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A PINTURA RENASCENTISTA E SEU COMÉRCIO

José Júlio dos Reis Matos**

RESUMO

O presente artigo faz uma abordagem à arte renascentista do século XV,


fazendo uma construção histórica do seu inicio e de como essa se desenvolveu. Os
pintores italianos desenvolveram a pintura de forma que essa ficou conhecida em toda
a Europa, a pintura logo se tornou artigo comercial e tornaram-se objetos de luxo e
prestigio, onde se pagava pelo prazer de ser ter uma obra de arte.
Palavras-chaves: Renascimento. Comercio. Pintura. Arte.

A Arte do Renascimento

Tendo suas origens com base na Antiguidade, o Renascimento definiu-se


como um movimento virado para o passado (DELUMEAU, 1964) fazendo um resgate
da antiguidade clássica através da arquitetura, escultura, literatura pintura. Para Peter
Burke esse resgate da antiguidade ter tido inicio na Itália deu-se pelo fato de ali
sobreviverem numerosos edifícios clássicos mais ou menos intactos o que facilitou a
inovação de uma arte inspirada nas formas clássicas.

O Renascimento como movimento artístico, pode ser segundo Vasari


divido em três períodos: O primeiro no século XIII, onde artistas toscanos começaram
a copiar os Antigos; o segundo período, no século XV, os artistas passaram a imitar a
natureza; e, o terceiro período no século XVI onde os artistas atingiram a perfeição.

Na pintura os artistas da renascença desenvolveram técnicas que


permitiram que a pintura se se desenvolve com traços da antiguidade clássica, mesmo
não havendo pinturas da época, assim os pintores queriam imitar os antigos, tinham de
usar meios mais diretos como figuras que posavam nas mesmas posições das
esculturas clássicas, ou tentavam reconstruir quadros clássicos através de descrições
em textos literários (BURKE, 1987).

A pintura renascentista foi evoluindo nas suas técnicas e foi sendo


aperfeiçoada aos poucos. Os artistas começaram a se preocupar com a aparência das
coisas, os retratos passaram a ser pintados com o rosto de frente, e o corpo passou a
fazer parte das telas, os pintores passaram a se interessar pelo homem e pela paisagem.
Assim a arte renascentista italiana foi ganhando prestigio por toda a Europa. Para
Delumeau, os pintores renascentistas foram grandes humanistas e autênticos
promotores da nova cultura.

No meio social a pintura ganhou destaque e importância, passou a ter


valor comercial, desenvolveu-se como algo de prestígio onde se pagava para ter,
tornou-se exclusiva e os pintores começaram a pintar o que lhes era mandando e não o
que convinha a ser bom e bonito para eles.

Pintura por encomenda.

A pintura renascentista era produzida somente por encomenda, pois se


acreditava que assim a obra seria mais bem executada, poucas eram as pinturas e
esculturas que poderiam ser compradas prontas. A arte renascentista desenvolveu, no
século XV, um grande comércio ao seu entorno, assim criando-se uma relação
comercial entre pintor e cliente. As relações comercias entre pintores e clientes era
determinada pela função de cada um:

“de um lado o pintor que realizava o quadro, ou, ao menos


supervisionava sua execução de outro, alguém que encomendava,
fornecia fundos para sua realização e, uma vez concluído, decidia de
que forma usá-lo” (BAXANDALL, 1991).

Era prática comum entres os pintores renascentistas da época somente


supervisionarem as execuções das obras feitas em seus ateliês por seus aprendizes. O
pintor ao receber a encomenda comprometia-se em entrega-la de acordo com as
exigências feitas por quem encomendava, aqui o pagamento ganha importância e
influência no resultado final da obra, afinal a pintura é fruto de um mercado onde
quem paga mais tem o melhor. O cliente fazia especiações de como seria a obra e
poderia ele fornecer todo o material necessário para a execução da obra ao pintor, tais
acordos eram registrados em contratos entre as partes.

Os contratos especificam o que deveria ser pintado e as cores que


deveriam ser utilizadas, indicava a forma de pagamento e o prazo de entrega, caso
houvesse atraso o pintor era taxado por uma multa previamente estabelecida. Embora
os contratos fossem parte importante no comércio das artes renascentistas não existem
contratos que possam ser definidos como típicos por não haver regras estabelecidas
(BAXANDALL, 1991). No entanto, os contratos eram uma forma de assegurar que a
encomenda sairia de acordo como o cliente havia pedido, e para o pintor assegurava o
seu pagamento.

Portanto, o mercado que se desenvolveu ao entorno da arte renascentista a


tornou uma arte privilegiada, valorizada e criteriosa. Quem comprava uma obra
prezava pela qualidade da matéria usada e pelo prazer de admirar uma boa pintura.

O azul que é era precioso.

Em muitos contratos do século XV, o cliente especifica e determina que o


pintor deve usar boas cores e especialmente usar ouro, prata e azul ultramarino. O azul
ultramarino era fabricado a partir do pó extraído de pedaços de rocha de lápis-lazúli,
que chegava as mãos dos pintores renascentista importado do Oriente. Depois do ouro
e da prata, o azul ultramarino era a cor mais cara e a mais difícil de se empregar
(BAXANDALL, 1991).

A variação de tons de azul que o pó do lápis-lazúli ganhava ao ser diluído


dava a ele o seu preço, um azul intenso, com tons de violeta, seria o melhor e logo o
mais caro. Esse segundo as determinações dos contratos deveriam ser usados na parte
mais importante da pintura, ressaltando a figura principal que havia sido retratada. Nas
obras com tema religioso, o azul ultramarino era usado nas figuras de Cristo, Maria ou
qualquer outra entidade considerada sagrada para quem encomendava a pintura.
Os próprios clientes definiam que nas figuras que representavam o sagrado
o azul ultramarino deveria ser utilizado e esses também definiam a sua tonalidade.
Tanto cliente, como pintores demostravam nos contratos certa preocupação com a cor
e mostravam-se também conhecedores ao ponto de saber distinguir um azul do outro.

Mesmo demonstrando sofisticação e poder econômico, o azul ultramarino


vai perdendo espaço e deixando de ser o ponto central das pinturas, o cliente tornou-se
menos preocupado em ostentar a pura opulência do material (BAXANDALL,1991), e
passou a valorizar a habilidade técnica do pintor.

Conclusão

O Renascimento representou um regresso a antiguidade clássica a fim de


reinventa-la ou até mesmo revive-la se analisada do ponto de vista que remete que a
história é cíclica. Na pintura renascentista a beleza do homem passa a ser vista, o
corpo como um todo ganhou espaço e passou a ser retratado. A pintura se sofistica e
passou a ser valorizada, e se tornou fruto de uma relação social e comercial.
Referências Bibliográficas

DELUMEAU, Jean. A civilização do Renascimento. Paris:

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