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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – FFCH


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
CIÊNCIAS SOCIAIS

MARIA AMANDA DE CASTRO CÂMARA

MINHAS EXPERIÊNCIAS ENQUANTO ESTUDANTE NO CONTATO COM A


DISCIPLINA HISTÓRIA

Salvador
2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
CIÊNCIAS SOCIAIS

MARIA AMANDA DE CASTRO CÂMARA

MINHAS EXPERIÊNCIAS ENQUANTO ESTUDANTE NO CONTATO COM A


DISCIPLINA HISTÓRIA

Trabalho final entregue para a obtenção


de nota da disciplina Introdução ao Estudo
da História, ministrada pela Prof. Dra.
Luciana Novaes.

Salvador
2019
1. INTRODUÇÃO
Neste artigo pretendo relatar minhas experiências como estudante em sala de aula (2009-2018)
para com a disciplina curricular história no ensino fundamental II na cidade de Cícero Dantas
– BA, São Paulo – SP e a conclusão deste ciclo, início e término do ensino médio no colégio
particular em Salvador – BA. Ademais, ressaltar a importância do (a) professor (a) historiador
(a) na assimilação do conhecimento de mundo do aluno. A de se analisar também, as diferentes
didática trazidas para a transmissão da história como disciplina e como formação cidadã do
estudante. Tem-se como objetivo levar reflexão acerca das diferentes formas e os diferentes
significados que o ensino e aprendizado da História pode representar para os estudantes que
possui esses primeiros e talvez últimos contatos para com esta disciplina.
2. A PERSISTÊNCIA DA ESCOLA METÓDICA
A História como disciplina curricular se fundamenta no século XIX com a criação do Colégio
Dom Pedro II no Rio de Janeiro. Em seu primeiro regulamento em 1838 incorporou essa
disciplina em sua grade a partir do 6° série. Suas diretrizes de ensino receberam demasiada
influência das concepções positivistas eurocêntricas. A disciplina História era transmitida
através de eventos de determinados personagens, líderes, reis e generais europeus, além de ser
uma história factual, tais descrições condizem com a Escola Metódica surgida na França nesse
mesmo século. Segundo Guy Bourdé, no livro Escolas Históricas, a escola metódica impunha
uma investigação científica afastando de qualquer especulação filosófica visando a objetividade
no domínio da história, ou seja, com a ausência de pensamento crítico.
Na virada do século XIX para o século XX, ocorre o movimento chamado de Nova Escola
idealizado por um filósofo e pedagogo chamado de John Dewey, que acreditava no aprendizado
através da participação e da experiência. Em 1930, tais ideais chegam ao Brasil, no qual é
publicado um manifesto assinado por diversos intelectuais da época baseado nessas concepções
de Dewey, com o intuito de ser aplicado no país. Anísio Teixeira, educador baiano e assinante
deste manifesto, aplicou tal reforma no ensino público da Bahia e do Rio de Janeiro. Com a
ditadura militar iniciada com a década de 60, as concepções positivistas e metódicas de ensino
moldaram o caráter educacional brasileiro. Apenas nos anos de 1980, novos campos de
explicação social foram abrindo, com a influência do Marxismo, Nova História, historiografia
inglesa, ocorrendo a tentativa de formular a abordagem da história com uma maior criticidade
e aceitando-a como uma ciência em construção.
Após esse aparato histórico trago experiências passadas com esta disciplina. Na minha vida
estudantil perpassando por diferentes escolas, diferentes cidades e estados, a história na maior
parte das vezes foi passada até mim de forma decorativa, conceitual. Não percebia uma conexão
de acontecimentos, eram fatos divididos em uma espécie de blocos históricos, com seus
respectivos vencedores e perdedores. Era a matéria menos instigante, alguns colegas diziam
desnecessária e confusa. Todos estavam presos aos livros didáticos e fadados a decorar datas e
nomes de líderes políticos, reis ou o ‘descobridor’ do Brasil. Os fatos eram verdades absolutas
e nos sentíamos como máquinas de arquivar informações.
Assim que cheguei no 1°ano do Ensino Médio, me deparei com uma nova forma de ver a
história, ela vinha até mim com uma enorme teia de conectividade desde os tempos mais antigos
até a contemporaneidade. A aula era uma espécie de apresentação teatral feita pelo professor,
os personagens históricos começavam a tomar forma e fazerem sentido, esse clima de
entusiasmo era observado em todos os colegas. O livro didático era apenas utilizado em casa
para elaborar respostas aos exercícios e na sala a ‘magia’ acontecia. No entanto ainda havia
uma problemática, ainda continuava sendo a história dos vencedores, o povo categorizado como
um bloco único, no qual pessoas comuns normalmente não apareciam.
Na constituição Federal de 1988, é determinado o ensino da cultura africana ou de países
africanos nas escolas, não apenas a situação de subjugação e escravidão passado por aqueles
povos. Tais ensinos, após oitos colégios diferentes, de três estados diferentes, nunca foi passado.
No colégio particular, foi sugerido a compra de um livro didático sobre cultura africana, livro
este nunca utilizado. Ao questionar professores da disciplina de História posteriormente, um
deles afirmou com pesar que ‘não se é cobrado no Enem’ (Exame Nacional do Ensino Médio).
Essa formulação com descaso para questões históricas raciais corroboram ainda mais para a
manutenção de discursos preconceituosos, dificultando a possibilidade de reconhecimento
identitário e analisar o passado sob novas perspectivas, como dito no livro ‘A escrita da história’
de Peter Burke, no capítulo ‘História vista de baixo’, de Jim Sharpe, que esse modo de se fazer
história vista por baixo “proporciona também um meio de reintegrar sua história aos grupos
sociais que podem ter pensado tê-la perdido, ou que nem tinham conhecimento da existência
de sua história” , sendo assimilada como forma de valorização e resistência de sua própria
história como indivíduo.
3. A TRANSMISSÃO DE CONHECIMENTO E O PAPEL DO (A) PROFESSOR (A)
HISTORIADOR (A)
Ao longo da minha pequena trajetória os professores sempre fizeram papel essencial na minha
formação tanto como estudante quanto como pessoa. A transmissão de conhecimento e a
metodologia que usavam faziam imensa diferença em como aquele determinado
conhecimento seria obtido. No caso dos docentes historiadores, a forma como era conduzido a
dinâmica em sala era essencial na captura da nossa atenção e na possível absorção do
conteúdo passado. No 9°ano (8° série), no colégio particular de Salvador, uma imensa parcela
da classe não sentina atração pela disciplina História. No artigo ‘A História no curso
secundário’, publicado em 1935, por Murilo Mendes afirma o seguinte: “Nossos adolescentes
também detestam a história. Votam um ódio entranhado...decorando o mínimo de
conhecimentos que o ‘ponto’ exige ou se valendo da ‘cola’ para passar nos exames. A história
como lhes é ensinada é, realmente odiosa”. De lá para cá muita coisa não mudou, muitos
métodos ‘tradicionais’ de ensino ainda são utilizados e agarrados aos livros didáticos.
Para Marc Bloch, em Apologia da História, o ofício do (a) historiador (a) é fazer a comunicação
e a transmissão de conhecimento tanto para seus pares intelectuais quanto para as pessoas de
fora da academia, ou seja, saber difundir o conhecimento para todos, e a importância do “saber”
entra em destaque neste artigo presente. Num texto elaborado pelo professor Almir Messias de
Nascimento, supervisor do projeto PIBIB (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência), afirma que o professor historiador está inserido numa peça importante para o motor
da história, com a importância de se levar a subjetividade, a análise do discurso que está por
detrás daquele determinado fato, além de ajudar o aluno a produzir seu próprio ponto de vista
a fim de atingir a completude do edifício do conhecimento do estudante. No artigo, do Prof.
Rodrigo Davi Almeida – UFMT do Departamento de História, ‘A importância da
fundamentação teórica da prática docente’, relata que ao longo da sua experiência como docente
observou que professores da educação básica e alunos de licenciatura pouco conheciam das
concepções de história (positivista, materialista, presentista), as concepções de ensino-
aprendizagem (tradicional, histórico-crítica e “renovada”) como também suas relações, ou seja,
a fundamentação teórica da prática da docência. Após esse relato, a de se destacar
o desequilíbrio que ainda se tem na formação do docente, muitas vezes a falta de apoio
governamental para sua especialização, também ocorrido a falta de liberdade da na escolha de
seu material didático para serem utilizados em sala, as conturbações ocorridas na classe, falta
de estrutura técnico-científica e apoio para sua capacitação, fazendo com que a relação de
ensino-aprendizagem se torne precária. Uma das diferenças mais observáveis entre os colégios
públicos frequentados e uma instituição particular, foi essa disparidade de um aparelhado
tecnológico. Um conforto tanto para o aluno como para o docente, como também ferramentas
para auxiliar ambos se mostram como um diferencial importante na transmissão do saber.
3. SOBRE A HISTÓRIA E SEU DESTAQUE EM MINHA FORMAÇÃO
Após compreender os sentidos dos acontecimentos históricos e suas influências no presente,
percebi a importância fundamental que essa disciplina carrega para toda a humanidade. A
história tem um importante papel de fazer com que o indivíduo se perceba como sujeito e agente
histórico, de levar a compreensão das relações de diferentes pessoas em diferentes espaços e
tempos, além de compreender as mudanças sociais. Na visão de Guilherme Neves, em História
polissemia de uma palavra, “não se pode considerar história como disciplina única e monolítica,
mas sim encará-la como objeto de reflexão sobre os homens a qual traduz-se em diversas
práticas historiográficas conforme o lugar e o momento...”. A história servindo de uma
ferramenta de ruminação de uma realidade passada, relativa ao espaço-tempo, além de não ser
um bloco fechado, possuindo assim interdisciplinaridade. Para Jacques Le Goff em História e
Memória, a história é um reino inexato e não consente com o discurso absoluto, pode se dizer
também que é uma ciência de construção diária, sendo cada historiador (a) possuidor diversos
quebra-cabeças específicos, com diferentes formas de serem montados.
Esta disciplina vem até mim com um grande significado para minha formação enquanto
estudante e enquanto cidadã. A conscientização, análise e formação de opiniões acerca do
mundo e da sociedade formuladas ao longo da minha vida é atribuída quase que exclusivamente
na procura e na compreensão do passado, por diferentes modos, em diferentes fontes e por
diferentes sujeitos. Hoje, a disciplina de Introdução ao Estudo da História, representa mais uma
etapa nas diversas reflexões acerca das coisas em volta, mas também uma nova fase de
amadurecimento e observância mais sensitiva e detalhada daqueles que perpassam por mim
todos os dias, em diferentes lugares, abrindo assim a uma visão mais empática, reconhecendo
todos como produtores importantes da história.
Referências:
ALMEIDA, Rodrigo Davi. Ser professor de História: A importância da fundamentação teórica
da prática docente. Disponível em: www.histedbr.fe.unicamp.br/ Acesso em: 03 de julho de
2019.
BLOCH, Marc. Apologia da História. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé. A Escola Metódica. In: __. As Escolas Históricas. Lisboa,
Europa-América, 1983, p. 97-118.
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Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
BURKE, Peter (org); SHARPE, Jim. A História vista de baixo. A Escrita da História novas
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LE GOFF, Jacques. Memória. In:___. História e Memória. Campinas, SP: Editora da
UNICAMP, 1990.
MENDES, Murilo. A História no curso secundário. São Paulo, Gráfica Paulista, 1935, p. 41.
NASCIMENTO, Almir Messias do. Função social do professor de História. Disponível
em:http://www.fai.com.br/portal/pibid/index.phpconteudo=publicacoes_info&cod_publicacao
=28
NEVES, Guilherme Pereira das. História: a polissemia de uma palavra. Estudos Ibero-
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UNIVESP. D-01 – Escola Nova. 2010. (4m19s). Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=Lr5xe2LXoqs

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