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Folha de Aprovação
Aprovado em ___/___/_______
Banca Examinadora
___________________________________________
Ecleide Cunico Furlanetto
Profa. Dra. em Educação-Currículo (UNICID)
___________________________________________
Sonia Regina Albano de Lima
Profa. Dra. em Comunicação Semiótica (UNESP)
___________________________________________
Lucila Maria Pesce de Oliveira
Profa. Dra. em Educação-Currículo (PUC)
___________________________________________
Ivani Catarina Arantes Fazenda
Profa. Dra.em Antropologia (USP)
3
Dedicatória
A Luiz Carlos, meu marido; Nilo, meu filho; e a meu pai, que
durante todo esse processo suportaram pacientemente tantas
ausências.
Agradecimentos
Agradecimentos
Sintonia
Resumo
Palavras-
Palavras-chave: Escuta Musical. Aprendizagem Integrada. Complexidade.
Transdisciplinaridade. Sentipensar.
8
Abstract
This study aims to investigate Sentipensar, that is, the way in which
feelings and well articulated thinking acquire a dimension which is capable
of contemplating the needs of a multidimensional human being’s broader
education.
of the whole began, and a little later, with the beginning of the scientific
revolution of the twentieth century - Relativity and Quantum Theory -
integrative systemic thinking was spread to all areas - from biological to
social, from the infinitely small to the infinitely large.
The theories underlying this research prepare the way for the
implementation of a new project: Complexity gives us the opportunity to
deal with paradox and incorporate it; Transdisciplinarity, through open logic
of the Included Third, guides the expansion of a look at the world and at the
individual. Sentipensar inserts these ideas in the educational environment.
All together, it leads us to the era of planetary consciousness.
Sumário
Introdução..
Introdução..............................
..................................................
......................................................................
.......................................................................
....................................................................
..............................................1
.................13
Mapa Conceitual (Revisão da Literatura)....
Literatura)..... ...........................................
...........................................
.... ........................................ ......................20
.....................20
1. O Problema de Pesquisa..............
Pesquisa...............
.............................................
........................................................................
...............................................................
..............................................25
....25
1.1 A trajetória: de algumas inquietações ao problema.......................................26
1.2 Objetivos da tese............................................................................................31
1.3 Justificativa.....................................................................................................32
1.4 Enquadramento teórico...................................................................................33
1.4.1 A Teoria da Complexidade de Edgar Morin............................................34
1.4.2 O Paradigma Educacional Eco-sistêmico de Maria Cândida Moraes.....35
1.4.3 Sentipensar - teoria e prática para reencantar a Educação...................37
1.4.4 A concepção de emoções e sentimentos de Antonio Damásio...............39
1.4.5 Basarab Nicolescu e a Transdisciplinaridade.........................................40
2. Metodologia....................................................................
Metodologia............................................................................
...............................................................................................................42
...........................................42
2.1 Abordagem da pesquisa...................................................................................43
2.2 Breve histórico da abordagem qualitativa.......................................................44
2.3 Um novo enfoque de pesquisa: A Metodologia de
Desenvolvimento Eco-sistêmico......................................................................48
2.3.1 Princípios filosóficos na metodologia de
Desenvolvimento Eco-sistêmico.............................................................51
2.3.2 Questões metodológicas na pesquisa de
Desenvolvimento Eco-sistêmico.............................................................54
2.3.3 Instrumentos de coleta de dados na pesquisa de
Abordagem Eco-sistêmica.......................................................................57
6. A Pesquisa de Campo........
Campo........................................
..................................................................
.........................................................................
...............................................
............................
.............1
.......164
6.1 Uma experiência de Sentipensar em sala de aula.........................................168
6.2 A disciplina Didática do Ensino Musical........................................................170
6.3 Perfil dos participantes..................................................................................173
6.4 Descrição da pesquisa....................................................................................176
6.4.1 A estratégia inicial de Escuta Musical..................................................178
6.4.2 Instrumentos de coleta de dados.........................................................181
Introdução
Ampulheta do Horizonte
Tatiana Clauzet
14
Cenário transdisciplinar
Fim de tarde. O universo parecia conspirar para que tudo fosse perfeito: o
azul profundo – do céu e do mar; uma brisa cálida, quase uma carícia – de
olhos fechados, eu poderia me sentir na intimidade da cozinha, com o forno
ligado preparando alguma coisa gostosa que em seguida eu comeria; a
temperatura era muito agradável, uma espécie de útero materno, azul,
envolvente; as crianças corriam, era o epílogo da brincadeira, a noite viria e
iríamos embora, talvez por isso brincassem ainda mais intensamente.
Dentro de mim havia alguma sombra indefinível, um certo não sei quê –
medo, dúvida, incerteza? – que se insinuava, turvando a perfeição do
momento. As crianças brincam com uma intensidade que somente elas
conseguem experimentar, eu pensava, enquanto percebia que o teatro de
meu corpo era diferente do grande teatro da natureza que estava em volta
de mim.
Num instante quase precipitado, fui até a beira da água – ela também estava
quase morna, deliciosa; pude sentir seu toque de forma prazerosa, nos pés.
Deitei-me. Abri e soltei braços e pernas. Fechei os olhos. No vai-e-vem
suave das pequenas ondas, pude sentir aquela mornidão tomar conta do meu
corpo, a sensorialidade se intensificou esvaziando a minha mente. Agora eu
vivia apenas para esperar a próxima carícia.
Abri os olhos. Eu estava no azul. Eu não podia ver mais nada, apenas o azul.
Minha visão periférica não percebia montanhas, pedras ou pessoas. De fato
não havia coisa ou objeto que eu pudesse ver. Até o limite só havia o azul;
percebi que o azul do mar se fundia com o azul do céu e, pouco a pouco,
algo se delineou – um contorno, redondo, ligeiramente fluorescente: as
bordas da Terra!!
Pude perceber que a Terra é redonda. Não, isso é muito pouco, pude sentir
com meu corpo que a Terra é redonda, e muito além disso; pude me dar
conta naquele momento que nada me separava da imensidão, minhas
partículas estavam vagando pelo cosmo e as dele estavam entrando em mim,
eu fazia parte de tudo aquilo... eu faço parte de tudo isso.
Naquele dia percebi, pela primeira vez, que eu estava à beira do oceano
cósmico, em contato direto e carnal com a imensidão do espaço infinito!!
Ouvi alguém ou alguma coisa, o que me fez sair do grande azul. Levantei-me
e, em princípio, foi como levitar; os pés mal sentiam o chão, sentia-me
expandida, como se não houvesse ninguém ou nada capaz de me deter.
15
1
Predomínio da técnica em detrimento da expressividade.
2
Concepção de mundo segundo a qual o cosmos e os seres humanos são máquinas dependentes de
mecanismos para seu funcionamento. Não há outra explicação possível, e nenhum sentido de
finalidade.
3
O reducionismo considera os fenômenos a partir de um ou alguns de seus aspectos, tomando-os
pelo todo, o que proporciona uma visão incompleta do objeto considerado.
16
4
A teoria quântica estuda o mundo infinitamente pequeno das partículas subatômicas e suas
propriedades. Será abordada com mais detalhes ao longo deste estudo.
5
A teoria dos sistemas estuda todos os seres, objetos e processos do ponto de vista da totalidade.
Ter uma concepção sistêmica de alguma coisa, significa ter uma visão global, integrada.
6
Do grego: auto = próprio, poiesis = criação; a palavra autopoiese significa autocriação. A Teoria é
de autoria de Humberto Maturana e Francisco Varela, e nos explica que todos os seres vivos são
autocriadores, no sentido de que, na interação com o ambiente, são capazes de renovar suas
estruturas continuamente, garantindo a manutenção da vida.
7
O Pensamento Eco-sistêmico, as teorias da Complexidade, da Transdisciplinaridade e do
Sentipensar serão abordados com mais detalhes no Enquadramento Teórico (Capítulo 1)
18
Mapa Conceitual
Brecha microfísica
(Quântica)
PARADIGMA PARADIGMA
MECANICISTA ECO-SISTÊMICO
Brecha macrofísica
(Relatividade)
Fragmentação Não-fragmentação
Mecanicismo Organicidade
Tecnicismo Expressividade
Reducionismo Abrangência
Causalidade Não-linearidade
COMPLEXIDADE TRANSDISCIPLINARIDADE
Abertura
Incorporação do paradoxo
Multidimensionalidade
Ética e valores
EDUCAÇÃO
SENTIPENSAR
Sentir
Criatividade
Emoção
Corpo
Pensar Agir
Reflexão Aprendizagem
ESCUTA Integrada
MUSICAL
21
Revisão da Literatura
Não sou um ser acadêmico. Isto é certo. Nunca projetei – como tantos
e tantas – minha entrada nesse mundo mais formalizado dos estudos.
Quando li pela primeira vez as normas da ABNT, senti a mesma sensação
descrita ao início – “um certo não sei quê – medo, dúvida, incerteza?”. O que
para tantas pessoas nada mais é do que uma necessidade, uma pequena
pedra a mais do caminho escolhido, para mim representava um enorme
desafio. No entanto, por ter sempre amado a escrita, salvei-me na jornada.
Escrevo um diário, escrevo confidências ao meu filho, escrevo enquanto
espero alguma coisa. E assim, o ato de escrever me inseriu no mundo
acadêmico.
8
Um macroconceito associa conceitos atômicos e simples - algumas vezes antagônicos - e os
articula de forma coerente, levando à compreensão de idéias ainda mais abrangentes.
23
1. O Problema de Pesquisa
9
Eminente compositor e pedagogo musical alemão, falecido em setembro de 2005, responsável pela
introdução, no Brasil, das correntes musicais vanguardistas do séc. XX, e pela formação de uma
geração de compositores brasileiros. Atuou no Brasil a partir de 1937.
28
10
Corrente filosófica que interpreta a ciência como único conhecimento possível e válido. Qualquer
outro tipo de conhecimento, como por exemplo o metafísico, não tem valor. O Positivismo foi uma das
doutrinas de sustentação do progresso industrial e teve bastante influência no Brasil. Seu principal
expoente é Augusto Compte.
29
11
Saturnino de la Torre é um eminente educador e catedrático em Criatividade, da Universidade de
Barcelona, reconhecido internacionalmente. Mantém ativo intercâmbio de idéias e projetos com o
Brasil, em colaboração com Maria Cândida Moraes, através da PUC de São Paulo e de outras
instituições.
12
Maria Cândida Moraes é professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e da
Universidade Católica de Brasília. Eminente pesquisadora brasileira, dedica-se ao estudo de teorias
importantes para a perspectiva de humanização do mundo acadêmico, dentre elas, a Teoria da
Complexidade, a Teoria da Autopoiese e a Teoria da Transdisciplinaridade. Tenho o privilégio de tê-
la como orientadora de meu trabalho de doutorado.
31
1.3 Justificativa
13
Um processo recursivo, segundo Morin (2005, p. 231), é aquele no qual “os estados ou efeitos
finais produzem os estados ou causas iniciais (...) processo pelo qual uma organização ativa produz os
elementos e efeitos que são necessários à sua própria geração ou existência”.
14
O Princípio da Incerteza consiste num enunciado da Mecânica Quântica, formulado inicialmente em
1927 por Werner Heisenberg. Constituindo mais um dos paradoxos da Física Quântica, esse princípio
constata a impossibilidade de medir com precisão e ao mesmo tempo, a posição e a velocidade de um
elétron, gerando grande incerteza quanto a seu comportamento.
15
O Princípio da Complementaridade, enunciado por Niels Bohr em 1928, assevera que a natureza da
matéria e da energia é dual – ondulatória e corpuscular. Estas naturezas não são contraditórias, mas
sim, complementares; daí, o nome do princípio. A percepção de onda ou corpúsculo, pelo observador,
depende do tipo de experiência realizada, por isso a ciência contemporânea assume a estreita
imbricação existente entre o pesquisador e o objeto pesquisado.
16
A Teoria das Estruturas Dissipativas, de autoria de Ilya Prigogine, explica como os processos
químicos estão sujeitos a um jogo de interações não-lineares, nos quais, os fluxos de matéria estão
sujeitos a flutuações, a assumir diferentes direções e organizar-se em diferentes configurações
dinâmicas, oferecendo belas metáforas para as incertezas nos processos humanos.
37
Finalizando este breve recorte, a autora nos lembra ainda que todas
as nossas ações são ações ecologizadas, ou seja, situam-se numa teia de
conexões, têm o poder de afetar os ambientes e pessoas que nos cercam,
da mesma maneira como somos por eles afetados. No viver cotidiano,
geramos campos vibracionais de interação. Compreender a Educação sob
esse olhar torna-se um ato de poesia.
17
Diálogos con el mar. Barcelona: Editorial Laertes, 2004.
18
Tradução da autora.
39
1.4.4
1.4.4 A concepção de emoções e sentimentos de Antonio Damásio
2. Metodologia
Janela Oriental
Tatiana Clauzet
43
2.2
2.2 Breve histórico da abordagem qualitativa
19
‘Perspectivas teórico-epistemológicas da complexidade e suas implicações na pesquisa
educacional’, de autoria de Maria Cândida Moraes e Armando Valente, a ser editado pela PAPIRUS,
2008.
45
20
‘Pesquisa qualitativa’, de autoria de Antonio Chizzotti, a ser editado (2003).
48
2.3
2.3 Um novo enfoque de pesquisa: A Metodologia de Desenvolvimento Eco-
Eco-
sistêmico
sistêmico
21
“Perspectivas teórico-epistemológicas da complexidade e suas implicações na pesquisa
educacional”, de autoria de Maria Cândida Moraes e Armando Valente, a ser editado pela PAPIRUS,
2008.
49
22
“Perspectivas teórico-epistemológicas da complexidade e suas implicações na pesquisa
educacional”, de autoria de Maria Cândida Moraes e Armando Valente, a ser editado pela Papirus,
2008.
51
23
“Ecologia dos saberes – Complexidade, Transdisciplinaridade e Educação”, de Maria Cândida
Moraes, a ser editado em 2008.
52
24
Segundo Morin, um processo recursivo é aquele no qual “os estados ou efeitos finais produzem os
estados iniciais ou as causas iniciais”, gerando uma dinâmica circular.
25
“Ecologia dos saberes – Complexidade, Transdisciplinaridade e Educação”, de Maria Cândida
Moraes, a ser editado em 2008.
26
Carta do Chefe Seattle. Disponível em: http://www.comitepaz.org.br/chefe_seattle.htm.
54
27
“Ecologia dos saberes – Complexidade, Transdisciplinaridade e Educação”, de Maria Cândida
Moraes, a ser editado em 2008.
55
28
Frase de Alfred Habdank Skarbek Korzybski (1879-1950) filósofo e cientista polonês que
desenvolveu uma teoria geral sobre a semântica.
56
29
Projeto “Escenarios y redes de aprendizaje integrado para una enseñanza de calidad” (ERAIEC)
elaborado por Maria Cândida Moraes e Saturnino de La Torre, e promovido pela Red Internacional de
Ecologia de los Saberes, em 2007.
57
2.3.3
2.3.3 Instrumentos de coleta de dados na pesquisa de abordagem Eco-
Eco-
sistêmica
30
“Ecologia dos saberes – Complexidade, Transdisciplinaridade e Educação”, de Maria Cândida
Moraes, a ser editado em 2008.
58
31
Fala dos autores em projeto elaborado para a Rede Internacional de Ecologia dos Saberes,
Barcelona, 2007.
59
3. A Complexidade:
omplexidade: um novo paradigma para reencantar a educação
Saber Cuidar
Tatiana Clauzet
61
O cenário
E o que dizer das bibliotecas e lojas nas quais era possível encontrar
tudo o que se quisesse e tão acessível...
Por outro lado, quem vive em São Paulo pode viver em qualquer
lugar, quem é brasileiro está preparado para o mundo (são meus
adágios preferidos), pois aqui nada nos é dado, e tudo deve ser
duramente construído, o que tornava a experiência do conservatório e
das bibliotecas francesas ainda mais fascinantes. Mas havia algo que,
sem dúvida alguma, somente um brasileiro poderia ter: criatividade a
toda prova; e mais que isso: poder de criação.
3.1
3.1 Um mundo fragmentário
3.1.1
3.1.1 Mas... O que é Complexidade?
senso comum ― aquele conjunto de idéias intuitivas que se tem sobre como
fazer alguma coisa ―, em geral, espontâneo e acrítico, é que torna tão difícil
32
O problema-chave da filosofia escolástica é harmonizar as esferas da fé e da razão. Seus maiores
representantes foram Sto. Agostinho (final do séc. IV) e São Tomás de Aquino (séc. XIII). Separados
no tempo e no espaço por quase um milênio, dão a justa medida do poder da Igreja durante todo o
período medieval, o que justifica plenamente a oposição que passa a sofrer, a partir do séc. XVI.
71
33
Essas leis foram apresentadas em seu livro intitulado Philosophiae Naturalis Principia Mathematica
e consistem nos seguintes enunciados: Primeira Lei ou princípio da inércia: Todo corpo continua em
seu estado de repouso ou de movimento uniforme em uma linha reta, a menos que seja forçado a
mudar aquele estado por forças imprimidas sobre ele. Segunda Lei ou princípio fundamental da
mecânica: A mudança de movimento é proporcional à força motora imprimida, e é produzida na
direção da linha reta na qual aquela força é imprimida. Terceira Lei ou lei de ação e reação: A toda
ação há sempre oposta uma reação igual, ou, as ações mútuas de dois corpos um sobre o outro são
sempre iguais e dirigidas a partes opostas.
72
34
Movimento filosófico da segunda metade do séc. XVIII – século das luzes, na França ― que
propunha a razão e a ciência como formas para a explicação de todos os campos da experiência
humana.
74
35
A lógica ternária é a lógica da Transdisciplinaridade; nela, os opostos se integram através de um
terceiro termo, o Terceiro Incluído, como exemplifica a própria temática desta tese: sentir, pensar,
conduz ao sentipensamento. É a lógica adequada para a análise de fenômenos complexos, pois
permite transcender e ir além do aparente.
76
G O Princípio Sistêmico-organizacional
G Princípio Retroativo
G Princípio Recursivo
G Princípio Hologramático
G Princípio Dialógico
organização
G Princípio da Auto-Eco-Organização
36
Esse trecho escrito por Morin (2005, p. 53), aclara o conceito de entropia: O segundo
princípio da Termodinâmica, formulado por Clausius, em 1850, estabelece a idéia de
degradação de energia, e introduz a idéia de entropia: Enquanto todas as formas de energia
podem se transformar integralmente uma na outra, a energia que toma a forma calorífica
não pode se reconverter inteiramente, perdendo então uma parte de sua aptidão para
efetuar um trabalho. Ora, toda transformação, todo trabalho libera calor, contribuindo para
esta degradação. Essa diminuição irreversível da aptidão de se transformar e de efetuar um
trabalho, própria do calor, foi denominada por Clausius de entropia.
84
A Educação, mais que qualquer outra área, tem que primar pela
formação do humano, por promover a transformação do pensamento e,
coerentemente, saber lidar com a diversidade de tipos humanos, garantindo
85
37
O Demônio de Laplace é um experimento mental concebido pelo físico Pierre Simon Laplace. Tal
personagem estaria apto, de posse de todas as variáveis que determinam o estado do Universo num
instante determinado, a prever o seu estado num instante futuro. Tal conceito só pode sustentar-se
num Universo regido por determinações mecânicas absolutas.
38
COVOLAN, Roberto J. M. Consciência Quântica ou Consciência Crítica? Disponível em:
www.comciencia.br/reportagens/fisica/fisica02.htm.
88
como teria sido o desenvolvimento da ciência sem essa cisão, como teriam
sido os cientistas, se formados numa concepção filosófica mais abrangente.
Foi uma perda ou um ganho de tempo? Não sabemos, com certeza; mas sim,
é certo, pode existir uma filosofia mais abrangente para a ciência, e aqueles
que a fazem não podem perder de vista o alcance do efeito de suas
descobertas; esse é um compromisso ético.
O sujeito está de volta e parece ter vindo para ficar, com todas as
suas incertezas, mitologias, sonhos, desejos, medos, subjetividades, razão,
91
39
A noosfera, segundo Morin é “a esfera das coisas do espírito”; na Transdisciplinaridade,
representa um nível de realidade possível. A noosfera é um espaço do ser interior, profundo
ancestral, sistematicamente negado pela ciência, no paradigma mecanicista.
92
Tecendo o Horizonte
Tatiana Clauzet
93
(...) ele sabia explicar, ele pedia a nossa opinião, assim, ele não
chegava na sala e apresentava o tema, só ele falando; não era só
expositivo, ele ia perguntando o que a gente sabia, alguma aluna ia
completando... aí ele fazia um resumão e explicava tudo.
Aluna - (...) uma matéria que eu estou tendo agora no terceiro ano
que eu adorei é Introdução à Psicopedagogia, muito bom, muito bom,
a professora trabalhou na auto-estima, tanto a auto-estima individual
como a coletiva...
Eu - a de vocês?
Aluna - a nossa...
Eu - Como ela fez isso?
Aluna - Ela começou com trabalhos assim... em grupos... no início do
ano, tudo o que ela fazia ela pedia para a gente redigir. (...) então ela
fez a dinâmica do nome... e a partir disso ela começou a tentar... a
tentar... a descobrir, né? A partir do nome, se a pessoa aceitava o
nome, porque que ela não aceitava, se ela queria mudar o nome, e
como que foi a infância dela e o nome, a adolescência dela e o nome,
depois de adulto e o nome... ela trabalhou muito bem, muito gostoso.
(...) aí a sala começou a se desenvolver melhor, tanto é que as aulas
dela são as mais produtivas: todo mundo participa, ninguém reclama...
Eu - por causa dessas dinâmicas...
Aluna - por causa das dinâmicas, (...) você se sentia à vontade nas
aulas. E a minha sala tinha muito problema de convivência, (...) eu
acho que eram vários líderes para um grupo só. Então, tinha muito
choque, todo mundo queria mandar, todo mundo queria falar na
mesma hora, então nós tivemos várias brigas. E, com o desenrolar
94
qualquer coisa, podia estar induzindo eles, se eles não tivessem uma
postura...
40
Segundo Damásio (2004), homeostase é um conjunto de processos fisiológicos de regulação da vida,
dos quais fazem parte o metabolismo, os reflexos básicos, as respostas imunitárias, os
comportamentos que expressam dor e prazer, pulsões, motivações e, ainda, as emoções, entre outros.
98
muitos outros ― corroboram o valor do solo emocional como base fértil para
41
Tradução da autora.
101
Por tudo o que foi dito, e por tudo o mais que poderia ser dito sobre
Sentipensar – pois, como seres inconclusos jamais conseguiremos abranger
o todo em qualquer aspecto –, é que sua filosofia se propõe a resgatar, para
42
Tradução da autora.
105
43
Tradução da autora.
106
4.3
4.3.1. Características metodológicas
metodológicas da aprendizagem integrada
44
Trecho final do diálogo imaginário entre Sentir, Pensar e Sentipensar, transformados em
protagonistas nesta criativa estratégia didática de Saturnino de la Torre.
107
externo (uma sala agradável, bonita, com iluminação adequada) ― “há uma
4.4.1
4.1 Circuitos integradores
integradores
Indivíduo sociedade
espécie
4.4.2
4.2 O Corpo como possibilidade de renovação da experiência humana
Na ilustração, observa-se o
hemisfério esquerdo do córtex
Parietal cerebral, e os quatro lobos
Frontal cerebrais: frontal, parietal,
temporal e occipital. O lobo frontal
Occipi
-tal relaciona-se ao planejamento de
Temporal ações futuras e controle do
movimento, desempenha funções
também no processamento da
música; o lobo parietal relaciona-se
à sensação somática; o lobo
occipital com a visão; o lobo
temporal, com a audição, e através
de suas estruturas profundas –
hipocampo e amígdala - com a
emoção, a memória e a
aprendizagem.
Estas ilustrações mostram regiões do córtex, de acordo com os tipos de corte que
perior) se pode efetuar, e os nomes utilizados para indicá-las. Ventromedial quer dizer
inferior e na região mediana (interna).
)
Dorsal
(superior)
Lateral medial lateral
Ventral
(inferior)
119
Giro do Cíngulo
Corpo caloso
Giro parahipocampal
Amígdala Hipocampo
120
4.5.1
4.5.1 Emoções e Sentimentos
4.5.
4.5.2
5.2 A cadeia emoção-
emoção-sentimento
49
O sistema nervoso autônomo se constitui de dois ramos: o ramo simpático que libera adrenalina e
noradrenalina, regulando as reações de “luta ou fuga”; e, o ramo parassimpático, que libera a
Acetilcolina promovendo relaxamento e calma. A ação dessas substâncias se inicia a partir do cérebro
emocional.
50
Neurotransmissores são substâncias químicas liberadas pelos neurônios que modulam a atividade
cerebral e o comportamento. Adrenalina e Noradrenalina, por exemplo, preparam o corpo para a luta;
a Acetilcolina tranqüiliza e faz o coração bater mais lentamente.
124
Desencadeamento da
emoção Sistema límbico: amígdala, cíngulo, córtex pré-frontal
Prosencéfalo basal
Execução da emoção Tronco cerebral
Hipotálamo
Imagens mentais
mentais Emergem dos mapas corporais de forma
ainda não elucidada
Reação
51
Conjunto de áreas cerebrais referentes ao processamento inicial de informação proveniente de um
dos sentidos .
52
São padrões potenciais (off line) de atividade neuronal, interconectando diferentes conjuntos de
neurônios que participam de determinado estímulo sensorial quando ativados.
53
São áreas associativas do cérebro que servem para associar a entrada de informação sensória à
resposta motora e efetuar os processos mentais que intervêm entre a entrada da informação sensória
e a saída de informação motora.
126
4.6
4.6 A Escuta Musical
4.6.
4.6.2
6.2 Como processamos os sons?
Córtex auditivo
Martelo
Nervo coclear
Pavilhão da orelha
Cóclea
Tímpano
Ilustração baseada no livro Princípios da
Neurociência de KANDEL, Eric R.;
SCHWARTZ, James H.; JESSELL,
2003.
129
4.6.3
4.6.3 De onde provêm a força emocional da música?
54
Tradução da autora
131
55
Tradução da autora.
132
4.6.
4.6.4 Benefícios neuropsicológicos da Escuta Musical
56
Tradução da autora.
57
Tradução da autora
133
58
Sinapse é o ponto no qual dois neurônios – célula nervosa – se comunicam através da transmissão
de sinais eletroquímicos. A célula que transmite o sinal é chamada pré-sináptica, a que o recebe,
pós-sináptica. É através de trilhões de sinapses organizadas em circuitos que se realiza todo o
processamento cerebral.
135
61
O eletromiograma é um exame no qual são registrados os impulsos elétricos provenientes dos
músculos, o que ajuda a determinar se eles estão normais.
138
4.7
4.7 Música e cognição
62
O primeiro estudo data de 1993, F. Rauscher, G. Shaw e K. Ky. Os pesquisadores se perguntavam
se uma breve exposição a certos tipos de música poderia incrementar habilidades cognitivas. Trinta e
seis estudantes de 2º grau foram divididos em três grupos, os quais passaram dez minutos numa das
seguintes condições: a) ouvindo a Sonata para Dois Pianos em Ré maior, de Mozart, K 448; b) ouvindo
uma gravação com instruções de relaxamento; e c) em silêncio. Imediatamente após, os grupos foram
testados em raciocínio espacio-temporal, utilizando uma das baterias do teste Stanford-Binet: depois
de observar uma folha de papel dobrada várias vezes e submetida a vários cortes com uma tesoura,
os estudantes deveriam predizer quais seriam os padrões formados no papel desdobrado. A pontuação
139
situação facilitada, como por exemplo, ocorre com a habilidade para andar
de bicicleta, aproveitada também para a prática do skate ou do esqui.
(WEINBERGER, 1999, p. 1). No caso do efeito Mozart, a transferência se dá
do domínio das estruturas musicais elaboradas para o domínio das
habilidades espacio-temporais. Os pesquisadores não conseguiram repetir o
experimento com sucesso e passaram a questionar sua validade, a partir de
perspectivas diversas: qualquer música de estrutura comparável à música de
Mozart poderia suscitar o efeito, pois música é um estímulo muito mais
poderoso para o cérebro do que as condições de controle (instruções de
relaxamento, silêncio ou música minimalista); diante de música de igual
interesse e com o mesmo grau de complexidade, o efeito simplesmente
desapareceu, como observado em diversos estudos (CHABRIS, 1999;
THOMPSON, 2001; WEINBERGER, 2000); as preferências musicais dos
sujeitos, como se viu, modelam seus parâmetros de reação, interferem na
performance cognitiva; assim, o efeito Mozart poderia ser nada mais do que
o efeito positivo do humor induzido pela música, na performance cognitiva
(BLOOD, ZATORRE, 2001; PANKSEPP, BERNATSKY, 2002; THOMPSON,
2001) Esses dados tornam-se importantes para esta pesquisa, pois através
das discussões anteriores, viu-se que a música tem a capacidade de induzir
tais estados positivos.
do grupo que ouviu Mozart foi significativamente superior ao dos outros dois grupos, no entanto, o
efeito era muito breve, não mais que dez a quinze minutos.
140
63
Tradução da autora.
141
64
Tradução da autora.
142
65
Citações traduzidas por esta autora.
145
5. Transdisciplinaridade:
ransdisciplinaridade: abertura do olhar sobre o mundo
Do alto do infinito
Tatiana Clauzet
146
Cenário Transdisciplinar
O olhar das pessoas era tranqüilo e por parte de várias delas havia
encantamento. Pude sentir ar de liberdade. O clima foi se tornando
mágico, estávamos todos conectados, pertencíamos todos àquele
ambiente. Havia algo mais entre as pessoas, algo que não se vê.
Havia uma energia compartilhada e unificadora que religou a todos.
66
Carta da Transdisciplinaridade – Artigo 5.
152
O tempo passou rápido naquela tarde, pois o tempo não é uma linha
que corre do passado para o futuro, mas sim, uma forma de sentir, uma
forma de perceber, uma dimensão.
humano tem que abrigar em seu interior para viver verdadeiramente este
espírito integrador.
67
É a esse conceito que Basarab se refere quando utiliza Realidade com letra maiúscula.
68
Sobre esse tema é interessante conhecer os experimentos de Alain Aspect que comprovaram a
não-separabilidade na Física, e também as Teorias das variáveis ocultas, uma delas é a de David
Bohm, que procura encontrar outros princípios, ainda não conhecidos, que possam explicar o efeito
da não-localidade.
155
Tudo isso quer dizer que a realidade é muito maior e mais complexa
do que nossos mapas, e que há ainda muito por compreender. Culturas
milenares, tanto quanto culturas primitivas que ainda existem entre nós,
incorporaram a conexão cósmica em suas religiões, crenças e rituais de
religação entre o homem e a natureza; seria o ‘fazer parte’ de algo global e,
de uma forma de comunicação especial e mágica, denominada “visão”; nossa
cultura, racionalista, avessa às coisas do espírito, abriu uma pequena brecha
para tudo isso através da parapsicologia que, sempre lutando para alcançar
credibilidade, dedicou-se a tentar explicar o inexplicável.
Essas teorias nos incitam a resgatar o antigo adágio ”há mais coisas
entre o céu e a terra do que possa supor nossa vã filosofia”. Daí a
pertinência dos níveis de realidade propostos pela transdisciplinaridade e a
necessidade de se fazer evoluir nossos níveis de percepção.
Técnica Sensibilidade
(A) (não-A)
Arte da performance
Técnica Sensibilidade
(A) (não-A)
(A) (não-A)
159
Regulação Percepção da
biológica regulação biológica
Por tudo isso, e por muito mais que isso, por tudo o que não sei se
perceberei um dia, a Escuta Musical é naturalmente transdisciplinar, tanto
quanto a experiência humana: rica, complexa e indescritível. A Escuta
Musical abre um canal direto para essas regiões desconhecidas onde reina
a magia, a beleza e o contágio emocional.
6. A Pesquisa
Pesquisa de Campo
Cenário transdisciplinar
69
Murray Schafer, importante educador musical e compositor canadense da atualidade.
167
70
Religare vem do latim "re-ligare", que significa "ligar com", “ligar novamente”, restabelecer a
ligação perdida com o mundo que nos cerca ou com o nosso interior. www.religare.org.br.
71
O estado primordial, primitivo do mundo é o Caos. Era, segundo os poetas, uma matéria que existia
desde tempos imemoriais, sob uma forma vaga, indefinível, indescritível, na qual se confundiam os
princípios de todos os seres particulares. Caos era ao mesmo tempo uma divindade, por assim dizer
rudimentar; capaz, porém, de fecundar. www.mundodosfilosofos.com.br/caos.htm.
169
72
Além do processo acelerado de superficialidade intelectual que parece acometer aos jovens, em
nossa época, no caso específico da música, a legislação contribuiu para impulsionar tal processo de
alienação, desarticulando o Ensino Médio de música (atual curso técnico) ministrado em
Conservatórios. Esse curso, antigamente exigido de forma tácita, para a entrada no curso superior de
música, deixou de sê-lo, com apoio legal, tornou-se equiparável ao antigo curso colegial, nos anos
80; muitos alunos, desobrigados de passar pelos conservatórios, numa rápida análise, decidiram-se a
aprender música na própria faculdade. Não é necessário dizer que o nível das faculdades de música
está em queda livre.
171
I Semestre
II Semestre
Jaques da Silva
PROFISSÃO: Músico
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL: Regente de coro, tecladista-pianista e
professor de música.
LOCAL DE TRABALHO: Colégio Nossa Senhora Aparecida (CONSA) em
Moema
IDADE: 38
PROJETO DE VIDA EM RELAÇÃO À MÚSICA: Estou desenvolvendo um
projeto de ensino de música através de teclados eletrônicos em aulas
coletivas que permita um aprendizado sério do instrumento e não um faz-
de-conta que transformou esse tipo de instrumento mais num brinquedo
(sem desmerecer a importância do brincar...). A proposta associa técnicas
específicas de dedilhado usadas por organista a técnicas de piano aplicáveis
aos teclados sensitivos.
Minha paixão é transformar poemas em canções - se pudesse viveria disso.
175
PROFISSÃO: Músico
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL: Trabalho como instrumentista em vários
estabelecimentos com música ao vivo na cidade de São Paulo. Sou
correpetidor de algumas cantoras como Alaíde Costa, Claudette Soares,
Patrícia Marx entre outras. Atuo na área educacional como professor de
piano popular no CLAM (Centro Livre de Aprendizagem Musical dirigida
pelo Zimbo Trio) e ministro aulas particulares.
LOCAL DE TRABALHO: Escola de música CLAM
IDADE: 42
PROJETO DE VIDA EM RELAÇÃO À MÚSICA:
Eu pretendo aplicar meus conhecimentos acadêmicos na minha vida
profissional. Gravei recentemente um CD com a cantora Claudette Soares
atuando como instrumentista, arranjador e orquestrador, este último
aplicando os conhecimentos fornecidos pela faculdade. Meus objetivos
seriam continuar meus estudos de composição, orquestração e tentar fazer
um mestrado e doutorado nos EUA no curso de música. Quem sabe possuir
uma própria big band de jazz.
PROFISSÃO: Músico
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL: Atuação como músico em turnês nos anos de
2000 a 2006 nos EUA, fazendo bailes de carnaval e chorinho; em estúdios
de gravação particulares em São Paulo (capital e interior), Rio de Janeiro e
Minas Gerais; free lance como músico intérprete e contratado para várias
bandas e artistas amadores e profissionais. Atuação como professor na
Escola de música Solar das Artes em Rio Claro e aulas particulares em São
Paulo e Rio Claro.
IDADE: 32 anos
PROJETO DE VIDA EM RELAÇÃO À MÚSICA: Continuar exercendo o que
faço atualmente.
176
PROFISSÃO: Professora
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL: Atuação como instrumentista e cantora em
grupo vocal, banda e orquestra. Professora de música.
LOCAL DE TRABALHO: Escola Waldorf Francisco de Assis
IDADE: 26 anos
PROJETO DE VIDA EM RELAÇÃO À MÚSICA: Desenvolver minha
musicalidade e capacidade de reflexão acerca da música. Enquanto
professora, contribuir para este processo nos meus alunos de maneira
interessante e prazerosa.
73
Entendo por escuta musical sensível um tipo de escuta intencional, na qual o indivíduo
tem por intenção entregar-se e ser tocado pela vibração sonora, vivendo a experiência
direta do sensível que desperta emoções e o imaginário.
177
O aspecto mais difícil nessa escolha foi, para mim, justamente o fato
74
Tradução da autora.
180
- Qualidade estética;
- Caráter encantatório ou plano – a maior parte das músicas utilizadas
tem esse caráter, decorrente das seguintes propriedades musicais:
andamento de moderado a lento, suavidade (em alguns casos,
substituída ou complementada pela diafaneidade), ausência de
contrastes, uniformidade do timbre, maior liberdade no uso do
parâmetro tempo; em todos os casos, a beleza das linhas melódicas,
ou uma qualidade temporal especial, torna-se crucial na avaliação
emocional da música;
- Duração entre três a sete minutos.
75
Tradução da autora
181
6.4.
6.4.2
4.2 Instrumentos de coleta de dados utilizados
G Observação participante
Teria sido ideal gravar tudo isso, porém, a profusão de dados seria
inadministrável; por essa razão, optei por participar totalmente do processo,
numa forma de imersão, e realizar as observações e reflexões escritas, logo
em seguida, no mesmo dia. No entanto, a riqueza das vivências era tão
grande que o papel não poderia dar conta de tudo isso, de tal maneira que a
G Rodas de conversa
G Questionário semi-estruturado
NOME:
PROFISSÃO:
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL (sintético):
186
LOCAL DE TRABALHO:
IDADE:
PROJETO DE VIDA EM RELAÇÃO À MÚSICA:
7. Análise
nálise dos dados
7.1
7.1 Categorias para análise
análise dos dados
76
Fala de Maria Cândida Moraes em reunião de orientação.
191
(...) uma coisa que eu gravei, eu falei que pra mim cantar com
criança é muito complicado, aí você (eu) falou: porque você vai
gastar tempo fazendo uma coisa que você não faz tão bem se
você pode fazer aquilo que você faz tão bem? (Jaques)
(...) íamos para a aula com vontade de estudar e não por que
ficaríamos sem nota. (Adriana)
No segundo dia de aula com esse grupo, um evento simples que relato
a seguir, proporcionou um insight maravilhoso para que os alunos iniciassem
os questionamentos sobre suas práticas:
77
Instrumento de plaquetas de madeira, tocados com duas baquetas e semelhantes a pequenas
marimbas.
78
O conceito de solo instrumental em pedagogia musical é muito elástico; não é tão parecido com o
que ocorre na improvisação em jazz, ou na música popular, por exemplo. Os solos que ocorrem em
contexto educacional são, antes de tudo, formas de exploração sonora do referido instrumento ou
fonte sonora; podemos falar, por exemplo, de um solo de pandeiro, ou de um solo de caixa de
fósforos; nessa situação o aluno tem que realmente utilizar todos os seus recursos criativos para
criar algo interessante e que faça sentido para ele e para os demais.
194
criativo ou emocional, e depois olhavam para mim com uma cara de “tudo
bem é isso aí, já fiz... e daí?”, e assim foi, com quase todos os alunos. Ao
chegar a minha vez, eu também tinha um xilofone; comecei a improvisar,
elaborando uns efeitos, tocando também a madeira lateral do instrumento, e
ainda escapando do instrumento e “tocando a mesa”, ou tocando o suporte
de metal de uma estante de partitura, e tudo isso ia se ligando às
possibilidades sonoras do xilofone; resultou num solo bem inusitado e
interessante.
Ao terminar, olhei para eles com a mesma expressão com a qual eles
tinham me olhado. Os alunos começaram a ter percepções interessantes: ”há
muito mais o que fazer com um instrumento”, “suas possibilidades podem
ser muito expandidas quando utilizados de forma não-convencional”,
“nenhum deles tinha pensado em fazer isso”, “a criatividade tinha sido muito
limitada”, e o melhor: perceberam que todas essas carências se
manifestavam também quando eles davam aula. Mais interessante que tudo
isso foi constatar que é possível mudar, é possível questionar o que se
entende por “dar aula de música” e por “solo instrumental”. Essa aula
prática promoveu uma verdadeira quebra de paradigma; não foi intencional,
e isso exemplifica o quanto esse processo foi rico em emergências.
Nesse dia, nossa vivência de Escuta Musical Sensível não versou sobre uma
música, mas sim, sobre a escuta do próprio ambiente, realizamos as etapas
iniciais (Reunião, Concentração, Alongamento, Relaxamento), em seguida,
nos sentamos e durante aproximadamente quatro minutos escutamos, de
olhos fechados, aos sons do ambiente. Essa escuta revelou-se tão musical
quanto a própria escuta de música; trata-se de uma outra perspectiva na
qual é possível atribuir status de música a tudo o que ocorre na sonosfera79
(FREGTMAN, 1989). Em seguida, os alunos, um por vez, deveriam dirigir-se
79
Nas palavras do autor da expressão: “Estamos imersos numa “sonosfera”. Esta, por si mesma,
acha-se implicada pela atmosfera terrestre, na qual o meio condutor (ar-água) e a vibração sonora
expansiva coincidem em suas origens e limites. Onde há ar há som. Onde há água há som. Onde há
vida há som.”
195
80
Pentagrama é o espaço utilizado para escrever música em partituras tradicionais, compõe-se de
cinco linhas e quatro espaços, todos utilizados na escrita musical (vide Anexo 8).
81
Vide Anexo 8.
82
Alturas são as diferentes freqüências do som, que vão do grave ao agudo. A unidade de medida de
freqüência é o Hertz (vibração/segundo).
197
uma máquina; por isso mesmo, é tão importante colocar algumas questões:
qual o sentido de nossas ações e, como educadores, qual o sentido de nossa
atuação na sociedade? Qual a medida de nossa contribuição? De que maneira
estamos contribuindo para aclarar as idéias do tempo presente? Talvez a
maior conquista para os sujeitos dessa pesquisa tenha sido a oportunidade
de se colocar tais questões, a cada dia.
83
Fala de Maria Cândida Moraes durante reunião de orientação.
199
84
Este parágrafo faz alusão à Teoria das Estruturas Dissipativas, de Ilya Prigogine, que, originada na
Química, se transfere aos fenômenos sociais possibilitando belas metáforas.
201
(...) aquela sala era como uma outra dimensão, onde éramos
inalcançáveis diante de uma energia intensa, tanto que, ao
final da aula, algumas pessoas eu lembro que comentaram
sobre o calor que estava no ambiente. (Matheus)
G A experiência do fluxo
85
Tradução da autora.
203
isso, mesmo não estando presente nas aulas, não tendo mais as
aulas. (Rodrigo)
7.4
7.4 Dialogicidade processual
David Servan-Schreiber
(...) como Paulo Freire fala, “vem, deposita, é isso, tchau”, não
é bem assim, então, eu acho que essa é a essência... (Rodrigo)
86
Fato relatado pela segunda esposa de Paulo Freire no segundo programa da série Paulo
Freire - o andarilho da utopia. RÁDIO NEDERLAND (Holanda) e CRIAR – Assessoria de
Comunicação de São Paulo. O Andarilho da Utopia. São Paulo: Estúdio Trilha Certa, 1998.
208
87
Carta da Transdisciplinaridade, Art. 13.
88
A escuta sensível de René Barbier e a escuta musical sensível, como a defino.
209
G A partilha do choro
Mas uma cena assim, que eu sempre falo pra todo mundo, foi
uma vez que você (eu) (...) colocou aquele CD do Paulo Freire,
aí ele estava falando da ditadura e você chorou (...) acho que
isso foi, isso pra mim foi f... (Giba)
89
Tradução da autora.
212
5. Transcendência
(...) o que me chamou a atenção (...) não temos outra aula que
faça relaxamento, é você buscar você mesmo, seu interior,
você não tem isso no dia a dia... (Rodrigo)
(...) poderia ter tido várias técnicas de... fazer pedagogia, mas
não foi assim, foi uma coisa mais profunda, (...) a gente foi
construindo com essas outras coisas mais profundas...
(Adriana)
um deus, por uma idéia...” (MORIN, 2002, p. 29). A noosfera ― esfera das
(...) aquela sala era como uma outra dimensão, onde éramos
inalcançáveis diante de uma energia intensa. (Matheus)
Matheus
Escuta........
Escuta concentração/entrega..... conteúdos...... aulas mais dinâmicas
Liebe
Escuta...................... sensibilização.......... influência positiva no aprendizado
Escuta
Jaques
Escuta/relaxamento.... sintonia.. focalização.. magnetização.. grupo receptivo
Escuta/relaxamento
à experiência de ouvir os colegas
Giba
Escuta....
Escuta presença da música...... concentração... clima/ambiente mais leves
Sujeito 5
Escuta......
Escuta auto-encontro....... paz interna.... influência nas atitudes, idéias e
comportamentos
comportamentos
Sujeito 6
Escuta....
Escuta sensibilização.... grupo.... desbloqueio......... exposição do próprio
processo de aprendizagem
Do alto do infinito
Tatiana Clauzet
223
CONCENTRAÇÃO
ENTREGA AULAS MAIS DINÂMICAS E
USUFRUIR DO CONTEÚDO PROVEITOSAS
SINTONIA
ASSENTAMENTO GRUPO RECEPTIVO À EXPERIÊNCIA DE
FOCALIZAÇÃO OUVIR OS COLEGAS
MAGNETIZAÇÃO
ESCUTA
MUSICAL CONCENTRAÇÃO CLIMA/AMBIENTE MAIS LEVES
PRESENÇA DA MÚSICA
AUTO-ENCONTRO INFLUÊNCIA
INFLUÊNCIA NAS ATITUDES,
ATITUDES,
PAZ INTERNA COMPORTAMENTOS E IDÉIAS DO SER
HUMANO
SENSIBILIZAÇÃO
PREPARAÇÃO EXPOSIÇÃO DO PRÓPRIO PROCESSO,
PROCESSO,
CONSTITUIÇÃO DO GRUPO SEM CONSTRANGIMENTO
90
Tradução da autora
225
Segunda conclusão:
conclusão: através da música acessamos sentimentos positivos
91
Tradução da autora.
226
92
Tradução da autora.
227
93
Tradução da autora.
228
94
Tradução da autora.
95
Tradução da autora.
96
Tradução da autora.
229
Com base na análise dos dados coletados junto aos sujeitos e nas
pesquisas que fundamentam tais dados, é possível concluir que, o
sentimento desencadeado pela E scuta M usical, efetivamente,
favorece a capacidade de reflexão.
Consideraçõ
Considerações
ções Finais
Cabe aqui lembrar, uma vez mais, aquilo a que Damásio denominou “o
erro de Descartes”, e concordar com ele quando diz que,
O esvaziamento da experiência
97
Perspectivas teórico-epistemológicas da complexidade e suas implicações na pesquisa educacional,
de autoria de Maria Cândida Moraes e Armando Valente, a ser editado pela Papirus, 2008.
234
98
A atitude natural consiste na convicção de que as coisas são como parecem ser, e que o mundo é
independente da mente e da cognição do indivíduo que o percebe.
236
Como podemos nos aproximar desse ser? O que a escola pode fazer
por ele? Com certeza pode fazer muito, desde que se abra para um
pensamento complexo e transdisciplinar, e que, por coerência metodológica,
adapte seus métodos e estratégias a essa nova necessidade.
99
Sobre esse assunto é imprescindível conhecer o maravilhoso livro de Ashley Montagu TOCAR – o
significado humano da pele, indicado na bibliografia.
100
Vale a pena conhecer o importante trabalho que vem sendo realizado pela R. Y. E. – Recherche de
Yoga dans l’Education, na França, sob a coordenação de Micheline Flak, com extensões em toda a
América Latina; no Brasil, através da Universidade Federal de Santa Catarina. Este movimento
trabalha com a proposta de inserir exercícios simples de Yoga no espaço convencional da sala de
aula, com resultados mais do que compensadores. Vide sites: http://rye.free.fr;
www.ced.ufsc.br/yoga/cadernos.htm.
239
Epílogo
A árvore sonhadora
Tatiana Clauzet
242
Estória da Estrelinha
Referências Bibliográficas
ANEXOS
1. Murray Schafer – Miniwanka – obra vocal para coro misto a quatro vozes.
2. Murray Schafer – Snowforms – obra vocal para coro misto a quatro vozes.
3. Cantos Tradicionais Maronitas – música litúrgica russa, de origem bizantina,
canta a uma só voz.
4. As Grandes Vozes Búlgaras – cantos tradicionais búlgaros executados por
exóticas vozes femininas.
5. H.J. Koellreutter – Ácronon – obra contemporânea para pequeno grupo
instrumental, que utiliza diversos procedimentos aleatórios e improvisação.
6. Witold Lutoslawsky – Jogos Venezianos – obra orquestral contemporânea,
utlizando procedimentos composicionais de vanguarda, a exemplo de campos
aleatórios.
7. Canto Gregoriano – Os tons da Igreja – canto monódico da igreja cristã.
8. Fernando Sardo – Bambuzais – música experimental brasileira que utiliza
instrumentos construídos pelo próprio compositor.
9. Celtas...reminiscências – música para harpa celta de caráter intimista e
repousante, executada por Cássia Doninho.
10. Flauta Shakuhachi (flauta de bambu) – música tradicional japonesa, utilizada em
rituais Zen, a partir do século XIV.
11. Gagaku – Etenraku – gênero musical instrumental do Japão muito antigo (a
partir de II d. C)
12. Ihu – Todos os Sons – coletânea com cantos de diversas tribos de índios
brasileiros, pesquisados, agrupados e adaptados por Marlui Miranda.
13. Ihu – Kewere: rezar – obra que reúne cantos de pajés de tribos brasileiras e
versos cristãos de José de Anchieta, acomodados numa forma musical
específica – a missa – a partir de um projeto idealizado por Marlui Miranda.
14. Vivaldi&Pixinguinha – Concerto Grosso op. 3 nº 11, executado por uma
formação instrumental típica do chorinho brasileiro, com arranjos lindos de
Radamés Gnatalli.
15. New World Brasil – coletânea de música experimental brasileira reunindo
trabalhos de vários artistas interessados na pesquisa de novos sons e músicas
étnicas, a exemplo do Grupo Uakti.
16. Meu Neném – encantadoras cantigas de ninar executadas na Kalimba por Décio
Gioieli.
17. Serge Folie – Kyrie ( 1ª parte da missa) – obra contemporânea com harmonia e
ritmo inusitados para o gênero, cuja melodia de rara beleza é entoada por uma
voz infantil.
251
ANEXO 3 - Transcrição da
da fita da avaliação final do curso de Metodologia do Ensino
Musical II
FACULDADE DE MÚSICA CARLOS GOMES - junho de 2006
Enny - Vamos organizar, se não, não dá tempo. Você se importa de começar de novo?
Você falou que seria uma surpresa a cada compasso, que ela poderia ser paradoxal, não
linear, pode continuar...
Matheus – ela pode ser livre, ou baseada num contexto, independente da situação, ela pode
ter expressividade, tanto num caráter forte como mais tranqüilo dependendo do que é
proposto aqui, é uma visão bem simples, geral, né? É o que a aula me passa, o curso me
passa. E também, a oportunidade de crescer.
Enny - hahã...
Liebe – e... a música que você mostrou pr’a gente, é uma do Murray Schafer, aquela
partitura, eu acho que é...eu acho que seria ela, tá?
Enny - hahã...
Liebe - porque é uma partitura livre, porém um pouco assim calculada, referenciada,
interessante, acho que é isso, acho que foi uma música perfeita.
Enny - uma obra prima
Liebe - preciso gravar...
Jaques – eu li que ele fez olhando pela janela, uma paisagem, num dia de neve...
Matheus – eu também poderia dizer que essa música não só a do Schafer, mas também uma
que você colocou que foi do Koellreutter, acho que...vai bem também, pode entrar nesse
baú aí de música.
Enny - por que?
Matheus – porque eu achei ela muito expressiva, né? Ela tinha assim aspectos,
determinados momentos que ela era forte, extremamente forte, aí ela caía num vazio,
tranqüilizava, era paradoxal mesmo, de um pólo ao outro.
Enny - a estética relativista do impreciso e do paradoxal...
Giba – eu queria tentar lembrar essa frase, como que é?
Enny - é o nome da estética dele: estética relativista do impreciso e do paradoxal. Quem
mais fala que música seria?
Jaques – eu penso numa forma, eu penso na Suíte, porque eu acho que foram...prá começar
eu não vejo, eu não achei que foi caótico, eu acho que foram pequenos lances mesmo
encadeados, todos no mesmo tom, alguns movimentos mais acelerados, outros mais lentos,
mas eu acho que a tônica do semestre se manteve, assim, teve uma coloração meio única
do grupo, que eu acho que é bacana, dá um caráter de unidade.
Enny - é, coesão, né?
Giba – tinha que ser... pode ser uma música normal?
Risos.
252
redor, eu vou estar sempre envolvido com isso, mesmo não estando presente nas aulas, não
tendo mais as aulas, vai fazer com que, já foi plantado na minha cabeça que a visão que eu
preciso ter em termos da educação ou em termos de música já é outra, então eu colocaria
essa aula de metodologia de ensino tanto a I quanto a II, peso maior prá mim. Foi muito
legal, principalmente, o que me chamou a atenção que foi os relaxamentos, que não temos
outra aula que faça relaxamento, é você buscar voce mesmo, seu interior, você não tem
isso no dia a dia, e isso é muito valorizado...
Orlando – eu senti muito isso também, professora, o dia quando começa com um momento
como esse parece que tudo flui, né? prá que dê tudo certo, e isso é legal...
Paulio – é mais fácil, o dia começa com batucada, chega com um tamborim fica treinando, aí
galera !! quando é que vai começar?...
Rodrigo – Cada um tem a sua interpretação mas tudo é lógica só, é exatamente isso é o
crescente...
Orlando – momentos assim de relaxamento de tensão, de emoção como a gente sentiu
hoje...
Rodrigo - são as dinâmicas...
Orlando – pra mim assim foi, foi uma lição de vida mesmo, aprendi bastante, sinto que o
tempo foi pouco porque é muita coisa pra gente estar lendo e correndo atrás, mas a gente
já sabe onde procurar, isso é importante, embora não tenha dado tempo de ver tudo, se
você quiser saber um pouco daquilo você sabe onde procurar, né? e isso é bem legal. Prá
mim foi. Está sendo, né? um aprendizado muito bom. Eu ainda não consegui relacionar com
uma música...
Enny - e você Adriana? Eu perguntei se nosso curso fosse uma música que música seria, e
é isso que o pessoal está respondendo...vai pensando.
Paulio – a festa da Ivete...
Adriana – eu tenho que pensar melhor prá saber que música, mas eu senti assim que as
coisas que você fala, que você pega, se aplicam nessa aula, e isso é legal porque o discurso
não é dissociado da prática; e isso que o Orlando falou de ter uma aula com emoção, uma
aula com relaxamento, onde o corpo é integrado no ser, é não está só um intelecto aqui, não
tem só um monte de cabeças pensando, essa é a avaliação final, que música que
representa? Acho que fecha com chave de ouro. Prá mim foi muito legal desde a I também,
principalmente pelo processo que eu estou vivendo, eu comecei a dar aula agora prá
criança, uma coisa que prá mim é inédita, e... e eu comecei a caminhar – até escrevi um
pouco disso no portfólio- com uma experiência que eu já tinha que foi dos registros que eu
fazia no outro curso de enfermagem, que era de estar registrando sempre minha atividade,
depois analisando o que tinha sido bom, e o que é que não tinha sido, e a partir daí,
construindo um conhecimento e um pensamento em cima, então, por isso eu coloquei no
meu portfólio que eu acho que a Madalena Freire, no primeiro semestre foi legal, eu já
conhecia, não exatamente por ela, por um outro autor, mas eu, me colocando no lugar dos
meus colegas, se eu estivesse aqui e eu fizesse esse caminho, eu estaria aonde eu estou,
eu acho que foi um pouco o que o Mateus fala de não dar o peixe mas ensinar a pescar.
Porque a gente poderia ter tido várias técnicas de...fazer pedagogia e de...mas não foi
assim, foi uma coisa mais profunda, uma coisa que você não deu a receita do bolo, pronto:
dois kilos de açúcar, não, mas a gente foi construindo com essas outras coisas mais
profundas então o que eu tiro da minha prática é que eu comecei a fazer de novo esse
registros, e depois, com essa leitura desse pedagogos, desde o Paulo Freire até os
musicais mesmo que a gente trabalhou, eu fui montando, isso foi subsidiando mais ainda o
meu jeito de dar aula. E está acontecendo de uma forma super legal, e tenho certeza que
254
essas duas, tanto a I quanto a II, me ajudaram a ter segurança nesse caminho e a estar
construindo assim. Então, não sei se fui muito subjetiva, mas é isso que eu levei do curso.
Enny - quem não é subjetivo, né?
Adriana - e o portfólio foi... eu achei muito legal, eu não tinha tido essa experiência, eu
estava lendo, até o Piaget fala que tudo o que a gente pensa deveria ser escrito, tanto que
ele tem mais de cinqüenta livros, e o portfólio foi uma experiência assim , as coisas iam
acontecendo, e, coisas que antes eu deixava passar, eu comecei a escrever a colocar nesse
portfólio, e isso ia aumentando o conhecimento começava pequeno, daí a pouco ele estava
gigante, aí no outro dia maior ainda, maior ainda, e...eu fiz um projeto de mestrado faz uns
três anos, e eu tive dificuldade, porque o texto não saía, né? ele não corria, estava truncado
e no porfólio não foi assim, foi muito tranqüilo, fácil, e aí eu comecei a pensar que se
alguma vez eu quiser tentar o mestrado de novo, eu acho que foi um super exercício
porque as coisas começaram a fluir, as experiências que...as coisas que a gente fazia na
sala de aula, as pessoas que a gente estava estudando, estava lendo, agora os meus livros
são cada vez mais rabiscados, eu estou sempre com o lápis em punho, eu durmo com o
lápis do lado. Eu tenho pena porque eu cheguei atrasada em muitas aulas, eu perdi essa
parte inicial, que pra mim também é fundamental, a primeira então eu acho que prá mim
assim foi muito legal, eu estou saindo da faculdade este semestre e acho que isso foi o que
mais valeu a pena de eu ter feito aqui dentro; na minha formação na UDESC por exemplo
eu tive didática, mas foi completamente diferente, foi sobre os pensadores, desde o Dewey
até vários pensadores da educação, foi bacana, foi legal, mas só que aqui foi uma coisa mais
profunda, eu acho, e de buscar...buscar o nosso jeito, é isso que eu achei legal, porque até
as últimas aulas foi sobre os blocos de conteúdo de cada um e eu fiquei pensando, nossa!
eu acho que isso deveria ter mais tempo.
Enny - é que isso é até uma outra disciplina, né? É a organização curricular, eu que fiquei
com vontade de dar uma passeada nisso...
Adriana – Eu achei que foi ótimo...
Jaques – tem essa disciplina aqui?
Enny - Tinha na Pós-graduação.
Adriana – aí no início eu lembro que você perguntou se a gente preferiria estudar os
pedagogos ou estudar a partir da nossa prática, né? e eu respondi que eu achava melhor
fazer as duas coisas, mas passar pelos pedagogos, e aí depois quando você deu os blocos
de conteúdos eu falei putz eu não sei se eu devia ter escolhido essa opção, né?
Enny - as duas coisas são importantes...
Adriana – são, mas aí no fim eu achei que ficou pouco tempo só prá essa parte
Enny - eu acho que a faculdade, seja boa ou seja ruim, é um lugar que você passa só
acendendo a luz e depois você vai procurar, é o portal entende? Quem acha que sai da
faculdade e que fechou...fecha uma gestalt, com certeza. Mas abre um portal enorme, não é
mais garantia do que quer que seja, a faculdade, é uma etapa, né?
Matheus – eu acho que, eu estava pensando assim , em termos de música né? prá mim eu
acho que uma faz muito sentido pra essa aula, uma é “brincar de viver”...
Enny - quem me chamou? ( canto), você sabe tocar?
Matheus – sei, tem umas outras duas músicas que eu acho que, eu acho, né? fazem parte do
curso, que é “Canção da América” e “Coração de estudante”
Paulio – são as mesmas de todo ano...
Matheus – é não tem...não tem como, né? sempre vem a lembrança, o que a gente está
passando hoje, o que a gente está colhendo de informação, e...tudo que você passou prá
gente, você plantou em cada um de nós alguma coisa, e eu acho interessante é que cada um
255
de nós está saindo daqui com uma visão diferente, cada um com o seu pensamento, com a
sua forma de ver, eu acho que mais ou menos seria por aí...
Matheus se senta ao piano, toca e canta “Coração de estudante”, com a ajuda de outros
colegas no canto, numa espécie de diálogo. Esse é outro momento cheio de emoção.
Matheus – é isso aí...
Todos aplaudem.
Enny - só falta você, Flávio, dizer que música é essa, que música é essa dessa aula...
Flávio – foi uma surpresa assim, eu...
Enny - não precisa ser uma música que existe...
Flávio – eu não sei o que pensar, assim...não assim é que essa aula prá mim foi assim, como
é que fala, chocante, né? a gente vem de várias aulas que a gente vai assistindo e ela é
completamente diferente, o resto é mais sério assim no sentido de...aula mesmo, isso não
parece aula, parece um convívio assim, a gente vai aprendendo, eu percebo assim que no
começo a classe, no começo assim, a gente é mais preso, e tudo... e depois vai soltando,
tanto assim – até escrevi no portfólio – em relação à improvisação o que eu percebi, que no
começo todo mundo começa mais assim preso e depois vai se soltando e vai saindo muita
coisa legal, assim, a gente vai vendo, vai conversando; eu acho que ainda estou na fase
assim de descobrir muita coisa, mas assim abriu minha cabeça, vai caminhando assim, o
jeito que a aula rola é muito diferente de tudo que eu já tinha tido, assim, e...é legal porque
a gente fica mais solto, né? aberto, e saem coisas bonitas, não tem na faculdade... não
sei...mas uma música assim prá essa aula, eu não sei o que é que podia ser...
Enny - eu proponho que voces façam agora essa música, vamos abrir o armário?
Prá mim é uma colagem, e eu estou pensando numa específica que eu vi no...não consigo
lembrar esse nome, um compositor francês que veio dar um curso na UNESP sobre a
música pós 1945, e ele trouxe uma música que era uma colagem, Beethoven colado com
música eletroacústica, claro que tinha critérios pra fazer isso, né? mas era uma riqueza
enorme de informação, de cruzamentos, de misturas, de individualidades, identidades que
se misturavam, épocas diferentes que se juntavam...
Jaques – bem o século XX, né?
Enny - é, uma idéia assim de riqueza muito grande, de diversidade e da possibilidade de
tudo isso estar junto, prá mim seria essa colagem, e essa colagem inspirada, inspirada por
tudo que há de mais humano, não é isso? Como é que a gente vai educar os outros sem
tocar na dimensão humana, é isso que me preocupa na formação de professores; como é
que nós vamos mexer na cabeça dos outros sem mexer com a nossa cabeça? Essa é a
questão.
Sirvam-se crianças ! (de instrumentos do armário), eu não vou falar nada dessa
composição, mas me coloco à disposição prá participar.
Segue-se um murmúrio geral, todos escolhendo seus instrumentos.
Enny - a idéia é a gente fazer uma música...
Giba – pode ser qualquer coisa? Pode ser colagem?
Enny - pode ser qualquer coisa, pode ser colagem...
Murmúrio geral – colagem..colagem...
A música, ou melhor, o aquecimento para ela começa no piano e outros vão se
agregando...inclusive vozes, instrumentos de plaquetas e diversas percussões.
Enny - a música já começou?
Paulio – já tá rolando...
Enny - toda música precisa ter... precisa partir de uma idéia, o Schafer para fazer
“Snowforms” partiu da observação da paisagem, e...você pode partir de uma fórmula
matemática...
256
Giba – a gente não está acostumado a ouvir música dessa forma, a gente ouve no carro,
ouvir música está muito abandonado, né? escutar música...
Adriana – eu acho que o relaxamento nessa aula ajuda porque a gente ouve, mas despido de
qualquer coisa assim, entregue, o que não acontece muitas vezes, a gente ouve música mas
não se entrega totalmente, e aí prá fazer o que a gente fez aqui é preciso isso, prá fazer
esse quebra tudo, você se entregar, esse tipo de coisa é essencial; eu acho que toda aula
da faculdade deveria ser assim, porque é o que o Flávio falou, toda aula é aula tradicional,
você pega senta e começa a escrever e a ler, e tudo isso não... é engraçado, eu pensei
assim, eu vou acabar o semestre, vou sair da faculdade, e o que eu quero fazer? O que eu
quero fazer é uma coisa que estou com muita saudade de fazer, eu quero fazer arte, eu
pensei assim...porque é incrível, eu estou na faculdade de música e eu estou envolvida com
isso, mas eu não sinto que estou fazendo arte, eu sinto que a minha cabeça está sempre
pensando e tal, mas eu não estou vivendo, eu não estou assim, eu não estou no meio
dessa...de realmente fazer arte, de estar me sentindo viva, estar me sentindo com essa
coisa mágica que a arte traz. E aí eu pensei, eu estou precisando disso assim nesse
momento, eu estou precisando disso, e aí o que a gente fez aqui, é...eu acho que fluiu e é a
primeira vez que aconteceu isso esse semestre, não sei se mais alguém teve essa
experiência aqui dentro da faculdade. Mas eu acho que a aula num curso de música deveria
ser assim, não deveria ser aula... a maior parte pelo menos é assim, é sentar, escrever,
olhar pro quadro...
Enny - é o paradigma vigente, né?
Adriana – e aí como que a gente vai ensinar? Vamos passar a mesma coisa que a gente está
vivendo, a gente vai passar o estudo assim...
Matheus – você sabe qual é a solução que eu vejo para o problema, Enny? Dá todas as aulas
da faculdade...
Risos.
Enny - é preciso que as pessoas desejem mudar o paradigma...aí muda...
Matheus – mas é fantástico,
Giba – depende da gente...
Enny - por isso que eu faço isso, na esperança de que vocês saiam daqui quebrando tudo...
Um dos alunos pega um rádio, os outros começam a fazer brincadeiras e isso flui por um
minuto ou dois.
Liebe - uma coisa eu acho muito importante pra gente: é que apesar de nós não termos
exatamente aquilo que nós quereríamos, que seria o ideal, eu acho que é muito importante
que a gente faça com o que a gente tem, seja pouco ou muito, sabe? E que nunca vai ser
ideal, nunca vai ser exatamente aquilo que a gente pensa, mas essas coisas todas servem
para que a gente busque, quanto menos propício for o ambiente, mais coragem a gente
precisa ter, eu acho que tem isso assim, usar o pouco que tem, não é tudo como deveria
ser, mas o pouco que a gente teve foi pra mim assim ,muito, muito importante, e eu acho
que vou fazer uso disso, muito assim, muito mesmo, eu me sinto muito privilegiada aqui.
Jaques – eu acho que também nessa parte da gente não saber aproveitar o pouco que
tem...também eu acho que uma dose cavalar de aula reflexiva causaria um efeito contrário,
porque esse tipo de trabalho é um trabalho que mexe muito, imagina então se todas as
disciplinas fossem trabalhadas nesse molde. Tem, disciplina que é informativa mesmo, né?
uma série de informações que foram agregadas ao longo da história e que você precisa
assimilar até porque prá depois você refletir a respeito, né? eu acho que a disciplina
cumpre bem o papel assim, de ser uma disciplina reflexiva no meio de várias que são só
informativas, e nem acho que poderiam mesmo ser todas reflexivas, porque eu acho que ia
dar um nó na cabeça de muita gente, e eu acho que acabava que podia ter um efeito não
258
muito...porque a reflexão ela é muito parecida com lava de vulcão, né? eventualmente
acontecem algumas erupções que deixam uns e outros desnorteados.
Adriana – mas isso é preciso, é muito necessário...
Jaques – voce já pensou se todas as aulas começam com essa erupção? É preciso uma
estrutura psicológica absurda prá administrar isso.
Adriana – mas ela se formaria já...
Jaques – não acho, em algumas universidades em que existe atendimento psicológico para
os alunos, eu acho que esse tipo de coisa tem fundamento, mas numa faculdade assim que
não tem toda essa infra-estrutura, o que acontece? O que acontece é que a grande maioria
dos alunos não suporta e sai, e você sendo pé no chão, uma faculdade dessas precisa de
alunos prá sobreviver.
Adriana – mas depende da forma como é conduzido, aqui, não é só reflexiva é informativa,
olha quanta coisa a gente...
Jaques – não, sim, mas depende não é todo professor que tem essa habilidade, é, esse é o
fazer também da Enny, um professor que não tenha esse tipo de fazer, se ele entra nessas
sem saber lidar com isso, porque você está lidando com...e aí você pode provocar uma
catástrofe maior, querendo ou não, a Enny trabalhou uma linha quase psicoterapêutica,
então você precisa de ter um feeling assim prá sacar com que estrutura você está mexendo
que não é todo mundo que tem.
Adriana – mas porque que não tem?
Jaques – porque depende de uma formação humana...
Adriana – é óbvio... mas que a gente não foi educado prá isso, porque desde
O início que entrou na escola, as aulas são desse jeito como é até o final da
faculdade.
Jaques
Jaques – não, eu não acho que toda disciplina tem que ser assim, eu não
penso isso, a Enny falou uma vez uma coisa prá mim que eu gravei na minha
cabeça porque eu achei bacana, a gente estava falando sobre educação de
criança, e eu falei que prá mim cantar com criança é muito complicado, é
difícil porque elas tem que aprender a transposição de oitava, apesar que
elas aprendem, mas é difícil... aí eu lembro que você falou assim mas porque
você vai gastar tempo fazendo uma coisa que você não faz tão bem se você
pode fazer aquilo que você faz tão bem? É muito sofrimento você investir
numa coisa que você não faz tão bem, se você pode investir bastante no que
você faz bem. E isso me gravou porque eu acho que assim como a gente
tem que respeitar as nossas habilidades, a gente precisa respeitar as
habilidades dos nossos professores, eles são limitados, então se o professor
tem essa limitação, não adianta você querer que ele, sabe?
Adriana – não, do nada ele não vai partir, do zero...
Jaques – mas ele não vai partir nunca, às vezes ele sofre uma limitação, eu
Não posso chamar de limitação, mas, às vezes ele é bom em certas coisas
mas não é bom em outras, então assim eu tenho que ter humildade de me
inserir, aí sim eu acho que essa coisa de aprender a refletir mesmo que a
aula não tenha essa conotação reflexiva, eu acho que é importante, mas a
gente tem que ter o maior cuidado de não avaliar um professor em função
da metodologia que ele traz.
Adriana – não, mas se você pensa que o professor que desempenha ele teve uma escola prá
chegar onde ele está certo? E essa escola é o que predomina...
Jaques – não concordo, Adriana, porque fica parecendo que o professor é só fruto da
formação que ele recebeu, ele é fruto de tudo que ele interagiu com a vida e tem certas
259
coisas que ele é mais hábil mesmo. Por exemplo, tem certos professores de Piano que têm
uma puta habilidade de pegar um aluno com problemas de técnica e botar dedo na mão do
aluno, o aluno desenvolve uma técnica fantástica, e, tem outros que desenvolvem nele uma
capacidade de improvisação fantástica, então assim, eu acho que não adianta...eu considero
quase impossível um professor que tenha todas as habilidades, eu pelo menos, eu olho
assim, eu acho que eu tenho que catar, eu tenho que aprender a aprender do professor, eu
tenho que com esse professor mesmo se ele é fraco prá caramba.
Enny - e eu tenho que aprender a aprender do aluno. Eu faço isso, esse curso de didática
sempre foi muito... conflitivo prá mim.
Giba – mas Enny, há quanto tempo você dá aula? São coisas novas, você sempre está
inovando...né? o professor a cada ano inova, mas tem gente que é mais lento mesmo.
Enny - é mas no começo, eu mesma ficava refletindo, eu não tenho vontade de fazer a aula
de didática como ela foi concebida prá ser, você estar discutindo programa de curso,
programa de aula, estratégia de ensino, né? eu não tenho vontade, eu sempre caio prá
filosofia da educação, prá outras áreas, de tal maneira que às vezes dá a impressão que
realmente eu não estou fazendo nada...
Giba – não...
Risos.
Giba – sabe uma cena que...bom é final de curso né? não é que a gente vai, nós vamos
continuar falando com você, te enchendo o saco mesmo, né? vamos lá te encher o saco,
pelo menos. Mas uma cena assim que eu sempre falo prá todo mundo, foi uma vez que
você... no final do semestre, colocou aquele CD do Paulo Freire, aí ele estava falando da
ditadura e você chorou prá cacete, acho que isso foi, isso prá mim foi f...
Enny - é incrível aquele disco eu ouço mil vezes...
Giba – puta aquela cena, aquilo lá quando entrou na revolução você chorou feito criança, na
minha cabeça eu pensei, realmente, pode estar tudo ruim ou tudo bom, mas o elemento, prá
gente é um elemento, né? (corte na gravação, infelizmente)
260
Matheus
Entendo que as discussões, as idéias que eram trocadas, o quanto pudemos conhecer as
propostas de nossos colegas como desenvolver uma aula, bem como seus projetos, e
também o fato deste curso ter nos proporcionado a chance de nos avaliar também como
profissionais.
Liebe
A lembrança mais marcante é realmente o clima propício para se pensar em música e em
educação musical, gerado a partir da escuta.
Jaques
Durante uma aula de exploração de sons do entorno da escola uma experiência me marcou
de forma especial. O prédio ao lado da Faculdade forma um grande paredão de
reverberação. Durante a aula, passou um helicóptero sobre a escola e alguns de nós foram
pegos pela ilusão de serem dois helicópteros por causa da
reverberação do prédio. Essa experiência me intrigou e me levou a estudar as técnicas de
microfonação e gravação stereo (2 canais de áudio) e surround (em geral 5 canais de áudio)
onde a busca pela recriação do espaço sonoro é levada bastante a sério. Posteriormente,
ouvi um compositor de música eletroacústica falar sobre o seu interesse na composição
como o espaço e no espaço. Desde essa experiência tenho atentado para o comportamento
de microfones, ambientes e sistemas de sonorização em relação aos tempos de
reverberação.
Giba
Vou enumerá-las:
1)Conhecer os educadores musicais contemporâneos e vivenciar seus métodos de ensino.
2) O modo como a Prof. Enny conduziu o curso e sua grande humanidade em relação aos
fatos do cotidiano, partilhando alegria, dúvidas e tristezas com seus educandos. 3) Através
deste curso consegui um melhor auto-conhecimento e ampliar minha paisagem sonora.4)
A liberdade de colocar minhas idéias e experiências musicais e partilhar com meus
colegas de classe a vivência de cada um.5) A emoção da ultima aula ficará guardada na
minha lembrança.
Rodrigo
A primeira lembrança são as músicas que ouvíamos no início das aulas; os diálogos
realizados em círculos, discutindo assuntos com os amigos de classe e o professor. Depois,
conhecer os principais educadores e pedagogos musicais que não conhecia antes. As aulas
de improvisação com os instrumentos pedagógicos, podendo expressar os próprios
sentimentos, e aprendendo a explorar os sons dos mesmos.
Adriana
Muitas. Lembro que íamos para a aula com vontade de estudar e não por que ficaríamos
sem nota. Foi gostoso participar deste grupo e ver os colegas crescendo junto, construindo
261
Matheus
Acredito piamente nesta possibilidade, pois a escuta musical a que éramos submetidos era
uma forma de concentração e, ao mesmo tempo, de entrega para que pudéssemos usufruir
o máximo de conteúdo possível, o que resultava em aulas mais dinâmicas e
conseqüentemente mais proveitosas.
Liebe
Como eu já havia relatado na ocasião em gravamos a finalização do curso, tive uma
experiência de aprendizagem que me marcara muito e de maneira bastante negativa, então
quando experimentei uma aula que buscava a sensibilização antes de tratar dos conteúdos,
pude referenciar-me a cerca da influência positiva que é possível exercer no aprendizado,
dependendo da forma que estes conteúdos são abordados.
Jaques
Os períodos de audição e relaxamento foram importantíssimos para sintonizar o grupo e
permitiram um assentamento e focalização das energias. Era nítido que mesmo os que
chegavam depois de iniciado o processo e ficavam assentados fora da roda se sentiam
magnetizados pela experiência. O grupo seguia a aula mais tranqüilo, centrado e receptivo à
experiência de ouvir os colegas.
Giba
A escuta musical permite maior concentração para as atividades seguintes. Tem que haver
MUSICA em qualquer assunto envolvendo música. O clima e o ambiente ficam mais leves
e prontos para qualquer atividade musical. Falar de música sem MUSICA transforma seres
humanos em repetidores de livros e não em pessoas ativas e seres pensantes. Importante
destacar:
SOM-NOTAS-MUSICAS-SERES HUMANOS.
Rodrigo
Acredito que sim. Pelo fato do ser humano conseguir se encontrar novamente consigo
mesmo, pois estamos vivendo num mundo onde precisamos sobreviver, alcançar objetivos e
realizar-se, de modo geral, e quando nos encontramos com o nosso interior, descobrimos
que existe uma paz interna que não há lá fora.
Acredito que a escuta musical influencia nas atitudes, comportamentos e idéias do ser
humano, de crianças a idosos.
Adriana
Certamente. Esta foi uma maneira de sensibilizar e preparar os alunos para a aula. Esta
estratégia ajudou o grupo a se constituir enquanto tal deixando os colegas a vontade para
262
3. Você deve se lembrar que ao final do curso, fizemos uma avaliação do mesmo a partir
da seguinte questão: “Caso o curso que estamos terminando fosse uma música, que
música seria?”, a resposta resultou numa bela improvisação musical do grupo. Caso
tiver vontade de deixar algum tipo de registro escrito sobre a experiência vivida no
curso, utilize o espaço que segue abaixo. Muito obrigada por sua participação.
Matheus
O resultado daquela improvisação veio para confirmar a total integração do grupo naquele
momento. Entendo que nesta atividade estávamos completamente “nus”, digo no sentido
de não nos preocuparmos com a opinião alheia, aquela sala era como uma outra dimensão,
onde éramos inalcançáveis diante de uma energia intensa, tanto que ao final da aula
algumas pessoas eu lembro que comentaram sobre o calor que estava no ambiente.
Em suma, foi “Fantástico”.
Liebe
A experiência vivida naquela ocasião, tem para mim o significado de uma porta aberta ao
infinito.
Obrigada, Liebe
Jaques
Senso de momentos. Momento para silenciar, para tocar, para variar, para manter, para
sobrepor, pra "subpor". A ligação sonora com vários indivíduos e a comunicação feita numa
esfera onde a racionalidade ficava subjugada pelas sensações. Essa forma de comunicação
direta com vários ao mesmo tempo (praticamente contrapontística) é irreprodutível pela
linguagem verbal.
Giba
No meu caso, foi um recomeço da minha vida pessoal e profissional. Toquei naquele
momento a música Começar de Novo do compositor Ivan Lins atendendo o meu falar
interno e em seguida todos nós, alunos e professor, fizemos o som único, através do
nosso corpo e voz. Espero que a música e o ensino musical sigam esse caminho e que
todos nós possamos quebrar e criar novos paradigmas. QUEBRAR TUDO é CONSTRUIR
TUDO. Obrigado Enny.
Rodrigo
A improvisação foi uma experiencia muito importante no meu dia a dia, tanto para lecionar
como para a produção em estúdios.
Lecionando, aprendi a ouvir mais meus alunos, suas idéias, suas interpretações, suas
expressões, diante do instrumento que ensino, mesmo sendo às vezes, incorretas, mas
com o objetivo de ouvi-lo e senti-lo tentando captar as suas formas de conduzir
acompanhamentos e solos, coisa que antes não acontecia.
Produzindo, deixei um pouco de lado os solos que eu escrevia antes para os músicos
interpretarem, atualmente, escrevo a cifra e peço para o músico contratado, colocar sua
expressão e sua interpretação diante do que ele está ouvindo e sentindo... em todas as
vezes, deu certo. Agradeço, por tudo que você me ensinou, passou, mostrou, improvisou,
confortou, olhou e formou.
263
Adriana
Neste momento vi a teoria inserida na prática, pois muito do que estudamos em sala se
refletiu nesta composição. Conceitos, idéias dos pedagogos e o próprio conhecimento
construído pelo grupo.
Coração de estudante
E há que se cuidar da vida
E há que se cuidar do mundo
Tomar conta da amizade
Alegria e muito sonho
Espalhados no caminho
Verdes: plantas e sentimento
Folhas, coração, juventude e fé
265
ANEXO 6 – Historinha
Historinha para ouvir: “Estória da Estrelinha” (Áudio)
Preâmbulo
Artigo 2:
2
O reconhecimento da existência de diferentes níveis de realidade, regidos por
lógicas diferentes é inerente à atitude transdisciplinar. Qualquer tentativa de
reduzir a realidade a um único nível regido por uma única lógica não se situa no
campo da transdisciplinaridade.
Artigo 3:
A transdisciplinaridade é complementar à aproximação disciplinar: faz emergir da
confrontação das disciplinas dados novos que as articulam entre si; oferece-nos
uma nova visão da natureza e da realidade. A transdisciplinaridade não procura o
domínio sobre as várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que
as atravessa e as ultrapassa.
Artigo 4:
4
O ponto de sustentação da transdisciplinaridade reside na unificação semântica e
operativa das acepções através e além das disciplinas. Ela pressupõe uma
racionalidade aberta por um novo olhar, sobre a relatividade definição e das noções
de ““definição”e "objetividade”. O formalismo excessivo, a rigidez das definições e
o absolutismo da objetividade comportando a exclusão do sujeito levam ao
empobrecimento”.
Artigo 5:
5
A visão transdisciplinar está resolutamente aberta na medida em que ela ultrapassa
o domínio das ciências exatas por seu diálogo e sua reconciliação não somente com
as ciências humanas mas também com a arte, a literatura, a poesia e a experiência
espiritual.
Artigo 6:
6
Com a relação à interdisciplinaridade e à multidisciplinaridade, a
transdisciplinaridade é multidimensional. Levando em conta as concepções do
tempo e da história, a transdisciplinaridade não exclui a existência de um horizonte
trans-histórico.
Artigo 7:
A transdisciplinaridade não constitui uma nova religião, uma nova filosofia, uma
nova metafísica ou uma ciência das ciências.
Artigo 8:
A dignidade do ser humano é também de ordem cósmica e planetária. O surgimento
do ser humano sobre a Terra é uma das etapas da história do Universo. O
reconhecimento da Terra como pátria é um dos imperativos da
transdisciplinaridade. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade, mas, a
título de habitante da Terra, é ao mesmo tempo um ser transnacional. O
reconhecimento pelo direito internacional de um pertencer duplo - a uma nação e à
Terra - constitui uma das metas da pesquisa transdisciplinar.
267
Artigo 9:
A transdisciplinaridade conduz a uma atitude aberta com respeito aos mitos, às
religiões e àqueles que os respeitam em um espírito transdisciplinar.
Artigo 10:
Não existe um lugar cultural privilegiado de onde se possam julgar as outras
culturas. O movimento transdisciplinar é em si transcultural.
Artigo 11:
Uma educação autêntica não pode privilegiar a abstração no conhecimento. Deve
ensinar a contextualizar, concretizar e globalizar. A educação transdisciplinar
reavalia o papel da intuição, da imaginação, da sensibilidade e do corpo na
transmissão dos conhecimentos.
Artigo 12:
A elaboração de uma economia transdisciplinar é fundada sobre o postulado de que
a economia deve estar a serviço do ser humano e não o inverso.
Artigo 13:
13
A ética transdisciplinar recusa toda atitude que recusa o diálogo e a discussão, seja
qual for sua origem - de ordem ideológica, científica, religiosa, econômica, política
ou filosófica. O saber compartilhado deverá conduzir a uma compreensão
compartilhada baseada no respeito absoluto das diferenças entre os seres, unidos
pela vida comum sobre uma única e mesma Terra.
Artigo 14:
Rigor, abertura e tolerância são características fundamentais da atitude e da visão
transdisciplinar. O rigor na argumentação, que leva em conta todos os dados, é a
barreira às possíveis distorções. A abertura comporta a aceitação do desconhecido,
do inesperado e do imprevisível. A tolerância é o reconhecimento do direito às
idéias e verdades contrárias às nossas.
Artigo final:
A presente Carta Transdisciplinar foi adotada pelos participantes do Primeiro
Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, que visam apenas à autoridade de seu
trabalho e de sua atividade.
Segundo os processos a serem definidos de acordo com os espíritos
transdisciplinares de todos os países, o Protocolo permanecerá aberto à assinatura
de todo ser humano interessado em medidas progressistas de ordem nacional,
internacional para aplicação de seus artigos na vida.
Convento de Arrábida, 6 de novembro de 1994 Comitê de Redação Lima de Freitas,
Edgar Morin e Basarab Nicolescu.
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