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RELATÓRIO PSICOLÓGICO

I - IDENTIFICAÇÃO
Relatores: Eliane Pelles Machado Amorim, Psicóloga CRP 09/1328, Professora
Orientadora do Estágio em Psicologia Jurídica da Universidade Paulista -
UNIP, e estagiários do 9º/10º Período do Curso de Psicologia.

Interessada: 4ª Vara de Família e Sucessões Comarca de Goiânia – GO.

Finalidade: Perícia Psicológica Familiar referente a:


Processo:
Requerente:
Requerido:

Período: Abril a dezembro de 2016

II - DESCRIÇÃO DA DEMANDA
Ciclana e Beltrana foram encaminhados para Perícia Psicológica em audiência
de instrução e julgamento que aconteceu em dezembro de 2015 na 4ª Vara de Família e
Sucessões Comarca de Goiânia- GO, para uma melhor compreensão quanto à
convivência entre Fulana, 13 anos, com sua mãe biológica Beltrana.
A adolescente está sob os cuidados dos avós paternos desde que tinha
aproximadamente 4 anos. O pai reside na Inglaterra há vários anos. Devido a
desentendimentos ocorridos entre a mãe biológica e os avós paternos, Fulana deixou de
ter convívio com Beltrana. Desde então, Beltrana vem tentando retomar a convivência
com a filha.
A perícia psicológica familiar realizada teve como aporte teórico a abordagem
sistêmica (pode alterar), através da qual, segundo Galera e Luis (2002), a família pode
ser vista como um sistema que é parte de um outro maior e composto de muitos
subsistemas. Ao mesmo tempo, a família é uma unidade que faz parte de um
suprassistema que é composto pelos vizinhos, organizações, igreja, instituições de
saúde, escola, etc. As fronteiras entre esses sistemas são definidas arbitrariamente e
ajudam a estabelecer quem está dentro e fora do sistema familiar e quais subsistemas e
suprassistemas são importantes para a família num determinado momento.

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E o psicólogo, ao entrar neste sistema, irá interagir com ele, podendo
desenvolver novos padrões de trocas e, consequentemente, novas estruturas e
possibilidades das pessoas se relacionarem.
Ademais, por meio da perspectiva sistêmica, o conflito interpessoal pode ser
compreendido em sua complexidade, a partir do desencontro entre pessoas que possuem
diferentes visões mediante uma mesma situação, sem que uma seja mais válida do que a
outra, abandonando a postura de se optar pela versão mais correta ou verdadeira,
substituindo-a pela multivisão do problema, onde são legitimadas todas as versões.

III – PROCEDIMENTO

Para a realização desta perícia psicológica, foram utilizadas 15 sessões, realizadas


da seguinte forma:
Entrevista Inicial com Beltrana (04/05/2016);
Entrevista Inicial com Ciclana (01/06/2016);
Entrevista Inicial com Fulana (02/06/2016);
Sessões individuais com Fulana (09 e 16/06/2016).
Recesso
Sessão Conjunta com avós paternos (14/09/2016);
Sessão Individual com Fulana (27/09/2016);
Sessão Individual com Beltrana (30/09/2016);
Sessão Conjunta com Fulana e Beltrana (04/10/2016);
Visita Domiciliar na casa de Beltrana (07/10/2016);
Visita Escolar (13/10/2016);
Visita Domiciliar na casa de Ciclana (18/10/2016);
Sessão Conjunta com Ciclana e Beltrana (26/10/2016);
Sessão de encerramento (devolutiva) com Beltrana (18/11/2016);
Sessão de encerramento (devolutiva) com Ciclana (23/11/2016);
Sessão de encerramento (devolutiva) com Fulana (23/11/2016)
Elaboração do relatório psicológico (dezembro/2016)

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IV – ANÁLISE

Em entrevista inicial com Beltrana, esta relatou sobre a morosidade do


processo judicial que se “arrasta” por mais de sete anos, e que por isso havia uma certa
desmotivação em participar da perícia. Relatou que desde os 4 anos de idade de Fulana,
não teve mais convívio com a filha, justificando que isso ocorreu devido a
acontecimentos que estava passando em sua vida naquele momento, mas que hoje se
arrepende pelo tempo perdido que não esteve com Fulana, quando esta foi morar com os
avós paternos.
Ciclana, em entrevista inicial, também mencionou sobre a demora do processo
judicial, e que a partir da ausência da mãe biológica, ela e o marido assumiram os
cuidados e responsabilidades perante Fulana, afirmando que a neta está feliz em seu
atual lar. Em um dado momento, Beltrana fez uma visita à filha antes de uma viagem e
posteriormente não compareceu mais. A avó trouxe alguns exemplos de situação em que
os conflitos dificultaram a comunicação entre ambas, em tudo que diz respeito à
adolescente.
Fulana, na entrevista inicial, demonstrou estar nervosa, ter o conhecimento do
motivo da perícia psicológica e disse estar cansada de tudo, fazendo referência a sua
genitora, que não esteve presente em momentos importantes de sua vida. A jovem
mantém contato com o pai, que mora fora na Inglaterra, por telefone e computador.
Informou que chegou a fazer uma visita à casa da mãe, mas não soube relatar nada
sobre isso. Fulana aparentemente ressentida, disse não ter interesse em reestabelecer
contato com Beltrana.
A Entrevista Inicial é caracterizada como semidirigida, pois o paciente tem
liberdade para expor seus problemas, começando por onde preferir e incluindo o que
desejar. O psicólogo deve saber qual é, em cada caso, o momento oportuno para manter
ou mudar sua atitude, levando-se em conta a necessidade de conhecer o paciente e
extrair da entrevista dados suficientes para formulação de hipóteses e planejamento dos
procedimentos seguintes. Os critérios gerais utilizados para interpretar a entrevista
inicial incluem o tipo de vínculo que o paciente estabelece com o psicólogo, a
transferência e a contratransferência, a classe de vínculo nas relações interpessoais, as
ansiedades predominantes, as condutas defensivas habituais, os aspectos patológicos e
adaptativos, o diagnóstico e o prognóstico (ARZENO; GARCIA, 1995).

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No segundo encontro com Fulana, foi realizada atividade de colagem como
forma de compreender a visão da jovem sobre sua situação atual e seu futuro, além de
buscar outras percepções acerca de sua realidade. Na atividade de colagem, Fulana
desenhou sua família, demonstrou ser bastante apegada à família paterna, fez referência
à comunicação que tem com o pai por telefone, explicou sua visão do amor, que ela
entende ser baseada no apoio e no entendimento, falou de seu futuro e expressou o seu
desejo de ter formação em medicina, tendo a presença de sua família neste momento.
De acordo com Lopes, Ferreira e Santiago (2013), a atividade de colagem é
proposta como um recurso a ser utilizado no processo psicoterapêutico de crianças e
adolescentes. Segundo eles, a colagem é qualquer desenho ou quadro feito grudando-se
ou prendendo-se materiais de qualquer espécie a um fundo plano, tal como um pedaço
de pano ou papel, a qual pode ser utilizada como experiência sensorial e também como
manifestação emocional.
Na sessão seguinte com a adolescente, foi feito um jogo lúdico, com a proposta
de deixar a jovem mais aberta em sua fala, interagir e expor seus sentimentos
interiorizados pelas suas vivências. Em certos momentos ela sorriu, quando percebemos
que estava mais descontraída. Ao final foi informada sobre os próximos encontros que
ocorreriam no 2º semestre, após o recesso do CPA – UNIP em julho.
Levando-se em consideração o jogo terapêutico e a entrevista lúdica, essas
ferramentas são uma forma diferente de acessar as emoções dos adolescentes. O papel
do psicólogo é de certa forma passivo e observador, ao mesmo tempo que promove uma
interação. Sua observação deve ser atenta na compreensão e formulação de hipóteses
sobre o problema do entrevistado, assim como na ação de efetuar perguntas para
esclarecer dúvidas sobre a brincadeira.( WERLANG, 2000)
No segundo semestre, retomamos os atendimentos em sessão conjunta com os
avós, momento em que o avô paterno de Fulana pôde apresentar sua percepção sobre os
acontecimentos relacionados ao processo. O avô mencionou que atualmente a neta
preenche um espaço que ficou pela ausência dos filhos. Os avós relataram que em
determinado momento do passado, tiveram uma boa convivência com Beltrana,
acolhendo-a em seu círculo familiar, mas que ela própria se afastou.
Em sessão de ‘preparação’ de Fulana para o atendimento conjunto com sua
mãe biológica Beltrana, foram feitos questionamentos acerca de suas expectativas com
relação ao processo e a perícia psicológica, ela disse que não tinha esperanças em
relação ao caso. Ao ser informada sobre a sessão conjunta com Beltrana, a jovem disse
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não querer, mas depois de explicado a ela os objetivos e a importância desse encontro, a
menina concordou em participar e ao final os avós foram chamados para serem também
informados desse encontro.
Em sessão de ‘preparação’ de Beltrana para sessão conjunta com Fulana,
também lhe foi questionado sobre as suas expectativas sobre o processo e a perícia
psicológica e ela informou esperar conviver novamente com a filha, por ela e suas duas
outras filhas sentirem falta. Beltrana ficou animada ao saber do encontro entre as duas,
mas acreditava que a filha poderia não comparecer.
Na sessão conjunta entre Fulana e Beltrana, a mãe biológica quis expor todos
os seus sentimentos de carinho, saudades e amor pela filha. Disse que as irmãs sentem
falta dela e que sempre buscou procurá-la. Fulana teve resistência ao escutar a mãe,
dizendo que não tinha nada a falar, mas se emocionou, dizendo ter raiva da situação.
Após Beltrana reafirmar todos os sentimentos por Fulana, ela reconheceu que sua
guarda deve ser dos avós paternos e que o interesse dela é a convivência com a filha. Ao
final, elas conseguiram estabelecer a possibilidade da reconstrução do vínculo e Fulana
passou o número de seu celular para a mãe.
Segundo Silva (2011), é relevante que a criança e adolescente que vivenciam
um processo litigioso entre seus responsáveis sejam escutados mediante seus conflitos,
mas também estimulados, quando possível, a externalizar seus sentimentos aos adultos,
já que eles provocam muito sofrimento. É necessário que compreendam que não se trata
de uma situação de confronto, mas de enfrentamento, para que possam seguir suas vidas
de forma prospectiva, colocando um ponto final no passado. Este foi o objetivo da
sessão conjunta entre mãe biológica e filha.
A visita domiciliar na residência de Beltrana foi realizada com o intuito de
compreender a dinâmica familiar em sua própria residência, a fim de que fosse obtida
uma visão sobre a relação da mãe biológica de Fulana com seus respectivos familiares.
Notou-se um bom relacionamento entre todos ali presentes, com afetividade e
respeito tanto no diálogo com quem visitava a casa quanto na comunicação entre os
mesmos, sendo que moram Beltrana, seu marido e a filha de três anos.
O ambiente em si era simples, no que se refere às instalações da casa quanto ao
quintal com os animais domésticos que nele habitavam. Após mostrar todos os
aposentos com toda a educação possível, mostrando ser um domicílio através do qual
pôde-se ter uma noção de que residem em um espaço adequado para se viver, relataram
sobre suas rotinas, Beltrana também comentou sobre o que sentiu ao experienciar o
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encontro com sua filha Fulana no CPA, com comentários de sua filha mais velha,
marido e a tia de Fulana, onde todos expuseram lembranças que possuíam da
adolescente e opiniões sobre todo o processo.
A definição de visita domiciliar reside no fato da mesma ser uma prática
exercida pelo profissional, que possui caráter investigativo ou também de atendimento,
que pode ser executada por apenas um profissional ou mais na localidade onde reside o
indivíduo, ou seja, no meio social ou familiar que é próprio deste (SOMER; MOURA,
2014).
Realizou-se a visita escolar com intuito de compreender aspectos que
contribuem a contextualização do processo de perícia psicológica. O local possui boa
estrutura, com jardim dos alunos, espaço arejado. A coordenadora informou que eles
acolhem os alunos e os trata com respeito e carinho, além do corpo docente ter total
dedicação por estes. Descreveu que Fulana é uma jovem participativa, inteligente,
dedicada, tranquila, centrada no ambiente escolar e não há reclamação sobre ela.
Em relação ao contato com a família de Fulana, a coordenadora diz que a avó
paterna é quem sempre participa de eventos e reuniões da escola e com a mãe nunca
teve contato. Quando lhe foi perguntado sobre a perícia psicológica, para saber se
Fulana trazia reflexos emocionais desta, ela disse que não demonstra nenhum
nervosismo ou ansiedade diante de tal situação.
Entende-se por escola uma instituição cujas funções são o ensino e a formação
dos alunos, tratando-se ao mesmo tempo de um espaço físico e de um campo relacional
que envolve professores, alunos, funcionários e direção. A escola se define por ser um
contexto no qual há um padrão de atividades, papéis sociais e relações interpessoais que
são experienciados por indivíduos em desenvolvimento. A visita à escola visa
compreender a forma como a família se relaciona com a escola da criança e/ou
adolescente e quais expectativas em relação ao papel esta deve cumprir
(CHIRINGHELLO, BORGES, 2013).
Na visita domiciliar na casa dos avós paternos de Fulana, foi percebido que
não existe campainha, dificultado que as pessoas que residem no local percebam quando
tem alguém chamando no portão da residência. Fulana mostrou toda a casa, sua avó
acompanhada por uma amiga da família se mostrou muito receptiva e falante, durante
todo o tempo. Apesar de seu quarto ser pequeno, a jovem tem na casa estrutura para
estudar e conforto para passar o dia a dia.

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Consideramos que a visita domiciliar proporciona o acesso ao espaço
residencial como um elemento a mais para a compreensão da dinâmica familiar, além de
revelar a experiência afetiva daqueles que o habitam. Para Lopes (2013), as percepções
do espaço não se restringem ao que vemos, incluem também o que despertam. O
ambiente familiar concretiza os papéis familiares e a organização das ocupações
cotidianas.
Em seguida, foi realizada a sessão conjunta entre Beltrana e Ciclana, a qual
teve seu objetivo explicitado como o de propiciar um diálogo entre as duas para que a
convivência entre Beltrana e Fulana fosse reconstruída, e ambas deixariam de manter
seus focos no passado e nos conflitos advindos deste e se colocariam com uma visão
prospectiva em prol do que beneficiasse Fulana.
O momento foi esclarecedor tanto para a mãe biológica quanto para a avó, que
tiveram falas semelhantes sobre os benefícios que a perícia psicológica estava
propiciando para ambas e se propuseram a tentar compreender uma o lado da outra, o
que se deu a partir de desabafos e argumentações e trocaram um extenso diálogo. Tal
conversação, por mais árdua que possa ter sido para ambas, resultou em um
entendimento para as duas, pois Beltrana agradeceu por todo o cuidado e carinho que
Ciclana tem com Fulana, e a avó por sua vez informou que as portas de sua casa sempre
estarão abertas para ela, tanto que foi marcada pelos peritos, como tarefa, uma visita de
Beltrana na casa onde Fulana vive, para que o primeiro passo em prol desta
reconstrução fosse dado.
Para Barbieri e Leão (2013), é possível verificar que conflito e vida são
intrínsecos, uma vez que caso se fale do conflito em si, estará a falar sobre vida. Em
todas as relações humanas e também em suas sociedades, o conflito torna-se existente,
partindo, portanto, da ideia de que nem todos estes conflitos são de caráter negativo. Há
conflitos que contribuem para que os sujeitos cresçam e se desenvolvam. E isto foi
percebido nesta história arrastada por tantos anos de sofrimento.
No atendimento posterior, Beltrana relatou que em sua visita a Fulana, na casa
de seus avós, compareceu levando as suas filhas e que a irmã mais velha pôde conversar
com Fulana e a mais nova pode conhecê-la. Tanto Beltrana como os avós paternos e
Fulana, em momentos separados, disseram que essa visita foi uma oportunidade de
todos terem entendimento sobre questões não resolvidas entre eles. Mencionaram que
foi uma visita tranquila.

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Os avós relataram que foi um processo muito longo, mas que entendem que
tudo tem seu tempo e o avô citou uma metáfora relacionada ao processo, dizendo que
assim como um tecido fino que é rasgado e novamente é costurado nunca mais voltará
a tomar a forma original, mas poderá haver remendos, a ideia de reconstrução do
convívio de Beltrana com Fulana também poderá ser remendada.
Beltrana, em sessão de encerramento, informou que na visita na casa dos avós
paternos, estes a receberam e suas filhas muito bem, que foi uma visita tranquila e
conversou com os mesmos. Fulana teve a oportunidade de conhecer a irmã mais nova e
de conversar com a irmã mais velha, ‘passando a limpo’ questões já vivenciadas.
Através dessa visita, Beltrana passou a acreditar numa possível reconstrução do
convívio com sua filha, que era algo que ela não tinha esperanças. Mas hoje se sente um
pouco mais aliviada e feliz por ter tido um pequeno momento com a filha.
No atendimento de encerramento com os avós, foi explicado inicialmente
como Fulana evoluiu, que ocorreram momentos desgastantes, mas com o objetivo de
que tudo pudesse caminhar para uma situação mais saudável. Os avós reconheceram o
quanto a jovem progrediu. O avô disse que é importante aprender a ouvir e respeitar a
visão de Fulana e que para acontecer uma reconstrução do contato dela com a mãe é
necessário também o auxílio dele e de Ciclana, por meio de incentivo. Os avós contaram
detalhes de como foi a visita feita por Beltrana, que inicialmente Fulana se mostrou
resistente, mas que foi uma oportunidade de esclarecimento e entendimento entre todos.
A sessão de encerramento realizada com Fulana teve início com o
questionamento para a mesma sobre a visita de Beltrana e suas irmãs em sua casa, logo
sendo respondida como sendo uma visita tranquila. Relatou que durante toda a visita
elas conversaram, colocando em dia todos os assuntos que definiam como pendentes.
Fulana mostrou-se mais comunicativa que em todas as sessões anteriores,
expondo seus sentimentos, expressando através da fala que tudo deve ocorrer de forma
gradativa, referindo-se à reconstrução do convívio com sua mãe biológica.
A entrevista devolutiva (encerramento) tem como propósito fundamental, o de
auxiliar o sujeito a compreender seus resultados, portanto fazendo-se possível a inclusão
de diferentes recursos que irão transcender a interlocução dos dados. Para tanto, pode
ser preciso uma quantidade maior que apenas um encontro, requerendo a presença do
grupo de apoio do indivíduo a ser entrevistado ou até mesmo através da solicitação
deste encaminhamento para um atendimento de cunho psicoterapêutico. Deve ser
lançado um cuidado especial às devolutivas das avaliações de caráter psicológico tanto
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de crianças quanto de adolescentes, situação em que os interesses são retratados pelos
responsáveis, o que leva a dizer que tais resultados que foram desejados são debatidos
de forma direta com os cuidadores, o que ocorre com pessoas que são inabilitadas de
responder por si mesmas. (SANTOS, 2014).
Ao iniciar o processo da perícia psicológica, buscamos passar um elo de
confiança entre nós estagiários e supervisora e a cliente Fulana, acolhendo-a, para que
assim pudesse criar formas de enfrentamento para conseguir lidar com todo o processo
vivenciado. Entendemos que, de acordo com sua idade que se encaixa na fase da
adolescência, caracterizando-se por alterações em diversos níveis como físico, mental,
social e emocional, comumente provocando conflitos e reposicionamento nas formas de
comportamento, destacando-se como marco a aquisição de competências para tomar
decisões e assumir deveres e papéis sociais, compreendemos a importância da
adolescente criar confiança e vínculo, pois só assim ela conseguiria expor a nós seus
conflitos internos que poderiam estar lhe prejudicando.
Avaliamos, por fim, que a situação da guarda de Fulana pelos avós deve ser
regulamentada judicialmente. Eles sempre cuidaram da neta, dando a ela carinho,
promovendo seus direitos e assumindo todos os deveres e responsabilidades
perante a lei, tornando-os assim os guardiões de fato, mas que há a possibilidade
da convivência entre a mãe biológica Beltrana e sua filha Fulana, sendo
reconstruída de forma gradativa. Este também é o entendimento de todos eles.

V – CONCLUSÃO

A partir de todo o processo pericial realizado, foi constatado que Fulana está
sob bons cuidados dos avós paternos, sentindo total confiança e segurança no ambiente
no qual vive e nas pessoas com as quais convive e que além destes, sua mãe biológica e
irmãs possuem grande afeto pela adolescente. Percebeu-se a transformação ocorrida na
família, quando todos compreenderam a importância de manter o pensamento
prospectivo, ou seja, deixar o passado no passado e começar uma nova história
atribuindo novos significados.
Percebemos que ficaram marcas na relação entre Fulana e Beltrana, que
incluem sentimentos que não podem ser resgatados, mas é possível que sejam
reconstruídos. Nós acreditamos em tal reconstrução, levando em consideração que
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esta convivência não seja imposta, mas que ocorra de forma natural, a partir do
entendimento que tão claramente foi alcançado ao fim da perícia psicológica.
Compreendemos também o quão importante foi Fulana expressar todos os
sentimentos que estavam guardados durante anos, colocar para fora tudo o que a
incomodava e expor seus pensamentos acerca do presente, frente a uma postura
extremamente madura para a própria idade, optando por focar na reconstrução do
convívio com sua mãe biológica de agora para frente, permanecendo sob a guarda
dos avós paternos.
A compreensão e colaboração de todos os envolvidos na perícia foi crucial para
o processo, quando a flexibilidade, apesar de todas as dificuldades, se fez aparecer para
todos, e cada um soube ouvir e ser ouvido, na condição de seguir em frente com o olhar
voltado para o agora e para o futuro, buscando superar as adversidades e conflitos.
Dentro deste novo caminho a ser percorrido, informamos a Fulana que se caso
necessitar de ajuda, sabe que certamente poderá contar com a psicoterapia individual na
mesma instituição, Centro de Psicologia Aplicada - UNIP, lembrando também que nos
colocamos a disposição para qualquer encaminhamento psicoterapêutico.
Sem mais para o momento, colocamo-nos à disposição para eventuais
esclarecimentos.
Respeitosamente,

Goiânia, 10 de dezembro de 2016.

_________________________________________________
Fulano de Tal
Estagiário de Psicologia Jurídica UNIP
RA: _________

_________________________________________________
Ciclano de Tal
Estagiário de Psicologia Jurídica UNIP
RA: _________

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_________________________________________________
Beltrano de Tal
Estagiário de Psicologia Jurídica UNIP
RA: _________

_________________________________________________
Eliane Pelles Machado Amorim
Psicóloga - CRP 09/1328
Professora Orientadora do Estágio em Psicologia Jurídica da UNIP
Mestre em Psicologia Clínica UNB
Doutoranda em Psicologia PUC GO

IV – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBIERI, C. M; LEÃO, T. M. S. O Papel do Psicólogo Jurídico na Mediação de


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GALERA, S. A. F; LUIS, M. A. V. Principais Conceitos da Abordagem Sistêmica em


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LOPES, L.C.P. Visita domiciliar. A dimensão psicológica do espaço habitado. In: Silvia
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