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1% da população mundial possui 45% da riqueza; 50% menos de 1%.

Michel Roberts

Michael Roberts

16/11/2019

Publicado originalmente em Sin permiso.

Tradução: Paulo Roberto de Andrade Castro

Acabou de ser publicado o informe anual do Credit Suisse sobre a riqueza


mundial. Este informe continua sendo a análise mais completa e explicativa da riqueza
global (não das receitas) e sobre a desigualdade de riqueza das famílias de 5,1 bilhões
de pessoas em todo mundo. As riquezas das famílias são compostas pelos ativos
financeiros (ações, bônus, efetivos, fundos de pensão) e propriedades (casas, etc). E o
informe faz a medição descontando as dívidas. Os autores do informe são James Davies,
Rodrigo Lluberas e Anthony Shorrocks. O professor Anthony Shorrocks era meu
companheiro de andar na universidade onde ambos nos graduamos em economia
(embora possua melhores habilidades matemáticas que eu).

A riqueza global cresceu o ano passado uns 2,6%, até os 360 trilhões de dólares
e a riqueza por adulto alcançou um novo recorde de 70.850 dólares, 1,2% mais que a
média de 2018, Suíça situando-se no topo da riqueza por adulto este ano. Estados
Unidos, China e Europa são os países que mais contribuíram mais ao crescimento da
riqueza mundial com 3,8 trilhões, 1,9 trilhões, e 1,1 trilhão de dólares, respectivamente.

Como a cada ano que é publicado, o informe revela a desigualdade extrema da


riqueza pessoal a nível mundial. A metade inferior dos adultos no mundo representa
menos de 1%da riqueza global a meados de 2019, enquanto o decil mais rico (os 10%
superior dos adultos) possui 80% da riqueza mundial e o percentil superior (1%) quase a
metade (45%) de todos os ativos por família. A desigualdade de riqueza é menor nos
países individualmente: as cifras típicas seriam de 35% para a parte do 1% superior e de
65% para a parte do 10% superior. Mas, estes níveis continuam sendo muito mais altos
que as cifras correspondentes à desigualdade de renda ou qualquer outro fator de bem
estar geral.
Embora os avanços dos mercados emergentes continuem reduzindo as brechas
entre países, a desigualdade dentro dos países cresceu à medida que as economias
recuperaram – se depois da crise financeira mundial. Como resultado, o 1% superior dos
possuidores de riqueza aumentou sua participação na riqueza mundial. Contudo, esta
tendência parece ter diminuído desde 2016, em comparação com os 45% em 20006,
essa proporção voltou a cair aos 45%.

Hoje, a participação dos 90% inferior representa 18% da riqueza mundial, em


comparação com 11% em 2000.

A pirâmide de riqueza captura a diferença de riqueza entre os adultos. Quase 5


bilhões de adultos, 57% de todos os adultos do mundo, possuem uma riqueza inferior a
10.000 dólares em 2019. O segmento seguinte, que abarca aqueles com riqueza entre
10.000 – 100.000 dólares experimentou o maior aumento neste século, triplicando seu
tamanho, de 514 milhões em 2000 a 1,7 bilhões a meados de 2019. Isto reflete a
crescente prosperidade das economias emergentes, especialmente da China.
A riqueza média desse grupo é de 33.530 dólares, menos ainda da metade do
nível da riqueza média em todo mundo, mas consideravelmente acima da riqueza média
dos países, nos quais residem a maioria das pessoas deste grupo. O grupo final de países
com uma riqueza inferior a 5.000 dólares, que se concentra em grande medida na África
central e na Ásia central e meridional.

Aqui o assombroso. Se vives em um dos países capitalistas avançados e é dono


de tua casa e tens algumas economias, estarás entre o 10% superior de todos os
possuidores de riqueza do mundo. Isso se deve a grande maioria das moradias no
mundo, possuem pouca ou nenhuma riqueza.
Uma pessoa necessita ativos líquidos de somente 7.087 dólares para estar entre a
metade mais rica dos cidadãos do mundo em meados de 2019. Entretanto, são
necessários 109.430 dólares para ser membro dos 10% superior dos possuidores de
riqueza mundial e 936.43º para pertencer ao 1% superior. Os cidadãos africanos e
indianos se concentram no segmento base da pirâmide da riqueza, China nos níveis
médios e América do Norte e Europa no percentil superior. Mas, também é evidente um
número significativo de residentes norte - americanos e europeus no decil de riqueza
global inferior, considerando que os adultos mais jovens adquirem dívidas em
economias avançadas, o que resulta em uma riqueza líquida negativa.
E a desigualdade se alarga na parte superior da pirâmide. Há 46,8 milhões de
milionários no mundo a meados de 2019, mas a maioria possui uma riqueza entre 1
milhão e 5 milhões de dólares: 41,1 milhões ou 88% dos milionários. Outros 3,7
milhões de adultos (7,9%) possuem entre 5 milhões e 10 milhões de dólares. Destes, 1,8
milhões possuem ativos no valo de 10-50 milhões de dólares, deixando a 168.030
indivíduos com um patrimônio líquido ultra-alto, com um patrimônio líquido superior a
50 milhões de dólares a meados de 2019. Em efeito, estes são a elite governante do
mundo.
Estados Unidos da América possui, de sobra, o maior número de milionários:
18,6 milhões, ou 40% do total mundial. Durante muitos anos, Japão ocupou o segundo
lugar no ranking de milionários, com uma margem cômoda. Contudo, Japão agora está
no terceiro lugar, com 6%, superado por China (10%). Logo vem reino Unido e
Alemanha com 5% cada um, seguidos de França (4%), Itália, Canadá e Austrália (3%).
Suiça (530.240 dólares), Austrália (411.060 dólares) e os Estados Unidos (4

Suíça (530.240 dólares), Austrália (411.060 dólares) e os Estados Unidos (403.


970 dólares) encabeçam novamente a classificação segundo a riqueza por adulto. A
classificação por mediana de riqueza por adulto favorece aos países com níveis mais
baixos de desigualdade de riqueza. Este ano, Austrália (191.450 dólares) superou a
Suíça (183.340 dólares) em primeiro lugar. Portanto, Austrália possui a maior riqueza
média por adulto no mundo (devido principalmente ao valor da moradia).

Os ativos financeiros sofreram mais durante a crise financeira de 2008 – 2009 e


logo se recuperaram nos primeiros anos posteriores à crise. Este ano, seu valor
aumentou em todas as regiões, contribuindo com 39% do aumento da riqueza bruta em
todo o mundo e 75% do aumento América do Norte. Porém, os ativos não financeiros
(propriedades) proporcionaram o principal estímulo para o crescimento geral nos
últimos anos.

Em 12 meses até meados de 2019, cresceram mais rápido que os ativos


financeiros em todas as regiões. A riqueza financeira representou a maior parte da nova
riqueza na China. Europa e América Latina, e quase toda a nova riqueza da África e da
Índia. Porém, a dívida das famílias aumentou ainda mais, em uns 4% em geral. A dívida
das famílias cresceu em todas as regiões, a uma taxa dois dígitos na China e na Índia.
Estamos próximos de uma crise da dívida.
Michael Roberts

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