de se
encontrar com Mitchell, afirmou:
Nós temos que ser realistas, não conseguiremos chegar a um acordo em temas
centrais e emocionais, como Jerusalém e o direito de retorno (de refugiados
palestinos) (...) Eu serei bem claro, estes são conflitos que não foram
completamente resolvidos e as pessoas aprenderam a conviver com isso (BBC
celular).
Para Lieberman, as duas partes deveriam buscar um acordo provisório de
longo prazo que ‘garanta a prosperidade e a estabilidade’, deixando as
questões mais difíceis para depois.
Posteriormente, em 19 de março, para marcar um recomeço das
negociações indiretas de paz para a região, o Quarteto reunido em
Moscovo emitiu uma declaração clara em que afirma que quer o
congelamento da colonização israelita nos territórios palestinianos:
o Quarteto apela ao Governo de Israel para congelar toda a sua atividade para a
construção de novos colonatos e para desmantelar os colonatos construídos desde
março de 2001 e a abster-se de demolir edifícios e de desalojar gente em
Jerusalém Oriental (Jornal Digital).
Contudo, aquelas negociações estavam ameaçadas pelos planos de Israel
em construir 1.600 novas casas para colonos judeus em Jerusalém
Oriental. Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, afirmou que o objetivo

121
do Quarteto era abrir caminho a um acordo ‘num prazo de dois anos’ e
exprimiu o desejo de que Jerusalém ‘vir a ser a capital de dois estados’.
O presidente palestiniano Mahmoud Abbas declarou à imprensa ter ficado
satisfeito com as conclusões do Quarteto, mas advertiu que
o mais importante é que Israel cumpra o apelo para retomar o processo de paz
porque a colonização e o estatuto de Jerusalém são os maiores obstáculos
(euronews).
Por outro lado, o chefe da diplomacia israelita já deitou por terra qualquer
concessão. O ultranacionalista Avigdor Lieberman avisou que o apelo do
Quarteto
afasta as perspetivas de paz porque impõe regras e um calendário irrealista para a
criação de um Estado palestiniano (euronews).
Hillary Clinton, secretária de Estado norte-americana, em 22 de março de
2010, discursando numa reunião do American Israel Public Affairs
Committee - AIPAC*, após o momento turbulento nas relações EUA /
Israel, afirmou:
A administração Obama tem um compromisso sólido como pedra para com a paz
e a segurança de Israel.
De seguida, identificou a política de Israel de expandir os colonatos
judaicos em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia como obstáculo ao
progresso de paz, algo capaz de colocar em risco os esforços dos EUA
para levar Israel e os palestinianos de volta à mesa de negociações e
continuou:
As novas construções em Jerusalém Oriental ou na Cisjordânia prejudicam a
confiança mútua e colocam em risco as conversações de proximidade, que são o
primeiro passo em direção às negociações plenas que os dois lados querem e
necessitam. Elas expõem divergências entre Israel e os Estados Unidos, algo que
outros na região podem querer explorar. E isso prejudica a capacidade singular da
América de exercer um papel no processo de paz, papel esse que, vale
acrescentar, é essencial. A visão de Washington é de que o status quo entre Israel
e os palestinianos é insustentável e está a complicar muitos outros objetivos
políticos dos EUA na região, incluindo os seus esforços para conseguir formar

*
AIPAC – organização americana pró-Israel constituída por democratas, republicanos e
independentes.
122
uma frente unida contra o programa nuclear iraniano, mas a dinâmica da
demografia, da ideologia e da tecnologia vai acabar por impor mudanças políticas.
Existe um outro caminho. Um caminho que conduz à segurança e prosperidade
para todas as pessoas da região. Esse caminho vai exigir que todas as partes,
incluindo Israel, façam escolhas difíceis, mas necessárias (Terra).
A Cimeira Anual da Liga Árabe, que se realizou na Líbia, em 27 e 28 de
março de 2010, foi dominada pelo processo de paz no Médio Oriente. O
seu secretário-geral, Amr Moussa deixou a mensagem de que as
negociações de paz entre palestinianos e israelitas estão num ponto de
rutura.
O presidente da Autoridade Palestiniana rejeita qualquer hipótese de
negociação com Israel, enquanto o país não suspender a construção de
colonatos em Jerusalém Oriental.
A solução de Jerusalém como capital dos dois Estados parece cada vez
mais difícil, depois de Netanyahu se ter referido à cidade unificada como
capital do país. O chefe de Governo turco disse não fazer sentido
considerar Jerusalém a capital indivisível do Estado israelita. Recep Tayip
Erdogan foi mais longe e defendeu que esta posição vai conduzir Israel ao
isolamento.
Moussa declarou ser preciso estar preparado para o que possa vir e alertou
para a necessidade de estudar todas as possibilidades, inclusive o fracasso
do processo de paz. Recuperar uma iniciativa apresentada pela Arábia
Saudita e pela Liga Árabe, em 2002, é uma das possibilidades. Esta
proposta prevê a normalização das relações dos países árabes com o
Estado judaico. Em contrapartida, exige a retirada de Israel dos territórios
ocupados (euronews).

O TRATADO DE PAZ E A PROFECIA


Israel, representado tanto por governos de esquerda quanto de direita, já
declarou inúmeras vezes, através de propostas concretas, o seu desejo de
alcançar uma paz definitiva e duradoura com os seus vizinhos árabes e
com os palestinos, baseada na coexistência e no respeito mútuo dos
direitos e aspirações nacionais de todas as partes.
O conflito do Médio Oriente, no seu início, não foi causado pela recusa

123
judaica de que um Estado judeu convivesse lado a lado com um Estado
palestiniano, mas sim pela posição árabe de não admitir a existência de um
Estado judeu. A Guerra da Independência é disso o primeiro exemplo.
Assim, a aceitação de uma paz baseada na coexistência não é nova para os
israelitas. Contudo, também é evidente que o comportamento israelita para
com os seus vizinhos não tem sido nada exemplar.
Devido à própria história deste conflito, ao ódio acumulado entre as partes
e às condições exigidas para a construção de uma paz duradoura, o Estado
palestiniano só pode ser estabelecido num contexto de paz negociada,
onde a mútua aceitação seja explícita e regulamentada.
Contudo, essas expectativas positivas jamais mudarão a Palavra profética,
uma vez que Israel se afastou de Deus. A paz definitiva só será alcançada
quando Cristo regressar. Contudo, antes disso acontecer, a profecia de
Daniel (9: 20-27) das Setenta Semanas, dirigida a Israel, menciona que na
70.ª, ele concluirá uma sólida aliança com um grande número, por uma
semana (sete anos). Ou seja, aquele que virá a ser eleito governante
mundial e que, posteriormente, demonstrará ser o Anticristo, concluirá um
pacto de paz entre Israel e os seus inimigos, ‘muitos’. Observe-se que o
governante mundial não vai ‘assinar’, mas ‘concluir’ um tratado de paz.
Na verdade, os três tratados assinados até agora não têm funcionado,
estando à espera dessa ‘confirmação’, para que sejam discutidas e
resolvidas as questões mais sérias do conflito israelo-árabe e, finalmente,
alcançados os objetivos num período de sete anos. Começará então a
Tribulação, período que corresponde ao julgamento futuro sobre a Terra.
Este período tem início com as pessoas que não crerão em Cristo nem na
mensagem do Evangelho, onde se incluem os judeus, que vão ter que
passar pelo fogo. É assim, porque, quando se der o Arrebatamento, serão
retiradas da Terra as que farão parte da Igreja ou corpo de Cristo.
Este tratado de paz será o único que estabelecerá uma paz efetiva, mas que
só durará três anos e meio: ao meio dessa semana fará cessar o sacrifício
e a oblação e, sobre a asa (do templo) estará a abominação, causando a
ruína, e isto até que a destruição decretada se estenda sobre o
devastador (Daniel 9: 27), isto é, os judeus passarão a ser perseguidos e
mortos pelo regime mundial até à Segunda Vinda de Jesus Cristo.

124
Com certeza que o problema de Jerusalém, tal como no presente, manter-
se-á futuramente, pois no fim desse período haverá uma guerra mundial
por causa dessa cidade: ...todos os povos da terra se juntarão contra ela.
Naquele dia, o Senhor protegerá os habitantes de Jerusalém. ...Naquele
dia, procurarei exterminar todos os povos que vierem contra Jerusalém
(Zacarias 12: 3, 8, 9). Mais adiante será pormenorizado este processo.

Jesus disse: Eu vim em nome de meu Pai e não me recebeis; mas se vier
outro em seu próprio nome, recebê-lo-eis (João 5: 43). Parece, pois, que
Israel está a caminho de se tornar parte integrante do último império que
virá, inevitavelmente, como consequência da globalização - o governo
planetário - e aceitará o seu dirigente, futuro Anticristo, como o seu
salvador.
E porquê? Como se sabe, os judeus anseiam pela paz. Esse desejo baseia-
se na promessa bíblica do Reino de David. Nele, o Messias, o Príncipe da
Paz, descendente de David sentar-se-á no Trono e reinará sobre o povo
judeu, bem como sobre todas as nações. Israel esperava um governo
essencialmente político, que o livrasse dos seus inimigos. Foi por esse
motivo que interrogaram Cristo: Estavam todas reunidos, quando lhe
perguntaram: Senhor, é agora que vais restaurar o reino a Israel?
Respondeu-lhes: Não vos compete saber os tempos nem os momentos
que o Pai fixou com a sua autoridade (Atos 1: 6, 7). Essa mesma aspiração
está bem patente na afirmação de dois dos discípulos, no caminho de
Emaús, que mostraram a sua deceção, pois Cristo havia morrido e nós
esperávamos que fosse ele quem libertasse Israel (Lucas 24: 21).
O mundo não compreende as profecias sobre o direito de Israel ao seu
território, não as respeita nem honra Deus. Bem pelo contrário, em grande
parte, insiste na vontade de varrer Israel do mapa. O próprio povo judeu,
na sua maioria, não crê que Deus lhe tenha dado novamente a posse da
terra.

O ARREBATAMENTO
Relativamente à vinda de Jesus Cristo para arrebatar a Sua Igreja, importa
esclarecer o que a distingue do Seu regresso pessoal, no fim da
Tribulação. Eis algumas das particularidades:

125
a) O Arrebatamento acontecerá quando o Senhor vier buscar os Seus
santos: Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, ter-
vo-lo-ia dito, pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu tiver ido e vos
tiver preparado um lugar, virei outra vez e levar-vos-ei comigo, para
que, onde eu estiver, estejais vós também (João 14: 2, 3). Na Sua Segunda
Vinda, regressará com os salvos ou santos, anteriormente arrebatados:
Também Henoc, o sétimo patriarca depois de Adão, profetizou a respeito
deles dizendo: Eis que veio o Senhor com milhares dos seus santos para
julgar a todos e confundir todos os ímpios por causa das obras de
impiedade que cometeram e por causa de todas as palavras duras que
proferiram contra ele os pecadores ímpios (Judas 14); Então aparecerá o
Senhor, meu Deus, com todos os santos (Zacarias 14: 5);
b) No Arrebatamento, Cristo aguardará os Seus santos nos ares: Depois,
nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles
sobre as nuvens; iremos ao encontro do Senhor nos ares e assim
estaremos para sempre com o Senhor (1 Tessalonicenses 4: 17). Este evento
dar-se-á num momento: Num momento, num abrir e fechar de olhos, ao
som da última trombeta, pois ela há de soar, os mortos ressuscitarão
incorruptíveis e nós seremos transformados (1 Coríntios 15: 52). Na Sua
Segunda Vinda, surgirá pessoal e visivelmente, pois todos O verão: Ei-lo
que vem sobre as nuvens e todos os olhos o verão, até mesmo os que o
trespassaram; todas as tribos da terra se lamentarão por causa dele.
Sim! Amem (Apocalipse 1: 7). Descerá no Monte das Oliveiras, pois virá livrar
Israel da destruição, durante a batalha do Harmaguedon (Zacarias 14: 4, 5).
c) No Arrebatamento virá para salvar os Seus santos do período de
Tribulação: e esperardes do céu o seu Filho que ressuscitou dos mortos,
Jesus, o qual vos livrou da ira futura (1 Tessalonicenses 1: 10); na Sua
Segunda Vinda julgará as nações, os que O rejeitaram: Da sua boca sai
uma espada aguda, com a qual ferirá as nações; governá-las-á com
cetro de ferro e pisará no lagar o vinho da ardente ira do Deus Todo-
Poderoso (Apocalipse 19: 15; ver também Mateus 25: 31, 32).
d) O Arrebatamento dar-se-á sem sinais prévios, a qualquer momento,
enquanto a Sua Segunda Vinda pessoal será antecedida de eventos
descritos nas Escrituras: Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; e, na
terra, angústia entre as nações aterradas com o bramido e agitação do
126
mar... (Lucas 21: 25-27; Mateus 24: 29, 30), e só se dará cerca de 7 anos
depois do Arrebatamento. Em conclusão, o Arrebatamento está ligado à
Igreja enquanto que a Sua Segunda Vinda está ligada ao Seu Plano para
Israel e para o Mundo, sendo cumpridas todas as Alianças.

TEMPO DE ANGÚSTIA PARA JACOB


(A TRIBULAÇÃO)
Da informação bíblica pode-se inferir que Israel não confia na Palavra do
Deus de Abraão, Isaac e Jacob. Israel quer ser como os outros povos e
esquece-se das Suas promessas e advertências. Por isso, sente medo e
vacila. Quais as consequências desse comportamento? O Tempo de
Angústia para Jacob ou Tribulação que lhe sobrevirá: Ai! Nenhum dia
se assemelha a este! É um tempo de tribulação para Jacob, mas do qual
será salvo (Jeremias 30: 7).
O AT, os Evangelhos e o Apocalipse contém bastantes referências acerca
deste período de sete anos. Qual a razão disso? A resposta pode parecer
pouco aceitável para quem não crê, pois tem a ver com o amor de Deus.
Importa esclarecer que tem início com as pessoas que não crerão em
Cristo e na mensagem do Evangelho, onde se incluem os judeus, que vão
passar pelo fogo. É assim porque, no Arrebatamento, que se dará antes
desse período, serão retiradas da Terra as que farão parte da Igreja ou
Corpo de Cristo. Relembra-se que, na profecia, este evento será o próximo
a ocorrer. Todos os acontecimentos que estão a ocorrer em Israel e no
mundo, são etapas programadas para o progresso do cumprimento da
Profecia.
O objetivo do Tempo de Angústia para Jacob tem a ver com o
julgamento da daqueles que, insistentemente, por causa da dureza dos
corações praticam o mal (Apocalipse 9: 20, 21; 14: 14-16; 19: 11). No fim deste
período, Deus fará uma separação entre os justos e os injustos, pois a
maldade não pode entrar no Seu Reino Milenar: Mas, segundo a dureza
e impenitência do teu coração, entesouras ira para ti, no dia da ira e da
manifestação do justo juízo de Deus... Tribulação e angústia, para toda
a alma de quem pratica o mal; primeiro para o judeu depois para o
gentio (Romanos 2: 5, 9). ...Perante ele reunir-se-ão todas as nações e ele
apartará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas
127
dos cabritos. À sua direita porá as ovelhas, e à sua esquerda, os
cabritos... (Mateus 25: 31-46).
Este breve período também ajuda a despertar a Humanidade, abalar o falso
sentimento de segurança a que as pessoas se agarram, para que o maior
número delas possa ser salvo. Na verdade, quando se vive
confortavelmente, sem problemas de maior, não se pensa em Deus. Esta é
uma realidade que não pode ser ignorada, quando o ser humano se sente
assustado, vulnerável ou impotente, então olha para o alto. Destina-se a
apressar o processo de tomada de decisão. Enquanto agora tem havido
uma vida inteira para optar - será assim com todos?... -, nessa altura a
escolha terá de ser feita repentinamente. Será uma luta titânica, mas a
Bíblia diz que milhões de indivíduos serão salvos: Depois disto, olhei e vi
uma grande multidão, que ninguém podia contar, de todas as nações, e
tribos, e povos, e línguas: Estavam diante do trono e diante o Cordeiro,
de vestidos brancos e com palmas nas sua mãos; ...Estes são os que
vieram da grande tribulação; lavaram os seus vestidos e os branquearam
no sangue do Cordeiro (Apocalipse 7: 9, 14).
A palavra Tribulação vem do termo usado por Jesus quando afirmou:
pois, nessa altura, a aflição será tão grande como nunca foi vista, desde
o princípio do mundo até ao presente nem jamais o será (Mateus 24: 21).
Mas, muito antes de Jesus usar essa expressão, as Escrituras já
mencionavam esse tempo. A frase é um tempo de tribulação para Jacob,
e v.v. seguintes de Jeremias 30: 7, mostra que este profeta estava a referir-
se a uma tribulação futura do povo judeu. Outros profetas também se
referiram ao mesmo período como, por exemplo, Zacarias: Juntarei todas
as nações para darem batalha contra Jerusalém: a cidade será tomada,
as casas serão destruídas, as mulheres violadas; metade da cidade irá
para o cativeiro, mas o resto do povo não será exterminado... (Zacarias 14: 1-
8). No meio dessa futura grande angústia, um remanescente de Israel (os
escolhidos) será salvo: Naquele dia, oráculo do Senhor dos exércitos,
quebrarei o jugo que pesa sobre o seu pescoço e romperei os seus laços.
Não mais serão cativos dos estrangeiros, mas servirão o Senhor, seu

128
Deus, e David*, seu rei, que eu lhes suscitarei (Jeremias 30: 8, 9). Será liberto
dos seus opressores para servir Deus.
E Deus prosseguiu: Povo meu, não tenhas receio; povo de Israel, não te
atemorizes, diz o Senhor! Livrar-te-ei das terras de longe, livrarei os teus
filhos do exílio; voltarás a viver em paz e segurança e ninguém te meterá
mais medo (Jeremias 30: 10).
Em Jeremias 30: 9 e 10 está mencionado que Aquele a quem Israel servirá
será Jesus, o Messias, o descendente de David. O Israel que viverá em paz
e segurança durante o Milénio, é o remanescente que será salvo. O próprio
Deus é, pois, o fiador da salvação e do renascimento de Israel, que o
Messias levará no Seu regresso para o Seu território.
Veja-se também Zacarias 13: 8 e 9: Em todo o país, diz o Senhor, dois
terços dos habitantes serão exterminados e um terço subsistirá. Farei
passar este terço pelo fogo e purificá-lo-ei como se purifica a prata,
prová-lo-ei como se prova o ouro. Ele invocará o meu nome e eu o
ouvirei. Dir-lhe-ei: Este é o meu povo e ele responderá: O Senhor é o
meu Deus.
Segundo esta profecia, o remanescente sobreviverá ao Tempo da
Angústia de Jacob: Farei passar este terço pelo fogo e purificá-lo-ei
como se purifica a prata, prová-lo-ei como se prova o ouro, e
corresponderá a um terço do povo judeu. Esse período, também designado
por Grande Tribulação, terminará quando Cristo regressar para
estabelecer o Seu Reino na Terra (Apocalipse 19: 11-21).
As nações que se opuserem a Deus e perseguirem os Seus servos serão
julgadas e condenadas nesse período: Estarei contigo, oráculo do Senhor,
para te salvar. Aniquilarei os povos, entre os quais te dispersei. A ti,
porém, não te destruirei; castigar-te-ei com equidade, não te deixando
impune (Jeremias 30: 11). Em Joel 4: 1, 2 lê-se também: Porquanto eis que
nesses dias, nesse tempo em que eu realizar a restauração de Judá e de
Jerusalém, juntarei todas as nações e conduzi-las-ei ao vale de Josafat;
ali entrarei com eles em juízo. Acerca de Israel, meu povo e minha

*
O David que Deus prometeu levantar, não poderia ser o rei David, pois Jeremias viveu cerca de
350 anos depois dele. Pode ser também confirmado, por exemplo, em Oseias 3: 5 (cerca de 850
a.C.) e em Ezequiel 37: 24, 25 (cerca de 590 a.C.).
129
herança, a quem eles espalharam por entre as nações, repartindo a
minha terra entre si. Deus está a comunicar que vai julgar as nações que
participaram na dispersão do Seu povo e na divisão da terra de Israel. Este
aspeto também está contemplado em Mateus 24: 29-31 e 25: 31-33, e em
Apocalipse 19: 15.
De facto, desde 1948, Israel tem sido obrigado a participar em várias
guerras, às quais tem sobrevivido vitoriosamente. Nos nossos dias, altos
representantes da política internacional têm ido a Israel aconselharem-no a
ceder os territórios ocupados nessas guerras. Os judeus e os seus governos
têm concordado com essas exortações e não se firmam nas promessas que
Deus deu a Jacob: Deus disse-lhe: Chamas-te Jacob; mas de futuro já
não te chamarás Jacob e o teu nome será Israel. Deu-lhe assim o nome
de Israel. E Deus disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso: vais crescer
e multiplicar-te; de ti sairá um povo, uma multidão de povos sairá de ti, e
das tuas entranhas sairão reis. Concedo-te o país que concedi a Abraão
e a Isaac e dá-lo-ei à tua posteridade depois de ti (Génesis 35: 10-12), porque
lhes falta a confiança no Deus de Abraão, Isaac e Jacob.
Com certeza absoluta, Israel pode contar com a ajuda do Senhor, pois o
seu Redentor comprometeu-se com a Sua promessa: Então te desposarei
para sempre; desposar-te-ei conforme a justiça e o direito, com
misericórdia e amor. Desposar-te-ei com fidelidade e tu conhecerás o
Senhor (Oseias 2: 21, 22).
Deus, além do amor, ainda lhes deu o Seu Filho unigénito. Portanto, o que
mais Israel pode esperar de Deus? A resposta em que se encontra é: Pois
os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis (Romanos 11: 29) e, se
somos infiéis, ele continuará fiel, porque não se pode contradizer a si
mesmo (2 Timóteo 2: 13).
Muitos aspetos das profecias relacionadas com o ‘tempo do fim’
dependem da compreensão do livro de Daniel. As afirmações de Jesus no
sermão profético do Monte das Oliveiras (Mateus 24 e 25) e muitas das
revelações fornecidas pelo apóstolo Paulo (2 Tessalonicenses 2) estão em
concordância com Daniel. Também é importante para a compreensão do
livro do Apocalipse, que encontra nele um conjunto de dados que permite
compreender assuntos como os do Anticristo, da Grande Tribulação, da

130
Segunda Vinda de Cristo, dos Tempos dos Gentios, das duas
ressurreições e dos Juízos.
O contexto histórico do livro de Daniel abarca o governo de dois impérios,
Babilónia e Medo-Persa, e de quatro reis: Nabucodonosor (Daniel 2: 11 a 4: 37);
Belsazar (Daniel 5: 1-31); Dario (Daniel 6: 1-28) e Ciro (Daniel 10: 1 a 11: 1). Está
ligado ao cativeiro de Judá em Babilónia, que durou setenta anos e foi
profetizado por Jeremias (Jeremias 25: 11). Foi escrito no séc. VI a.C.. Nele é
declarado que as promessas de Deus de preservar e restaurar o Seu povo
são firmes como o Reino do Messias que há de vir e que durará para
sempre.
Cronologicamente, Daniel é um dos últimos profetas do AT. Só Ageu,
Zacarias e Malaquias vêm depois dele. Foi contemporâneo de Jeremias,
mas mais jovem que ele. Teria a mesma idade de Ezequiel.
O livro divide-se em três partes: O capítulo 1 foi escrito em hebraico e
abrange todo o contexto histórico do livro; os capítulos 2 a 7, a partir de 2:
4, foram escritos em aramaico e descrevem a elevação e a queda de quatro
poderosos reinos ou impérios mundiais sucessivos seguindo-se, por
último, o estabelecimento do Reino de Deus como Reino eterno. Nesses
capítulos é destacada a soberania de Deus sobre os assuntos dos seres
humanos e das nações e a Sua intervenção neles; nos capítulos 8 a 12,
Daniel volta a escrever em hebraico e expõe revelações surpreendentes a
respeito do Seu povo, quando sob o domínio gentio (capítulos 8 a 11), do
período de setenta semanas de anos como tempo determinado por Deus
para o cumprimento da missão do Messias a favor de Israel (capítulo 9) e
da libertação final de Israel de todas as tribulações no ‘fim dos tempos’
(capítulo 12).
Este livro é o Apocalipse do AT e, tal como o do NT, revela grandes
temas proféticos de fundamental importância para o ‘tempo do fim’. É a
única profecia do AT que estabelece a data da Primeira Vinda de Cristo
(Daniel 9: 24-27). Contém numerosos temas proféticos completamente
desenvolvidos no NT:
- A Grande Tribulação e o Anticristo;
- A Segunda Vinda de Cristo, o triunfo do Reino de Deus, a
ressurreição corporal dos justos,

131
- A ressurreição corporal dos ímpios, e
- O Juízo Final.
Por isso, merece que seja aqui aberto um parêntese para ser analisado.
Nele, em termos proféticos, destacam-se dois assuntos:
1) O Sonho de Nabucodonosor (Daniel 2), no qual Deus revelou o Seu
Plano para o sistema de governação humano ou os tempos dos
gentios, que incluiriam, com se disse, os impérios pagãos que, a partir
de Babilónia, surgiriam no Mundo até à segunda vinda do Messias,
que estabelecerá o Seu Reino Milenar na Terra: E Jerusalém será
calcada pelos gentios até se completarem os tempos dos pagãos
(Lucas 21: 24). Nessa época, Israel será a única potência planetária e em
Jerusalém ficará instalado o governo mundial, sob a égide de Jesus
Cristo;
2) A Profecia das Setenta Semanas, fundamental para os ‘últimos
tempos’, que determina o tempo dado por Deus sobre Israel e
Jerusalém, também a partir de Babilónia, durante o qual seriam
realizadas coisas específicas (Daniel 9: 24). Esta profecia está
intimamente ligada ao sermão profético proferido por Jesus em
Mateus 24 e ao livro do Apocalipse.

O SONHO DE NABUCODONOSOR
Nabucodonosor II iniciou o seu reinado em 605 a.C., tendo sido um grande
líder militar, conhecido pela sua crueldade. Derrotou os fenícios e obteve a
hegemonia no Médio Oriente. Na segunda metade do século VI a.C.,
conquistou Jerusalém e exilou os primeiros judeus para a Mesopotâmia, no
que ficou conhecido como o cativeiro da Babilónia. A partir desta
deportação, Israel, que depois do reinado de Salomão se dividiu em dois
reinos e entrou em declínio espiritual, nunca mais teve possibilidade de
refazer a sua soberania, passando a integrar os impérios que se seguiram até
à sua Diáspora no ano 70 d.C.. Após a morte de Nabucodonosor, o reino
entra em declínio e, em 539 a.C. é conquistado por Ciro, rei dos Persas.
Enquanto imperador, Nabucodonosor teve um sonho que o deixou
grandemente perturbado (Daniel 2: 1). Tendo pensado que os deuses queriam
comunicar-lhe alguma coisa, decidiu submeter os “adivinhos” de
132
Babilónia a um teste. Se soubessem contar-lhe o seu conteúdo, teria a
certeza de que lhe dariam a interpretação correta. Se não fossem capazes
disso, seriam mortos (Daniel 2: 5).
Daniel e os outros seus três amigos (Daniel 2: 17), por serem recém-formados,
não foram chamados juntamente com os outros “sábios”, embora o decreto
da matança os abrangesse: ...mandou entregar à morte todos os sábios da
Babilónia. A decisão foi publicada e o massacre dos sábio começou.
Procuraram Daniel e os companheiros para os matar (Daniel 2: 12, 13).
Quando chegou a sua vez, Daniel pediu ao rei que lhe desse tempo para
que pudesse dar a interpretação correta (Daniel 2: 16).
Esse tempo foi empregue na oração, com o objetivo de obter auxílio
divino. Após a revelação do segredo e da respetiva interpretação, Daniel,
depois de ter louvado a Deus, intercedeu pelos “sábios” junto de Arioc,
constituído para os matar, para que fossem poupados (Daniel 2: 19-24).
Na presença de Nabucodonosor, Daniel disse-lhe que havia um Deus nos
céus, que fez saber ao rei o que havia de suceder até ao ‘fim dos tempos’
(Daniel 2: 28). Descreveu-lhe então o sonho e deu-lhe a interpretação.

O assunto do sonho tinha sido sobre uma estátua que tinha a cabeça de
ouro fino, o peito e os braços de prata, o ventre e as ancas de bronze, as
pernas de ferro, os pés metade ferro e metade de barro. Contemplavas tu
(esta estátua), quando uma pedra se desprendeu da montanha sem
intervenção de mão alguma e veio bater nos pés que eram de ferro e
argila e lhos triturou. Então, pela mesma pancada foram feitos em
pedaços o ferro, o barro, o bronze, a prata, o ouro, e, semelhantes à
moinha que no estio voa da eira, foram levados pelo vento, sem que
deixassem qualquer vestígio, enquanto a pedra que tinha embatido
contra a estátua se transformou numa alta montanha, que encheu toda
a região (Daniel 2: 32-35). Através deste sonho, Deus informou Israel, através
do imperador babilónico, sobre todo o sistema de governação humano, na
vigência do qual nos encontramos, que durará até ao ‘fim dos tempos’
(Daniel 2: 44, 45).

Feita a descrição do sonho, Daniel passou a interpretá-lo de acordo com a


revelação de Deus. Disse que a cabeça da estátua representava
Nabucodonosor (Daniel 2: 38) e o seu império poderoso e majestoso. Depois

133
dele surgiria outro império, de prata, inferior ao dele e um terceiro, de
bronze, que dominaria sobre a terra (Daniel 2: 39). Um quarto reino será
forte como o ferro; assim como o ferro quebra e esmaga tudo, assim este
esmagará e aniquilará todos os outros (Daniel 2: 40).
A este seguir-se-ia outro império, representado pelos pés e os artelhos, em
parte de ferro e em parte de barro, do qual emergiria um outro e último,
constituído por dez poderes representados pelos dez dedos. Os pés e os
dedos, em parte de terra argilosa de oleiro, em parte de ferro, indicam
que este reino será dividido; haverá nele alguma coisa de resistência do
ferro, conforme tu viste ferro misturado com argila. Os dedos em parte
de ferro e em parte de barro (significam) que o reino será ao mesmo
tempo forte e frágil (Daniel 2: 41, 42).
Estes são a continuação do quarto império, pois contém o ferro como
símbolo. Segundo a profecia, surgiriam várias tentativas de o constituir
através de laços de sangue, mas nunca seria firme: Viu igualmente que o
ferro estava misturado com o barro. Isso significa que os governantes
desse reino tentarão unir as suas famílias por casamento, mas não o
conseguirão, da mesma maneira que o ferro não se pode misturar com o
barro (Daniel 2: 43*).
Este sonho profético, quando interpretado à luz da História Universal,
inclui eventos que já são parte dela. Assim, depois do Babilónico (605 –
539 a.C.) vigente na altura da profecia, sabe-se que surgiram outros
grandes impérios, todos eles inferiores, em glória e em poder, ao primeiro.
Foram eles, o Medo-Persa, governado por Ciro (peito e braços de prata),
que expandiu os domínios do império ao conquistar Babilónia em 539
a.C., libertando os judeus do cativeiro e permitindo, assim, o seu regresso
à Palestina. O Império Grego (330 a.C.), fundado por Alexandre Magno
(ventre e ancas de bronze), e o Romano (pernas de ferro), que teve o
seu início por volta do ano 27 a.C., embora Roma já dominasse várias
áreas anteriormente a essa data, com a conquista da Grécia em 168 a.C..
Terminou, no ocidente, em 476 d.C., quando as invasões bárbaras
minaram as forças imperiais, já agonizantes, tomando pouco a pouco os


*Bíblia Sagrada. Tradução em português corrente. Primeira Edição, 1993. Sociedade Bíblica de
Portugal, Lisboa.
134
seus territórios. Todos esses impérios tiveram como ponto comum o
domínio da Terra Prometida. A partir daí teve início a Idade Média, ou a
idade das trevas.
É interessante notar o facto de a profecia mencionar que as duas pernas de
ferro (Daniel 2: 33, 40) representam o mesmo império. Da História Universal
sabe-se que este império se dividiu em duas partes em 395 d.C.: o Império
Romano do Ocidente (Roma) e o Império Romano do Oriente
(Constantinopla, Império Bizantino) que permaneceu até 1453, altura em
que foi conquistado pelos otomanos.
Cerca de 2.500 anos depois do Sonho de Nabucodonosor, o reino
representado pelos pés, parece já ter tido o seu cumprimento, pois um
olhar mais atento sobre a UE revela que esta integra a profecia de Daniel e
corresponde ao ‘Império Romano Restaurado’. Primeiro, porque sucede a
esse Império (ferro), situando-se na mesma área geográfica. Depois, pelo
facto de ter havido tentativas de se reconstituir esse domínio através, quer
de guerras (representadas pelo ferro), quer de casamentos reais, como está
referido em Daniel 2: 43, verificados no passado europeu e, muito
importante, a caracterização desse reino dividido como sendo ao mesmo
tempo forte e frágil.
Este aspeto é relevante porque, como se sabe, muitos dos poderes da atual
UE derivam dos tratados entre os Estados membros, que aceitam colocar
em comum um certo número de poderes, mas que continuam a manter a
sua jurisdição e governo. Não concordam em transferir outros aspetos da
sua soberania, como, por exemplo, o da política social. O sistema de
tomada de decisão comum depende, em grande medida, de acordos entre
os governos nacionais. Não funciona ainda como um Estado unitário, ou
federal, ou confederativo, mas como uma associação de Estados em
continuidade geográfica com algumas funções de governabilidade,
operacionalmente específicas, exercidas por um poder público comum.
Estas condições originam grandes problemas de articulação interna e
diferentes entendimentos sobre a sua evolução futura, restringindo
também a sua capacidade de atuação externa conjunta e em tempo
oportuno, enfraquecendo o seu papel no cenário mundial. Mas mesmo que
evolua para uma consolidação constitucional, que promoverá uma união

135
mais perfeita, como a federação, não haverá necessariamente uma perda
completa de soberania de cada estado ou nação que a integra.
Já em termos económicos, forma uma União Económica e Monetária, com
o euro como moeda comum e com todos os organismos a ela inerentes,
como o Banco Central Europeu e uma coerência interna das políticas
económicas controlada pela Comissão Europeia. Este controlo consiste em
determinar se a política económica de cada Estado membro está de acordo
com os objetivos económicos, sociais e ambientais estabelecidos ao nível
da União. Em termos económicos, comerciais e monetários, a UE já
atingiu o estatuto de grande potência mundial.
A descrição do reino dos pés e dos dedos dos pés como um reino dividido
e que ...o reino será ao mesmo tempo forte e frágil (Daniel 2: 41, 42) parece
indicar que a UE terá sempre esta particularidade, e que o último império,
o do Anticristo ou governante mundial (representado pelos dez dedos dos
pés), também a terá. A profecia de Daniel 9: 26, 27 também assinala uma
continuidade entre o Império Romano e a UE ou o Império Romano
Restaurado, quer para o povo de um chefe invasor, ou príncipe, que
destruiu Jerusalém e o seu templo, que, como se sabe, foi o comandante
romano Tito, quer para aquele que concluirá o acordo de paz israelo-árabe,
o Anticristo: A cidade e o santuário serão destruídos pelo povo de um
chefe invasor... Ele concluirá uma sólida aliança com um grande
número, por uma semana.... Esta passagem aponta, assim, para que este
personagem venha a ser um líder europeu e que a UE virá a ter um papel
primordial na conclusão do processo de paz para o Médio Oriente.
Os dez dedos dos pés representam os dez poderes regionais, designados
por chifres em Apocalipse, que entregarão a autoridade a quem, três anos e
meio depois, irá revelar-se ser o Anticristo: Os dez chifres, que viste, são
dez reis que ainda não receberam o reino, mas que receberão o poder
real durante uma hora, juntamente com a besta. Estes têm um mesmo
intento e darão a sua força e o seu poder à besta (Apocalipse 17: 12, 13 e Daniel
7: 20). Como se viu acima, e tal como acontece nos nossos dias com a UE,
essa futura união de poderes regionais terá também dificuldades na tomada
de decisões comuns de âmbito, quer económico, quer político, em
assuntos suscetíveis de interferir nos interesses de alguma dessas potências
regionais. Assim como o Império Romano se dividiu, representado pelas
136
duas pernas, agora volta a reunir-se nos pés e dez dedos que formam um
conjunto unido por interesses comuns, o futuro governo planetário que
durará muito pouco tempo: receberão o poder real durante uma hora,
juntamente com a besta. No tempo desses reis, o Deus dos céus fará
aparecer um reino que jamais será destruído e cuja soberania nunca
passará a outro povo: Esmagará e aniquilará todos os outros, enquanto
ele subsistirá para sempre (Daniel 2: 44). Este é um versículo chave, pois,
avisa que no tempo desses reis Deus intervirá, destruindo o futuro governo
mundial constituído por uma confederação de dez poderes regionais
dirigida pelo Anticristo. Depois, Cristo estabelecerá o Seu Reino Milenar
e reinará sobre todo o planeta. Será uma nova ordem mundial que
substituirá o sistema de governação humano ou o tempo dos gentios e
jamais será destruída. No sonho é representado pela pedra que se
desprendia da montanha sem intervenção de mão alguma e que reduzia
a migalhas o ferro, o bronze, a argila, a prata e o ouro (Daniel 2: 45). A
estátua simboliza o sistema mundial de governação humana, de todos os
tempos. De facto, hoje ainda permanecem no seio da sociedade moderna, a
ética medo-persa, a arte e filosofia gregas, a astrologia babilónica e a ideia
romana de que se pode obter a paz mediante a manifestação de poderio
militar. Segundo o Sonho de Nabucodonosor, a presente ordem mundial
com a sua filosofia de vida e valores deve desaparecer completamente
para que o Reino de Cristo seja plenamente estabelecido na Terra, que, na
profecia, é caracterizado pela pedra que se transformou numa alta
montanha, que encheu toda a terra (Daniel 2: 35). No final da sua
intervenção, Daniel transmitiu a Nabucodonosor que o grande Deus fez
conhecer ao rei o que acontecerá para o futuro. O sonho é verdadeiro e
a interpretação dele digna de crédito (Daniel 2: 45). A informação destas
profecias encaixa-se nas profecias de João, descritas em Apocalipse 17.
Pode parecer estranho que Deus tenha escolhido um rei pagão para revelar
esses grandes mistérios, mais a mais sabendo-se que Nabucodonosor não
entendeu o seu significado, tendo ficado admirado apenas por Daniel ter
conseguido revelar-lhe o sonho (Daniel 2: 47). A resposta a esta questão passa
pela rebelião de Israel contra Deus. Neste sonho é apresentado o curso do
‘tempo dos gentios’. Os impérios gentílicos, começados pelo babilónico,
seguido dos restantes descritos por Daniel, têm substituído

137
provisoriamente o governo que deveria ter sido exercido por Israel. No
Evangelho de Lucas encontra-se a referência ao fim desses tempos: Serão
passados ao fio de espada, serão levados cativos para todas as nações e
Jerusalém será calcada pelos gentios até que se completem os tempos
dos pagãos (Lucas 21: 24). O cumprimento desta profecia teve início na
destruição de Jerusalém e do seu templo, no ano 70, que conduziu à
Diáspora judaica e ao domínio de Jerusalém pelos não-judeus. Depois,
durante a Guerra dos Seis Dias, Israel conquistou o Sinai, a Faixa de Gaza,
a Cisjordânia e os Montes Golã, reunificando Jerusalém, permitindo-lhe,
assim, ter acesso ao Muro das Lamentações. O seu pleno cumprimento
dar-se-á quando Cristo regressar e estabelecer o Seu Reino na Terra, com
sede na cidade santa. Como já se disse, Deus fez grandes promessas a
Salomão, vindas através dos patriarcas, desde os tempos antigos. A
grandeza do seu reinado, embora curta, mostrou o que poderia ter sido
Israel se esse rei não se deixasse arrastar pela força dos sentimentos. Esta
foi a razão por que Israel perdeu o seu reinado universal. Esta perda,
contudo, não é definitiva, pois virá a cumprir-se durante o Reino Milenar
de Cristo (Daniel 2: 44). Nessa altura, Israel será a única potência planetária.
Na sua capital, Jerusalém, ficará instalado o governo mundial, sob a égide
de Jesus Cristo.
Paralelamente, Daniel teve outra visão, em que viu quatro animais
subindo do mar (Daniel 7: 1-14). Nela, foram reveladas as caraterísticas
animalescas dos reinos descritos no Sonho de Nabucodonosor: 1) O leão,
símbolo do régio poder, representa o império babilónico. A águia, rainha
das aves, representa especificamente o poderio do rei Nabucodonosor e a
separação das asas o que aconteceu ao monarca (Daniel 4); 2) O urso, que se
eleva de um lado, simboliza o império medo-persa, com a Pérsia
dominando a Média. As três costelas na sua boca representam as suas
conquistas de Babilónia, Lídia e Egito; 3) A pantera, animal possante e
veloz, com as suas quatro asas, simboliza o império grego de Alexandre e
as suas rápidas conquistas. As quatro cabeças são os quatro reinos que
surgiram do seu império, quando Alexandre morreu, dividido que foi entre
os seus quatro principais generais: Lisímaco, que ficou com a Trácia e a
Bitínia; Cassandro, que ficou com a Grécia e a Macedónia; Seleuco, que
ficou com a Babilónia e a Síria, e Ptolomeu, que ficou com a Palestina,

138
Egito e Arábia. O quarto animal, horroroso, aterrador e de uma força
excecional, que possuía enormes dentes de ferro, representa o império
romano, equivalente ao final da imagem de Daniel 2, inclusive os dez
chifres ou dez poderes (Daniel 7: 7). O profeta prosseguiu a descrição da sua
visão mencionando a emergência de um chifre mais pequeno (Daniel 7: 8),
que faz parte dos dez poderes e que simboliza o último governante da
Terra, o Anticristo. Ele guerreará contra os santos de Deus, vencê-los-á e
dirá palavras contra Deus. Mas, quando vier o Ancião e se sentar no trono,
os santos possuirão o reino e o Anticristo será destruído (Daniel 7: 9-27). O
termo Ancião é outra maneira de reconhecer que Deus é Eterno e o Juiz de
toda a Terra (Bíblia de Estudo Pentecostal).

A PROFECIA DAS SETENTA SEMANAS


A profecia das Setenta Semanas, dada a Daniel e dirigida a Israel, é
fundamental para os ‘últimos tempos’ (Daniel 9: 23). Nela está também
mencionado o fim do tempo dos gentios (Lucas 21: 24), e está intimamente
ligada ao sermão profético proferido por Jesus em Mateus 24 e ao livro do
Apocalipse. É a mais importante do livro de Daniel porque revela o futuro
de Israel como nação e inclui o período da Igreja. Foi o tempo
determinado por Deus para Israel e Jerusalém: Setenta semanas foram
fixadas ao teu povo e à tua cidade santa,... (Daniel 9: 24). A palavra
‘semana’ significa, aqui, uma unidade numérica de sete anos, equivalendo,
assim, as setenta semanas, ou setenta anos sabáticos, a 490 anos. Esta
equivalência é encontrada em Levítico 25: 8, nas instruções de Deus para
a instituição do ano do Jubileu, que ocorria a cada cinquenta anos, e cujo
propósito foi o de garantir a justiça, impedindo os ricos de acumular
riquezas e de adquirir terras à custa dos pobres. Os escravos eram libertos
e todas as propriedades dos ascendentes que tivessem sido vendidas eram
devolvidas à família original: Também contarás sete anos sabáticos, sete
vezes sete anos, de forma que a duração destes sete anos sabáticos
corresponderá a quarenta e nove anos. Esta profecia teve como contexto
histórico o primeiro ano do reinado de Dario, filho de Assuero, da
descendência dos medos, o qual havia sido instalado no trono do império
dos caldeus (Daniel 9: 1). O império babilónico tinha chegado ao fim e o

139
Medo-Persa tinha-lhe sucedido. Estava a terminar o cativeiro do povo
judeu.
Seis acontecimentos específicos ocorreriam a favor de Israel durante esse
tempo (Daniel 9: 24):
a) Expiação da iniquidade – efetuada através da morte expiatória de
Jesus Cristo que, nesta profecia, está contemplada na 69.ª semana,
como se verá mais adiante. Há diferença entre iniquidade e pecado:
Lavai-me totalmente das minhas iniquidades, purifica-me dos meus
delitos (Salmos 51: 4). A iniquidade está ligada à natureza pecaminosa do
ser humano. É a raiz do pecado. A morte de Cristo tira a iniquidade
do ser humano convertido, pois foi colocada n’ Ele, e o Seu sangue
expia os pecados: Sabemos todos que o velho homem foi crucificado
com ele, para que o corpo do pecado fosse destruído, a fim de já
não sermos escravos do pecado (Romanos 6: 6). Agora que se sabe que a
iniquidade foi tirada, e os pecados levados sobre a cruz, pode-se
viver para a justiça, desde que se reconheça Cristo como Salvador e
Senhor: Ele que suportou os nossos pecados no seu corpo, sobre o
madeiro, a fim de que, mortos para o pecado, vivêssemos para a
justiça... (1 Pedro 2: 24).
b) Fim dos pecados – o remanescente de Israel voltar-se-á para Deus e
viverá em retidão (Romanos 11: 26);
c) Fim da transgressão ou infidelidade – depois da instauração do
Reino Milenar de Cristo a incredulidade cessará (Jeremias 33: 7, 8; Ezequiel
37: 21-23);
d) Um governo de justiça eterna – através do reinado de Cristo (Isaías 59:
2-21; Jeremias 31: 31, 34);
e) Encerrar a visão e a profecia – as profecias terão o seu pleno
cumprimento e terminarão (Apocalipse 3: 19-21);
f) Ungir o Santo dos Santos – por fim, Jesus Cristo será ungido Rei
(Ezequiel 21: 26, 27).

Com exceção da expiação da iniquidade, os restantes cinco factos ainda


não tiveram lugar, porque Israel ainda não aceitou Cristo como o seu
Messias. Só depois da sua Restauração Espiritual, que se dará quando

140
Jesus Cristo voltar e for reconhecido pelo Seu povo como o Messias, é que
terão o seu pleno cumprimento.
Nos v.v. 25 e 26, do capítulo 9 de Daniel, foi revelado por Deus que entre
a ordem para reconstruir Jerusalém e a vinda do Messias, o Ungido,
transcorreriam 7 semanas, mais 62 semanas (483 anos).
Se se contarem, para trás, 483 anos (correspondentes às 69 semanas), a
partir do ano em que Jesus Cristo, com cerca de 30 anos de idade iniciou o
Seu ministério (cerca de 25 d.C.), verifica-se que vai cair no ano 457 a.C..
Sabe-se que nesta altura reinava o rei Artaxerxes (465 a.C. a 424 a.C.).
Pela carta escrita a esse rei Persa, confirma-se que os judeus tinham
iniciado a reconstrução da cidade de Jerusalém (Esdras 4: 12). Provavelmente
terá sido o ano em que Esdras voltou a Jerusalém e começou a reedificar a
cidade (Esdras 4: 12, 13, 16).
As Setenta Semanas dividem-se em três grupos (Daniel 9: 24-27):
1) Sete Semanas (Daniel 9: 25) - 49 anos: Tempo passado na reconstrução da
cidade de Jerusalém – Começou em 457 a.C. e terminou em 409 a.C..
Jerusalém seria edificada e restaurada da destruição que o império
Babilónico causou à santa cidade (Daniel 1: 1; 2 Reis 24: 1).
2) Sessenta e Duas Semanas (Daniel 9: 26) - 434 anos: Tempo que decorreria
até o aparecimento do Ungido, o Messias – Começou em 409 a.C. e
terminou em 25 d.C., quando Jesus teria começado o Seu ministério, com
cerca de 30 anos (Lucas 3: 23). (Obs. Cristo terá nascido cerca de 6 anos antes
da nossa era).
Depois dessas Sessenta e Duas Semanas, duas coisas aconteceriam: Após
estas sessenta e duas semanas, um Ungido será exterminado e ninguém
por ele*. A cidade e o santuário serão destruídos pelo povo de um chefe
invasor, a qual acabará submergida e até ao fim haverá guerra e
devastação decretada (Daniel 9: 26). Portanto,


*
Como o povo israelita rejeitou Jesus Cristo, não pode receber a Sua promessa, o Espírito Santo,
que passou a habitar nos Seus fiéis depois da Sua ressurreição. Contudo, se um judeu se converter a
Cristo, recebê-lO-á (Romanos 10: 12).
141
- O Ungido (Messias) seria tirado – Cristo foi morto, ressuscitou e foi
elevado às alturas;
- Jerusalém e o templo seriam destruídos – Foram destruídos no ano 70
d.C. (ver em Lucas 21: 20 a profecia de Jesus sobre o mesmo assunto);
Note-se que a profecia diz: Após estas sessenta e duas semanas..., dar-se-
iam a morte do Ungido e a destruição de Jerusalém que, como se sabe, não
ocorreu imediatamente após a crucificação de Cristo, mas no ano 70 da
nossa era. Já aqui se verifica, portanto, um espaço de tempo entre o final
das sessenta e nove semanas e o início da septuagésima semana, tempo
esse que permanece e que corresponde ao período da Igreja. Além disso,
acresce o facto de o povo judeu ter sido disperso por todas as nações da
Terra, deixando, portanto, de contar como nação, até 1948.
Sobre a existência deste adiamento do julgamento divino dá também
indicação a profecia de Isaías 61: 1-3, que foi lida por Jesus na sinagoga
(Lucas 4: 18). Mostra que foi dado por Deus um período de tempo que
permite que a salvação seja apregoada – a publicar um ano de graça da
parte do Senhor (Isaías 61: 2). É de observar também que no mesmo v. acima
citado, Daniel 9: 26, é afirmado que: ...até ao fim haverá guerra e
devastação decretada, isto é, desde a destruição de Jerusalém até à 70.ª
semana, haveria guerras, estando, também, determinadas assolações. O
que tem acontecido àquela região, senão guerras e assolações?
3) Uma Semana (Daniel 9: 27) – 7 anos: este v. 27 representa a 70.ª semana
e menciona a futura conclusão de um acordo entre alguém (ele) e Israel,
que incluirá muitos: Ele concluirá uma sólida aliança com um grande
número, por uma semana; ao meio da semana fará cessar o sacrifício e
a oblação e, sobre a asa (do templo) estará a abominação, causando a
ruína, e isto até que a destruição decretada se estenda sobre o
devastador.
A conclusão desse acordo de paz entre Israel e os seus inimigos, sobre a
disputa territorial, que terá a duração de sete anos, inicia a 70.ª semana ou
o período da Tribulação. Pode-se, também, depreender que será um
dirigente proveniente do espaço europeu quem, aparentemente,
solucionará a crise no Médio Oriente através dessa aliança. Assim, a UE
cumpre a profecia de Daniel 9: 27 e dela virá o Anticristo. Esse acordo é o
142
único que, segundo a Bíblia, trará uma paz efetiva a Israel, embora por um
curto período de tempo.

A ATUAÇÃO DO ANTICRISTO
Em grego ‘anticristo’ pode ter dois significados, ‘em vez de Cristo’, no
sentido de alguém tomar o lugar de Cristo, ou seja, uma imitação de Cristo
ou ‘contra Cristo’, significando oposição ao trabalho de Cristo. A Bíblia
faz referência a estes dois sentidos, respetivamente: E, como ouvistes
dizer que o anticristo vem, assim surgiram já muitos anticristos; ...Eles
saíram de entre nós mas não eram dos nossos, porque, se tivessem sido
dos nossos, ficariam connosco... (1 João 2: 18, 19).
O surgimento desse líder europeu que, através do seu programa de paz
para o Médio Oriente (Daniel 9: 27), será reconhecido e posteriormente aceite
como dirigente mundial por causa da sua capacidade como pacificador, do
seu poder de persuasão e da sua inteligência (Daniel 7: 8, 20; 8: 23), bem como
pela sua subtileza e astúcia (Ezequiel 28: 6), marcará o início da Tribulação.
Também é apresentado em Apocalipse 6: 2, no âmbito do 1.º selo: Olhei, e
vi um cavalo branco. O que o montava tinha um arco; foi-lhe dada uma
coroa e partiu vencedor para novas vitórias.
A Bíblia, na primeira carta de João diz: ouvistes dizer que o anticristo
vem. Daniel 9: 27 afirma que ele concluirá um acordo de paz entre Israel e
os seus vizinhos árabes. Nesta mesma profecia, os v.v. 26 e 27 também
assinalam que, quer o povo de um chefe invasor, ou príncipe, que destruiu
Jerusalém e o seu templo (o comandante romano Tito), quer o Anticristo,
procederão da mesma área geográfica (o Império Romano e a UE ou o
Império Romano Restaurado): A cidade e o santuário serão destruídos
pelo povo de um chefe invasor... Ele concluirá uma sólida aliança com
um grande número, por uma semana.... Estes v.v. indicam, assim, que a
UE virá a ter, através deste personagem político, um futuro líder seu, um
papel primordial na conclusão do processo de paz para o Médio Oriente e,
posteriormente, influência mundial visto vir a governar sobre todas as
nações (Apocalipse 13: 8).
Em Mateus 24: 26, Jesus alerta para esse ‘falso Cristo’. Paulo afirma …há
de manifestar-se o homem da iniquidade, o filho da perdição, o
143
adversário, aquele que se levanta contra tudo o que leva o nome de
Deus, ou o que se adora, a ponto de tomar o lugar no templo de Deus e
se apresentar como se fosse Deus (2 Tessalonicenses 2: 3, 4). Nos v.v. 9 e 10,
Paulo continua: A vinda do ímpio será acompanhada, graças ao poder de
Satanás, de toda a sorte de milagres, de sinais e de prodígios
enganadores, assim como de todas as seduções que o mal oferece
àqueles que se perdem por não terem aberto os seus corações ao amor
da verdade que os poderia ter salvo. Em Daniel 7: 24 ficamos a saber
mais sobre a ação deste ditador mundial: …Proferirá insultos contra o
Altíssimo, perseguirá os santos do Altíssimo e pensará em mudar os
tempos (sagrados) e a religião; e os santos lhe serão deixados por um
tempo, tempos e a metade de um tempo, ou seja, a segunda metade da
Tribulação; e em Daniel 11: 37, 38 a sua personalidade é caraterizada: o
rei agirá em tudo conforme lhe aprouver. Ensoberbecer-se-á e em seu
orgulho se guindará acima de todo o deus; proferirá mesmo coisas
inauditas contra o Deus dos deuses; prosperará até que a cólera divina
tenha chegado ao termo, porque o que está decretado há de cumprir-se.
Não terá consideração pelos deuses de seus pais... nem por qualquer
divindade; julgar-se-á superior a todos. Daniel, nos seus capítulos 8 e 11,
profetiza sobre Antíoco IV Epifânio, que profanou o templo em Jerusalém
(160 a.C.) e, simultaneamente, sobre o personagem astuto e hipócrita que
o sírio Antíoco tipifica, o Anticristo, pois, a transcrição imediatamente
acima não se enquadra no caso de Antíoco, devido à menção, no v. 36, de
um ‘tempo do fim’, que indica que esta profecia tem a ver com um futuro
distante. Esta interação entre os dois tipos de futuro é uma caraterística da
profecia bíblica em geral e a de Daniel, em particular.
O Anticristo, o cavalo branco do primeiro selo (Apocalipse 6: 2), tal com
simboliza o branco, buscará a paz, contudo, também suscitará guerras.
Surgirá numa época de grande turbulência económica, política e religiosa,
e concluirá o acordo de paz com Israel, que levará à reconciliação entre
judeus e árabes seus vizinhos (Daniel 9: 27). Este seu envolvimento na
resolução do problema do Médio Oriente levá-lo-á a ser aceite como
salvador e, posteriormente, vir a ser eleito governante mundial, com a
colaboração do Falso Profeta, a segunda besta (Apocalipse 19: 20; 20: 10). Na
verdade, este dirigente religioso fomentará a adoração ao Anticristo e

144
convencerá o planeta a adorá-lo como se fosse Deus (Apocalipse 13: 12).
O mundo, que já hoje se encontra condicionado a desejar a paz a qualquer
custo, após tantas guerras e rumores de guerras, não terá dificuldade em
aceitá-lo e elevá-lo à posição de líder político mundial: Os dez chifres,
que viste, são dez reis que ainda não receberam o reino, mas que
receberão o poder real durante uma hora, juntamente com a besta. Estes
têm um mesmo intento e darão a sua força e o seu poder à besta
(Apocalipse 17: 12, 13). Ele governará como lhe aprouver e com autoridade
absoluta (Daniel 11: 37), pois mudará as leis e os costumes (Daniel 7: 25).
Para que Israel confie nesse líder político, tem de reconhecer que é o
messias que espera há muito tempo. Para isso terá, provavelmente, de
cumprir as profecias messiânicas. As atividades enganadoras que exercerá
dirigem-nos a Apocalipse 13: 13, 14, onde se lê que o Falso Profeta, na
presença do Anticristo, operará falsos milagres sobrenaturais para enganar
a população do mundo: Realizou grandes prodígios... à vista de todos os
homens. Seduziu os habitantes da terra com os prodígios que lhe foi
permitido fazer na presença da besta.... Só depois de ele profanar o lugar
Santo dos Santos e de se declarar deus é que os judeus perceberão que é o
Anticristo, o que acontecerá em meados do período da Tribulação (Daniel 9:
27; Apocalipse 13: 5). Este facto acontecerá quando o governante europeu e os
seus exércitos forem em ‘socorro’ de Israel, durante a invasão da
coligação do Norte, e ganhar o controlo da Palestina (Daniel 11: 40-42). Depois
de o Anticristo se apoderar do templo em Jerusalém, no qual se sentará,
proibirá a adoração a Deus (confirmar em Tessalonicenses 2: 4) e assolará a
Palestina. Por isso Jesus Cristo alertou os judeus, referindo-se à 70ª
Semana da profecia de Daniel ou período da Tribulação (Daniel 9: 27):
Quando virdes, pois, a abominação da desolação, de que falou o profeta
Daniel, instalada no lugar santo, o que lê entenda, então, os que se
encontrarem na Judeia fujam para os montes; aquele que estiver no
terraço não desça para tirar as coisas de sua casa e o que se encontrar
no campo não volte atrás para buscar a capa. Ai das que estiverem
grávidas e das que estiverem amamentando nesses dias. Orai para que a
vossa fuga não se verifique no inverno ou em dia de sábado, pois, nessa
altura, a aflição será tão grande como nunca foi vista, desde o princípio
do mundo até ao presente nem jamais o será (Mateus 24: 15-21).
145
146
Esse é o sinal que será reconhecido pelos crentes dessa época e que
assinalará o começo da contagem regressiva de três anos e meio, até ao
regresso de Cristo em glória. Apocalipse 11: 1, 2 confirma esta cronologia
ao declarar duas vezes que o Anticristo (a besta que surgiu da terra) terá
poder somente durante quarenta e dois meses. Reinará, assim, durante a
segunda metade da Tribulação - 3 anos e meio (Apocalipse 13: 5), durante os
quais aniquilará os cristãos (Daniel 7: 25; Apocalipse 13: 6). Essa vitória
temporária do Anticristo sobre os seguidores de Jesus Cristo é aclarada em
Daniel 12: 7, onde Deus diz que no momento em que a força do povo
santo se tiver quebrado inteiramente é que se dará o fim.
O Anticristo proclamar-se-á maior que Deus e dirá blasfémias contra o
Deus verdadeiro. Prosperará por algum tempo e assim terá cumprimento a
profecia de Daniel 11: 37-39: o rei agirá em tudo conforme lhe aprouver.
Ensoberbecer-se-á e em seu orgulho se guindará acima de todo o deus;
proferirá mesmo coisas inauditas contra o Deus dos deuses....
Daniel alerta para uma guerra que ocorrerá no Médio Oriente no ‘tempo
do fim’ e que envolverá o Anticristo: Por ocasião do fim, o rei do meio-
* *
dia se levantará contra ele, o rei do setentrião desabará sobre o mesmo
como um furacão, com carros, cavaleiros e considerável frota. Penetrará
*
nos territórios como torrente que transborda. Invadirá o país joia da
**
terra, no qual muitos homens tombarão. Todavia, os edomitas , os
** **
moabitas e a maior parte dos amonitas escapar-lhe-ão. Meterá a mão
em diferentes países e o Egito não lhe fugirá. Apoderar-se-á dos
tesouros de ouro e de prata e de tudo o que há de precioso no Egito. Os
líbios e os etíopes juntar-se-lhe-ão (Daniel 11: 41-43).
Esta guerra poderá acontecer como consequência da profanação do templo
em Jerusalém por parte do Anticristo, e da sua declaração de ser maior que
Deus, que o desmascararão perante as nações árabes que aceitaram
anteriormente o acordo de paz com Israel. Parece ser assim por, além do
Egito, estar envolvida a Síria que causará muitas vítimas em Israel e

*
O rei do meio-dia (ou do sul) representa o Egito, o rei do setentrião (ou do norte) a Síria e o país
joia da terra, a Palestina.
**
Edom, Moab e Amon, eram três pequenos estados situados no planalto da Transjordânia, que é
atualmente território jordano.
147
poupará a Jordânia: E quando disserem: Paz e segurança, então é que
cairá subitamente sobre eles a ruína, como as dores sobre a mulher
grávida, e não poderão escapar (1 Tessalonicenses 5: 3).
Esta profecia de Daniel continua com a informação de que novos
participantes entrarão nessa guerra: Contudo, alarmado pelas novas
chegadas do oriente e do norte, retirar-se-á furiosíssimo no intuito de
destruir e exterminar uma multidão de gente. Levantará as tendas de seu
quartel real entre o mar e a sublime montanha do santuário***. Então
chegará o termo da sua vida e ninguém lhe prestará auxílio (Daniel 11: 45,
46). Estas batalhas culminarão com a de Harmaguedon.

As profecias de Daniel, acabadas de descrever, não eram para aqueles


dias, mas para os ‘tempos do fim’, pois Daniel recebeu a ordem de selar o
livro: E tu, Daniel, guarda isto em segredo e conserva selado este livro
até ao tempo final. Muitos dos que o lerem verão aumentar o seu
conhecimento (Daniel 12: 4). Em Daniel 12: 8-10, é mencionado que a plena
compreensão da profecia só ocorreria no ‘tempo do fim’: Ouvi estas
palavras, mas sem as compreender. Meu senhor, disse, qual o fim de
tudo isto? Respondeu: Vai, Daniel, porque estes vaticínios devem
permanecer fechados e selados até ao tempo final. Muitos são
purificados, aperfeiçoados e postos à prova. Os ímpios atuarão com
perversidade, porém, nenhum deles compreenderá, ao passo que os
sensatos compreenderão.
A Bíblia, em Ezequiel 38 e 39, descreve um ataque contra Israel que será
feito por uma coligação de nações, sob o comando de Gog. Esse ataque
terá como objetivo a destruição de Israel e a posse do território. Em
Ezequiel 38: 5, 6, estão nomeados alguns dos seus aliados: Pérsia (Irão),
Etiópia, Pout (Líbia), Gomer (cimérios, que nos séculos VIII e VII a.C.,
viviam nas atuais Rússia e Ucrânia) e Bet-Togarma (Arménia, a leste do
mesmo Mar). Gog poderá ser um nome relacionado com a iniquidade e
oposição a Deus: Sairá da sua prisão para seduzir as nações dos quatro
cantos da terra, Gog e Magog. Reuni-las-á para o combate, e serão
numerosas como a areia do mar (Apocalipse 20: 7-9).


*** A montanha do santuário é o Monte do Templo, em Jerusalém.

148
Transcreve-se o que é dito em Ezequiel 38: 7-18: Dispõe-te, prepara-te
bem, tu e as multidões que se agruparam à tua volta. Põe-te à minha
disposição. Ao fim de um período de tempo considerável, receberás
ordem de marcha. Com o rolar dos anos, irás contra um país, cujos
habitantes preservados do massacre foram recolhidos de países diversos,
nas montanhas de Israel, desertas havia tanto tempo, mas onde agora
vive tranquilamente a nação trazida do meio dos povos. Como um
furacão te levantarás, tu e a multidão de tropas de vários povos que te
acompanham, à maneira de uma nuvem de tempestade que vai cobrir o
país.
Eis o que afirma o Senhor Deus: Naquele dia hão de nascer projetos no
teu coração e conceberás intentos perversos. Marcharei, dirás tu, contra
um país sem defesa, contra gente pacífica, que vive em cidades sem
muralhas, sem portas nem ferrolhos. Irás, pois, aí para pilhar, para
conseguires despojos, para descarregares a mão sobre estas ruínas
agora repovoadas, sobre uma população trazida dentre os pagãos que,
habitando o centro da Terra, se dedica, presentemente, à criação de
animais e ao comércio.
...Por isso, filho do homem, dirigirás a Gog o oráculo seguinte: Eis o
que diz o Senhor Deus: Não é verdade que naquele dia, quando o meu
povo de Israel habitar o seu país em segurança completa, tu te porás em
marcha; virás do teu país, do extremo norte, seguido do teu poderoso
exército, da tua horda imensa de cavaleiros? Marcharás contra o meu
povo de Israel como uma nuvem tempestuosa que vai cobrir o país. Será
na sucessão dos tempos que te farei vir contra o meu povo, a fim de que
as nações aprendam a conhecer-me, quando a seus olhos, ó Gog, eu
tiver manifestado a minha santidade pelo destino que te der.
Eis o que diz o Senhor Deus: Na verdade és tu aquele de quem falei
outrora pela voz dos meus servos, os profetas de Israel, que, naquele
tempo, durante anos predisseram que te enviaria contra eles. Naquele
futuro dia, dia em que Gog penetrar em solo de Israel, oráculo do
Senhor, o furor me subirá às narinas. Este texto mostra, não só que o
território israelita é o alvo da invasão, mas também que Israel, nessa
época, estará a viver em paz, melhor, um momento de uma pseudo-paz,

149
pois será curto. Esta ‘paz’ acontecerá na sequência do acordo negociado e
concluído pelo Anticristo, no início da Tribulação.
Esta profecia de Ezequiel ajusta-se à de Daniel, anteriormente descrita,
bem como à de Apocalipse 9: 13-19 e 16: 12. Além da definição da época
em que acontecerá essa guerra: naquele dia, quando o meu povo de Israel
habitar o seu país em segurança completa, tu te porás em marcha, ou
seja, após a conclusão do mencionado acordo de paz, contém outras
particularidades importantes em relação ao seu início, pois indica que só
ocorrerá depois de um longo período de preparação: Põe-te à minha
disposição. Ao fim de um período de tempo considerável, receberás
ordem de marcha. Como se sabe, normalmente durante o período de
preparação de uma guerra há o envolvimento de manifestações de poderio
militar, ameaças e contra-ameaças, etc.. Se se olhar para a situação
internacional, veem-se as nuvens negras que têm pairado sobre a região do
Médio Oriente. Teerão tem proferido, desde há alguns anos, declarações
de ameaças contra Israel e outras nações ocidentais, e a Rússia tem feito
saber que está ao lado de Teerão e da Síria.
A profecia especifica: Naquele dia hão de nascer projetos no teu coração
e conceberás intentos perversos. Também informa que haverá uma
coligação de nações, onde se incluem, como se viu, o Irão, a Etiópia e a
Líbia, envolvidas numa guerra regional, que degenerará em mundial,
como adiante se verá: a multidão de tropas de vários povos que te
acompanham. Pela profecia de Daniel, fica-se a saber que o Egito e a
Síria também participarão.
Estes combates culminarão com a batalha do Harmaguedon, que oporá o
mundo a Israel e que será dirigida pelo Anticristo (Apocalipse 16: 13, 14, 16; 17:
14; 19: 14, 19). Deus intervirá em socorro de Israel, protegendo-o e destruindo
os exércitos invasores (Ezequiel 38: 19 a 39: 5), através de um terramoto (Ezequiel
38: 19, 20), gerando uma confusão militar (Ezequiel 38: 21), e fazendo cair sobre
eles grandes bátegas de granizo e fogo (Ezequiel 38: 22). Posteriormente o
Anticristo será aniquilado: Então chegará o termo da sua vida e ninguém
lhe prestará auxílio (Daniel 11: 45), e condenado eternamente por Cristo,
quando do Seu regresso (Apocalipse 19: 20), no Monte das Oliveiras (Zacarias 14:
4), o mesmo local de onde ascendeu após a sua ressurreição (Atos 1: 11).

150
Mais adiante Ezequiel, em 39: 8, 22, 23, declarou: Ora eis que isso se vai
cumprir, tudo isso está próximo, oráculo do Senhor Deus, eis o dia que
eu havia predito. Desde aquele dia os Israelitas saberão que eu sou o
Senhor, seu Deus. Reconhecerão as nações que, por causa das próprias
faltas, Israel foi deportado, que, por causa da sua infidelidade, eu lhe
ocultei a minha face e os entreguei nas mãos dos seus inimigos, a fim de
que morressem pela espada.
Perante o que foi descrito, não é de admirar que, apesar de todos os
esforços, ainda não se tenha chegado a um acordo no Médio Oriente. Só o
determinado tratado de paz poderá levar a tranquilidade àquela região.
Esse acordo, mediado e concluído pelo futuro Anticristo, terá a duração de
7 anos e nele estarão envolvidas muitas nações daquela área geográfica,
que o aprovarão (contrariamente ao que tem sido feito até agora): Ele
concluirá uma sólida aliança com um grande número, por uma semana
(Daniel 9: 27). Contudo, essa paz durará somente 3 anos e meio (Daniel 9: 27). A
frase: Muitos são purificados, aperfeiçoados e postos à prova, está ligada
ao remanescente de Israel que sobreviverá à Grande Tribulação.
A paz efetiva só acontecerá quando Jesus Cristo estabelecer o Seu Reino
Milenar. Mas há outra questão, muito mais importante, que também está
na base das guerras que ocorrem naquela zona, Jerusalém.

O PAPEL DE JERUSALÉM NO PLANO DE DEUS


Atualmente, Jerusalém é a maior cidade de Israel, a sua capital e a sede do
governo. É reconhecida como a cidade santa pelas três grandes religiões
monoteístas – a judaica, o cristianismo e o islão. Para os judeus, a cidade
foi escolhida por Deus na Sua Aliança com David, há cerca de 3.000 anos.
Como centro cristão é uma cidade de locais santos associados à vida e
ministério de Jesus, bem como da igreja primitiva. Para os muçulmanos é
o Monte do Templo o mais importante. Foi lá aonde o profeta Maomé,
acompanhado pelo Anjo Gabriel, fez a Jornada Noturna ao Trono de Deus.
A liberdade de acesso aos locais sagrados para os membros das diferentes
religiões está garantida por lei.
Jerusalém é disputada para capital indivisa de dois povos, judeus e
palestinianos. A ONU, em 29 de novembro de 1947, adotou uma
151
Resolução que previa dividir a Palestina sob mandato britânico. Elaborado
pelo UNSCOP (United Nations Special Committee On Palestine), e que se
destinava a resolver o conflito entre judeus e árabes, e consistia na
repartição do lado ocidental do território em dois Estados, um judeu e
outro árabe, ficando as áreas de Jerusalém e Belém sob controlo
internacional. Os países da Liga Árabe (Egito, Síria, Líbano e Jordânia)
manifestaram-se abertamente contra a proposta e não reconheceram o
novo Estado de Israel (wiki/Plano_da_ONU_para_a_partição_da_Palestina_de_1947).
Posteriormente, em 1949, depois da Guerra da Independência, Israel
tomou o controlo de áreas que deviam constituir o Estado árabe e a zona
ocidental de Jerusalém. A parte oriental ficou sob o controlo jordano.
Na Guerra dos Seis Dias, Israel ocupou Gaza e a Cisjordânia, e a parte
leste de Jerusalém. Em 1980, o Parlamento israelita adotou uma lei que
declara Jerusalém como capital eterna e indivisível de Israel. O Conselho
de Segurança das N a ç õ e s U n id a s respondeu com a Resolução 478, que
declara a nulidade dessa lei, o que fundamenta a ilegalidade das
construções continuadas dos judeus em Jerusalém Leste. Depois desta
declaração, a maioria das embaixadas estrangeiras retirou-se de Jerusalém.
O estatuto da maior cidade da região continua a ser um impedimento para
a resolução do conflito israelo-palestiniano. Por que tem Jerusalém tanta
importância para todas as nações do planeta? As maiores potências do
mundo determinaram que um dia ela será um centro mundial de "paz" sob
*
controle internacional... .
Hunt (1999) afirmou que é óbvio demais para ser discutido o facto de
Jerusalém ser a chave da paz mundial e interrogou-se sobre a razão de ser
essa cidade tão especial. No seu livro descreve a explicação facultada pela
Bíblia que, se for rejeitada, nenhuma outra resposta racional pode ser
encontrada. O atual significado religioso de Jerusalém não é, por si só,
suficiente para explicar totalmente essa sua particularidade. Contudo, o
significado bíblico é totalmente irracional para as potências mundiais. Diz


*
No dia 29 de Novembro de 1947, na Assembleia-geral da ONU, em Flushing Meadows, EUA,
presidida pelo brasileiro Osvaldo Aranha, foi votada a Resolução N. 181 sobre a partilha da
Palestina, na qual 33 Estados votaram a favor, entre os quais EUA, Rússia e Brasil. Nessa
Resolução, Jerusalém teria o status de cidade internacional.
152
ainda que a história mais extraordinária de Jerusalém ainda está por
escrever.
Na verdade, os acontecimentos no Médio Oriente apontam, quase que
diariamente, em direção ao Grande Final – o tempo de maior sofrimento
para o povo judeu em todo o mundo (pior do que o holocausto do século
XX): pois, nessa altura, a aflição será tão grande como nunca foi vista,
desde o princípio do mundo até ao presente, nem jamais o será (Mateus 24:
21). Terá o seu auge quando todas as nações do mundo vierem contra Israel
na terrível batalha do Harmaguedon (Joel 1: 15; 3: 9-17; Sofonias 3: 8-9; Zacarias 12 a
14). Durante esse período dar-se-á o retorno pessoal e glorioso do Messias
(Zacarias 14: 4), que resgatará Israel e reinará sobre o mundo a partir do trono
restabelecido de David em Jerusalém. A Bíblia diz em Zacarias 12: 2-3:
Eis que farei de Jerusalém um copo inebriante para todos os povos
circunvizinhos. Naquele dia farei de Jerusalém uma pedra pesada para
todas as nações; todos os que a levantarem ficarão feridos; todos os
povos da terra se juntarão contra ela.
A polémica político-religiosa ligada à ocupação israelita do território
palestiniano adquiriu uma dimensão inesperada quando, em 28 de
setembro de 2000, Ariel Sharon visita o Monte do Templo, acompanhado
de 3.000 polícias. Este gesto provocou uma fúria sem precedentes entre os
palestinianos, dando início ao que se passou a chamar ‘Guerra de
Jerusalém’. Por causa destes gravíssimos acontecimentos, cujas
consequências para o equilíbrio mundial são por demais evidentes, a
revista Newsweek* referiu-se ao Monte do Templo como ‘os 35 acres
mais explosivos da Terra’. Israel considera Jerusalém a sua capital
unificada e indivisível, contudo, internacionalmente não é reconhecida a
anexação da parte oriental, ocorrida em 1967, e que os palestinianos
querem como capital do seu futuro Estado.
Outras passagens bíblicas acerca de Jerusalém, a cidade mais importante
do mundo (Malgo, 1999):
- Jerusalém é a cidade de David, que a governou como rei, durante 33
anos, sobre todo o Israel e Judá (2 Samuel 5: 5);

*
Newsweek International, 9 de Outubro de 2000.
153
- Jerusalém está situada no centro do mundo, não apenas pela sua
importância em termos políticos, mas também pela sua relevância
central no Plano de Salvação: Pois o Senhor Deus declara o
seguinte: Isto representa Jerusalém. Eu coloquei-a no centro do
*
mundo, com os outros países à sua volta (Ezequiel 5: 5);
- Em Jerusalém estão os tronos de justiça (Salmo 122: 5);
- O Senhor habitará em Jerusalém (Zacarias 8: 3);
- Conforme as palavras de Jesus, Jerusalém é a cidade do Grande Rei
(Mateus 5: 35);
- Só existe uma cidade no mundo pela qual Jesus chorou: Jerusalém
(Lucas 19: 41);
- Em Jerusalém ocorreu o maior acontecimento de todos os tempos: ali
Deus reconciliou o mundo consigo mesmo por intermédio de Jesus
Cristo (2 Coríntios 5: 19; Hebreus 13: 12);
- Do Monte das Oliveiras, em Jerusalém, Jesus Cristo subiu ao céu
(Atos 1: 9-12);
- Em Jerusalém aconteceu o primeiro Pentecostes e foi ali que os
discípulos ficaram cheios do Espírito Santo (Atos 2);
- Em Jerusalém surgiu a igreja primitiva, quando cerca de 3.000
pessoas se converteram. Desse modo, ali foi fundada a base da Igreja
de Jesus (Atos 2: 41-47);
- A partir de Jerusalém o Evangelho foi espalhado por todo o mundo
(Atos 1: 8);
- Durante quase 2.000 anos Jerusalém foi território gentio. Em 1967,
Jerusalém passa, novamente, a capital do povo judeu. Este
acontecimento é o princípio do fim do tempo dos gentios referido por
Jesus Cristo (Lucas 21: 24);
- No fim dos tempos, Jerusalém tornar-se-á o copo inebriante nos
acontecimentos no Médio Oriente e a pedra pesada na política
mundial (Zacarias 12: 2, 3);
- É em Jerusalém que o anticristo se sentará no Templo, dizendo-se
deus e exigindo adoração (2 Tessalonicenses 2: 4);

154
*
- Em Jerusalém aparecerão duas testemunhas no tempo da Grande
Tribulação que pregarão o Evangelho e profetizarão durante 1.260
dias. No fim desse tempo elas serão mortas pelo anticristo,
ressuscitarão depois de três dias e meio, e de Jerusalém subirão ao
céu (Apocalipse 11: 3-13);
- No fim do tempo da Grande Tribulação todas as nações da Terra se
juntarão para lutar contra Jerusalém (Zacarias 12: 2 e 14: 2);
- Jesus Cristo voltará para Jerusalém para salvar o Seu povo, e todo o
remanescente de Israel se converterá ao Senhor (Zacarias 14: 4);
- A seguir, Jesus Cristo estabelecerá o Seu Reino de paz em Jerusalém
e será Rei sobre toda a Terra (Isaías 2: 2-4; Zacarias 14: 9);
- Então, sob o abençoado domínio de Jesus Cristo, Jerusalém será uma
cidade donde correrão águas vivas (Zacarias 14: 8);
Depois do Milénio, Satanás tentará mais uma vez conquistar e destruir
Jerusalém, seduzindo os povos para lutarem contra Jerusalém (Apocalipse 20:
7-10). Será derrotado na batalha final e dar-se-á, de seguida o Juízo Final e
a Eternidade, como será descrito no subcapítulo ‘Israel no Livro do
Apocalipse’.
No propósito de Deus para com a Humanidade, Israel tem um papel
importante. Deus disse em Isaías 46: 13: Porei em Sião a salvação e a
minha glória em Israel e repetiu em Isaías 49: 3: Disse-me: Israel tu és
meu servo, em ti serei glorificado. Ao falar no resgate de Israel no
Harmaguedon, assunto de muitas profecias do AT, Deus declarou: Desta
maneira manifestarei a minha glória e a minha santidade, revelando-me
aos olhos de numerosas nações, afim de que saibam que eu sou o
Senhor (Ezequiel 38: 23).


*
Há quem creia que essas testemunhas poderão ser Elias e Moisés, visto nessa época já ter ocorrido
o Arrebatamento. Baseiam-se em Apocalipse 11: 6: Estas têm poder para fechar o céu, para que
não chova nos dias da sua profecia; e têm poder sobre as águas para convertê-las em sangue e
para ferir a terra com toda a sorte de pragas, quantas vezes quiserem - onde são mencionados
sinais semelhantes aos que eles fizeram no seu tempo. O primeiro referente a Elias, no seu desafio
aos profetas de Baal, e os dois últimos a Moisés, durante as pragas do Egito.
155
O JULGAMENTO DAS NAÇÕES

No fim da Grande Tribulação, Jesus Cristo, que virá com poder e grande
glória trazendo consigo os Seus santos – a Igreja, anteriormente
arrebatada, depois de eliminar o sistema mundial de governo humano e o
exército do anticristo, na batalha do Harmaguedon, estabelecerá o
julgamento das nações, onde será definido quem entrará no Reino
Milenar: E também tronos, e àqueles que se sentaram sobre eles foi
concedido o poder de julgar (Apocalipse 20: 4).
Este julgamento abarca apenas os seres humanos que, de alguma forma,
passarão pela Tribulação e não morrerão. Não deve ser confundido com o
Juízo Final, que só ocorrerá no fim do Milénio (Apocalipse 20: 11-15) e que
será descrito no subcapítulo ‘Israel no Livro do Apocalipse’. Quando
Jesus voltar, além do remanescente de Israel que O reconhecerá nessa
ocasião, existirão, entre as nações, pessoas que, embora não tenham
aceitado a marca da Besta e tenham crido na mensagem do Evangelho,
não chegaram a ser mortas pelo regime do Anticristo. Serão as que
entrarão no Reino Milenar. Com exceção destes grupos, quer as nações
que perseguiram Israel, quer as pessoas incrédulas que se recusarão a
aceitá-lO serão julgadas e punidas no âmbito do contexto mundial. Assim,
para que seja reorganizada a ordem perdida no caos da Tribulação, Jesus:
1 - Separará quem entrará no Milénio de quem não fará parte dele: Ele
enviará os seus anjos, com uma trombeta altissonante, para reunir os
seus eleitos desde os quatro ventos, desde um extremo ao outro do dos
céus (Mateus 24: 31); ...Quando o Filho do homem vier na sua glória,
acompanhado por todos os seus anjos, sentar-se-á, então, no seu trono
de glória. Perante ele reunir-se-ão todas as nações e ele aparatará as
pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos.
À sua direita, porá as ovelhas, e à sua esquerda, os cabritos. O Rei dirá,
então, aos da sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, recebei em
herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo (Mateus
25: 31-34).

2 - Redesenhará o mapa político mundial. Israel será a potência mundial e


reinará sobre a Terra. A sede do governo mundial será Jerusalém.
Algumas nações tornar-se-ão insignificantes no contexto mundial devido
156
ao tratamento que, no passado, deram aos judeus.
3 – Impedirá Satanás de atuar, pois não poderá haver influência satânica
no Reino do Senhor.
Os mártires da Tribulação ressuscitarão também nessa altura. Estes
mártires são os que, por não terem aceitado receber o sinal da Besta, serão
mortos pelo seu regime: ...Vi ainda as almas dos que foram decapitados
por terem dado testemunho de Jesus e por terem acreditado na palavra
de Deus, e as almas de todos aqueles que não adoraram a besta nem a
sua imagem, e que não tinham recebido a marca na fronte ou na mão...
(Apocalipse 20: 4). Aqui termina a primeira ressurreição corporal, da qual,
relembra-se, fazem parte os salvos da Igreja e do tempo do AT, ressurretos
no Arrebatamento. Todos eles reinarão com Cristo no Milénio:
Voltaram à vida e reinaram com Cristo durante mil anos. ...Felizes e
santos os que participam na primeira ressurreição!... serão sacerdotes de
Deus e de Cristo e reinarão com ele durante mil anos (Apocalipse 20: 4, 6). Os
santos do AT, a Igreja e os mártires da Tribulação terão o seu papel no
Reino. Entretanto, para a Noiva do Cordeiro – a Igreja - está reservado
algo de especial, como será constatado no próximo subtítulo.

RESTAURAÇÃO ESPIRITUAL DE ISRAEL


(O REINO MILENAR DE CRISTO OU O MILÉNIO)
Como se disse, dos sobreviventes das nações serão separados os que
participarão do Reino Milenar de Cristo (Mateus 25: 31-34). O Anticristo e o
falso profeta, bem como todos os que os seguiram, não entrarão nele,
somente os que aceitaram Cristo (Apocalipse 19: 11 a 20: 6). Neles inclui-se o
remanescente judaico que reconhecerá ser Jesus Cristo o Messias (Zacarias
12: 10). Jesus definirá, então, a posição das nações no âmbito planetário, em
que Israel será a potência mundial e Jerusalém a sede do governo milenar.
O estabelecimento do Reino Milenar é fundamental, pois, só assim serão
cumpridas todas as Alianças feitas por Deus com Israel, onde Ele próprio
Se obrigou a realizá-las, independentemente da obediência do Seu povo.
São quatro as Alianças incondicionais de Deus para com a nação de Israel:
1) Aliança Abraâmica (Génesis 12: 1-3) – Deus prometeu fazer de Abraão uma
grande nação, que teria a posse da Terra Prometida, como foi mencionado
157
no subtítulo ‘A Origem de Israel’; os seus habitantes receberiam as
bênçãos universais de Deus;
2) Aliança Davídica (2 Samuel 7: 4-17; 1 Crónicas 1 3-15) – Deus prometeu que
Israel teria um rei da linhagem de David. Esse trono seria de possessão
perpétua da família Davídica, descendentes da tribo de Judá, e o Rei,
(Cristo), reinaria sobre a nação como um todo;
3 ) Aliança da Restauração Política (Deuteronómio 30: 3-10) – uma extensão da
Aliança Abraâmica, onde Deus cita mais detalhes sobre a ocupação da
Terra Prometida e as bênçãos relativas a esta ocupação. Através dela a
restauração espiritual e a conversão de Israel estão garantidas;
4) Nova Aliança (Jeremias 31: 27-40; Hebreus 8: 7-13), Deus estabelecerá um novo
coração para Israel, uma conversão genuína e autêntica, pois é constituída
sobre o sacrifício vicário de Cristo e, por causa disso, é garante da bênção
eterna para todo aquele que crê.
Como já foi referido, os profetas predisseram que os judeus regressariam
em duas etapas: primeiro para a sua terra e depois para Deus. No presente,
está a ocorrer o regresso físico dos judeus e Deus prepara o encontro com
o Seu povo para cumprir neles os desejos do Seu coração expressos na
Sua Palavra.
Em Isaías 11: 10-12, Deus afirma: Naquele dia, o rebento da raiz de
Jessé, posto por estandarte dos povos, será procurado pelas nações e
será gloriosa a sua morada. Naquele dia o Senhor levantará de novo a
sua mão para resgatar o resto do seu povo, os sobreviventes da Assíria e
do Egito, de Patros, da Etiópia, de Elão, de Senaar, de Emat e das ilhas
do mar. Levantará o seu estandarte entre as nações, juntará os exilados
de Israel, e reunirá os dispersos de Judá, dos quatro cantos da terra.
Nesta profecia estão mencionados os nomes de alguns dos países onde
estão os sobreviventes das tribos perdidas de Israel, para aí levadas
durante os exílios da Assíria, Babilónia e, mais tarde na Diáspora ocorrida
no ano 70.
O profeta Ezequiel também profetizou sobre esse tempo futuro: É por isso
que diz o Senhor Deus: Agora vou reconduzir os cativos de Jacob e
usarei de misericórdia para com toda a casa de Israel; mostrarei o meu
zelo pelo meu santo nome. Esquecerão a sua ignomínia e todas as
158
infidelidades de que se tronaram culpados para comigo, quando de novo
habitarem tranquilamente o país deles, sem que alguém os inquiete.
Quando os tiver trazido das nações e recolhido dentre os países inimigos
e tiver manifestado a minha santidade aos olhos de muitas nações, pela
minha conduta a seu respeito, reconhecerão que sou eu, o Senhor, seu
Deus, porque depois de os haver exilado entre os povos, os reuni na sua
terra, sem por lá deixar um único (Ezequiel 39: 25-28).
O Reino Milenar de Cristo será um reino literal. Nessa época dar-se-á o
retorno total dos judeus à sua terra. Nestes incluem-se os membros das
tribos perdidas, pois a Palavra profética declara que eles voltariam sem
nenhuma exclusão a Israel! Aí, Deus fará uma aliança com o seu povo:
Jamais desviarei deles a minha face, pois que terei derramado sobre a
casa de Israel o meu Espírito, oráculo do Senhor Deus (Ezequiel 39: 29). É
no território israelita, através do Seu povo, que Ele entrará em juízo com
as nações da Terra. Portanto, discernir o sinal dos tempos é importante: o
retorno atual do povo de Israel à terra dos seus pais é sintomático, pois
aponta para o fim e também para o juízo de Deus sobre as nações que
desprezam Deus e Israel.
A História do povo judeu, que tem atraído sobre si a animosidade e
suscitado a inveja dos seus vizinhos, corresponde exatamente à que nos é
revelada na Palavra de Deus. Contudo, cego como está quanto a Cristo,
utiliza o seu talento para aumentar o seu orgulho. Quando Israel deixar a
sua rebeldia contra Deus e se voltar para o seu Messias, e reconhecer que
O crucificou, acontecerá, então, a sua plena restauração. Esta profecia de
Isaías qualifica muito bem esse tempo: Levanta-te e resplandece! Chegou
a tua luz, a glória do Senhor levanta-se sobre ti. Vê, a noite cobre a terra
e a escuridão, os povos, mas sobre ti levanta-se o Senhor, e a sua glória
te ilumina. As nações caminharão para a tua luz, e os reis, para o
resplendor da tua aurora. Levanta os olhos e vê à tua volta: Todos se
reúnem para vir a ti; os teus filhos chegarão de longe, e as tuas filhas
transportadas à garupa. Quando viés isto resplandecerás, o teu coração
palpitará e se dilatará, porque para ti afluirão as riquezas do mar, e a ti
virão os tesouros das nações (Isaías 60: 1-5).
A palavra profética dada a Moisés há 3.500 anos, depois do êxodo do
Egito, já mencionava o futuro de vicissitudes por que iria passar o povo
159
judeu: Quando, pois, sobrevierem todos esses acontecimentos, a bênção
ou a maldição, que deixo à tua escolha, se os tomares a peito no meio de
todos os povos entre os quais o Senhor te tiver desterrado, e te voltares
de novo para o Senhor, teu Deus, e obedeceres à sua voz, tu e os teus
filhos, com todo o teu coração, o Senhor, teu Deus, terá piedade de ti,
porá fim ao teu exílio e te juntará de novo, tirando-te do meio dos povos
entre os quais te dispersou. Mesmo que os teus exilados se encontrassem
na extremidade dos céus, mesmo dali te chamaria o Senhor, teu Deus, e
mesmo ali iria procurar-te. O Senhor, teu Deus, reconduzir-te-á ao país
que os teus pais possuíram e que, por tua vez, possuirás, fazendo-te
prosperar e multiplicar mais que a teus pais. O Senhor, teu Deus,
circundará o teu coração e o da tua posteridade, para que ames o
Senhor, teu Deus, com todo o teu coração e com toda a tua alma, a fim
de que possas viver.
E o Senhor, teu Deus, cumular-te-á de bens, fazendo prosperar todo o
trabalho das tuas mãos, o fruto das tuas entranhas, o fruto do teu gado e
o fruto do teu solo, porque o Senhor comprazer-se-á de novo em fazer-te
bem, como fez aos teus antepassados (Deuteronómio 30: 1-6, 9).
De acordo com estes v.v., os filhos de Israel seriam dispersos por muitas
nações onde seriam punidos. Iniciariam o processo de regresso e seriam
libertos quando se voltassem para Deus e se convertessem e obedecessem
às Suas leis e mandamentos. Então prosperariam grandemente porque o
Senhor se alegrará deles novamente. Isto é profecia porque menciona a
diáspora e a restauração espiritual de Israel, antes mesmo de terem entrado
na Terra Prometida.
Está, pois, em preparação, um processo de reatamento das relações
privilegiadas com Deus. Esta preparação será feita através do castigo e da
consequente conversão que os levará a Cristo: Naquele tempo surgirá
Miguel, o grande chefe que protege as crianças do teu povo. Será este
um período de angústia, tal, que não terá havido outro semelhante desde
que existem nações até àquele tempo. Ora dentre a população do teu
povo, serão salvos todos os que se encontrarem inscritos no livro (Daniel
12: 1). Ai! Nenhum dia se assemelha a este! É um tempo de tribulação
para Jacob, mas do qual será salvo (Jeremias 30: 7). Paulo esclareceu que a
rejeição do Messias, por parte dos judeus, continuaria até que se
160
concluísse o propósito de Deus de chamar para Si um povo de entre os
não-judeus, a Igreja: Não quero, irmãos, que ignoreis... que o
endurecimento veio, em parte, sobre Israel, até que a plenitude dos
gentios haja entrado. E assim, todo o Israel será salvo... e este será o
meu pacto com eles, quando eu tirar os seus pecados. Quanto ao
Evangelho, são inimigos, por causa de vós; mas, quanto à eleição, são
amados, por causa dos pais. Porque os dons e a vocação de Deus são
irrevogáveis (Romanos 11: 25-29). É importante esclarecer que a expressão
‘plenitude dos gentios’ corresponde ao total de gentios que serão salvos
durante a vigência da Igreja, não devendo ser confundida com ‘tempos dos
gentios’ que tem a ver com o sistema de governação humana. No v. acima,
Paulo estava a dizer que o endurecimento ou cegueira espiritual a que
Israel tem estado sujeito, será retirado depois de se dar o Arrebatamento
da Igreja, depois do qual Deus voltará a lidar com essa nação.
Durante o período da Tribulação, que se seguirá ao Arrebatamento,
aumentará o número dos judeus que se converterão a Cristo. A
Tribulação terminará quando Cristo operar o livramento dos judeus que
se converterem. Paulo concluiu dizendo que o que tinha acabado de
esclarecer era consequência da recusa do Evangelho por parte de Israel, e
que esta recusa tinha permitido que os não judeus fossem abrangidos, pois
a obra de Deus não poderia parar. Afirmou ainda que os judeus, apesar
dessa sua atitude, não são destruídos porque são o povo eleito e Deus ama
os seus patriarcas – Abraão, Isaac e Jacob.
Israel está colocado sob o julgamento de Deus por causa da sua rebeldia,
contudo, continua a ser um povo privilegiado: Qual é, então, a vantagem
do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? É grande, sob qualquer
aspeto. Principalmente porque lhe foram confiados os oráculos de Deus
(Romanos 3: 1, 2). Paulo também afirmou: ...que são israelitas, aos quais
pertencem a filiação adotiva, a glória, as alianças, a legislação, o culto,
as promessas; dos quais são os patriarcas e dos quais nasceu Cristo,
segundo a carne, o qual está sobre todas as coisas, Deus bendito por
todos os séculos! Amem (Romanos 9: 4, 5). O apóstolo estava a afirmar que o
judeu tem muitas vantagens pois recebeu de Deus as profecias, a lei e tudo
o que o distingue dos outros povos, em termos de eleição divina, para a
transmissão da Sua mensagem à Humanidade. Ao fazê-lo, reforçou-o

161
referindo a circuncisão, pois todos os judeus estão a ela sujeitos como
sinal da sua Aliança com Deus. Não estava a transmitir juízos de valor
sobre ela.
A profecia de Ezequiel 37: 1-28 também menciona a restauração política e
espiritual de Israel. Eis algumas passagens: A mão do Senhor baixou
sobre mim. Levou-me em espírito e deixou-me no meio da planície, a
qual estava coberta de ossadas. Fez-me andar em volta em todos os
sentidos, através destas ossadas, que, em grande número, jaziam
estendidas à superfície da planura. Reparei que estavam completamente
mirradas. O Senhor disse-me: Filho do homem, estas ossadas poderão
voltar à vida? Senhor Deus, respondi eu, (só) vós sabeis
Disse-me, então: Profere um oráculo sobre as ossadas. Ossadas
ressequidas, lhes dirás, escutai a palavra do Senhor: Eis o que vos diz o
Senhor Deus. Vou introduzir em vós o sopro da vida para que revivais.
Sobre vós colocarei músculos, farei crescer a carne, que revestirei de
pele; depois meter-vos-ei o sopro da vida, para que revivais. Sabereis
assim que eu sou o Senhor.
Profetizava, pois, eu, assim, conforme a ordem que havia recebido. No
momento em que começava, ouviu-se um ruído, depois um tumulto
ensurdecedor, enquanto os ossos se vinham juntar, uns aos outros.
Observando, vi que se formavam sobre eles músculos, que a carne lhes
nascia e que uma pele os acabava de recobrir. Mas espírito neles, nada!
Profetiza ao espírito, me diz o Senhor, profetiza, filho do homem,
dirigindo-te ao espírito: Eis o que diz o Senhor Deus: Vem, espírito dos
quatro cantos do céu, sopra sobre estes mortos para que revivam. Proferi
o oráculo que me era ordenado e, imediatamente, o espírito penetrou
neles. Retomando a vida, endireitaram-se sobre os seus pés: Um grande,
um enorme exército.
Disse-me então o Senhor: Filho do homem, estas ossadas constituem
toda a raça dos israelitas, aqueles que dizem: Os nossos ossos estão
completamente secos, a nossa esperança se desvaneceu; ficámos
reduzidos a isto. Por isso refere-lhes o oráculo seguinte: Eis o que diz o
Senhor Deus: Meu povo, vou abrir os vossos túmulos; tirar-vos-ei deles
e vos restabelecerei na terra de Israel. Sabereis então que eu é que sou o
Senhor, ó meu povo, quando tiver aberto os vossos túmulos e vos tiver
162
levantado deles, quando meter em vós o meu Espírito, a fim de vos
restituir a vida e vos estabelecer de novo em vosso país. Sabereis então
que fui eu, o Senhor, quem o disse e o executou, oráculo do Senhor.
E a profecia prossegue com a restauração espiritual de Israel – a sua
conversão a Jesus Cristo, o seu Messias, que reinará para sempre: quando
meter em vós o meu Espírito, a fim de vos restituir a vida e vos
estabelecer de novo em vosso país. Sabereis então que fui eu, o Senhor,
quem o disse e o executou...
Assim fala o Senhor Deus: Vou recolher os israelitas dentre as nações
por onde estiverem dispersos; vou reuni-los de toda a parte para os
tornar a trazer para a sua pátria. Farei com que, na pátria, sobre as
montanhas de Israel, não formem mais que uma nação, a qual não terá
mais que um único rei. Não existirá mais a divisão em dois povos e em
dois reinos. Não se mancharão mais com os seus ídolos e nunca mais
cometerão infames abominações. Libertá-los-ei de todas as
transgressões de que se tornaram culpados e os purificarei. Serão o meu
povo e eu serei o seu Deus. O meu servo David será o rei deles e haverá
um só pastor para todos; obedecerão às minhas ordens, observarão os
meus mandamentos e praticá-los-ão. Habitarão o país que eu dei ao meu
servo Jacob e no qual habitaram os vossos pais; aí ficarão eles, os seus
filhos e os filhos dos seus filhos, para sempre. David, meu servo, será
para sempre seu rei. Concluirei com eles uma aliança de paz, um tratado
eterno. Fixá-los-ei e os multiplicarei. Entre eles fundarei para sempre o
meu santuário. A minha morada será no meio deles. Serei o seu Deus e
eles serão o meu povo. E as nações saberão que eu sou o Senhor que
santifica Israel, quando o meu santuário se encontra firmado, para
sempre, no meio do (meu) povo.
Jeremias profetizou: Dias virão, oráculo do Senhor, em que farei brotar
de David um rebento de justiça, que será rei, governará com sabedoria e
exercerá no país o direito e a justiça. Sob o seu reinado, Judá será salvo
e Israel viverá em segurança. Então será este o seu nome: Javé, nossa
justiça! (Jeremias 23: 5, 6).
Sobre o estabelecimento do trono de David em Jerusalém está descrito:
Naquele tempo Jerusalém será chamada trono do Senhor, e, em nome

163
do Senhor, nela todas as nações se reunirão, e não voltarão a ir atrás da
maldade do seu perverso coração (Jeremias 3: 17).
Em Isaías: Porquanto um menino nasceu para nós, um filho nos foi
dado, que tem a soberania sobre os seus ombros, o qual se chamará
Conselheiro admirável, Deus forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz. O seu
império será grande e a sua paz não terá fim sobre o trono de David e
sobre o seu reino. Ele estabelecê-lo-á e mantê-lo-á pelo direito da
justiça, desde agora e para sempre. Fará isto o zelo do Senhor dos
exércitos (Isaías 9: 6, 7).
Como anteriormente se referiu, o profeta Ezequiel também profetizou
sobre o Milénio (Ezequiel 39: 21-29).
A História mostra que a Humanidade caminha para o fim previamente
descrito na Bíblia. No seu centro está Israel como o grande sinal de Deus
ao mundo. A Bíblia deixa-nos conhecer os detalhes do que será o papel
deste país na história da Humanidade, durante o Quinto Império ou o
Reino Milenar de Cristo: Acontecerá que, no fim dos tempos, o monte
da casa do Senhor será estabelecido à cabeça dos (outros) montes. E se
elevará sobre os outeiros. E os povos concorrerão a ele. Numerosas
nações ali afluirão, dizendo: Vinde, subamos ao monte do Senhor, a
casa de Deus de Jacob. Ele nos ensinará os seus caminhos, e andaremos
pelas suas veredas. Porque a doutrina sairá de Sião, e a palavra do
Senhor de Jerusalém. Ele será árbitro de numerosas nações e juiz de
povos longínquos e poderosos. Eles converterão as suas espadas em
relhas de arados, e as suas lanças em foices; um povo não levantará
mais a espada contra o outro, e não se aprenderá mais a pelejar. Mas
cada um repousará debaixo da sua parreira e da sua figueira, sem que
ninguém o intimide, porque assim o disse, pela sua boca, o Senhor dos
exércitos. Com efeito, todos os povos andam, cada um em nome do seu
deus; Nós, porém, andaremos sempre em nome do Senhor, nosso Deus.
Naquele dia, diz o Senhor, recolherei os coxos, reunirei os dispersos e os
que eu tinha afligido. Dos estropiados farei um resto, e dos afastados,
um povo poderoso. O Senhor reinará sobre eles no monte Sião, desde
agora e para sempre. E tu, torre do rebanho, fortaleza da filha de Sião,
virá até junto de ti a soberania de outrora, a realeza da filha de
Jerusalém (Miqueias 4: 1-8).
164
Levanta os olhos em volta e vê: Como todos se reuniram para vir a ti.
Juro pela minha vida, diz o Senhor, que de todos estes te revestirás,
como de um ornamento, como uma noiva te cingirás; Porque as tuas
ruínas e devastações, o teu território saqueado, serão estreitos para os
teus habitantes, e serão afugentados para longe os que te devoraram.
Isto diz o Senhor Deus: Eis que levantarei a minha mão para as nações,
e arvorarei o meu estandarte para alertar os povos. Trarão os teus filhos
na dobra do seu manto, e levarão as tuas filhas sob os seus ombros. Reis
serão os que te alimentam e as princesas as tuas amas; prostrados diante
de ti, com o rosto por terra, lamberão o pó dos teus pés. Saberás então
que eu sou o Senhor, e que não serão confundidos os que confiam em
mim (Isaías 49: 18, 19, 22, 23).
Os estrangeiros reerguerão as tuas muralhas, e os seus reis te servirão,
porque se te feri na minha indignação, na minha bondade tive
misericórdia de ti. As tuas portas estarão sempre abertas, não se
fecharão nem de dia nem de noite, a fim de que te seja trazida a riqueza
das nações, com os seus reis à frente, como guias.
Os próprios filhos dos teus opressores, a ti virão humilhados, prostrar-
se-ão a teus pés todos os que te desprezaram; chamar-te-ão a cidade do
Senhor, a Sião do Santo de Israel. De abandonada, aborrecida e
amaldiçoada, farei de ti um eterno prodígio, um motivo de alegria para
as gerações futuras. Alimentar-te-ás com o leite das nações, serás criada
ao peito dos reis; saberás que eu, o Senhor, sou o teu salvador, que o teu
redentor é o Forte de Jacob (Isaías 60: 10, 11, 14-16).
Os que restarem de todas as nações que vieram contra Jerusalém, irão
todos os anos adorar o Rei, Senhor dos exércitos, e celebrar a festa dos
tabernáculos (Zacarias 14: 16).
No Milénio, Jesus Cristo governará com poder sobre toda a Terra
juntamente com os seus santos: O Senhor reinará sobre toda a terra.
Naquele dia o Senhor será o único e o seu nome será único (Zacarias 14: 9).
Se perseverarmos, reinaremos com ele... (2 Timóteo 2: 12). ...resgataste para
Deus homens de toda a tribo, língua, povo e nação. Fizeste deles reis e
sacerdotes para o nosso Deus, eles reinarão sobre a terra (Apocalipse 5: 9,
10):

165
Tudo Lhe estará sujeito. Haverá justiça e paz (Isaías 11: 5). A natureza será
restaurada à sua condição original, de ordem, perfeição e beleza (Ezequiel 34:
26, 27; Isaías 11: 6-8). Não haverá guerras (Miqueias 4: 3; Isaías 2: 4). A morte
continuará a existir na Terra, porque os seus habitantes não estarão em
corpo glorioso como os que foram arrebatados. A morte será uma exceção
porque terá um caráter punitivo como consequência da desobediência:
Não haverá ali criança que morra de tenra idade, nem adulto que
chegue à velhice, pois será ainda novo o que morrer aos cem anos, e
quem não chegar a esta idade será como um amaldiçoado (Isaías 65: 20).
Reinarão com Jesus Cristo e terão autoridade sobre todas as nações:
- Os salvos da igreja anteriormente arrebatada (Apocalipse 2: 26, 27; 3: 21; 5:
10; 20: 4);

Ao que vencer conceder-lhe-ei que se sente comigo no meu trono,


assim como eu venci e me sentei com o meu Pai no seu trono...
Fizeste deles reis e sacerdotes para o nosso Deus. Eles reinarão
sobre a terra... Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na
primeira ressurreição ...Serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e
reinarão com ele durante os mil anos (Apocalipse 3: 21; 5: 10; 20: 6; Mateus
19: 28). Estes, é importante recordar, estarão numa condição diferente,
pois passaram pela transformação do corpo, durante a ressurreição
corporal. Serão imortais: Assim acontecerá também com a
ressurreição dos mortos. Enterra-se um corpo mortal, e ressuscita
imortal. Enterra-se um corpo sem beleza, e ressuscita cheio de
esplendor; enterra-se um corpo fraco, e ressuscita forte. Enterra-se
um simples corpo humano, e aparece depois um corpo cheio de vida
nova, dada pelo Espírito. Se este corpo com vida humana existe,
também existe o corpo com vida dada pelo Espírito. ...E quando
aquilo que está sujeito a corromper-se ficar livre da corrupção e
aquilo que é mortal conseguir a imortalidade, estarão cumpridas
aquelas palavras da sagrada Escritura: A morte foi destruída numa
vitória completa (1 Coríntios 15: 42-44, 53, 54).
- Os salvos do período do AT e,
- Os crentes mártires da Grande Tribulação que ressuscitarão no fim
deste período (Apocalipse 20: 4).

166
A Humanidade que irá ser governada por Cristo a partir de Jerusalém,
será constituída pelos:
- Crentes, que permaneceram fiéis a Cristo durante a Tribulação;
- Judeus, que constituirão o remanescente que não chegou a ser morto
pelo regime ditatorial do Anticristo, (do qual farão parte os 144.000
selados, do capítulo 7 de Apocalipse), que formará o núcleo do Israel
futuro e a raiz desse novo povo, que será uma bênção na Terra, sob a
égide do Rei, Jesus o Cristo;
- Seres humanos que nascerem durante o Milénio.
Nenhum dos que se oporão a Cristo até à Sua volta participará nesse Reino
(Apocalipse 19: 21).

Contudo, não se deve confundir o Milénio como a condição final, porque


o pecado e a morte ainda existirão. Contudo, o mal será grandemente
restringido e a justiça prevalecerá na Terra como nunca antes aconteceu.
Antes do final do Milénio, haverá a última rebelião contra Deus (Apocalipse
20: 8). Muitos dos que nascerão durante esse período optarão pela rejeição
do senhorio visível de Cristo que levará, como consequência do
julgamento divino, à sua destruição e ruína total (Apocalipse 20: 9). Depois,
ocorrerá o Julgamento do Grande Trono Branco (Apocalipse 20: 11-15), ou o
Juízo Final, que será descrito no próximo subcapítulo.

ISRAEL NO LIVRO DO APOCALIPSE


Este livro do NT, que finaliza o Plano de Deus para a Humanidade é um
dos menos compreendidos e mais debatidos livros da Bíblia. É importante
para a compreensão do que se passará no período de Tribulação, quer em
Israel, quer em todo o planeta. Relata, como livro cristão, muitos dos
desafios e lutas por que a Igreja iria passar, o seu culminar vitorioso, bem
como o descanso posterior quando permanecer para sempre com Cristo.
São, também, pormenorizados acontecimentos descritos no AT,
nomeadamente em Daniel, Ezequiel e Isaías, sobre o ‘fim dos tempos’,
onde a vinda do Messias, bem como o papel que desempenharia, foram
profetizados. Em Apocalipse é apresentada a imagem do Filho do Homem
exaltado, o Cristo atual, descrito como Rei, Sacerdote e Juiz, também
mencionada pelo profeta Daniel (Daniel 7: 13, 14; 10: 5, 6). Nele intervém o
167
próprio Messias: Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para
manifestar aos seus servos (Apocalipse 1: 1). Esta revelação demonstra a
coerência da mensagem bíblica e a estreita complementaridade entre
ambos os Testamentos, importante para a correta interpretação da
profecia, no seu todo. Não é possível compreender um, sem se conhecer o
outro. O livro de Apocalipse descreve, de modo desenvolvido, a 70.ª
Semana de Daniel, que está dividida em dois períodos iguais, de três anos
e meio ou 1260 dias (Apocalipse 11: 2, 3; 12: 6, 14 e 13: 5). A explicação aqui
apresentada é apoiada na Bíblia de Estudo Pentecostal.
A Bíblia prediz que o ‘fim dos tempos’ seria precedido de uma sequência
de acontecimentos globais específicos nunca antes ocorridos, mas como é
que isso pode ser provado? Cristo foi interpelado pelos apóstolos sobre os
sinais dos ‘tempos do fim’: Mestre, quando sucederá isso? E qual o sinal
quando isso estiver para acontecer? (Lucas 21: 7). E o Senhor respondeu-
lhes: Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis; é
preciso que estas coisas sucedam primeiro, mas não será logo o fim.
Disse-lhes depois: Erguer-se-á povo contra povo e reino contra reino.
Haverá grandes terramotos, e, em vários lugares, fomes e epidemias;
haverá fenómenos apavorantes e grandes sinais no céu (Lucas 21: 9-11).
Repare-se no v. 9, onde está dito que é preciso que estas coisas sucedam
primeiro, mas não será logo o fim. O Evangelho de Mateus esclarece um
pouco mais, acrescentando: Contudo, esses acontecimentos serão apenas
como as primeiras dores de parto (Mateus 24: 8). Os sinais descritos por
Jesus sempre estiveram presentes. Contudo, Ele refere-os como um
conjunto, com um padrão distinto, pois, no v. 8, Ele salienta: como as
primeiras dores de parto. O que significa este sinal? Que tem de comum
com as dores de parto? Estas são dores agudas, que vão aumentando de
frequência e intensidade, antes do parto. É o que acontecerá, esses eventos
surgirão com maior frequência e intensidade, antecedendo a Sua segunda
vinda, no fim da Grande Tribulação. Serão tempos trabalhosos em que o
ser humano será corrupto e depravado moral e espiritualmente, onde a
violência imperará: Mas os homens maus e impostores irão de mal a
pior, errando e induzindo os outros a errar (2 Timóteo 3: 13). Sabe, porém,
isto: Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis. Os homens tornar-se-
ão egoístas, avarentos, arrogantes, soberbos, maldizentes, desobedientes
aos pais; ingratos, ímpios, sem coração, desleais, caluniadores,
168
dissolutos, cruéis, inimigos dos bons, traidores, insolentes, orgulhosos e
mais amigos dos prazeres do que de Deus; conservarão a aparência da
piedade, mas negarão o que constitui a sua força (2 Timóteo 3: 1-5).
Ao falar ainda da Sua vinda, Jesus referiu, também, um evento que dar-se-
á de modo similar ao que sucedeu nos dias de Noé: Como foi nos dias de
Noé, assim acontecerá na vinda do Filho do Homem. Nos dias que
precederam o dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em
casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca; e não deram por
nada até chegar o dilúvio, que a todos arrastou. Assim será também a
vinda do Filho do Homem (Mateus 24: 37-39). O assunto central desta
passagem é o regresso inesperado e não percetível de Cristo, em que o
mundo estará entregue à sua rotina. Logo a seguir Cristo afirmou: Então
estarão dois homens no campo: Um será levado e outro será deixado;
duas mulheres estarão a moer no mesmo moinho: Uma será levada e
outra será deixada. Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o
Senhor (Mateus 24: 40-42). Aqui há a referência ao arrebatamento de pessoas
que se dará no início desse período de tribulação e que corresponde ao
Arrebatamento dos salvos, como explicado por Paulo em 1
Tessalonicenses 4: 13-17. Na verdade, a afirmação de Jesus Cristo, de que
será levado um e deixado outro, precede uma advertência aos cristãos:
Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o Senhor. Por isso, estai
vós também preparados, porque o Filho do homem virá na hora em que
menos pensardes (Mateus 24: 42, 44).
A Bíblia informa que poucos prestarão atenção aos sinais do ‘fim dos
tempos’, tal como no tempo de Noé, em que as pessoas estavam tão
ocupadas com os seus trabalhos quotidianos que não tinham tempo
para Deus (Mateus 24: 38, 39). Assim como a mensagem de Noé não era nada
fácil de ser aceite, assim hoje são estranhas para a mente do homem
moderno as mensagens bíblicas sobre o ‘tempo do fim’.
Relembra-se que Jeremias profetizou um Tempo de Angústia para Jacob
(Jeremias 30: 7). São os sete anos que terão lugar num tempo futuro, a 70.ª
Semana da profecia de Daniel (Daniel 9: 27). Será um tempo de sofrimento e
de juízos sem precedentes, onde se inclui uma Grande Guerra Mundial,
sob a direção do Anticristo – o Harmaguedon, que antecederão, logo, a
segunda vinda de Cristo à Terra (ver Mateus 24: 21). Jerusalém será tomada

169
pelas forças da futura coligação mundial que a atacará, pois, todo o mundo
estará contra Israel. Jeremias também profetizou esta guerra mundial
(Jeremias 25: 29-38). Cristo voltará durante essa guerra, descendo no Monte das
Oliveiras (Zacarias 14: 4), de onde ascendeu após os quarenta dias que passou
na Terra (Atos 1: 3) depois da Sua ressurreição (Atos 1: 11, 12). Cristo regressará
para impedir a destruição do Seu povo, o remanescente: Juntarei todas as
nações para darem batalha contra Jerusalém: A cidade será tomada, as
casas serão destruídas, as mulheres violadas; metade da cidade irá para
o cativeiro, mas o resto do povo não será exterminado. Então sairá o
Senhor e pelejará contra aquelas nações; Ele combaterá como se peleja
no tempo da guerra. Nesse dia os seus pés pousarão no monte das
Oliveiras, que está defronte de Jerusalém, para o lado do oriente (Zacarias
14: 2-4). Os habitantes de Jerusalém que sofrerão as consequências dessa
guerra e serão mortos, são os que se recusarão a reconhecer Jesus como o
Messias. Esses, juntamente com todos os seres humanos rebeldes, de todas
as nações da Terra, não farão parte do Milénio. Nessa ocasião o
remanescente dos judeus reconhecê-lo-á como Aquele que trespassaram e
aceitá-lo-á como o Messias (Zacarias 13: 8, 9).
Deus, ao revelar ...aos seus servos as coisas que em breve devem
acontecer... (Apocalipse 1: 1), fê-lo para testemunho da Sua existência. Ignorar
a Palavra profética não impede que ela seja cumprida. Quem a rejeita, ou
opta por ignorá-la, não pode ser informado ou preparado para aquilo para
que ela veio.
O que é, então, relatado no livro do Apocalipse sobre o que acontecerá
nesse tempo de Tribulação? Muito resumidamente:
Haverá diversos julgamentos divinos, que ocorrerão em séries sucessivas:
1 - A primeira série é a dos Sete Selos (Apocalipse 6). Estes são os segredos
de Deus para com o Seu povo: E vi na mão direita do que estava sentado
sobre o trono um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete
selos (Apocalipse 5: 1). Correspondem aos primeiros três anos e meio do
período da Tribulação. Neles, Deus mostra o que fará com os inimigos do
Seu povo;
2 - A segunda é a das Sete Trombetas (Apocalipse 8 a 9 e 11: 15-19), que estão
contidas no sétimo selo: Quando ele abriu o sétimo selo, fez-se no céu
silêncio cerca de meia hora. Depois vi os sete anjos que estavam diante
170
de Deus, e foram-lhes dadas sete trombetas (Apocalipse 8: 1, 2). São os juízos
de Deus sobre o sistema mundial do Anticristo, que decorrerão no início
do segundo período da Tribulação, designado por Grande Tribulação.
Nesta fase, os julgamentos serão parciais, a fim de dar oportunidade de
arrependimento e salvação a quem viver nessa época. As trombetas
iniciam os avisos e o Evangelho será anunciado; e,
3 - A terceira, a das Sete Taças da ira de Deus (capítulos 15 e 16) incluídas na
sétima trombeta: O sétimo anjo tocou a sua trombeta. Ouviram-se então
vozes no céu que clamavam: O império do mundo foi entregue a Nosso
Senhor e ao seu Cristo e Ele reinará pelos séculos dos séculos (Apocalipse
11: 15). Satanás opor-se-á fortemente aos planos de Deus que derramará,
definitivamente, a Sua ira sobre o Anticristo e o seu regime.
Entende-se que a abertura do primeiro selo corresponde ao início da acima
mencionada 70.ª semana profetizada por Daniel.
Os Quatro Primeiros Selos correspondem ao surgimento de quatro
cavalos e respetivos cavaleiros (Apocalipse 6: 1-8). Representam o julgamento
divino contra o sistema mundial corrupto e maligno vigente na altura, bem
como contra os ímpios.

O APARECIMENTO DO ANTICRISTO OU DA BESTA QUE SUBIU DO


MAR
Crê-se que o cavaleiro montado no cavalo branco – 1.º Selo, que partiu
vencedor para novas vitórias, é o Anticristo (Apocalipse 6: 2), o futuro líder e
ditador mundial. A sua conquista inicial pelo poder realizar-se-á sem
guerra aberta. Emergirá num planeta em conflito e em crise económica,
tornando-se num líder internacional. Trabalhará dedicadamente para
instaurar a paz e a prosperidade no mundo. O seu sucesso permitir-lhe-á
concluir o acordo entre Israel e as nações ao seu redor que levará a tão
desejada paz ao povo judeu (Daniel 9: 27). Por causa disso, será reconhecido
por Israel como o seu salvador. Jesus Cristo afirmou: Vim em nome de
meu Pai e não me recebeis, mas se vier outro, em seu próprio nome,
recebê-lo-eis (João 5: 43).
O acordo que ele fará, com certeza que permitirá a reconstrução do
Templo e o restabelecimento dos sacrifícios de animais, porque a sua
anulação ...ao meio da semana fará cessar o sacrifício e a oblação (Daniel
171
9: 27).
Que razão levará esse personagem a permitir reconstruir o Templo
judeu? Talvez por razões egoístas, para usá-lo para se promover como
deus e fazer o mundo adorá-lo. Para que seja possível reconstruir o
Templo terá de haver algo de muito profundo para fazer os árabes
submeterem-se a essa surpreendente deliberação de transformar o Monte
do Templo.
Nessa época a paz será tirada. Esse tempo é simbolizado pelo segundo
cavaleiro – 2.º Selo, montado num cavalo vermelho representando a
guerra e a morte violentas (Apocalipse 6: 4). Sobrevirá uma grande fome,
simbolizada pelo terceiro cavaleiro montado no cavalo preto (Apocalipse 6: 5,
6). A fome alastrar-se-á a todo o mundo - 3.º Selo. A fome e a crise
económica mundial serão tão sérias no início da Tribulação, que será
necessário o salário de um dia para comprar um pão: ...Uma medida de
trigo por um dinheiro, e três medidas de cevada por um dinheiro
(Apocalipse 6: 6). Um dinheiro era o equivalente ao salário de um dia.

O quarto cavalo e o respetivo cavaleiro simbolizam a escalada terrível da


guerra, da fome, da morte, das pragas, das enfermidades e das feras
perigosas – 4.º Selo. Morrerá a quarta parte da humanidade (Apocalipse 6: 8).
O 5.º selo representa o tempo da perseguição a quem aceitar Cristo e não
renegar a Sua Palavra: mortos por causa da palavra de Deus (Apocalipse 6:
9). Apocalipse 20: 4 esclarece o modo como serão mortos: ...vi ainda as
almas dos que foram decapitados por terem dado testemunho de Jesus e
por terem acreditado na palavra de Deus e as almas de todos aqueles
que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e que não tinham
recebido a sua marca na fronte ou na mão.
O 6.º selo abrange um grande terramoto, o escurecimento do sol e a lua
com cor de sangue: Quando abriu o sexto selo, sobreveio um grande
tremor de terra; o sol tornou-se negro como saco de crina, a Lua tornou-
se como sangue (Apocalipse 6: 12). As estrelas cairão sobre a Terra: e as
estrelas do céu caíram sobre a terra, como figos verdes caiem da figueira
sacudida por um vento forte. O céu retirou-se, como um livro que se
enrola, e todos os montes e ilhas foram removidos dos seus lugares
(Apocalipse 6: 13).

172
O capítulo 7 mostra quem permanecerá fiel a Cristo durante a Grande
Tribulação. Esses fiéis serão constituídos pelo remanescente judeu
representado pelo número 144.000 (Apocalipse 7: 3-8), bem como pelos não-
judeus (Apocalipse 7: 9, 10, 13-15).
A abertura do 7.º selo dará início aos juízos das sete trombetas.
As Quatro Primeiras Trombetas representam destruição, pelo fogo e
pela saraiva, da terça parte da vegetação da Terra; a terça parte dos mares
e dos rios ficarão poluídos; os céus, o sol, a lua e as estrelas ficarão
obscurecidos durante uma terça parte do dia e da noite (Apocalipse 8: 7-13). Os
seres humanos também serão afetados, pois muitos serão mortos (Apocalipse
8: 11); contudo, só a terça parte será atingida, porque o propósito é conduzir
as pessoas à reflexão para levá-las ao arrependimento (Apocalipse 9: 20, 21).
A Bíblia menciona o seguinte sobre os ‘tempos do fim’: A terra está
profanada pelos seus habitantes, porque transgridem as leis, violaram o
direito e romperam a aliança eterna. Por isso a maldição devora toda a
terra, e os seus habitantes expiam as penas dos seus crimes; ...e os
fundamentos da terra serão abalados. A terra será despedaçada com
violência, será fendida e sacudida, agitar-se-á como um homem
embriagado e vacilará como uma tenda... (Isaías 24).
Para a mesma época está profetizado que será uma enorme massa,
ardendo em fogo, semelhante a uma montanha, foi lançada ao mar
(asteroide?) que destruirá a terça parte da vida marítima e muitos navios
(Apocalipse 8: 8, 9).

Ao som da 5.ª Trombeta haverá um período em que a humanidade será


fortemente atormentada, como consequência de grande atividade
demoníaca (Apocalipse 8: 1-12).
A 6.ª Trombeta dará início a uma grande guerra na zona do rio Eufrates,
que terá como consequência a morte de um terço da humanidade (Apocalipse
9: 13-19). Esta guerra parece ser a relatada em Ezequiel 38: 7-17, onde é
mencionada a época em que acontecerá: Quando o meu povo de Israel
habitar em segurança completa, isto é, nos primeiros 3 anos e meio da
Tribulação, e em Daniel 11: 41-43, e que culminará na batalha do
Harmaguedon, no fim da Grande Tribulação: O sexto derramou a sua
taça sobre o grande rio Eufrates: Então as suas águas secaram, para
173
passagem aos reis do oriente. ...os quais vão ao encontro dos reis de todo
o mundo para os congregar para a batalha do grande dia do Deus todo-
poderoso (Apocalipse 16: 12).
Nos v.v. 20 e 21 está uma referência à feitiçaria que, nos últimos tempos
aumentará muito (Apocalipse 18: 23; 21: 8; 22: 15; 1 Timóteo 4: 1). Esta prática, ligada
ao ocultismo, inclui a pretensa comunicação com os espíritos dos mortos,
poderes sobrenaturais, paranormais e demoníacos, com o propósito de
manipular ou influenciar coisas e pessoas.
Ao soar da 7.ª Trombeta, cumprir-se-ão todas as profecias sobre os
‘tempos do fim’ que Deus revelou aos Seus profetas no tempo do Antigo
Concerto (Apocalipse 10: 7). Trata-se do cumprimento do propósito de Deus
quanto à volta de Cristo à Terra e o estabelecimento do Seu Reino
(Apocalipse 11: 15).

Alguns acontecimentos relacionados com o período da Tribulação estão


descritos entre os capítulos 12: 1 e 15: 4. Assim, em 12: 1 a mulher
simboliza Israel através do qual o Messias veio ao mundo (v. 5).
Representa Israel pela referência feita ao sol, à lua e às 12 estrelas, que
naturalmente correspondem às 12 tribos de Israel (Génesis 37: 9-11): José
teve ainda outro sonho que contou aos irmãos, dizendo: Tive ainda um
sonho, no qual vi o sol, e a lua, e onze estrelas prostrarem-se diante de
mim. Contou-o ao pai e aos irmãos, e o pai repreendeu-o, dizendo: Que
significa um tal sonho? Será possível que eu, tua mãe e os teus irmãos
tenhamos de prostrar-nos por terra a teus pés? Os irmãos de José
invejaram-no, mas o pai aguardou os acontecimentos.
A mulher que fugiu para o deserto (Apocalipse 12: 6) simboliza o Israel fiel, o
remanescente da Grande Tribulação (confirmado pelos 1.260 dias,
exatamente a segunda metade do período da Tribulação).
Haverá uma batalha nos céus, onde o diabo será derrotado e deixará de lhe
ter acesso: Travou-se, então, uma batalha no céu: Miguel e os seus anjos
pelejavam contra o dragão e este pelejava também juntamente com os
seus anjos. Mas não prevaleceram, e não houve mais lugar no céu para
eles. O grande dragão foi precipitado, a antiga serpente, o Diabo ou
Satanás, como lhe chamam, sedutor do mundo inteiro, foi precipitado
na terra, juntamente com os seus anjos. E ouvi uma voz clamar no céu:

174
Agora chegou a salvação, o poder e o reino do nosso Deus e o poder do
seu Cristo, porque o acusador dos nossos irmãos, que os acusava de dia
e de noite diante de Deus, foi derrubado (Apocalipse 12: 7-10).
Satanás e as suas forças já não poderão derrotar Deus e o Seu Filho, e
serão atirados à Terra, o que significa uma mudança na frente de batalha.
Satanás terá, então, a confirmação de que está perdido, que a sua derrota
final se aproxima e que terá poder somente na Terra: ...porque o demónio
desceu sobre vós, cheio de furor, sabendo que já tem pouco tempo
(Apocalipse 12: 12). Como não conseguirá derrotar Deus no reino espiritual,
voltará a sua atenção para o reino físico, onde espera ser vitorioso. Será a
mesma batalha espiritual pelo domínio do povo de Deus que vive na
Terra. Satanás encherá a Terra com as suas mentiras, enganos e tentações,
no seu esforço para destruir o povo de Deus, mas o seu poder sobre os
crentes fiéis será, também, efetivamente destruído e sofrerá uma derrota
esmagadora, pois os judeus tementes a Deus opor-se-ão à religião do
Anticristo (a religião mundial), que se autoproclamará deus, profanando o
templo de Jerusalém, que estará reconstruído nessa época, colocando nele
a sua imagem (Daniel 9: 27; 12: 11; Mateus 24: 15-25; 2 Tessalonicenses 2: 3, 4). Satanás
perderá a sua tentativa de ganhar domínio definitivo sobre a Humanidade
(Apocalipse 12: 17).

No início da segunda metade do período de Tribulação será instituído o


primeiro e último Governo Mundial da História e nomeado o seu
responsável político, que se revelará ser o Anticristo: Vi, então, subir do
mar, uma besta com sete cabeças e dez chifres; sobre os chifres, dez
diademas e, nas cabeças, nomes blasfematórios. ...O dragão transmitiu-
lhe o seu poder, o seu trono, e uma grande autoridade (Apocalipse 13: 1). O
capítulo 13 descreve o conflito entre o Anticristo e Deus, bem como o Seu
povo durante a Tribulação. A besta que subia do mar com dez chifres
representa esse último Governo Mundial, que é constituído por dez
poderes regionais sob o controlo do Anticristo. Referências proféticas a
esse acontecimento podem ser encontradas em Daniel 2: 41-45; 7: 24, 25 e
11: 36-45. O mar representa muitas nações (Apocalipse 17: 15).
A verdadeira identificação do Anticristo será evidente quando romper
todas as promessas anteriormente feitas a Israel, em relação à sua
proteção: Depois, apareceu um grande sinal no céu: uma mulher
175
revestida de sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze
estrelas sobre a cabeça. Quando o dragão viu que fora precipitado na
terra, perseguiu a mulher que dera à luz o Varão. Mas à mulher foram
dadas duas asas de grande águia, a fim de que voasse para o deserto,
para o lugar onde, longe da serpente, será alimentada por um tempo,
tempos, e metade de um tempo. Então a serpente lançou da boca, como
que um rio de água atrás da mulher, para que a corrente a arrastasse. A
terra, porém, veio em socorro da mulher: Abriu a sua boca e engoliu o
rio que saíra da boca do dragão. Furioso contra a mulher, o dragão foi
fazer guerra ao resto dos seus filhos, os quais guardam os mandamentos
de Deus, e têm o testemunho de Jesus. E fiquei de pé sobre a areia do
mar (Apocalipse 12: 1, 13-18). Procurará destruir a nação judaica, dando início à
pior perseguição da História. Serão socorridos por Deus e Satanás não
poderá vencê-los.
O Anticristo procurará obter o total controlo político, económico e
religioso do mundo. Graças a esta estrutura, haverá um período de uma
paz enganadora e uma sensação de prosperidade e segurança: E quando
disserem: Paz e segurança, então é que cairá subitamente sobre eles a
ruína, como as dores sobre a mulher grávida, e não poderão escapar (1
Tessalonicenses 5: 3). Muitos neste período converter-se-ão a Cristo, sendo que,
segundo Apocalipse 6: 9-11, estes que vierem a aceitar a Jesus Cristo
como seu Salvador e Senhor serão martirizados quase que imediatamente
por causa da sua fé, a exemplo dos mártires cristãos durante a época da
Igreja: Então um dos anciãos falou-me, dizendo: Estes que estão vestidos
com vestes brancas, quem são e de onde vieram? E eu respondi-lhe:
Meu Senhor, tu o sabes. Disse-me ele: Estes são os que vieram da
grande tribulação; lavaram os seus vestidos e os branquearam no
sangue do Cordeiro (Apocalipse 7: 13, 14).
Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram
mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que
deram. E clamavam em alta voz: Até quando, Senhor santo e verdadeiro,
esperarás para julgar e tirar vingança do nosso sangue sobre os
habitantes da terra? Deram a cada um deles uma veste branca e foi-lhes
dito que repousassem ainda algum tempo, até que se completasse o

176
número dos seus companheiros e dos seus irmãos que deviam ser mortos
como eles (Apocalipse 6: 9-11).
Todos os seres humanos serão obrigados a receber uma identificação
universal, na mão ou na testa, a fim de poderem comprar ou vender, ou
seja, ninguém poderá viver na clandestinidade: Fez com que todos,
pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, pusessem um sinal
na mão direita ou na fronte para que ninguém pudesse comprar ou
vender, se não fosse marcado com o nome da besta ou com o número do
seu nome. É aqui que é preciso sabedoria. Quem for dotado de
inteligência calcule o número da besta, porque é o número de um
homem, e o seu número é: Seiscentos e sessenta e seis (Apocalipse 13: 16-18).
Nas Escrituras, certos números têm um significado simbólico. Um
exemplo é o número sete que é usado muitas vezes para simbolizar o que é
perfeito: Abençoou o sétimo dia e santificou-o, visto ter sido nesse dia
que Deus repousou de toda a obra da criação (Génesis 2: 3). As palavras do
Senhor são verdadeiras, qual prata fina acrisolada, sete vezes depurada
(Salmo 12: 7). Este mandou-lhe dizer por um mensageiro: Vai, lava-te sete
vezes no Jordão e a tua carne ficará limpa. Naaman desceu ao Jordão e
lavou-se sete vezes, como lhe ordenara o homem de Deus, e a sua carne
tornou-se tenra como a de uma criança (2 Reis 5: 10, 14).
Pelo contrário, o número seis é um símbolo de algo imperfeito ou
defeituoso: ...na qual se encontrou um homem de alta estatura, que
tinha seis dedos em cada mão e em cada pé... (1 Crónicas 20: 6). Assim sendo,
seis repetido três vezes reforça essa imperfeição. Esse é o sentido correto,
pois é confirmado que é o número de um homem.
A história da besta, o próprio número 666, bem como o julgamento de
Deus contra ela e os que têm a sua marca: Se alguém adorar a besta e a
sua imagem, e se receber o seu sinal na fronte ou na mão, beberá
também o vinho da ira de Deus, deitado, sem mistura, no cálice da sua
ira (Apocalipse 14: 9, 10), levam à conclusão de que não é apenas uma marca
identificativa pessoal na mão direita ou na fronte, mas que esta fará parte
do sistema identificativo universal pertencente ao futuro poder político
planetário e, de um modo mais abrangente e tendo em atenção o que está
mencionado em Daniel 2: 44, a todo o sistema imperfeito de governação
humano: No tempo destes reis, o Deus dos céus fará aparecer um reino
177
que jamais será destruído e cuja soberania nunca passará a outro povo:
Esmagará e aniquilará todos os outros, enquanto ele subsistirá para
sempre.
É de recordar aqui o sonho de Nabucodonosor e a grande pedra que se
soltou sobrenaturalmente e que bateu nos pés de ferro e de barro da
estátua, fazendo-a em pedaços (Daniel 2: 34) e que mostra que Cristo reduzirá
a pó o sistema de governo humano e instituirá então o Seu reinado
universal – a pedra que tinha embatido contra a estátua se transformou
numa alta montanha, que encheu toda a terra (Daniel 2: 35).
De facto, o caminho para que venha a haver o governante mundial, está a
ser preparado. A globalização da economia é o primeiro passo. A
formação de grandes empresas planetárias (globalização da economia),
detentoras de um enorme poder económico, levará ao surgimento de um
poder político mundial. Verifica-se, cada vez mais, que as decisões
políticas importantes são tomadas em consenso mundial. Assiste-se ao
nascimento de grandes comunidades económicas regionais que se
transformam depois em políticas, cujo exemplo mais próximo é o da
União Europeia.
Nunca na história da Humanidade houve um governo que tivesse
controlado o mundo.
Líderes mundiais começam a propor a criação de uma autoridade política
e económica mundial. No seu artigo And now for a world government,
publicado no Finantial Times, em 8 de dezembro de 2008, o colunista
Gideon Rachman defende a criação de um governo mundial:
(...) Um “governo mundial" envolveria muito mais do que a cooperação entre as
nações. Seria como uma entidade com características de estado, apoiada por um
corpo de leis. A União Europeia já estabeleceu um governo continental com 27
países, o que poderia ser um modelo. A UE tem um parlamento, uma moeda,
milhares de páginas de lei, um grande serviço civil e a capacidade de implantar
uma força militar. Então, poder-se-ia ir para o modelo europeu global? Há três
razões para se pensar que sim.
Em primeiro lugar, é cada vez mais claro que as questões mais difíceis
enfrentadas pelos governos nacionais são de natureza internacional: existe o
aquecimento global, uma crise financeira global e uma rede de "terrorismo
global".

178
Em segundo lugar, porque as revoluções nos transportes e nas comunicações
tornaram o mundo pequeno, de modo que, como Geoffrey Blainey, um eminente
historiador australiano, escreveu: "Pela primeira vez na história da humanidade
um governo mundial, de algum tipo é agora possível." Blainey prevê que surja
uma tentativa de formar um governo mundial, em algum momento nos próximos
dois séculos, o que é um horizonte temporal excecionalmente longo para ser
contemplado numa coluna de jornal.
Contudo - o terceiro ponto - uma mudança no ambiente político sugere que o
“controlo global" poderia chegar muito mais cedo do que isso. A crise financeira
e as mudanças climáticas estão a pressionar os governos nacionais para soluções
globais, mesmo em países como a China e os EUA que são, tradicionalmente,
fortes guardiões de soberania nacional.
(...) Mas alguns pensadores europeus defendem que eles reconhecem o que está
acontecendo. Jacques Attali, conselheiro do presidente Nicolas Sarkozy, da
França, argumenta que "o controlo global é apenas um eufemismo para governo
global”. Tanto quanto se pensa, não pode surgir tão cedo algum tipo de governo
global. Jacques Attali acredita que o "núcleo da crise financeira internacional se
deve a termos mercados financeiros globais e nenhuma regra de direito global".
Parece, pois, estar tudo preparado. Pela primeira vez desde que o Homo sapiens
começou a rabiscar nas paredes das cavernas, há um argumento, uma
oportunidade e um meio de tomar medidas sérias para um governo mundial. Mas
não nos deixemos afastar do assunto. Embora pareça possível que algum tipo de
governo mundial possa surgir durante o próximo século, qualquer empurrão nesse
sentido, nos nossos dias, será um processo lento e doloroso.
Há boas e más razões para isso. A má razão é a falta de vontade e determinação
por parte dos líderes políticos nacionais, que - embora possam gostar de falar de
"um planeta em perigo" - estão muito mais virados para as suas próximas
campanhas eleitorais. Mas este "problema" também mostra, de modo mais
aceitável, a razão de o avanço para o controlo global ser lento. Mesmo na UE a
ideia de um governo baseado numa lei de direito internacional permanece
impopular. A UE tem sofrido uma série de derrotas humilhantes em referendos
quando os planos para estabelecer "uma união cada vez mais estreita" são
submetidos aos eleitores. Em geral, a União tem progredido mais rapidamente
quando assuntos de grande importância são acordados por tecnocratas e políticos
e, de seguida, implementados sem a intervenção direta dos eleitores. O controlo
internacional tende a ser eficaz apenas quando é antidemocrático.
O Papa Bento XVI, na sua encíclica Caritas in Veritate, de junho 2009,
destinada a promover ’o desenvolvimento humano integral’ sugere, como
179
resposta da comunidade internacional à crise financeira e económica que
tem avassalado o mundo, a globalização em novos termos. Afirma que a
globalização em si ‘não é boa nem má’ e advoga que os indivíduos passem
da situação de ‘vítimas’ à condição de ‘protagonistas’ na resolução dos
graves problemas que causam ‘divisões entre os povos e no interior dos
mesmos’. Coloca a ONU como uma ‘verdadeira autoridade política
mundial’, um ‘degrau superior de organização em escala internacional’
que, além de ‘governar a economia mundial, sanear as economias
atingidas pela crise’ e ‘prevenir o seu agravamento e maiores
desequilíbrios’ procederia também ‘a um desejável desarmamento
integral, alcançar a segurança alimentar, assegurar a proteção do ambiente
e regular os fluxos migratórios’, tendo como ‘princípio a solidariedade’.
O Grupo de Lecce, constituído no início de 2009 (no âmbito da Escola
Superior ISUFI - Setor Euromedi Terranean School of Law and Politics)
com o patrocínio da Universidade do Salento, Lecce (Itália), é composto
por especialistas de direito, finanças e economia internacional que
partilham o interesse no desenvolvimento de instituições de governo
global democráticas e eficazes. Esse Grupo empenhou-se em elaborar uma
proposta de reforma do sistema de controlo da economia mundial, a ser
submetido aos membros do G-20 que estiveram presentes na Cúpula de
Londres em 2 de abril de 2009, onde afirmou:
A crise que estamos vivendo oferece uma oportunidade única para pensar numa
ordem económica mundial que seja inclusiva, mais justa, menos arrogante e mais
altruísta.
Como se viu, a Bíblia prediz o surgimento de um líder internacional
dedicado à luta pela paz e pela prosperidade no mundo que será eleito
governante mundial e exercerá o seu grande poder de persuasão à escala
planetária. Nessa altura os poderes político e religioso unir-se-ão.
Para ser cumprida a profecia: Fez com que todos, pequenos e grandes,
ricos e pobres, livres e escravos, pusessem um sinal na mão direita ou
na fronte para que ninguém pudesse comprar ou vender, se não fosse
marcado com o nome da besta ou com o número do seu nome (Apocalipse
13: 16, 17), terão que ser instituídos um sistema identificativo e um novo
sistema monetário, ambos universais. A decisão para as respetivas
implementações terá como objetivo um controlo férreo dos cidadãos,

180
sendo o dinheiro virtual uma peça indispensável. A tecnologia eletrónica
atualmente existente já permite implementar ambos os sistemas, podendo
vir a ser posta ao serviço do Anticristo.
A profecia bíblica indica que haverá uma marca identificativa pessoal que
permitirá o controlo de todos os atos da vida de cada ser humano. Além
disso, pormenoriza que essa marca será posta na testa ou na mão direita
(Apocalipse 13: 16-18). Esta profecia informa também que os seguidores de
Cristo, a menos que concordem em colocar essa marca, serão excluídos
da participação na economia local. Mas o que ela significa realmente?
Provavelmente, o Anticristo, ao querer ser como Deus (2 Tessalonicenses 2: 3,
4), instituirá a sua marca, tal como no passado Deus instituiu o
mandamento bíblico descrito em Deuteronómio 6: 4-8: Ouve, ó Israel; o
Senhor nosso Deus é o único Senhor... E estas palavras, que hoje te
ordeno, estarão no teu coração... Também as atarás por sinal na tua
mão e estarão na tua testa, entre os teus olhos, que era recitado duas
vezes por dia pelos judeus. Nos nossos dias, os judeus religiosos ainda
cumprem literalmente esta prática, que é designada por “imposição de um
tefilin” e é um sinal de envolvimento da pessoa, expressando os seus
sentimentos básicos de identificação a valores judaicos. Assim, devemos
entender o significado da marca da besta também como um sinal exterior
e interior, de que a pessoa se opõe à lei de Deus.
Na verdade, a unificação de todos os dados relativos à identificação
pessoal num único documento, cómodo de transportar, tornará a vida mais
fácil. Contudo, o perigo de extravio de um desses cartões teria
consequências graves.
Será que, tal como já hoje é praticado nos animais e em casos muito
específicos em seres humanos, um microchip identificativo virá a ser
implantado subcutaneamente nesses locais, e de modo universal? O seu
transporte seria quase impercetível, cómodo e não estaria sujeito a fraudes.
O mundo ocidental de hoje tem a sua vida estabelecida em valores onde
não há qualquer interferência de crenças religiosas ou influência
transcendental. Contudo, neste contexto, ser secularizado não envolve
necessariamente não ter religião ou não buscar uma relação com o
transcendente. O ser humano continua em busca de espiritualidade, mas
rejeita quaisquer normas para avaliá-la. O poder espiritual está a ser
181
buscado por razões egoístas, visando o seu conforto, enquanto que a
própria ideia de submissão à autoridade de Deus é rejeitada.
A crença num ‘poder superior’ é aceite, mas somente a que é definida pela
preferência individual. Simultaneamente, o Deus bíblico é rejeitado
porque faz exigências morais que os que ambicionam o poder não estão
dispostos a reconhecer e muito menos a obedecer. O único deus que essas
pessoas desejam é aquele cujo poder pode ser usado para os seus próprios
fins, transformando-se assim em deuses. Essa aceitação moderna do
mundo ‘espiritual’, devido ao poder que ele oferece, com certeza que
ajudará a preparar o mundo para cair em adoração aos pés do Anticristo,
quando os seus incríveis poderes satânicos forem demonstrados.
Apesar de todas as tendências atuais, que vão desde o ecumenismo até à
aceitação ingénua de ‘espiritualidade’ e que estão, sem dúvida, a preparar
o caminho para a religião e o governo mundiais, torna-se necessário algo
mais. Não é possível que um mundo tão dividido possa, repentina ou
gradualmente, ser unido por um simples homem, mesmo tendo em
consideração o seu talento ou poder de persuasão. Gideon Rachman
afirma-o claramente no seu artigo And now for a world government, e a
Bíblia concorda com isso. Ela declara, em 2 Tessalonicenses 2: 3, a
propósito dos sinais que indicarão a vinda pessoal de Jesus Cristo, que o
Anticristo não pode ser revelado, ou seja, o mundo não o aceitará, sem que
antes surja um dos sinais necessários que é a apostasia ou rebelião contra a
verdadeira fé cristã: Que ninguém, de modo algum vos engane, porque,
antes, há de vir a apostasia e há de manifestar-se o homem da
iniquidade, o filho da perdição. Como a palavra ‘apostasia’, deriva do
verbo grego aphistemi que, quando usado intransitivamente, significa
‘abandonar’ ou ‘tornar-se apóstata’, este sinal indica que esta rebelião
contra a doutrina bíblica será consecutivo à pregação. Por isso, pode
pressupor-se que os que a abandonarem, estarão associados à igreja
visível. Os que são crentes verdadeiros não apostatarão. É indiscutível que
a apostasia já está instalada no seio da igreja.
Quando muitos dirigentes cristãos negam ensinos bíblicos, como a
ressurreição corporal de Cristo e continuam a afirmar-se teólogos, é
evidente que é apostasia. Quando pregadores anunciam mitos em vez de
factos, quando as pessoas, desiludidas, se afastam da igreja em número
182
elevado, claro que é apostasia. Contudo, o versículo acima ressalta que o
sinal da apostasia está vinculado ao aparecimento do homem da
iniquidade. Ou seja, o Anticristo levantar-se-á na apostasia e esta
intensificar-se-á com o seu aparecimento: a vinda do ímpio será
acompanhada, graças ao poder de Satanás, de toda a sorte de milagres,
de sinais e de prodígios enganadores, assim como de todas as seduções
que o mal oferece àqueles que se perdem por não terem aberto os seus
corações ao amor da verdade que os poderia ter salvo (2 Tessalonicenses 2: 9,
10). Em Daniel 7: 25, encontra-se algo mais esclarecedor: Proferirá
insultos contra o Altíssimo, perseguirá os santos do Altíssimo, e pensará
em mudar os tempos (sagrados) e a religião.
Só estarão criadas as condições para o surgimento do governo mundial
depois do Arrebatamento, pois, sem referências, a humanidade acreditará
no engano veiculado por aquele que virá a ser o Anticristo. Neste
acontecimento específico será retirado o Espírito Santo, (simultaneamente
com os crentes que constituem a Igreja de Cristo e onde habita), que é
Quem impede o surgimento desse personagem: Agora, vós sabeis
perfeitamente o que o detém, de modo que ele só se manifestará a seu
tempo. ...Esperando apenas o desaparecimento daquele que o impede (2
Tessalonicenses 2: 6, 7).

O APARECIMENTO DO FALSO PROFETA OU A BESTA QUE SUBIU DA


TERRA
Em Apocalipse 13: 11, 12 está referida outra besta, que subiu da terra, a
segunda e última. Esta representa o Falso Profeta que liderará uma falsa
religião de âmbito mundial: Vi, então, outra besta subir da terra; tinha
dois chifres semelhantes aos de um cordeiro, mas falava como um
dragão. Exercia todo o poder da primeira besta na sua presença e
obrigava a terra e os seus habitantes a adorar a primeira besta.... Este
Falso Profeta ajudará o Anticristo a preparar o mundo para ser adorado e a
enganar a humanidade mediante a operação de grandes milagres (Apocalipse
13: 13, 14). Uma imagem do Anticristo será colocada no templo de Deus
(Daniel 9: 27 e Mateus 24: 15). Os dois chifres semelhantes aos de um cordeiro
simbolizam o esforço do Falso Profeta para enganar o povo, fingindo ser
amoroso, manso e solícito. Na realidade o seu caráter nada terá de
183
cordeiro, mas de dragão: Acautelai-vos dos falsos profetas que se vos
apresentam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes
(Mateus 7: 15).

São já muito evidentes os contactos que se estão a desenvolver entre as


diversas religiões mundiais. Não é só na política e na economia que se está
a dar a globalização. Este movimento ecuménico a que estamos a assistir,
é o maior que alguma vez existiu e o seu objetivo é a busca da tão
ambicionada paz. Na base estão os constantes conflitos militares que, tanto
no passado como no presente, têm sido, quase sempre, em torno de
questões religiosas. Os exemplos mais recentes são os da região da Irlanda
do Norte, da antiga Jugoslávia e do Sudão.
A Revista ‘Mundo e Missão’ publicou um artigo sobre a ‘URI – Iniciativa
das Religiões Unidas’ onde, entre outras coisas afirma:
Por influência do Pe. Luís Dollan, um argentino radicado em Nova York, membro
fundador da URI, que mantinha contacto com D. Paulo Evaristo Arns e pessoas
envolvidas em diálogo inter-religioso em São Paulo, aconteceu o primeiro
Encontro da URI no Brasil, no Parque de Itatiaia, no Rio de Janeiro, de 28 a 31de
maio de 1999.(...) Hoje, a URI tem grupos em São Paulo, Curitiba, Belo
Horizonte e Rio de Janeiro, e vai sediar, em agosto de 2002, no Rio de Janeiro, a I
Assembleia Geral da Organização, fora dos Estados Unidos. O Círculo de
Cooperação de São Paulo tem cerca de trinta participantes, de cerca de dezasseis
religiões e tradições espirituais diferentes. Seu percurso é marcado pelas
dificuldades de se afinar com cosmovisões diferenciadas, numa busca paciente de
compreensão empática do outro e na necessidade de se abrir para acolher
respeitosamente manifestações religiosas que podem se contrapor à própria
crença.
Esta Organização nasceu por iniciativa de um bispo anglicano da
Califórnia, William Swing, por ocasião da comemoração do
cinquentenário da criação da ONU. Na celebração multirreligiosa que
assinalou a data, no dia 21 de junho de 1995, Swing perguntou aos
presentes:
Se as nações do mundo inteiro podem juntar-se para buscar a paz, por que as
religiões não podem fazer o mesmo?

184
A respetiva Carta* foi assinada em julho de 2000. Na sua Circular 27/09,
de 09 de março de 2009, declara:
A URI – Iniciativa das Religiões Unidas é uma organização fundada em valores
humanos universais e dedicada a promover o diálogo e a ação inter-religiosa. A
URI está presente em cerca de 70 países desenvolvendo ações comunitárias com a
participação de mais de 100 tradições espirituais. A agenda da URI compreende
direitos humanos, ecologia, economia justa, Cultura da Paz e a prática do diálogo
inter-religioso. O propósito da Iniciativa das Religiões Unidas é promover a
cooperação inter-religiosa permanente e quotidiana, para erradicar a violência por
motivação religiosa e criar culturas de paz, justiça e a cura para a Terra e para
todos os seres vivos.
**
Em 15 de fevereiro de 2008 a Rádio Vaticano informava:
O líder do Partido Democrático italiano, Walter Veltroni, propôs a criação de uma
"Organização das Religiões Unidas", com sede em Roma, e assegurou que a ideia
agradou muito ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e ao papa Bento XVI.
Veltroni explicou que sua ideia consiste na criação de um "palácio das religiões"
em Roma, como o da sede da ONU em Nova York, no qual representantes de
todas as confissões do mundo possam se encontrar e dialogar. O líder político
assegurou que já propôs sua iniciativa, intitulada "United Religions" (Religiões
Unidas) tanto a Bento XVI como ao secretário-geral da ONU. Veltroni anunciou a
proposta durante uma conferência de imprensa para a sua despedida como
presidente da câmara de Roma, pois inicia sua campanha eleitoral como
candidato, do novo Partido Democrático, ao cargo de primeiro ministro, nas
eleições de 13 de abril. Três dos organismos das Nações Unidas têm sede na
cidade de Roma: o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola
(IFAD), a Organização para a Agricultura e a Alimentação (FAO), e o Programa
Mundial de Alimentos (PAM). (CM/BF)
Estas ações correspondem às primeiras etapas que conduzirão ao
estabelecimento dessa futura religião de âmbito mundial, pois o atual

*
Iniciativa das Religiões Unidas:
http://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:ZN42EkT44owJ:www.uri.org/option,com_docman/ta
sk,doc_view/gid,32.html+Organização+das+Religiões+Unidas&hl=en&pid=bl&srcid=ADGEESg7
Pw7FxWeOQ91lR4c358DQme1iITZ7Ng64s3XFLvLjPksbdlA1-
lZNvbZC4IxC2eCMh3mSsQTbCY3iAgbZAU8COckhnbfULak9llpENSFEH6GSdse0MMsyuGRw
wMnScGw7rWXs&sig=AHIEtbSSVbke8pur-0Cnj9Z039qfnJDgWg
**
Rádio Vaticano: http://storico.radiovaticana.org/bra/storico/2008-
02/186813_politico_italiano_propoe_criar_'organizacao_das_religioes_unidas'_em_roma.html
185
diálogo inter-religioso oficial, que tem acontecido entre as instituições
religiosas, ainda não é, verdadeiramente, diálogo no sentido da palavra. Os
contactos não têm passado de procedimentos burocráticos, negociações,
protocolos de investigação mútuos, acordos políticos, etc..
Mas o terrorismo internacional poderá apressar o estabelecimento dessas
conversações no sentido da sua união, embora mantendo as respetivas
identidades, a fim de serem evitados graves confrontos inter-religiosos.
Um dos grandes desafios teológicos, para que haja o diálogo inter-
religioso, é a compreensão de Deus. Do ponto de vista cristão, a questão
que se coloca tem a ver com a afirmação da fé cristã e o conceito de um
Deus pessoal nela contido, e, ao mesmo tempo, garantir a revelação das
demais religiões. Para o ultrapassar, terão que ser encontradas pontes para
superar esse individualismo, para se poder chegar à unidade entre as
pessoas sob o amor divino, onde a oração tem o seu papel importante.
Cabe, também, uma referência ao tema central na teologia cristã do
pluralismo religioso, que busca a vantagem do inclusivismo, afirmando o
paradigma pluralista. José María Vigil, sacerdote católico, pertencente à
Ordem dos Missionários Claretianos, é teólogo do pluralismo religioso.
No livro intitulado: O Atual Debate da Teologia do Pluralismo Depois da
Dominus Iesus, esclarece o seu conceito de pluralismo religioso como um
paradigma que é contraposto, quer ao exclusivismo que vê a religião como
a única verdadeira, quer ao inclusivismo que, embora se ache a verdadeira,
aceita que fora dela também existem elementos religiosos incompletos ou
imperfeitos que lhes permite participar do que Deus lhe deu em plenitude.
Para ele, pluralismo é a forma de olhar cada uma das religiões como um
dos caminhos de salvação, de certa forma autónomos, através dos quais
Deus atua. Assim, nenhuma religião seria privilegiada.
Frei Bento Domingues escreveu, em 2006, no Jornal ‘O Público’:
(...) Não basta, porém, falar de diálogo de civilizações, de diálogo intercultural e
inter-religioso. O diálogo faz-se. Então, «sentemo-nos à mesa e comecemos!».
Mas como? Não vale a pena iludir as suas dificuldades, seja com outras Igrejas
cristãs, com outras religiões ou com os sem religião. O diálogo é uma provocação,
isto é, convoca-nos não só para escutar o outro, o diferente, mas para rever as
nossas próprias convicções que, ao longo do tempo, nos impediram de reconhecer
a humanidade que nos falta, por nos termos fechado ao que há de mais genuíno
186
nos outros, nas suas convicções, tradições e projetos. Para ser possível acolher os
outros, praticar a hospitalidade, não basta tolerar as diferenças e justapô-las às
nossas. Nessa linha, nunca iremos além dos bons modos, da boa educação,
embora, por dentro, pensemos que a cultura, a religião, dos outros são inferiores
às nossas. Não podemos estar atentos à dignidade das diferenças porque,
interiormente, estaremos a defender-nos, fazendo de conta que os parceiros do
diálogo o que pretendem é vender a sua própria mercadoria.
O diálogo é um convite à conversão de todos os participantes, à transformação
dos interlocutores. Não se dialoga quando se está, apenas, interessado em fazer a
apologia das próprias convicções sem espaço para acolher as dos outros. O
processo de diálogo não deve ficar só por uma revisão de ideias. Deve levar a uma
revisão de vida: aprender a viver a humanidade de todos nas diferenças do ser
humano. O desafio é transformar os inimigos em aliados, em cooperantes. Será
esse o bom fruto de um diálogo autêntico. Não implica uma renúncia aos direitos
nem uma fuga aos deveres dos interlocutores. Não é uma anulação das diferenças
que tecem identidades. As diferenças não limitam. É a partir do seu
aprofundamento que encontraremos o caminho para a universalidade humana.
Já em 1996, no mesmo Jornal, Frei Domingues afirmava:
Foi em Assis, faz precisamente hoje dez anos, que João Paulo II participou num
dos mais belos momentos proféticos do seu pontificado, ao surgir apenas como
presença orante no meio de uma multidão de dirigentes religiosos de todo o
mundo, reunidos só para rezar juntos pela paz. Nesta atitude reassumiu e
aprofundou a herança mais significativa da igreja dos anos 60. Não se esqueça
que João XXIII foi a voz da paz para todos os homens de boa vontade (“Pacem in
terris”, 1963), Paulo VI introduziu o diálogo no vocabulário do magistério
eclesiástico (“Eclesiam suam”, 1964), o Vaticano II consagrou a liberdade
religiosa e publicou a sua carta ética do diálogo inter-religioso em favor da paz e
da justiça (“Nostra aetate”, 1965). Estes documentos são os marcos decisivos da
rutura do catolicismo contemporâneo com as tentações sempre renascentes da
intolerância, do integrismo e do fundamentalismo. Mas João Paulo II, neste
aspeto, foi mais longe. Rompeu, aos olhos de todos, com o absolutismo católico.
E não só. Em Assis, pelo seu gesto, reconheceu que a meditação e a oração são
atitudes muito mais universais do que a fé num Deus pessoal. Transpôs o mundo
dos crentes monoteístas para se inscrever na meditação e oração de todas as
religiões, mesmo daquelas que se recusam a nomear a transcendência ou a admitir
um Deus pessoal.
Para melhor conhecimento do assunto, aconselha-se a leitura do o trabalho
de revisão de Marcelo Barros, monge beneditino do Mosteiro da
187
Anunciação do Senhor, situado em Goiás, Brasil, intitulado: ‘Panorama
Atual do Diálogo Inter-religioso’, onde são listadas algumas iniciativas
mais marcantes de diálogo inter-religioso da história recente.
Regressando a Apocalipse, lê-se em 16: 1 a profecia do início do
derramamento das Sete Taças sobre a Terra e que podem ser o desdobrar
do julgamento da 7.ª Trombeta. Fazem parte do último dos julgamentos
divinos contra o mundo ímpio: desaparecerá a vida marinha devido à
poluição, ficando o mar cor de sangue (Apocalipse 16: 3). O mesmo acontecerá
aos rios e às fontes (v. 4).
Um calor abrasador espalhar-se-á por toda a Terra (v. 9), de modo tão
insuportável que as pessoas blasfemarão contra Deus.
Começará a batalha do Harmaguedon (v. 16). Como consequência da seca
do rio Eufrates os exércitos vindos do oriente poderão aproximar-se
facilmente de Israel.
Os capítulos 17 e 18 retratam a queda do sistema mundial de governo que
promoverá a maldade na política, na religião e no comércio, e que é
simbolizada pela Grande Babilónia. A grande prostituta ou ‘Babilónia
religiosa’, mencionada em Apocalipse 17: 1, abrange todas as religiões,
incluindo o cristianismo apóstata. Biblicamente, o termo prostituição,
quando é empregue em sentido figurado, significa apostasia religiosa e
infidelidade a Deus: Como se prostitui a cidade fiel, Sião, cheia de
retidão? (Isaías 1: 21); Viu como, por causa dos seus adultérios, repudiei a
rebelde Israel, dando-lhe o libelo de repúdio. Contudo, a pérfida Judá,
sua irmã. Não teve temor e também ela se prostituiu (Jeremias 3: 8).
A ‘Babilónia religiosa’ será destruída pelo Anticristo e a ‘Babilónia
política’ por Cristo, na Sua vinda (Apocalipse 19: 11-21).
Em Apocalipse 17: 7-11 encontra-se o seguinte esclarecimento:
...Explicar-te-ei o significado da mulher e da besta que a traz, a qual tem
sete cabeças e dez chifres. A besta que viste foi e já não é. Há de subir do
abismo para ir à perdição; e os que habitam na terra, cujos nomes não
estão escritos no livro da vida desde o princípio do mundo (os ímpios ou
incrédulos), admirar-se-ão ao ver reaparecer a besta que era, que já não
é, mas que reaparecerá. E aqui é que é necessária uma inteligência
guiada pela sabedoria. As sete cabeças são sete colinas, sobre as quais a
mulher está sentada. São também sete reis: cinco já caíram, um subsiste
188
e o outro ainda não veio; mas quando vier, demorar-se-á pouco tempo.
Quanto à besta que era e já não é, ela mesma é um oitavo rei. Todavia,
faz parte dos sete, e caminha para a perdição. Crê-se que os cinco reis,
que já caíram, representam a totalidade dos impérios que dominaram
Israel, neste caso, mais dois do que os referidos no Sonho de
Nabucodonosor que, como foi preditivo, não abarcou os impérios
anteriores ao babilónico, durante o qual ocorreu. Seriam o Egito e a
Assíria (anteriores a Babilónia), Babilónia e os Impérios Medo-Persa e
Grego, anteriores ao Império Romano.
Depois, é citado que um subsiste - o sexto, que representa o Império
Romano, vigente na época do apóstolo João, autor do Apocalipse,
representado pelas pernas de ferro da imagem vista em Daniel 2: 41-43. O
outro ainda não veio - corresponde à reunificação dos estados
nacionalistas que surgiram após a queda do Império Romano e que deram
origem à atual UE, que não é mais do que a continuação do Império
Romano e que quando vier, demorar-se-á pouco tempo (Apocalipse 17: 10). É
o reino dividido, representado pelos pés de ferro e de barro da estátua do
Sonho de Nabucodonosor (Daniel 2: 43). Pela Palavra profética pode-se
inferir que Israel, assim como fez parte dos outros impérios, virá a integrar
a UE ou o ‘Império Romano Restaurado’ e Jerusalém virá a ser a sede do
governo mundial do Anticristo (Daniel 11: 46). Desta profecia pode-se inferir
que a UE irá constituir-se numa federação de nações, que lhe permitirá
aumentar a sua influência mundial através de uma única voz. Este será um
império de curta duração, se comparado com os anteriores, seguindo-se-
lhe o oitavo reino, ainda muito mais curto, pois receberão o poder real
durante uma hora. Este será o do Anticristo, o dirigente do último
Império Mundial, o dos dez chifres, proveniente da UE/Império Romano
Restaurado, pois está mencionado que reaparecerá (Apocalipse 17: 8). Essa
besta que era e já não é, ela mesma é um oitavo rei. Todavia, faz parte
dos sete, e caminha para a perdição (Apocalipse 17: 11). Ou seja, pertencerá
ao mesmo sistema ímpio de governação humano - faz parte dos sete, mas
não fará parte desse grupo, pois será um governo mundial, composto por
dez comunidades que abrangerão todas as regiões geográficas do planeta,
formando dez uniões regionais, económicas e políticas, do tipo da UE, que
virão a apoiar o Anticristo, o oitavo rei: Estes dez reis decidiram de
comum acordo entregar o seu poder e autoridade à besta (Apocalipse 17: 13)
189
dando, assim, origem ao império do fim, o oitavo reino. Será destruído no
final da Tribulação.
Os dez chifres que viste são dez reis que ainda não receberam o reino,
mas que receberão o poder real durante uma hora, juntamente com a
besta. Estes têm um mesmo intento e darão a sua força e o seu poder à
besta (Apocalipse 17: 12, 13). Eles promoverão e formarão essa confederação
mundial sob a égide do Anticristo, a besta de Apocalipse ou o outro chifre
como é mencionado em Daniel 7: 20, 24, e que, de acordo com a Bíblia
durará somente três anos e meio: ...e deram-lhe o poder de agir durante
quarenta e dois meses (Apocalipse 13: 5); e ao meio da semana fará cessar o
sacrifício e a oblação... Desde o tempo em que for abolido o holocausto
perpétuo e estabelecida a abominação devastadora, haverá mil duzentos
e noventa dias (Daniel 9: 27, 12: 11). A abominação devastadora simboliza o
ídolo abominável ou a imagem do Anticristo, que ele próprio mandará
colocar no templo em Jerusalém. De recordar que o apóstolo Paulo
mencionou que o Anticristo tomaria lugar no templo de Deus e
apresentar-se-ia como se fosse Deus (2 Tessalonicenses 2: 4).
A UE, o império percursor do do Anticristo, terá um papel preponderante
nas propostas para a formação e desenvolvimento dessas dez potências
regionais, como o foi no caso da União Africana, fundada em 2002, que se
baseia no modelo europeu, e cuja futura moeda será o Afro. Na sua
Declaração de Acra, de 3 de julho de 2007, os Chefes de Estado e de
Governo afirmam, no seu ponto 1:
ESTAMOS CONVENCIDOS que a aceleração da integração económica do
continente africano, através, nomeadamente, da formação de um Governo da
União para África, sendo o objetivo principal da União Africana a criação dos
Estados Unidos de África.
A criação da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), com sede em
Quito, no Equador, também inspirada na UE, foi formalizada durante a
reunião dos presidentes de países da América do Sul, em 23 de maio de
2008, em Brasília, que assinaram o seu Tratado Constitutivo. O seu Banco
Central, Banco do Sul, e o Parlamento ficarão instalados, respetivamente,
em Caracas, Venezuela e em Cochabamba, na Bolívia. A designação da
moeda comum ainda não foi decidida, mas poderá ser uma das seguintes:
Condor, Peso americano, Latino, Pacha, Sucre ou Colombo. A UNASUL
resulta da fusão de duas organizações aduaneiras, o Mercado Comum do
190
Sul (MERCOSUL) e a Comunidade Andina de Nações (CAN)
(wiki/União_de_Nações_Sul-Americanas).
Existem outras organizações aduaneiras regionais, que poderão ser os
embriões de futuras uniões económicas e políticas. São elas, o NAFTA,
que engloba os EUA, o Canadá e o México, cuja moeda prevista será o
Amero; a ASEAN, Associação das Nações do Sudeste Asiático; os
TIGRES ASIÁTICOS de que fazem parte o Japão, a China, a Formosa,
Singapura, Hong Kong e Coreia do Sul. A Austrália que historicamente
sempre foi a parceira comercial da União Europeia tem-se virado para o
Japão e, consequentemente, dos Tigres Asiáticos; o CARICOM, Mercado
Comum e Comunidade do Caribe e o CEI, Comunidade de Estados
Independentes, a organização supranacional envolvendo 11 repúblicas que
pertenciam à antiga União Soviética, Arménia, Azerbeijão, Bielorrússia,
Cazaquistão, Quirguistão, Moldávia, Rússia, Tajiquistão, Ucrânia e
Uzbequistão. Foi fundada em 8 de dezembro de 1991.
Esta união regional entre países exige uma nova conceção de Estado. Com
efeito, observa-se que, com o desenvolvimento dos blocos económicos,
surgem novos modelos de integração regional como, por exemplo, a união
política entre os Estados membros da UE, que pressupõe transferência da
soberania de um Estado para uma entidade política hierarquicamente
superior.
Atualmente, a UE ainda se encontra fragilizada nas suas decisões políticas
de alcance mundial, onde o peso dos EUA ainda se mantém, embora
menor do que no passado recente. Mas a situação terá que mudar, pois a
Bíblia indica que o ‘Império Romano Restaurado’ terá um protagonismo
planetário importante, onde se incluem as futuras negociações do processo
de paz israelo-árabe, que se concluirão com êxito, dando-se então início ao
período da Tribulação (Daniel 9: 27). Esta sua influência a nível mundial está
dependente da sua restruturação interna numa federação de nações dirigida
por alguém eleito pelo povo.
A propósito, a 3 de maio de 2011, a Assembleia Geral da ONU adotou a
Resolução A/65/L.64/Rev.1, que eleva o estatuto da participação da União
Europeia nesse órgão mundial. Nessa ocasião, Herman Van Rompuy,
Presidente do Conselho Europeu declarou:

191
Graças à adoção de hoje da Assembleia Geral das Nações Unidas resolução
(AGNU), a UE terá a sua voz na Assembleia Geral.
Com esta resolução, a Assembleia Geral reconhece que, desde a entrada em vigor
do Tratado de Lisboa, o Presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy,
o Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e Política de
Segurança, Catherine Ashton, a Comissão Europeia e as delegações da União
Europeia asseguram a representação externa da União, em conformidade com os
Tratados.
Graças a esta resolução, a UE atinge um importante reconhecimento como ator
global nas Nações Unidas. Este é o resultado do esforço conjunto de todos os
Estados-Membros da UE e de todas as suas instituições. Agradeço aos membros
das Nações Unidas o apoio esmagador dado à Resolução (European Council).
O que é descrito em Apocalipse 17: 12, 13: E os dez chifres que viste são
dez reis que ainda não receberam o reino, mas que receberão o poder
real durante uma hora, juntamente com a besta. Estes têm um mesmo
intento e darão a sua força e o seu poder à besta, indica que o Anticristo
será o dirigente da estrutura de poder dos dez reis que, voluntariamente,
lhe transferirão a sua autoridade.
A prostituta sentada sobre muitas águas e com a qual se contaminaram os
reis da terra (Apocalipse 17: 1, 2) indica que haverá um só sistema religioso,
corrupto, universal, ecuménico e inter-religioso, na primeira metade da
Tribulação. Na Bíblia, os termos prostituição e adultério, quando
empregues em sentido figurado, normalmente indicam apostasia religiosa
e infidelidade a Deus (Isaías 1: 21; Jeremias 3: 9: Ezequiel 16: 14-18; Tiago 4: 4).
Significa um povo que professa servir Deus, mas que, na realidade, adora
e serve outros deuses: E disse-me: as águas que viste, junto das quais a
prostituta está sentada, são povos, multidões, nações e línguas. Os dez
chifres que viste, assim como a besta, odiarão a prostituta; despojá-la-ão
das suas vestes, deixá-la-ão nua, comerão as suas carnes e consumi-la-
ão pelo fogo (Apocalipse 17: 15, 16). Esta falsa religião será depois destruída
pelo Anticristo e seus adeptos e substituída pela sua religião, quando
assumir o seu grande poder político (Apocalipse 17: 16; ver também Mateus 24: 15 e 2
Tessalonicenses 2: 3, 4). Nessa altura o Anticristo declarar-se-á deus exigindo
ser adorado (Apocalipse 13: 8, 15). Terá então início o período conhecido por
Grande Tribulação, correspondente aos últimos 3 anos e meio da
História.

192
Jesus começou a descrever esse período em Mateus 24: 15, referindo-se ao
sinal principal - abominação da desolação, que se relaciona com a
atuação do Anticristo, que personificará e espalhará o mal através do
mundo e opor-se-á a tudo o que se relacione com Deus. Romperá o tratado
de paz com Israel e revelar-se-á um déspota cruel. Dominará o mundo
através de um sistema económico mundial único, de um governo mundial
e de uma religião mundial dirigida por um falso profeta (a segunda besta de
Apocalipse 13: 11). Por fim declarar-se-á deus e exigirá adoração: o filho da
perdição, o adversário, aquele que se levanta contra tudo. o que leva o
nome de Deus ou o que se adora, a ponto de tomar lugar no templo de
Deus e se apresentar como se fosse Deus (2 Tessalonicenses 2: 3, 4). Não se
torna necessário afirmar que esta exigência do filho da perdição, em ser
adorado, dará origem à perseguição inflexível dos crentes que rejeitarem
esta exigência. Começará então a Grande Tribulação predita por Jesus.
Este e outros sinais indicarão a proximidade do regresso de Cristo, que
ocorrerá três anos e meio (42 meses) depois. O Anticristo fará uso de
milagres enganadores e de falsas doutrinas para levar a sua causa em
frente.
No capítulo 18 de Apocalipse é apresentada a destruição do sistema
comercial desse Império Mundial (a grande Babilónia). No v. 4, Deus faz
uma chamada profética à última geração de fiéis para que se afastem desse
sistema ímpio. O sofrimento e a miséria que sobrevirão à ‘Babilónia’
comercial serão proporcionais à vanglória e à vida opulenta que levou
(Apocalipse 18: 7). Os seus empresários ricos, poderosos e sem escrúpulos, que
rejeitarão Deus e acumularão riquezas em detrimento de outros, serão
despojados das suas riquezas num só dia (v. 8, ver Tiago 5: 1-6). Deus
manifestou aqui, com clareza, a Sua repulsa por negócios e governos que
se firmam na avareza e no poder opressivo.
No fim do período da Grande Tribulação haverá sinais cósmicos que
precederão o aparecimento imediato de Cristo (Mateus 24: 29, 30). Para essa
altura Lucas diz que reinará a angústia nas nações, …aterradas com o
bramido e a agitação do mar (Lucas 21: 25). Também ocorrerão os seguintes
acontecimentos:
- Juízo divino sobre os ímpios (perversos) (ver Mateus 24: 30; Apocalipse 19: 11-21),
sobre o Anticristo (Apocalipse 19: 20) e sobre Satanás (Apocalipse 20: 1-34);

193
- O julgamento das nações e a separação das pessoas que se encontrarem
vivas na Terra (Mateus 25: 32-46);
Os salvos de todas as eras estarão reunidos. Inclui a reunião dos salvos que
já se encontrarão com Cristo - ressuscitados ou transformados
anteriormente no Arrebatamento - e dos que se encontrarem vivos e
salvos na Terra (ver Mateus 13: 39-43, sobre a parábola do trigo e do joio);
O capítulo 20 contém informação muito importante, já descrita no
subtítulo ‘Restauração Espiritual de Israel ou o Reino Milenar de Cristo,
ou o Milénio’, sobre o período imediatamente anterior ao estabelecimento
do Reino Milenar de Cristo ou Milénio, ou o Quinto Império da
profecia de Daniel. Este Reino foi predito no Antigo e Novo Testamentos,
por exemplo, em: Isaías 9: 6; 65: 19-25; Daniel 7: 13, 14; Miqueias 4: 1-8;
Zacarias 14: 1-9; Apocalipse 2: 25-28; 20: 4-15.

A BATALHA DO HARMAGUEDON
Harmaguedon (Apocalipse 16: 16) está localizado no centro-norte da Palestina
e significa ‘vale do Megido’. Será o ponto central da última batalha da
guerra que começará no início da segunda metade do período da
Tribulação, como se viu, em Daniel 11: 41-46 e Ezequiel 38 e 39, depois
de o governante mundial revelar-se Anticristo, e terminará no regresso de
Jesus, o Messias, que salvará Israel e destruirá esse dirigente e o sistema
humano de governação. Foi também predita por outros profetas do AT
(Deuteronómio 32: 43; Jeremias 25: 31; Joel 3: 2, 11-17; Sofonias 3: 8; Zacarias 14: 2-5). O
Anticristo, sob influência satânica, reunirá muitas nações a fim de
guerrearem contra o povo de Deus, os seus exércitos, para se apossarem de
Jerusalém (Apocalipse 16: 13, 14, 16; 17: 14; 19: 14, 19; Ezequiel 38 e 39). Será uma
guerra mundial, cujo alvo primordial é a cidade santa: ...O Senhor julgará
as nações e este será o seu juízo contra toda a carne, entregando os
ímpios à espada... Eis que o flagelo estender-se-á de nação em nação, e
dos confins da terra desencadear-se-á violenta tempestade... (Jeremias 25: 29-
38). Jerusalém será tomada, as casas serão destruídas, as mulheres
violadas; metade da cidade irá para o cativeiro, mas o resto do povo não
será exterminado. Então sairá o Senhor e pelejará contra aquelas
nações (Zacarias 14: 2, 3).

194
Cristo, na Sua segunda vinda, irá intervir de modo sobrenatural,
destruindo o Anticristo e os seus exércitos (Apocalipse 19: 19-21; Zacarias 14: 1-5), e
todos aqueles que desobedecerem ao Evangelho (Isaías 66: 15, 16; 2
Tessalonicenses 1: 7-10). Deus também enviará destruição e terramotos sobre
todo o mundo nesse período (Apocalipse 16: 18, 19; Jeremias 25: 29-33). O apóstolo
João descreveu esta batalha como uma carnificina (Apocalipse 19: 17, 18).
Ezequiel, no AT, afirmou o mesmo sobre este acontecimento (Ezequiel 39: 17,
18).
Nesse tempo, informa a Bíblia, as nações saberão que o Deus de Abraão,
Isaac e Jacob, é o único Deus verdadeiro: ...à minha vista tremarão de
medo os peixes do mar e as aves do céu, os animais dos campos e tudo o
que se move sobre a terra, incluindo todos os homens que vivem à
superfície terrestre. As montanhas desmoronar-se-ão, os rochedos hão
de desabar, todas as muralhas cairão por terra... Desta maneira
manifestarei a minha glória e a minha santidade, revelando-me aos
olhos de numerosas nações, a fim de que saibam que eu sou o Senhor
(Ezequiel 38: 20, 23); Desde aquele dia os israelitas saberão que eu sou o
Senhor seu Deus. Reconhecerão as nações que, por causa das próprias
faltas, Israel foi deportado, que, por causa da sua infidelidade, eu lhe
ocultei a minha face e os entreguei na mãos dos seus inimigos, a fim de
que morressem pela espada. Ocultando-lhes a minha face, não lhes fiz
senão o que mereciam as máculas deles e as prevaricações próprias
(Ezequiel 39: 21-24). Nessa mesma altura os judeus reconhecerão que Jesus
Cristo é o Messias, a quem haviam trespassado: Naquele dia, procurarei
exterminar todos os povos que vierem contra Jerusalém. Derramarei
sobre a casa de David e sobre os habitantes de Jerusalém um espírito de
graça e de oração, e eles voltarão os seus olhos para mim. Quanto
àquele que trespassaram, chorá-lo-ão como se chora um filho único;
chorá-lo-ão amargamente como se chora um primogénito (Zacarias 12: 9, 10).
Esta profecia foi proferida entre 480 a.C. e 470 a.C.. Israel será salvo,
nunca mais será vexado nem voltará a desagradar a Deus. A vinda de
Jesus Cristo para salvar o Seu povo está bem explícita, quer em
Apocalipse 1 e 19, quer em Zacarias 12.
Joel profetizou: Depressa! Nações, vinde todas, reuni-vos de toda a
parte! Senhor, fazei descer ali os vossos valentes! Levantem-se as

195
nações, subam ao vale do Josafat! Ali me sentarei para julgar todos os
povos ao redor. Metei a foice, porque a messe está madura, vinde pisar,
porque o lagar está cheio; as cubas transbordam, porque a sua malícia é
muito grande. Multidões, multidões no vale do julgamento, porque o dia
do Senhor está perto, no vale do julgamento. O sol e a lua obscurecem-
se, as estrelas perdem o seu brilho. O Senhor rugirá de Sião, trovejará
de Jerusalém; os céus e a terra serão abalados. Mas o Senhor será um
refúgio para o seu povo. Uma fortaleza para os filhos de Israel. Sabereis
então que eu sou o Senhor, vosso Deus, que habito em Sião, minha
montanha santa. Jerusalém será um lugar sagrado onde os estrangeiros
não tornarão mais a passar (Joel 4: 11-17).
Mateus 25: 31-46 descreve o que irá acontecer na vinda do Messias no
‘fim dos tempos’, onde Ele se identifica com os Seus irmãos mais
pequeninos, os judeus (v.v. 40 e 45). Nesse dia, Deus pronunciará sentenças
de salvação para o Seu povo e de castigo implacável para os que o
maltrataram.

O MILÉNIO
Após a segunda vinda de Cristo e a destruição do sistema de governação
humano, o remanescente judeu que O reconheceu como o Messias e se
converteu estará em Israel e será uma fonte de bênçãos indescritíveis para
o mundo. Como já foi descrito no subtítulo ‘Restauração Espiritual de
Israel (Reino Milenar de Cristo, ou o Milénio)’, Cristo estabelecerá o Seu
Reino Milenar, com sede em Jerusalém, de onde governará todo o mundo,
coadjuvado por aqueles que tiverem sido arrebatados e se encontrarem já
em natureza imortal, como já foi referido. A estes juntar-se-ão os mártires
da Grande Tribulação: Vi ainda as almas dos que foram decapitados
por terem dado testemunho de Jesus e por terem acreditado na Palavra
de Deus, e as almas de todos aqueles que não adoraram a besta, nem a
sua imagem, e que não tinham recebido a sua marca na fronte ou na
mão. Voltaram à vida e reinaram com Cristo durante mil anos. Os
outros mortos não voltarão à vida até que se completem os mil anos. É a
primeira ressurreição. Felizes e santos os que participam da primeira
ressurreição! A segunda morte não tem poder sobre eles; serão
sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele durante mil anos

196
(Apocalipse 20: 4-6). Como se pode verificar pelos v.v. anteriores, João não
mencionou a ressurreição corporal dos santos da igreja que tinham
morrido, porque ela já tinha ocorrido quando Cristo retirou a Sua igreja da
terra e a levou consigo (João 14: 3 ; 1 Coríntios 15: 51, 52). O Reinado de Cristo
substituirá o império do Anticristo e dos seus simpatizantes.
No fim deste período haverá nova rebelião contra Deus. Nem mesmo com
a presença física e visível de Cristo o homem deixará de se Lhe opor
(Apocalipse 20: 7-10).
Embora a Tribulação dure apenas sete anos, a Bíblia dá muito mais
informação sobre ela do que do Milénio. Talvez porque Deus prefira que
se saiba muito sobre esse período para que se esteja alerta e não se venha a
ser atingido pelos gravíssimos acontecimentos que envolve. É necessário
entender a Tribulação à luz do Milénio. Este será infinitamente superior a
tudo o que se possa imaginar e conhecer, e só entrará nele quem tiver
invocado o nome de Jesus.

O JULGAMENTO DO GRANDE TRONO BRANCO


(O JUÍZO FINAL)
O Julgamento do Grande Trono Branco (Apocalipse 20: 11-15), ou o Juízo
Final, terá lugar após o Milénio, depois da Guerra de Gog, e Magog. Será
o último acontecimento para o homem antes da Eternidade. É importante
assinalar que todos os seres humanos ressuscitarão corporalmente e serão
julgados pelas suas obras, quer na condição de salvos, quer na de
condenados.
A Bíblia declara que todos os ímpios, sejam eles homens ou mulheres,
ricos ou pobres, jovens ou idosos, ressuscitarão para enfrentar o Juízo
Final. Este também incluirá os que forem salvos durante o Reino Milenar
de Cristo na Terra. Não será um julgamento para Deus descobrir a
intenção do homem, mas para que tudo fique claro diante da Humanidade.
Os livros serão abertos por causa da justiça de Deus, uma vez que esses
homens já estarão julgados pelos seus atos, pois não creram no Messias de
Deus, Jesus Cristo.
Este julgamento destinar-se-á a todos os seres humanos que viveram desde
o início do mundo e que participarão da Segunda Ressurreição corporal
(Apocalipse 20: 5, 6), ou seja, os condenados, bem como aos anjos rebeldes. Os

197
condenados terão a morte eterna, isto é, a separação definitiva de Deus.
Viverão, também eternamente, mas em maior sofrimento pelos remorsos
que aí prevalecerão (Apocalipse 20: 11-15). A Bíblia refere a ‘eterna perdição’ (2
Tessalonicenses 1: 9), a ‘tribulação e angústia’ (Romanos 2: 9), e o ‘pranto e ranger
de dentes’ (Mateus 22: 13; 25: 30).
A Primeira Ressurreição corporal, será a dos justos, de todos os que
verdadeiramente morreram na fé, que acolheram com sinceridade o dom
da Salvação em Cristo: E serás feliz, por eles não terem com que te
retribuir; ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos (Lucas 14: 14), que
ressuscitarão em momentos diferentes. Inclui, portanto, todos os que
estiverem vivos no exato momento do glorioso retorno de Cristo para o
Arrebatamento da Igreja (1 Tessalonicenses 4: 16, 17; 1 Coríntios 15: 52) e,
posteriormente, a dos mártires da Grande Tribulação.
Os seres humanos, na condição de salvos (obtida na vida terrena), também
serão julgados, mas não no Juízo Final. É desse julgamento diferenciado
que Paulo fala em 1 Coríntios 3: 10-15: Segundo a graça de Deus que me
foi dada, eu, como sábio arquiteto, coloquei o alicerce mas outro edifica
sobre ele. Veja cada um, porém, como edifica sobre ele, porque ninguém
pode pôr outro fundamento diferente do que foi posto, isto é, Jesus
Cristo. Se alguém edifica sobre este fundamento com ouro, prata, pedras
preciosas, madeiras, feno ou palha, a obra de cada um ficará patente,
pois o dia do Senhor a fará conhecer. Pelo fogo será revelada, e o fogo
provará o que vale o trabalho de cada um. Se a obra construída
subsistir, o construtor receberá a paga. Se a obra de alguém se queimar,
sofrerá a perda. Ele, porém, será salvo, como que através do fogo.
Serão avaliados pelos seus atos cristãos intimamente ligados à caridade do
amor, isto é, pelos frutos da fé. O amor que faz agir a favor do semelhante:
Agora subsistem estas três: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior
delas é a caridade (1 Coríntios 13: 13). A fé de nada vale sem a ação: ...assim
também fé: Se ela não tiver obras, é morta em si mesma. Mas, dirá
alguém: Tu tens a fé e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem obras
e eu mostrar-te-ei a fé pelas minhas obras (Tiago 2: 17, 18). Nada resolve
clamar, Senhor! Senhor! com toda a fé do mundo, se for isolado do
segundo maior mandamento que resume todos os outros: Amarás ao teu
próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a

198
lei e os profetas (Mateus 22: 39, 40). Pois toda a lei se encerra num só
preceito: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo (Gálatas 5: 14). A lei,
aqui, resume-se aos Dez Mandamentos, que nos mostram as boas obras a
serem feitas em favor do próximo: Com efeito: Não cometerás adultério,
não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e qualquer dos outros
mandamentos resumem-se nestas palavras: Amarás ao próximo como a
ti mesmo. A caridade não faz mal ao próximo. A caridade é, pois, o
pleno cumprimento da lei (Romanos 13: 9, 10). O Senhor adverte: Se alguém
disser: Eu amo a Deus, mas odiar a seu irmão, é mentiroso, pois quem
não ama a seu irmão, ao qual vê, como pode amar a Deus, que não vê?
(1 João 4: 20).
Como se viu, a Bíblia afirma que os salvos estão livres do juízo divino
para condenação. Outras passagens também o confirmam (João 5: 24; Romanos
8: 1; Hebreus 10: 14-17). Porém, estão sujeitos a um juízo futuro (1 João 4: 17;
Hebreus 10: 30), de acordo com o grau de fidelidade a Deus e à graça que
receberam durante a sua vida na terra (1 Coríntios 4: 2-5). O cristão negligente
corre o risco de sofrer perda, pois, esse é um julgamento de obras: Cheios
de confiança, desejamos sair deste corpo para habitar com o Senhor.
Por isso, presentes ou ausentes, esforçamo-nos por lhe agradar. Porque
todos havemos de comparecer perante o tribunal de Cristo, para que
cada um receba o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito,
enquanto estava no corpo (2 Coríntios 5: 8-10). Nessa perda incluem-se, por
exemplo: a) o trabalho que executou para Deus durante a sua vida (1
Coríntios 3: 12-15); b) a posição, a recompensa e a honra diante de Deus (Mateus
5: 19; 19: 30; 2 Timóteo 4: 8; Romanos 2: 10); c) as tarefas e autoridade no céu (Mateus
25: 14-30); d) o prémio (1 Coríntios 3: 14, 15); e) ser feita a retribuição pela
injustiça cometida contra o próximo (Colossenses 3: 24, 25). A salvação pode ser
melhor compreendida no contexto dos subcapítulos ‘Israel, Canal da
Revelação e Bênção de Deus para o Mundo’, ‘O Amor de Deus’ e ‘O
Reino de Deus e a Violência’.
Na condição de condenados (mortos espirituais), os seres humanos
também serão julgados pelas suas obras, mas no Juízo Final: E os mortos
foram julgados, conforme o que estava escrito nos livros, segundo as
suas obras. O mar entregou os mortos que nele havia; a Morte e o
Hades também entregaram os seus, e cada um foi julgado segundo as

199
suas obras (Apocalipse 20: 12, 13).

O ADVENTO DA ETERNIDADE
Após o Juízo Final, será o advento da Eternidade. Desaparecerão para
sempre os efeitos do pecado, tais como a tristeza, a dor, a mágoa e a morte
(Apocalipse 7: 16, 17; Génesis 3; Romanos 5: 12; Isaías 35: 10 e 65: 19).
O próprio Deus declarou quem herdará as bênçãos do novo céu e da nova
Terra (Apocalipse 21: 7): aqueles que perseverarem fielmente como vencedores
em Cristo. Quem viveu ou viver no pecado e na iniquidade será
condenado.
Entre Apocalipse 21: 9 e 22: 5, em primeiro lugar, é usada uma metáfora
para a cidade santa, que significa que o povo de Deus habitará nela.
Depois, João usou uma linguagem simbólica para descrever a cidade
santa, cuja glória ultrapassará toda a compreensão e entendimento
humanos. A nova Jerusalém poderá ser a capital da nova Terra (Apocalipse 21:
24-26).
No final do Milénio Jesus entregará o Reino ao Pai (1 Coríntios 15: 24). Então
começará o Reino eterno, perfeito de Deus e do Cordeiro (Apocalipse 21: 1 a 22:
5), onde …não haverá mais morte nem pranto, nem gritos, nem dor,
porque as primeiras coisas passaram (Apocalipse 21: 4).
Deus habitará, eternamente, no meio do Seu povo fiel, numa Terra
purificada de todo o mal (Apocalipse 22: 4). Pedro na sua segunda carta afirma:
Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos céus novos e uma nova
terra onde habita a justiça. Pelo que, caríssimos, esperando estas coisas,
procurai ser encontrados por ele imaculados e irrepreensíveis, em paz (2
Pedro 3: 13, 14).
Estará completa a restauração total dos Céus e da Terra e de todos os que
nela habitam. O problema do pecado e da morte jamais regressará. Eis o
que Jesus Cristo disse ao apóstolo João: Então, o que estava sentado no
trono disse: Eu renovo todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque
estas palavras são fiéis e verdadeiras. Continuou: Está feito! Eu sou o
Alfa e o Ómega, o princípio e o fim. Àquele que tiver sede dar-lhe-ei de
beber, gratuitamente, da fonte da água da vida. O que vencer possuirá
estas coisas; Eu serei seu Deus e ele será meu filho (Apocalipse 21: 5-7).

200
Contrariamente à mensagem contida no livro de Daniel, que permaneceria
selada até ao ‘tempo do fim’: E tu, Daniel, guarda isto em segredo e
conserva selado este livro até ao tempo final. Muitos dos que o lerem
verão aumentar o seu conhecimento (Daniel 12: 4), a do Apocalipse traz
consigo a informação expressa de que não deveria ser selada: E disse-me
ainda: Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está
próximo (Apocalipse 22: 10).
Assim, para o povo judeu, a profecia ainda está selada até ao seu
cumprimento futuro: Vai, Daniel, porque estes vaticínios devem
permanecer fechados e selados até ao tempo final... Os ímpios atuarão
com perversidade, porém, nenhum deles compreenderá, ao passo que os
sensatos compreenderão (Daniel 12: 9, 10). Para o cristão, já não está oculta.
As Escrituras foram dadas para serem compreendidas e cridas. Por isso
esta mensagem deve ser proclamada a todos os crentes e a todas as igrejas.
Apenas quando se apreendem os acontecimentos mundiais pela perspetiva
bíblica, se pode começar a entender o que está a ocorrer no mundo
político, económico e religioso. Com isso em mente, compreender-se-á
melhor o desenrolar dos eventos políticos no mundo de hoje. Se não se
tiver conhecimento dos resultados finais, poder-se-á ser facilmente levado
pelo entusiasmo da falsa paz que será futuramente anunciada.
Se alguém deseja provas da existência de Deus e de que a Bíblia é
verdadeira tem-nas em Israel e no seu
povo. Somente Ele conhece as coisas que estão por vir e quem crer Nele
não tem razão para andar temeroso.

201
ISRAEL, CANAL DA REVELAÇÃO E BÊNÇÃO DE DEUS PARA
O MUNDO
Conhece-se o sofrimento do povo judeu desde tempos remotos.
Recentemente, o Holocausto judeu, durante a Segunda Guerra mundial,
chocou o mundo. A partir da criação do Estado de Israel, em 1948,
regressaram os conflitos àquela região, tendo vindo a piorar gradualmente,
também com a contribuição de Israel através dos erros que tem cometido.
Sabe-se da relação íntima que este povo tem mantido com Deus e do seu
protagonismo como berço do cristianismo. O papel reservado a Israel, no
mundo, terá alguma relação connosco, cristãos?
Com base no estudo: ‘Israel no Plano Divino para a Salvação’, da Bíblia
de Estudo Pentecostal aprofunda-se este assunto. Nos capítulos 9 a 11 de
Romanos, o apóstolo Paulo situou muito bem o problema de Israel,
descrevendo a sua eleição no passado, a sua rejeição do Evangelho no
presente e a sua salvação futura. Fez uma extensa análise sobre a maneira
de Deus lidar com a nação de Israel e da razão da sua descrença. Paulo
começou essa análise com a seguinte frase: Não é que a palavra de Deus
tenha caducado... (Romanos 9: 6).

A eleição de Israel no passado


a) A promessa de Deus não falhou, pois era só para os fiéis da nação
(Romanos 9: 6-13). Visava somente o verdadeiro Israel, os fiéis à promessa
(Génesis 12: 1-3; 17: 19). Houve sempre um Israel dentro de Israel, que tem
recebido a promessa;
b) Deus tem o direito de fazer o que quer com os indivíduos e com as
nações (Romanos 9: 14-29). Tem o direito de rejeitar Israel, se Lhe desobedecer
e o direito de usar de misericórdias para com os pagãos (não judeus),
oferecendo-lhes a salvação, se assim o decidir. Contudo, não devemos
interpretar essas palavras julgando que Deus não se serve de princípios
morais, inerentes ao Seu próprio caráter santo, ao lidar com indivíduos e
nações. Deus rege-se, na Sua natureza, não pela vontade humana, mas
pelo Seu amor (João 3: 16), misericórdia (Salmo 25: 6), integridade moral e
compaixão (Salmo 116: 5).

202
A presente rejeição do Evangelho
Israel rejeita o Evangelho de Cristo (Romanos 9: 30 a 10: 21). O seu erro em não
aceitar Cristo não se deve a um decreto incondicional de Deus, mas à sua
própria incredulidade e desobediência (Romanos 10: 3);

A salvação de Israel
A rejeição é apenas parcial e temporária, pois por fim aceitará a salvação
divina em Cristo:
a) Deus nunca rejeitou o Israel verdadeiro, pois permaneceu fiel ao
remanescente que também Lhe permanece fiel, aceitando Cristo (Romanos 11:
1-6);

b) No presente, Deus endureceu o entendimento da maior parte de Israel,


porque o Seu povo não quis aceitar Cristo (Romanos 11: 7-10; 9: 31 a 10: 21);
c) Deus transformou a transgressão de Israel (isto é, a crucificação de
Cristo) numa oportunidade de proclamar a salvação a todo o mundo,
através da Igreja (Romanos 11: 11, 12, 15);
d) Durante este tempo presente de incredulidade da Nação israelita, a
salvação de indivíduos, tanto judeus como gentios (Romanos 10: 12, 13)
depende da fé em Jesus Cristo (Romanos 11: 13-24);
e) A fé em Jesus Cristo, por uma parte do povo israelita, acontecerá no
futuro (Romanos 11: 25-29);
f) O propósito sincero de Deus é ter misericórdia de todos, tanto dos
judeus como dos gentios e incluir no Seu Reino todas as pessoas que
creem em Cristo (Romanos 11: 30-36; 10: 12, 13; 11: 20-24).
O apóstolo Paulo afirmou: Ora, tendo a Escritura previsto que Deus
havia de justificar os gentios pela fé, anunciou primeiro a Abraão esta
boa nova, dizendo: Em ti todas as nações serão benditas. De modo que,
todos os dependem da fé serão benditos com o crente Abraão. Cristo
resgatou-nos da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós, pois está
escrito: Maldito seja todo aquele que é suspenso no madeiro; para que a
bênção de Abraão em Jesus Cristo se estendesse aos gentios, e para que,
pela fé, recebamos a promessa do Espírito (Gálatas 3: 8, 9 e 13, 14).

203
Perspetiva futura
Destacam-se vários aspetos na carta de Paulo aos Romanos:
1) Nesta análise sobre a condição de Israel, Paulo descreveu o modo como
Deus lida com nações e povos do ponto de vista histórico, isto é, o Seu
direito de usar povos e nações conforme quiser. Isto não significa que
Deus não se sirva de princípios morais, inerentes ao Seu próprio caráter
santo. Ele rege-se pelo Seu amor, misericórdia, integridade moral e
compaixão. Por exemplo, a Sua escolha de Jacob, em vez do seu irmão
Esaú (Romanos 9: 11), teve como objetivo fundar e usar as nações de Israel e
de Edom, deles oriundas respetivamente, não tendo a ver com a sua
salvação ou condenação como indivíduos.
Em Malaquias 1: 3 Deus disse: aborreci Esaú. A palavra “aborreci”
significa apenas que Deus escolhera Jacob em vez do seu irmão, para
herdar as promessas da Aliança Abraâmica e ser iniciador do povo
escolhido, através do qual viria o Messias. Deus, pela Sua soberania, tem o
direito de chamar as pessoas e as nações que quiser e determinar-lhes
responsabilidades a cumprir na realização do Seu Plano de Salvação, sem
ter de dar explicações a alguém. É importante dizer que a Sua soberania
não O torna arbitrário, pois guia-se pelos princípios morais inerentes ao
Seu caráter santo. Nele estão incluídos, a Sua integridade moral, o Seu
amor, misericórdia e compaixão com que lida com a Humanidade.
2) Paulo expressou a sua constante solicitude e intensa tristeza pela nação
judaica (Romanos 9: 1-3). O facto de ele próprio ter orado para que os seus
compatriotas fossem salvos revela que não admitia o ensino teológico da
predestinação, que afirma que todas as pessoas já nascem predestinadas,
ou para a salvação, ou para a condenação. Pelo contrário, o sincero desejo
e oração de Paulo refletem a vontade de Deus para o povo judaico (confirmar
Romanos 10: 21; Lucas 19: 41 - lágrimas de Jesus sobre a Jerusalém corrompida*).

3) O mais relevante neste assunto é a fé. O estado espiritual de perdido da


maioria dos israelitas não foi determinado por um decreto arbitrário de


*
A tristeza e as lágrimas de Cristo, por causa da rebeldia de Jerusalém, revelam o Seu sentimento,
como também o coração partido de Deus, por causa da condição do homem perdido e da sua recusa
em arrepender-se e aceitar a salvação.
204
Deus, mas resultante da sua própria recusa de se submeter ao Plano divino
da Salvação mediante a fé em Cristo (Romanos 9: 33; 10: 3; 11: 20). Inúmeros não
judeus, porém, aceitaram o caminho de Deus, que é o da fé e alcançaram a
justiça mediante essa mesma fé. Obedeceram a Deus e tornaram-se “filhos
do Deus vivo” (Romanos 9: 25, 26). Este facto ressalta a importância da
obediência através da fé (Romanos 1: 5; 16: 26) no tocante à chamada e eleição
da parte de Deus.
4) A oportunidade de salvação está diante da nação de Israel se esta largar
a sua incredulidade (Romanos 11: 23). De modo semelhante, os crentes de
origem não judaica que agora são parte da Igreja de Cristo são advertidos
de que também correm o mesmo risco de serem cortados da salvação
(Romanos 11: 13-22). Devem perseverar sempre na fé com temor. A
advertência aos crentes gentios (Romanos 11: 20-23), é tão válida hoje quanto o
foi no dia em que Paulo a escreveu.
5) As Escrituras estão repletas de promessas de uma futura restauração de
Israel, quando aceitar o Messias (ver Isaías 11: 10-12; 24: 17-23; 49: 22, 23; Jeremias 31:
31-34; Ezequiel 37: 12-14; Romanos 11: 26 e Apocalipse 12: 6).

Tendo em atenção o anterior ponto 4, sobre a salvação, torna-se necessário


elucidar que Paulo demonstrou não haver, para Deus, diferenças entre
judeus e não-judeus. Os judeus, desde Abraão, são submetidos à aliança da
circuncisão por mandamento de Deus: Eis o pacto estabelecido entre mim
e vós, que tereis de respeitar: todo o homem, entre vós, será
circuncidado. Circundareis a carne do vosso prepúcio, e este será o sinal
do pacto entre mim e vós (Génesis 17: 10, 11). Os incircuncisos não
participavam das promessas de Deus. Não faziam parte do povo escolhido,
Israel. Homens de outros povos passavam a participar dos privilégios dos
judeus depois de terem sido circuncidados (Êxodo 12: 48). Contudo, depois de
Cristo e para os convertidos, a antiga aliança da circuncisão perdeu o seu
valor.
Na informação de Paulo aos cristãos de Roma: A circuncisão é, na
verdade, proveitosa, se tu guardares a lei; se, porém, transgrides a lei, a
tua circuncisão torna-se em incircuncisão. Se o incircunciso observar os
preceitos da lei, não se deve considerar circuncisão a sua incircuncisão?
(Romanos 2: 25, 26), verifica-se que judeus e não-judeus são iguais perante
Deus. Depois, explicou que é assim, porque é impossível ao homem
205
*
cumprir a lei e como os judeus tinham que a cumprir cabalmente para que
a circuncisão fosse válida diante de Deus, esta não tinha valor algum. Para
isso baseou-se em duas referências: a) Aquele que guardar toda a lei e
faltar num só ponto, torna-se culpado de todos os outros (Tiago 2: 10); b)
Sabemos que a lei é espiritual. Mas eu, sou eu, ser de carne, vendido ao
poder do pecado (Romanos 7: 14). Paulo, sobre as objeções que colocou: Qual
é, então, a vantagem de ser judeu? Ou qual é a utilidade da
circuncisão?, esclareceu: É grande, sob qualquer aspeto. Principalmente
porque lhe foram confiados os oráculos de Deus. Que importa se alguns
deles não creram? Acaso a sua incredulidade destruirá a fidelidade de
Deus? De modo algum. Deus é verdadeiro e todo o homem é mentiroso,
como está escrito: Para que sejas tido por justo nas tuas palavras e
venças quando fores julgado. Se, porém, a nossa injustiça faz brilhar a
justiça de Deus, que diremos? Não será Deus injusto ao fulminar a sua
ira? Falo como homem. De maneira alguma. Se assim fosse, como
poderia Deus julgar o mundo? (Romanos 3: 1-6).
A vantagem de ser judeu, porque não há diferença quanto à salvação, é ter
sido eleito por Deus para tornar conhecido o Seu nome entre os habitantes
da Terra e ter-lhe sido confiada, primeiramente, a Sua Mensagem. Embora
Deus o tenha escolhido para essa missão, a salvação é pessoal. Cada
israelita deve circuncidar o coração conforme a ordem de Moisés. É
importante recordar que Deus não elege quem será salvo, mas quem
poderá desempenhar uma missão.
Relativamente à questão: Se, porém, a nossa injustiça faz brilhar a
justiça de Deus, que argumentos poderão ser utilizados quando ficar
demonstrado que as iniquidades dos homens que rejeitam a verdade são a
causa da justiça divina? Será Deus injusto? Paulo afirma: claro que não.
O homem natural, que rejeita a verdade do Evangelho, argumenta de
modo semelhante a Paulo, por isso ele comentou: Falo como homem.
Deus não é injusto ao trazer o castigo sobre os injustos. A incredulidade
humana não influencia os atributos de Deus, que permanece fiel, mesmo


*
Paulo esclareceu, em Gálatas 3: 19, 21-25, que a lei foi dada para mostrar aquilo que é contra a
vontade de Deus e que, funcionando apenas como educadora, só devia ter durado até Cristo, cuja
vinda teve como propósito pôr o Homem em boas relações com Deus, por meio da fé.
206
quando o homem não crê na Sua palavra nem na Sua obra. A intenção de
Deus é compadecer-se daqueles que se arrependem e creem em Jesus
como Senhor e Salvador. Simultaneamente, endurece todos os que se
recusam a arrepender-se e preferem continuar a ter uma vida de pecado:
Por isso, é que Deus lhes mandará uma potência enganadora, de modo
que hão de acreditar na mentira, a fim de serem condenados todos
aqueles que não tiverem acreditado na verdade, mas tiverem sentido
prazer na iniquidade (2 Tessalonicenses 2: 11, 12). Este não é um ato arbitrário
de Deus, porque o faz segundo o Seu princípio justo de insensibilizar
quem O rejeita, isto é, quem resiste ao Espírito Santo. Este propósito de
Deus não muda, quer em relação à pessoa, à Igreja ou a Israel.
Paulo teve grande dificuldade em fazer os judeus entenderem a mensagem
de Cristo. Os judeus só conseguiam entender a salvação através do
legalismo, do cerimonial, das ordenanças da lei que escravizam, etc. Não
eram capazes de perceber que a salvação se dá exclusivamente pela fé em
Jesus Cristo e na obra que Ele fez a favor do ser humano na Sua morte e
ressurreição: Mas, que diz a Escritura? Perto de ti está a palavra, na tua
boca e no teu coração, isto é a palavra da fé que nós pregamos. Porque,
se confessares com a tua boca o Senhor Jesus e creres no teu coração
que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo (Romanos 10: 8, 9). Só
Cristo conseguiu cumprir integralmente a lei, aos olhos de Deus. E
cumpriu-a de forma perfeita, sendo obediente até à própria morte. Tomou
sobre si a maldição da lei, tornando-se o fundamento da justificação para o
salvo. A salvação é oferecida por Jesus a quem, humildemente, se
arrepende e O invoca: Porque é pela graça que fostes salvos, mediante a
fé. E isto não é a vós que se deve; é dom de Deus. Não vem das obras,
para ninguém se poder gloriar. Pois nós somos obra sua, criados em
Jesus Cristo em vista das boas ações que Deus de antemão preparou
para nós as praticarmos (Efésios 2: 8-10). Esta fé implica a confissão desse
entendimento espiritual, por esse motivo são realizados o batismo e as
profissões de fé. Quem assumiu esta salvação confessa-a: Porque com o
coração se crê para alcançar a justiça, e com a boca se confessa para
alcançar a salvação (Romanos 10: 10). O resultado final da salvação é uma
vida comprometida com as Escrituras, é obediência por amor. Jesus disse
ao mancebo rico: Mas se queres entrar na vida eterna, cumpre os

207
mandamentos (Mateus 19: 17). Ao afirmá-lo, estava, novamente, a legitimar
os Mandamentos. Contudo acrescentou algo mais, pois isso não é
suficiente. Disse que é necessário o amor cristão, que conduz ao repartir
com o semelhante e a outros tipos de caridade, tais como o perdão, a
tolerância, a evangelização, os bons conselhos, etc. Paulo também afirmou
que não adianta fazer a caridade apenas por obrigação, para tentar
justificar-se perante Deus: Ainda que distribua todos os meus bens em
esmolas e entregue o meu corpo a fim de ser queimado, se não tiver
caridade, de nada me aproveita (1 Coríntios 13: 3). Recomenda-lhes que
façam o bem, que se tornem ricos em boas obras, que sejam generosos e
liberais, entesourando para si um sólido tesouro para o futuro, a fim de
conquistarem a verdadeira vida (1 Timóteo 6: 18, 19).
A Bíblia afirma: Ele salvou-nos: Não por causa das obras de justiça que
tivéssemos feito, mas por misericórdia, mediante o batismo de
regeneração e renovação do Espírito Santo (Tito 3: 5). Isto é, mesmo com
toda a fé e respetivos frutos, o ser humano necessita da misericórdia de
Deus para a sua salvação.
Os judeus, ao pensarem que eram as obras que salvavam, criavam
obstáculos à salvação. Jesus, irado com o farisaísmo afirmou: Atam fardos
pesados e difíceis de transportar e põem-nos aos ombros dos homens,
mas eles não põem nem um dedo para os deslocar (Mateus 23: 4). O caso de
Nicodemos, um judeu religioso e bem intencionado, é paradigmático:
Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, que era um
dos principais entre os judeus. Foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe:
Rabbi, sabemos que vieste, como Mestre, da parte de Deus, pois
ninguém pode fazer os milagres que tu fazes, se Deus não estiver com
ele. Jesus respondeu-lhe: Em verdade, em verdade te digo: Quem não
nascer de novo, não pode ver o reino de Deus (João 3: 1-3).
Nicodemos, como qualquer judeu, pensava que só precisava de quem o
ensinasse. Por isso, muito naturalmente, também considerava que a
entrada no Reino de Deus dependia apenas dos méritos da pessoa e de ser
descendente natural de Abraão. Jesus, não dando importância aos elogios
que ele pronunciou, disse-lhe que a entrada no Reino de Deus não se
consegue só por que se é membro de uma organização. Diante de Deus um
homem com todas as qualidades morais e intelectuais, como era o caso
208
dele, é igual a alguém sem méritos. Jesus mostrou a Nicodemos que se não
nascesse de novo, se não se arrependesse, se não cresse que Ele, Jesus, ia
ser levantado e crucificado no seu lugar, não teria a vida eterna, não teria
salvação. Para o ajudar a compreender o Plano de Deus para a Salvação,
Jesus usou o exemplo da serpente de metal erigida por Moisés: Assim
como Moisés levantou a serpente no deserto*, assim também tem de ser
levantado o Filho do Homem, a fim de que todo aquele que n’Ele crer
tenha a vida eterna (João 3: 14, 15). Nesse tempo, o israelita mordido pela
serpente venenosa que olhasse para a serpente de metal ficaria curado. A
cura aconteceria pela fé. Do mesmo modo se deve olhar com fé para Jesus
Cristo a fim de receber a vida eterna.
Apesar de tudo, Israel teve sempre e continuará a ter um papel importante
- é o canal da revelação e bênção de Deus para o mundo. É também
considerado o relógio de Deus, tendo em atenção as profecias bíblicas
sobre a volta de Jesus Cristo descritas em vários livros do Antigo (Isaías,
Ezequiel, Zacarias, Daniel, etc.) e do Novo (Mateus, Marcos, Lucas, João, 1 e 2 Tessalonicenses,
Apocalipse, etc.) Testamentos.


*
Números 21: 9: Moisés fez uma serpente de bronze e pendurou-a no cimo dum pau. Quando as
serpentes mordiam em alguém, este olhava para a serpente de bronze e salvava-se.
209
Capítulo III

O TEMPO DA IGREJA E OS TEMPOS DOS GENTIOS. A IGREJA


SUBSTITUIU ISRAEL?
Por Israel ter rejeitado o Messias e a obra redentora de Deus em relação à
Humanidade não poder parar, Jesus Cristo estabeleceu a Igreja que o
substituiu na pregação da mensagem de Deus. Isto não significa que esta
tenha sido uma solução de momento, pois já fazia parte do Plano de Deus:
Ele nos salvou e nos chamou para a santidade, não devido às nossas
obras; mas em virtude do seu desígnio e graça, que nos foi dada em
jesus Cristo antes de todos os séculos, e que agora se manifestou com a
aparição do nosso Salvador... (2 Timóteo 1: 9, 10).
A falsa perceção de que Israel deixou de ter um lugar próprio no coração
de Deus, ainda permanece. Por causa disso, houve no passado as cruzadas
e durante a inquisição os judeus foram perseguidos, obrigados a
converterem-se e muitos mortos. No nosso tempo, surgiu o Holocausto e o
antissemitismo continua vivo e a crescer.
Algumas passagens bíblicas, por falta de entendimento das Escrituras,
poderão ter dado o seu contributo, como por exemplo: Por isso vos digo:
O reino de Deus ser-vos-á tirado e será confiado a um povo que
produzirá os seus frutos. Quem cair sobre esta pedra, ficará
despedaçado; aquele sobre quem ela cair, ficará esmagado. Os príncipes
dos sacerdotes e os fariseus, ao ouvirem as suas parábolas,
compreenderam que eram eles os visados. Embora procurassem meio de
o prender, temeram o povo, que o considerava profeta (Mateus 21: 43-46).
Esta declaração de Jesus aos sacerdotes e aos fariseus, não significa, de
modo nenhum, que Deus tenha renegado Israel. Quer dizer que, como
consequência de os judeus não terem aceitado a justiça de Deus (Romanos
10), isto é, Jesus Cristo, Deus, parcial e temporariamente, deixaria de usar
Israel para a pregação da salvação (Evangelho) ao mundo.
Paulo di-lo claramente em Romanos 11: 1, 25, 26: Pergunto agora: Teria
Deus rejeitado o seu povo? Longe disso, porque eu também sou
israelita... Deu-se o endurecimento duma parte de Israel, até que a

210
totalidade dos gentios tenha entrado, e então Israel inteiro será salvo....
Aqui também é clara a distinção entre Igreja, gentios e Israel.
Com o início do regresso dos judeus à Terra Prometida, Deus começa a
voltar-se novamente para Israel: Plantá-los-ei na sua terra, e não serão
mais arrancados da terra que lhes dei, diz o Senhor, teu Deus (Amós 9: 15),
que culminará na sua conversão, no Milénio: Assim fala o Senhor dos
exércitos: Vou libertar o meu povo, tirando-o da terra do Levante e da
terra do Poente. Eu os trarei e eles habitarão em Jerusalém; serão o
meu povo e eu serei o seu Deus na fidelidade e na justiça (Zacarias 8: 7, 8).
Estes factos não podem ser ignorados. O regresso dos judeus de todo o
mundo e a transformação que o território sofreu contradizem os que
rejeitam Israel.
Mas há mais: a Igreja nunca recebeu a incumbência de estabelecer um
reino terreno. Em Atos 1: 6, os discípulos perguntaram a Cristo: Senhor, é
agora que vais restaurar o reino de Israel?. Eles sabiam o que
perguntavam, porque as palavras empregues têm significados básicos: a)
era aguardado o restabelecimento do reino anteriormente existente, que é
Israel; b) ocorreria num tempo futuro, predeterminado pelo Pai:
Respondeu-lhes: Não vos compete saber os tempos nem os momentos
que o Pai fixou com a sua autoridade; c) é Jesus Cristo e não a Igreja
quem o fará.
Também em Atos 3: 19-26, Pedro disse o mesmo. Nos v.v. 20 e 21 disse
especificamente: ...Ele enviará, então, Aquele que vos foi destinado, o
Messias Jesus, que deve permanecer no céu até ao momento da
restauração de todas as coisas, de que Deus falou outrora pela boca dos
seus santos profetas. Há um tempo futuro para a restauração de todas as
coisas. Nesse tempo Cristo voltará do céu para restaurar para os filhos dos
profetas (v. 25), os judeus, o que todos os profetas falaram (v. 24), o reino e a
ocupação do trono de David, como mencionado: Reunirei o que restar
das minhas ovelhas, espalhadas pelas terras em que as exilei, e fá-las-ei
voltar às suas pastagens onde crescerão e se multiplicarão. Dar-lhes-ei
pastores que as apascentarão, de sorte que não terão medo nem
sobressalto e nenhuma delas se perderá, oráculo do Senhor. Dias virão,
oráculo do Senhor, em que farei brotar de David um rebento de justiça,
que será rei, governará com sabedoria e exercerá no país o direito e a
211
justiça. Sob o seu reinado, Judá será salvo e Israel viverá em segurança.
Então será este o seu nome: Javé, nossa justiça! (Jeremias 23: 3-6).
Encontra-se outra profecia sobre o mesmo assunto: Suscitarei, para as
apascentar, um só pastor, o meu servo David. Será ele quem as levará a
apascentar e que lhes servirá de pastor. Eu, o Senhor, serei seu Deus, ao
passo que o meu servo David será um príncipe no meio delas; sou eu, o
Senhor, quem o diz (Ezequiel 34: 23, 24).
O atual Reino de Deus não é deste mundo: Jesus respondeu: O meu reino
não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os
meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas o meu
reino não é daqui (João 18: 36). Jesus não veio instituir nenhuma teocracia
político-religiosa, nem dominar o mundo. Por esse motivo, os cristãos não
podem servir-se de meios terrenos para promoverem o Seu Reino ou os
princípios de Cristo, tais como recorrer a guerras ou a revoltas: Um dos
doze que estavam com Jesus, levou a mão à espada, desembainhou-a,
feriu um servo do sumo sacerdote, cortando-lhe uma orelha. Jesus disse-
lhe: Mete a tua espada na bainha, pois todos quantos se servirem da
espada, à espada morrerão. Julgas que não posso rogar a meu Pai, que,
imediatamente, me enviaria mais doze legiões de anjos? (Mateus 26: 51-53).
O cristianismo não é uma plataforma de poder para controlar a sociedade.
As armas do cristão não são carnais: As armas com que lutamos não são
carnais, mas, por Deus, são capazes de destruir fortalezas (2 Coríntios 10: 4).
A igreja primitiva compreendia perfeitamente este mandamento de Deus,
pois nunca usou a violência para se defender dos ataques a que esteve
sujeita. Manteve-se sempre fiel ao seu fundamento. Nenhum cristão deve
propagar ou usar a violência: ...Não nos enchamos de vanglória,
provocando-nos mutuamente, tendo inveja uns dos outros. (Gálatas 5: 22-26).
No Novo Testamento não há fundamentos para os chamados conflitos
entre ‘cristãos’, como a Guerra dos Trinta Anos e, mais recentemente, as
Cruzadas, a Inquisição ou a luta entre católicos e protestantes na Irlanda
do Norte. Porém, isto não significa que os cristãos sejam indiferentes aos
conselhos divinos relativos a um governo dirigido pela justiça e pela paz, e
que penalize os malfeitores. Devem levar uma palavra profética ao Estado,
no que respeita às suas responsabilidades morais.

212
Deus diz que é o Deus da profecia. As profecias que Ele deu para Israel e
o seu cumprimento evidenciam, irrefutavelmente, a Sua existência e o Seu
propósito para a Humanidade: Lembrai-vos dos tempos passados, desde o
princípio. Sim, eu sou o Deus, e não há outro. Eu sou Deus e não há
nenhum semelhante a mim. Eu anuncio o futuro, desde o princípio, e de
antemão o que ainda não se cumpriu. Os meus desígnios realizar-se-ão,
executarei todas as minhas vontades (Isaías 46: 9-10). Em Ezequiel 38: 23
está dito: Desta maneira manifestarei a minha glória e a minha
santidade, revelando-me aos olhos de numerosas nações, a fim de que
saibam que eu sou o Senhor.
Segundo a Bíblia, Israel é o sinal dado ao mundo de que o Deus das
Escrituras existe e não há outro, é a Sua prova irrefutável: Vós sois as
minhas testemunhas, diz o Senhor, e os servos que eu escolhi, a fim de
que me reconheçais e me acrediteis e compreendais que eu sou. Antes de
mim não havia deus nenhum, e não haverá outros depois de mim (Isaías
43: 10).

É tão importante distinguir, em termos coletivos, Israel, da Igreja, como


esta, dos gentios ou pagãos. Quanto a Israel já se disse o suficiente para
perceber a relação abraâmica existente, portanto, quem o constitui. O
mesmo em relação à Igreja, composta, sem distinção, por gentios e judeus
convertidos a Cristo: Porque todos vós sois filhos de Deus, mediante a fé
em Jesus Cristo; Pois todos os que fostes batizados em Cristo, vos
revestistes de Cristo. Não há judeu nem grego; não há servo nem livre,
não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo (Gálatas 5:
26-28). A Bíblia descreve os gentios como povos incrédulos: Antes, pelo
contrário, tendo visto que a evangelização dos incircuncisos me tinha
sido confiada, como a Pedro, a dos circuncisos, porque aquele que
operou eficazmente em Pedro, para o apostolado da circuncisão, esse
operou também em mim, com eficácia, em favor dos gentios..., e tendo
reconhecido a graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João, que eram
considerados as colunas, estes deram-nos as mãos, a mim e a Barnabé,
em sinal de comunhão, para que nós fossemos aos gentios e eles aos
circuncidados (Gálatas 2: 7-10). Como se disse, Israel, depois do governo do
rei Salomão, perdeu a oportunidade de vir a exercer o seu reinado
universal, como era desejo de Deus. Como consequência, Nabucodonosor,

213
em sonho, recebeu a informação divina sobre as caraterísticas dos vários
impérios que sucederiam ao babilónico. Estes impérios, na vigência dos
quais o mundo ainda se encontra, são biblicamente designados por tempos
dos pagãos (Lucas 21: 24), e substituem o reinado de Israel até aos ‘últimos
dias’, isto é, até ao regresso de Jesus Cristo, depois da Tribulação, altura
em que terminarão, após Cristo julgar as nações, aniquilar o Anticristo e
estabelecer o Seu Reino Milenar.
Por outro lado, o tempo da Igreja é temporariamente coexistente com o
tempo dos pagãos. Durará o período de tempo que medeia entre o seu
surgimento, no dia de Pentecostes (Atos 1: 4, 5, 8; Atos 2: 1-4) e o
Arrebatamento (João 14: 3; Mateus 24: 36-44; 1 Tessalonicenses 4: 13-18), que se dará
na futura volta de Jesus Cristo, que virá para a levar consigo.
Para se compreender melhor que Israel e a Igreja têm funções diferentes
no Plano de Deus para a Salvação da Humanidade, veja-se o que Tiago
disse, durante a conferência realizada em Jerusalém, sobre a salvação dos
gentios: ...Simeão contou como Deus, ao princípio, se dignou intervir
para tirar dentre os pagãos um povo que fosse consagrado ao seu nome.
E com isto concordam as palavras dos profetas, conforme está escrito:
Depois disto, hei de voltar a reconstruir a tenda de David, que estava
caída; reconstruirei as suas ruínas e erguê-las-ei de novo a fim de que o
resto dos homens procure o Senhor, bem como todas as nações que
foram consagradas ao meu nome, diz o Senhor, que dá a conhecer estas
coisas desde a eternidade (Atos 15: 14-18). Estas palavras, baseadas na
profecia de Amós 9: 11-15, mostram que Deus tinha o propósito, quer de
incluir os gentios no Seu Reino (Igreja), quer de restaurar Israel na sua
terra. Através desta profecia, Deus declarou que, por Israel ter rejeitado
várias vezes a Sua palavra, o faria passar por diversas adversidades e que
não os reuniria, nem reedificaria a casa de David (chegada do Reino de
Cristo, com sede em Jerusalém), sem que antes Israel fosse sacudido entre
as nações para onde seria lançado (Amós 9: 9). Entretanto, Deus visitaria os
gentios para tirar dentre os pagãos um povo que fosse consagrado ao seu
nome (Igreja). Depois, afirmou: ...restaurarei o meu povo de Israel;
reconstruirão as cidades devastadas e habitá-las-ão; plantarão vinhas e
beberão o seu vinho; cultivarão pomares e comerão os seus frutos.

214
Plantá-los-ei na sua terra, e não serão mais arrancados da terra que
lhes dei, diz o senhor teu Deus (Amós 9: 14, 15).
A Igreja, como parte fundamental para a salvação da Humanidade, tem as
suas competências próprias. Deve proclamar a Salvação, tendo sempre
presente a esperança futura cujo centro é a volta de Cristo, ser o
sustentáculo da verdade, adorar a Deus, estudar a Sua Palavra, edificar-se,
desenvolver os seus dons e manifestar o amor ao próximo. Mas não pode
perder de vista o seu objetivo primordial, a esperança das coisas invisíveis,
eternas, enquanto exerce a sua missão social: Por isso, não olhamos para
as coisas visíveis, mas para as invisíveis, porque as visíveis são
passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas (2 Coríntios 4: 18).
A palavra “igreja” tanto significa a igreja local constituída por edifícios
simples ou luxuosos pertencentes a denominações e a congregações, como
a Igreja no sentido espiritual, universal (Mateus 16: 18; Atos 20: 28; Efésios 2: 21, 22).
Esta é a reunião dos salvos em Cristo, o Seu corpo, redimido como
consequência da Sua morte (1 Pedro 1: 18, 19). Os seus membros deverão
trabalhar juntos em amor e harmonia (1 Coríntios 4: 7), devendo, tal como é
ensinado no Antigo e Novo Testamentos, contribuir de modo voluntário e
generoso (Êxodo 25: 1, 2; 2 Crónicas 24: 8-11; 1 Coríntios 9: 4-14 e 16: 2; 2 Coríntios 8: 4-24; 2
Coríntios 9), por vezes de modo sacrificial (2 Coríntios 8: 3), para o
estabelecimento e a manutenção das igrejas locais, de forma a que se
possa fazer a obra local, onde se inclui, por exemplo, a ajuda aos
necessitados e a disseminação do Evangelho pelo mundo.
A Igreja é tanto visível como invisível. A visível é constituída por
instituições humanas, isto é, denominações ou congregações locais que
fazem a obra de Deus pregando a Sua mensagem de Salvação. São
formadas por crentes vencedores e fiéis, bem como por crentes professos,
embora espiritualmente mortos, isto é, falsos - o joio da mesma parábola
(Mateus 13: 38). São estes que, geralmente, minam a autoridade da Palavra de
Deus e promovem a iniquidade e as falsas doutrinas (Mateus 13: 25, 38, 39).
A Igreja invisível no sentido é a que está a ser construída nos corações
humanos. Também é chamada a Noiva de Cristo (Apocalipse 19: 7, 8), e é
constituída por crentes verdadeiros, unidos na sua fé viva em Cristo, que
são o templo do Espírito Santo, isto é, os salvos – o trigo da parábola do
joio (Mateus 13: 36-43). É a Igreja que Cristo está a edificar e tem como como
215
fundamento principal a frase de Pedro: Cristo, o Filho de Deus vivo (Mateus
16: 16). Eis que ponho em Sião uma pedra angular, escolhida, preciosa; e
quem puser nela a sua confiança, não será confundido. A honra é,
então, para vós que credes. Mas para os incrédulos, a pedra que os
edificadores rejeitaram tornou-se a pedra angular (1 Pedro 2: 6, 7). Todos os
seres humanos convertidos ao senhorio de Cristo são os seus membros.
Ele é o verdadeiro Sumo Sacerdote e os cristãos reis e sacerdotes: Vós,
porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido, a
fim de anunciardes as virtudes d'Aquele que vos chamou das trevas para
a Sua luz admirável (1 Pedro 2: 9); Àquele que nos ama e que nos lavou dos
nossos pecados e nos fez reis e sacerdotes para Deus, Seu Pai, glória e
poder para todo o sempre. Amém" (Apocalipse 1 : 6). O sacerdócio, em
relação aos cristãos, também tem em vista a sua capacidade como
agrupamento: E vós mesmos, como pedras vivas, entrai na construção
dum edifício espiritual, por meio dum sacerdócio santo, cujo fim é
oferecer sacrifícios espirituais que serão agradáveis a Deus, por Jesus
Cristo (1 Pedro 2: 5). Como o acesso ao Pai é direto, não são necessários
mediadores como na religião judaica: Portanto, é por Ele que ambos
temos acesso junto ao Pai num mesmo Espírito (Efésios 2 : 18). É por esse
motivo que, tendo em atenção o Sumo Sacerdócio de Cristo, Paulo afirma:
Cristo Jesus, que morreu, e ainda mais, que ressuscitou, Ele que está à
direita de Deus, Ele que intercede por nós (Romanos 8: 34).
A Igreja de Cristo será sempre perseguida. Esta é, verdadeiramente, a sua
cruz: Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque
não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o
mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: Não é o
servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos
perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, guardarão também a
vossa. Mas tudo isto vos farão por causa do meu nome, porque não
conhecem aquele que me enviou. ... Tenho-vos dito estas coisas, para
que em mim tenhais paz. No mundo tereis tribulações; mas tende bom
ânimo, eu venci o mundo (João 15: 19-21; 16: 33). E na verdade todos os que
querem viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições (2 Timóteo
3: 12).

As promessas feitas a Israel são diferentes das da Igreja. As profecias

216
sobre a restauração da casa de Jacob não podem ser-lhe aplicadas, pois
será arrebatada antes de isso acontecer. A Igreja nunca teve um território
específico de onde tenha sido desterrada ou para o qual tenha regressado.
Pelo contrário, é formada de toda a tribo, língua, povo e nação (Apocalipse 5:
9). O papel da Igreja é o de um servo de Jesus Cristo, não o de um
governante do mundo atual. A força da Igreja não procede do mundo, mas
da cruz; o seu sofrimento e rejeição são a sua glória. Como se viu, há
grandes diferenças entre as vocações de Israel e da Igreja. Em relação a
esta, o Corpo de Cristo, há um desígnio único, pois é nela que convergem
todos os propósitos de Deus desde antes de todos os séculos: ...reunir sob
a chefia de Cristo todas as coisas que há no Céu e na Terra (Efésios 1:
10). Como se disse, a Igreja durará até ao seu Arrebatamento, o início do
que espera os crentes futuramente: E, quando Eu tiver ido e vos tiver
preparado um lugar, virei outra vez, e levar-vos-ei comigo, para que,
onde Eu estiver, estejais vós também (João 14: 3; 1 Tessalonicenses 4: 13-17). A sua
ida para o céu, a sua verdadeira pátria.
Depois do fim do Milénio, tudo o que Deus planeou realizar em Cristo,
alcançará a sua completa concretização. Depois de terminada a obra de
salvação, Deus reunirá tudo e todos em Cristo, não só a Humanidade
redimida, como todo o Universo, toda a criação: Ele é a imagem do Deus
invisível, o Primogénito de toda a criação, porque n’Ele foram criadas
todas as coisas nos Céus e na Terra, as visíveis e as invisíveis, os Tronos,
as Dominações, os Principados e as Potestades, tudo foi criado por Ele e
para Ele. Ele existe antes de todas as coisas e todas as coisas têm n’Ele a
sua subsistência (Colossenses 1: 15-17).
A profecia bíblica também adverte: ninguém de modo algum vos engane;
porque isto não sucederá (a vinda de Cristo, v. 2) sem que venha primeiro a
apostasia... (2 Tessalonicenses 2: 3). Tem-se constatado que muitos cristãos
abandonaram a verdadeira fé, passando a imperar a apostasia, a
indiferença e a negligência para com as coisas espirituais, por isso não
reconhecem os sinais dos tempos. Outros evangelhos e outro espírito têm
sido proclamados, levando ao afastamento da simplicidade de Cristo e do
Seu Evangelho, confirmação do receio demonstrado por Paulo há cerca de
2.000 anos: Mas tenho medo que se corrompam no entendimento e
abandonem a simplicidade e a pureza da fé em Cristo... (2 Coríntios 11: 3).

217
Jesus, na carta dirigida à igreja de Laodiceia, advertiu para a sua mornidão
espiritual, caracterizada pela sua condescendência com o mundo e
semelhança com a sociedade (Apocalipse 3: 14-22). Só depois da Tribulação, o
Reino e o governo milenar de Cristo serão literalmente instituídos neste
mundo, colocando um fim aos tempos dos pagãos.

218
O AMOR DE DEUS
Na Bíblia, a palavra amor traduz significados diferentes, tais como, o
Amor (ágape) de Deus e o amor cristão, o amor (eros) entre homem e
mulher, ou o amor (philia) entre amigos. Ágape, no contexto cristão,
significa amor voluntário e incondicional, isto é, que não discrimina nem
tem pré-condições. Por exemplo, quando Jesus deu os dois maiores
mandamentos, em Mateus 22: 37-41, e quando fez o Sermão da Montanha,
foi ágape, que Paulo define nos seguintes termos: A caridade é paciente, a
caridade é benigna, não é invejosa; a caridade não de ufana, não se
ensoberbece, não é inconveniente, não procura o seu interesse, não se
irrita, não suspeita mal, não se alegra com a injustiça, mas rejubila com
a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A
caridade nunca acabará (1 Coríntios 13: 4-8).
Deus, pela Sua própria natureza é amor, por isso, age com compaixão e
graça. A Bíblia mostra que o Seu amor é incondicional e disposto a fazer
sacrifícios. É a base de toda a Sua obra de redenção, não se baseia em
laços afetivos pessoais, como se verá mais adiante, mas é segundo a Sua
vontade e é demonstrado em santidade, justiça e retidão.
Perante a História de Israel, muitos consideram que Deus o favoreceu em
detrimento dos outros povos. Abraão, chamado por Deus com o propósito
de redimir e salvar a Humanidade (Génesis 12), correspondeu aos Seus
desejos aceitando deixar a família e dirigindo-se para a terra que lhe tinha
sido prometida. O propósito de Deus era que houvesse um homem que O
conhecesse, servisse e guardasse os Seus caminhos, de modo a poder
formar um povo afastado das práticas ímpias do mundo, de onde viria o
Salvador da Humanidade. É importante referir que Deus clarificou, em
várias ocasiões, que o motivo da escolha foi demonstrar o Seu amor, graça
e misericórdia ao mundo, através de um povo cujo comportamento em
nada difere do de qualquer ser humano, pois é rebelde, nada merecendo a
não ser punição.
Deus prometeu a Abraão que dele faria uma grande nação: O Senhor disse
a Abrão: Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a
terra que eu te indicar. Farei de ti um grande povo; abençoar-te-ei,
engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênçãos. Abençoarei
aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te
219
amaldiçoarem. E todas as famílias da terra serão em ti abençoadas
(Génesis 12: 1-3).

A promessa foi feita pela graça de Deus, pois Abraão não realizou
nenhuma obra que merecesse a justiça divina. Ao crer que Deus poderia
realizar tudo o que lhe prometera, foi justificado. Mas, é no cumprimento
desta promessa que se revela o cuidado e o amor de Deus para com Israel:
No entanto, foi a teus pais que o Senhor se apegou com amor, e elegeu a
sua posteridade depois deles, a vós, dentre todos os povos, como hoje
vedes (Deuteronómio 10: 15). Não foram as qualidades do povo que fizeram
surgir o amor de Deus, pelo contrário, foi o amor de Deus para com os
patriarcas que deu origem ao povo de Israel: Se Senhor vos preferiu e vos
distinguiu, não foi por serdes mais numerosos do que os outros povos,
pois sois o mais pequeno de todos; foi porque o Senhor vos ama, porque
é fiel ao juramento que fez aos vossos antepassados; por isso, a sua mão
poderosa vos arrancou e salvou da casa da servidão, da mão do Faraó,
rei do Egito (Deuteronómio 7: 7, 8). Deus faz o que é justo ao preservar o povo
de Israel (este é o amor de Deus), isto porque de maneira alguma Ele
voltará atrás no juramento que fez aos patriarcas.
Examine-se a declaração de amor que Deus fez ao povo de Israel com
base no seguinte v.: Que o temor de Deus esteja convosco. Vigiai a vossa
conduta, pois, junto do Senhor, nosso Deus, não há injustiça, nem
distinção de pessoas, nem admissão de presentes (2 Crónicas 19: 7). Neste v.
há três aspetos a considerar: Deus é santo, ama a todos de igual modo, e
não aceita subornos. Deus aplica este princípio a todos os seres humanos,
por isso amava e ama cada um dos integrantes do povo de Israel, como se
viu pelos v.v. acima transcritos. Se não lhes tivesse amor, condená-los-ia e
afastá-los-ia da Sua presença.
A promessa feita a Abraão: E todas as famílias da terra serão em ti
(Abraão) abençoadas (Génesis 12: 3), mostra que, da mesma forma que Deus
amou Israel, também amou todos os seres humanos. O sacrifício vicário de
Cristo permitiu-o: para que a bênção de Abraão em Jesus Cristo se
estendesse aos gentios, e para que, pela fé, recebêssemos a promessa do
Espírito (Gálatas 3: 14). O facto de em Abraão serem benditas todas as
famílias da Terra dá-nos, também, a base para entender o Evangelho:
Abraão acreditou em Deus, e por isso Deus o aceitou como justo (Génesis
220
15: 6).
Permite, igualmente, perceber porque quem crê em Cristo, a justiça
de Deus, é justificado como o foi Abraão (Gálatas 3: 6-9).
Para descrever a natureza do amor de Deus para com o povo de Israel,
quer Malaquias, no AT, quer Paulo, no Novo, servem-se dos gémeos Esaú
e Jacob e da sua relação fraternal. A Bíblia mostra que Isaac amava o seu
filho mais velho com base nas suas preferências pessoais, pois Esaú
gostava de caça: Isaac preferia Esaú, porque gostava de caça, mas a
ternura de Rebeca ia para Jacob (Génesis 25: 28). Se fosse por Isaac a bênção
resultante do direito de primogenitura seria dada a Esaú (Génesis 27: 1-4).
Contudo, através de Malaquias fica-se também a saber que Jacob adquiriu
legalmente o seu direito de primogenitura: Jacob disse-lhe: Vende-me o
direito de primogenitura! Esaú retorquiu: Que me importa a mim o
direito de primogenitura se estou a morrer de fome? Jacob disse-lhe:
Jura imediatamente. Ele jurou e vendeu o seu direito de primogenitura a
Jacob (Génesis 25: 31-33).
Paulo referiu-se a Esaú e a Jacob do seguinte modo: Ora, mesmo antes do
nascimento dos filhos, quando não tinham feito bem nem mal, para que
se afirmasse a liberdade da eleição divina, só dependente da escolha
d’Aquele que chama e não das obras, foi-lhe dito: O mais velho será
servo do mais novo, segundo o que está escrito: ‘Amei Jacob e odiei
Esaú’. Que diremos então? Que há injustiça em Deus? De modo algum!
(Romanos 9: 11-14). A citação anterior: Amei Jacob e odiei Esaú, retirada de
Malaquias 1: 2, 3: Eu vos amei, diz o Senhor. E vós dizeis: Em que nos
amaste? Porventura não era Esaú irmão de Jacob? Diz o Senhor.
Contudo, amei Jacob e aborreci Esaú..., é muito usada para afirmar que
Deus foi parcial em relação a Jacob. Contudo, é a de que Paulo se serviu
para demonstrar que não há injustiça em Deus nessa eleição. Paulo
aplicou-a para salientar que a escolha de Jacob, para patriarca das doze
tribos de Israel, tinha ocorrido antes do parto, não tendo, portanto, sido
baseada nas suas obras. Que a eleição de Jacob situava-se apenas no
âmbito da lógica divina, por Ele soberanamente estabelecida e considerada
a melhor para o cumprimento do Seu Plano de Salvação. Portanto, foi com
base no Seu amor que Deus disse a Rebeca que o maior haveria de servir o
menor, e não houve injustiça porque Deus mantém-se sempre fiel aos Seus
projetos (Romanos 9: 14).
221
Deus, ao escolher alguém para executar determinada tarefa, fá-lo sempre
de acordo com o propósito que tem para cada membro. É assim porque o
amor de Deus não é tendencioso, isto é, não é demonstrado através de
favoritismo pessoal, mas em retidão e justiça. Os Antigo e Novo
Testamentos mostram-no através de vários exemplos - a escolha de Judá
para a linhagem de David e do Messias: Mas escolheu a tribo de Judá, e o
monte Sião, seu preferido (Salmo 78: 68); a escolha de David para governar o
Seu povo: Escolheu a David seu servo, tomando-o dos apriscos das
ovelhas (Salmo 78: 70); a eleição de Maria para dar à luz o Salvador da
Humanidade: Mas ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu
Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei (Gálatas 4: 4); a escolha de
Pedro para ir a casa de Cornélio, dando início à salvação dos gentios em
Cristo: Depois de longa discussão, Pedro ergueu-se e disse-lhes: Irmãos,
sabeis que Deus me escolheu desde os primeiros dias para que os pagãos
ouvissem da minha boca a palavra da Boa Nova e abraçassem a fé (Atos
15: 7-12; Atos 11: 5-12).

O apóstolo Pedro teve dificuldade em perceber essa equidade de Deus.


Foram precisos vários sinais de Deus para o convencer de que o
Evangelho não era só para os judeus (Atos 10: 1-48: 11: 1-18). Mais tarde, foi
convocado um sínodo, cuja questão essencial era se a circuncisão e a
obediência à lei de Moisés eram necessárias à salvação em Cristo. Nele
participou Pedro: Os apóstolos e os anciãos reuniram-se para examinar a
questão. Depois de longa discussão, Pedro ergueu-se e disse-lhes:
Irmãos, sabeis que Deus me escolheu desde os primeiros dias para que
os pagãos ouvissem da minha boca a palavra da Boa Nova e abraçassem
a fé*. E Deus, que conhece os corações, testemunhou a favor deles,
concedendo-lhes o Espírito Santo como a nós. Não fez qualquer
distinção entre eles e nós, visto ter purificado os seus corações pela fé
(Atos 15: 6-9).

A seguir interveio Tiago (v.v. 13-19): Quando acabaram de falar, Tiago


tomou a palavra e disse: Irmãos, escutai-me: Simeão contou como Deus,

*
Este relato esteve relacionado com a família não judaica de Cornélio que ouviu e recebeu a Palavra
com fé salvadora: E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro,
maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios (Atos 10:
45).
222
ao princípio, se dignou intervir para tirar dentre os pagãos um povo que
fosse consagrado ao seu nome. Depois disto, hei de voltar a reconstruir a
tenda de David, que estava caída; reconstruirei as suas ruínas e erguê-
las-ei de novo, a fim de que o resto dos homens procure o Senhor, bem
como todas as nações que foram consagradas ao meu nome, diz o
Senhor, que dá a conhecer estas coisas desde a eternidade. Por isso, sou
de opinião que não se devem importunar os pagãos convertidos a Deus...
.
Durante esta sua intervenção, Tiago interpretou a profecia de Amós 9: 11,
12, afirmando que o Tabernáculo de David é o meio pelo qual os gentios
voltam a fazer parte da promessa de Deus feita a Abraão, que é Jesus
Cristo. Paulo confirma-o: Cristo resgatou-nos da maldição da lei,
fazendo-se maldição por nós, pois está escrito: Maldito seja todo aquele
que é suspenso no madeiro; para que a bênção de Abraão em Jesus
Cristo se estendesse aos gentios, e para que, pela fé, recebamos a
promessa do Espírito (Gálatas 3: 13, 14).
Jesus já havia dito a Nicodemos, que imaginava que Deus só amava os
judeus, que Ele tinha sido enviado ao mundo para salvar a Humanidade:
Porque Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único,
para que todo o que n’Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.
Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo,
mas, para que o mundo seja salvo por Ele (João 3: 16, 17). Também corrigiu
os Seus apóstolos quando os informou de que os gentios iam fazer parte
do rebanho: ...e dou a minha vida pelas minhas ovelhas. Ainda tenho
outras ovelhas que não são deste aprisco e também tenho de as
conduzir; ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor
(João 10: 15, 16). Como sabiam que Jesus tinha sido enviado a Israel, para eles
o rebanho era composto só por judeus, pois os não-judeus não tinham,
como eles, sido sujeitos às leis cerimoniais. Isto pode ser verificado no
capítulo 10 do Evangelho de João, que relata o sermão do bom Pastor.
Nele, Jesus estava a mostrar-lhes que tinha vindo, como Pastor, formar um
rebanho constituído por ovelhas provenientes, quer dos judeus, quer dos
gentios, que passariam a ouvir a Sua voz. Todo o povo de Deus é um em
Cristo: não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há homem
nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo (Gálatas 3: 28). Tanto

223
judeus como não-judeus são salvos por uma salvação comum. Contudo,
isto não significa que, no âmbito do Plano e do serviço de Deus, não haja
áreas de atuação diferentes. Este assunto está contemplado no subcapítulo
‘O Tempo da Igreja e os Tempos dos Gentios. A Igreja Substituiu Israel?’.
A Bíblia mostra também que Deus estabelece uma correlação entre amar e
obedecer: Se me amardes, guardareis os meus mandamentos (João 14: 15).
A obediência a Deus revela que o maior desejo é ter-se um relacionamento
íntimo com Ele: Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando
(João 15: 14).

Como se disse, o amor de Deus é incondicional e disposto a fazer


sacrifícios. É a base de toda a Sua obra de redenção, mas não é
tendencioso, pois não se baseia em laços afetivos ou favoritismo pessoais.
Esta é a razão por que não se pode ir a Deus através de sentimentos, mas
sim por justiça e retidão. Os sentimentos como a tristeza, a mágoa, a
alegria e o amor do ponto de vista humano impedem o encontro com
Deus. Também não é a sabedoria, nem a força e muito menos as riquezas
do homem que o levam ao conhecimento de Deus. Todas estas coisas não
permitem o nascimento da fé sobrenatural, que é movida por uma certeza,
nada tendo a ver com emoções ou sentimentos provenientes de um
coração cuja natureza é puramente humana e natural, impelido pelas
circunstâncias do mundo em que vive.
Para se entender o amor verdadeiro e para se poder realmente amar o
próximo, torna-se necessário ter um relacionamento pessoal com Deus.
Esse relacionamento é possível através da fé em Jesus Cristo, que foi o
sacrifício do amor de Deus para o ser humano. O conhecimento de Deus
vem através da obediência e da experiência da aplicação das Suas
verdades no dia a dia: Ora, sem fé, é impossível agradar a Deus, porque é
necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e
que é remunerador daqueles que o procuram (Hebreus 11: 6).
Quem ama a Deus recebe a capacidade de amar o seu próximo de modo
semelhante. Contudo, tem a responsabilidade de a desenvolver. Por essa
razão, o apóstolo João exorta o cristão a demonstrar amor ao seu
semelhante. Ele não se refere ao sentimento de boa-vontade, mas a uma
disposição imperativa e prática, de ajudar as pessoas nas suas necessidades
(1 João 3: 16-18). O amor deve ter como base a santidade, a retidão e a justiça
224
e não o favoritismo pessoal. O amor é positivo e, simultaneamente,
negativo, devido à inclinação humana para o mal, ao egoísmo e à
crueldade. Quando Jesus disse: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos
que vos odeiam (Lucas 6: 27), estava a referir-se, não a um amor afetivo, mas
a uma genuína consideração pelo seu bem e pela sua salvação. A primeira
evidência do amor cristão é a separação de tudo o que causa dano e
tristeza ao próximo, qualquer que ele seja. A ética cristã não tem de ser
somente positiva, como alguns pensam baseados nas ideias atuais da
sociedade, que se desvia das proibições que refreiam os desejos
descontrolados da natureza humana.
O amor de Deus pode, pois, resumir-se na seguinte passagem da primeira
carta de João: Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor
vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece-o. Aquele
que não ama, não conhece a Deus, porque Deus é amor. Nisto se
manifestou o amor de Deus para connosco: Em ter enviado o seu Filho
unigénito ao mundo, para que, por Ele vivamos. Nisto consiste o seu
amor: Não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele que nos amou e
enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Caríssimos,
se Deus nos amou assim, também nos devemos amar uns aos outros (1
João 4: 7-11). Deus habita naquele que crê no Seu Filho e ama o próximo, e o
Seu amor realiza-se na vida dele (1 João 4: 12).
Ao expressar o Seu amor por Israel, que se estende a todo o ser humano,
Deus caracteriza-o como muito mais forte do que os laços de parentesco,
como maior do que o de uma mãe pelo seu filho: Acaso pode uma
mulher esquecer-se do filho que amamenta, não ter carinho pelo fruto
das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, eu nunca te
esqueceria (Isaías 49: 15).
A maior expressão da natureza e da eficácia do amor de Deus é justamente
a cruz do Calvário: Apesar de Filho de Deus, aprendeu a obedecer,
sofrendo, e, uma vez atingida a perfeição, tornou-se para todos os que
lhe obedecem fonte de salvação eterna (Hebreus 5: 8, 9). Deus, para salvar o
Homem dos seus pecados e elevar a Sua criatura a outra dignidade, não
achou aviltante que o Seu Filho assumisse a condição humana. Pode-se
também perguntar, se Jesus é Deus como pode atingir a perfeição? Se
meditarmos no que dizem os Evangelhos podemos entender que Deus
225
decidiu experimentar amar na natureza humana, finita: E Jesus crescia em
sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens (Lucas 2:
52); Antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de
passar deste mundo para o Pai, ele que amara os seus que estavam no
mundo, levou até ao extremo o seu amor por eles (João 13: 1). Isto significa
que Deus, embora Absoluto, não ignora a Sua criatura e que as Suas
decisões têm em conta, não só as leis que regem a Natureza que Ele
próprio criou, como também a liberdade do ser humano.
Não é, pois, de admirar que Paulo tenha declarado: Julguei não dever
saber coisa alguma entre vós a não ser Jesus Cristo, e este crucificado (1
Coríntios 2: 2). Em consequência da obra de Jesus Cristo o cristão pode deixar
de estar sob a lei e passar a viver sob a graça de Deus: O pecado já não há
de ter domínio sobre vós, pois não estais sob o domínio da lei, mas sob o
da graça (Romanos 6: 14). Isto é, já não depende da lei e dos sacrifícios do AT
para ser salvo e aceite diante de Deus: Antes que a fé viesse, estávamos
sob a custódia da lei, à espera da fé que havia de ser revelada. A lei foi o
nosso pedagogo, para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos
justificados pela fé. Tendo, porém, chegado a fé, já não estamos sujeitos
ao pedagogo (Gálatas 3: 23-25). Este viver pela fé ou pelo Espírito significa a
confiança, o amor, a devoção e a lealdade que se tem em Jesus Cristo que
amou e Se entregou pelo ser humano: e a vida que agora vivo na carne
vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo
por mim (Gálatas 2: 20).

226
A VIOLÊNCIA CONTRA O REINO DE DEUS
Poder-se-á perguntar da razão da necessidade da violência envolvida no
estabelecimento do futuro governo de Cristo na Terra ou da oposição do
mundo à Igreja, bem evidentes ao longo deste trabalho.
A Bíblia fornece a informação de que Satanás tem um certo controlo sobre
a Terra. Ele tem a permissão para influenciar a humanidade, por isso é
evidente a oposição permanente entre o reino das trevas e o Reino de
Deus, contida na mensagem do Evangelho. Se se observar a parábola do
joio (Mateus 13: 24-30) contada por Jesus, pode-se inferir que a luta entre as
forças do mal e as forças de Deus continuará durante toda a história da
Humanidade. Na sua explicação, Jesus disse: ...Aquele que semeia a boa
semente é o Filho do Homem, o campo é o mundo, a boa semente são os
filhos do reino; o joio são os filhos do maligno, e o inimigo que a
semeou é o diabo. A ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os anjos.
Assim, pois, como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no
fim do mundo (Mateus 13: 36-43).
A pregação do Evangelho por todo o mundo, por exemplo, mostra que o
Reino de Deus está a operar e a crescer. Em oposição, verifica-se o
crescimento da apostasia e da iniquidade ou maldade, sinais da presença
das forças do mal, que mostram que Cristo virá a segunda vez à Terra
como Juiz. É impossível compreender a obra redentora de Cristo, sem se
ter em conta a obra desagregadora de Satanás.
Para melhor entendimento, é necessário começar-se pela explicação
bíblica sobre Satanás. O nome ‘Satanás’ provém do hebraico satan,
apontando um adversário, um acusador no sentido legal. A Bíblia informa
que ele tem dois propósitos na luta em que está envolvido contra Deus e a
Sua vontade:
1) Obter poder e também adoração (Isaías 14: 12-17). Para tentar alcançá-los,
opõe-se e perturba a obra de Deus no mundo (Job 1: 6; 2: 1-6; Mateus 4: 10;
Apocalipse 12: 7-9); Desanima os crentes através de diversas estratégias (Lucas
22: 31; Efésios 6: 10-12); Inspira pensamentos contra Deus e contra o próximo;
influencia a vontade do homem, conduzindo-o, assim, ao julgamento
divino. Muitas vezes, não age de forma direta, mas a pouco e pouco vai
forjando astutamente a cilada para que o homem caia, e

227
2) Vingar-se de Deus, pois foi julgado e condenado pela sua rebelião.
Em Apocalipse 12: 9, João retrata Satanás como um grande dragão, uma
representação que ressalta a sua terrível natureza. Esse mesmo v.
identifica-o como a serpente (uma referência a Génesis 3) e como o diabo.
Satanás, na tentativa de derrotar espiritual e moralmente o ser humano
opõe-se-lhe, trabalha contra ele, persegue-o e engana-o: O grande dragão
foi precipitado, a antiga serpente, o Diabo ou Satanás, como lhe
chamam, o sedutor do mundo inteiro (Apocalipse 12: 9). O Senhor mostrou-
me o sumo sacerdote Josué, que estava de pé diante do anjo do Senhor;
Satanás estava à sua direita como acusador (Zacarias 3: 1).
Em João 8: 44, Jesus chamou-o assassino e mentiroso, e Pedro disse algo
que deve ser acatado: O diabo, vosso adversário, anda em redor de vós,
como um leão que ruge, buscando a quem devorar (1 Pedro 5: 8). Em
Apocalipse 12: 10 está descrita a causa da derrota de Satanás - os crentes
fiéis: Agora chegou a salvação, o poder e o reino do nosso Deus e o
poder do seu Cristo, porque o acusador dos nossos irmãos, que os
acusava de dia e de noite diante de Deus, foi derrubado. Eles venceram-
no pelo sangue do cordeiro e pela palavra do seu testemunho, porque
desprezaram as suas vidas até ao ponto de aceitarem a morte.
Sobre a origem de Satanás, sabe-se que cobiçou a posição de semelhança
de Deus, sendo inteira e exclusivamente responsável pela sua escolha
perversa: Subirei sobre o cume das nuvens e serei semelhante ao
Altíssimo (Isaías 14: 14). Há quem argumente que Deus terá alguma
responsabilidade, porque poderia ter criado seres que não se revoltassem.
Outros afirmam que, se Deus tivesse procedido assim, não haveria
ninguém com a capacidade de tomar decisões e, consequentemente, de
escolher adorar e amar a Deus. Esta observação não deixa de conter
alguma verdade, contudo, não explica tudo. A Bíblia não esclarece como o
orgulho pôde surgir no coração de um ser que foi criado perfeito por Deus,
mas mostra que esse orgulho fez com que o querubim do Reino caísse
numa armadilha terrível: Eras um querubim protetor, colocado sobre a
montanha santa de Deus, caminhavas por entre as pedras de fogo. Foste
irrepreensível em tua conduta desde o dia em que foste criado, até
àquele em que a iniquidade apareceu em ti... Por isso te afastei da
montanha de Deus, e te fiz perecer, ó querubim protetor, no meio de
228
pedras de fogo (Ezequiel 28: 14-16). Paulo, na sua primeira carta a Timóteo
menciona a causa da condenação do diabo: Para que não aconteça que,
envaidecido, venha a cair na mesma condenação do Diabo (1 Timóteo 3: 6).
Satanás é totalmente responsável e moralmente culpado pelo seu crime. A
Bíblia afirma que Deus governa soberanamente o universo moral e
controla todas as coisas para que correspondam aos seus perfeitos
propósitos. Mas também ensina que Deus não deve, nem poderá ser
responsabilizado por essa maldade, em qualquer sentido.
Por causa da sua rebelião, Satanás tornou-se inimigo de Deus e de tudo o
que é Dele. A sua condenação, bem como a dos espíritos que o seguiram,
é irreversível. Contudo, embora destituído da comunhão ou da aceitação
com Deus, ainda Lhe tem acesso por causa da sua função de acusador dos
crentes. Satanás tem a permissão divina para tentar o ser humano (Job 1 e 2;
Zacarias 3; Lucas 22: 31; Apocalipse 12: 10).

Essa sua ação não viola o certo grau de livre arbítrio do Homem, nem
danifica a essência natural do ser humano, porque não tem o poder de o
fazer pecar. Além disso, não está acima das forças humanas, pois é
limitada por Deus: ...Deus é fiel, e não permitirá que sejais tentados além
das vossas forças (1 Coríntios 10: 13). Esse poder está na mão do homem,
porque depende da sua liberdade. Poder-se-á, pois, dizer que se não é
Deus quem dirige o homem, o diabo é quem o manipula, mas com o
consentimento e a colaboração do próprio homem. A negação da
existência do diabo equivale a anular a obra de Cristo.
Mas Deus não criou o universo para o pôr sob o domínio de Satanás, pois,
iria totalmente contra a Sua natureza. Que possibilitou, então, essa ação
satânica no mundo?
Quando Deus entregou à humanidade o domínio sobre a Terra,
estabeleceu a teocracia como forma de governo, tal como, posteriormente,
o pretendeu fazer com Israel: Abençoando-os, Deus disse-lhes: Crescei e
multiplicai-vos, enchei e dominai a terra... (Génesis 1: 28). Numa teocracia,
tem que haver um representante que a administre. Para essa função, Deus
designou o homem. Após ter sido dado esse poder ao ser humano, Satanás
induzi-o a aliar-se-lhe na sua revolta contra Deus (Génesis 3: 1-13). Tentou
levá-lo a crer que podia ser semelhante a Deus e a decidir, por conta

229
própria, o que é bom e o que é mau: Mas Deus sabe que, no dia em que o
comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como Deus, ficando a
conhecer o bem e o mal (Génesis 3: 5).
Assim, através do engano, Satanás extorquiu de Deus o governo do
mundo. E por que Deus não interveio impedindo-o? Porque, em termos
legais não podia fazê-lo. Embora fosse dono da Terra, Deus tinha-a
entregue ao ser humano para a administrar. Ficando este responsável pelo
futuro do planeta, ao transferir esse domínio para Satanás quando lhe
obedeceu, deu-lhe o direito legal de interferir. Como resultado, a
humanidade distanciou-se de Deus e Satanás, e as suas forças malignas,
passaram a influenciar a governação humana.
Este aspeto pode ser confirmado, por exemplo, na tentação de Jesus:
Levando-o a um lugar alto, o Diabo mostrou-lhe, num instante, todos os
reinos do mundo, e disse-lhe: Dar-te-ei todo este poderio e a sua glória,
porque me foi entregue e dou-o a quem me aprouver. Se te prostrares
diante de mim, tudo será teu (Lucas 4: 5, 6). Como o diabo tinha autoridade
para oferecer o domínio do planeta a quem quisesse, inclusive a Jesus
Cristo, pois essa autoridade tinha-lhe sido outorgada pelo ser humano,
Cristo não podendo desmenti-lo, afirmou: Está escrito: Ao Senhor, teu
Deus, adorarás, e só a ele prestarás culto (Lucas 4: 8). Foi por essa razão
que Jesus chamou a Satanás príncipe do mundo (João 14: 30). Na sua
primeira carta, João afirmou que o mundo inteiro está sob o jugo maligno
(1 João 5: 19) e Tiago declara que todo aquele que é amigo do atual sistema
mundano é inimigo de Deus (Tiago 4: 4).
Biblicamente, o Reino de Deus é um processo de caráter dinâmico. Dentro
de cada crente renascido (João 3: 3), existe um reino espiritual sob o governo
de Deus, que é o estágio inicial do futuro reino Messiânico literal, o
verdadeiro Reino de Deus na Terra, a ser instituído e governado por Jesus,
na Sua Segunda Vinda e que é designado por Milénio.
Como já foi referido, os profetas predisseram que um descendente de
David, Cristo, iria sentar-se, como Rei, no seu trono (Jeremias 33: 15, 16; Amós 9:
11; Miqueias 5: 2). No NT, a passagem de João 6: 15 confirma-o claramente:
Jesus, sabendo que viriam arrebata-lo para o fazerem rei, retirou-se,
novamente, sozinho, para o monte. Os judeus queriam que Jesus fosse o
seu rei. Os próprios discípulos, após a Sua ressurreição, ou seja, depois de
230
andarem com Ele vários anos, também tinham esse anseio: Estavam todos
reunidos quando lhe perguntaram: Senhor, é agora que vais restaurar o
reino de Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete saber os tempos nem
os momentos que o Pai fixou com a sua autoridade (Atos 1: 6, 7). Esta
resposta de Jesus revela mais uma vez a não interferência divina na
liberdade do ser humano. Se as datas de cumprimento das profecias
fossem reveladas, Deus estaria a pressionar decisões e mudanças de
comportamento.
Em Mateus 4: 23, está resumido o ministério de Jesus na Galileia: Depois
começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas,
proclamando a Boa Nova do reino, e curando entre o povo todas as
doenças e enfermidades. Marcos 1: 15, menciona que quando Jesus foi
para a Galileia pregar o Evangelho, disse: Completou-se o tempo e o reino
de Deus está perto: Arrependei-vos e acreditai na Boa Nova (Marcos 1: 15).
Posteriormente, Jesus encarregou os apóstolos de implantar o Reino de
Deus: Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem comei do
que vos for servido, curai os enfermos que nela houver e dizei a todos: O
reino de Deus está próximo de vós (Lucas 10: 8, 9). Ao proceder assim,
anunciava que estava a iniciar o estabelecimento do Seu governo na Terra.
Significava que Satanás deixaria de ter domínio completo sobre a Terra e
seus habitantes, o que é reforçado pelas Suas declarações sobre o juízo e
expulsão do príncipe deste mundo (João 12: 31; 14: 30 e 16: 11). Esse foi o
propósito da Sua vinda: Para isto é que o Filho de Deus se manifestou:
Para destruir as obras do Diabo (1 João 3: 8).
O Reino que Jesus mencionava quando da Sua primeira vinda, não é um
reino terreno como o profetizado no AT. Mateus 12: 22-31 mostra que
Jesus esclareceu os fariseus de que a luta na qual Ele estava envolvido era
uma batalha entre o Reino de Deus e o reino de Satanás. O poder de
Satanás ainda não tinha terminado, apenas tinha sido refreado, pois: ...pois
vai chegar o príncipe deste mundo. Ele nada pode contra mim, mas é
para que o mundo saiba que eu amo o Pai, que faço como o Pai me
mandou (João 14: 30, 31).
A Sua vinda como Salvador é a demonstração do poder divino em ação.
Não no sentido material, mas espiritual, pois não está vinculado ao
domínio social ou político sobre as nações ou reinos deste mundo: Jesus
231
respondeu: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste
mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos
judeus; mas o meu reino não é daqui (João 18: 36). O poder de Deus
manifesta-se na libertação espiritual do ser humano da condenação eterna
e na consequente possibilidade de passar a ter verdadeira comunhão com
Jesus Cristo e com o Pai, mediante o Espírito Santo.
Deus não pretende, nesta fase, redimir ou reformar o mundo através do
ativismo social ou político, da força, ou da ação violenta. Esta questão é
abordada no subcapítulo ‘O Tempo da Igreja e os Tempos dos Gentios. A
Igreja substituiu Israel?’. O mundo continuará inimigo de Deus e do Seu
povo até à Sua volta: Glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra
que me deste a fazer. Agora glorifica-me tu ó Pai, junto de ti mesmo,
com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse.
Manifestei o teu nome aos homens... Agora sabem que tudo quanto me
deste vem de ti,... Eu rogo por eles; não pelo mundo, mas por aqueles
que me deste porque são teus (João 17: 4-9).
Além disso, também como consequência da provisão da expiação de
Cristo, o poder e o governo de Deus revelam-se na possibilidade de o ser
humano poder já usufruir, ainda que parcialmente, do futuro Reino que
Cristo virá estabelecer na Terra. De facto, através da redenção Deus provê,
por exemplo, a cura para a enfermidade: Está alguém entre vós doente?
Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite
em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o
levantá-lo-á; e, se cometeu pecados, ser-lhe-ão perdoados (Tiago 5: 14, 15).
Durante a Sua vida terrena, Jesus teve um tríplice ministério: a) ensinar a
Palavra de Deus; b) pregar o arrependimento (o problema do pecado) e as
bênçãos do Reino de Deus (a vida) e, c) curar todos os tipos de doenças e
enfermidades entre o povo: Depois começou a percorrer toda a Galileia,
ensinando nas sinagogas, proclamando a Boa Nova do reino, e curando
entre o povo todas as doenças e enfermidades. A sua fama estendeu-se
por toda a Síria e traziam-lhe todos os que sofriam de qualquer mal, os
que padeciam de males e de tormentos, os endemoninhados, os lunáticos
e os para líticos; e Ele a todos curava (Mateus 4: 23, 24). Jesus comissionou
os doze discípulos para curar os enfermos, como parte da proclamação do
Reino de Deus (Lucas 9: 1, 2, 6). Posteriormente, delegou nos Seus setenta

232
discípulos a mesma coisa (Lucas 10: 1, 8, 9, 19). Depois do dia de Pentecostes, o
ministério de cura divina iniciado por Jesus prosseguiu como parte da
pregação do Evangelho.
A confirmação de que o poder de Satanás ainda não tinha terminado está
na referência de Jesus Cristo ao poder do Espírito Santo que os apóstolos
iriam receber: Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que
descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda
a Judeia e Samaria, e até aos confins do mundo (Atos 1: 8). Este poder tem
a ver com a capacitação dos apóstolos, e dos crentes de todas as épocas - a
Igreja espiritual - para o combate vitorioso contra Satanás até à segunda
vinda de Cristo para a arrebatar. Nesse acontecimento o Espírito Santo
será retirado do mundo em simultâneo com os crentes salvos, onde habita.
No subtítulo ‘A Profecia das Setenta Semanas’ e no subcapítulo ‘Israel no
Livro do Apocalipse’, estão expostos os acontecimentos profetizados para
essa época futura.
A Bíblia afirma que é o Espírito de Deus que impede o aparecimento do
Anticristo antes do seu tempo, pois somente Ele tem poder para deter a
iniquidade: Agora, vós sabeis perfeitamente o que o detém, de modo que
ele só se manifestará a seu tempo. Porque o ministério da iniquidade já
está em ação, esperando apenas o desaparecimento daquele que o
impede. Então aparecerá o ímpio, que o Senhor Jesus destruirá com o
sopro da sua boca e aniquilará com o resplendor da sua aparição (2
Tessalonicenses 2: 6-8).

É, pois, bastante óbvio que Jesus veio para invadir o reino de Satanás e
derrotá-lo. Mas só no fim dos tempos, quando o Anticristo, o ímpio e o
seu sistema mundial de governo - manifestações do governo satânico
literal - como pode ser confirmado em Apocalipse 13: 2: ...o dragão
transmitiu-lhe o seu poder, o seu trono e uma grande autoridade, forem
destruídos é que Satanás é finalmente derrotado. No subcapítulo ‘Israel no
Livro do Apocalipse’, estão descritos, com mais detalhe, os
acontecimentos ligados à Segunda Vinda de Cristo.
Deus, depois da queda da humanidade induzida por Satanás, prosseguiu
com o Seu Plano de Salvação, pré-estabelecido desde sempre, onde se
enquadra a existência de Israel como povo escolhido para trazer a Palavra
de Deus às nações e manifestar o Messias, Jesus Cristo, o Salvador do
233
mundo. Deus derrotou Satanás no nascimento, vida, morte, ressurreição e
ascensão de Jesus.
Jesus Cristo veio como homem para expor a violência e a injustiça deste
mundo. A Sua morte na cruz foi o ato mais injusto da História, mas foi
através dele que o mal do mundo foi vencido. Este ato revelou, não só o
tipo de mundo em que se vive, como o Deus que se tem. Ninguém está
livre do sofrimento. Nem Deus esteve dele isento. Jesus veio restaurar o
domínio humano na Terra, retirando-o a Satanás. Entregou-o à Igreja que
o teria de exercer com a Sua colaboração: E eles, partindo, foram pregar
por toda a parte, e o Senhor cooperava com eles, confirmando a sua
palavra com os milagres que a acompanhavam (Marcos 16: 20), até à sua
restauração total no Reino Milenar de Cristo.
É preciso entender que é da competência da Igreja transmitir a mensagem
do Evangelho. Jesus comissionou-a para esse fim: Depois, disse-lhes: Ide
pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda a criatura (Marcos 16: 15).
No entanto, como instituição humana que também é, nem sempre se tem
comportado à altura dessa incumbência, o que tem permitido que este
período de graça se esteja a prolongar no tempo, atrasando, assim, a
Segunda Vinda de Cristo: Esta Boa Nova do reino será proclamada em
todo o mundo para se dar testemunho diante de todos os povos. E então,
virá o fim (Mateus 24: 14).
Uma vez que foi ao ser humano que Deus deu o domínio da Terra e de
tudo o que nela existe, é através da própria Humanidade que Ele escolheu
restaurar esse poder. É nesta guerra instaurada que Jesus opera, não para
livrar o ser humano da injustiça deste mundo, mas para permitir que ele
possa caminhar através dela e atingir o objetivo, tendo, então, a injustiça o
seu fim. Poderá ser esta a resposta ao incompreendido ‘silêncio’ de Deus
em muitas ocasiões trágicas. Quantos justos passam por isso e não obtêm
resposta de Deus nessas situações de extremo sofrimento! O exemplo de
Job é paradigmático: Direi a Deus: Não me condenes! Mostra por que
razão me afliges assim. Acaso, encontras prazer em oprimir-me, em
desdenhar a obra das tuas mãos e em favorecer os desígnios dos
perversos? (Job 10: 2, 3). Mas, poder-se-á objetar, e teria a explicação algum
efeito consolador, ser-se-ia capaz de a entender? Por outro lado, a resposta
de Deus poderá estar no Seu Filho: Apesar de Filho de Deus, aprendeu a
234
obedecer, sofrendo, e, uma vez atingida a perfeição, tornou-se para
todos os que lhe obedecem fonte de salvação eterna (Hebreus 5: 8, 9). Na
verdade, a Sua encarnação é uma das Suas respostas ao sofrimento
humano. Ele veio experimentá-lo e fornecer suprimento para o ser humano
redimido poder suportá-lo como parte da guerra espiritual em que está
envolvido: Digo-vos isto para terdes paz em mim; no mundo tereis
aflições, mas tende confiança! Eu venci o mundo (João 16: 33).
Job tinha uma fé especial, amadurecida, que se mantinha firme em
quaisquer circunstâncias, a fé que, verdadeiramente, agrada a Deus (Hebreus
11). As tribulações por que Job passou com a permissão de Deus, podem
parecer desumanas e injustas. Contudo, através deste mesmo livro fica-se
a saber que não é Ele o causador do sofrimento, das doenças e da morte do
ser humano, como pensava Job, fruto do entendimento da época e que,
infelizmente, hoje em dia, ainda permanece em muitos dos que se dizem
cristãos. O entendimento de que Deus castiga o ser humano quando pratica
o mal e o recompensa quando faz o bem, criou a ideia de um Deus
vigilante e aterrador. Contudo, as Escrituras declaram que Ele nos ama em
qualquer circunstância. O Seu amor ultrapassa as expectativas humanas. O
livro de Job também explica por que os justos são perseguidos e é
permitida a continuidade, quer da iniquidade, quer de quem a pratica. As
provações de Job ajudam a examinar melhor as dúvidas sobre o
sofrimento, e mesmo a formular novas questões.
Discernindo espiritualmente toda a história de Job só se pode chegar a
uma conclusão, nele estava em jogo a razão que está por detrás de toda a
Criação, um ser livre que decide, em consciência, confiar e amar
incondicionalmente o seu Criador. Satanás quis fazer fracassar esse
propósito divino, pondo-o à prova quando levou o ser humano à queda.
Contudo, não o conseguiu por causa de Jesus Cristo e da Sua obra
redentora.
A batalha espiritual em que estava envolvido fazia parte da guerra que se
tem desenrolado entre Satanás e Deus. Jesus, quando Satanás reclamou o
direito de peneirar Pedro, disse apenas que iria orar por ele para que a sua
fé não desfalecesse: Simão, Simão, olha que Satanás vos reclamou para
vos joeirar como trigo. Mas eu roguei por ti, a fim de que a tua fé não
desfaleça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos (Lucas 22: 31,
235
32).Deus permite que Satanás joeire para que fique demonstrado a quem
pertence o coração humano. Por isso, Deus mantém-se muitas vezes
silencioso, mas não indiferente, como aconteceu também com Jesus: Meu
Deus, meu Deus, porque me abandonaste? (Marcos 15: 34; Salmo 22), e com
Pedro: Disse-lhe Jesus: Tu darás a tua vida por mim? Em verdade, em
verdade te digo: Não cantará o galo sem tu me haveres negado por três
vezes (João 13: 38). Este é o tipo de provação que o crente pode vir a sofrer
enquanto Cristo não regressar: E ouvi uma voz clamar do céu: Agora
chegou a salvação, o poder e o reino do nosso Deus e o poder do seu
Cristo, porque o acusador dos nossos irmãos, que os acusava de dia e de
noite diante de Deus, foi derrubado (Apocalipse 12: 10). Contudo, não
devemos ficar com a ideia de que o sofrimento físico ou psicológico é
obrigatório para se ganhar o céu.
No tempo de Job, Satanás ainda não tinha sido derrotado. Hoje, através do
sangue de Cristo derramado na cruz, tem-se a plena certeza de que a
vitória foi garantida e de que é só uma questão de tempo para o seu
cumprimento: Meus irmãos, considerai como suprema alegria as
provações de toda a ordem que vos assediam, tendo em conta que a
prova, à qual é submetida a vossa fé, produz paciência. …Feliz o homem
que suporta a provação, porque, depois de ter sido provado, receberá a
coroa da vida que o Senhor prometeu aos que o amam (Tiago 1: 2, 12); para
uma herança incorruptível... reservada nos céus para vós, a quem o
poder de Deus guarda pela fé para salvação que está pronta para se
manifestar nos últimos tempos. É por isso que vocês sentem alegria,
embora seja necessário por algum tempo sofrer provações (1 Pedro 1: 4, 5);
Ora nós sabemos que Deus concorre em tudo para o bem dos que o
amam, daqueles que, segundo o seu desígnio, são eleitos (Romanos 8: 28).
O apóstolo Paulo destacou-se na comunicação da chegada desses novos
tempos: ...dando graças a Deus Pai, que vos fez dignos de participar da
sorte dos santos na luz. Ele livrou-nos do poder das trevas e transferiu-
nos para o reino do seu Filho muito amado (Colossenses 1: 12, 13). Por isso,
insistia permanentemente com os crentes: Não vos conformeis com este
século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, a fim de
conhecerdes a vontade de Deus: o que é bom, o que lhe é agradável e o
que é perfeito (Romanos 12: 2).

236
A ação de Satanás no mundo permite que, através da luta nela gerada, o
ser humano seja capacitado para distinguir o poder do mal e a manter-se
firme na prática do bem, odiando o mal. Permite-lhe, também, saber que o
bem é um dom de Deus, e agarrar-se à Sua força quando em perigo.
O ser humano tem sido chamado para se unir a esta batalha, fazendo a
obra de Deus em todas as frentes. Para isso, deve aprender a permitir que
Deus o governe, levando o Seu Reino àqueles que ainda estão sujeitos no
reino de Satanás.
A luta do cristão não é contra o seu semelhante, mas contra as forças
espirituais do mal que poderão operar através dele (Efésios 6: 10-20). Deve ser
realista e reconhecer a presença do mal no mundo e do pecado no coração
dos homens, mas não deve perder o otimismo. Deve crer que Deus está no
trono, apesar das aparências em contrário, e que Ele está a desenvolver os
Seus propósitos na História. Se assim não for, está a negar um aspeto
essencial da fé.
O Reino de Deus inclui tanto um lado positivo como um negativo.
Significa redenção para aqueles que o aceitam e nele ingressam pela fé, e
juízo para quem o rejeita. Jesus afirmou-o muito claramente na Sua
doutrina, de que as parábolas são um exemplo. Na parábola das bodas
(Mateus 22: 1-14), os que aceitam o convite para as bodas regozijam-se e estão
felizes, enquanto que os que rejeitam o convite são lançados nas trevas. O
propósito essencial do Reino de Deus é a salvação daqueles que nele
ingressam, no sentido abrangente da palavra (João 3: 16).
Perante o que foi dito, é natural surgir a pergunta: Se assim é, porque criou
Deus o homem e com que objetivo, sabendo antecipadamente da sua
rebelião e das consequências a que ficaria sujeito? A Bíblia informa que,
mesmo antes do aparecimento do ser humano, Deus já sabia que ele
pecaria e também já tinha um projeto para, através de Jesus, o redimir.
Veja-se o que disse o apóstolo Paulo: Ele nos salvou e nos chamou para
a santidade, não devido às nossas obras; mas em virtude de seu desígnio
e graça, que nos foi dada em Jesus Cristo antes de todos os séculos (2
Timóteo 1: 9), que mostra, claramente, que a graça de Deus já tinha sido dada
em Cristo, desde sempre.

237
Este facto pressupõe que Deus também sabia que nem todos aceitariam
Cristo e que, como consequência, não seriam salvos. Sim, mas o ser
humano foi criado com um certo grau de livre arbítrio, podendo decidir se
obedece ou não, se se arrepende ou não, fundamentado na sua opção. A
decisão de servir ou não a Deus não foi pré-determinada por Ele, é própria
do homem. Deus não o força a aceitar Cristo. É nesta base que todos
devem ser testados por Deus, pois só através da atitude perante a prova é
que Deus fica a conhecer antecipadamente a decisão. Ou seja, tem de
haver uma ação ou uma atitude reveladora da decisão tomada pelo ser
humano, em liberdade, quando posto perante as circunstâncias criadas por
Deus com esse propósito, num momento qualquer da sua vida. Se Deus
não o provasse, não haveria decisão e, portanto, não a poderia antever.
Então, por que não criou, Deus, um ser obediente? Porque quer ter um
relacionamento de pai e filho com o ser humano que escolheu amá-lO por
sua livre vontade: Predestinou-nos para sermos seus filhos adotivos por
meio de Jesus Cristo, por sua livre vontade, para fazer resplandecer a
sua maravilhosa graça, pela qual nos tornou agradáveis em seu amado
Filho (Efésios 1: 5, 6). O que faz o amor tão especial é ser baseado na escolha
de alguém livre.
Deus, na Sua presciência, sabia que ao exercer a Sua vontade corria o
risco de alguns seres humanos, na sua liberdade, virem a decidir não servi-
lO. Contudo, segundo a Bíblia, quem resistir toda a sua vida a Deus, que
Se lhe revelou e atraiu através da Sua obra de criação, da proclamação do
Evangelho e também da sua consciência, tem de aceitar a punição como
um direito, pois provou merecê-lo. Ninguém nesta situação poderá apontar
o dedo a Deus, porque Ele providenciou um meio de escapar ao castigo
dos pecados. Deus quer que todos se salvem, mas a salvação é pessoal e
intransmissível: O Senhor não retarda a sua promessa (a Sua volta),
como alguns pensam, mas usa de paciência para convosco. Não querer
que ninguém pereça, mas que todos se arrependam (2 Pedro 3: 9).. Esta
passagem também confirma que a demora na volta de Cristo tem a ver
com a pregação do Evangelho do Reino ao mundo inteiro (Mateus 24: 14).
Deus quer que todos o ouçam, pois não deseja que alguém pereça
eternamente: ...que deseja que todos os homens se salvem e conheçam a
verdade (1 Timóteo 2: 4.

238
A Bíblia revela dois aspetos do que Deus deseja para a Humanidade, no
tocante à salvação: a) a Sua perfeita vontade, pela qual Ele deseja que
todos se salvem e, b) a Sua vontade permissiva, através da qual permite e
tolera que muitos O rejeitem: Homens de cerviz dura, incircuncisos de
coração e de ouvido, sempre vos opondes ao Espírito Santo. Como foram
vossos pais, assim sois vós também (Atos 7: 51). Israel, em vez de se
submeter às normas da lei de Deus, voltou-se para o modo de vida das
nações ímpias suas vizinhas, recusando Quem os chamava ao
arrependimento. É isto que significa ‘opondes ao Espírito Santo’. Quem
proceder deste modo sujeitar-se-á ao juízo divino.
A guerra ainda não terminou, mas o resultado está assegurado. Como
Israel rejeitou Cristo, a Igreja foi instituída e chamada para esse combate e
colaborará com Deus na implantação do Seu governo, por isso Satanás
quer destruí-la. Esta nova era foi verdadeiramente inaugurada. O facto de
nem todos os seres humanos estarem a participar, pela fé, das suas
bênçãos, não anula a sua existência.
John Marsh* forneceu a seguinte ilustração (Hoekema, 1989), que melhora o
entendimento do que acabou de ser dito:
Hitler ocupou a Noruega mas, em 1945, ela foi libertada. Suponhamos que bem
longe, no quase inacessível norte, uma aldeia com um governante nazi não tenha,
por algumas semanas, ouvido a notícia da libertação. Durante esse período,
podíamos dizer que os habitantes dessa aldeia estavam a viver no velho tempo do
nazismo, em vez de no novo tempo da libertação norueguesa.
...Qualquer pessoa que viva agora, num mundo que foi liberto da tirania dos
poderes malignos, e que ignore ou seja indiferente ao que Cristo fez, está
exatamente na posição desses noruegueses a quem as boas novas de libertação
não alcançaram. Em outras palavras, é fácil para nós perceber que os homens
podem viver na era a.C., em plena era d.C..


*
John Marsh, teólogo, diretor da Faculdade de Teologia da Universidade de Oxford e ministro
Congregacional (mais tarde Igreja Reformada Unida).
239
NOTA FINAL
Quando se examina o passado recente e os acontecimentos atuais,
nomeadamente, o regresso do povo judeu a Israel, o surgimento da UE que
não é mais do que o ‘Império Romano Restaurado’*, o processo de paz no
Médio Oriente, a criação de um novo mundo globalizado e as ameaças à
nossa privacidade e liberdade como consequência do terrorismo
internacional, veem-se muitos dos sinais indicadores de que o caminho do
‘líder da comunidade global’ está a ser preparado. Contra todas as
previsões atuais, a Bíblia indica que, futuramente e em termos políticos, a
UE terá uma centralidade mundial importante. Estarão, assim, as crises
por que a UE tem passado a conduzi-la para uma maior união política e
económica, necessária quando tiver que liderar os acontecimentos
mundiais previamente anunciados? Será esse processo de unificação
conduzido pelo futuro líder europeu que, segundo a Bíblia, resolverá a
crise do Médio Oriente? Será ele também o salvador da UE?
Jesus Cristo afirmou: Ele respondeu-lhes: durante o crepúsculo, dizeis:
Vamos ter bom tempo, pois o céu está avermelhado. De manhã cedo,
dizeis: hoje temos tempestade, pois o céu está de um vermelho sombrio.
Como se vê, sabeis interpretar o aspeto do céu, mas, quanto aos sinais
dos tempos, não sois capazes de os interpretar! (Mateus 16: 2, 3). Tal como
no tempo de Cristo, em que os religiosos judeus não o reconheceram como
o Messias, também, nos dias de hoje, não são entendidos os sinais da Sua
Segunda Vinda. Os media dão, todos os dias, notícias que mostram o
quadro profético cada vez mais vivo. Enquanto o aquecimento global vai
produzindo os seus efeitos e as tragédias ambientais se vão intensificando,
o ser humano vai caminhando na indiferença, quer por ignorância, quer
por ceticismo.
As profecias bíblicas baseiam-se no amor de Deus e, simultaneamente, na
necessidade humana. Quando o Homem pecou, tornou-se escravo da sua
condição e inimigo de Deus (Efésios 2: 15). Contudo, Deus não abandonou a
Sua criatura decadente, pelo contrário, proveu, como se sabe, o Plano de
Salvação. Inicialmente, esse propósito foi dirigido a Israel, para que fosse
uma bênção para os gentios e os levasse ao conhecimento de Deus (Génesis
12: 1-3; Isaías 49: 3), que o rejeitou: Ele respondeu: Não fui enviado senão às

240
ovelhas perdidas da casa de Israel (Mateus 15: 24); Veio ao que era seu e os
seus não o receberam (João 1: 11), sendo, depois, encaminhado para a Igreja.
Apesar dessa rejeição e por causa da Sua promessa a Abraão, Isaac e
Jacob, Deus prossegue com os seus objetivos para com Israel, que surgirão
no devido tempo. Em relação à Igreja, o propósito central das profecias é
que não viva como os que não têm esperança. Quando se acredita no Deus
fiel e verdadeiro, que cumpre as Suas promessas, desaparece a angústia
quanto ao tempo presente e ao futuro. Deus ama o ser humano, Ele é
amor, por isso o conduz através da esperança: ...e também nos gloriamos
apoiados na esperança da glória de Deus. Não só nos gloriamos nisto,
como também nas tribulações, conhecedores como somos de que a
tribulação produz a constância; esta produz a virtude a toda a prova; e
esta, a esperança. A esperança não nos deixa confundidos, porque o
amor de Deus foi derramado em nossos corações, pelo Espírito Santo,
que nos foi concedido (Romanos 5: 2-5), ainda que esse trajeto não esteja
isento de espinhos.
Berkhof declarou que, porque a Bíblia a fornece, a Igreja de Jesus Cristo
deveria conhecer a resposta à pergunta sobre o sentido da História.
Afirmou também que, por muitos séculos, a Igreja e os seus teólogos mal
perceberam esse material nela contido. Como consequência, hoje, muitos
cristãos falham em viver na plena luz. Porque a Igreja de Cristo não
aprendeu a ver a História na perspetiva do reinado de Cristo, é
espiritualmente incapaz de resistir às rápidas mudanças que acontecem ao
seu redor. Por essa razão, interpreta os eventos do seu tempo em termos
inteiramente seculares. É dominada pelo temor no sentido humano e, de
um modo mundano, tenta livrar-se dele. Neste processo Deus não passa de
um substituto beneficente (Hoekema, 1989). O desconhecimento destes aspetos
leva a que muitas pessoas digam que a Bíblia é incompreensível, nada
tendo a ver com o tempo presente.
A Bíblia atesta que o Deus da profecia é o Deus da Salvação. A profecia
destaca e aponta para a salvação. Israel foi escolhido por Deus com o
propósito principal de ser Seu testemunho e trazer o Messias ao mundo:
...para que o mundo seja salvo por ele (João 3: 17).

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