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Neurolépticos

Os neurolépticos ou antipsicóticos são medicamentos inibidores das funções psicomotoras, a qual


pode encontrar-se aumentada em estados, por exemplo, de excitação e de agitação.
Paralelamente eles atenuam também os sintomas neuro-psíquicos considerados psicóticos, tais
como os delírios e as alucinações. São substâncias químicas sintéticas, capazes de atuar
seletivamente nas células nervosas que regulam os processos psíquicos no ser humano e a
conduta em animais.
Os neurolépticos são drogas lipossolúveis e, com isso, têm facilitada sua absorção e penetração
no Sistema Nervoso Central. Os antipsicóticos têm sua primeira passagem pelo fígado, portanto,
sofrem metabolização hepática. A grande maioria dos neurolépticos possui meia vida-longa, entre
20 e 40 horas, e esse conhecimento é importante na medida em que permite prescrição em uma
única tomada diária. Outra consequência desta meia vida-longa é o fato de demorar
aproximadamente cinco dias para se instalar estado estável da droga no organismo.

Mecanismo de ação: Apesar dos neurolépticos tradicionais bloquearem ora os receptores


adrenérgicos, serotoninérgicos, ora os receptores colinérgicos e histaminérgicos, todos eles têm
em comum a ação farmacológica de bloquear os receptores dopaminérgicos. É em relação a
estes últimos que os estudos têm demonstrado os efeitos clínicos dos neurolépticos. O bloqueio
dos outros receptores, além dos dopaminérgicos, estaria relacionado mais aos efeitos colaterais
da droga do que aos terapêuticos.
Atualmente, uma das hipóteses mais aceitas como sendo relacionadas na patogenia da
esquizofrenia fala de uma combinação de hiperfunção da dopamina e hipofunção dos glutamatos
no sistema neuronal, acompanhado de um envolvimento pouco esclarecido dos receptores da
serotonina (5HT2) e um balanço entre esses receptores com os receptores dopamínicos (D2).
Os receptores da dopamina mais conhecidos são o D1 e o D2 (ambos pós-sinápticos), além dos
receptores localizados no corpo do neurônio dopamínico e no terminal pré-sináptico. A atividade
terapêutica dos antipsicóticos parece estar relacionada, principalmente, com o bloqueio da
dopamina nos receptores pós-sinápticos do tipo D2.
Os antipsicóticos tradicionais, tais como a Clorpromazina e o Haloperidol, são eficazes em mais
de 80% dos pacientes com esquizofrenia, atuando predominantemente nos sintomas chamados
produtivos ou positivos (alucinações e delírios) e, em grau muito menor, nos chamados sintomas
negativos (apatia, embotamento e desinteresse).
Duas vias, mesolímbicas e mesocorticais, são as envolvidas nos efeitos terapêuticos dos
antipsicóticos. As vias mesolímbicas e mesocorticais confundem-se anatomicamente e ambas se
originam no segmento ventral do mesencéfalo. A via mesolímbica inerva diversos núcleos
subcorticais do Sistema Límbico: amígdala, núcleo acumbens, tubérculo olfatório e o septo lateral.
A via mesocortical tem suas terminações sinápticas localizadas no córtex frontal, na parte anterior
do giro do cíngulo e no córtex temporal medial.
As primeiras suspeitas de que este era o sítio da atuação terapêutica surgiram pela observação
da semelhança sintomatológica entre determinadas patologias dos lobos frontais e temporais com
a esquizofrenia, além da notável importância do sistema límbico nas emoções e na memória.
A dopamina liberada próxima aos capilares da circulação porto-hipofisária chega à hipófise
anterior e acaba, dentre outros efeitos, por aumentar a liberação secundária de prolactina. Mais
um efeito colateral indesejável.
A hipotensão, sedação e tontura, efeitos colaterais comuns aos neurolépticos tradicionais,
normalmente acontecem devido à capacidade desses medicamentos bloquearem também os
receptores alfa-adrenérgicos.

Efeitos Colaterais: Entre os efeitos colaterais provocados pelos neurolépticos, o mais estudado é
o chamado Impregnação Neuroléptica ou Síndrome Extrapiramidal. Essa situação é o resultado
da ação do medicamento na via nigro-estriatal, onde parece haver um balanço entre as atividades
dopaminérgicas e colinérgicas. Desta forma, o bloqueio dos receptores dopaminérgicos provocará
uma supremacia da atividade colinérgica e, conseqüentemente, uma liberação dos sintomas ditos
extra-piramidais. Estes efeitos colaterais, com origem no Sistema Nervoso Central, podem ser
divididos em cinco tipos:

1-Reação Distônica Agúda: Este sintoma extrapiramidal ocorre com freqüência nas primeiras 48
horas de uso de antipsicóticos, portanto, é uma das primeiras manifestações de impregnação pelo
neuroléptico.
Clinicamente se observam movimentos espasmódicos da musculatura do pescoço, boca, língua e
às vezes um tipo crise oculógira, quando os olhos são forçadamente desviados para cima. A
possibilidade dessa Reação Distônica deve estar sempre presente nas hipóteses de diagnóstico
em pronto-socorros, para diferenciá-la dos problemas neurológicos circulatórios.
O tratamento desse efeito colateral é feito à base de anticolinérgicos injetáveis intramusculares
(Biperideno – Akineton®, por exemplo), e são sempre eficazes em poucos minutos.

2-Parkinsonismo Medicamentoso: Esse tipo de impregnação geralmente acontece após a


primeira semana de uso dos antipsicóticos. Clinicamente há tremor de extremidades, hipertonia e
rigidez muscular, hipercinesia e fácies inexpressiva. O tratamento com anticolinérgicos ou
antiparkinsonianos é igualmente eficaz.
Para prevenir o aparecimento desses desagradáveis efeitos colaterais muitos autores preconizam
o uso concomitante ao antipsicótico de antiparkinsonianos (Biperideno – Akineton®) por via oral.
Muitas vezes, pode haver desaparecimento de tais problemas após 3 meses de utilização dos
neurolépticos, como se houvesse uma espécie de tolerância ou adaptação ao seu uso. Esse fato
favorece uma possível redução progressiva na dose do antiparkinsoniano que comumente
associamos ao antipsicótico no início do tratamento.

3-Acatisia: A Acatisia ocorre, geralmente, após o terceiro dia de medicação. Clinicamente é


caracterizado por inquietação psicomotora, desejo incontrolável de movimentar-se e sensação
interna de tensão. O paciente assume uma postura típica de levantar-se a cada instante, andar de
um lado para outro e, quando compelido a permanecer sentado, não para de mexer suas pernas.
A Acatisia não responde bem aos anticolinérgicos como a Ração Distônica Aguda e o
Parkinsonismo Medicamentoso, e o clínico é obrigado a decidir entre a manutenção do tratamento
antipsicótico com aquele medicamento e com aquelas doses e o desconforto da sintomatologia da
Acatisia.
Com freqüência é necessária a diminuição da dose ou mudança para outro tipo de antipsicótico.
Quando isso acontece, normalmente deve-se recorrer aos Antipsicóticos Atípicos ou de última
geração.

4-Discinesia Tardia: Como o próprio nome diz, a Discinesia Tardia aparece após o uso crônico
de antipsicóticos (geralmente após 2 anos). Clinicamente é caracterizada por movimentos
involuntários, principalmente da musculatura oro-língua-facial, ocorrendo protusão da língua com
movimentos de varredura látero-lateral, acompanhados de movimentos sincrônicos da mandíbula.
O tronco, os ombros e os membros também podem apresentar movimentos discinéticos.
A Discinesia Tardia não responde a nenhum tratamento conhecido, embora em alguns casos
possa ser suprimida com a readministração do antipsicótico ou, paradoxalmente, aumentando-se
a dose anteriormente utilizada. Procedimento questionável do ponto de vista médico.
É importante sublinhar que, embora alguns estudos mostrem uma correlação entre o uso de
antipsicóticos e esta síndrome, ainda não existem provas conclusivas da participação direta
destes medicamentos na etiologia do quadro discinético. Alguns autores afirmam que a Discinesia
Tardia é própria de alguns tipos de esquizofrenia mais deteriorantes.
Tem sido menos frequente a Discinesia Tardia depois do advento dos Antipsicóticos Atípicos ou de
última geração.
5-Síndrome Neuroléptica Maligna: Trata-se de uma forma raríssima de toxicidade provocada pelos
neurolépticos. É uma reação adversa dependente mais do agente agredido que do agente
agressor, tal como uma espécie de hipersensibilidade à droga. Clinicamente se observa um grave
distúrbio extrapiramidal acompanhado por intensa hipertermia (de origem central) e distúrbios
autonômicos. A Síndrome Neuroléptica Malígna leva a óbito numa proporção de 20 a 30% dos
casos. Os elementos fisiopatológicos desta síndrome são objeto de preocupação de
pesquisadores e não há, até o momento, nenhuma conclusão sobre o assunto, nem se pode
garantir, com certeza, ser realmente uma conseqüência dos neurolépticos.
Além dos efeitos adversos dos neurolépticos tradicionais sobre o Sistema Nervoso Central, são
observados reflexos de sua utilização em nível sistêmico. São seis as principais ocorrências
colaterais:

1-Efeitos Autonômicos: Por serem, os antipsicóticos, drogas que desequilibram o sistema


dopamina-acetilcolina, em algumas situações podemos encontrar efeitos colinérgicos, em outros
efeitos anticolinérgicos. É o caso da secura da boca e da pele, constipação intestinal, dificuldade
de acomodação visual e, mais raramente, retenção urinária.

2-Cardiovasculares: Alguns neurolépticos podem produzir alterações eletrocardiográficas, como


por exemplo, um aumento do intervalo PR, diminuição do segmento ST e achatamento de onda T.
Estas alterações são benignas e não costumam ter significado clínico. Das alterações
cardiovasculares a mais comum é a hipotensão (postural ou não) a qual, como dissemos, decorre
do bloqueio alfa-adrenérgico proporcionado por essas drogas.
Na maioria das vezes a hipotensão desencadeada pela utilização de neurolépticos tradicionais
proporciona apenas um certo incômodo ao paciente, entretanto, nos casos com comprometimento
vascular prévio, como nas arterioscleroses, poderá precipitar um acidente vascular cerebral
isquêmico, isquemia miocárdica aguda ou traumatismos por quedas.

3-Endocrinológicos: A ação dos neurolépticos no sistema túbero-infundibular repercute na


hipófise anterior produzindo distúrbios hormonais. Embora incomum, esses antipsicóticos
tradicionais podem produzir amenorréia (parada das menstruações) e, menos freqüente,
galactorréia (secreção de leite) e ginecomastia (aumento da mama).
Todos esses efeitos são decorrentes das alterações na síntese de prolactina, ou seja, da
hiperprolactinemia. Há também referências de alterações nos hormônios gonadotróficos e do
crescimento, porém, ainda não há consenso conclusivo sobre isso.
4-Gastrintestinais: Tendo em vista a ação nos mecanismos da acetilcolina, os neurolépticos
tradicionais podem ter boa ação antiemética. A constipação intestinal e boca seca também podem
ser observadas durante o tratamento, como conseqüência dos efeitos anticolinérgicos.

5-Oftalmológicos: Embora raras, duas síndromes oftálmicas podem ser descritas com a
utilização dos antipsicóticos tradicionais. A primeira pode ocorrer com uso da Clorpromazina em
altas doses, e é conseqüência do depósito de pigmentos no cristalino. A segunda, com o uso de
altas doses de Tioridazina, causando uma retinopatia pigmentosa.

6-Dermatológicos: Com uma incidência de 5 a 10% podemos encontrar o aparecimento de um


rash cutâneo, foto-sensibilização e aumento da pigmentação nos pacientes em uso de
Clorpromazina.

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