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Resumo: Depressão

O que é isso?
O termo Depressão pode significar um sintoma que faz parte de inúmeros
distúrbios emocionais sem ser exclusivo de nenhum deles, pode significar uma
síndrome traduzida por muitos e variáveis sintomas somáticos ou ainda, pode
significar uma doença, caracterizada por alterações afetivas.
O público está certo ao estranhar a constante e abusiva presença desta tal
Depressão em quase tudo que diz respeito aos transtornos emocionais, e os
psiquiatras não estão menos certos ao procurarem descobrir uma ponta de
Depressão em quase tudo que lhes aparece pela frente.
Do ponto de vista clínico, seria extremamente fácil e cômodo se a Depressão
fosse caracterizada, exclusivamente, por um rebaixamento do humor com
manifestação de tristeza, choro, abatimento moral, desinteresse, e tudo aquilo que
sabemos ter uma pessoa deprimida.
Fosse assim tão típico e característico, até o amigo íntimo, o vizinho ou o
dono da bar da esquina poderiam diagnosticá-la. A parte trabalhosa da psiquiatria está
no diagnóstico dos muitos casos de Depressão atípica, incaracterística ou mascarada,
bem como, perceber traços depressivos em outras patologias emocionais, como por
exemplo, nos casos de Pânico, Fobia, etc.
A sintomatologia depressiva é muito variada e diferente entre as diferentes
pessoas. Para entender melhor essa diversidade de sintomas depressivos, imagina-se
que, entre as pessoas, a Depressão seria como uma bebedeira geral, onde cada
pessoa alcoolizada ficasse de um jeito; uns alegres, outros tristes, irritados,
engraçados, dorminhocos, libertinos.. O que todos teriam em comum seria o fato de
estarem sob efeito do álcool, estariam todos tontos, com os reflexos diminuídos, etc.
Mas a atitude geral em resposta ao alcoolismo, cada um estaria de um jeito, de seu
jeito. Diante da Depressão também; cada personalidade se manifestará de uma
maneira.
A psicopatologia recomenda como válida a existência de três sintomas
depressivos básicos, os quais dão origem a variadíssimas manifestações de sintomas.
Essa tríade da Depressão seria:
1 - Sofrimento Moral,
2 - Inibição Global e,
3 - Estreitamento Vivencial.
Compete à sensibilidade do observador, relacionar um sentimento, um
comportamento, um pensamento ou sentimento, como a expressão individual de um
desses três sintomas básicos, como sendo a expressão pessoal e adequada da
personalidade de cada um diante da Depressão (veja mais sobre esses sintomas em
Afetividade, na seção Depressão)
Depressão com Ansiedade ou Ansiedade com Depressão?

Alguns deprimidos podem apresentar sintomas somáticos (físicos), juntamente


ou ao invés dos sintomas emocionais de tristeza, angústia, medo, etc. Esses sintomas
físicos podem ser, por exemplo, dores vagas e imprecisas, tonturas, cólicas, falta de
ar, e outras queixas de caracterização clínica complicada.
Para a personalidade estes pacientes somáticos, talvez seja mais fácil
comunicar sua aflição e desespero através dos órgãos que do discurso. Também em
crianças e adolescentes a Depressão pode se dissimular sob a forma de um humor
irritável ou rabugento, revoltado e irrequieto, ao invés da tristeza e abatimento.
Outras pessoas podem manifestar sua Depressão com irritabilidade
aumentada, como por exemplo, crises de raiva, explosividade, sentimentos
exagerados de frustração, tendência para responder a eventos com ataques de ira
ou culpando os outros.
Na Depressão também é muito freqüente um prejuízo no pensamento, na
concentração e na tomada de decisões. Os depressivos podem se queixar de
enfraquecimento da memória ou mostrar-se facilmente distraídos. A produtividade
ocupacional costuma estar também prejudicada, notadamente nas profissões
intelectualmente exigentes. Em crianças deprimidas pode haver uma queda abrupta
no rendimento escolar, como resultado da dificuldade de concentração.
Freqüentemente existem pensamentos sobre a morte nos quadros
depressivos. Trata-se, não apenas da ideação suicida típica mas, sobretudo, de
preferir estar morto a viver "desse jeito". Nos idosos as dificuldades de memória
podem ser a queixa principal, confundindo isso com os sinais iniciais de demência.
O quadro com prejuízo da memória e outros sinais que poderiam confundir
a Depressão com demência recebem o nome de Pseudodemência Depressiva.
Nestes casos, junto com a lentidão dos processos psíquicos, aparece também um
exagerado desinteresse, dando a falsa impressão de que a pessoa não está tendo
consciência absoluta da realidade. De fato, o idoso deprimido tem é um grande
desinteresse em lembrar fatos e em participar dos eventos cotidianos.
Para entender porque e como existem sintomas de Depressão atípica, temos
que falar da coexistência da Depressão com a ansiedade, sabendo que essa última
sim, é bastante produtora de sintomas somáticos.
Embora os atuais manuais de classificação de doenças mentais tratem
separadamente os quadros ansiosos dos depressivos, muitos autores têm se
preocupado em estabelecer relações entre esses dois estados psíquicos. Kendell
(1974), ao longo de cinco anos de observação, constatou que o diagnóstico de
Depressão passa para Ansiedade em 2% dos casos e, em sentido contrário, da
Ansiedade para a Depressão, em 24% dos casos. É assim que antigos quadros
ansiosos costumam evoluir no sentido da Depressão (Roth, 1972 e 1982). Lesse (1982)
sustenta ainda a idéia da evolução do estresse para Ansiedade e, em seguida, para
Depressão.
São muito conhecidos os sintomas depressivos em pacientes com transtornos
ansiosos, como aqueles observados por Fawcet (1983), o qual encontrou sintomas de
Depressão em 65% dos ansiosos e Roth (1972), que detectou simultaneamente em
grande número de pacientes, irritabilidade, agorafobia, ansiedade, culpa e agitação. O
medo, por exemplo, seja com características fóbica ou não, reflete sempre grande
insegurança e pode aparecer tanto nos transtornos da ansiedade quanto nos
transtornos de natureza depressiva.
A associação da Depressão com crises de pânico foi encontrada, inicialmente,
em proporções que variavam de 64 a 44% dos casos (Clancy, 1979). O estudo de
Stavrakaki e Vargo (1986), reavaliando pesquisas dos últimos 15 anos, sugere três tipos
de reflexão sobre a questão Ansiedade versus Depressão:
1. Ansiedade e Depressão diferem qualitativamente;
2. Ansiedade e Depressão diferem quantitativamente e;
3. Ansiedade se associa à Depressão.
Atualmente tem-se enfatizado muito a teoria unitária, pela qual a Ansiedade e
a Depressão seriam duas modalidades sintomáticas da mesma afecção. As atuais
escalas internacionais de Hamilton para avaliação de Depressão e de Ansiedade, não
separaram nitidamente os dois tipos de manifestações. Outras escalas anteriores
também mostravam a mesma falta de clareza para diferenciação entre esses dois
quadros emocionais (Johnstone, 1986; Mendels, 1972).
A tendência unitária Ansiedade-Depressão se reforça ainda na eficácia do
tratamento com antidepressivos, tanto para quadros ansiosos, como é o caso do
Pânico, da Fobia Social, do Transtorno Obsessivo-Compulsivo e da Ansiedade
Generalizada, quanto para os casos de Depressão, com ou sem componente ansioso
importante.
O número de autores que não acreditam na Ansiedade e Depressão como
sendo a mesma coisa, aos quais nos juntamos, é maioria expressiva, entretanto, quase
todos reconhecem existir alguma coisa em comum nesses dois fenômenos.
Acreditamos, pois, na necessidade imperiosa de um antecedente de alteração
da afetividade, e de caráter depressivo, para que a ansiedade se manifeste
patologicamente. O mesmo requisito afetivo não se necessita para a ansiedade normal
e fisiológica. Talvez seja por isso que os quadros ansiosos respondem tão bem à
terapêutica antidepressiva.
Saber com certeza se a Ansiedade pode ser uma das causas de Depressão
ou se, ao contrário, a Ansiedade surgindo como conseqüência da Depressão ou,
ainda, se uma nova doença independente surge quando Ansiedade e Depressão
coexistem num mesmo paciente, tem sido uma questão aberta às pesquisas e
reflexões.
Strian e Klicpera (1984), há tempos consideraram que Depressão e Ansiedade
formavam um quadro comum. Clancy (1978), há mais tempo ainda, constatou que o
humor depressivo freqüentemente antecedia ao primeiro ataque de pânico. Existem
boas observações do transtorno ansioso aparecer em pessoas portadoras de caráter
predominantemente depressivo na personalidade (Lader, 1975), e alguns até
consideram o paciente ansioso como portador de um tipo de Depressão endógena
atípica (Salomon, 1978).
Ansiedade e Depressão também foram cogitadas como sendo aspectos
diferentes do mesmo transtorno afetivo por Downing e Rikels (1974), entendendo-se
os casos de pânico, fobia, obsessões e somatizações como sendo reflexo de sintomas
depressivos que se manifestariam atipicamente (Gersh e Fowles, 1979).
De fato, a insegurança típica do estado fóbico-ansioso pode ser melhor
entendida à luz de uma autopercepção pessimista e de uma representação
temerosa da realidade, ambos de conotação depressiva. Monedero (1973) considera
a angústia como um temor de algo que vai acontecer e a ansiedade como um temor
atual, caracterizado pela procura e impaciência apressada, enfatizando um
componente humor-congruente depressivo da ansiedade.
Há ainda autores que admitem a Depressão como uma complicação
freqüente dos transtornos ansiosos ou que os sintomas ansiosos seriam comuns nas
doenças depressivas primárias, aceitando o fato de pacientes com Depressão
Primária apresentarem estados ansiosos graves (Rodney, 1997; Cunningham, 1997). A
maioria dos autores, entretanto, afirma que pacientes com pânico primário, com
pânico complicado pela Depressão, com Depressão Primária complicada por pânico
ou com Depressão Primária só, oferecem sérias dificuldades para se diferenciar
nitidamente os estados ansiosos dos depressivos.
Uma terceira posição, há tempos cogitada, é a ansiosa-depressiva como
transtorno unitário e emancipado, quer da Ansiedade Generalizada, quer da
Depressão Maior (Stavrakaki, 1986). Esta postura unitária, diferente daquela que
considera ansiedade e Depressão como sendo faces de uma mesma doença,
também era sustentada por Paykel (1971) e por Downing e Rikels (1974). Schatzberg
(1983) diz que os pacientes com quadros mistos de Ansiedade e Depressão exigem
terapias diferentes dos grupos de pacientes que apresentam esses quadros
isoladamente. Observa que quando as duas síndromes coexistem a evolução é mais
crônica, a resposta é menor às terapias convencionais e o prognóstico é pior.

Hipotimia ou Depressão

Na Hipotimia (humor baixo) ou Depressão, verifica-se o aumento da resposta


e da sensibilidade para os sentimentos desagradáveis, podendo variar desde o simples
mal-estar, até o estupor melancólico, ou seja, uma apatia extrema por melancolia.
Esse estado de Hipotimia ou Depressão se caracteriza, essencialmente por
uma tristeza profunda, normalmente imotivada, que se acompanha de lentidão e
inibição de todos os processos psíquicos. Em suas formas leves a Depressão se
revela por um sentimento de mal-estar, de abatimento, de tristeza, de inutilidade e
de incapacidade para realizar qualquer atividade. Faz parte ainda dessa inibição a baixa
performance global, a lentidão e pobreza dos movimentos, a mímica apagada, a
linguagem lenta, monótona e as dificuldades pragmáticas.
Os pacientes hipotímicos estão dominados por um profundo sentimento de
tristeza imotivada. No doente deprimido, as percepções são acompanhadas de uma
tonalidade afetiva desagradável: tudo lhe parece negro. Os doentes perdem
completamente o interesse pela vida. Nada lhes interessa do presente nem do futuro
e, do passado, são rememorados apenas os acontecimentos desagradáveis. As
percepções são lentas, monótonas, descoloridas. Ao paciente parece que os
alimentos perderam o sabor habitual. Nos estados depressivos, as ilusões são mais
freqüentes do que as alucinações.
As idéias deliróides nos pacientes hipotímicos são comuns, expressando
geralmente idéias de culpa, de indignidade, ruína, pecado e de auto-acusação. O
pensamento é lento e o próprio ato de pensar é acompanhado de um sentimento
desagradável. O conteúdo do pensamento exprime motivações dolorosas. O paciente
é incapaz de livrar-se de suas idéias tristes pela simples ação de sua vontade ou dos
"pensamentos positivos", como se diz.
Os sintomas somáticos são bastante evidentes nos pacientes hipotímicos. Os
distúrbios vasomotores se traduzem em mãos frias, algumas vezes pálidas e
cianosadas, pela palidez dos lábios e hipotermia. São freqüentes os espasmos ou
dilatações vasculares, com conseqüente oscilação da pressão arterial. Os pacientes
deprimidos dão-nos a impressão de mais velhos.
As perturbações digestivas também são constantes, a língua pode se
apresentar saburrosa, há alterações do apetite, tanto com inapetência quanto com
hiperfagia e constipação intestinal. Os distúrbios circulatórios ocasionam um
sentimento subjetivo de opressão na região cardíaca, causando a chamada angústia
precordial.
Em determinados casos, sob a influência de fatores externos ou em
conseqüência de causas internas temporárias, a Depressão pode aumentar de modo
considerável, determinando um estado de excitação ansiosa. Quando o paciente, não
encontra solução para seu sofrimento costuma pensar no suicídio.
Estados depressivos, entretanto, não são monopólio do Transtorno
Depressivo Recorrente ou do Transtorno Afetivo Bipolar. Estados depressivos
também podem ser observados em todas as psicoses e neuroses. No Transtorno
Afetivo Bipolar, entretanto, a Depressão tem uma origem ligada a fatores afetivos
internos (sentimentos vitais), que escapam à compreensão do doente e de seus
familiares.
Nas Distimias, nas Reações Agudas ao Estresse e nas neuroses de modo geral,
a Depressão costuma ser mais reativa, isto é, mais psicogênica (mais anímica que
vital), originando-se de situações psicologicamente compreensíveis e de experiências
desagradáveis. A anormalidade do sentimento depressivo nesses quadros
psicogênicos está na intensidade e na duração desse afeto em comparação às
pessoas normais e não em sua qualidade, como acontece nos Transtornos Afetivos
Bipolares.

Tipos de Depressão; quanto a origem

A Depressão pode estar relacionada à tres tipos de situações:


1. - Situações Reais
2. - Situações Anímicas
3. - Situações Vitais
Os afetos depressivos podem aparecer como uma resposta a SITUAÇÕES
REAIS, como resposta afetiva do sujeito a alguma coisa acontecida de fato. Diante
dos efentos da vida o sujeito reage através de uma Reação Vivencial. Como se trata
de um sentimento depressivo, uma reação a fatos desagradáveis, aborrecedores,
frustrações e perdas, falamos em Reação Vivencial Depressiva.
Trata-se, neste caso, de uma resposta determinada por fatores vivenciais,
vindos "de fora do sujeito", por isso esse tipo de Depressão é também chamada de
Depressão Exógena, ou ainda Depressão Reativa, ou seja, em reação a alguma coisa
real e acontecida, à uma fonte exógena que pode ser causalmente relacionada àquela
reação.
Pessoas que se encontram depressivas durante uma fase de suas vidas, cuja
circunstância de vida é sofrível, seja como conseqüência de um fato traumático único,
seja como uma somatória de fatos estressantes, sem que possamos detectar um
temperamento depressivo prévio, provavelmente estarão apresentando uma
Depressão Reativa. Neste caso, a reação depressiva não pode ser tida como
decorrência de uma Tonalidade Afetiva Depressiva de Base, mas como uma resposta
emocional à uma circunstância de vida.
A Depressão pode aparecer ainda acompanhando ou aparentemente
motivada, por SITUAÇÕES ANÍMICAS (anímico vem de ânimo). Neste caso, certas
perspectivas futuras, certos anseios e objetivos de vida estão representados
intrapsiquicamente de maneira negativa em decorrência de um "estado de ânimo"
mais pessimista, mais rebaixado e depressivo.
Na Depressão favorecida por uma Situação Anímica há um sentimento
depressivo valorizando conjecturas irreais e imaginárias, de tal forma que o panorama
atual dos acontecimentos e a expectativa do porvir são funestamente valorizados.
Sofre-se por aquilo que não existe ainda ou, muito possivelmente, nem existirá. Um
exemplo disso é a Depressão experimentada diante da possibilidade da perda de um
emprego, ou da perspectiva de vir a sofrer de grave doença e assim por diante.
Pensa-se assim, sente-se assim quem tem uma situação de ânimo depressiva,
independentemente do que esteja acontecendo "de fato" na vida.
Evidentemente, não se trata aqui, de que tais perspectivas sombrias estejam
a alimentar a Depressão, mas muito pelo contrário, ou seja, é a Depressão quem
atribui um significado lúgubre às possibilidades e perspectivas futuras. Não se pode
acreditar que, neste caso, exista uma relação causal vivencial solidamente vinculada à
Depressão, pois, de qualquer forma, as situações referidas como alimentadoras da
Depressão não aconteceram ainda.
Em outros termos e de acordo com que se sabe sobre Reações Vivenciais
(veja em Alterações da Afetividade, na seção Psicopatologia), para justificar uma
reação presumivelmente normal, faltaria o elemento estressor, o qual existe apenas
na imaginação do paciente. Portanto, é lícito pensar já numa Depressão mais
profundamente arraigada no ser, a qual, embora atrelada à personalidade, utiliza os
elementos vivenciais apenas para ilustrar e nutrir uma "necessidade" de sofrimento.
Há, finalmente, casos de Depressão vindas de um temperamento
francamente depressivo, ou seja, no nível de SITUAÇÕES VITAIS. São, neste caso,
transtornos da afetividade constitucionais e emancipados dos fatores vivenciais. Isso
não impede que sejam desencadeados por vivências traumáticas. Trata-se de uma
Tonalidade Afetiva Básica rebaixada e, evidentemente, talhada à reagir sempre
depressivamente à vida.
Depois de estabelecido nesta pessoa o estado depressivo, ainda que,
desencadeado por fatores reais e externos à sua personalidade, tudo mais em sua
vida parecerá depressivo, até que saia desta fase afetiva. Assim sendo, poderá
também ser pessimista quanto à sua situação futura, portanto, depressivo quanto à
Situações Imaginárias.
As pessoas portadoras de Tonalidade Afetiva Depressiva de Base, por
constituição e temperamento, independente dos fatos vividos, sempre estarão
tingindo de negro suas perspectivas futuras, as influências do passado e as condições
vivenciais atuais. Nesse caso a Depressão é aquela anteriormente denominada,
Depressão Endógena.
A questão em se saber a natureza endógena ou exógena do estado
depressivo, hoje em dia, parece não despertar o mesmo interesse de antes. Os
indivíduos com características afetivas depressivas (anteriormente denominados de
depressivos endógenos) reagirão sempre aos estímulos da vida da forma consoante
ao seu afeto depressivo, portanto, dando-nos a falsa impressão de apresentarem
Depressão Reativa: a maioria dos eventos, para eles, terá uma conotação negativa.
Por outro lado, a clínica tem mostrado, com freqüência, determinadas vivências
bastante suportáveis para alguns, ocasionando, em outros, verdadeiras Reações
Depressivas. Isso nos sugere que tal Reação Depressiva não deve ser atribuída apenas
aos elementos vivenciais.
No fundo, tem sido tarefa muito penosa estabelecer a natureza da Depressão,
considerando o estado afetivo no qual o indivíduo se encontra no momento. Nestes
casos, recorremos quase sempre à personalidade prévia do paciente; se a tonalidade
afetiva era, anteriormente, depressiva, há possibilidade deste estado depressivo atual
ser de natureza endógena, mas mesmo assim, não será uma implicação obrigatória.
Outras vezes, também de acordo com exemplos cotidianos da prática clínica,
personalidades previamente bem adaptadas, sugerindo uma boa adequação afetiva,
poderão, apresentar fases de profunda Depressão sem motivação vivencial. Procura-
se, nestes casos de Depressão sem motivação ambiental, justifica-la como
decorrência da eventual somatória de vivências passadas. Certeza disso, entretanto,
ninguém pode ter.

Depressão - Tipos
Para utilidade do leitor leigo é importante saber que o paciente com Depressão
pode ser entendido de 2 maneiras: ou ele É deprimido ou ele ESTÁ deprimido.
Antigamente quendo a pessoa estava deprimida, isso é, estava com depressão
geralmente ocasionada por uma vivência traumática, dizia-se que ele tinha uma
Depressão Reativa, ou Exógena. Quando, ao contrário, o paciente era deprimido, ou
seja, já tinha tido outras crises depressivas anteriores, com ou sem motivo
desencadeante, dizia-se que tinha uma Depressão Endógena.
Hoje em dia a classificação das Depressões é mais sofisticada, sendo
minuciosamente abordada pelas duas classificações mais conhecidas; a Classificação
Internacional de Doenças, 10a. Revisão (CID.10) e o Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais 4ª revisão, da American Psychiatry Association (DSM.IV).
A Depressão, genericamente considerada, está classificada dentro dos
Transtornos Afetivos. Segundo a CID.10, Transtornos Afetivos são aqueles nos quais
a perturbação fundamental é uma alteração do humor ou afeto, como uma
Depressão (com ou sem ansiedade associada) ou uma Euforia. Esta alteração do
humor em geral se acompanha de uma modificação do nível global de atividade, e a
maioria dos episódios destes transtornos tendem a ser recorrentes e pode estar
relacionada com situações ou fatos estressantes.
O DSM.IV classifica a Depressão dentro dos Transtornos do Humor e também
baseia a classificação nos episódios depressivos. Na prática clínica sugerimos,
didaticamente, que a Depressão seja considerada de duas maneiras: Típica e Atípica.
As Depressões Típicas seriam aquelas que se apresentam através dos Episódios
Depressivos, consoante às classificações internacionais (DSM.IV e CID.10) e Depressões
Atípicas aquelas que se manifestam predominantemente através de sintomas
ansiosos (Pânico, Fobia . .) e somáticos.
Saber se um estado depressivo típico é Leve, Moderado ou Grave é apenas
uma questão da intensidade com a qual se apresentam os Episódios Depressivos.
Saber também se o momento depressivo é uma ocorrência única na vida da pessoa
ou, ao contrário, se ele se repete, dependerá da freqüência com que se apresentam
esses Episódios Depressivos.
Como se vê, o que define o tipo da Depressão são as características dos
Episódios Depressivos. Assim, para saber se a Depressão em pauta é simplesmente
um quadro depressivo ou se é uma fase depressiva do Transtorno Afetivo Bipolar,
é necessário saber se os Episódios Depressivos são uma ocorrência única no curso
da doença ou se coexistem com Episódios de Euforia.
Na Depressão, embora o juízo crítico esteja freqüentemente conservado, as
vivências do paciente são suportadas com grande sofrimento e com perspectivas
pessimistas. A interpretação da realidade assume caráter alterado, de acordo com a
intensidade da Depressão: poderá simplesmente se apresentar como idéias falsas,
nos casos mais leves ou, nos casos mais graves como delírio franco.
Na psicomotricidade do deprimido percebemos inibição geral das funções,
lentidão, pobreza da fala e dos movimentos, ombros caídos e andar com sacrifício,
desleixo nos cuidados com a higiene pessoal, abandono de si próprio. Nos casos mais
graves podemos ter posturas de negativismo, como se a pessoa estivesse numa
espécie de catatonia (apatia intensa e até paralisação psicomotora.
Alguns deprimidos podem salientar apenas sintomas somáticos (físicos) ao
invés de sentimentos de tristeza, como por exemplo, dores vagas e imprecisas,
tonturas, cólicas, falta de ar, e outras queixas somatomorfas. Para estes, talvez, seja
mais fácil comunicar sua aflição e desespero através dos órgãos que do discurso.
Também em crianças e adolescentes a depressão pode dissimular-se sob a forma
de um humor irritável ou rabugento, ao invés de triste e abatido.
Outros pacientes podem apresentar irritabilidade aumentada, como por
exemplo, crises de raiva, explosividade, sentimentos exagerados de frustração,
tendência para responder a eventos com ataques de ira ou culpando os outros. O
que encontramos mais freqüentemente nos distúrbios depressivos são sintomas
atrelados predominantemente à afetividade, normalmente sem severo prejuízo da
crítica.
A perda de interesse ou do prazer está quase sempre presente em algum
grau. Os pacientes podem relatar menor interesse por passatempos, não se
importam mais com coisas antes importantes, enfim, falta-lhes prazer para atividades
anteriormente consideradas agradáveis, incluindo a atividade sexual.
Aproximadamente 50% dos pacientes com Distúrbio Depressivo Maior têm
seu primeiro Episódio Depressivo antes dos 40 anos e a maioria destes surtos não
tratados duram de 6 a 13 meses. Tratados, a maioria dos episódios dura cerca de 3
meses.

Episódio Depressivo

Devido ao fato dos estados depressivos se acompanharem, com muita


assiduidade, de sintomas somáticos, a existência ou não destes sintomas faz parte da
classificação, assim como também a presença de sintomas psicóticos, como vimos
acima. Segundo a CID.10 a classificação dos Episódios Depressivos ficaria assim:
F32 - EPISÓDIO DEPRESSIVO
F32.0 - Episódio Depressivo Leve
F32.00 - Episódio Depressivo Leve sem Sintomas Somáticos
F32.01 - Episódio Depressivo Leve com Sintomas Somáticos
F32.1 - Episódio Depressivo Moderado
F32.10 - Episódio Depressivo Moderado sem Sintomas Somáticos
F32.11 - Episódio Depressivo Moderado com Sintomas Somáticos
F32.2 - Episódio Depressivo Grave sem Sintomas Psicóticos
F32.3 - Episódio Depressivo Grave com Sintomas Psicóticos
A pessoa pode, com 50% de chance, apresentar apenas um Episódio
Depressivo durante sua vida. Trata-se de uma ocorrência geralmente relacionado a
alguma vivência traumática ou a alguma condição médica geral, como por exemplo,
alterações da tiróide, estresse pós-cirúrgico, etc. Entretanto esse Episódio Depressivo
pode se repetir periódicamente, caracterizando assim o Transtorno Depressivo
Recorrente. Abaixo, figura ilustrando um Episódio Depressivo único.
Os Episódios Depressivos podem proporcionar perturbações do sono.
Comumente, esses problemas se manifestam sob a forma de insônia. A insônia da
Depressão costuma ser intermediária, caracterizada por despertar durante a noite
com dificuldade para voltar a dormir. No caso da insônia ser terminal há um despertar
muito cedo, com incapacidade de conciliar o sono novamente.
A insônia inicial, quando há dificuldade para adormecer, é a mais incomum na
Depressão pura (sem ansiedade). Menos freqüentemente alguns pacientes reagem
à depressão com sonolência excessiva (hipersonia), na forma de episódios
prolongados de sono noturno ou de sono durante o dia. Ocasionalmente a razão pela
qual o indivíduo busca tratamento pode ser esta perturbação do sono.
Muito marcante também é a apatia durante a crise depressiva. A diminuição
da energia física e mental é comum e se traduz por cansaço e fadiga crônicos, muitas
vezes responsáveis por inúmeros exames de sangue a que se submetem os
pacientes. O deprimido pode relatar fadiga persistente sem esforço físico compatível
e as tarefas mais leves parecem exigir mais esforço que o habitual.
Também pode haver diminuição na eficiência para realizar tarefas. A pessoa
deprimida pode queixar-se, por exemplo, de que as coisas levam o dobro do tempo
habitual para serem feitas.
Na Depressão também é muito freqüente um certo prejuízo na capacidade
de pensar, de concentrar-se ou de tomar decisões. Os depressivos podem se queixar
de enfraquecimento de memória ou mostrar-se facilmente distraídas.
A produtividade ocupacional costuma estar também prejudicada, notadamente
nas pessoas com atividades acadêmicas ou profissionais intelectualmente exigentes.
Em crianças deprimidas pode haver uma queda abrupta no rendimento escolar como
resultado da dificuldade de concentração.
Durante o Episódio Depressivo, freqüentemente existem pensamentos sobre
morte. Trata-se, não apenas da ideação suicida típica mas também da preferência
em estar morto ainda que não propositadamente. Em pessoas menos gravemente
deprimidas, tais pensamentos costumam ser uma crença de que seria preferível
estar morto à conviver com este sofrimento e, nos casos mais severos, pensamentos
recorrentes sobre cometer suicídio.
Nos idosos, as dificuldades de memória podem ser a queixa principal,
confundindo o diagnóstico com os sinais iniciais da demência. Este quadro de prejuízo
da memória e outros sinais que poderiam confundir a depressão com demência
recebe o nome de Pseudo Demência Depressiva.
Nestes casos, soma-se à lentidão dos processos psíquicos um exagerado
desinteresse, dando a falsa impressão de que a pessoa não está tendo consciência
absoluta da realidade. Na realidade, o que o idoso deprimido tem é um grande
desinteresse em lembrar fatos e em participar dos eventos cotidianos.
Uma porção significativa das mulheres relata uma piora dos sintomas
depressivos alguns dias antes do início do período menstrual. O sucesso do
tratamento da chamada Tensão Pré-Menstrual (TPM) com antidepressivos é hoje
um indício da labilidade afetivas de parte expressiva dessas pacientes.
A duração de um Episódio Depressivo Maior é variável. Quando não-tratado
o Episódio Depressivo costuma durar 6 meses ou mais, não importando a idade de
início. Na maioria dos casos, existe a remissão completa dos sintomas, retornando o
funcionamento ao nível normal, mas não sem severo sofrimento e/ou outros
prejuízos vivenciais.

Quadro 1 - Critérios DSM-IV para Episódio Depressivo Maior

A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o


mesmo período de 2 semanas e representam uma alteração a partir do
funcionamento anterior. Pelo menos um dos sintomas é:
(1) humor deprimido ou;
(2) perda do interesse ou prazer.
Nota: Não incluir sintomas nitidamente devidos a uma condição médica geral
ou alucinações ou delírios incongruentes com o humor.
(1) humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por
relato subjetivo (por ex., sente-se triste ou vazio) ou observação feita por outros
(por ex., chora muito).
Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável
(2) interesse ou prazer acentuadamente diminuídos por todas ou quase todas
as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicado por relato subjetivo
ou observação feita por outros)
(3) perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta (por ex., mais de
5% do peso corporal em 1 mês), ou diminuição ou aumento do apetite quase todos
os dias.
(4) insônia ou hipersonia quase todos os dias
(5) agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por
outros, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento)
(6) fadiga ou perda de energia quase todos os dias
(7) sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser
delirante), quase todos os dias (não meramente auto-recriminação ou culpa por estar
doente)
(8) capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase
todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outros)
(9) pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer),
ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano
específico para cometer suicídio
B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do
indivíduo.
C. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância
(por ex., droga de abuso ou medicamento) ou de uma condição médica geral (por
ex., hipotiroidismo).
D. Os sintomas não são melhor explicados por Luto, ou seja, após a perda de
um ente querido, os sintomas persistem por mais de 2 meses ou são caracterizados
por acentuado prejuízo funcional, preocupação mórbida com desvalia, ideação suicida,
sintomas psicóticos ou retardo psicomotor.

Transtorno Depressivo Recorrente

Com esse nome a CID.10 classifica os transtornos depressivos que se


caracterizam pela ocorrência repetida de Episódios Depressivos, correspondentes à
descrição do quadro acima. Os Episódios Depressivos aparecem periodicamente, por
exemplo, cada ano, cada dois anos.. Eles podem ser desencadeados por alguma
vivência traumática mas, via de regra, surgem sem uma causa vivencial aparente.
Esse transtorno pode, contudo, comportar breves episódios caracterizados
por um ligeiro aumento de humor e da atividade (hipomania), sucedendo
imediatamente a um Episódio Depressivo, e por vezes, podem ser precipitados por
um tratamento com medicamentos antidepressivos.
As formas mais graves do Transtorno Depressivo Recorrente apresentam
numerosos pontos comuns com os conceitos da fase depressiva de um transtorno
que era chamado, antigamente, de Psicose Maníaco-Depressiva (PMD), ou de
Melancolia, assim como de Depressão Vital ou Depressão Endógena por outros
autores. Assim sendo, repetindo apenas com finalidade didática, aquilo que a CID.10
chama de Transtorno Depressivo Recorrente Grave é sinônimo de Psicose Maníaco-
Depressiva (PMD) fase depressiva, Melancolia, Depressão Vital ou Depressão
Endógena.
O primeiro Episódio Depressivo do Transtorno Depressivo Recorrente pode
ocorrer em qualquer idade, da infância à senilidade, podendo ter um início agudo ou
insidioso, durando de algumas semanas a alguns meses. Depois do surgimento de um
segundo Episódio Depressivo, a chance de um terceiro é em torno de 90%,
caracterizando assim o Transtorno Depressivo Recorrente. Abaixo, esquema
ilustrando a sucessão de Episódios Depressivos, com ou sem vivências causadoras.
O risco de ocorrência de um episódio de euforia (maníaco) não pode jamais
ser completamente descartado em um paciente com um Transtorno Depressivo
Recorrente, qualquer que seja o número de Episódios Depressivos apresentados.
Entretanto, em caso de ocorrência de algum Episódio Maníaco em portadores de
Transtorno Depressivo Recorrente, autoriza a mudar o diagnóstico para Transtorno
Afetivo Bipolar. Abaixo esquema ilustrativo do Transtorno Afetivo Bipolar.

As classificações do Transtorno Depressivo Recorrente são:

Transtorno depressivo recorrente, episódio atual leve


Transtorno depressivo recorrente, episódio atual moderado
Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave sem sintomas
psicóticos Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave com sintomas
psicóticos
Transtorno depressivo recorrente, atualmente em remissão
Outros transtornos depressivos recorrentes
Transtorno depressivo recorrente sem especificação
A Depressão costuma estar junto com a maioria dos transtornos emocionais.
Ora a Depressão aparece como um sintoma de determinada doença, ora apenas
coexiste junto com outros estados emocionais, outras vezes aparece como causa
desses transtornos.
Para entender a Depressão "doença", devemos antes entender a Afetividade
e, em seguida os Transtornos Afetivos. Em muitas outras situações a Depressão se
encontra presente, às vezes de forma típica outras vezes dissimulada.

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