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Ética, Bioética e Biossegurança

Carga Horária: 12h


Professores: Alanna Cassé,
Alisson Cleiton
Taciana Maria

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ÉTICA E BIOÉTICA

O PLANO ÉTICO

Comumente, as palavras ‘moral’ e ‘ética’ são empregadas como sinônimas. Por


exemplo, diz-se de uma pessoa que ‘ela não tem ética’ para criticar seus comportamentos e
atitudes; poder-se-ia muito bem chamá-la ‘imoral’. Quando se fala em ‘problemas éticos’,
costuma-se fazer referência a questões atinentes aos deveres, portanto, ao plano moral. Em
uma palavra, emprega-se, na maioria das vezes, ética como sinônimo de moral. Note-se que
tal sinonímia é perfeitamente aceitável do ponto de vista acadêmico, e alguns autores
empregam um ou outro conceito indistintamente. Vejamos definições de dicionário para nos
convencermos da legitimidade dessa sinonímia. O Dicionário Houaiss (2001), por exemplo,
traz como uma das definições de moral “conjunto de regras, preceitos, etc. característicos
de um determinado grupo social que os estabelece e defende”. Para a ética, o referido
dicionário coloca: “conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um
indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade”. Outros dicionários também atestam a
sinonímia.
Há de se notar que, hoje em dia, assistimos a uma valorização da palavra ‘ética’ em
detrimento da palavra ‘moral’. Eis a avaliação crítica que Spitz (1995) faz dessa preferência:
“Esse termo (ética), que tomou uma importância cada vez maior, veio para aliviar o
inextricável embaraço daqueles que desejariam falar em moral sem ousar pronunciar esta
palavra”. Eis um diagnóstico convincente! Todavia, há possibilidades de estabelecer, por
convenção, diferenças entre ‘moral’ e ‘ética’. As duas mais frequentes e consagradas
mantêm os dois termos como referência a deveres. A primeira dessas possibilidades consiste
em reservar a palavra ‘ética’ a deveres de ordem pública. É o caso de expressões como ‘ética
da política’, ‘ ética da empresa’, ‘código de ética’ (de determinadas profissões), ou ainda
‘comitê de ética para pesquisa com seres humanos’. Está claro que em todos esses exemplos,
o que está em jogo é um conjunto de princípios e regras que visam estabelecer obrigações
por parte das pessoas contempladas. Ética na política nos remete, entre outros conteúdos,
ao preceito da honestidade (não enganar o eleitor, não apoderar-se de bens públicos, não
fazer tráfico de influências etc.): tal ética, portanto, exige comportamento moral.
Os diversos códigos de ética trazem normas que devem, de maneira obrigatória,
reger as atividades dos profissionais, normas cujas raízes encontram-se na moral legitimada
pela sociedade. Mesma coisa pode-se dizer da atualmente muito em voga ‘ética da empresa’:

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trata-se de normatizar condutas (respeitar o cliente, por exemplo). Finalmente, os comitês
de ética na pesquisa com seres humanos visam a regulamentar as atividades de investigação
para garantir o bem-estar físico e psicológico dos sujeitos que se submetem a procedimentos
de investigação científica. Além de sua referência a deveres, o que há em comum nas
expressões analisadas é o fato de referirem-se a ações que dizem respeito ao espaço público
(não faria muito sentido em se falar em ‘ética familiar’). Uma segunda possibilidade de
diferenciar ética de moral é reservar a primeira para os estudos científicos e filosóficos do
fenômeno moral. É esta, aliás, a diferenciação mais empregada no meio acadêmico. Kant
(1994), um dos primeiros a colocar ordem nos conceitos de moral e ética, propõe que se
defina ética como a ciência das leis da liberdade (a física seria a ciência das leis da natureza).
Outros autores, como o já citado Tugendhat (1998), definem ética de forma semelhante:
reflexão filosófica sobre a moral. Mas, como já dito, a reflexão pode ser de ordem científica,
como a busca empírica de dados para explicar o fenômeno moral, como o fizeram autores
como Lévy-Bruhl (1971), Durkheim (1974), Freud (1991), Piaget (1932) e tantos outros.
Mesmo aceita essa diferença de sentido, verifica-se que se permanece no campo do dever,
da obrigatoriedade, portanto, permanece-se no que chamamos de plano moral: apenas o
nível de abstração faz a diferença entre os dois termos. Todavia, há outra possibilidade de
diferenciar-se ética de moral, que rompe claramente com a sinonímia. Leiamos a proposta
de Paul Ricoeur (1990), a qual faremos nossa: “É por convenção que reservarei o termo
ética para a busca (visée) de uma vida realizada (accomplie) e o de moral para a articulação
dessa busca com normas caracterizadas ao mesmo tempo pela pretensão à universalidade e
por um efeito de coação”.
Vemos que Ricoeur (1990) define moral como o fizemos até agora. Todavia, reserva
o termo ética para outro plano: o da definição e busca do que seja uma ‘vida realizada’, ou,
em termos filosóficos clássicos, uma ‘vida boa’ ou ‘feliz’. Outros autores contemporâneos
fazem distinção semelhante entre moral e ética. Citemos dois, começando por Bernard
Williams, que inicia seu livro L’Ethique et les Limites de la Philosophie (1990) afirmando
que “o objetivo da filosofia moral e a esperança de que ela possa merecer atenção estão
relacionados ao destino dado à questão de Sócrates (de que maneira viver?)”. Williams
(1990) reserva o conceito de ética para essa ampla questão, e o de moral para os deveres
que intimamente nos coagem. Comte-Sponville faz eco aos dois autores citados ao escrever
que “a moral responde à questão ‘que devo fazer?’, e a ética, à questão “como viver?’
(Comte-Sponville, em Comte-Sponville & Ferry, 1998). Como dito acima, seguiremos os
autores que acabamos de citar e diferenciaremos, portanto, o plano ético referente ao tema

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da ‘vida boa’ e o plano moral, ao tema dos deveres para com outrem e para consigo mesmo.
Falamos em plano ético para diferenciar forma e conteúdo. Com efeito, as respostas ao que
seja uma ‘vida boa’ podem variar, logo, há variadas éticas, como há diversas morais. Isso
posto, devemos lembrar que a questão da vida boa não é nova, que ela preocupa os filósofos
desde a antiguidade, e que as respostas dadas costumam responder pelo nome de
eudemonismo (teoria da felicidade como bem para o homem).
Dizemos que costumam ser chamadas de eudemonismo porque, como apontado por
Dupréel (1967), há divergências a respeito de que propostas merecem, de fato, o nome de
eudemonismo. Esse autor opta por reservar o referido conceito para as propostas que
pressupõem que cada homem sabe muito em que consiste sua felicidade, cabendo à filosofia
elaborar as técnicas para conquistá-la. É, por exemplo, o caso do utilitarismo de Mill (1988),
para quem a felicidade consiste em “prazer e ausência de dor” (p. 48), e que discute regras
de prudência para buscar o prazer e evitar a dor. A outras propostas, que visam a ensinar ao
homem o que é a felicidade, Dupréel dá o nome de teorias idealistas. É o caso, por exemplo,
de Aristote (1965), cuja ética implica que a felicidade depende da elevação do homem por
intermédio do cultivo das virtudes. Mas deixemos as polêmicas a respeito de que nome
merecem os diversos sistemas que se debruçaram sobre a felicidade, pois o que nos interessa
aqui é sublinhar o fato de a reflexão sobre a ‘vida boa’ – seja ela intuitivamente conhecida
ou, pelo contrário, revelada pelos sábios – ser tema recorrente da chamada filosofia moral.
Aliás, pode-se dizer que esse tema tem sido muito mais trabalhado que o do dever – que
somente ganha realce filosófico a partir de Kant, embora tenha sido questão central das
religiões de origem judaica.
E é grande a variedade e riqueza de temas humanos tratados em nome do que
estamos chamando de plano ético: a harmonia do universo e sua relação com o homem, a
natureza humana, o papel do conhecimento no alcance da felicidade, as mazelas e virtudes
das paixões, o egoísmo e o altruísmo, a convergência social de interesses, a evolução
histórica e o porvir do homem etc., e, também, a justiça, a benevolência, a coragem, a
fidelidade, ou seja, um conjunto de virtudes que também interessam à reflexão moral.
Podemos, então, dizer que a tese anunciada no início do presente texto – a saber, que para
compreendermos os comportamentos morais dos indivíduos precisamos conhecer a
perspectiva ética que estes adotam – já foi defendida por diversos sistemas filosóficos? A
resposta a essa pergunta é, cremos, negativa. Seria talvez melhor dizer que é em parte
negativa. Expliquemo-lo, lembrando que fizemos uma diferenciação entre moral (conteúdo)
e plano moral (forma). É fato que os diversos sistemas que evocam, de uma maneira ou de

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outra, a questão da ‘vida boa’, trazem-nos conteúdos morais sob forma de virtudes (justiça,
generosidade etc.); porém, eles não as tratam como obrigatórias, mas sim como desejáveis.
Ora, o plano moral implica o sentimento de obrigatoriedade. Portanto, se temos no
epicurismo, no estoicismo, no utilitarismo, e em outras reflexões éticas, análises precisas de
conteúdos morais, falta-nos a articulação entre a busca da felicidade e o dever, ou seja, a
articulação entre o que chamamos de plano ético e plano moral. E devemos, sem dúvidas, a
Kant o equacionamento preciso das enormes dificuldades de estabelecer tal articulação. Dos
argumentos kantianos podemos lembrar dois, a nosso ver, incontornáveis.
O primeiro: a variedade de respostas possíveis ao que seja a felicidade. Escreve Kant
(1994): “Embora o conceito de felicidade sirva em todos os casos de base para a relação
prática dos objetos da faculdade de desejar, ele é apenas o título geral dos princípios
subjetivos de determinação e nada determina especificamente ...” (p. 24). O segundo: a
busca da felicidade é determinada pela sensibilidade, logo por algo sobre o qual o homem
não tem domínio, em relação ao qual, portanto, é heterônomo. Ora, a responsabilidade moral
implica a autonomia. Em suma, para Kant (1990), a moral “é uma ciência que ensina não a
maneira pela qual nós devemos nos tornar felizes, mas aquela pela qual devemos nos tornar
dignos da felicidade”. Essa última definição de moral, rica e precisa, mostra o quanto os
planos moral e ético não se articulam facilmente. Todavia, a referência à ‘dignidade’
fornece-nos uma pista de como estabelecer essa articulação. Por enquanto, o leitor poderá
pensar que, se aceitamos as críticas de Kant a respeito da dificuldade de fazer do
eudemonismo uma ciência moral, estamos, a priori, discordando de nossa própria tese
segundo a qual os plano moral e ético devem ser pensados conjuntamente para explicarmos
os comportamentos morais dos homens.
A esse reparo responderíamos o seguinte: se a definição kantiana de dever
(imperativo categórico) corresponde a uma realidade psicológica, a referência exclusiva à
Razão não explica o fenômeno. Com efeito, vimos que as teorias psicológicas de inspiração
kantiana (Piaget e Kohlberg) deixam-nos, teórica e empiricamente, órfãos de uma
explicação energética da ação. É, digamos, o seu ‘calcanhar de Aquiles’. Aliás, note-se que
vários moralistas contemporâneos apontam essa lacuna do sistema kantiano (ver, entre
outros, MacIntyre, 1997; Taylor, 1998; Tugendhat, 1998). E vimos também a
impossibilidade de articular essas teorias psicológicas racionalistas com aquelas que
contemplam as motivações das ações (Durkheim e Freud), pois essas últimas levam ao
relativismo moral (variadas podem ser as inspirações do sentimento do sagrado e os
mandamentos do superego). Portanto, um mistério psicológico ainda persiste, pelo menos

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para aqueles que aceitam, com Piaget e Kohlberg, um vetor no desenvolvimento moral e a
progressiva conquista da autonomia. É esse mistério que queremos ajudar, se não a
desvendar, pelo menos a melhor situar. Antes de encetarmos essa busca, finalizemos o item
dedicado ao plano ético observando duas coisas. A primeira: praticamente nada se encontra
em psicologia a respeito do plano ético. Talvez pudesse ser feita uma comparação entre as
teorias utilitaristas e a psicanálise, uma vez que ambas as abordagens dão ênfase à
importância do prazer e da dor para explicar as ações humanas. Todavia, essa comparação
certamente não será fácil porque a hipótese do inconsciente equivale a um verdadeiro
abismo separando ambas.
A segunda coisa que queremos frisar é o fato de o tema da ‘vida boa’ ou ‘felicidade’
ter voltado a ser objeto de publicações recentes. Exemplos: na França, Ferry (2002) acaba
de publicar um livro de filosofia intitulado Qu’est-ce qu’une vie réussie?; no Brasil,
Giannetti (2002) publicou diálogos sobre a Felicidade; aqui e ali são republicados antigos
livros sobre o tema como o de Bertrand Russel (1962), intitulado, em francês, La conquête
du bonheur; estão novamente em voga as virtudes, como o atesta o sucesso de venda dos
livros de Bennett (1995) e também do Dalai Lama (1999); lembremos também os inúmeros
textos de auto-ajuda, cujo triste sucesso reflete um desconforto existencial. Em suma,
parece-nos que a inquietação ética está na ordem do dia. A nosso ver é bom que assim seja,
pois as reflexões sobre a vida boa são sempre necessárias por incidirem sobre o sentido da
vida. Camus (1973), na introdução de seu Mito de Sísifo, afirma que “somente há um
problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar que a vida vale ou não a pena de ser
vivida é responder à questão fundamental da filosofia” (p. 15). Interessante lembrar que
Camus era um moralista e que, para ele, a busca de sentido para a vida não era estranha às
questões morais, como o atesta seu romance L’Etranger.

MORAL E ÉTICA

Personalidade Ética Aceitas as definições de plano moral e plano ético, a pergunta


que imediatamente surge é a de saber se um deles engloba ou determina o outro. Para
Comte-Sponville (em Comte-Sponville & Ferry, 1998), “a moral está dentro da ética
(responder à pergunta ‘como viver?’ é, entre outras coisas, perguntar-se que lugar reservar
aos deveres), bem mais do que a ética está dentro da moral (responder à pergunta ‘que devo
fazer?’, ainda não permite saber como viver e nem mesmo – uma vez que a vida não é, aos
meus olhos, um dever – se é preciso viver)” (p. 214)3 . Ricoeur (1990) apresenta uma

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posição, por assim dizer, intermediária, ao estabelecer “a primazia da ética sobre a moral, a
necessidade para a perspectiva ética de passar pelo crivo da norma (moral), e a legitimidade
de um recurso da norma à perspectiva (ética) quando a norma conduz a impasses práticos”.
Quanto a Tugendhat (1998), “pode-se definir ética diferentemente da moral (ética como
busca da ‘vida boa’), mas não se pode definir a primeira como algo que englobe a segunda.
Isto é impossível”. Como nossa investigação é psicológica, e não filosófica, vamos nos
limitar a colocar algumas reflexões sobre a relação axiológica entre os planos moral e ético.
É claro que a questão ética é mais ampla que a questão moral, mas isso não significa
necessariamente que a primeira determine a segunda. Imaginemos, por exemplo, que se opte
por definir a ‘vida boa’ como a busca de poder sobre os homens: não se vê como, de tal
busca, podem se deduzir deveres morais. Mais ainda: não serão poucos aqueles que negarão
validade a essa opção ética, por achá-la egoísta. É isto que Ricoeur (1990) quer dizer quando
fala em passar as opções éticas pelo crivo da norma. Teríamos, portanto, o seguinte quadro:
a moral limita a ética. Expressões como ‘a liberdade de cada um acaba quando começa a
liberdade de outrem’, ou ‘live and let live’, traduzem bem o referido quadro, que poderia
ser assim explicitado: cada um é livre para escolher a ‘vida boa’ que quiser, contanto que
reconheça aos outros o mesmo direito e não os trate como instrumento. Nessa formulação,
vê-se a moral como critério de limite para as escolhas do plano ético. Para alguns, o limite
acima enunciado ainda pode aparecer como demasiadamente amplo, pois deixaria as ações
de benevolência totalmente a critério de cada um, e, portanto, não como dever. Pode-se,
então, reformular o enunciado: cada um é livre para escolher a ‘vida boa’ que quiser,
contanto que reconheça aos outros o mesmo direito, que não os trate como instrumento e
que se preocupe com seu bem-estar. O que importa perceber nas formulações apresentadas
é que o limite moral não parece em nada decorrer das opções éticas. Ele teria outro
fundamento. Mas que fundamento é esse? Será que ele não é inspirado pela questão ética?
Com efeito, por que respeitar os outros? Por que fazer-lhes justiça? Por que preocupar-se
com seu bem estar? Não estará implícito que, sem respeito, sem justiça e sem benevolência,
a vida é infeliz? Onde está o poder de convencimento da importância da dignidade humana,
senão no fato de seu reconhecimento ser condição necessária para uma ‘vida boa’? E não
estará pressuposto, em Kant, que o ‘merecer ser feliz’ corresponde a um grau de felicidade
superior a outras formas de ‘vida boa’? É o que pensa Adam Smith: “Que maior felicidade
que aquela de ser amado e saber que merecemos o amor? Que pior castigo do que ser odiado
e saber que merecemos esse ódio?” (Smith, 1999).
Concordamos com ele, o que nos faz pensar que, do ponto de vista axiológico, há,

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sim, relações entre o plano ético e o plano moral. Essa é a nossa convicção, do ponto de
vista psicológico. Para começar a apresentá-la, vamos nos debruçar sobre o que realmente
pode significar, para o ser humano, a ‘vida boa’ ou a ‘felicidade’, termos consagrados em
diversos sistemas éticos (não vamos revisitar as concepções da antiguidade, inspiradas em
sistemas metafísicos estranhos ao homem moderno). Gozar de saúde e ter condições
mínimas de sobrevivência, certamente, representam o patamar a partir do qual se pode falar
em ‘vida boa’. Aristote (1965) já o afirmava e o bom senso o confirma. Mas uma vez
garantido esse direito universal, o que mais associar ao alcance e usufruto da felicidade? O
leque de conteúdo pode ser grande: amar e ser amado, construir uma família, gostar do que
se faz no trabalho, reconhecimento social, amigos, possibilidades de lazer, de alimentar-se
intelectualmente, ter uma vida sexual ativa e prazerosa etc. Esses itens, e outros possíveis,
fazem todo sentido. O problema é que não se identifica, entre eles, um eixo comum. Estamos
em plena dispersão. Outro problema é que cada um deles levanta questões complexas quanto
à sua definição (por exemplo, o que é a amizade?). Outro problema ainda: é perfeitamente
possível pessoas dispensarem um ou outro item (o solitário prefere não ter amigos).
Finalmente, observemos que tais itens correspondem mais a ‘pedaços de vida’, do que à
vida como um todo. Ora, como o afirma Williams (1990), “é preciso pensar numa vida
inteira”, para realmente responder à questão de Sócrates sobre a vida que vale a pena ser
vivida.
Devemos, portanto, perguntar-nos se há algo em comum por detrás dos diversos
conteúdos que podem ocupar o plano ético. Uma resposta clássica consiste em identificar a
busca do prazer e a fuga do desprazer como invariantes do plano ético. Já vimos que os
utilitaristas e a psicanálise de Freud encontram-se, nesse ponto, em companhia dos
epicuristas. A tese hedonista é simples e elegante. Simples porque identifica no ‘princípio
do prazer’ a motivação básica de todas as ações humanas e elegante justamente em razão
dessa simplicidade, que evita a profusão de conceitos articulados em arquiteturas teóricas
complexas. Além do mais – e isto é essencial – permite separar claramente forma de
conteúdo: todos os hedonistas afirmam a fundamental importância da busca do prazer, mas
podem divergir sobre o que é, ou sobre o que deveria ser, esse prazer. Para o psicólogo, essa
tese permite explicar comportamentos totalmente diversos.
Em poucas palavras, a tese hedonista permite destacar o plano ético (busca do prazer
e fuga do desprazer) de diferentes éticas (conteúdos associados ao prazer). Todavia, ela não
deixa de apresentar problemas sérios, sendo o principal deles o aparente desmentido dos
fatos, como por exemplo, a autodestruição observável em vários indivíduos, que levou

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Freud a ir ‘para além do princípio de prazer’ e fazer a hipótese da existência e da força de
um instinto de morte. Spaemann (1994) apresenta um argumento diferente para negar a
central importância do princípio de prazer e de conservação. Ele nos pede para imaginar a
possibilidade de nosso cérebro ser conectado a cabos que conduzem correntes elétricas que
nos deixariam em estado constante de euforia, e nos pergunta se estaríamos dispostos a ficar
para o todo sempre nessa situação que nos garantiria prazer constante e ausência definitiva
de dor. Esse autor afirma que sentiríamos repulsa por uma alternativa de vida desta porque
implicaria estarmos “fora da vida efetivamente real, fora da realidade”.
Conclui o filósofo: “o sentido verdadeiro da vida não reside nem no prazer, nem na
conservação” (Spaemann, 1994). Concordamos com o inevitável reducionismo implicado
pelas teses hedonistas, embora reconheçamos não ser fácil derrubá-las. Mas há uma coisa
nelas que deve ser resgatada: a identificação de algo que esteja presente em todas as opções
possíveis de felicidade, ou, melhor dizendo, algo que explica – pelo menos em parte – as
escolhas feitas para viver uma ‘vida boa’. Acreditamos encontrar esse invariante na noção
de sentido da vida. Acabamos de ver que Spaemann (1994) nega que o prazer e a
conservação sejam aquilo que confere sentido à vida. Também vimos acima que Camus
(1973) elege o suicídio como grande problema filosófico porque julga que “o sentido da
vida é a mais urgente das perguntas”. Outros autores, como Taylor (1998), insistem sobre o
fato de a atribuição de sentido ser fundamental para se poder viver. Para esse autor, ‘dar
sentido’ é “definir o que torna as reações apropriadas: identificar o que torna algo um objeto
digno delas e, correlativamente, melhor definir a natureza das reações e explicar tudo que
está implicado quanto a nós mesmos e nossa situação no mundo”. Mais adiante, escreve que
a busca de algo na vida “é sempre busca de sentido”. Certamente, seriam necessárias várias
páginas para analisar em profundidade a importância maior do sentido da vida para a
realização de uma ‘vida boa’. Remetemos o leitor aos autores que citamos, entre eles
MacIntyre (1997) que aborda a questão pela dimensão da narrativa, dimensão esta tratada
por Ricoeur (1990). Limitemo-nos a dizer que o sentido da vida remete à questão do ‘por
que viver?’ e, logo, a escolhas existenciais que revelem o que é uma vida que vale a pena
ser vivida. As opções que colocamos como possíveis conteúdos da ‘vida boa’ (amor,
amizade, reconhecimento social, vida sexual etc.) não são estranhas ao tema do sentido, pois
cada uma pode corresponder a um ‘existir para’.
Para finalizar, lembremos que, no mundo contemporâneo, a angústia frequentemente
se traduz pela falta de sentido (ver Taylor, 1998). Como escreve Collin (2003), “a reflexão
ética moderna esteve frequentemente confrontada à questão da perda de sentido da vida” .

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Em resumo, para nós, o invariante do plano ético é a busca de sentido para a vida, e os
diversos conteúdos dependerão dos diversos sentidos atribuídos à vida. Já podemos perceber
uma relação entre o plano ético e o plano moral: se o grande problema da vida é ela fazer
sentido, deduz-se que a moral, ela mesma, e as obrigações dela derivadas, devem também
fazer sentido. A questão do sentido é incontornável no plano moral, e certamente não é por
acaso que a anomia moral, ou o ‘crepúsculo do dever’, diagnosticados atualmente, são
contemporâneos das dificuldades de encontrar um sentido para a vida e, logo, para as ações.
Mas essa afirmação ainda não é suficiente para se saber que plano determina qual, ou se são
independentes. Para defender a hipótese da prevalência do plano ético sobre o plano moral,
devemos nos perguntar se há, dentro da própria problemática do sentido da vida, um outro
invariante de ordem psicológica. Pensamos que tal invariante existe: o sentimento de
‘expansão de si próprio’. Dito de outra forma: fazemos a hipótese de que a possibilidade de
‘expansão de si próprio’ é condição necessária para que a vida faça sentido, assim como
este fazer sentido é condição necessária à ‘vida boa’. Assumimos aqui a perspectiva teórica
de Adler (1991), para quem “é unicamente o sentimento de ter atingido um grau satisfatório
na tendência a elevar-se que pode fornecer um sentimento de quietude, de valor e de
felicidade”.
A expressão ‘expansão de si próprio’ não é de autoria de Adler, mas sim de Piaget
(1954), que concordava plenamente com o ex-colaborador de Freud, por ver, na tendência
à superação de si mesmo, o vetor do desenvolvimento e a motivação central para as ações.
Assumimos, portanto, a hipótese de que a vida somente pode fazer sentido para quem
experimenta o sentimento de nela autoafirmar-se, expandirse, em uma palavra, atribuir-se
valor. Pela recíproca, quem não consegue, seja lá por que motivo for, atribuir a si próprio
valor, não consegue dar sentido à sua vida e, logo, não usufrui de uma ‘vida boa’. A tese
acima exposta pode ser traduzida com dois outros termos: representações de si e valor.
Dedicamos dois livros à análise desses dois conceitos e de sua relação com o
sentimento de vergonha, e retemos o leitor a eles para o aprofundamento da questão (La
Taille, 2002a, 2006; ver também Harkot-de-La-Taille & La Taille, 2004). Basta aqui
apresentar as ideias básicas. Entendemos o Eu como um conjunto de representações de si
(imagens que a pessoa faz de si). Não importa conferir se tais representações correspondem,
de fato, ao que a pessoa realmente é ou a como é vista pelos outros, mas sim sublinhar o
fato de que elas correspondem ao que ela julga ser. Importante frisar que colocamos
representações de si no plural: não se trata de um autoconceito, portanto unitário, mas
realmente de um conjunto de representações, que podem até ser conflitivas ou contraditórias

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entre si. Prossigamos: essas representações de si são sempre valor. Definimos valor como
investimento afetivo, tal qual Piaget (1954), e assumimos que, inevitavelmente, o Eu é
objeto de investimento afetivo. Por isso dizemos que as representações de si são sempre
valor.
Coerentemente com a teoria de Adler, assumimos também - e isto é essencial para
nossa análise - que a busca de representações de si com valor positivo é lei fundamental da
vida humana. O insucesso nessa busca causa o sentimento de vergonha, ou seja, a dor
psíquica resultante da consciência da disjunção entre uma ‘boa imagem’ (idealizada) e a
imagem que, de fato, se tem de si (Harkot-de-La-Taille, 1999). A força do sentimento de
vergonha – que pode ser letal – atesta a importância, para a vida, de conseguir ver a si
próprio como valor positivo. Como o leitor pode perceber, não hesitamos em colocar, no
plano ético, o ‘famigerado’ amor próprio. Mas não somos os únicos a reconhecer que a ética
não pode traduzir-se na negação do sujeito (ver Savater, 2000), e tampouco a moral pode
fazê-lo. Basta atentar para o fato de a pergunta do plano ético ‘que vida quero viver?’
implica outra: ‘quem quero ser?’. Portanto, parece-nos não haver possibilidade de se pensar
a ética sem contemplar a dimensão da identidade, e esta, sem a busca de atribuição pessoal
(e coletiva) de valor. Estamos agora em condições de defender nossa tese, segundo a qual,
para compreender os comportamentos morais dos indivíduos precisamos conhecer a
perspectiva ética que eles adotam.

O CONCEITO DE ÉTICA

A Ética é um ramo da filosofia que lida com o que é moralmente bom ou mau, certo
ou errado. As palavras ética e moral têm a mesma base etimológica: a palavra grega ethos
e a palavra latina moral, ambas significam hábitos e costumes. A ética, como expressão
única do pensamento correto conduz à idéia da universalidade moral, ou ainda, à forma ideal
universal do comportamento humano, expressa em princípios válidos para todo pensamento
normal e sadio.
O termo ética assume diferentes significados, conforme o contexto em que os
agentes estão os agentes envolvidos. Uma definição particular diz que a “ética nos negócios
é o estudo da forma pela qual normas morais pessoais se aplicam às atividades e aos
objetivos da empresa comercial. Não se trata de um padrão moral separado, mas do estudo
de como o contexto dos negócios cria seus problemas próprios e exclusivos à pessoa moral
que atua como um gerente desse sistema”.

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Outro conceito difundido de ética nos negócios diz que “é ético tudo que está em
conformidade com os princípios de conduta humana; de acordo com o uso comum, os
seguintes termos são mais ou menos sinônimos de ético: moral, bom, certo, justo, honesto”.
As ações dos homens são, habitualmente, mas não sempre, um reflexo de suas
crenças: suas ações podem diferir de suas crenças, e, ambas, diferirem do que eles devem
fazer ou crer. Esse é o caso, por exemplo, do auditor contábil independente que foi escalado
por seu gerente de auditoria, para auditar as contas de uma empresa de auditoria e que tem
relações de parentesco com o presidente dela. Ao aceitar tal tarefa, o profissional estará
agindo de acordo com sua crença, a de que ele consegue separar assuntos pessoais dos
profissionais e que, portanto, nada há de errado em auditar as referidas contas.
Á luz da ética profissional, o auditor deve solicitar sua exclusão da tarefa a ele
incumbida, comunicando as razões para o gerente de auditoria. Desse modo, ele estará
agindo de acordo com a crença difundida de que este é o procedimento correto. O
comportamento esperado da empresa, também à luz da ética profissional, será o de que ela
substitua o auditor designado. Espera-se, assim, estar comunicando implicitamente à
sociedade que a firma de auditoria age com absoluta retidão de procedimentos, e em
conformidade com suas expectativas.

OBJETO E OBJETIVO DA ETICA

A Ética, enquanto ramo do conhecimento, tem por objeto o comportamento humano


do interior de cada sociedade. O estudo desse comportamento, com o fim de estabelecer os
níveis aceitáveis que garantam a convivência pacífica dentro das sociedades e entre elas,
constitui o objetivo da ética.

FUNÇÃO DA ETICA

Em qualquer sociedade que se observe, será sempre notada a existência de dilemas


morais em seu interior. Os dilemas morais são um reflexo das ações das pessoas, e surgem
a partir do momento em que, diante de uma situação qualquer, a ação de um indivíduo ou
de um grupo de indivíduos, contraria aquilo que genericamente a sociedade estabeleceu
como padrão de comportamento para aquela situação. O comportamento das pessoas,
enquanto fruto dos valores nos quais cada um acredita, sofre alterações ao longo da história.
Tal fato significa que aquilo que sempre foi considerado como um comportamento amoral

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pode, a partir de determinado momento, passar a ser visto como um comportamento
adequado à luz da moral Quando, por exemplo, um país se envolve em uma guerra, os
habitantes desse país (ou pelo menos grande parte deles) estão assumindo um
comportamento que normalmente condenam em tempo de paz, qual seja, matar seus
semelhantes. Os problemas relacionados com o comportamento do ser humano encontramse
inseridos no campo de preocupações da Ética. Ainda que não torne os indivíduos
“moralmente perfeitos”, a Ética tem por função investigar e explicar o comportamento das
pessoas ao longo das várias fases da história. Essa função apresenta-se como de grande
relevância, tanto no sentido de se entender o passado, quanto de servir como parâmetro para
fixação de comportamentos “padrões”, aceitos pela maioria, visando a diminuir o nível de
conflitos de interesses dentro da sociedade.

FONTES DE REGRAS ETICAS

O fato de se considerar a Ética como a expressão única do pensamento correto


implica a idéia de que existem certas formas de ação preferíveis a outras, às quais se
prendem necessariamente um espírito julgado correto. Tomando-se por base essa definição,
existiria uma natureza humana “verdadeira” que seria a fonte primeira das regras éticas.
1 a FONTE DAS REGRAS ETICAS: Essa natureza humana verdadeira seria aquela
do homem sadio e puro, em que habitariam todas as virtudes do caráter íntegro e correto.
Toda ação do homem ético seria uma ação ética. (universalidade ética).
2 a FONTE DAS REGRAS ETICAS: Existem, ainda , normas de caráter diverso e
até mesmo oposto à idéia da universalidade ética: as relacionadas à forma ideal universal e
comum do comportamento humano, expressa em princípios válidos para todo pensamento
são. Essa seria a segunda fonte das regras éticas.
3 a FONTE DAS REGRAS ÉTICAS: A conseqüência da busca refletida dos
princípios do comportamento humano. Assim, cada significado do comportamento ético
torna-se-ia objeto de reflexão por parte dos agentes sociais. Essa seria a procura racional
das razões da conduta humana.
4 a FONTE DAS REGRAS ÉTICAS: A legislação de cada país, ou de foros
internacionais, ou mesmo os códigos de ética Empresarial e Profissional. Não obstante a
literatura mencionar as leis como fonte de regras éticas, é de acreditar que dificilmente um
conjunto de leis poderia legislar satisfatoriamente sobre ética, pois uma lei específica não
poderia abarcar todas as situações que surgissem sobre determinado assunto, e, também,

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porque nem toda lei pode ser considerada ética.
5 a FONTE DAS REGRAS ÉTICAS: Normas éticas vem dos costumes.

A ÉTICA NA EMPRESA

Você já sabe que a fase atual da economia capitalista criou um clima favorável ao
surgimento de inúmeras interpretações – tanto otimistas como pessimistas – quanto ao
futuro da sociedade do trabalho. Sabe, também, que o conhecimento é uma condição
indispensável ao exercício da liberdade e, portanto, da cidadania. Por isso não podemos
desconhecer que a possibilidade de estendê-lo à grande massa dos trabalhadores (durante
tanto tempo excluídos de seu acesso) cria perspectivas de que se venha a resgatar o valor do
trabalho. E isso permite instituir uma nova ética nas empresas e na sociedade como um todo.
É hoje uma tendência cada vez mais constante na organização das fábricas a tomada
de consciência sobre a importância de que o trabalho seja estruturado a partir de tarefas
globais. Elas seriam executadas por equipes de profissionais suficientemente qualificados
para dar conta de um máximo de atividades e para assumir responsabilidade com autonomia
e criatividade. Essa forma de estruturação do trabalho não só representa o rompimento com
o taylorismo, como também anuncia uma nova orientação relativa a políticas de recursos
humanos.
Tal política visa à autodeterminação e ao crescimento de todos os envolvidos no
processo de trabalho nas organizações. Mas seria ingênuo acreditar que a revalorização e o
futuro da sociedade do trabalho dependeriam exclusivamente de uma política de recursos
humanos voltada para a qualificação do trabalhador. Sabe-se que, numa economia
globalizada, com um processo de produção flexível, a qualificação do trabalho não é
garantida de emprego e nem o cria. No entanto, não resta dúvida de que, no atual quadro
econômico, os novos empregos passarão a absorver os trabalhadores mais qualificados.
Nessas circunstâncias, uma reflexão sobre a dimensão ética empresas deverá passar
necessariamente pelo resgate da qualificação profissional, mais incluirá outros aspectos
organizacionais, fundamentais ao resgate da dimensão pública da ética e,
conseqüentemente, ao resgate da cidadania.

A RESPONSABILIDADE E O COMPROMISSO COM A COMUNIDADE

Para pensar a questão ética nas organizações empresariais é necessário, antes de

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tudo, definir o objetivo desse tipo de organização. Uma organização empresarial, utilizando
determinada tecnologia, produz algum bem ou serviço, para ser comercializado em função
do atendimento a demandas da sociedade. Cabe à empresa desempenhar com qualidade sua
missão específica. Assim, por exemplo, espera-se de uma universidade que ela prepare o
profissional do futuro; de um hospital, que cuide da doença; de uma indústria
automobilística, que produza bons carros; de um restaurante, que ofereça boa comida. Por
outro lado, esse desempenho não pode estar dissociado de seu objetivo principal, que é a
obtenção de lucro. LUCRO É O PERCENTUAL QUE EXCEDE AS DESPESAS COM
MATÉRIAPRIMA, TECNOLOGIA, SALÁRIOS E QUE SE FAZ EMBUTIR NO PREÇO
FINAL DO PRODUTO. Mas não se pode perder de vista que uma organização empresarial
está localizada numa comunidade. Ela oferece emprego aos moradores, paga impostos e a
tecnologia que utiliza causa algum impacto sobre essa comunidade. Logo, ao refletir sobre
a dimensão ética na empresa, precisamos compreender que, além dos compromissos
relativos ao seu funcionamento interno, a organização empresarial possui compromissos
externos, de ordem social. E quais são esses compromissos? Como honrá-los? Vamos
analisar, inicialmente, a questão do lucro, seu objetivo primeiro. Essa, que parece uma
questão de interesse exclusivo da empresa, tem também importantes repercussões sociais.
A primeira responsabilidade de uma empresa é apresentar um bom desempenho econômico,
de forma a cobrir custos e acumular capital.
A consequência do seu sucesso econômico tende a se desdobrar socialmente em
empregos, melhores salários e arrecadação de impostos, preços mais adequados ao
consumidor, e qualidade dos serviços – fatores relacionados à justiça social. Legislação e
Ética Profissional Professora – Adriana Farias O objetivo de obter lucro é, portanto,
absolutamente legítimo. Isso porque uma empresa falida, não-lucrativa é má empregadora,
malvista na comunidade e não gera capital para a criação de empregos futuros. O
comprometimento social da empresa se expressa, ainda, no seu engajamento com programas
culturais e filantrópicos de interesse da comunidade, nos seus projetos de preservação
ambiental, especialmente porque, nesse último caso, a tecnologia por ela utilizada costuma
causar impactos sobre o meio ambiente. Na medida em que no mundo contemporâneo a
economia está predominantemente organizada com base na iniciativa privada, torna-se
indispensável o comprometimento amplo das organizações com as questões sociais. Hoje,
política social e ambiente escapam do âmbito do governo, tornando-se responsabilidade de
organizações empresariais e não-governamentais. O compromisso das organizações
empresariais é, hoje, muito mais amplo do que a própria relação emprego-empregador: ele

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envolve questões raciais, de sexo, de distribuição de renda, manutenção do meio ambiente,
enfim, os problemas mais gerais que afligem a sociedade. A ÉTICA DA DIGNIDADE DA
PESSOA HUMANA IMPEDIRÁ A EMPRESA DE FAZER QUALQUER TIPO DE
DISCRIMINAÇÃO POR UMA VISÃO PRECONCEITUOSA DE RAÇA OU DE SEXO.
ATUANDO COM BASE NO VALOR DA DIGNIDADE DA PESSOA, A EMPRESA
NÃO DEFINIRÁ, POR EXEMPLO, UMA POLÍTICA SALARIAL FUNDAMENTADA
NESSAS DIFERENÇAS. A QUESTÃO DO ASSÉDIO SEXUAL SERÁ TAMBÉM UMA
PREOCUPAÇÃO SUA.
Hoje, o que se põe em questão é o desenvolvimento de uma prática coerente com
uma ética pública, em que fiquem preservados os interesses da organização, sem
comprometimento das ações que contribuam para o bem-estar e o desenvolvimento da
sociedade como um todo. Para aborda os demais compromissos que uma organização
precisa assumir de modo a ser conceituada como ética é necessário pensarmos nos atores
ou agentes do processo organizacional, aqueles que fazem a empresa, que são responsáveis
pelo desenvolvimento de sua política e das atividades necessárias ao alcance de seus
objetivos. Nesse caso, estamos falando de empregadores (que passamos a identificar como
o administrador) e empregados.

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL – A IMPORTÂNCIA NO NOVO


CENÁRIO EMPRESARIAL

Atualmente as pessoas, em geral, apresentam uma maior preocupação com o bem-


estar e a qualidade de vida, consubstanciadas numa ética de valorização do ser humano, ao
invés do padrão de produção capitalista, o qual prega a realização econômica em detrimento
da realização pessoal. Há também uma maior conscientização da importância da
participação das empresas na preservação do meio ambiente, da participação dos
trabalhadores na tomada de decisão e nos resultados da atividade produtiva e da necessidade
de melhoria dos padrões de qualidade de vida da comunidade que com que ela se relaciona.
Esse contexto tem trazido a discussão sobre ética e responsabilidade social das empresas
para a literatura econômica, administrativa e jurídica, sem contar que, tradicionalmente,
esses temas são abordados por filósofos e sociólogos. A inclusão destes temas tem
colaborado, inclusive, para o surgimento de associações empresariais e acadêmicas
envolvidas na disseminação de práticas eticamente corretas e socialmente responsáveis. O
benefício da realização dessas práticas ocorre não somente para as organizações envolvidas,

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mas também para todos os envolvidos ou impactados pelas atividades econômicas levadas
a cabo pelo setor empresarial, os chamados stakeholders. Assim, tem sido possível a uma
parcela significativa da sociedade adquirir conhecimentos sobre ética. Ao mesmo tempo a
sociedade pode esperar, e exigir, das empresas que elas contribuam para o desenvolvimento
da comunidade, sendo socialmente responsáveis.

2.1 Ética

A ética, como reflexão científica e filosófica, estuda os costumes e normas de


comportamento. No presente trabalho essas normas de comportamento serão analisadas no
contexto corporativo. Considerando o contexto social, pode ser dito que os valores éticos
são passíveis de transformações, assim como as sociedades se modificam. Essas diferenças
se dão em épocas e sociedades distintas. Não são apenas os costumes que variam, mas
também os valores que os acompanham, as próprias normas concretas, os próprios ideais e
a própria sabedoria (VALLS, 1996). Assim, para compreensão da ética vigente em uma
sociedade, sob a ótica dos filósofos, é necessário estudar pinturas, esculturas, leis, livros de
medicina, etc. Mas as preocupações no estudo da ética vão muito além das variações dos
costumes, chegando à formulação de princípios universais. Uma boa teoria ética deveria
atender à pretensão de universalidade, ainda que simultaneamente capaz de explicar as
variações de comportamento, características das diferentes formações culturais e históricas
(VALLS, 1996).
Filósofos como Sócrates e Kant preocuparam-se com este caráter universal da ética.
Entre as tendências atuais valoriza-se a posição da liberdade como um ideal ético,
privilegiando o aspecto pessoal da ética. Outra perspectiva aponta a ética nas relações
sociais, tendo como ideal ético o de uma vida social mais justa. Para Valls (1996), a ética
preocupa-se com as formas humanas de resolver as contradições entre necessidade e
possibilidade, entre tempo e eternidade, entre o individual e o social, entre o econômico e o
moral, entre o corporal e o psíquico, entre o natural e o cultural e entre a inteligência e a
vontade. Algumas noções, mesmo que ainda abstratas, permanecem firmes no campo da
ética, como a distinção entre o bem e o mal, ou seja, entre o que é certo e o que é errado
dentro de uma organização. Ainda segundo Valls, hoje os grandes problemas de ética
encontram-se em três esferas: família, sociedade civil e Estado. Assim, despertar uma
consciência eticamente crítica nas pessoas é o desafio que pode ajudá-las a assumir uma
vida de maneira mais ética, e, neste sentido, mais livre e mais humana. Muitas são as razões

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que têm levado as organizações a se preocuparem em promover a ética no ambiente
empresarial. Dentre elas: os custos de escândalos nas empresas, acarretando perda de
confiança na reputação da organização, multas elevadas, desmotivação dos empregados,
entre outras (TANSEY, 1995). Entretanto, para analisar a ética no universo corporativo faz-
se necessário, inicialmente, compreender a sua dimensão nas empresas. Ética dos negócios
é o estudo da forma pela qual as normas morais pessoais se aplicam às atividades e aos
objetivos da empresa comercial. Não se trata de um padrão moral separado, mas do estudo
de como o contexto dos negócios cria problemas próprios e exclusivos à pessoa moral que
atua como um gerente desse sistema (NASH, 1993).
A ética é um fator relevante para garantir a competitividade da empresa. No entanto,
ter padrões éticos significa ter bons negócios em longo prazo. Existem estudos, por
exemplo, o mencionado por Pinedo (2003) indicando a veracidade dessa afirmativa.
Segundo ele, em estudo realizado pela Universidade de Harvard, empresas éticas e maduras
têm resultados 3 60% melhores que as menos éticas. Na maioria das vezes, contudo, as
empresas reagem a situações de curto prazo (TANSEY, 1995). Para Nash (1993), empresas
preocupadas com padrões de conduta ética em seu relacionamento com clientes,
fornecedores, funcionários e governantes, ganham a confiança de seus clientes e melhoram
o desempenho dos funcionários. Segundo Tansey (1995), assim como qualquer
comportamento ou cultura adotada pela empresa, a postura ética deve vir da alta
administração, ou seja, é a direção quem deve dar o exemplo aos seus colaboradores. Um
dos principais profissionais multiplicadores da postura ética é o Executivo de Relações
Públicas, visto que ele tem o papel de estabelecer o relacionamento da organização com seu
público e com a fundamentação da ética. Segundo Nash (1993), cumprir essa
responsabilidade exige, no mínimo, uma investigação e um posicionamento explícito sobre
os aspectos éticos da atividade empresarial, desde a estratégia até a folha de pagamento. A
atuação da empresa no mercado também deve ser considerada, pois a sua forma de agir
neste ambiente provoca reflexos internos, segundo Tansey (1995). Para a autora, não se
pode exigir conduta ética dos funcionários se a empresa está viciada em procedimentos
condenáveis.
Os padrões éticos da companhia são a base do comportamento dos funcionários.
Um dos problemas que prejudicam a postura ética nas organizações é a burocracia com que
elas executam suas funções. Segundo Tansey (1995), burocracia demais atrapalha. Como
são muitas as instruções a serem observadas, existe sempre a possibilidade das empresas
não cumprirem uma delas. Além da burocracia, levantada por Tansey, outros obstáculos à

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implantação da ética nas organizações foram levantados por Zoboli (2002). São eles: •
Imposição de regras sem intenção de considerá-las e o uso da missão da empresa apenas
como conveniência. Esses obstáculos se apresentam quando a missão da empresa não
representa claramente a meta e a finalidade da organização, mas expressam um conjunto de
normas e regulamentos, os quais não justificam os resultados buscados. •Alcance de
objetivos a qualquer preço. Acontece quando a organização busca realizar as suas metas
sem o respeito aos valores e direitos partilhados com a sociedade na qual está inserida. O
bem comum pode ser assegurado pelo uso de procedimentos idôneos. •Impaciência e pressa
para alcançar os objetivos organizacionais. Estas se constituem fatores para a negligência
no trato de questões éticas nas organizações, o que pode por em risco a satisfação de clientes
e colaboradores, podendo levar a um ciclo negativo e vir a afetar os resultados da
organização. •Perversidade: relação assimétrica e desigual, baseada na racionalidade
destrutiva. Acontece quando a organização isola-se das necessidades e demandas sociais,
levando ao esquecimento da sua missão e desmotivação dos seus integrantes. Os envolvidos
podem assumir um comportamento que justifica a desigualdade, chegando a considerá-la
normal ou nem percebê-la. Um exemplo clássico desta perversidade é representado pela
corrupção social, a qual provoca uma mudança arbitrária de valores. As organizações que
adotam a ética como substância das suas relações e realização de resultados são
organizações que capacitam as pessoas a demonstrarem um comportamento maduro. Este
tipo de comportamento é demonstrado pela reflexão a respeito dos bens internos, das
atividades e dos meios adequados para atuarem rumo a consecução da ética no ambiente
organizacional. Decorrente dessa reflexão surge uma atuação balizada pela responsabilidade
que a organização para com a sociedade.

2.2 Responsabilidade Social Empresarial

Moreira (2000) retrata o modismo que leva as empresas brasileiras a discursarem


sobre ética e desenvolverem códigos de comportamento para seus funcionários. Apontando
paradoxos, o autor demonstra a constante evidência de casos e “causos” de violação de
princípios éticos elementares e afirma que tal paradoxo torna-se inteligível quando são
examinados os traços básicos da cultura nacional (como o formalismo, as esferas culturais
da 4 casa e da rua, o jeitinho, entre outros) e se admite a influência de tais traços nas
organizações instaladas no país. Melo Neto e Froes (apud MENDONÇA e GONÇALVES,
2002) afirmam que houve uma mudança no foco da responsabilidade social corporativa, das

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ações meramente filantrópicas para ações mais substanciais que proporcionem o
desenvolvimento social. Conforme Mendonça e Gonçalves (2002), atualmente muitas
empresas brasileiras buscam legitimidade através de ações de cunho social por
reconhecerem e/ou acreditarem que estas ações podem ter impactos positivos na imagem da
organização. Os autores pressupõem a existência de organizações que desenvolvem ações
sociais condizentes com seus valores organizacionais. Porém, outras parecem objetivar a
criação de uma imagem de responsabilidade social estabelecendo uma estratégia
mercadológica não condizente com os valores e práticas da organização.
Segundo Moreira (2000), atualmente, na sociedade brasileira encontram-se sinais
dos fatores que desencadearam mundialmente as preocupações com a ética e a
responsabilidade social nos negócios. Estes são: as pressões pela conservação do meio
ambiente, o fortalecimento dos movimentos de defesa do consumidor, as denúncias sobre
irresponsabilidades no setor da saúde, os esforços contra o trabalho infantil e outros. Assim,
as empresas têm dado maior importância às posturas éticas em relação aos seus funcionários
e à comunidade em geral, por meio da divulgação de seus códigos internos de ética, projetos
de reflorestamento, fundações educacionais e engajando-se em atividades filantrópicas.
Acreditase que esta postura é determinante para consolidar uma imagem positiva perante
clientes e funcionários e, por sua vez, fundamental para a perenidade da empresa. A
Responsabilidade Social Empresarial (RSE) tem como fundamento o compromisso ético da
empresa para com seus stakeholders, ou seja, clientes, fornecedores, empregados, parceiros
e colaboradores. A empresa é considerada ética se cumprir todos os compromissos éticos
que tiver, ou seja, agir de forma honesta com todos aqueles que têm algum tipo de
relacionamento com ela. Estão envolvidos neste grupo os clientes, os fornecedores, os
sócios, os funcionários, o governo e a comunidade como um todo (TANSEY, 1995).
A responsabilidade social empresarial ou corporativa, desde o início da última
década, vem sendo discutida no meio acadêmico, porém, ganhou força no Brasil
especialmente a partir da criação do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social,
em setembro de 1998. No meio empresarial ela tomou maior impulso com o surgimento de
normas e padrões de certificação social e ambiental, tais como a Social Accountability 8000
(SA8000), Account Ability 1000 (AA1000) e International Standard Organization 14000
(ISO14000). Neste cenário mutante e demasiadamente complexo, as organizações operam
e lutam para se manter, para cumprir sua missão e visão e para cultivar seus valores
(KUNSCH, 1974). Neste contexto de mudanças e de transformações sociais, econômicas e
tecnológicas pelo qual passam as organizações, percebe-se a preocupação com o

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estabelecimento de padrões de ética e responsabilidade social em suas atividades. Parece
lícito afirmar que hoje em dia as organizações precisam estar atentas não só às suas
responsabilidades econômicas e legais, mas também às suas responsabilidades éticas,
morais e sociais (ASHLEY, 2002). Por meio das considerações apresentadas pelo Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), pode-se dizer que o fato de
uma empresa oferecer o melhor produto ou serviço para seus consumidores não quer dizer
que ela tenha ética nas suas relações. Principalmente se, por exemplo, no desenvolvimento
de suas atividades, não se preocupar com a poluição gerada no meio ambiente (SEBRAE,
2003). Além da preocupação com o meio ambiente, para considerar que uma empresa tenha
ética nas suas relações, outro valor bastante importante é a transparência, principalmente
em determinados segmentos, tais como o tratado neste estudo. Se não tiver transparência na
condução dos negócios a empresa pode ser prejudicada.
Um exemplo dado pelo SEBRAE (2003) é o das empresas que sonegam
informações importantes sobre seus produtos e serviços. Futuramente, elas podem ser
responsabilizadas por omissão. 5 Ashley (2002) afirma que responsabilidade social pode
ser definida como o compromisso que uma organização deve ter com a sociedade. Este
compromisso pode ser expresso por meio de atos e atitudes que afetem a sociedade
positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico. Assim, numa
visão expandida, responsabilidade social é toda e qualquer ação que possa contribuir para a
melhoria da qualidade de vida da sociedade. O conceito RSE está relacionado com a ética e
a transparência na gestão dos negócios e deve refletir-se nas decisões cotidianas que podem
causar impactos na sociedade, no meio ambiente e no futuro dos próprios negócios. De
modo mais simples, pode-se dizer que a ética nos negócios ocorre quando as decisões de
interesse de determinada empresa também respeitam o direito, os valores e os interesses de
todos aqueles que são por ela afetados (SEBRAE, 2003).
A RSE tornou-se um fator de competitividade para os negócios. Fabricar produtos
ou prestar serviços que não degradem o meio ambiente, promover a inclusão social e
participar do desenvolvimento da comunidade de que fazem parte, entre outras iniciativas,
são diferenciais cada vez mais importantes para as empresas na conquista de novos
consumidores ou clientes. Já é significativo o número de grandes e médias empresas que
selecionam fornecedores (micros e pequenos) utilizando critérios da RSE nos negócios.
Também no acesso aos créditos e financiamentos é crescente a incorporação de critérios de
gestão responsável (SEBRAE, 2003). Mas a importância da RSE não deve se resumir no
retorno que ela pode proporcionar em termos de melhoria de imagem, facilidade na

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obtenção de crédito junto aos bancos e de aumento da competitividade no mercado em que
atuam, mas sim na sua importância para o crescimento do país.Diante do quadro de pobreza,
dos sérios problemas nas áreas de educação, saúde, emprego, segurança e meio ambiente é
bastante salutar que as organizações assumam um papel social e contribuam eficazmente
para o desenvolvimento sustentável e melhoria da qualidade de vida no planeta. Ainda é
importante que, por meio deste movimento e do exemplo dos seus líderes, as empresas
contribuam para resgatar a ética no relacionamento humano e nos negócios (SANTARÉM,
2000).
A responsabilidade social deve estar inserida na infra-estrutura e na cultura das
organizações. As práticas de responsabilidade social devem fazer parte da vida das
organizações. Elas devem incorporar-se à gestão, aos valores, à missão e ao planejamento
estratégico das organizações. 2.2.1 A importância das práticas de responsabilidade social
Através do desenvolvimento e ampliação de projetos sociais, nos últimos anos, as práticas
de responsabilidade social têm tido destaque em muitas empresas. Segundo Silva (2001),
isso se deve ao fato da sociedade estar mais consciente de que o Estado não tem mais
recursos, capacidade de investimentos e competência gerencial para resolver sozinho os
graves problemas sociais que afligem a humanidade. Assim, a preocupação das empresas
com as causas sociais tem se tornado uma questão de estratégia e de sobrevivência no mundo
corporativo. Outra importância que pode ser atribuída à adoção de práticas de RSE é a
lucratividade que elas podem proporcionar à organização.
Segundo Ashley (2002), o mundo empresarial vê na responsabilidade social uma
nova estratégia para aumentar seu lucro e potencializar seu desenvolvimento. Deve haver o
desenvolvimento de estratégias empresariais competitivas por meio de soluções socialmente
corretas, ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis. Entre os resultados das
ações ética e socialmente responsáveis, merece ser mencionado o aumento da
competitividade das empresas praticantes. Isso se deve ao fato dos consumidores de hoje
estarem mais exigentes e, conseqüentemente, mais preocupados com a sociedade em que
estão inseridos. Percebe-se, portanto, que a RSE é fundamental para o 6 desenvolvimento
das organizações, já que os diversos públicos com os quais as empresas se relacionam
passam a exigir um retorno social e não somente lucros. Segundo Schiffman e Kanuk
(2000), a maioria das empresas reconhece que atividades socialmente responsáveis
melhoram a imagem delas junto aos consumidores, acionistas, comunidade financeira e
outros públicos relevantes. Elas descobriram que práticas éticas e socialmente responsáveis
simplesmente são negócios saudáveis que resultam em uma imagem favorável e, por

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decorrência, em maiores vendas. O contrário também é verdadeiro: percepções de falta de
responsabilidade social da parte de uma empresa afetam negativamente as decisões de
compra do consumidor. Pode-se afirmar, portanto, que as práticas de responsabilidade social
desenvolvem uma maior identificação da empresa com o seu público socialmente
consciente, ou seja, aquelas pessoas e organizações que, como ela, procuram adotar
comportamentos politicamente corretos.

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL EM FUNERÁRIAS

As empresas funerárias, responsáveis pela remoção, exumação e embalsamento de


cadáveres, prestam serviços a clientes que se encontram sob o peso de condições especiais
devido à perda de entes queridos. Diante disso, torna-se ainda mais importante a presença
da ética e da responsabilidade social para respaldar as relações das mesmas com os que as
contratam, razões que também justificam a verificação da atuação de empresas desse ramo
de atuação. De forma a auxiliar o setor, foi criado para a categoria, em 1998, pela
Associação Brasileira de Empresas e Diretores Funerários (ABREDIF), o Código de Ética
e Auto Regulamentação Funerária (CEARF). Este código se caracteriza como o primeiro
instrumento a estabelecer as normas que regulamentam o setor e a conduta dos profissionais
que nele atuam. O aludido código estabelece em seu capítulo II que as empresas do setor
funerário devem trabalhar baseadas na respeitabilidade, decência, honestidade e proteção à
intimidade, conforme detalhamento abaixo: Respeitabilidade - Toda atividade funerária
deverá caracterizar-se pelo respeito à dignidade da pessoa humana, aos seus sentimentos,
ao interesse social e ao núcleo da família; Decência - O Diretor Funerário preservará os
bons costumes, agindo com zelo e discrição para que o(a) falecido(a) ou sua família não
sejam expostos a situações constrangedoras; Honestidade - Os serviços funerários devem
ser oferecidos e realizados de forma a não se abusar da confiança, falta de experiência ou
desconhecimento da família, não se beneficiando ainda da credulidade ou estado emocional
do contratante; Proteção à intimidade - O Diretor Funerário manterá sigilo profissional nos
assuntos particulares de interesse daqueles que solicitarem seus serviços. Não prestará nem
divulgará qualquer informação, imagem ou fotografia que tenha relação com o atendimento
funerário, salvo quando autorizado pela família e ressalvada a sua obrigação de divulgar
informações exigíveis nos termos da lei. 8 O CEARF também estabelece que os interesses
da família do falecido devem estar sempre à frente dos interesses de qualquer situação de
concorrência. A cordialidade é outro valor que deve ser observado no atendimento e na

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prestação dos serviços, uma vez que aqueles que recorrem aos serviços funerários já se
encontram fragilizados emocionalmente. Especificamente são destacados dois artigos do
CEARF, como exemplo do seu conteúdo.
Segundo o artigo 16, somente pessoas autorizadas e qualificadas procederão ao
manuseio de cadáveres, sempre após a assinatura do atestado de óbito por um médico e com
equipamentos de proteção. O artigo 18 do código estabelece que na comercialização
somente serão oferecidos produtos e serviços dentro das exigências técnicas, legais e
operacionais necessárias, sempre em conformidade com o poder aquisitivo do contratante,
ao qual serão fornecidas todas as descrições e comparações necessárias. A partir da
demonstração dos instrumentos de regulamentação das atividades do setor funerário, faz-se
mister identificar como as empresas têm atuado e a motivação das mesmas para a adoção
de postura ética e demonstrações de responsabilidade social.

O RETRATO DO SERVIÇO FUNERÁRIO

É importante salientar que os casos descritos aqui não devem ser generalizados,
porém estes se confundem com o dia-a-dia do serviço funerário no Brasil, assim como em
outros países. O setor funerário passou a contar com um serviço exclusivo na Internet, um
site criado para atender às necessidades da categoria, sendo um instrumento para debates de
assuntos polêmicos e canal de sugestões. O site se denomina como “o endereço eletrônico
dos empresários compromissados com a ética e profissionalismo”, sendo acessado pelo
endereço: http://www.funerarianet.com.br . Outro serviço disponível na web foi
desenvolvido pelo Sindicato das Empresas Funerárias e Congêneres na Prestação de
Serviços Similares do Estado de Minas Gerais (SINDINEF), com o intuito de fortalecer a
profissionalização do setor. Pode ser acessado pelo endereço: http://www.sindinef.com.br .
A preocupação e a busca do setor pela profissionalização vem crescendo, porém ainda
evidenciam-se fatos que contrastam com esta busca. Fatos estes que levam ao
questionamento quanto à necessidade de maior envolvimento dos governos e população no
que diz respeito ao controle e fiscalização dos serviços funerários, já que existem aqueles
que abusam de artifícios não éticos para conquistar seus clientes. Pode-se citar, por exemplo,
uma empresa funerária italiana que resolveu apelar para o sexo em suas propagandas, na
tentativa de tornar a morte mais sedutora enquanto comercial. Para isso, em seu site, a
funerária CISA, de Roma, apresentava algumas de suas urnas acompanhadas de modelos
nuas e seminuas e explicou que, usando mulheres “gostosas” para vender caixões busca

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introduzir um pouco de humor em um “assunto sério” (www.funerarianet.com.br, on-line).
Os exemplos de abusos e denúncias de práticas ilegais, entre outros aqui mencionados foram
apresentados em clippings no site do Funerarianet. Ainda que haja menções, daqui em
diante, de outros veículos de comunicação, a fonte para acesso aos mesmos foi o referido
site. Há denúncias de abusos de agentes funerários e de ilegalidades no sistema de concessão
de serviços funerários no município de São José (CBN/Diário, 09/03/2004). Estas denúncias
já haviam sido feitas pela RBS TV, canal de abrangência no sul do Brasil.
O Procurador da curadoria do consumidor instaurou procedimento administrativo
com o objetivo de investigar a prefeitura. O Procurador disse que nunca recebeu nenhuma
denúncia neste sentido e ressaltou que, ao contrário do que a lei municipal exige, não houve
divulgação junto aos consumidores a respeito do direito de escolha na hora da contratação
de serviços funerários. A promotoria confrontou as denúncias com a lei 8137/90 (de crimes
contra a ordem econômica), com o Código de Defesa do Consumidor e com a Constituição
Federal. Em 07/03/2004, a RBS TV exibiu uma reportagem comprovando a veracidade das
denúncias.
Apesar do trabalho que está sendo desenvolvido pela ABREDIF, algumas empresas
funerárias ainda estão distantes de exibir o compromisso com a ética e a responsabilidade
social. Funerárias de Curitiba, por exemplo, optaram por não cumprir o Código de Ética
Nacional do setor. Segundo a ABREDIF, as funerárias do Paraná foram convidadas para a
reunião de apresentação do seu código de ética em 25/02/1999, porém menos de dez
empresas de Curitiba compareceram e se filiaram. Um dos delegados regionais da
ABREDIF no Paraná, afirmou que as empresas de Curitiba não tiveram interesse em
participar talvez porque um dos itens do código de ética é que a preferência do cliente deve
ser obedecida, o que não ocorre em Curitiba (ESTADO DO PARANÁ, 15/08/2000 apud
FUNERARIANET).
O artigo 20 do CEARF estabelece que o contratante de um serviço funerário tem
direito à livre preferência. Em Curitiba, o Sindicato das Funerárias do Paraná (SESFEPAR)
mantém funcionários nos hospitais e no Instituto Médico Legal (IML) para orientar as
famílias nos procedimentos após o óbito. As 21 funerárias de Curitiba filiadas ao
SESFEPAR foram alvo de investigação criminal da Delegacia de Crimes contra a
Administração Pública e da Comissão Especial de Investigação (CEI) da Câmara Municipal,
por formação de cartel, formação de quadrilha e desrespeito ao Código de Defesa do
Consumidor. Uma das denúncias é de que as empresas não estariam permitindo a livre
escolha dos serviços pelo consumidor, que estava sendo obrigado a pagar pelos serviços da

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funerária de plantão. A ABREDIF advoga a necessidade do diretor funerário de possuir uma
carteira profissional, depois de passar por cursos, conhecer a legislação e assinar um termo
de compromisso para com o código de ética da Instituição, a qual é a única entidade nacional
que representa os interesses do setor funerário. (ESTADO DO PARANÁ, 15/08/2000 apud
FUNERARIANET). Também em Minas Gerais foram identificados alguns casos que
retratam a fragilidade do serviço funerário no estado. Segundo o clipping disponibilizado
pela FUNERARIANET (07/05/2002), a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que
investigava irregularidades na prestação de serviços funerários em Governador
Valadares/MG, pediu o indiciamento de um auxiliar de necropsia, responsabilizado por
prática de irregularidades administrativas, e de dois empresários, proprietários de funerárias,
os quais teriam confessado o exercício ilegal da medicina, tendo assumido terem feito
suturas e aplicado formol em cadáveres.
O relatório apresentado pela CPI, que foi instaurada em 03/09/2001, queria
responsabilizar também o Hospital São Lucas, onde teve origem a lista de pacientes
terminais encontrada em poder de “urubus” (agentes funerários que ficam na porta dos
hospitais). O auxiliar M. L., de acordo com a CPI, seria responsável pela cobrança de
aproximadamente R$ 600,00 (seiscentos reais) por serviços de embalsamento de corpo,
além de uma taxa de R$ 80,00 (oitenta reais), que seria cobrada das funerárias pela
Secretaria Municipal de Assistência Social, para liberação de cadáveres pelo IML. Já em
Belo Horizonte, segundo o jornal O Tempo (11/04/2002 apud FUNERARIANET), a CPI
da Câmara Municipal de Belo Horizonte, investigou denúncias de que estabelecimentos
estariam vendendo atestados de óbito para que os corpos não fossem levados para o IML,
agilizando assim o enterro. A denúncia foi feita pela Rádio Itatiaia que gravou entrevista
com um funcionário de funerária. Ele afirmou que o atestado era vendido por R$ 100,00
(cem reais) e era assinado por médico de uma maternidade da capital. “A prática de venda
de atestado de óbito por funerárias da capital pode ocultar ações criminosas, já que o médico
que examina a pessoa morta emite uma declaração sem poder garantir que não houve crime.
A necropsia do corpo pode ser o cerne de um inquérito policial e resultar na condenação de
alguém” afirmou o diretor do IML. Foi encaminhado por um vereador da capital um projeto
de Lei para a criação de um serviço de verificação de óbitos e também para regulamentar o
traslado de corpos na capital. O que decorreu deste projeto de lei? Também segundo O
Tempo (12/10/2004 apud FUNERARIANET), é possível ver grupos de agentes funerários
de plantão em frente ao IML, na Capital, abordando as pessoas no intuito de conseguir
clientes para as empresas nas quais trabalham. Uma das pessoas abordadas confirmou que

| Ética, Bioética e Biossegurança | 26


os agentes funerários cobraram pelo serviço o valor de R$ 480,00 (quatrocentos e oitenta
reais), mais R$ 300,00 (trezentos reais) para o pagamento das taxas da prefeitura e do
cemitério. Confirmou também ter sido assediado por telefone celular, sendo que somente
havia deixado seu número na ficha preenchida no IML. Segundo o abordado, ele se sentiu
constrangido e desrespeitado e para ele a ação dos agentes e da pessoa que teria passado
seus dados para a empresa fere os sentimentos dos familiares. Ainda segundo O Tempo,
algumas empresas de serviços funerários de Belo Horizonte mantém uma rede de
informantes que permite a seus agentes entrarem em contato com a família minutos após o
falecimento de uma pessoa.
A Gerência de Necrópoles da Prefeitura Municipal (GNPM) informou sobre a
tentativa constante de coibição das ações dos “urubus”. Uma das medidas tomadas foi a
imposição da normatização para o funcionamento das funerárias, fazendo com que a
quantidade dessas funerárias caísse de 98 para 28. A GNPM ainda lembra que para se
escolher funerárias idôneas e legais, consultas podem ser feitas através do site
www.genec.blogger.com.br . Quais são os fundamentos das funerárias idôneas e legais?
Qual o critério elas têm que obedecer para figurar no site? Como medida de combate à
atuação dos “urubus”, o SINDINEF declarou a colocação de placas nas empresas
credenciadas pela prefeitura com os seguintes dizeres: “Contrate uma empresa idônea”. O
Tempo ainda lembra que a única regulamentação para o setor funerário em Belo Horizonte,
data de agosto de 1944, quando Juscelino Kubitschek era o prefeito. Este documento prevê
a concessão exclusiva da exploração dos serviços funerários à Santa Casa de Misericórdia
que, para compensar o benefício, ficou responsabilizada pelo enterro de indigentes e pessoas
carentes. Um decreto municipal passou a exigir das demais funerárias a compra de caixões
e urnas exclusivamente da Santa Casa. Caso contrário, elas não receberiam autorização para
entrada em hospitais e cemitérios (O TEMPO... apud FUNERARIANET). No ano de 1994,
foi aprovada pela Câmara Municipal de Belo Horizonte, uma lei com o intuito de
regulamentar a atividade, acabando com a exclusividade da Santa Casa, porém ela foi
anulada devido a uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN). Segundo a Promotoria
de Fundações do Ministério Público, o contrato entre a Santa Casa e a prefeitura fere a lei
orgânica do município, que determina a realização de licitação para concessões públicas. Já
da parte da Santa Casa, foi afirmado que já não exerce mais a exclusividade devido a
algumas liminares adquiridas por outras funerárias na justiça. (O TEMPO... apud
FUNERARIANET).
As funerárias, segundo o Diário de São Paulo 22/09/2003 (apud

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FUNERARIANET), também estão sob a observação do Ministério da Saúde e da CPI dos
Planos de Saúde, pois têm oferecido irregularmente, por meio de seus planos assistenciais
funerários, descontos em consultas médicas e odontológicas, exames de laboratório e
remédios. Os associados ainda têm descontos em salão de cabeleireiro, lojas, restaurantes,
revendedoras de gás, auto-escola e muitos outros serviços. Os associados dos planos
funerários em todo o país têm o perfil parecido: baixa renda e pouca instrução. Para
aumentar o faturamento e conquistar clientes, as funerárias utilizam o cartão desconto,
burlando a legislação dos planos de saúde. Os donos dessas funerárias, segundo o Diário de
São Paulo, são os responsáveis pelo site www.funerarianet.com.br, o qual inclusive
orientaria os proprietários a diversificar os investimentos. Segundo o referido jornal, a
página da internet dá dicas de como escapar da fiscalização e afirma que muitos empresários
do setor se protegem das ações da Agência Nacional de Saúde (ANS), que tem multado e
notificado as funerárias. (Essa é uma crítica interessante porque faz parecer que o
funerarianet não atua no sentido de promover uma ação ética, conforme as atribuições das
funerárias) Por fim, verifica-se que até mesmo nos países chamados “desenvolvidos”, os
serviços funerários seguem orientações diferentes das ditadas pela lei.
Segundo a Agência Reuters - Internacional/USA (apud FUNERARIANET) em
dezembro de 2002, em Miami, a maior empresa funerária do mundo, situada na Flórida, foi
acusada em um processo judicial, de desenterrar cadáveres e jogá-los no mato para dar lugar
a novos enterros. As famílias entraram com uma ação contra a empresa Service Corporation
International (SCI), por violar túmulos e 11 destruir restos mortais. A SCI disse que as
alegações são totalmente contrárias à política e procedimentos da empresa e que lutavam
para cumprir seus deveres profissionais aderindo aos mais altos padrões de serviços e ética.
Entretanto, os noticiários dos vários canais de televisão do país mostraram o quão danosas
e antiéticas foram as ações da SCI, a qual buscava arranjar “vagas” no cemitério jogando os
corpos lá enterrados em um lago adjacente. As notícias deixavam as pessoas perplexas
diante da violação realizada.

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BIOSSEGURANÇA

A biossegurança compreende um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar,


mitigar ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam interferir ou comprometer a
qualidade de vida, a saúde humana e o meio ambiente. Desta forma, a biossegurança
caracteriza-se como estratégica e essencial para a pesquisa e o desenvolvimento sustentável
sendo de fundamental importância para avaliar e prevenir os possíveis efeitos adversos de
novas tecnologias à saúde.
As ações de biossegurança em saúde são primordiais para a promoção e manutenção
do bem-estar e proteção à vida. A evolução cada vez mais rápida do conhecimento científico
e tecnológico propicia condições favoráveis que possibilitam ações que colocam o Brasil
em patamares preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em relação à
biossegurança em saúde. No Brasil, a biossegurança começou a ser institucionalizada a

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partir da década de 80 quando o Brasil tomou parte do Programa de Treinamento
Internacional em Biossegurança ministrado pela OMS que teve como objetivo estabelecer
pontos focais na América Latina para o desenvolvimento do tema.
A partir daí, deu-se início a uma série de cursos, debates e implantação de medidas
para acompanhar os avanços tecnológicos em biossegurança. Em 1985, a FIOCRUZ
promoveu o primeiro curso de biossegurança no setor de saúde e passou a implementar
medidas de segurança como parte do processo de Boas Práticas em Laboratórios, que
desencadeou uma série de cursos sobre o tema. Foi também em 1995 que houve a publicação
da primeira Lei de Biossegurança, a Lei no 8.974, de 5 de janeiro de 1995, posteriormente
revogada pela Lei no 11.105, de 24 de março de 2005. Departamento do Complexo
Industrial e Inovação em Saúde (DECIIS) por meio da Coordenação Geral de Assuntos
Regulatórios realizou a Oficina de Biossegurança em Saúde, nos dias 15 e 16 de junho de
2009.
DESCONTAMINAÇÃO
a) Descontaminar todas as superfícies de trabalho diariamente utilizando álcool a
70%, ou hipoclorito de sódio a 0,1-1% (biologia molecular). Quando houver respingos ou
derramamentos observar o processo de desinfecção específico para escolha e utilização do
agente desinfetante adequado.
b) Colocar todo o material potencialmente contaminado por agentes biológicos em
recipientes com tampa e a prova de vazamento, antes de removê-los do laboratório para
autoclavação.
c) Descontaminar por autoclavação ou por desinfecção química, todo o material
potencialmente contaminado por agentes biológicos, como: vidraria, equipamentos de
laboratório, etc.
d) Descontaminar todo equipamento antes de qualquer serviço de manutenção, de
acordo com o procedimento operacional padrão.
e) Colocar vidraria quebrada e pipetas descartáveis, após descontaminação, em caixa
com paredes rígidas para perfurocortantes, devidamente identificada, e descartada como
lixo comum.
EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL – EPI
São empregados para proteger o pessoal da área de saúde do contato com agentes
infecciosos, tóxicos ou corrosivos, calor excessivo, fogo e outros perigos. Também servem
para evitar a contaminação do material em experimento ou em produção. EPI,s (NR6
Portaria SIT nº194, de 07 de dezembro de 2010), afim de que a contenção exerça sua função

| Ética, Bioética e Biossegurança | 30


dentro do laboratório é imprescindível o conhecimento acerca do manuseio dos
equipamentos de proteção individual (EPI) e disponibilidade dos mesmos para a sua
utilização.
Esse equipamento de proteção trata-se de barreiras primárias que protegem a
integridade física e a saúde do profissional quanto o ambiente em que atua. A legislação
trabalhista prevê que é obrigação do trabalhador: usar e conservar os EPI’s e quem falhar
nestas obrigações poderá ser responsabilizado; assim como o empregador poderá responder
na área criminal ou cível, além de ser multado pelo Ministério do Trabalho. O funcionário
está sujeito a sanções trabalhistas podendo até ser demitido por justa causa.
LUVAS
As luvas devem ser usadas em atividades laboratoriais com riscos químicos, físicos
(cortes, calor, radiações) e biológicos. Fornecem proteção contra dermatites, queimaduras
químicas e térmicas, bem como as contaminações ocasionadas pela exposição repetida a
pequenas concentrações de numerosos compostos químicos.
ATENÇÃO: Enquanto estiver de luvas, o trabalhador não pode manusear maçanetas,
telefones fixos ou celulares, puxadores de armários e outros objetos de uso comum; NÃO
usar luvas fora da área de trabalho; LAVAR INSTRUMENTOS e superfícies de trabalho
SEMPRE usando luvas; NUNCA reutilizar as luvas descartáveis, DESCARTÁ-LAS de
forma segura.
As luvas devem ser resistentes, anatômicas, flexíveis, pouco permeáveis, oferecer
conforto e destreza ao usuário, além de serem compatíveis com o tipo de trabalho executado.
Podem ter cano longo ou curto, com ou sem palma antiderrapante; o interior pode ser liso
ou flocado com algodão. São confeccionadas com grande variedade de materiais, com
características e empregos diversos. A seleção deve se basear nas características, condições
e duração de uso das luvas e nos perigos inerentes ao trabalho, conforme os exemplos a
seguir:
a) Luvas de proteção para o manuseio de material biológico. Usar luvas de látex
SEMPRE que houver CHANCE DE CONTATO com sangue, fluídos do corpo, dejetos,
trabalho com microrganismos e animais de laboratório. Devem ser utilizadas luvas de látex
descartáveis estéreis (luvas cirúrgicas) ou não estéreis (luvas de procedimento). Para
pessoas alérgicas ao látex, utilizar luvas de PVC, vinil ou nitrila.
b) Luvas de proteção ao calor. Para os trabalhos que geram calor, é recomendável
o uso de luvas de tecido resistente ou revestida de material resistente ao calor. Em trabalhos
que envolvem altas temperaturas, são recomendáveis as luvas de tecido atóxico do tipo

| Ética, Bioética e Biossegurança | 31


kevlar (fibras de aramida e grafatex) resistentes a temperaturas de até 400°C.
c) Luvas de proteção ao frio. Para procedimentos que envolvem a manipulação de
objetos em baixa temperatura, utilizam-se luvas de náilon impermeabilizado ou de tecido
emborrachado com revestimento interno de fibras naturais ou sintéticas. Para o manuseio
de objetos em temperaturas inferiores a 15°C, são utilizadas luvas de lã.
d) Luvas de proteção para o manuseio de produtos químicos. Para a manipulação de
substâncias químicas devem ser utilizadas luvas de borracha natural, neoprene, PVC, PVA e
borracha de butadieno. A escolha do tipo de luva deve ser de acordo com o tipo de substância
química a ser manipulada (Quadro 1).

Jaleco ou avental
O jaleco fornece uma barreira ou proteção e reduz a oportunidade de transmissão de
microrganismos e contaminação química. Previne a contaminação das roupas, protegendo
a pele da exposição a sangue e fluidos corpóreos, salpicos e derramamentos de material
infectado. Deve ser de mangas longas, confeccionado em algodão ou fibra sintética (não
inflamável). O jaleco ou avental descartável deve ser resistente e impermeável.
NOTAS:
I - Uso OBRIGATÓRIO de jaleco nos laboratórios ou quando o funcionário estiver
em procedimento;
II - Jalecos NUNCA devem ser colocados no armário onde são guardados objetos
pessoais. Devem ser descontaminados antes de serem lavados;
III – Jalecos NÃO devem ser utilizados nas áreas administrativas, banheiros,

| Ética, Bioética e Biossegurança | 32


refeitórios e outras áreas comuns.
Protetores para a cabeça e face
a) Óculos de Proteção - Os óculos de proteção (ou de segurança) oferecem proteção
contra respingos de agentes corrosivos, irritações e outras lesões oculares decorrentes da
ação de produtos químicos, radiações e partículas sólidas. Os óculos devem proporcionar
visão transparente e sem distorções. Para trabalhos que envolvam a luz UV, é necessária,
além dos óculos de segurança, a proteção de toda a face com protetores faciais.
b) Protetor Facial - Equipamentos que protegem toda a face contra riscos de
impactos (partículas sólidas, quentes ou frias), substâncias nocivas (poeiras, líquidos,
vapores químicos e materiais biológicos) e radiações. São disponíveis em plásticos como
propionatos, acetatos e policarbonatos simples ou revestidos com metais para absorção de
radiações infravermelhas.
c) Máscaras de proteção - As máscaras de proteção são equipamentos de proteção
das vias aéreas (nariz e boca), confeccionados em tecido ou fibra sintética descartável,
utilizadas em situações de risco de formação de aerossóis e salpicos de material
potencialmente contaminado. As máscaras ou respiradores “bicos de pato” N95 ou PFF2
(95 e 94% de eficiência de filtração, respectivamente) possuem filtro eficiente para retenção
de partículas maiores que 0,3 μm, vapores tóxicos e contaminantes presentes na atmosfera
sob a forma de aerossóis, tais como o bacilo da tuberculose (Mycobacterium tuberculosis)
e outras doenças de transmissão aérea. Dessa forma, aumentam a proteção dos profissionais
manipuladores.
NOTA: Cuidados na utilização e preservação possibilitam a reutilização da máscara
N95/PFF2, tais como:
1- Não utilizar cosméticos (batons, maquiagens), pois os produtos
podem manchar e obstruir os filtros das máscaras, diminuindo a eficiência de
proteção;
2- 2- Não guardar em bolsos de jalecos, não dobrar, nem amassar.
Guardá-las sempre em local seco entre folhas de papel absorvente.
d) Máscaras de proteção respiratória - As máscaras de proteção respiratória são
necessárias quando se manipulam gases irritantes (cloreto de hidrogênio, dióxido de
enxofre, amônia, formaldeído), que produzem inflamações ao contato direto com tecidos –
pele, conjuntiva ocular e vias respiratórias. São usadas nas atividades que utilizam gases
anestésicos (éter) e solventes orgânicos que tem ação depressiva sobre o sistema nervoso
central e gases asfixiantes (hidrogênio, nitrogênio e dióxido de carbono) potencialmente

| Ética, Bioética e Biossegurança | 33


agressores ao cérebro.
Existem dois tipos de máscaras respiratórias: semifaciais e de proteção total.
As semifaciais são recomendadas para os casos em que a concentração dos vapores tóxicos
não ultrapasse a 10 vezes o limite de exposição, devendo ser acompanhadas do uso de óculos
de proteção. As máscaras de proteção total são utilizadas quando a concentração pode
atingir até 50 vezes o limite de exposição. As máscaras dispõem de filtros que protegem o
aparelho respiratório. Os filtros podem ser mecânicos (para proteção contra partículas
suspensas no ar), químicos (proteção contra gases e vapores orgânicos), ou combinados.
NOTA: O uso de máscara de proteção respiratória NÃO dispensa o uso da capela química
para manipulação de reagentes.
Outros equipamentos de proteção individual - Esses equipamentos deverão ser
utilizados dentro do laboratório de acordo com o procedimento e durante ele.
a) Toucas ou gorros: dependendo da atividade desenvolvida, devem ser utilizadas
toucas para proteger os cabelos de contaminação (aerossóis e respingos de líquidos) ou
evitar que os cabelos contaminem uma área estéril. As toucas são confeccionadas em
diferentes materiais, e devem permitir a oxigenação do couro cabeludo, podendo ser
reutilizáveis. Para isso, devem ser de material de fácil lavagem e desinfecção.
b) Botas ou calçados de segurança: Os trabalhadores com sandálias, calçados
abertos ou de pano estão sujeitos a acidentes e lesões nos pés. O calçado deve ser compatível
com o tipo de atividade. As botas de segurança devem ser resistentes à ação de agentes
químicos (ácidos e bases fortes) e proteger contra respingos e materiais que causam
queimaduras. Para trabalhos de limpeza, são indicadas botas de borracha de PVC. Em
emergências, como o derrame de líquidos ou qualquer material perigoso, o responsável pela
limpeza deve estar com os pés devidamente protegidos. Quando o piso é escorregadio, é
recomendável o uso de calçados com solado antiderrapante.
c) Pró-pés: sapatilhas esterilizadas confeccionadas em algodão (em geral) para áreas
estéreis, que podem ser reutilizadas conforme o tipo de material de sua confecção e a
atividade desenvolvida.
d) Dispositivos de pipetagem: peras, pipetadores automáticos, e outros dispositivos
de pipetagem também são considerados EPIs.
EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO COLETIVA - EPC São equipamentos que
possibilitam a proteção do pessoal do laboratório, do meio ambiente e da pesquisa
desenvolvida. São exemplos:
Cabines de Segurança Biológica – CSB As CSB constituem o principal meio de

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contenção e são utilizadas para proteger o profissional e o ambiente laboratorial dos
aerossóis ou borrifos infectantes, gerados a partir de procedimentos como centrifugação,
trituração, homogeneização, agitação vigorosa e misturas, durante a manipulação dos
materiais biológicos. Protegem também o produto que está sendo manipulado, evitando a
sua contaminação, com exceção da CSB classe I.
As CSB são providas de filtros de alta eficiência/HEPA. Alguns procedimentos para
uso e manutenção da CSB devem ser observados: a) As cabines deverão estar localizadas
longe da passagem de pessoas e das portas, para que não interrompam o fluxo de ar; b)
Evitar a circulação de ar, mantendo as portas e janelas fechadas; c) Evitar a circulação de
pessoas; d) Manter o sistema de filtro HEPA e a luz UV funcionando durante 15 a 20
minutos antes e após o uso; e) Descontaminar o interior da CSB com álcool a 70%; f)
Minimizar os movimentos para evitar a ruptura do fluxo laminar de ar, comprometendo a
segurança do trabalho; g) Não armazenar objetos no interior da CSB; h) Usar EPI adequados
às atividades; i) Não colocar na CSB caderno, lápis, caneta, borracha ou outro material
poluente; j) Organizar os materiais de modo que os itens limpos e contaminados não se
misturem; k) As cabines devem ser testadas e certificadas in situ no laboratório, no momento
da instalação, sempre que forem removidas ou uma vez ao ano.
Os sistemas de filtração das CSB são de acordo com o tipo de microrganismo ou
produto que vai ser manipulado em cada cabine. As CSB são classificadas em três tipos:
a) Classe I b) Classe II, subdivididas em A, B1, B2 e B3. c) Classe III A escolha de uma
CSB depende, em primeiro lugar, do tipo de proteção que se pretende obter: proteção do
produto ou ensaio, proteção pessoal contra microrganismos das Classes de risco 1 a 4,
proteção pessoal contra exposição a radionuclídeos e químicos tóxicos voláteis, ou uma
combinação destes:

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SEGURANÇA NO USO DE EQUIPAMENTOS E MATERIAIS - Os
equipamentos e materiais laboratoriais são fontes constantes de riscos físicos, que podem
ser enumerados dependendo dos equipamentos/materiais manuseados. Há também os riscos
físicos relacionados com as radiações ionizantes e não ionizantes, pressão anormal,
umidade, calor, ruídos, entre outros. Antes de iniciar o trabalho com um equipamento, as
instruções sobre sua a operação devem ser cuidadosamente observadas. Abaixo, algumas
recomendações gerais para evitar ou reduzir os riscos de acidentes no uso de equipamentos
elétricos, seguido da explanação sobre a segurança dos tipos de materiais e equipamentos
mais comuns utilizados em laboratórios:
- Os equipamentos elétricos somente devem ser operados quando os fios, tomadas e
pinos, estiverem em perfeitas condições e o fio terra estiver ligado;
- Nunca ligar equipamentos elétricos sem antes verificar a voltagem correta (110 ou
220 V) entre o equipamento e o circuito;
- Não usar equipamento elétrico sem identificação de voltagem. Caso não haja,
solicitar que os responsáveis pela manutenção façam a identificação;

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- Remover frascos de produtos inflamáveis das proximidades do local onde são
usados equipamentos elétricos.
EQUIPAMENTOS E INSTRUMENTOS PERFURANTES
a) Proteger as mãos com luvas adequadas e, sem dúvida, tomar os devidos cuidados
na manipulação, nunca voltando o instrumento contra o próprio corpo.
b) Apoiar adequadamente em superfície firme antes de utilizar os instrumentos
perfurantes, ou prender em equipamentos adequados para cada tipo de uso.
Resíduos perfurocortantes são materiais como: • Lâminas de barbear • Agulhas •
Seringas com agulhas • Escalpes • Ampolas de vidro • Brocas • Limas endodônticas • Pontas
diamantadas • Lâminas de bisturi • Lancetas • Tubos capilares • Tubos de vidro com
amostras • Micropipetas • Lâminas e lamínulas • Espátulas • Ponteiras de pipetas
automáticas • Todos os utensílios de vidro quebrados no laboratório (pipetas, tubos de coleta
sanguínea e placas de petri) e outros similares.
• Todos os materiais, limpos ou contaminados por resíduo infectante deverão ser
acondicionados em recipientes com tampa, rígidos e resistentes à punctura, ruptura e
vazamento. Em geral, são utilizadas caixas tipo DESCARTEX, DESCARPACK.
NÃO REENCAPAR NEM DESACOPLAR AGULHAS DA SERINGA PARA
DESCARTE. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Rdc N° 306 De 07 de
Dezembro de 2004

BIOSSEGURANÇA EM LABORATÓRIOS DE BIOLOGIA MÉDICA


CLASSIFICAÇÃO DE RISCO DOS AGENTES BIOLÓGICOS O Ministério
da Saúde expediu a Portaria nº 1608/2007, que aprova a Classificação de risco dos agentes
biológicos, elaborada em 2004, atualizada em 2006 e 2010, pela Comissão de
Biossegurança em Saúde (CBS) do Ministério da Saúde. Os critérios de classificação
baseiam-se em: virulência, modo de transmissão, estabilidade do agente, concentração e
volume, origem do material potencialmente infeccioso, disponibilidade de medidas
profiláticas e de tratamento eficazes, dose infectante, tipo de ensaio e fatores referentes ao
trabalhador, dentre outros. Os agentes biológicos que afetam pessoas, animais e meio
ambiente são classificados conforme se segue:
- CLASSE DE RISCO 1: baixo risco individual e coletivo Inclui os agentes que
não provocam doenças em humanos ou animais adultos sadios.
Ex.: Lactobacillus spp, Lactococcus spp, Saccharomyces, Bacillus subtilis, Bacillus
polimyxa, cepas não patogênicas de E. coli, dentre outros.

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- CLASSE DE RISCO 2: moderado risco individual e limitado risco coletivo Inclui
os agentes que podem provocar infecções e/ou doenças no homem ou nos animais, cujo
potencial de propagação na comunidade e de disseminação no ambiente é limitado, além de
existirem medidas terapêuticas, além de existirem medidas terapêuticas e profiláticas
eficazes.
Ex.: Escherichia coli, Salmonella spp, Streptococcus spp, Staphylococcus
aureus,Treponema pallidum, Vibrio cholerae, Trypanosoma cruzi, Candida albicans,
Schistosoma mansoni, HTLV*, HIV*, Hepatites virais, vírus da Dengue, Zika, vírus da
Rubéola, Sarampo, Caxumba, Citomegalovírus, Herpes (HSV, HZV), Rotavírus, dentre
outros. * Podem ser de Classe 2 ou 3 a depender do procedimento laboratorial.
- CLASSE DE RISCO 3: alto risco individual e moderado risco coletivo Inclui os
agentes biológicos que se transmite por via respiratória e que causam patologias humanas
ou animais, potencialmente letais, para as quais existem usualmente medidas profiláticas e
terapêuticas eficazes. Representam risco se disseminados na comunidade e no ambiente,
podendo se propagar de pessoa a pessoa.
Ex.: Mycobacterium tuberculosis*, Bacillus anthracis, Coccidioides immitis,
Clostridium botulinum, Escherichia coli enterohemorrágica, Shigella dysenteriae,
Hantavírus, vírus da Febre Amarela, vírus da Chikungunya, Influenza A H5N1 e H1N1,
dentre outros.
- CLASSE DE RISCO 4: alto risco individual e coletivo Inclui os agentes
biológicos que causam infecções e/ou doenças graves ao homem ou animais, e representam
um sério risco para os profissionais de laboratórios e para a coletividade. São agentes
patogênicos altamente infecciosos, que se propagam com facilidade pela via respiratória ou
de transmissão desconhecida (geralmente vírus). Podem causar a morte, pois, atualmente,
não existem medidas profiláticas ou terapêuticas eficazes. Ex.: Sabiá, Marburg, Ebola,
Varíola (major) Herpesvírus Simiae.
NÍVEIS DE BIOSSEGURANÇA
A avaliação do grau de risco, baseada na classificação dos agentes etiológicos, insere
cada laboratório em um nível de Biossegurança específico. As classes de risco biológico
dos microrganismos definem o grau de proteção ao pessoal do laboratório, ao meio ambiente
e à comunidade, e definem os Níveis de Biossegurança ou de contenção laboratorial,
denominados NB-1, NB-2, NB-3 e NB-4, em ordem crescente de risco. Tais níveis
consistem em combinações de práticas e técnicas laboratoriais, equipamentos de segurança
e instalações do laboratório, permitindo ao profissional exercer suas atividades com

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segurança.

ERGONOMIA EM LABORATÓRIOS Os riscos ergonômicos estão ligados à


execução e à organização de todos os tipos de tarefas. Por exemplo, a altura inadequada do
assento da cadeira, a distância insuficiente entre as pessoas numa seção, a monotonia do
trabalho, o isolamento do trabalhador, o treinamento inadequado ou inexistente etc.
A ergonomia ou engenharia humana é uma ciência relativamente recente que estuda
as relações entre homem e seu ambiente de trabalho. A Organização Internacional do
Trabalho (OIT) define a ergonomia como a "aplicação das ciências biológicas humanas
em conjunto com os recursos e técnicas da engenharia para alcançar o ajustamento
mútuo, ideal entre o homem e seu trabalho, e cujos resultados se medem em termos de
eficiência humana e bem-estar no trabalho". Os agentes ergonômicos podem gerar
distúrbios psicológicos e fisiológicos e provocar sérios danos à saúde do trabalhador porque
produzem alterações no organismo e no estado emocional, comprometendo sua
produtividade, saúde e segurança. Para evitar que esses agentes comprometam a atividade
é necessário adequar o homem às condições de trabalho do ponto de vista da praticidade,
do conforto físico e psíquico e do visual agradável.
Isso reduz a possibilidade da ocorrência de acidentes. Essa adequação pode ser
obtida por meio de melhores condições de higiene no local de trabalho, melhoria do
relacionamento entre as pessoas, modernização de máquinas e equipamentos, uso de
ferramentas adequadas, alterações no ritmo de tarefas, postura adequada, racionalização,
simplificação e diversificação do trabalho.
Os riscos ergonômicos e psicossociais no laboratório decorrem da organização e da
gestão do trabalho; podem ser apontados os esforços repetitivos, os turnos diferenciados de
trabalho e o controle rígido da produtividade. As medidas ergonômicas relacionadas com a
postura no ambiente de trabalho, assim como as soluções implementadas preventivamente,
são mais positivas, especialmente quando associadas à utilização de técnicas corretas no
processo de trabalho. Os agentes de risco ergonômico podem produzir alterações no
organismo e no estado emocional dos trabalhadores, comprometendo sua produtividade,
saúde e segurança.
O cansaço físico, as dores musculares, a hipertensão arterial, as alterações do sono,
as doenças nervosas, a taquicardia, a diabetes, algumas doenças do aparelho digestivo, como
a gastrite e a úlcera, a tensão, a ansiedade e problemas musculoesqueléticos são exemplos
dessas alterações. Os agentes de risco ergonômico não são facilmente identificados, uma

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vez que seus efeitos são menos visíveis. Apesar de todas as conseqüências que os agentes
de risco ergonômico podem acarretar para a saúde dos profissionais dos laboratórios, o
trabalho com atividades em laboratório é considerado pouco desgastante, sendo os
problemas de saúde detectados atribuídos a outras situações que não o trabalho.
Com o incremento de novas tecnologias, atividades técnicas como a pipetagem, que
utiliza o pipetador automático, podem contribuir para o risco do desenvolvimento da Lesão
por Esforço Repetitivo (LER). Alguns trabalhos com outros equipamentos, tais como o
microscópio, o micrótomo e os computadores, também podem gerar essas lesões. Vale
ressaltar que os movimentos se definem como repetitivos não apenas quando são
exatamente iguais, mas também quando são semelhantes e solicitam de forma mais ou
menos similar os mesmos músculos e nervos.
A norma regulamentadora nº 17 (NR 17) do Ministério do Trabalho e Emprego
estabelece parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às
características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de
conforto, segurança e desempenho eficiente. Na área laboratorial a NR 17 recomenda para
os trabalhos que exige a postura em pé a verificação da possibilidade de executar o trabalho
na posição sentada. Nesse caso, o posto de trabalho deve ser planejado ou adaptado para
essa postura. Recomenda também a colocação de assentos para descanso em locais onde os
trabalhadores possam utilizá-los durante as pausas.
Trabalhar bem próximo da bancada com o ângulo de conforto do tornozelo em torno
de 90º e sem inclinar a coluna para frente. Para o trabalho nos laboratórios que exigem a
postura sentada os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes
requisitos mínimos (Figura):
• Altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida.
• Característica de pouca ou nenhuma conformação do assento. • Borda frontal
arredondada.
• Encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteger a região lombar.
• Em geral, as atividades nas bancadas exigem pequenas contrações estáticas, em
função de os braços e antebraços ficarem suspensos por períodos prolongados, gerando
fadiga e desconforto nos membros superiores, no ombro e no pescoço. Uma forma
importante de minimizar esses efeitos é trabalhar com o antebraço apoiado sempre que
possível. Na posição sentada o ângulo entre as coxas e o tronco deve ficar em torno de
100°, procurando também evitar a inclinação do tronco para frente. Trabalhar sempre com
as articulações o mais próximo possível do neutro ou no ângulo de maior conforto.

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A NR 17 também recomenda as pausas compensatórias, de pelo menos cinco
minutos, a cada cinquenta minutos trabalhados, caminhar durante as pausas para melhorar
a circulação dos membros inferiores, ingerir água para minimizar a tendência à desidratação
gerada pela climatização artificial. A detecção precoce dos sintomas das disfunções
musculo-esqueléticas impede a instalação de quadros mais graves com incapacidade física.
Aos primeiros sinais e sintomas, deve-se procurar, imediatamente, ajuda e orientação nos
serviços de saúde do trabalhador e determinar se existem causas relacionadas com
inadequações no ambiente e no processo de trabalho.
PROCEDIMENTOS EM CASOS DE ACIDENTES
EXPOSIÇÃO A MATERIAL BIOLÓGICO
a) Lavar exaustivamente a área exposta com água e sabão/ soro fisiológico;
b) O profissional acidentado deve ser encaminhado para um serviço de saúde
especializado em ISTs. Seguir recomendação específica para imunização contra o tétano e
medidas de quimioprofilaxia para Hepatite B e HIV e acompanhamento sorológico para
Hepatite B / C / HIV;
c) A indicação de antirretrovirais deve ser baseada em avaliação criteriosa do risco
de transmissão do HIV em função do tipo de acidente ocorrido e a toxicidade das
medicações antirretrovirais. Quando indicada, a quimioprofilaxia deverá ser iniciada o mais
rápido possível, dentro de 1 a 2 horas após o acidente.
DERRAMAMENTO DE MATERIAL BIOLÓGICO NO LABORATÓRIO
a) Solicitar às outras pessoas que estiverem na sala para saírem imediatamente;
b) Utilizar luvas e jaleco, incluindo, se necessário, proteção para a face e os olhos;
c) Cobrir o local onde o material biológico está derramado com material absorvente
(papel toalha) para minimizar a área afetada e a produção de aerossóis;

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d) Derramar sobre o papel toalha hipoclorito de sódio 1 a 2% de cloro ativo (fenol a
5% para cultura de TB), de forma concêntrica iniciando pelo exterior da área de derrame e
avançando para o centro;
e) Deixar em repouso pelo menos 30 minutos para que o desinfetante exerça a sua
ação;
f) Retirar os materiais envolvidos no acidente, inclusive objetos cortantes utilizando
um apanhador ou um pedaço de cartão rígido para recolher o material e colocá-lo em um
recipiente resistente para descarte final; g) Limpar e desinfetar a área do derrame com gaze
ou algodão embebido em álcool etílico a 70%.
QUEBRA DE TUBOS NO INTERIOR DA CENTRÍFUGA
a) Interromper a operação; b) Manter a centrífuga fechada por pelo menos 30
minutos para que baixem os aerossóis; c) Remover e descartar os fragmentos de vidro em
condições seguras; d) Descontaminar a centrífuga, o rotor e as caçapas com desinfetante
adequado, conforme o item 13.2 e as instruções do fabricante no manual da centrífuga; e)
Utilizar, preferencialmente, caçapa de segurança e tubos de polipropileno com tampa
rosqueável, em substituição ao vidro.
QUEBRA DE TUBOS NO INTERIOR DE ESTUFAS BACTERIOLÓGICAS
a) Solicitar às pessoas que estiverem na sala para sair imediatamente;
b) Comunicar imediatamente ao supervisor do laboratório e ninguém deve entrar na
sala durante por pelo menos 1 hora;
c) Fixar na porta do laboratório um aviso indicando que a entrada é proibida,
constando o registro do horário que ocorreu o incidente;
d) Retornar ao local após 1 hora, utilizando EPIs apropriados (luvas, avental,
respirador e sapatos fechados);
e) Proceder à descontaminação com quantidades significativas e suficientes de
descontaminante químico que atuem, mas mantenha a integridade do equipamento. Poderão
ser utilizados álcool etílico a 70%, produtos fenólicos, ou hipoclorito de sódio 0,5 a 1% de
cloro ativo, desde que não cause danos ao equipamento;
f) Caso tenha bandejas ou estantes para tubos estas deverão ser retiradas,
descontaminadas e autoclavadas, se possível;
g) Remover os materiais contidos na estufa bacteriológica, desinfetando com álcool
a 70% ou desinfetante adequado e transferi-los para outra estufa;
h) Recolher os materiais contaminados não cortantes em um saco apropriado para a
autoclavação e os materiais cortantes em recipientes apropriados para serem descartados;

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i) Limpar as superfícies da incubadora com detergente neutro em concentração
recomendada pelo fabricante, seguido de desinfecção com solução de álcool a 70% ou outro
desinfetante recomendado.
PROCEDIMENTOS PARA A LIMPEZA
Qualquer derramamento de produto ou reagente deve ser limpo imediatamente,
usando se para isso os EPI e outros materiais necessários. Em caso de dúvida quanto à
toxicidade ou cuidados especiais em relação ao produto derramado, não efetuar qualquer
operação de remoção sem orientação adequada. Consultar a FISPQ.
DERRAMAMENTO DE PRODUTOS TÓXICOS, INFLAMÁVEIS OU
CORROSIVOS SOBRE O TRABALHADOR - Remover as roupas atingidas sob o
chuveiro, lavando a área do corpo afetada com água fria por 15 minutos ou enquanto
persistir dor ou ardência.
PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIOS - O Corpo de Bombeiros fornece
gratuitamente treinamentos teórico-práticos para servidores públicos sobre prevenção e
combate a incêndios. Acionar a chefia imediata ou chefe do Núcleo da Qualidade para
agendamento e formação de turma. É imprescindível que todos os servidores do LACEN/ES
estejam familiarizados com este tema.
PREVENÇÃO a) Verificar se os extintores estão carregados e as mangueiras em
condições; b) Comunicar qualquer situação perigosa à sua chefia e ao serviço de
manutenção; c) É proibido usar, sob qualquer pretexto, os equipamentos de proteção para
outros fins que não o de combate ao fogo; d) Conservar sempre em seus lugares os
equipamentos destinados a incêndio, com seus acessos limpos e desimpedidos; e)
Familiarizar-se com os extintores e outros equipamentos de combate a incêndio existentes
na edificação, sabendo: - Onde se encontram; - Como operá-los; - Para que classes de
incêndio eles servem. f) Não fumar, não produzir chamas ou centelhas em locais proibidos;
g) Observar e ter cuidado com aparelhos elétricos que esquentam muito em pouco tempo de
uso; h) Deixar que somente eletricistas façam reparos nas instalações elétricas; i) Guardar
os recipientes que contenham substâncias voláteis em lugares apropriados e devidamente
tampados; j) Guardar cada coisa em seu lugar. A ordem e a arrumação são fatores
importantes na prevenção de incêndios; k) Ao sair, desligar todo o sistema de iluminação,
bem como os aparelhos e os equipamentos elétricos em geral.
COMBATE A INCÊNDIOS A extinção de incêndio baseia-se na remoção de um
dos três elementos que compõem o triângulo do fogo (comburente, combustível e agente
ígneo). Partindo desse princípio, estabeleceu-se a técnica moderna de combate a incêndio,

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planejando-se o material necessário para tal fim e para a determinação dos agentes
extintores. Assim, a extinção de incêndio pode ser feita por:
a) Retirada do combustível quando possível;
b) Expulsão do oxigênio, por exemplo, quando o fogo é abafado;
c) Abaixamento de temperatura, por exemplo, quando o fogo é resfriado pela água.
NOTA: em instalações elétricas NUNCA USE extintores de água, espuma ou soda
– ácido; USE SOMENTE extintores de CO2 ou pó químico.
AGENTES EXTINTORES
a) Extintor de Incêndio:
A Base de Água: Utiliza o CO2 como propulsor. É usado em papel, tecido e
madeira. Não usar em eletricidade, líquidos inflamáveis, metais em ignição.
De CO2: Utiliza o CO2 como base. A força de seu jato é capaz de disseminar os
materiais incendiados. É usado em líquidos e gases inflamáveis, fogo de origem elétrica.
Não usar em metais alcalinos e papel.
De Pó Químico Seco: Usado em líquidos e gases inflamáveis, metais alcalinos, fogo
de origem elétrica. Só apaga fogo de superfície. De Espuma: Usado para líquidos
inflamáveis. Não usar para fogo causado por eletricidade.
De BCF: Utiliza o bromoclorofluormetano. É usado em líquidos inflamáveis,
incêndio de origem elétrica. Não utilizar em papel e madeira, pois só apaga fogo de
superfície. O ambiente precisa ser cuidadosamente ventilado após seu uso. De Pó de Grafite:
Único extintor adequado para incêndios da classe D. Qualquer outro tipo de extintor provoca
reações violentas.
b) Mangueira de Incêndio: São os condutores flexíveis utilizados para transportar
a água sob pressão, do seu ponto de tomada até o local onde deve ser utilizada para a
extinção dos incêndios. Modelo padrão, comprimento e localização são fornecidos pelo
Corpo de Bombeiros.
c) Hidrantes: Hidrantes externos estão localizados nas calçadas ligados ao sistema
de abastecimento de água da cidade e permitem abastecimento das viaturas de combate a
incêndio. No interior das organizações, encontramos hidrantes internos, estes contêm:
mangueiras, chaves de mangueiras e esguichos destinados ao combate a incêndio.

SIGLAS São usadas neste Manual as seguintes SIGLAS: ABNT – Associação


Brasileira de Normas Técnicas EPI – Equipamento de Proteção Individual EPC –
Equipamento de Proteção Coletiva FISPQ – Fichas de Informações de Segurança de

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Produto Químico HEPA – High Efficiency Particulate Air IATA – International Air
Transport Association ISO – International Organization for Standardization ISTs –
Infecções Sexualmente Transmissíveis LACEN/ES – Laboratório Central do Estado do
Espírito Santo MB – Manual de Biossegurança MQ – Manual da Qualidade MS –
Ministério da Saúde NBR – Norma Brasileira OCAI – Organizational Culture Assessment
Instrument OIT – Organização Internacional do Trabalho OSHA – Occupational Safety and
Health Administration – USA PFF2 – Peça facial filtrante nível 2 (eficiência mínima de
filtração de 94%). SGQ – Sistema de Gestão da Qualidade SO – Setor Organizacional.

máscara de proteção respiratória descartável tipo PFF2

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 Brasil. Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Diretrizes


Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina. Resolução CNE/
CES n. 4, Brasília (DF), 7 de novembro, 1-6; 2001.

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2, p. 10. Abril 2001.

 BARROS, J. M. C. Exercício legal da profissão. Revista CREF-SP. São Paulo,


ano 3, n. 4, p. 11. Julho 2002. BORGES, E.; MEDEIROS, C. Comprometimento e
ética profissional: um estudo de suas relações juntos aos contabilistas. R. Cont.
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