Você está na página 1de 61

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

EDVALDO DANDOLINI CORREA

A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DA SUCESSÃO ENTRE IRMÃOS.

Içara
2018
EDVALDO DANDOLINI CORREA

A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DA SUCESSÃO ENTRE IRMÃOS.

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Direito da
Universidade do Sul de Santa Catarina
como requisito parcial à obtenção do título
de Bacharel em Direito.

Orientadora: Prof.ª Roberta dos Santos Rodrigues.

Içara
2018
EDVALDO DANDOLINI CORREA

A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DA SUCESSÃO ENTRE IRMÃOS.

Esta Monografia foi julgada adequada à


obtenção do título de Bacharel em Direito
e aprovada em sua forma final pelo Curso
de Graduação em Direito da Universidade
do Sul de Santa Catarina.

Içara, (dia) de (mês) de 2018.

______________________________________________________
Professor e orientador Nome do Professor, Dr./Ms./Lic.
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Prof. Nome do Professor, Dr./Ms./Lic.
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Prof. Nome do Professor, Dr./Ms.//Lic.
Universidade do Sul de Santa Catarina
Texto das dedicatórias. Texto das
dedicatórias. Texto das dedicatórias. Texto
das dedicatórias. Texto das dedicatórias.
Texto das dedicatórias. Texto das
dedicatórias. Texto das dedicatórias. Texto
das dedicatórias.
AGRADECIMENTOS

Texto de agradecimentos. Texto de agradecimentos. Texto de


agradecimentos. Texto de agradecimentos. Texto de agradecimentos. Texto de
agradecimentos.
Texto de agradecimentos. Texto de agradecimentos. Texto de
agradecimentos. Texto de agradecimentos. Texto de agradecimentos. Texto de
agradecimentos.
Texto de agradecimentos. Texto de agradecimentos. Texto de
agradecimentos. Texto de agradecimentos. Texto de agradecimentos. Texto de
agradecimentos.
“Texto da epígrafe. Texto da epígrafe. Texto da epígrafe. Texto da
epígrafe. Texto da epígrafe. Texto da epígrafe. Texto da epígrafe. Texto da epígrafe”
(Autoria).
RESUMO

Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do


resumo. Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do resumo.
Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do
resumo. Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do resumo.
Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do
resumo. Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do resumo.
Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do
resumo. Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do resumo. Texto do resumo.

Palavras-chave: Palavra 1. Palavra 2. Palavra 3.

O resumo é feito por último. Deve conter: objetivo do TCC (geral), a metodologia
(usado o método de abordagem dedutivo, o procedimento de pesquisa bibliográfico),
principais autores, Lei, Jurisprudência etc. e por último os resultados.
ABSTRACT OU RÉSUMÉ OU RESUMEN

Texto do abstract ou do résumé ou do resumen. Texto do abstract ou do résumé ou


do resumen. Texto do abstract ou do résumé ou do resumen. Texto do abstract ou do
résumé ou do resumen. Texto do abstract ou do résumé ou do resumen. Texto do
abstract ou do résumé ou do resumen. Texto do abstract ou do résumé ou do
resumen. Texto do abstract ou do résumé ou do resumen. Texto do abstract ou do
résumé ou do resumen. Texto do abstract ou do résumé ou do resumen. Texto do
abstract ou do résumé ou do resumen. Texto do abstract ou do résumé ou do
resumen. Texto do abstract ou do résumé ou do resumen.

Keywords ou Mots-clés ou Palabras-clave: Word 1 ou Mot 1 ou Palabra 1. Word 2 ou


Mot 2 ou Palabra 2. Word 3 ou Mot 3 ou Palabra 3.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 14
1.1 TEMA 14
1.2 PROBLEMA 14
1.3 JUSTIFICATIVA.................................................................................................
1.4 OBJETIVOS 14
1.4.1 Geral 14
1.3.2 Específicos 15
1.5 METODOLOGIA 15
1.6 ORGANIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS....................................................................
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FILIAÇÃO 16
2.1 DA FILIAÇÃO.........................................................................................................
2.2 ESPÉCIES DE FILIAÇÃO......................................................................................
2.2.1 Filiação biológica..............................................................................................
2.2.2 Filiação adotiva................................................................................................
2.2.3 Filiação socioafetiva........................................................................................
2.3 PRINCIPIOS ATINENTES AO TEMA....................................................................
2.3.1 Principio da igualdade........................................................................................
2.3.2 Principio da dignidade da pessoa humana.........................................................
2.3.3 Principio da afetividade .....................................................................................
2.3.4 Principio da solidariedade familiar........................................................................
3 CONSIDERAÇÕES ACERCA DO DIREITO SUCESSÓRIO NO ORDENAMENTO
JURÍDICO BRASILEIRO 17

3.1 CONCEITO........................................................................................................................

3.2 ESPÉCIES DE SUCESSÃO.............................................................................................

3.2.1 Sucessão legítima – breves considerações....................................................................

3.2.2 Sucessão testamentária – breves considerações............................................................

3.3 ABERTURA DA SUCESSÃO..............................................................................................

3.4 ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA.............................................................................

3.5 HERDEIROS
NECESSÁRIOS..............................................................................................
4 SUCESSÃO DOS COLATERAIS 18
5 CONCLUSÃO 19
REFERÊNCIAS 20
ANEXOS 21
ANEXO A – TÍTULO 22
ANEXO B – Título 23
12

1 INTRODUÇÃO

O direito sucessório trata a sucessão entre irmãos bilaterais e unilaterais


de forma desigual, de modo que deixando o autor da herança irmãos, um filho
comum de pai e de mãe, e outro filho só de pai ou só de mãe, aquele receberá
quinhão sucessório maior do que este.
Tal preceito se encontra no artigo 1.841 do Código Civil que dispõe:
“concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada
um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar.”. (BRASIL, 2002).
DISCORRER SOBRE O ASSUNTO ( falta terminar).
Isso posto, no tocante à sucessão dos colaterais, há quem entenda pela
inconstitucionalidade do dispositivo legal supracitado, por afrontar o parágrafo 6º do
artigo 227 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Por outro lado, é forte o entendimento de que não existe
inconstitucionalidade no tratamento diferenciado prestado pelo legislador ordinário
aos irmãos bilaterais e unilaterais em matéria sucessória, tendo em vista o maior
parentesco de sangue quando os irmãos descendem de pai e mãe comuns.”
XX
Com isso, far-se-á uma análise dos argumentos utilizados pela doutrina e
jurisprudência favoráveis e contrários à inconstitucionalidade do artigo 1.841 do
Código Civil, contextualizando com os princípios relacionados ao tema.
A INTRODUÇÃO ESTÁ MUITO CURTA!
Terminar.
13

1.1 TEMA

A (in)constitucionalidade da sucessão entre irmãos.

1.2 PROBLEMA

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 realizou enorme


progresso na conceituação e tutela da família, trazendo a erradicação de toda e
qualquer distinção em matéria de filiação, privilegiando as relações socioafetivas.
Em razão disso, o atual Código Civil, em consonância com os preceitos
irradiados pela Carta Magna, abrangeu em seu texto várias modalidades de família,
formadas por relações consanguíneas, por atos jurídicos solenes ou pelo afeto.
Contudo, no campo do Direito das Sucessões, foi estabelecida uma regra
em relação à sucessão entre irmãos, que diferencia o quinhão sucessório do irmão
bilateral do quinhão sucessório do irmão unilateral, sendo motivo de discussões
doutrinárias e, até mesmo, jurisprudenciais nos Tribunais Pátrios.
Para corroborar com a natureza do tema proposto e motivar a pesquisa
lançam-se, primeiramente, algumas indagações: Como é realizada a partilha dos
bens deixados por alguém que tenha como herdeiros irmãos bilaterais e unilaterais?
O artigo 1841 do Código Civil, ao distinguir o quinhão hereditário dos irmãos
bilaterais dos unilaterais, está violando o princípio constitucional da igualdade? O
referido dispositivo legal deveria ser declarado inconstitucional, a fim de reconhecer
a igualdade sucessória entre os irmãos bilaterais e unilaterais? Destacadas as
indagações acima, e com o fim de tornar preciso o problema da pesquisa,
estabelece-se como pergunta central: Existe (in)constitucionalidade na sucessão
entre irmãos bilaterais e unilaterais?

1.2 JUSTIFICATIVA

O presente tema se justifica pela importância que representa ao campo


jurídico, principalmente no que se refere ao Direito Sucessório. Sem entrar na
polêmica de quando começa a vida, certo é que o marco final da vida é a morte, a
qual ocorrerá para todo ser humano.
14

Neste sentido, “o direito sucessório trata da transmissão de bens, direitos


e obrigações, em razão da morte de uma pessoa, aos seus herdeiros, de um modo
geral, seus familiares.”. (DIAS, 2015, p.35).
Sabe-se que, “se não houver descendentes, nem ascendentes, nem
cônjuge sobrevivente, nas condições estabelecidas no art. 1.830, serão chamados a
suceder os colaterais até o quarto grau.”. (RODRIGUES, 2003, p. 120).
No entanto, o artigo 1.841 do Código Civil (BRASIL, 2002), dispõe que
concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada um
destes herdará metade do que cada um daqueles herdar.
Observa-se que o legislador infraconstitucional tratou de maneira desigual
a herança a ser destinada aos irmãos bilaterais e unilaterais do falecido.
A ordem jurídica positivou o princípio da igualdade entre todos os filhos,
plasmado na Constituição Federal de 1988, que preceitua não poder existir
tratamento diferenciado aos filhos advindos de união matrimonial ou extraconjugal,
garantindo a eles os mesmos direitos e qualificações.
Nas palavras de Bastos (2002, p.323):
a igualdade pode ser considerada um dos princípios mais abrangente na
ordem constitucional, visto que deve se encontrar presente em qualquer
norma. Falar em igualdade não significa dizer que a lei não poderá admitir
situações de distinções entre as pessoas, sendo que a mesma trata de igual
forma as pessoas que se encontram em situações iguais. O que não pode
ocorrer é que sejam utilizados critérios secundários que sejam
preconceituosos e que sejam capazes de intervir naquilo que já foi
discriminado na medida cabível por determinada lei.

A partir disso, surge o questionamento se a desigualdade estabelecida no


artigo 1.841 do Diploma Civil estaria ou não violando o princípio da igualdade
disciplinado na Lei Maior do ordenamento jurídico brasileiro.
Assim, resta evidenciada a relevância do tema proposto, de modo que
através do presente trabalho intenciona-se o levantamento dos argumentos
favoráveis e contrários à diferenciação estabelecida no artigo 1.841 do Código Civil.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Geral

Analisar a (in)constitucionalidade da sucessão entre irmãos bilaterais e


unilaterais em concorrência à herança do irmão falecido.
15

1.3.2 Específicos

a) Discorrer acerca da evolução histórica do Direito das Sucessões no


Brasil;
b) Abordar as espécies de sucessões existentes na ordem jurídica pátria,
contextualizando os direitos dos herdeiros colaterais;
c) Discorrer acerca dos princípios relacionados ao tema em estudo;
d) Abordar os argumentos que defendem a constitucionalidade e a
inconstitucionalidade da sucessão entre irmãos bilaterais e unilaterais.

1.4 METODOLOGIA

Método é o meio pelo qual o pesquisador se utiliza para buscar respostas


e obter resultados confiáveis. “O método é um recurso que requer detalhamento de
cada técnica aplicada na pesquisa. É o caminho sistematizado, formado por etapas,
que o pesquisador percorre para chegar à solução.” (MOTTA, 2012, p. 83).
Os métodos de procedimento a serem utilizados na pesquisa consistem
no monográfico e no comparativo. O primeiro deve-se a preocupação com o
aprofundamento do tema em estudo e o segundo, a necessidade de comparações
entre leis, normas e doutrinas.
Para Motta (2012, p. 98), “o método monográfico é aquele que analisa, de
maneira ampla, profunda e exaustiva, determinado tema-questão-problema.” E o
método comparativo consiste “[...] na verificação de semelhanças e diferenças entre
duas ou mais pessoas, empresas, tratamentos, técnicas, etc., levando-se em conta
a relação presente entre os aspectos comparados.” (MOTTA, 2012, p. 96).
O método de abordagem que se aplicará na pesquisa é o do tipo
dedutivo, uma vez que se analisarão documentos, inerentes às normas e leis, e
doutrinas vinculadas ao tema proposto no projeto. Do âmbito geral para o específico.
Assim, trata-se de um método “[...] que parte sempre de enunciados gerais
(premissas) para chegar a uma conclusão particular.” (HENRIQUES; MEDEIROS
apud MOTTA, 2012, p. 86).
16

1.5 ORGANIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS

A mudança de paradigma trazido pela Constituição Federal de 1988


erradicou toda e qualquer discriminação em matéria de filiação, privilegiando as
novas formas de entidades familiares.

A par da discussão estudar-se-á inicialmente a evolução histórica da


filiação, seus conceitos doutrinários, conjuntamente com os princípios relacionados
ao tema.

Posteriormente, será analisada a sucessão na legislação brasileira e as


formas de partilha existentes, bem como, analisar-se-á partilha de bens na classe
dos colaterais.

Por fim, com o intuito de atingir o objetivo proposto, discorrer-se-á acerca


da sucessão entre irmãos unilaterais e bilaterais em concorrência à herança do
irmão falecido, previsto no artigo 1.841 do Código Civil de 2002, destacando-se os
argumentos favoráveis e contrários à (in)constitucionalidade do referido dispositivo.

À MEDIDA QUE FORMOS FECHANDO OS CAPÍTULOS, VAMOS


MELHORANDO ESSE ÚLTIMO TÓPICO
17

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FILIAÇÃO

A família é constitucionalmente reconhecida como a base da sociedade,


configurando-se, pois, como a principal instituição social. Durante o passar do
tempo, as relações sociais passaram por profundas transformações.
“Na época clássica, a família romana apresentava uma estrutura
tipicamente patriarcal, detendo o pater familiae o controle total da entidade familiar
enquanto vivesse tanto pessoal quanto patrimonial.”. (MALUF, 2015, p.467).
Segundo Nogueira (2001, p. 25), “o pater familiae era o chefe político,
sacerdote e juiz em sua casa, exercia poder sobre todos os filhos, a mulher e os
escravos, podendo dispor livremente deles, inclusive com o direito de vida e de
morte.”.
“A família romana, chefiada pelo pater familiae, ao invés de se fundar no
princípio ético da afeição, era calcada no princípio da autoridade.”. (FUJITA, 2011,
p.13).
Consoante o assunto, Fujita (2011, p.13) afirma que:
durante um longo período desde o antigo Direito Romano, o culto doméstico
era transmitido, de geração a geração, sempre na linha masculina, do pater
famílias a seu filho, assim considerado apenas aquele apresentado pelo
pater famílias diante do altar destinado ao culto.

“Desse modo, a filiação não tinha como base a consangüinidade, haja


vista, que o filho adotivo, se apresentado pelo pater familiae ao culto doméstico, era
considerado um verdadeiro filho.”. (FUJITA, 2011, p.13).
Durante a Idade Média, Fujita (2011, p. 15) menciona que os senhores e
criados, as crianças e os adultos, viviam todos juntos em uma espécie de casas
abertas, de sorte que a densidade social não deixava espaço para um setor privado
da família; a função desta se limitava, pois, nos fatos, para a transmissão da vida,
dos bens e do sobrenome.
A família da Idade Média, seguindo a tradição romana, “também aplicava
o direito à primogenitura, por meio do qual se transmitiam os bens familiares em
favor do filho mais velho, com o objetivo de manter o brilho e a glória da família,
assim como promover a eternização do sobrenome.”. (FUJITA 2011, p.15).
Já na Idade Moderna, “passa a existir o sentimento de uma família
conjugal, restrito aos pais e filhos, graças ao declínio dos laços de linhagem e, em
18

contrapartida, um fortalecimento da autoridade do marido no âmbito do lar.”.


(FUJITA, 2011, p.15).
Menciona ainda, Fujita (2011, p.16) que “a pós-modernidade traz a marca
da maior sensibilidade e afetividade na relação paterno-materno-filial, a ponto de
podermos, na atualidade, falar do afeto não mais como valor ético, mas também
como valor ou princípio jurídico.”.
EDVALDO, CUIDA PARA NÃO FAZER MUITA CITAÇÃO SEGUIDA DE
UM ÚNICO AUTOR (FUJITA), ESPECIALMENTE EM SE TRATANDO DE ASSUNTO
QUE NÃO É DIFÍCIL ENCONTRAR DOUTRINADORES QUE FALAM A RESPEITO.
PENSO QUE DEVES ARRUMAR. OUTRA COISA, ÀS VEZES COLOCAS FUJUTA
E ÀS VEZES Fujita. VERIFICAR QUAL O CERTO NA METODOLOGIA
Contudo, na vigência do Código Civil de 1916, fazia-se distinção entre
filiação natural legítima e ilegítima. “Filhos legítimos eram os nascidos de casal unido
pelos laços do casamento. Quando os filhos não procedessem de casamento entre
os genitores, se diziam ilegítimos.”. (MONTEIRO, 2012).
Para Monteiro (2012), “os filhos ilegítimos classificavam-se em naturais e
espúrios. Eram havidos como naturais quando nascidos de homem e de mulher
entre os quais não existisse impedimento matrimonial; espúrios, quando nascidos de
homem e mulher impedidos de se casarem na época da concepção.”.
Maluf (2015, p.495, apud SAN TIAGO DANTAS), enfatiza que:
poderiam ainda os filhos ilegítimos ser incestuosos, no caso de o
impedimento de justas núpcias decorrer de parentesco próximo dos
genitores, ou de afinidade, conforme enumeração constante do art. 183, I a
V, do Código Civil de 1916; ou adulterinos, se o impedimento fosse
decorrente da existência de casamento anterior de um dos genitores com
outra pessoa.

O art. 358 da referida lei proibia o reconhecimento dos filhos adulterinos e


incestuosos e a respectiva investigação de paternidade. (BRASIL, 1916). Portanto, a
falta cometida pelos pais colocava o filho em uma situação diferenciada e
marginalizada.
Sobre o tema, Dias (2016, p.383) preceitua que:
essa classificação tinha como único critério a circunstância de o filho ter sido
gerado dentro ou fora do casamento, isto é, se os genitores eram ou não
casados entre si. Ou seja, a situação conjugal do pai e mãe refletia-se na
identificação dos filhos: conferia-lhes ou subtraia-lhes não só o direito a
identidade, mas também o direito a sobrevivência.
19

Enfatiza Coelho (2006, p.144), que “a real intenção era mesmo de se


preservar o patrimônio familiar, fato esse que fez com que os filhos fossem
catalogados de forma cruel por aquele diploma.”.

“Muitos avanços ocorreram através dos tempos, e que iniciaram com a


Lei nº 4.737, de 27.09.1942, cujo art. 1º permitiu o reconhecimento do filho havido
fora do casamento depois do então desquite.”. (RIZZARDO, 2014).

Após, a Lei nº. 883, de 27/10/1949, trouxe mais abertura, ao assegurar,


em seu artigo 1º, que: “dissolvida a sociedade conjugal, será permitido a qualquer
dos cônjuges o reconhecimento do filho havido fora do matrimônio e, ao filho, a ação
para que se lhe declare a filiação.”. (BRASIL, 1949).

A Lei do Divórcio, por sua vez, introduziu alteração na redação do artigo


2º da Lei nº. 883/1949, (BRASIL, 1949) dispondo que: “Qualquer que seja a natureza
da filiação, o direito à herança será reconhecido em igualdade de condições.”.

A Lei nº. 6.515/1977, em seu artigo 51, acrescentou o parágrafo único ao


artigo 1º da Lei nº. 883/1949, com a seguinte redação: “Ainda na vigência do
casamento, qualquer dos cônjuges poderá reconhecer o filho havido fora do
matrimônio, em testamento cerrado, aprovado antes ou depois do nascimento do
filho, e, nessa parte, irrevogável.”. (BRASIL, 1977).

No mesmo artigo 51 da Lei nº. 6.515, foi introduzida a igualdade


hereditária entre filhos legítimos e ilegítimos, sendo que a estes era reservada, pelo
artigo 2º, a título de amparo social, a metade da herança que viesse a receber o filho
legítimo ou legitimado. (BRASIL, 1977).

A vedação de reconhecimento dos filhos ilegítimos foi alvo de


progressivos abrandamentos, e só foi derrubada pela Constituição Federal que
proibiu tratamento discriminatório quanto a filiação, o que ensejou a revogação do
dispositivo do Código civil que negava reconhecimentos aos filhos espúrios. (DIAS,
2016, p.384).

A Lei nº. 7.841, de 17/10/1989, simplesmente revogou o artigo 358 do


Código Civil de 1916, que proibia o reconhecimento dos filhos adulterinos ou
incestuosos. “Em face disto, nenhum óbice persiste coibindo o reconhecimento em
qualquer momento da vida dos pais, mesmo que casados com terceiras pessoas.”.
(RIZZARDO, 2014).
20

No mesmo liame, a Lei nº. 8.069, de 13/07/1990, que dispõe sobre o


Estatuto da Criança e do Adolescente, no artigo 20, preceitua que: “Os filhos,
havidos ou não da relação do casamento ou por adoção, terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.”.
(BRASIL, 1990).

Ainda, enfatizou em seu artigo 26 a igualdade no reconhecimento entre os


filhos, preceituando que “os filhos havidos fora do casamento poderão ser
reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo de
nascimento, por testamento, mediante escritura ou outro documento público,
qualquer que seja a origem da filiação.”.
Assim como mudou o rosto da família na pós-modernidade, também se
alterou o panorama da filiação [...] “houve a equiparação legal dos filhos. As relações
paterno/materno filiais passaram a ser relações equitativas e de cooperação,
visando à completa integração familiar.”. (RIZZARDO, 2014).
Sobre o assunto, sustenta Maluf (2015, p.478):
na pós-modernidade, podemos definir como filho todo ser gerado de forma
natural ou mediante o emprego de técnicas de biotecnologia, de reprodução
artificial medicalmente assistida, que pertence ao núcleo familiar,
equiparados entre si por força do art. 227, § 6o, da CF, que veda qualquer
designação discriminatória no tocante à filiação, prevendo a legitimidade a
todos os filhos, independentemente de serem fruto do casamento ou não,
ou mesmo independentemente da forma de sua geração.

“Hoje, não mais se faz menção discriminatória sobre o status dos filhos,
pois a constituição da família transcende à formalidade que lhe fora peculiar para
fincar-se como o núcleo sócio afetivo necessário à plena realização da
personalidade de seus integrantes.”. (MALUF, 2015 p.478).
Verifica-se, portanto, a evolução social e normativa da sociedade, e pela
análise conjuntural do sistema jurídico, entende-se que qualquer origem de filiação
também será objeto de proteção do Estado.

2.1 DA FILIAÇÃO

No dicionário jurídico filiação vem descrita como sendo uma “relação que
existe entre uma pessoa e outra de quem descende em primeiro grau, também, do
vínculo de parentesco que liga uma pessoa em relação ao seu pai ou a sua mãe.”.
(NETTO, 2010, p. 294).
21

Para Maluf (2015, p.465), “podemos entender a filiação como a relação


existente entre os genitores e sua prole, independente de haver vínculo biológico.”.
“A filiação é, portanto, o vínculo constituído entre um sujeito e seus pais,
pouco importando o meio de sua formação.”. (LISBOA, 2013, p.274).
Segundo Melo (2014, p.77) “a partir desse conceito e tendo em vista a
ordem ascensional dos filhos em relação aos pais, se podem identificar o estado de
pai (paternidade) e o estado de mãe (maternidade).”.
Afirma Rizzardo (2014), que “importante questão que integra o direito de
família diz respeito à filiação, posto que os filhos são uma das razões maiores do
casamento, representando a continuidade da espécie, e sendo uma amostra do
futuro da humanidade.”.
Consoante ao assunto, Maluf (2015, p.466) ensina que:
o estabelecimento da filiação apresenta grande relevância na atualidade,
devido às conseqüências jurídicas que acarreta e dos múltiplos direitos e
deveres que decorrem do parentesco, principalmente de primeiro grau, além
da necessidade que os seres humanos têm, sobretudo de natureza
psicológica e emocional, de conhecer a identidade de seus pais.

A relação de filiação é o vínculo mais importante da união e aproximação


das pessoas. “Constitui um liame inato, emanado da própria natureza, que nasce
instintivamente e se prolonga ao longo da vida dos seres humanos, embora se
atenue o sentimento com o passar do tempo.”. (RIZZARDO, 2014).
Nota-se, assim, que não se pode explicar ou conceituar a filiação
baseando-se apenas na genética. Outros elementos como a adoção e a afetividade,
devem ser levados em conta.

2.2 ESPÉCIES DE FILIAÇÃO

A ideia de família evoluiu tanto que é muito difícil conceituar as


categorias jurídicas possíveis, tanto que a doutrina tem reiterado que são pessoas
ligadas por afeto.
A partir disso, elencam-se como espécies de filiação, a biológica, a
adotiva e a socioafetiva.

2.2.1 Filiação biológica


22

A filiação biológica funda-se na relação sanguínea e natural existente


entre pais e filhos que mantém um vínculo presente em sua origem genética.
Até hoje, quando se fala em filiação e em reconhecimento de filho,
sempre se esteve a falar em filiação biológica. Em juízo sempre foi buscada a
chamada verdade real, sendo assim considerada a relação de filiação decorrente do
vínculo de consanguinidade. (DIAS, 2007, p.327).
A paternidade biológica pode ser compreendida como “uma verdade
biológica, comprovável por meio de exame laboratorial que permite afirmar, com
certeza praticamente absoluta, a existência de um liame biológico entre duas
pessoas.”. (DIAS, 2009, p.330).
Ademais, o ordenamento jurídico pátrio valoriza o vínculo biológico entre
pais e filhos ao garantir, através do Estatuto da Criança e do Adolescente, o direito
do menor vindicar e perseguir sua origem genética, além de a qualquer tempo
requerer o reconhecimento de paternidade biológica existente, nos termos do artigo
27 da Lei nº. 8.069/1990. (BRASIL, 1990).
A consideração da filiação biológica cada vez mais ganha respeito e
reconhecimento, uma vez que os avanços tecnológicos hoje já experimentados
trazem cada vez mais certeza com relação ao liame sanguíneo e genético entre pai
e filho através do exame de DNA, já pacificamente reconhecido na doutrina e na
jurisprudência como prova de extrema relevância na determinação do vínculo de
filiação biológica entre pais e filhos. (SILVA, 2002).

2.2.2 Filiação adotiva

Veloso (1997, p. 160) conceitua adoção com sendo “o ato jurídico que
estabelece um vínculo de parentesco entre adotante e adotado, passando este a ser
filho daquele. Adquire, assim, o adotado estado de filho do adotante e este o de pai
do adotado.”.
Gomes (2001, p.324) afirma que a adoção “é o ato jurídico pelo qual se
estabelece independentemente do fato natural da procriação, o vínculo de filiação.”.
No mesmo sentido, Diniz (2011, p.546) entende que:

a adoção vem a ser o ato jurídico solene pelo qual, observados os


requisitos legais, alguém estabelece, independentemente de qualquer
relação de parentesco consangüíneo ou afim, um vínculo fictício de filiação,
23

trazendo para sua família, na condição de filho, pessoa que, geralmente, lhe
é estranha.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº. 8.069/1990 discorre em


seu artigo 41, caput, “a adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os
mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo
com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.”. (BRASIL, 1990).
No campo patrimonial, a Constituição Federal de 1988 no parágrafo 6º do
art. 227, também resguarda os direitos sucessórios e a prestação de alimentos
recíproca entre adotante e adotado. (BRASIL, 1988).
Ressaltando que, seja no estatuto da criança e do Adolescente ,
no Código Civil de 2002, ou em qualquer outro dispositivo, a finalidade destes é o

melhor interesse da criança ou do adolescente. A adoção trata-se também de um


interesse público, pois tem o objetivo de proporcionar à criança uma infância
melhor, dando a mesma um lar e a assistência necessária para o seu crescimento
e desenvolvimento. (DANIEL, 2017).

2.2.3 Filiação socioafetiva

A Constituição Federal de 1998 trouxe mudanças legislativas significativas


no tocante à filiação, percebendo-se, assim, a possibilidade de se reconhecer um
novo tipo de filiação, a socioafetiva.
No que tange à paternidade e maternidade, dispõe o artigo 1.593 do
Código Civil que: “O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de
consangüinidade ou outra origem.”. (BRASIL, 2002).
No entanto, dada a pluralidade de formações familiares, esse conceito
passou também a compreender a paternidade e a maternidade socioafetivas, cujo
vínculo não advém de laço de sangue ou de adoção, mas, sim, de reconhecimento
social e afetivo da parentalidade. (MALUF, 2015).
Para Madaleno (2006, p.138) “filiação socioafetiva é a real paternidade do
afeto e da solidariedade; são gestos de amor que registraram a colidência de
interesse entre o filho registral e o seu pai de afeto.”.
Consoante ao assunto, Fujita (2009, p.70) menciona que:
filiação socioafetiva é aquela consistente na relação entre pai e filho, ou
entre mãe e filho, ou entre pais e filho, em que inexiste liame de ordem
sanguínea entre ele, havendo, porém, o afeto como elemento aglutinador,
24

tal como uma sólida argamassa a uni-los em suas relações, quer de ordem
pessoal, quer de ordem patrimonial.

“Percebe-se assim, que a filiação socioafetiva é o resultado do desejo de


dar continuidade a espécie humana, direito inerente a todas as pessoas.”.
(MONTEIRO, 2010, p.134).
Inclusive, “o vínculo de filiação socioafetiva, que se legitima no interesse
do filho, gera o parentesco socioafetivo para todos os fins de direito, nos limites da
lei civil.”. (DIAS, 2013, p. 383).
Assim, a relação de filiação socioafetiva estabelece vínculo com direitos e
deveres idênticos àqueles verificados na paternidade consanguínea. Com isso, o pai
ou a mãe socioafetivos ficam sujeitos a exercer o poder familiar com o devido zelo e
os filhos, por sua vez, têm tutelados os seus direitos à educação, criação e
subsistência, bem como seus futuros direitos sucessórios. (SIMÕES, 2018).

2.3 PRINCÍPIOS ATINENTES AO TEMA

Os princípios, de forma geral, são proposições básicas ou diretrizes que


orientam e fundamentam o estudo de qualquer ciência, funcionando como espécie
de pilares que dão sustentação às proposições emanadas.
No que se refere ao assunto proposto, relacionam-se ao tema os
seguintes princípios: da igualdade, da dignidade da pessoa humana, da afetividade
e da solidariedade familiar.

2.3.1 Princípio da igualdade

O princípio da igualdade encontra previsão no caput do artigo 5º da


Constituição Federal, que diz: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a
propriedade [...].”. (BRASIL, 1988).
Segundo Almeida (2012, p.54), “o princípio da igualdade, como nela
previsto, alcança sua maior amplitude substancial, impondo-se um tratamento legal
que seja a todos similar porque atento a suas próprias diferenciações, tanto de
ordem econômica como identitária.”.
25

Para Junior (1999, p.42) “[...] esse princípio pressupõe que as pessoas
colocadas em situações diferentes sejam tratadas de forma desigual.”. ‘Dar
tratamento isonômico às partes significa tratar igualmente os iguais e desigualmente
os desiguais, na exata medida de suas desigualdades’.
“Assim, os tratamentos normativos diferenciados são compatíveis com
a Constituição Federal quando verificada a existência de uma finalidade
razoavelmente proporcional ao fim visado.”. (MORAES, 1989, p. 58).
Sobre o assunto, Mello (2010, p. 18) menciona que:
o principal objetivo do princípio da igualdade é justamente não permitir que
sejam feitas diferenciações desmotivadas entre as pessoas, ou seja, sem
qualquer fundamento legal que faça com que sejam admitidas; fazendo
assim, com que todos possam usufruir de seus direitos de maneira
igualitária e da forma que a cada um é possível.

Agra (2014, p. 49, apud MELLO, p. 26) destaca que “a lei não deve ser
fonte de privilégios ou perseguições, mas instrumento regulador da vida social que
necessita tratar equitativamente todos os cidadãos.”.
“A supremacia do princípio da igualdade alcança também os vínculos de
filiação ao proibir qualquer designação discriminatória com relação aos filhos
havidos ou não da relação de casamento ou por adoção.”. (DIAS, 2016, p.51).
O princípio da igualdade jurídica de todos os filhos está consubstanciado
no artigo 227, parágrafo 6º, da Constituição Federal, que dispõe: “Os filhos, havidos
ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.”.
(BRASIL, 1988)
Loureiro (2009, p.1.126) explica que:
a igualdade entre os filhos contém dois significados, um formal e outro
material. A não discriminação ou igualdade em sentido formal, a menos
importante, seria a vedação ao uso de termos como legítimos, naturais,
bastardos. No que tange ao sentido material, a não discriminação impede
qualquer distinção ou diferença de regime jurídico que consubstancie num
desfavor ou numa desproteção que não seja objetiva e razoavelmente
fundada.

Para Scalquette (2014, p.6) “a proibição da discriminação, não é exagero


dizer, revolucionou o Direito de Família e o Direito das Sucessões. Não mais se
podia fazer menção ao filho ilegítimo, conhecido popularmente por ‘bastardo’,
tampouco aos legitimados [...].”.
Já Gagliano e Pamplona (2012, p. 83) apontam que:
26

não há mais espaço, portanto, para a vetusta distinção entre filiação legítima
e ilegítima, característica do sistema anterior, que privilegiava a todo custa
‘estabilidade no casamento’ em detrimento da dimensão existencial de cada
ser humano integrante do núcleo familiar

Melo (2014, p.77), por sua vez, enfatiza que:


hoje não mais se admite qualquer discriminação ou qualificação
diferenciada com relação aos filhos: filhos são filhos e pronto!... Pouco
importa se são filhos consangüíneos, se são oriundos de adoção (homo
afetivas ou por casais heterossexuais), ou se são filhos decorrentes da
inseminação artificial ou de qualquer outra espécie.

Logo, conforme (DIAS, 2016, p. 51), “Atendendo a ordem constitucional, o


Código Civil consagra o princípio da igualdade no âmbito do direito das famílias, que
não deve ser pautado pela pura e simples igualdade entre iguais, mas pela
solidariedade entre seus membros.”.
Nas palavras de Lisboa (2006) aduz que prevalece o princípio
constitucional da igualdade de tratamento e da não discriminação entre os filhos
havidos do casamento e fora dele, razão pela qual não se justifica, na sucessão de
colaterais, que os irmãos unilaterais herdem apenas metade daquilo a que têm
direito os filhos de mesmos pais.
Assim, conclui-se que a igualdade, como princípio constitucional, é um
alicerce do ordenamento jurídico brasileiro e tem por escopo evitar a violação de
direitos por atos discriminatórios.

2.3.2 Princípio da dignidade da pessoa humana

A dignidade da pessoa humana “é uma referência constitucional


unificadora dos direitos fundamentais inerentes à espécie humana, ou seja,
daqueles direitos que visam garantir o conforto existencial das pessoas, protegendo-
as de sofrimentos evitáveis na esfera social.”. (CHIMENTI, 2008, p. 34).
O princípio da dignidade da pessoa humana está disposto no artigo 1º,
inciso III, da Constituição Federal, sendo que “tal princípio compõe o alicerce da
comunidade familiar e impõe pensar o direito de família com a ajuda e pelo ângulo
dos direitos humanos.”. (JUNIOR, 2012, p. 2).
Conforme aduz Nunes (2009, p.25) “a dignidade humana é um valor já
preenchido a priori, isto é, todo ser humano tem dignidade só pelo fato já de ser
pessoa.”.
Gagliano e Pamplona (2012, p.76) enfatizam que:
27

princípio solar em nosso ordenamento, a sua definição é missão das mais


árduas, muito embora arrisquemo-nos dizer que a noção jurídica de
dignidade traduz valor fundamental de respeito à existência humana,
segundo as suas possibilidades e expectativas, patrimoniais e afetivas,
indispensáveis a sua realização pessoal e a busca da felicidade.

Gonçalves (2005, p. 7), leciona que “o princípio do respeito à dignidade


da pessoa humana constitui base da comunidade familiar, garantindo o pleno
desenvolvimento e a realização de todos os seus membros, principalmente da
criança e do adolescente.”.
Sobre o tema, Dias (2016, p. 48, apud PEREIRA, p. 72) menciona que:
o princípio da dignidade da pessoa humana significa, em última análise,
igual dignidade para todas as entidades familiares. Assim, é indigno dar
tratamento diferenciado as várias formas de filiação ou aos vários tipos de
constituição de família, com o que se consegue visualizar a dimensão do
espectro desse princípio, que tem contornos cada vez mais amplos.

A dignidade da pessoa humana encontra na família o solo apropriado


para florescer. A ordem constitucional dá-lhe especial proteção independentemente
de sua origem. (DIAS, 2016, p.49).
Para Bastos (2002, p.425) “conclui-se que com a inserção do princípio
sob comento na Magna Carta brasileira, o que se está a indicar é que um dos fins do
Estado é propiciar as condições para que as pessoas se tornem dignas.”.
Cabe ressaltar, que o princípio da dignidade da pessoa humana está
intimamente ligado ao direito de o filho ver sua filiação reconhecida, sem preceitos
discriminatórios e com a certeza de ver assegurada seus direitos inerentes.
O campo sucessório é terreno fecundo para o reconhecimento de
garantias e direitos fundamentais. Assim, não só no âmbito da família, mas também
quando se fala em direito sucessório, é impositivo invocar o princípio fundamental da
dignidade da pessoa humana.
EDVALDO, PENSO SER NECESSÁRIO FAZER UM PARÁGRAFO AQUI
FALANDO DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE(NA SUCESSÃO) ENTRE IRMÃOS QUE
É O FOCO CENTRAL DO TEMA

2.3.3 Princípio da afetividade

Maluf (2015, p.52 apud NUNES, 2009, p.29-30) disciplina que “[...] a
afetividade vem consignada como um princípio jurídico bastante valorizado na
28

construção das relações familiares na atualidade, embora estando, ‘apenas implícito


na ordem constitucional’, notadamente no art. 226, §§ 3 º e 4º, da CF.”.
Para Maluf (2015, p.49) “a afetividade é um dever imposto aos pais em
relação aos filhos e destes em relação àqueles, ainda que haja desamor ou
desafeição entre eles.”.
Assim, “sem qualquer contradição, podemos referir a dever jurídico de
afetividade oponível a pais e filhos e aos parentes entre si, em caráter permanente,
independentemente dos sentimentos que nutram entre si, e aos cônjuges e
companheiros enquanto perdurar a convivência.”. (LÔBO, 2008, p. 48).
Nas palavras de Madaleno (2008, p.66) “o afeto é a mola propulsora dos
laços familiares e das relações interpessoais movidas pelo sentimento e pelo amor,
para ao fim e ao cabo dar sentido e dignidade à existência humana.”.
“Trata-se de um sentimento que concorre para a realização da pessoa e
sua constante formação, mas que só passou a ser objeto de atenção jurídica quando
a família legítima – sediada no casamento – demonstrou a fragilidade dos seus
contornos formais para a satisfação dos seus membros.”. (ALMEIDA, 2012, p.41).
A ascensão deste princípio se deu com a evolução da família e sua
tendência em tornar o grupo familiar cada vez menos hierarquizado, fundando-se
cada vez mais na afeição mútua que estabelece plena comunhão de vida. (DIAS,
2011, p. 38).
Dessa forma, apesar da falta de sua previsão expressa na legislação,
não restam dúvidas que a afetividade constitui um código forte no Direito
Contemporâneo, gerando alterações profundas na forma de se pensar a família
brasileira.
EDVALDO, PENSO SER NECESSÁRIO FAZER UM PARÁGRAFO AQUI
FALANDO DO PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE(NA SUCESSÃO) ENTRE IRMÃOS
QUE É O FOCO CENTRAL DO TEMA

2.3.4 Princípio da solidariedade familiar

“O princípio da solidariedade tem assento constitucional, tanto que seu


preâmbulo assegura uma sociedade fraterna.”. (DIAS, 2016, p.51).
29

“Talvez por isso, o próprio texto constitucional de 1988 tenha prescrito,


logo após a dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado Democrático
de Direito (art. 1º, III), a solidariedade como um dos objetivos da República.”.
(ALMEIDA, 2012, p.49).
Para Almeida (2012, p.49) “este foi um valioso acerto. Afinal, se o direito
de todos à defesa de sua pessoa engloba, impreterivelmente, a necessidade de
cooperação do outro, coerente se mostra conceder qualidade jurídica a esta última,
tornando-a imperativa, obrigatória.”.
No entendimento de Dias (2016, p.51) “esse princípio que tem origem nos
vínculos afetivos dispõe de acentuado conteúdo ético, pois contém em suas
entranhas o próprio significado de expressão solidariedade, que compreende a
fraternidade e a reciprocidade.”.
“Logicamente, a solidariedade familiar é construída sob valores traçados
pelos ascendentes em favor dos descendentes. E estes, por seu turno, acabarão por
trilhar caminho parecido com aquele que lhes foi ensinado.”. (LISBOA, 2009, p.15).
Para Lisboa (2009, p.16) “[...] a assistência material e imaterial entre os
membros da entidade familiar devem sempre se fazer presentes nas relações
jurídicas existentes. Impõe-se a solidariedade familiar para os fins de alimentos,
educação, profissão, lazer, afeto etc.”.
Observa-se que há um grande interesse do próprio Estado em assegurar
em âmbito constitucional o princípio da solidariedade, pois se a família tiver
condições e for obrigada a prestar auxílio aos seus pares, o Estado ficará
desincumbido de prestar este auxilio.
EDVALDO, PENSO SER NECESSÁRIO FAZER UM PARÁGRAFO AQUI
FALANDO DO PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE (NA SUCESSÃO) ENTRE
IRMÃOS QUE É O FOCO CENTRAL DO TEMA
30

3 CONSIDERAÇÕES ACERCA DO DIREITO SUCESSÓRIO NA ORDEM


JURÍDICA BRASILEIRA

3.1 CONCEITO

O Direito das Sucessões, previsto na parte especial do Código Civil,


regula a transferência do patrimônio de uma pessoa depois de sua morte. A morte
desencadeia uma ruptura no domínio dos bens. “Como os bens materiais estão
ligados à vida corporal, é necessário que outras pessoas venham e assumam a
titularidade, de modo a se recompor a ordem ou a estabilidade no patrimônio.”.
(RIZZARDO, 2015).
No direito Sucessório, entretanto, o vocábulo é empregado em sentido
estrito, para designar tão somente a sucessão decorrente da morte de alguém, ou
seja, a sucessão causa mortis. (GONÇALVES, 2002).
“São, portanto, pressupostos da sucessão causa mortis a que haja o
falecimento de alguém, titular de um patrimônio, e a sobrevida de outras pessoas,
chamadas para recolher esse patrimônio que o direito chama de herança.”. (CATEB,
2007, p.6).
Em um sentido lato, “suceder a uma pessoa significa vir depois dela,
tomar o seu lugar, recolhendo todo ou parte dos direitos que lhe pertencem.”.
(RIZZARDO, 2015, p. 2).
Na conceituação de Nader (2016, p.5):
o Direito das Sucessões regula apenas a substituição de titularidades em
decorrência do fenômeno morte. Em sentido estrito, sucessão significa
apenas a transmissão mortis causa. Isoladamente empregado, o vocábulo
apresenta esta acepção. Sob o aspecto subjetivo, sucessão é a
universalidade de bens (universitasrerum) a que os herdeiros fazem jus;
objetivamente considerado, o vocábulo é referência ao patrimônio deixado
pelo de cujus.

Com isso, o Direito Sucessório tem sua razão de ser no direito de


propriedade, conjugado ao direito das famílias, tratando-se da transmissão de bens,
direitos e obrigações, em razão da morte de uma pessoa, herdeiros, de um modo
geral, seus familiares. (DIAS, 2015).
De acordo com Almeida (2012), o patrimônio do falecido, composto de
ativo e passivo, recebe o nome de herança. A coisa certa deixada pelo falecido
31

recebe o nome de legado. Quem deixa a herança ou o legado é o falecido, e quem


recebe a herança é o herdeiro ou o legatário. É a morte que desencadeia a
transmissão do patrimônio do falecido, abrindo sua sucessão.
Sobre o assunto, sustenta Cateb (2007, p.6) que “a sucessão é um dos
fenômenos de maior importância para o Direito. Se sucessão é sinônimo de
aquisição de direitos, compreende-se que sem ela não se poderá conceder a ordem
jurídica.”.
Nesse viés, Tartuce (2017, p.1) preceitua que “o livro referente ao Direito
das Sucessões é o último do Código Civil de 2002, [...] e não poderia ser diferente,
pois a morte deve fechar qualquer norma geral que se diga valorizadora da vida
privada da pessoa humana.”.
Vê-se no entendimento de Coelho (2012) que são complexas as regras
de Direito Sucessório, porque a multiplicidade de relações familiares que envolvem a
pessoa, na hora da morte, impede um tratamento simples que seja também justo
para a maioria dos sucessores.
O Direito das Sucessões disciplina, portanto, “[...] a projeção das
situações jurídicas existentes, no momento da morte, da desaparição física da
pessoa, a seus sucessores.”. (VENOSA, 2009, p.4).

3.2 ESPÉCIES DE SUCESSÃO

A Constituição Federal de 1988 assegura, em seu artigo 5º, inciso XXX, o


direito à herança. (BRASIL, 1988). E o Código Civil de 2002, por sua vez, disciplina
o Direito das Sucessões em quatro títulos, que tratam, respectivamente, da
sucessão em geral, da sucessão legítima, da sucessão testamentária e do inventario
e partilha. (BRASIL, 2002).
A sucessão, considerando sua fonte, pode ser legítima ou testamentária.
Quando se dá em virtude de lei, denomina-se sucessão legítima, e quando decorre
de manifestação de última vontade, expressa em testamento ou codicilo, chama-se
sucessão testamentária. (RIZZARDO, 2012).

3.2.1 Sucessão testamentária – breves considerações


32

O testamento “é o ato unilateral e revogável pelo qual uma pessoa dispõe,


para depois da morte, de todos os seus bens ou de parte deles.”. (LEITE, 2012, p.
152).

Nas palavras de Diniz (2008, p. 174) “a sucessão testamentária é aquela


em que a transmissão hereditária se opera por ato de última vontade, revestido da
solenidade requerida por lei.”.
O parágrafo primeiro do artigo 1.857 do Código Civil preceitua:
Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade
dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.
§ 1º. A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no
testamento.

Assim, no testamento permite-se apenas a disposição da metade dos


bens, sendo a outra metade, denominada de legítima ou reserva legal, reservada
aos herdeiros.
A esse respeito, assinala Gonçalves (2010, p. 43) que:

[...] havendo herdeiros necessários (ascendentes, descendentes ou


cônjuge), divide-se a herança em duas partes iguais e o testador só poderá
dispor livremente da metade, denominada porção disponível, para outorgá-
la ao cônjuge sobrevivente, a qualquer de seus herdeiros ou mesmo a
estranhos, pois a outra constitui a legítima, àqueles assegurada do art.
1.846 do Código Civil.

No entendimento de Figueiredo (2014, p. 651) “o testamento é negócio


jurídico unilateral, gratuito, mortis causa, formal, revogável e personalíssimo.”. É
unilateral, pois depende unicamente da manifestação de vontade do testador de
dispor, sendo uma vontade livre, solitária e soberana. É um ato gratuito, pois não
visa à obtenção de vantagens para o testador.
Ademais, tem eficácia mortis causa, eis que produz efeitos somente após
a morte, e as disposições patrimoniais tem eficácia imediata. É um ato formal, exige
uma forma prescrita em lei, sob pena de nulidade. E é um ato revogável de acordo
com o artigo 1.858 do Código Civil, de modo que a qualquer tempo pode ser
revogado, seja particular ou público um pode revogar o outro. (GOMES, 2016).
No mais, é personalíssimo, porque só pode emanar, única e
exclusivamente, da vontade do testador, declarada por ele próprio, pessoal,
indelegável e diretamente, não se admitindo a sua manifestação através de
procuradores e representantes legais. (FARIAS, 2004).
33

Com isso, a sucessão testamentária é o direito que revela com maior


amplitude a autonomia da vontade privada. “O testador regula, em ato unilateral, a
destinação dos seus bens para depois de sua morte, permitindo-o dispor de seu
patrimônio para quem desejar, ressalvadas as limitações legais.”. (DIAS, 2011).

3.2.2 Sucessão legítima – breves considerações

A sucessão legítima é a que se verifica quando o autor da herança não


tenha disciplinado, em vida, a destinação, no todo ou em parte, de seus bens por ato
de última vontade. (GAMA, 2007).
Sendo assim, “a sucessão legítima é uma complementação natural, com
a transferência do patrimônio adquirido em vida a certas e determinadas pessoas,
nomeadas pela lei, sem qualquer interferência da vontade de seu titular.”. (GAMA,
2007, p.9).
Determina o artigo 1.788 do Código Civil que:
morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros
legítimos; o mesmo ocorrer quando os bens não forem compreendidos no
testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for
julgado nulo. (BRASIL, 2002).

Os bens do de cujus são transferidos para pessoas indicadas pela lei, na


ordem estabelecida no artigo 1.829 do Código Civil, in verbis:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo
se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da
separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no
regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

Através do rol previsto no dispositivo legal supracitado, tem-se a lei


protegendo o patrimônio do de cujus, transferindo seus bens às pessoas mais
próximas do falecido, de acordo com uma presunção de afetividade feita pelo
legislador ordinário.
“É a lei que prescreve as preferências que devem prevalecer entre os
parentes que deverão herdar os bens deixados pelo de cujus, passando o
34

patrimônio deste às pessoas indicadas pela lei, obedecendo-se à ordem de vocação


hereditária.”. (DOWER, 2004, p. 15).
Sobre isso, assinala Gonçalves (2012, p. 42) que:
a sucessão legitima sempre foi a mais difundida no Brasil. A escassez de
testamentos entre nós é devida a razões de ordem cultural ou costumeira,
bem como ao fato de o legislador brasileiro ter disciplinado muito bem a
sucessão ab intestato, chamando a suceder exatamente aquelas pessoas
que o de cujus elencaria se, na ausência de regras, tivesse de elaborar
testamento.

Costuma-se dizer, que “a sucessão legítima representa a vontade


presumida do de cujus de transmitir o seu patrimônio para as pessoas indicadas na
lei, pois teria deixado testamento se fosse sua intenção.”. (GONÇALVES, 2014,
p.42).
Ainda, de acordo com o artigo 1.810 do Diploma Civil “na sucessão
legítima, se o herdeiro renunciar sua parte acresce à dos outros herdeiros da mesma
classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos da subseqüente.”. (BRASIL.
2002).
Entende-se que a parte do Direito das Sucessões que guarda mais
intimidade com o Direito de Família é a sucessão legítima e, diante das
transformações operadas no curso do Século XX no que se refere aos valores
culturais, econômicos, políticos e sociais, logicamente a família não poderia deixar
de ter recebido os impactantes reflexos das mudanças. (GAMA, 2007).

3.3 ABERTURA DA SUCESSÃO

A expressão ‘aberta a sucessão’, diz respeito ao momento em que


surgem os direitos sucessórios, sem fazer referência, entretanto, aos titulares
desses direitos. (HIRONAKA, 2007).
A morte da pessoa é o fato jurídico que origina o direito de suceder,
fazendo com que ocorra simultaneamente a abertura da sucessão. O artigo 1.784 da
Lei Civil dispõe que “aberta à sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos
herdeiros legítimos e testamentários.”. (BRASIL, 2002).
A herança é um somatório, em que se incluem os bens e as dívidas, os
créditos e os débitos, os direitos e as obrigações, as pretensões e ações de que era
35

titular o falecido, e as que contra ele foram propostas, desde que transmissíveis.
Compreende, portanto, o ativo e o passivo. (BARRADO, 2014).
Segundo Dias (2015, p. 110) “a abertura da sucessão é o momento
original do direito sucessório como efeito instantâneo da morte do autor da sucessão
e, por isso, é imutável, propiciando a adoção de medidas de conservação e
administração da herança.”.
Para ocorrer a abertura da sucessão é necessário atentar a duplo
pressuposto: (a) a existência de herdeiro legítimo ou testamentário no momento do
falecimento e (b) a existência de patrimônio do falecido. (DIAS, 2015, p.109).
De acordo com Cateb (2007, p.16):
a simples verificação da morte, o domínio e a posse de todos os direitos e
deveres se transmitem, mesmo que os herdeiros estejam em lugar incerto e
não sabido, ou em local distante, conscientes ou não do fato de que põe
termo a existência da pessoa natura. Pouco importa que o filho do autor da
herança esteja em viagem de núpcias na longínqua Austrália, ou fazendo
curso de pós-graduação no Japão.

Nesse aspecto considera-se que “verificada a morte, imediatamente o


domínio e a posse se transmitem, porque o patrimônio não pode ficar acéfalo, sem
titularidade.”. (CATEB, 2007, p.16).
Destarte, a sucessão hereditária gravita em torno da morte. A morte do
titular de um patrimônio determina a abertura de sua sucessão, que se opera de
pleno direito e imediatamente aos herdeiros legítimos e testamentários.

3.4 ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

A ordem de vocação hereditária está prevista no Capítulo III no Título I do


Livro V da parte especial do Código Civil. Por ela traduz-se a maneira pela qual o
legislador regulou as classes das pessoas chamadas à sucessão.
Por vocação hereditária, Scalquette (2014, p. 150) explica que “é a
relação de preferência, estabelecida pela lei, de pessoas que são chamadas a
suceder o falecido.”.
No mesmo liame, Carvalho Neto (2008, p. 49) afirma que “vocação
hereditária é o chamamento dos sucessores para a aquisição da herança, o que
pode se dar tanto por via legítima como por via testamentária.”.
36

Numa noção sucinta “diz-se que a ordem de vocação hereditária é a


distribuição dos herdeiros em classes preferenciais, conjugando as duas ideias de
grau e de ordem.”. (PEREIRA, 2008, p.98).
“A lei instituiu uma ordem de prioridade na escolha de quem vai assumir a
herança. É o que chama ordem de vocação hereditária. Vocação vem do latim
vocare e significar chamar.”. (DIAS, 2015, p.145).
Nas palavras de Diniz (2014, p. 122) “a ordem de vocação hereditária é
uma relação preferencial, estabelecida pela lei, das pessoas que são chamadas a
suceder o finado. Não restam dúvidas que há uma hierarquia entre as classes de
herdeiros.”.
Dispõe o artigo 1.829 do Código Civil a ordem da vocação hereditária, da
seguinte forma:
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo
se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da
separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no
regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

Observa-se que a legislação indica à ordem daqueles que poderão


receber a herança. A preferência é pelos parentes em linha reta: descendentes e
ascendentes. Tanto eles como o cônjuge são considerados herdeiros necessários e
fazem jus à legítima, que compreende a metade da herança. (DIAS, 2015).
Entre os descendentes, primeiramente são chamados os filhos, por serem
os parentes mais próximos do falecido, isto é, primeiro grau de parentesco com o de
cujus; faltando filhos, serão chamados os netos, depois bisnetos, trinetos, tetranetos,
etc. os descendentes serão chamados enquanto existir um deles vivo, excluindo as
demais classes. (CATEB, 2007).
Para Venosa (2014, p.126) “a lei adotou uma ordem natural e afetiva. Há
uma presunção da lei de que o autor da herança gostaria de deixar seus bens aos
seus descendentes.”. A ordem é excludente. Somente se não existirem filhos, são
convocados os netos. Os bisnetos só herdam se não existirem nem filhos nem
netos. (DIAS, 2013).
No entanto, muito embora os descendentes seja considerados herdeiros
por excelência, o legislador excepcionou a possibilidade do cônjuge sobrevivente
37

herdar junto com os descendentes a depender do regime de bens adotado pelo


casal para disciplinar a relação patrimonial entre eles. COLOCAR UMA CITAÇÃO
SOBRE ISSO
Na falta de descendentes, na segunda classe sucessória, serão
chamados a suceder os ascendentes do falecido, e referem-se aos pais, avós,
bisavós, tataravós e assim sucessivamente.
Assim como ocorre com os descendentes, o legislador ordinário também
possibilitou a concorrência do ascendente juntamente ao cônjuge supérstite.
COLOCAR UMA CITAÇÃO SOBRE ISSO
Na classe dos ascendentes, a herança é dividida entre a linha materna e
paterna. Sobre o tema, Dias (2013, p. 135) explica que:
tal acontece se os herdeiros são os pais, bem como quando são
convocados os avós, ou, ainda, os bisavós. A herança é partilhada pela
metade entre a linha paterna e a linha materna, e não pelo número dos
ascendentes sobreviventes. Os ascendentes da linha materna dividem entre
eles a metade da herança. O mesmo ocorre na ascendência paterna.
Desimporta o número de ascendentes sobreviventes.

Na inexistência de descendentes e ascendentes, em terceiro lugar


encontra-se o cônjuge sobrevivente, o qual será chamado à sucessão independente
do regime de bens adotado. COLOCAR UMA CITAÇÃO SOBRE ISSO
Por último, na quarta classe da vocação hereditária, são chamados a
suceder os colaterais até quarto grau de parentesco com o autor da herança, sendo
aqueles provenientes de um tronco comum. Neste aspecto estão abarcados os
irmãos, tios, sobrinhos, primos, entre outros.
Diferentemente dos descendentes e ascendentes que estão em linha reta,
os herdeiros colaterais estão na linha transversal, assim, “ao calcular o seu grau,
percorrem-se duas linhas: primeiro, a direta ascendente até encontrar o
antepassado comum, depois a descendente, até ir ao lugar ao parente que se
compara.”. (CATEB, 2007, p. 84).
Os colaterais são herdeiros facultativos, ou seja, só recebem a herança
se não existirem herdeiros necessários, pois “[...] a eles não é reservada parte da
herança. Herdam se inexistirem outros herdeiros que os antecedem na ordem de
vocação hereditária.”. (DIAS, 2015, p. 152).
No que se refere ao companheiro sobrevivente, isto é, aquele que
mantinha união estável com o autor da herança, vale registrar que tal assunto
38

encontra-se sob análise da Suprema Corte Brasileira, a qual, até o momento,


reconheceu ao companheiro supérstite a mesma posição ocupada pelo cônjuge na
ordem de vocação hereditária.
Assim, “a ordem de vocação hereditária fixada na lei vem beneficiar os
membros da família, pois o legislador presume que aí residam os maiores vínculos
afetivos do autor da herança.”. (VENOSA, 2016, p. 124).

3.5 HERDEIROS NECESSÁRIOS

O Código Civil assegura, em seu artigo 1.845, os herdeiros necessários,


sendo eles os descendentes, os ascendentes e o cônjuge. Os herdeiros necessários
têm a proteção da legítima, sendo esta a metade de todo o patrimônio do autor da
herança, como aponta o artigo 1.846 do Diploma Civil ao elucidar que “pertence aos
herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo
a legítima.”. (BRASIL, 2002).
Aos herdeiros necessários deve ser reservado o percentual de cinquenta
por cento do patrimônio do de cujus. Essa reserva é intocável, podendo o testador
dispor livremente apenas de metade do seu acervo patrimonial.
Dias, sobre o assunto, enfatiza que:
a parte da herança chamada legítima não se destina aos herdeiros
legítimos, mas sim aos herdeiros necessários. Todos os herdeiros
necessários são herdeiros legítimos, mas recíproca não é verdadeira. Aos
herdeiros necessários é assegurada a legítima, isto é, a metade da herança.
Os herdeiros legítimos têm mera expectativa de direito. Herdam se não
existirem herdeiros necessários nem testamento destinando os bens a
terceiros. (DIAS, 2015, p. 145-146).

No entendimento de Cateb (2007) essa é uma imposição legal que


representa um freio à vontade do titular do patrimônio e deverá, sempre, ser
respeitada. Embora tenha sido o titular o único a trabalhar e auferir ganhos, mesmo
assim, não poderá ele dispor livremente de seus bens, reservando essa metade
como legítima para seus herdeiros necessários.
“Denominam-se necessários justamente porque não podem ser
afastados, não se confundindo com os legítimos, cujo termo é mais amplo,
abrangendo aqueles e mais outros, como os colaterais até quarto grau.”.
(RIZZARDO, 2015, p.206).
39

No mesmo liame, Gonçalves (2012) enfatiza que os herdeiros


necessários não podem ser afastados da sucessão pela simples vontade do
sucedido, senão apenas na hipótese de praticarem, comprovadamente, ato de
ingratidão contra o autor da herança. Mesmo assim, só poderão ser excluídos da
sucessão através de procedimento próprio.
Trata-se de matéria importante, pois visa definir até onde o testador pode
dispor de seus bens, com que se respeita determinada quantidade, a qual é
transmitida a certos herdeiros obrigatoriamente, ou mesmo que contrariando a
vontade do de cujus. (RIZZARDO, 2015).
40

4 SUCESSÃO DOS COLATERAIS

Estudar-se-á no presente capítulo a conseqüente sucessão na classe dos


colaterais, abordando os argumentos que defendem a (in)constitucionalidade da
sucessão entre irmãos bilaterais e unilaterais em concorrência à herança do irmão
falecido na qual diferencia o quinhão sucessório dos bens deixados pelo de cujus.
Para isso, o artigo 1.592 do Código Civil define que “são parentes em
linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as pessoas provenientes de um só
tronco, sem descenderem uma da outra.”. Neste aspecto estão abarcados os
irmãos, tios, sobrinhos, primos, entre outros. (BRASIL, 2002).
O Código Civil de 1916 contemplava de início, os colaterais até o sexto
grau. Posteriormente, o Decreto-Lei n. 9.461, de 15 de julho de 1946, restringiu ao
quarto grau apenas, na linha transversal, a ordem da vocação hereditária, seguindo
a tendência moderna do direito das sucessões, no sentido de limitar cada vez mais a
vocação na classe dos colaterais. (GONÇALVES, 2012).
Cateb (2015) menciona que os colaterais são parentes consanguíneos do
de cujus, mas, para alcançá-los é necessário ir ao tronco comum, de onde provêm
uns dos outros. Diferentemente dos filhos e pais que estão em linha reta, os
colaterais estão na linha transversal.
Diniz (2008, p. 150) explica que:
na falta de descendentes, ascendentes, convivente (CC, art. 1.790, III) e de
cônjuge sobrevivente, inclusive nas condições estabelecidas no art. 1830 do
Código Civil, são chamados a suceder os colaterais até o quarto grau (CC,
art. 1.839; RJTJSP, 50:256.

Além disso, Dias (2015, p.152, grifo do autor) explica que “os parentes
colaterais ocupam o último lugar da ordem de vocação hereditária. Recebem a
herança na ausência de herdeiros necessários. Assim, se o falecido tiver
descendentes, ascendentes ou for casado, os colaterais não herdam.”.
Contudo o artigo 1.850 do Código Civil preceitua que: "Para excluir da
sucessão os herdeiros colaterais, basta que o testador disponha de seu patrimônio
sem os contemplar.". (BRASIL, 2002).
Os colaterais são herdeiros facultativos. Os facultativos vão herdar na
falta de herdeiros necessários e de testamento que disponha sobre o destino do
espólio. Por não serem herdeiros legítimos, mas facultativos, podem ser excluídos
41

da sucessão, bastando que o testador disponha por inteiro de seu patrimônio sem
contemplá-los. (SILVA, 2010).
De acordo com o artigo 1.840 da Lei Civil, na classe dos colaterais os
mais próximos excluem os mais distantes, com exceção ao direito de representação
concedido aos filhos de irmãos. (BRASIL, 2002).
Dessa forma, os irmãos, que são colaterais em segundo grau, afastarão
os tios, que são colaterais em terceiro grau, e assim por diante. Se os sobrinhos
forem falecidos, os seus filhos, que são sobrinhos-neto do de cujus, nada herdarão,
pois a lei é clara ao dispor que o direito de representação somente se estende aos
filhos dos irmãos, e não aos netos. (SILVA, 2010).
Quando convocados somente colaterais de quarto grau, entre estes não
existe ordem de precedência, todos recebem igual valor e por cabeça. Só nesta
hipótese não se empresta tratamento diferenciado pelo fato de o vinculo decorrer
de parentesco unilateral e bilateral. “Havendo um tio-avô, dois sobrinhos-netos e
três - primos, a herança é dividida entre os seis e todos herdam quinhões iguais.”.
(DIAS, 2015, p.155).
Destarte, apenas na ausência de descendentes, ascendestes ou
cônjuge/companheiro sobrevivente do falecido, os colaterais serão chamados à
sucessão.

4.1 ANÁLISE DA (IN)CONSTITUCIONALIDADE DA SUCESSÃO ENTRE IRMÃOS

O Código Civil de 2002 dispõe sobre assuntos inerentes à sucessão, em


seus artigos 1.784 à 2.027, que tratam desde a sucessão em geral até inventários e
partilhas. (BRASIL, 2002).
O mesmo Diploma Civil em seu artigo 1.841, a previsão de que
“concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada
um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar.”. Sendo assim, tendo o
falecido um irmão bilateral e um unilateral e não deixando descendentes nem
ascendentes, àquele caberá 2/3 da herança e a este caberá 1/3. (BRASIL, 2002).
Ocorre que os filhos têm tratamento igualitário assegurado pela
Constituição Federal de 1988 no seu artigo 227, parágrafo 6º, que dispõe: “os filhos,
havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos
42

e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à


filiação.”. (BRASIL, 1988).
A partir disso, surge o questionamento se a desigualdade estabelecida no
artigo 1.841 da Lei Civil estaria ou não violando o princípio da igualdade disciplinado
na Lei Maior do ordenamento jurídico brasileiro. Analisar-se-á, portanto, os
argumentos favoráveis e contrários a esta diferenciação.

4.2 Breves considerações acerca da supremacia da Constituição Federal de


1988

A Constituição Federal de 1988 é a lei fundamental, o meio mediante o


qual uma sociedade se organiza e restringe atos ou exige prestações estatais, seja
prescrevendo direitos, deveres e garantias, seja conferindo o fundamento de
validade de todas as leis e atos normativos. (ZENI, 2002).
Deste modo, “como consequência do princípio da supremacia
constitucional, nenhuma lei ou ato normativo – a rigor, nenhum ato jurídico - poderá
subsistir validamente se for incompatível com a Constituição.”. (BARROSO, 2011,
p.323). Caso contrário deverá ser declarada sua inconstitucionalidade em face de
afronta à supremacia da Constituição.
Logo, a compreensão da Constituição como Lei fundamental implica o
reconhecimento da sua supremacia na ordem jurídica, bem como a existência de
mecanismos suficientes para garanti-la juridicamente contra agressões. Para
assegurar tal supremacia, necessário se faz um controle sobre as leis e os atos
normativos, o chamado controle de constitucionalidade. (BARROSO, 2011).
Controlar a constitucionalidade significa “verificar adequação de uma lei
ou de um ato normativo com a constituição, verificando seus requisitos formais e
materiais.”. (MORAES, 2006, p.659).
A constitucionalidade material é observada quando o conteúdo de um ato
jurídico obedece às disposições da Constituição Federal. A constitucionalidade
formal, por sua vez, surge quando na elaboração de um ato verificam-se os
procedimentos previstos pela Carta Magna. (ALEXANDRINO, 2009).
No entendimento de Alexandrino (2009), a inconstitucionalidade em nível
formal ocorrerá quando observar-se o oposto disto, podendo incluir não apenas
43

vícios no procedimento em si, mas também vícios de competência, abrangendo


normas criadas por pessoas sem legitimidade para legislar em função de óbice
imposto pela Constituição Federal.
Acerca da inconstitucionalidade, Novelino (2014) elucida que “a
inconstitucionalidade em sentido estrito decorre do antagonismo entre uma
determinada conduta comissiva ou omissiva do Poder Público e um comando
constitucional (CF, art. 102, I, a, e III; CF, art. 103, § 2°)”.
Dellore (2013, p.226), por sua vez, preceitua que:
no tocante ao conceito de inconstitucionalidade das normas, vale aduzir que
os atos normativos infraconstitucionais devem ser compatíveis com a
Constituição, tanto do ponto de vista formal (ou seja, no que pertine à
elaboração da lei; isto é, se o processo legislativo se deu conforme os
ditames constitucionais) quanto material (verificação se o próprio conteúdo
da norma está de acordo com os dispositivos previstos na Constituição).
Leciona, também, Bastos (1999, p.388).
a inconstitucionalidade de uma lei, é pois, a circunstância de uma
determinada norma infringir a Constituição, quer quanto ao processo a ser
seguido pela elaboração legislativa, quer pelo fato de, embora tendo a
norma respeitado a forma de criação da lei, desrespeitar a Constituição
quanto ao conteúdo adotado.

Garantir a supremacia de uma norma constitucional é resguardar a


Constituição e o ordenamento jurídico como um todo, além de resguardar a própria
essência de um Estado. Divergindo uma Lei da Constituição, sendo esta superior
hierarquicamente em relação aquela, em razão do papel que desempenha no
ordenamento jurídico, não há outra opção senão afastar a Lei e aplicar a
Constituição. É nisso que consiste a supremacia constitucional. (MENDES, 2015).

4.3 Sucessão entre irmãos unilaterais e bilaterais

A classificação dos irmãos em unilaterais ou bilaterais tem grande


importância no momento da sucessão. Serão preferencialmente os irmãos
chamados à sucessão por estarem no grau mais próximo que os outros, excluindo
assim os mais distantes, só com a inexistência destes é que serão convocados os
outros. (DIAS, 2008).
Nas palavras de Coelho (2012, p.301) “os irmãos bilaterais são os que
têm o mesmo pai e mãe; e os unilaterais os que têm o mesmo pai ou mãe”. No
mesmo liame, Queiroga (2012, p.134) menciona que “bilaterais são os que provem
44

do mesmo casamento, já os unilaterais são os filhos do mesmo pai com mãe


diferente (consaguíneos).”.
Acrescenta Diniz (2006, p. 152) que:
para efeito da herança de colateral, o art.1841 do Código Civil distingue o
irmão bilateral ou germano, filho do mesmo pai e da mesma mão, do irmão
unilateral consangüíneo ou uterino, aquele em que só um dos genitores é o
mesmo.

A partilha efetua-se desigualmente, como estabelece o artigo 1.841 do


Código Civil que diz: “concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com
irmãos unilaterais, cada um destes herdara metade do que cada um daqueles
herdar.”. (BRASIL, 2002).
Consoante ao tema, Venosa (2005, p. 161) menciona que:
os irmãos bilaterais, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, recebem o
dobro do que couber ao filho só do pai ou só da mãe. Na divisão da
herança, coloca-se peso 2 para o irmão bilateral e peso 1 para o unilateral,
fazendo-se a partilha. Assim, existindo dois irmãos bilaterais e dois irmãos
unilaterais, a herança divide-se em seis partes, 1/6 para cada irmão
unilateral e 2/6 (1/3) para cada irmão bilateral.

A esse respeito, Diniz (2005) exemplifica, por exemplo, que: quando o de


cujus deixa uma herança de R$ 240.000,00 a dois irmãos bilaterais e a dois irmãos
unilaterais. Os unilaterais receberão duas porções simples e os bilaterais, duas
porções dobradas, ao todo seis porções. As simples serão do valor de R$ 40.000,00
(R$ 240.000,00 ÷ 6 =R$ 40.000,00), e as dobradas de R$ 80.000,00 (R$ 40.000,00 x
2), de forma que: (R$ 80.000,00 x 2) + (R$ 40.000,00 x 2) = R$ 240.000,00.
Aplica-se a forma Itabaiana Oliveira, que atribui a cada irmão bilateral ou
germano o número 2 e a cada irmão unilateral o número 1. Divide-se a herança pela
soma dos números e multiplica-se o quociente pelo numero que a cada um
corresponder: os dois irmãos bilaterais representam quatro porções. R$ 240.000,00
6 = R$ 40.000,00. Cada irmão bilateral recebe R$ 40.000,00 x 2 = R$ 80.000,00.
Cada irmão unilateral recebe R$ 40.000,00. (QUEIROGA, 2012).
A regra de os bilaterais receberem o dobro dos unilaterais também é
observada no caso de concorrerem à herança apenas sobrinhos do falecido, ou
seja, quando todos os irmãos forem pré- mortos. Por isso é necessário verificar se o
genitor do sobrinho era irmão unilateral ou bilateral do de cujus. (DIAS, 2015).
Desse modo, “sempre que forem convocados à sucessão os colaterais de
segundo e terceiro grau, é preciso questionar se os irmãos são unilaterais ou
bilaterais.”. (DIAS, 2015 p.153).
45

4.3.1 Argumentos favoráveis à constitucionalidade do art. 1.841 do Código


Civil

(COLOCAR JURIS) NEESE TÓPICO TEM QUE FAZER UM RACIOCÍNIO DE QUE


A CF DIZ SER INCONSTITUCIONAL TRATAR DE FORMA DIFERENCIADA OS
FILHOS, LEGÍTIMOS OU NÃO, MAS NADA FALA DOS IRMÃOS
Rizzardo (2008, p. 193) ao explicar sobre a diferenciação da partilha dos
bens de um irmão falecido aos outros irmãos, na existência de irmãos unilaterais,
não menciona ser o preceito do artigo 1.841 inconstitucional, aduzindo que “é natural
que assim seja em razão do maior parentesco de sangue quando os irmãos
descendem de pai e mãe comuns.”
Neste viés, Tartuce (2016, p. 238) menciona que:
não há qualquer inconstitucionalidade nesse artigo privado, por suposta
discriminação aos irmãos. De início, destaque-se que a norma se refere a
irmãos, e não a filhos, não sendo o caso de invocar o art. 227, § 6.º, da
CF/1988 e o art. 1.596 do CC/2002, que tratam da igualdade entre os
descendentes de primeiro grau”.

A Constituição não cuidou do assunto e nem pretendia fazê-lo. Se o


falecido não deixou filhos, a sucessão não será na classe dos descendentes (art.
1829, I) e, por óbvio, o dispositivo constitucional não terá nenhuma aplicação. A
sucessão na classe do colateral não recebe tratamento constitucional (art. 1829, IV)
e, portanto, a desigualdade preconizada pelo Código Civil é absolutamente possível
e não é eivada de vícios.
Aliás, a regra tem aplicação histórica secular. No Direito romano
Justinianeu, em 539 d.C., estabeleceu-se regra pela qual os irmãos germanos
excluíam da sucessão os irmãos unilaterais (Novela LXXXIV), conforme leciona José
Carlos Moreira Alves (Direito romano, p. 482).
Em igual sentido, a Novela CXVIII, que coloca os irmãos germanos em
situação privilegiada: só são chamados a suceder os irmãos unilaterais, na ausência
de irmãos germanos (Warnkoenig, p.221)
Assim, a questão não passa pela constitucionalidade do dispositivo que,
evidentemente, é constitucional e deve ser integralmente aplicado pelos juízes. A
sucessão legítima presume a vontade do falecido que, se tivesse feito testamento
teria sua vontade cumprida. Os irmãos, na qualidade de colaterais, são herdeiros
facultativos, logo, sem direito à legítima. O irmão falecido, se quisesse igualar os
quinhões poderia fazê-lo por meio de testamento. PROFESSOR SIMAO.ONLINE
46

Desta forma, segundo Pereira (2006, p. 349) recebendo o irmão unilateral


metade do que receberão os bilaterais não se estaria afrontando o princípio da
igualdade; mas tal forma de suceder simplesmente estaria tratando-os da forma
cabível com a situação em que se encontram, devendo os bilaterais receber o dobro
justamente pelo fato de tal bilateralidade se dar pela filiação em comum com o de
cujus.
Diniz (2005, p. 150) ao tratar sobre a sucessão entre irmãos bilaterais e
unilaterais não menciona também ser a regra do artigo 1841 do Código Civil
contrária ao princípio da igualdade, explicando apenas a forma em que se dá a
referida sucessão e que a mesma pode ocorrer por direito de representação em
relação aos sobrinhos do de cujus.
No mesmo viés, Venosa (2005, p. 161-162) explana a respeito da
sucessão entre irmãos não mencionando qualquer forma de afronta ao princípio da
igualdade, demonstrando que na sucessão, os filhos unilaterais recebem a metade
do que recebem os bilaterais, podendo suceder por representação os filhos destes,
e mesmo dessa forma será observado se os sobrinhos o são bilaterais ou unilaterais
também, estendendo-se o direito de suceder por representação apenas aos filhos de
irmãos do falecido.
Veloso (2011) ao contrário, aduz ser certa a distinção entre os irmãos
bilaterais e os meio-irmãos, uma vez que aqueles são irmãos duas vezes enquanto
estes uma só, justificando-se aí a ideia de os meio-irmãos receberem metade do que
os bilaterais. Acredita o autor que o princípio da igualdade não é aplicável entre os
irmãos e que o Código Civil está no caso do artigo 1841, tratando desigualmente os
desiguais.
Neste diapasão, Carvalho Neto (2011) critica aqueles que tratam a norma
do artigo 1841 como inconstitucional, pois acredita não condizer tal visão com a
realidade. Aduzindo que o preceito constitucional da igualdade faz referência ao fato
de não poder existir desigualdade entre os filhos, no que diz respeito à relação
destes com os pais, não entre eles mesmos.
Havendo entre os irmãos bilaterais a consanguinidade duplicada, por
parte de pai e mãe, é que se justifica o fato de os unilaterais receberem somente a
metade, já que estes são parentes colaterais apenas por um laço de
47

consanguinidade, ou de pai, ou de mãe (CARVALHO NETO, 2011). ( MUDAR


ORDENS)

Essa diferença, segundo Farias e Rosenvald (2014, p. 550), é justa e não


viola a igualdade constitucional disposta aos filhos, “pois reflete um tratamento
diferenciado imposto a pessoas que estão em situação diferenciada”, isso no campo
sucessório, não cabendo diferenciação no campo familiar.
Coelho (2011, s.p.) se abstém da discussão, se atendo à letra da lei
quando diz apenas que, “concorrendo na sucessão irmãos bilaterais e unilaterais,
estes últimos têm direito a quota hereditária correspondente à metade da destinada
aos primeiros”.
Visando a premissa de que se deve tratar de maneira igual os iguais e de
maneira desigual os desiguais, Tartuce e Simão (2013, s.p.) alegam que essa
separação entre os irmãos não viola a igualdade constitucional, visto que “os irmãos
bilaterais e unilaterais estão em situação de desigualdade fática, justificando-se o
tratamento desigual que lhe é dado quanto à herança”.
Porém, Rabello (2001, p. 68) afirma que:

Ora, não se pode igualar os desiguais, irmãos unilaterais nunca serão


como os bilaterais ou germanos. Não se esta aqui a dividir a herança
de seus pais, caso em que perfeitamente aplicável o princípio da
igualdade entre todos os filhos, não importando a origem da filiação.
Todos são considerados filhos, dividindo-se igualmente a herança
entre eles.

A explicação da constitucionalidade de tal distinção é trazida de forma


inafastável por Hironaka(2003, 254): Entende a lei que seria injusto que um irmão
unilateral recebesse a mesma quantia que um irmão bilateral, e isso pode ser
explicado por uma ficção que estaria implícita no raciocínio legal, segundo a qual a
herança teria passado, meio pelo meio, aos ascendentes do defunto. Ato contínuo, a
morte dos ascendentes faria transmitir o acervo recebido aos descendentes de cada
qual. Assim, o irmão bilateral receberia uma quota de seu pai, outra de sua mãe, ao
passo que o irmão unilateral receberia uma única quota, advinda ou de seu pai, se
este o genitor comum, ou de sua mãe, se irmãos unilaterais a matere.

O Código estabelece diferença na atribuição da quota hereditária, tratando-


se de irmãos bilaterais ou irmãos unilaterais. Os irmãos, bilaterais filhos do
48

mesmo pai e da mesma mãe, recebem em dobro do que couber ao filho só


do pai ou só da mãe. Na divisão da herança, coloca-se peso 2 para o irmão
bilateral e peso 1 para o irmão unilateral, fazendo-se a partilha. Assim,
existindo dois irmãos bilaterais e dois irmãos unilaterais, a herança divide-se
em seis partes, 1/6 para cada irmão unilateral e 2/6 (1/3) para cada irmão
bilateral. (VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Direito das Sucessões, 7ª
edição, São Paulo: Atlas, 2007. P. 138). No caso dos autos, considerando-
se a existência de um irmão bilateral (recorrido) e três irmãs unilaterais
(recorrentes), deve-se, na linha dos ensinamentos acima colacionados,
atribuir peso 2 ao primeiro e às últimas peso 1. Deste modo, àquele
efetivamente caberia 2/5 da herança (40%) e a cada uma destas últimas 1/5
da herança (20%).” STJ. RECURSO ESPECIAL Nº 1.203.182 - MG
(2010/0128448-2), RELATOR: MINISTRO PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, 30/9/2013 jurisprudencia

Antes de morrer, Fernando fez um testamento indicando seu irmão Cláudio como
único herdeiro. Cláudio é irmão por parte de pai e de mãe, ou seja, irmão bilateral.
Mas quando o inventário foi aberto, conforme o processo sucessório estava em
curso, Cláudio não foi considerado o único herdeiro. O que houve?

Três irmãs por parte de mãe entraram na partilha. Meias irmãs, ou ainda irmãs
unilaterais, elas questionaram na Justiça a validade do testamento e foram
beneficiadas por decisão do STJ, que aplicou a regra do artigo 1.841 do Código
Civil. O artigo diz que: "Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com
irmãos unilaterais, cada um destes herdará metade do que cada um daqueles
herdar".

No caso citado, a herança foi dividida em cinco partes, sendo dois quintos para
Cláudio e um quinto para cada irmã unilateral, totalizando para elas 60% (ou três
quintos) do patrimônio deixado por Fernando, o irmão unilateral falecido. O
patrimônio é um imóvel que está alugado. Assim, o valor do aluguel é dividido da
forma mencionada acima, ao menos enquanto durar a polêmica em torno do
testamento. Provavelmente, o inventário da mãe ainda estava em curso e Fernando,
desconhecendo como se elabora um testamento, incluiu a totalidade do patrimônio
da mãe como se fosse só dele e a destinou a Cláudio.

No caso julgado, a controvérsia envolveu o correto percentual devido ao irmão bilateral e


a três irmãs unilaterais na locação do apartamento deixado pelo irmão morto, para efeito
de depósito judicial de parcela relativa a aluguéis devidos ao espólio.
49

Segundo os autos, o morto indicou o irmão bilateral como único herdeiro de sua parte nos
bens deixados pela mãe. As irmãs ingressaram na Justiça questionando a validade do
testamento. O tribunal mineiro admitiu a inclusão das irmãs unilaterais no inventário e
determinou o depósito em juízo de um terço do valor do aluguel do imóvel.

As irmãs recorreram ao STJ, sustentando que a decisão violou o artigo 1.841 do Código
Civil ao determinar que apenas um terço do valor do aluguel do imóvel que caberia ao
herdeiro morto fosse depositado em juízo. Alegaram que o percentual correto deveria ser
elevado para no mínimo três quintos, equivalentes a 60% do valor do aluguel.

Citando doutrinas e precedentes, o relator do Recurso Especial, ministro Paulo de Tarso


Sanseverino, concluiu que, de acordo com a fórmula de cálculo extraída do artigo 1.841
do Código Civil, cabe ao irmão bilateral o dobro do devido aos irmãos unilaterais na
divisão da herança, atribuindo-se peso dois para cada irmão bilateral e peso um para cada
irmão unilateral.

“No caso dos autos, existindo um irmão bilateral e três irmãs unilaterais, a herança divide-
se em cinco partes, sendo dois quintos para o irmão germano e um quinto para cada irmã
unilateral, totalizando para elas 60% (ou três quintos) do patrimônio deixado pelo irmão
unilateral falecido”, disse o relator.

Segundo o ministro, não há dúvida de que o irmão bilateral, como herdeiro legítimo de
seu irmão morto, tem direito a uma parte da herança e pode levantar os aluguéis
correspondentes a essa parcela. Assim, por unanimidade, a 3ª Turma decidiu que,
enquanto persistir a polêmica em torno da validade do testamento deixado pelo irmão
falecido em favor do irmão bilateral, as irmãs têm direito a 60% do montante dos aluguéis
auferidos com a locação do imóvel, ficando o irmão bilateral com 40%. Com informações
da Assessoria de Imprensa do STJ.

4.3.2 Argumentos favoráveis à inconstitucionalidade do art. 1.841 do Código


Civil

(COLOCAR JURIS) TEMOS QUE MENCIONAR QUAL O ART. DA CF QUE


ESTARIA SENDO VIOLADO NESSE CASO
dispõe o parágrafo 6º do artigo 227 da Constituição Federal (BRASIL,
1988), que: “[...] os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção,
terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação”.
50

Para Dias (2015, p. 153), “trata-se de perverso resquício da discriminação


de que era alvo a filiação chamada ilegítima ou espúria, por ser fruto de relações
extramatrimoniais. Outrora, ter irmãos unilaterais era escandaloso e pejorativo,
porque, em regra, indicava filiação ilegítima no âmago familiar”.
Acrescenta-se ainda:
[...] insiste a doutrina em não ver inconstitucionalidade na concessão de
direitos diferenciados a irmãos e sobrinhos, sob fundamento de que a estes
não se estendem as normas constitucionais que garantem a igualdade.
Diante da vedação constitucional de conceder tratamento diferenciado aos
filhos (CF227§ 6º.), é de se ter tais dispositivos como letra morta. (DIAS,
2015, p. 153).

Prevalece o princípio constitucional da igualdade de tratamento e da não


discriminação entre os filhos havidos do casamento ou fora dele, razão pela qual
não se justifica, na sucessão de colaterais, que os irmãos unilaterais herdem apenas
a metade daquilo a que tem direito os filhos de mesmos pais (LISBOA, 2009, p.345).

PROJETO DE LEI Nº 6880/10, DE 2010.


(Do Dep. Sérgio Barradas Carneiro)
Altera o art. 1.841 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro, Código Civil.
O Congresso Nacional decreta:
Art. 1.º Esta Lei altera o artigo 1.841, e revoga o art. 1.842 da Lei nº.
10.406, de 10 de janeiro de 2002- Código Civil.
Art. 2º. O art. 1.841 do Código Civil passa a vigorar com a seguinte
redação:
“Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com
irmãos unilaterais, cada um destes herdará em partes iguais.”
Art. 3º. Fica revogado o art. 1.842, do Código Civil.
Art. 4º. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

JUSTIFICAÇÃO
O presente projeto de lei visa sanar flagrante inconstitucionalidade na
redação do art. 1.841, da Lei nª 10.406/02-Código Civil. Tal redação
é fruto da sociedade civil da época.
O Livro de Direito de Família do Código Civil de 2002 foi concebido pela
Comissão coordenada por Miguel Reale no final dos anos 60 e início dos
anos 70 do século passado, antes das grandes mudanças legislativas
sobre a matéria nos países ocidentais e do advento da Constituição de
1988.
A partir da Constituição de 1988, ocorreu verdadeiro
avanço, inaugurando-se paradigma familiar inteiramente remodelado,
segundo as mudanças operadas na sociedade brasileira, fundada nos
seguintes pilares: comunhão de vida consolidada na afetividade e não no
poder marital ou paternal; igualdade de direitos e deveres entre
os cônjuges; liberdade de constituição, novas formas de entidades
familiares; igualdade dos filhos de origem biológica ou socioafetiva;
garantia de dignidade das pessoas que a integram, inclusive a criança, o
adolescente e o idoso. Nenhum ramo do Direito foi tão
profundamente modificado quanto o Direito de Família ocidental, nas três
últimas décadas do século XX.
51

O texto constitucional é claro ao não permitir qualquer forma


de discriminação entre filhos, tornando a redação do artigo supra citado
eivado de flagrante inconstitucionalidade com nossa Carta Política.
Na redação do art. 70 do Estatuto das Famílias, encontramos a seguinte
lição: “Art. 70. Os filhos, independentemente de sua origem, têm os
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações e
práticas discriminatórias.”.
Com a nova redação dada ao art. 1.841, se fez por necessário
à revogação do art. 1.842, do Código Civil, que determinava no caso de
não haver irmãos bilaterais concorrendo à herança, a divisão em partes
iguais aos unilaterais.
Em face do exposto, conto com o apoio dos ilustres Pares para
a aprovação deste Projeto de Lei.
Sala das Sessões, em 02 de março de 2010.
DEPUTADO SÉRGIO BARRADAS CARNEIRO

Mencionar Art. 1.834. Os descendentes da mesma classe têm os mesmos


direitos à sucessão de seus ascendentes.

Com isso, Lôbo (2011, p. 84) destaca a constitucionalização do afeto


devido à atenção disposta pela Constituição Federal de 1988 à proteção da família e
da filiação de toda espécie:
Se todos os filhos são iguais, independentemente de sua origem, e têm assegurada a
convivência familiar e solidária, é porque a Constituição afastou qualquer interesse
ou valor que não seja o da comunhão de amor ou do interesse afetivo como
fundamento da relação entre pai e filho. A fortiori, se não há qualquer espécie de
distinção entre filhos biológicos e filhos não biológicos, é porque a Constituição os
concebe como filhos do amor, do afeto construído no dia a dia, seja os que a
natureza deu, seja os que foram livremente escolhidos.

Destarte, abrangendo a igualdade descrita pelo § 6º do artigo 227 da


Constituição Federal de 1988, o Código Civil de 2002, em seu artigo 1.834, garantiu
expressamente, no campo sucessório, o direito de todos os filhos à herança em
uniformidade quando preleciona que “os descendentes da mesma classe têm os
mesmos direitos à sucessão de seus ascendentes”.
Quando cita “classe”, o artigo supracitado refere-se ao grau existente
entre os descendentes, sendo de 1º grau os filhos, de 2º grau os netos, de 3º grau
os bisnetos, e assim por diante. Essa palavra não mais remete a nenhum tipo de
discriminação no tocante à filiação, pois isto não mais se discute frente à igualdade
assegurada pela Constituição Federal de 1988.
Gonçalves (2014, s.p.) corrobora que o artigo 227, § 6º da Constituição
Federal de 1988 trouxe a “equiparação de todos os filhos, com a proibição expressa
de qualquer discriminação, inclusive no campo do direito sucessório [...] o [filho]
52

adotivo poderá receber a herança ou o legado a que tem direito”. Com isso, todos os
filhos herdarão em igualdade de condições.
Contudo, essa subdivisão da irmandade em categorias não se faz correta,
pois há outros direitos concernentes à colateralidade em que não se influi tal
categorização, como exemplifica Lôbo (2011, p. 210):
No Código Civil, o parente colateral até o quarto grau pode exigir que cesse
a ameaça ou a lesão a direito da personalidade de parente morto e reclamar
perdas e danos (art. 12); os parentes colaterais até o terceiro grau estão
impedidos de casar (art. 1.521, IV); os parentes colaterais até o segundo
grau estão incluídos na obrigação de prestar alimentos a seus parentes,
quando não houver descendentes ou ascendentes que possam suportar o
encargo (art. 1.697); os parentes até o quarto grau são herdeiros do morto,
na falta de descendentes, ascendentes, cônjuge ou companheiro (art.
1.839); os parentes colaterais até o quarto grau (a lei se refere a qualquer
parente) podem promover a interdição dos sujeitos a curatela (art. 1.768).

Destarte, tendo os irmãos, tanto unilaterais como bilaterais, obrigação


alimentar para com outro irmão que não possa se sustentar e nem a ele seus
descendentes ou ascendentes, assim como tendo poder de interdição sobre outros
irmãos, sem sobrepor a estes direitos e deveres a questão da unilateralidade ou
bilateralidade, pode-se entender que não deveriam sofrer essa distinção no tocante
à sucessão, pois configura “discriminação que não encontra guarida no § 6º do art.
227 da Constituição Federal de 1988 e em contradição com o art. 1.593 do próprio
Código [Civil de 2002]” (LÔBO, 2011, p. 209).

O que se pode extrair do artigo 1.841 do Código Civil de 2002 é que o


legislador tentou promover a justiça ao delimitar os irmãos unilaterais à parte
concorrente da herança, qual seja o pai em comum, excluindo a possibilidade de
partilhar herança referente à outra parentalidade, da qual não compartilham.
Contudo, acabou por ser injusto – e até mesmo contrário à Lei – ao pregar tal
desigualdade (JÚNIOR, 2004, online).
É o que se pode depreender da análise profunda do artigo 227, § 6º da
Constituição Federal de 1988, que traz a igualdade entre os filhos obtidos por
qualquer meio – civil ou biológico –, entendendo-se que qualquer norma que venha
a repetir o consagrado no artigo 1.605 do revogado Código Civil de 1916 – no qual o
filho adotivo, concorrendo com filhos legítimos nascidos após a adoção, teria direito
somente à metade da herança cabível a cada um deles – está eivada de
inconstitucionalidade (JÚNIOR, 2004, online).
53

Na mesma linha, Lisboa (2012, s.p.) preleciona: Prevalece o princípio


constitucional da igualdade de tratamento e da não discriminação entre os filhos
havidos do casamento e fora dele, razão pela qual não se justifica, na sucessão de
colaterais, que os irmãos unilaterais herdem apenas a metade daquilo a que têm
direito os filhos de mesmos pais. Pouco importa se os filhos são bilaterais ou
unilaterais. Como irmãos, todos têm direito ao recebimento de quinhão hereditário
igual.
Portanto, não se faz justa tal distinção, visto que os filhos têm tratamento
igualitário assegurado pela Constituição Federal de 1988 e os irmãos são unidos por
laços decorrentes da filiação, o que justifica, em parte, a inconstitucionalidade do
artigo 1.841 do Código Civil de 2002. “Nada justifica assegurar aos irmãos direitos
sucessórios diferenciados, principalmente quando a obrigação alimentar dos irmãos
germanos e unilaterais é a mesma (CC 1.697). A discriminação, além de
inconstitucional, é, sem dúvida, injusta” (DIAS, 2015, p. 383).

Esta distinção é questionada frente à Constituição Federal, antes mesmo


da aprovação do Novo Código Civil. Isoladamente, se posiciona Ericson(2001, p. 56)
que: A distinção que o Código Civil faz em relação aos irmãos bilaterais e os
unilaterais, pára os efeitos de sucessão, atenta contra o princípio da igualdade que a
vigente Carta Constitucional lhes consagra ao equiparar para todos os efeitos, as
diversas formas de filiação.

https://www.tribunapr.com.br/noticias/a-constitucional-discriminacao-entre-irmaos-germanos-e-
unilaterais-na-sucessao-dos-colaterais/

Código francês (art. 752),


54

“Article 752: Le partage de la moitié ou des trois quarts dévolus aux frères ou soeurs,
aux termes de l’article précédent, s’opère entre eux par égales portions, s’ils sont
tous du même lit; s’ils sont de lits différents, la division se fait par moitié entre les
deux lignes paternelle et maternelle du défunt; les germains prennent part dans les
deux lignes, et les utérins ou consanguins chacun dans leur ligne seulement: s’il n’y
a de frères ou soeurs.

Artigo 752: A divisão de metade ou três quartos investida nos irmãos ou irmãs, de
acordo com o artigo precedente, será efetuada entre eles em parcelas iguais, se
forem todos da mesma classe; se são de leitos diferentes, a divisão é feita pela
metade entre as duas linhas paterna e materna do falecido; os irmãos tomam parte
em ambas as linhas, e os uterinos ou consangüíneos, cada um em sua linha só: se
não houver irmãos ou irmãs.

italiano (art. 570)

570. Sucessione dei fratelli e delle sorelle. …I fratelli e le sorelle unilaterali


conseguono però la metà della quota che conseguono i germani”

570. Os irmãos e irmãs unilaterais alcançam, no entanto, metade da quota que os


alemães conseguem "

espanhol (art. 949)

Art. 949. Si hay hermanos de padre y madre con medios hermanos, ellos tendrán
uma porción doble en la herencia.

Art. 949. Se houver irmãos de pai e mãe com meios-irmãos, eles terão uma porção
dupla na herança.

argentino (art. 3.586).

Art. 3.586. El medio hermano em concurrencia com hermanos de padre y madre,


hereda la mitad de lo que correspnde a éstos”
55

Art. 3.586. O meio irmão em concordância com irmãos de pai e mãe, herda metade
do que lhes corresponde

mexicano (art. 1.631)

Articulo 1631. Si concurren hermanos con medios hermanos, aquellos heredaran


doble porcion que estos”.

Artigo 1631. Se houver irmãos com meios-irmãos, aqueles que herdarem a porção
dupla deles.
56

5 CONCLUSÃO

Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto.
Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto.
Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto.
Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto.

Usar CONCLUSÃO para pesquisas quantitativas e CONSIDERAÇÕES FINAIS


para pesquisas qualitativas.

O que deve conter:


a) Iniciar com o objetivo geral;
b) depois a metodologia usada, para atingir tal objetivo.
c) Com embasamento teórico em autores como x (ano), y (ano, leis xx, decretos xx,
entre outros.
d) Retomar cada um dos objetivos específicos, fazendo um resumo de cada um em
torno de 2 ou 3 parágrafos.
Exemplo: Para este objetivo específico: a) Identificar os fatores que
causam o risco aviário. Constatou-se que os fatores que causam os riscos ... (fazer
o resumo do que foi desenvolvido nesse objetivo específico).
e) Depois retomar o problema da pesquisa e responder.
f) Por último falar das limitações da pesquisa e apresentar sugestões para outras.
57

REFERÊNCIAS

Texto da primeira referência.

[Livro] RAUEN, Fábio José. Roteiros de pesquisa. Rio do Sul: Nova Era, 2006.

[Monografia] MEDEIROS, João Bosco. Alucinação e magia na arte: o ultimatum futurista


de Almada Negreiros. 1991. 100 f. Monografia (Departamento de Letras)–Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, São Paulo, 1991.

[Parte de uma obra com autor específico] MARCONI, Marina de Andrade. Cultura e
sociedade. In: LAKATOS, Eva Maria. Sociologia. 6. ed. São Paulo: Atlas, 1991.

[Artigo de uma revista com autor definido] ALCÂNTARA, Eurípedes. A redoma do atraso.
Veja, São Paulo, v. 24, n. 25, p. 42-43, jun. 1991.

[Artigo de um jornal com autor definido] RIBEIRO, Efrém. Garimpeiros voltam a invadir
área ianomani. Folha de S. Paulo, São Paulo, p. 1-10, 18 jun. 1991.

[Dissertação/Tese] RAUEN, Fábio José. Influência do sublinhado na produção de resumos


informativos. 1996. 200f. Tese (Doutorado em Letras/Lingüística)-Curso de Pós-graduação
em Letras/Lingüística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1996.

[Internet] KARDEC, Alan. O evangelho segundo o espiritismo. Disponível em:


<http://www.netpage.estaminas.com.br/sosdepre/codificação.htm>. Acesso em: 11 nov. 1998.

MALUF, Carlos Dabus, MALUF, Adriana Caldas do Rego Dabus. Curso de Direito de
Família, 1ªedição.. Saraiva, 12/2015. [Minha Biblioteca].

MONTEIRO, Washington Barros, SILVA, Regina Beatriz da. Curso de direito civil: direito da família.
Volume 2, 43rd edição. Saraiva Educação, 2012. [Minha Biblioteca].

(LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil, v. 5 : direito de família e sucessões,


8ª edição.. Saraiva, 02/2013. [Minha Biblioteca].
Melo, Nehemias domingos de . Lições de Direito Civil: Família e Sucessões (,v.5).
Atlas, 04/2014. [Minha Biblioteca].
RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família, 9ª edição. Forense, 08/2014. [Minha
Biblioteca].
11 NOGUEIRA, Jacqueline Filgueras. A Filiação que se Constrói: O Reconhecimento do Afeto como Valor Jurídico. São
Paulo: Memória Jurídica 2001

FUJITA, Jorge Siguemitsu. Filiação, 2ª edição. Atlas, 05/2011. [Minha Biblioteca].

Melo, Nehemias domingos de . Lições de Direito Civil: Família e Sucessões (,v.5).


Atlas, 04/2014. [Minha Biblioteca].pagina 12
58

. AGRA, Walber Moura. Curso de Direito Constitucional, 8ª edição. Forense, 01/2014.


[Minha Biblioteca].

CARVALHO NETO, Inacio de. A constitucional discriminação entre irmãos


germanos e unilaterais na sucessão dos colaterais. Disponível na Internet:
http://www.mundojuridico.adv.br. Acesso em xx de xxxxxxxx de xxxx
Almeida, Renata de, júnior, Walsir Edson Rodrigues . Direito Civil: Famílias, 2ª edição. Atlas,
03/2012. [Minha Biblioteca].

Guarda essa jurisprudência:


O Código estabelece diferença na atribuição da quota hereditária, tratando-se de irmãos bilaterais ou
irmãos unilaterais. Os irmãos, bilaterais filhos do mesmo pai e da mesma mãe, recebem em dobro do
que couber ao filho só do pai ou só da mãe. Na divisão da herança, coloca-se peso 2 para o irmão
bilateral e peso 1 para o irmão unilateral, fazendo-se a partilha. Assim, existindo dois irmãos bilaterais
e dois irmãos unilaterais, a herança divide-se em seis partes, 1/6 para cada irmão unilateral e 2/6
(1/3) para cada irmão bilateral. (VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Direito das Sucessões, 7ª
edição, São Paulo: Atlas, 2007. P. 138). No caso dos autos, considerando-se a existência de um
irmão bilateral (recorrido) e três irmãs unilaterais (recorrentes), deve-se, na linha dos ensinamento
acima colacionados, atribuir peso 2 ao primeiro e às últimas peso 1. Deste modo, àquele efetivamente
caberia 2/5 da herança (40%) e a cada uma desta últimas 1/5 da herança (20%).” STJ. RECURSO
ESPECIAL Nº 1.203.182 - MG (2010/0128448-2), RELATOR: MINISTRO PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, 30/9/2013
--------------
Temos que mencionar esses artigos no trabalho:
Art. 1.841 do CC/2002
Art. 227, § 6º CF
Art. 1.605 CC/1916
--------------
Guarda essa doutrina:
“Prevalece o princípio constitucional da igualdade de tratamento e da não discriminação entre os
filhos havidos do casamento e fora dele, razão pela qual não se justifica, na sucessão de colaterais,
que os irmãos unilaterais herdem apenas a metade daquilo a que têm direito os filhos de mesmos
pais. Pouco importa se os filhos são bilaterais ou unilaterais. Como irmãos, todos têm direito ao
recebimento de quinhão hereditário igual.” (LISBOA, Roberto Sensine. Manual de direito civil: direito
de família e sucessões. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. V. 5.)
--------------
Deixa separado esses questionamentos:
E se for um irmão cujo vínculo é decorrente de filiação afetiva (e não biológica)?
O irmão pode ser afastado ou comtemplado por testamento?
Um irmão pode ser deserdado?
O irmão concorre à herança com algum outro parente? (Pela sucessão legítima, pode concorrer com
sobrinho e antes da inconstitucionalidade do 1.790 concorria com companheiro)
59
60

ANEXOS
61

ANEXO A – Título

Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto.


62

ANEXO B – Título

Texto. Texto. Texto. Texto. Texto. Texto.

Você também pode gostar