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TESTE MÓDULO 4 – ANO 2

ESCOLA______________________________________________________ DATA ___/ ___/ 20__

NOME_______________________________________________________ N.O____ TURMA_____

GRUPO I

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

Parte A

Padre António Vieira, “Sermão de Santo António aos Peixes”

Leia o seguinte texto


Sermão de Santo António aos Peixes

Muito louvor mereceis, peixes, por este respeito, e devoção, que tivestes aos Pregadores
da palavra de Deus; e tanto mais quanto não foi só esta a vez, em que assim o fizestes. Ia
Jonas, Pregador do mesmo Deus, embarcado em um navio, quando se levantou aquela grande
tempestade; e como o trataram os homens, como o trataram os peixes? Os homens lançaram-
5 -no ao mar a ser comido dos peixes, e o peixe que o comeu, levou-o às praias de Nínive, para
que lá pregasse e salvasse aqueles homens. É possível que os peixes ajudam a salvação dos
homens, e os homens lançam ao mar os ministros da salvação? Vede, peixes, e não vos venha
vanglória, quanto melhor sois que os homens. Os homens tiveram entranhas para deitar Jonas
ao mar, e o peixe recolheu nas entranhas a Jonas, para o levar vivo à terra.
10 Mas porque nestas duas ações teve maior parte a Omnipotência, que a natureza (como
também em todas as milagrosas, que obram os homens), passo às virtudes naturais, e próprias
vossas. Falando dos peixes, Aristóteles diz que só eles entre todos os animais se não domam,
nem domesticam. Dos animais terrestres o cão é tão doméstico, o cavalo tão sujeito, o boi tão
serviçal, o bugio tão amigo, ou tão lisonjeiro, e até os leões, e os tigres com arte, e benefícios
15 se amansam. Dos animais do ar afora aquelas aves que se criam, e vivem connosco, o papagaio
nos fala, o rouxinol nos canta, o açor nos ajuda, e nos recreia; e até as grandes aves de rapina
encolhendo as unhas reconhecem a mão de quem recebem o sustento. Os peixes pelo contrário
lá se vivem nos seus mares, e rios, lá se mergulham nos seus pegos, lá se escondem nas suas
grutas, e não há nenhum tão grande, que se fie do homem, nem tão pequeno, que não fuja
20 dele. […] Peixes, quanto mais longe dos homens, tanto melhor; trato e familiaridade com eles,
Deus vos livre.
Padre António Vieira, Obra completa (dir. José Eduardo Franco e Pedro Calafate), tomo II, vol. X,
Lisboa, Círculo de Leitores, 2014, pp. 141-142.

1. Explicite a intenção do orador ao apresentar o exemplo de Jonas.


2. Indique a característica que opõe os peixes aos animais da terra e do ar e que é motivo de
louvor por parte de Vieira.
3. Refira uma característica do discurso de Vieira presente no segmento “Os homens tiveram
entranhas para deitar Jonas ao mar, e o peixe recolheu nas entranhas a Jonas, para o levar
vivo à terra.” (ll. 8-9).

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TESTE MÓDULO 4 – ANO 2
Parte B

Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa

4. Classifique as seguintes afirmações como verdadeiras ou falsas.


a) Madalena é uma das personagens cuja personalidade contribui para o adensar da
dimensão trágica da obra.
b) O patriotismo visível, por exemplo, na cena do incêndio do palácio, por parte de Manuel
de Sousa Coutinho, constitui uma característica do drama romântico.
c) Telmo é uma personagem que vive exclusivamente em função do passado, preso ao
amor que o liga ao seu antigo amo.
d) Madalena e Maria correspondem ao perfil de personagens românticas.
e) A presença do Sebastianismo é visível sobretudo em Madalena de Vilhena.
f) A dado momento da obra, o Romeiro manifesta arrependimento pelos juízos de valor
que fez relativamente a D. Madalena.
g) O facto de se ir afunilando o espaço contribui para o adensamento trágico da ação.
h) O contexto histórico em que decorre a ação da obra é o final do século XVI e início do
século XVII, após a Batalha de Alcácer Quibir.

GRUPO II

Leia o seguinte texto.

Um novo verbo

Ao folhear uns cartapácios poeirentos que encontrei no sótão, deparei com um dicionário
de língua portuguesa dedicado aos verbos eruditos.
Abri ao calhas e os meus olhos foram parar ao verbo mais curto. Era um verbo chamado
“pôr”.
5 Comecei a ler a definição e fiquei estupefacto: sem querer, eu tinha achado uma bela
alternativa ao nosso verbo universal “meter”.
Qual revelação divina, comecei a adivinhar os usos que lhe podia dar. Em vez de dizer
“mete os talheres na mesa” poderia, só para variar, nem que fosse por uma questão de
elegância, dizer “põe os talheres na mesa”. A certa altura – terá sido um vão delírio? – até
10 imaginei que este diminuto verbo poderia servir para distinguir formas diferentes de
colocação.
Que tal, por exemplo, se “meter” servisse para designar o movimento de introduzir
qualquer coisa noutra coisa? Diríamos “meter uma chave na porta” quando a chave entrasse
mesmo dentro da porta – e reservaríamos “pôr a chave na porta” para quando se deitasse a
15 chave por cima da porta.
Até aposto que “pôr” poderia servir para quem está farto de usar “meter”.
Para meter os talheres na mesa seriam necessárias várias ferramentas para abrir o buraco
onde pudessem caber. Já pôr os talheres na mesa poderia ser feito com a maior das distrações.
Mas ninguém queria saber do verbo “pôr”. Disseram-me “Meter dá para tudo, irmão. Não te
20 apoquentes mais”.
Miguel Esteves Cardoso, Público, 27/07/2019 (texto com supressões).

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TESTE MÓDULO 4 – ANO 2

Para os itens 1 a 7, selecione a opção que completa cada afirmação.

1. No texto, o autor faz uma reflexão sobre


(A) a importância do uso do verbo “meter” na língua portuguesa.
(B) a utilidade da aprendizagem proveniente da consulta de obras antigas.
(C) a pertinência da diversificação do vocabulário.
(D) a preocupação dos portugueses acerca do uso correto da sua língua.

2. O vocábulo “cartapácios” (l. 1) é sinónimo de


(A) pequenos livros.
(B) livros antigos.
(C) calhamaços.
(D) dicionários.

3. O segmento sublinhado em “cartapácios poeirentos” (l. 1) desempenha a função sintática de


(A) modificador restritivo do nome.
(B) predicativo do complemento direto.
(C) complemento direto.
(D) predicativo do sujeito.

4. No segmento “Comecei a ler a definição e fiquei estupefacto:” (l. 5), atendendo aos
elementos sublinhados, está presente um mecanismo de coesão gramatical
(A) frásica.
(B) interfrásica.
(C) referencial.
(D) temporal.

5. A oração “que lhe podia dar” (l. 7) classifica-se como


(A) subordinada substantiva completiva.
(B) subordinada adjetiva relativa restritiva.
(C) subordinada adjetiva relativa explicativa.
(D) subordinada adverbial comparativa.

6. No segmento “este diminuto verbo poderia servir para distinguir formas diferentes de
colocação” (ll. 10-11), a forma verbal sublinhada encontra-se no
(A) condicional.
(B) futuro do indicativo.
(C) presente do conjuntivo.
(D) pretérito imperfeito do indicativo.

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TESTE MÓDULO 4 – ANO 2

7. O elemento sublinhado no segmento “quando se deitasse a chave por cima da porta”


(ll. 14-15) é
(A) conjunção.
(B) preposição.
(C) pronome.
(D) determinante.

8. Indique o antecedente do pronome “que” presente em “que encontrei no sótão” (l. 1).

9. Classifique a oração “quando a chave entrasse mesmo dentro da porta” (ll. 13-14).

10. Identifique a função sintática desempenhada pelo elemento sublinhado na frase “Não te
apoquentes mais.” (l. 20).

Grupo III

Elabore um texto expositivo, com um mínimo de 120 e um máximo de 150 palavras, sobre a
presença de uma vertente crítica e moralizadora no “Sermão de Santo António aos Peixes”.

COTAÇÕES

Item
Grupo
Cotação (em pontos)
1. 2. 3.
I‒A
20 20 20 60
4. a 4. b 4. c 4. d 4. e 4. f 4. g 4. h
I‒B
5 5 5 5 5 5 5 5 40
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10.
II 70
7 7 7 7 7 7 7 7 7 7
III Item único 30
TOTAL 200

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TESTE MÓDULO 4 – ANO 2

PROPOSTA DE CORREÇÃO
GRUPO I

Parte A
1. O exemplo de Jonas permite ao orador esclarecer a diferença entre o comportamento dos homens e
o comportamento dos peixes, criticando os primeiros e elogiando os segundos. Enquanto os homens
atiraram Jonas ao mar para que fosse comido pelos peixes, o peixe que o recolheu salvou-o, levando-
-o para terra, para salvar os homens. Assim, ao contrário dos homens, o peixe revelou humanidade e
sensibilidade.

2. Segundo Vieira, ao contrário dos animais da terra e do ar, os peixes não se deixam domar nem
domesticar pelo Homem, não confiam nele, o que é digno de louvor. Por isso, quanto mais longe
viverem do homem, melhor.

3. No segmento referido está presente um jogo de palavras em torno do vocábulo “entranhas”, já que
está usado ora em sentido conotativo (“Os homens tiveram entranhas para deitar Jonas ao mar”), ora
em sentido denotativo (“o peixe recolheu nas entranhas a Jonas”). Está presente também a antítese
“mar”/ “terra”. Ambos os recursos são característicos da prosa de Vieira.

Parte B

4. a) – V; b) – V; c) – F; d) – V; e) – F; f) – V; g) – V; h) – V

GRUPO II
1. C
2. C
3. A
4. D
5. B
6. A
7. C
8. “uns cartapácios poeirentos”.
9. Oração subordinada adverbial temporal.
10. Complemento direto.

GRUPO III

Através do “Sermão de Santo António”, Padre António Vieira pretende alertar os Homens para a
necessidade de alterarem os seus comportamentos, de modo a levarem uma vida regida por princípios
morais universais.
Constituindo-se como uma alegoria, a obra permite ao orador fazer uma crítica social que tem como
objetivo essencial moralizar. Assim, tendo como auditório fictício os peixes, Vieira denuncia os seus vícios,
como forma de criticar os defeitos dos homens. Os roncadores, pegadores e voadores, por exemplo, são
pretexto para criticar a soberba, o oportunismo e a ambição, respetivamente, tal como, através do polvo,
critica a traição.
Por outro lado, elogia peixes como a Rémora ou o Torpedo, cujas virtudes deverão servir de modelo
aos Homens, de forma a conseguirem emendar os seus erros.
Desta forma, concilia-se, na obra, uma dimensão crítica com uma vertente moralizadora.
(137 palavras)

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