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DISCRIMINANTES PUTATIVAS 

ROGÉRIO TADEU ROMANO 

Procurador Regional da República  

I – COLOCAÇÃO DO PROBLEMA: A QUESTÃO DA LEGITIMA DEFESA PUTATIVA  E DO ESTADO DE 
NECESSIDADE PUTATIVO 

A  potencialidade  agressiva  de  certos  aparelhos,  engenhos,  cães  ferozes, 


encontra melhor solução, para muitos como Francisco de Assis Toledo1, dentro dos limites da 
legítima  defesa.  É  a  legítima  defesa  preordenada  ou  predisposta.  É  o  que  se  chama  de  
ofendículas.  

Nelson  Hungria2  considera  que  as  ofendículas  devem  ser  admitidas    mesmo 
com o risco de que, ao invés do ladrão, venha a ser vítima da armadilha uma pessoa inocente, 
caso em que, a seu ver, configuraria legítima defesa putativa.  

A  legítima  defesa  é  posta  ao  lado  do  estado  de  necessidade,  do  estrito 
cumprimento  do  dever  legal  e  do  exercício  regular  de  direito,  como  causa  de  exclusão  da 
ilicitude.  Estamos  diante  de  causas  de  justificação  que,  quando  incidem,  o  fato  embora 
aparentemente típico, não será um crime, mas sim um lícito penal.  

No estado de necessidade(artigos 23,I e 24 do CP), onde há a prática de fato 
para salvar de perigo atual, que o agente ativo não provocou por sua vontade, nem poder de 
outro  modo  evitar,  direito  próprio  ou  alheio,  cujo  sacrifício,  pelas  circunstâncias,  não  era 
razoável exigir‐se, são exigidos para a configuração da excludente:  

a)perigo atual, presente a ameaça concreta a bem jurídico;  

b) proteção do direito próprio ou alheio;  

c) situação de perigo atual não causada de forma voluntária pelo agente;  

d) inexistência do dever legal de enfrentar o perigo.  

                                                            
1
 TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal, 4ª edição, São Paulo, ed. Saraiva, pág. 
206. 
2
 HUNGRIA, Nelson. Comentários ao código penal, 3ª edição, Rio de Janeiro, Forense, 1955, volume I, 
t..2, pág. 290 a 291.  


 
O estado de necessidade defensivo vem a ocorrer quando o ato necessário se 
dirige  contra  a  coisa  de  que  promana  o  perigo  para  o  bem  jurídico  defendido.  O  estado  de 
necessidade defensivo ocorre quando o ato necessário se dirige contra coisa diversa daquela 
que promana o perigo para o bem jurídico defendido.  

Fala‐se com relação ao estado de necessidade na aplicação de duas teorias: a 
unitária e a diferenciadora. Penso que podemos adotar a segunda teoria.  

Heleno  Cláudio  Fragoso3,    defendendo  a  aplicação  da  teoria  diferenciadora4, 


por influência da doutrina alemã, disse o que segue:  

¨A legislação vigente, adotando fórmula unitária para o estado de necessidade 
e  aludindo  apenas  ao  sacrifício  de  um  bem  que,  nas  circunstâncias,  não  era 
razoável  exigir‐se,  compreende  impropriamente  também  o  caso  de  bens  de 
igual  valor(é  o  caso  do  naufrago  que,  para  ter  a  única  tábua  de  salvamento, 
sacrifica o outro). Em tais casos, subsiste a ilicitude e o que realmente ocorre é 
o  estado  de  necessidade  como  excludente  da  culpa(inexigibilidade  de  outra 
conduta), que a seu tempo examinaremos.¨ 

Termina Heleno Cláudio Fragoso por dizer:  

¨O estado de necessidade exclui a ilicitude quando, em situação de conflito ou 
colisão, ocorre o sacrifício do bem de menor valor. A inexigibilidade de outra 
conduta, no entanto, desculpa a ação quando se trata de sacrifício de bens de 
igual ou de maior valor, que ocorre em circunstâncias nas quais ao agente não 
era  razoavelmente  exigível  o  comportamento  diverso.  O  estado  de 
necessidade  previsto  no  art.  20  do  Código  Penal  vigente,  portanto,  pode 
excluir a antijuridicidade ou a culpabilidade, conforme o caso.¨ 

Se, pela teoria unitária, o estado de necessidade é sempre causa de exclusão 
da ilicitude, a teoria diferenciada, com a colisão entre bens jurídicos de igual ou maior valor, 
exclui a culpabilidade, enquanto que o sacrifício de bem de menor valor exclui a ilicitude.5  

Para Júlio Fabbrini Mirabete6o Código brasileiro adotou a teoria unitária e não 
a  teoria  diferenciadora7.  Assim,  há  estado  de  necessidade  não  só  no  sacrifício  de  um  bem 
menor para salvar um de maior valor, mas também no sacrifício de um bem de valor idêntico 
ao  preservado,  como  no  caso  do  homicídio  praticado  por  um  náufrago  para  se  apoderar  da 
tábua de salvação. Não ocorrerá a justificativa se for de maior importância o bem lesado pelo 
agente. Assim não se poderia matar para garantir um bem patrimonial.  
                                                            
3
 FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal, parte geral, São Paulo, Bushatsky, 1976 a 1983, pág. 
213.  
4
 Nelson Hungria, em seu Direito Penal,  tomo I, pág. 379, entendeu que a teoria diferenciadora não se 
aplicava ao direito brasileiro.  
5
  Para  Francisco  de  Assis  Toledo(obra  citada,pág.  184),  ao  estudar  o  balanceamento  dos  bens  e 
interesses em conflito, entende que afasta‐se qualquer possibilidade de justificação de sacrifício do bem 
maior  para  salvação  do  bem  menor,  transferindo‐se,  nesta  última  hipótese,  a  solução  para  o  juízo  de 
culpabilidade.   
6
 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de direito penal, 7ª edição,  São Paulo, Atlas, volume I, pág. 171.  
7
 Essa teoria foi adotada no Código Penal Militar(artigos 39 a 43).  


 
Sendo assim o estado de necessidade pode ser invocado quando da prática de 
qualquer  crime,  mesmo  os  delitos  culposos,  não  se  admitindo  a  sua  aplicação  nos  casos  de 
crimes permanentes ou habituais.  

Mas  há  situação  de  estado  de  necessidade  putativo,  se  o  agente  supõe  por 
erro  que  está  em  perigo.  É  o  caso  conhecido  do  agente  que,  supondo,  por  erro  plenamente 
justificado  pelas  circunstâncias,  estar  no  meio  de  um  incêndio,  não  responde  por  lesões 
corporais  ou  morte  que  vier  a  causar  para  se  salvar.  Repito  que  estamos  no  campo  das 
chamadas discriminantes putativas. 

Exige‐se para a legítima defesa:  

a) repulsa a agressão atual ou iminente e injusta;  
b) defesa de direito próprio ou alheio;  
c) emprego moderado de meios necessários;  
d) orientação de ânimo do agente no sentido de praticar atos defensivos.  

São  necessários  os  meios  reputados  eficazes  e  suficientes  para  repelir  a 


agressão.  Já  decidiu  o  Supremo  Tribunal  Federal  que  o  modo  de  repelir  a  agressão  também 
pode  influir  decisivamente  na  caracterização  do  elemento  em  exame(RTJ  85/475‐7).  Nessa 
linha  de  pensar,  o  emprego  de  arma  de  fogo  não  para  matar,  mas  para  ferir  ou  para 
amedrontar(tiro  fora  do  alvo)  poderia    ser  considerado,  em  certas  circunstâncias,  o  meio 
disponível,  menos  lesivo,  eficaz  e,  portanto,  necessário.  Tal  solução  merece  sérios  debates 
numa sociedade que precisa combater o uso de armas.  

Há a análise da questão da proporcionalidade, na legítima defesa 

 Nelson  Hungria8  nos  dá  uma  conclusão,  a  nosso  ver  radical,  data  vênia, 
quando embora entendendo que,  no caso do roubo de frutas, se  bastar a ameaça de arma, 
estaria excluída a legitimidade de disparas no ladrão. Destaca que, por mínimo que seja o mal 
ameaçado ou por mais modesto que seja o direito defendido, não há desconhecer a legítima 
defesa,  se  a  maior  gravidade  da  reação  derivou  da  indisponibilidade  de  outro  meio  menos 
prejudicial, e posto que não tenha havido imoderação no seu emprego. Assim, para ele, à luz 
da doutrina alemã, abatendo o chamado sentimentalismo latino, qualquer bem jurídico pode 
ser defendido mesmo com a morte do agressor, se não há outro remédio para salvá‐lo. Ora, 
data  vênia,  é  brutal  tal  ponto  de  vista,  pois  a  proporcionalidade  da  defesa  deve  ser 
condicionada não apenas a gravidade da agressão, mas ainda a relevância do bem ou interesse 
que se defende.  

Ora, data vênia, não há direitos absolutos, pois não há falar em legítima defesa 
abusiva.  

Pode‐se  falar  em  excesso    doloso  ou  culposo  na  legítima  defesa,  assim  como 
também há no estado de necessidade.  

                                                            
8
 HUNGRIA, Nelson. Comentários ao código penal, 3ª edição, Rio de Janeiro, Forense, 1955, volume I, t. 
2, pág. 298 a 299.  


 
Aqui  vem    a  ideia  de  excesso  culposo,resultante  de  uma  imprudente  falta  de 
compreensão,  falta  de  contensão  por  parte  do  agente,  quando  isso  era  possível  nas 
circunstâncias  para  evitar  um  resultado  mais  grave  do  que  o  necessário  a  defesa  do  bem 
agredido, que viria de um estado emotivo causado pela repulsa ao ato agressivo.9  

Esse estado emotivo pode‐nos trazer uma imaginação em nosso subconsciente 
de situações que não condizem com a realidade fática.  

É  conhecido  o  surrado  exemplo  quando  no  auge  de  uma  discussão  áspera 
entre duas pessoas, uma delas leve a mão ao bolso, e a outra, supondo que ela ia sacar uma 
arma,  ou  coisa  que  o  valha,  atira  primeiro,  mas  depois  se  descobre  que  a  vítima  estava 
desarmada.  É  a  chamada  legítima  defesa  putativa,  que  está  inserida  entre  as  discriminantes 
putativas, previstas no artigo 20, § 1º, do Código Penal.  

Ainda  é  devido  trazer  outro  exemplo  quando  certa  pessoa,  tarde  da  noite, 
caminha por uma rua mal iluminada, em situação que já seria bastante a preocupar, diante de 
assassinatos recentes que ali surgiram, ao desenvolver sua caminhada, encontra uma pessoa 
que  caminhava  em  sua  direção,  e  que  tinha  feições  de  um  criminoso  que  se  dava  como 
perigoso assassino. O agente, em estado de tensão,  saca a sua arma e dispara um tiro fatal 
contra  o suposto agressor. Ao seu aproximar se choca ao verificar que a pessoa atingida, na 
verdade, era um conhecido, que procurava a sua ajuda.  

Na doutrina,  para a chamada teoria limitada da culpabilidade, nota‐se que as 
discriminantes putativas são divididas entre as que ocorrem em relação a pressuposto fático 
de  uma  excludente  de  ilicitude(para  uns,  erro  do  tipo  permisivo)  e  quando  relacionadas  ao 
limite ou a existência de uma causa de justificação(erro de proibição indireto). Com o devido 
respeito penso que o erro na discriminante putativa é o erro de proibição.  

Para  aquela  teoria  limitada  da  culpabilidade,  no  erro  sobre  os  pressupostos 
fáticos  de  uma  causa  de  justificação,  ocorre  um  erro  do  tipo  permissivo.  No  erro  sobre  a 
existência ou sobre os limites de uma causa de justificação, configura‐se o erro de proibição, 
com a exclusão da culpabilidade.   

Entre  as  discriminantes  putativas,  além  da  legitima  defesa  putativa,  existe 
ainda  o  estado  de  necessidade  putativo,  o  exercício  regular  de  direito  putativo  e  o  estrito 
cumprimento do dever legal putativo.  

O    quadro  de  legítima  defesa  putativa  assim  foi  conceituada  por  Nelson 
Hungria:  

¨Dá‐se  a  legitima  defesa  putativa  quando  alguém  erroneamente  se  julga  em 
face  de  uma  agressão  actual  e  injusta,  e,  portanto,  legalmente  autorizado  à 
reação que empreende.¨10

                                                            
9
 Decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, Desembargador Adriano Marrey, que foi comentada por 
Francisco de Assis Toledo, obra citada, pág. 208 e 209,  e ainda pó Paulo José da Costa Júnior, Código 
Penal e sua interpretação jurisprudencial, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1984, pág. 45.  
10
 HOFFBAUER, Nelson Hungria. A legítima defesa putativa, Rio de Janeiro Livraria Jacinto, 1936.  


 
 

O  agente  se  imagina  na  presença  de  uma  causa,  que  se  realmente  existisse, 
justificaria sua conduta, ou seja, uma causa de justificação.  

Aquele que reage a uma suposta agressão, que se mostrou real apenas em sua 
imaginação, e que se existisse tornaria a sua ação legítima, age em legítima defesa putativa.  

Repete‐se  o  exemplo    do  agente  que  supõe  que  se  encontra  em  meio  a  um 
incêndio,  dada  a  quantidade  de  fumaça  e  os  gritos  dos  circunstantes,  ferindo  alguém  para 
safar‐se do local e se apura que não havia incêndio(estado de necessidade putativo).  

De  outro  modo,  é  conhecido  o  exemplo  do  policial,  que  munido  de  um 
mandado de prisão, recolhe à prisão A, supondo que este é B, irmão gênio daquele e objeto da 
ordem judicial ( estrito cumprimento do dever legal putativo).   

Certo  que  há,  no  direito  penal,  o    conceito  de  crime  putativo  ou  crime 
imaginário, que se distancia da tentativa inidônea(crime impossível).  

Adota‐se o entendimento de que a lei penal adotou a chamada teoria objetiva 
na  distinção  entre  inidoneidade  absoluta  e  inidoneidade  relativa  de  meios  e  de  objeto.  A 
tentativa absolutamente inidônea fica impune.  

Por sua vez, o crime imaginário é um fato que o agente julga punível, mas que, 
na realidade, não é definido como crime pela lei. O crime existe apenas em sua imaginação e 
essa  errônea  opinião  não  bastaria  para  torná‐lo  punível.  Para  Aníbal  Bruno,11  haveria 
atipicidade, ausência de tipicidade.  

Para Aníbal Bruno  12, ainda há erro no crime putativo. O agente erra em supor 
criminoso o ato que pratica, na realidade não definido na lei como crime. Mas, não seria erro 
do  agente  que  excluiria  o  tratamento  penal,  pois  não  haveria  crime,  porque  não  haveria 
nenhum tipo legal a que o ato praticado correspondesse. O fato na sua expressão objetiva e na 
sua  elaboração  psíquica  seria  totalmente  estranho  ao  direito  punitivo.  Isso  porque  a  norma 
proibitiva só existiria no subjetivo do agente.  

 Há, sem dúvida, um enorme abismo entre legítima defesa putativa e legítima 
defesa  real.  A  primeira  existe  no  conhecimento  equivocado  do  agente  em  relação  aos 
pressupostos objetivos da legítima defesa enquanto a segunda se configura com a existência 
concreta desses pressupostos.  

A modesta pretensão desse estudo é expor o conflito de ideias envolvendo a 
natureza jurídica das discriminantes putativas. 

Aliás,  dispõe  o  artigo  20,§  1º,  do  Código  Penal:  ¨É  isento  de  pena  quem,  por 
erro,  plenamente  justificado  pelas  circunstâncias,  supõe  situação  de  fato  que,  se  existisse, 

                                                            
11
 BRUNO, Aníbal. Direito Penal, 3ª edição, Rio de Janeiro, Forense,  1967, tomo II, pág. 253.   
12
 BRUNO, Aníbal, Direito Penal, 3ª edição, Rio de janeiro, Forense, 1967, tomo II, pág. 126.  


 
tornaria  a  ação  legítima.  Não  há  isenção  de  pena  quando  o  erro  deriva  de  culpa  e  o  fato  é 
punível como crime culposo.¨ 

O  agente  supõe  que  está  agindo  licitamente  ao  imaginar  que  se  encontram 
presentes  os requisitos de uma das causas justificativas presentes na lei.  

Estaríamos  diante  de  um  erro  do  tipo  permissivo?  Será  caso  de  erro  de 
proibição ou ainda um tipo intermediário?  

Para  isso,  penso  correto  fazer  uma  divagação  com  relação  a  teoria  da 
culpabilidade, desde a teoria normativa até a teoria finalista, para se verificar a dicotomia erro 
do tipo e erro de proibição.  

II – CULPABILIDADE  

Dentro  de  uma  concepção  psicológica  da  culpabilidade,  o  dolo  era 


representação  e  vontade,  para  que  os  que  entendiam  a  culpabilidade  como  simples  nexo 
psíquico. Assim a culpabilidade era ligação psicológica entre o agente e o seu fato e estaria no 
psiquismo do agente.  

Posteriormente,  com  as  ideias  trazidas  por  Frank,  em  1907,  lançaram‐se  as 
bases  da  denominada  ¨teoria  normativa  da  culpabilidade¨,  introduzindo‐se  no  conceito  de 
culpa a reprovabilidade do ato praticado.  

Para  ser  culpável  não  bastava  que  o  fato  fosse  doloso,  ou  culposo,  mas  era 
preciso que, além disso, seja censurável ao autor. Sendo assim o dolo e a culpa deixaram de 
ser espécies de culpabilidade e passaram a ser elementos dela. A culpabilidade era um juízo de 
reprovação ao autor do ato composto dos seguintes elementos: imputabilidade, dolo ou culpa 
stricto  sensu(negligência,  imprudência,  imperícia);  exigibilidade,  nas  circunstâncias  de  um 
comportamento  conforme  ao  direito.  O  dolo  era  visto  como  voluntariedade,  previsão  e 
consciência atual do ilícito, que presentes possibilitam o juízo de censura de culpabilidade.  

No  entanto,  Hans  Welzel,  professor  da  Universidade  de  Göttingen,  e  mais 
tarde da Universidade de Bonn, entendeu que o dolo faz parte da ação humana e não do juízo 
de  culpabilidade.  O  dolo  e  a  culpa  stricto  sensu  foram  extraídos  da  culpa  e  inseridos  no 
conceito de ação, incluídos no tipo legal do crime. Há, pois, tipos dolosos e tipos culposos.  

Do  dolo  foi  retirada  a  consciência  da  ilicitude,  fazendo‐se  alteração  no 
entendimento  quanto    a  consciência  potencial  da  ilicitude,    ficando  o  dolo  do  tipo  e  a 
culpabilidade assim reduzidos:  

dolo do tipo:  

‐ intencionalidade, que é igual a finalidade da ação(elemento volitivo);  

‐previsão do resultado(elemento intelectual).  


 
culpabilidade 

‐ imputabilidade;  

‐consciência potencial da ilicitude;  

‐possibilidade e exigibilidade, nas circunstâncias, de um agir de outro modo;  

‐ juízo de censura do autor por não ter exercido, quando podia, esse poder‐agir 
de outro modo.  

Assim  a  culpabilidade  é  entendida  como  um  juízo  valorativo,  um  juízo  de 
censura  que  se  faz  ao  autor  de  um  fato  criminoso.  Esse  juízo  terá  por  objetivo  o  agente  do 
crime  e  sua  ação  criminosa  enquanto  que  o  dolo  está  no  objeto  da  valoração,  sendo  um 
elemento necessário do tipo doloso.  

Em síntese, na matéria, disse Miguel Reale Jr.13 que a culpabilidade é um juízo 
de reprovação relativo à formação dessa vontade enquanto que  a antijuridicidade é o caráter 
de  comportamento  dotado  de  sentido  axiológico  negativo,  de  forma  que  este    deflui  da 
vontade axiológicamente negativa.  

Ainda  é  Miguel  Reale  Jr.14  quem  nos  ensina  que  dentro  do  quadro  da 
culpabilidade, a não exigibilidade é um juízo de valor sobre a formação do querer do agente e 
encerra,  primeiramente,  a  valoração  da  situação  na  qual  é  necessária  a  presença  de 
necessários requisitos objetivos e, posteriormente, a avaliação da opção realizada em função 
que, naquela situação, assume relevância, perante um juízo de direito como deve ser.  

III – O ERRO DO TIPO E O ERRO DE PROIBIÇÃO   

O  erro  é  a  falsa  percepção  da  realidade,  que  pode  recair  tanto  sobre 
elementos constitutivos do tipo como da ilicitude do comportamento.  

Ilicitude  de  um  fato  é  a  correlação  de  contrariedade  que  se  estabelece  entre 
esse fato e a lei, norma escrita elaborada pelo Parlamento, órgão legislativo no Brasil.  

O  certo  é  que,  a  teor  do  artigo  21  do  Código  Penal,  é  inescusável  o 
desconhecimento do injusto. Assim são erros inescusáveis:  

a) Erros  de  eficácia,  que  são  os  que  versam  sobre  a  não  aceitação  da 
legitimidade  de  um  determinado  preceito  legal,  na  suposição  de  que 
contraria outro preceito;  
b) Erros de vigência: quando o autor ignora a existência de um preceito legal, 
ou ainda não teve tempo de conhecer uma lei;  

                                                            
13
 REALE Jr,Miguel. Teoria do delito, São Paulo, RT, 1988, pág. 86.  
14
 REALE Jr, Miguel. Teoria do delito, São Paulo, RT, 1988, pág. 153.  


 
c) Erros  de  subsunção:  quando  o  erro  faz  com  que  o  agente  se  equivoque 
sobre o enquadramento legal da conduta;  
d) Erros de punibilidade: quando o agente sabe ou podia saber que faz algo 
proibido, mas imagina que não há punição para essa conduta.  

A falta de consciência de ilicitude não pode ser confundida com ignorância da 
lei.  

A partir disso é mister fazer a dicotomia erro do tipo e erro de proibição.  

Abordou‐se que o erro pode recair sobre um elemento constitutivo de um fato 
típico como ainda sobre a ilicitude de um comportamento.  

Quando  o  erro  incide  sobre  um  elemento  constitutivo  do  tipo  legal  ele  é  um 
erro do tipo. Se ele incide sobre a ilicitude da ação há o que se chama de erro de proibição.  

Afasta‐se  a  dicotomia  do  erro  sobre  o  fático  e  o  jurídico,  mudando‐se  o  foco 


para a solução do problema.  

É mister citar a lição de Francisco de Assis Toledo15 coloca‐se a distinção entre 
tipo  e  antijuridicidade(ou  ilicitude).    O  erro  ou  recai  sobre  elementos  ou  circunstâncias 
integrantes do tipo legal do crime(fático ou jurídico normativos, ora recai sobre a ilicitude da 
ação. Assim, no primeiro caso, tem‐se erro sobre elementos ou circunstâncias do tipo, o erro 
do tipo. Na segunda hipótese, tem‐se erro sobre a ilicitude do fato real, o erro de proibição.  

É  correto  fazer  a  distinção  entre  tipo  e  ilicitude  com  a  correspondente 


distinção entre erro do tipo(artigo 20 do CP) e erro de proibição.  

São exemplos de erro do tipo:  

a) no crime de calúnia, o agente imputa falsamente a alguém a autoria de um 
fato  definido  como  crime  porque  acredita,  de  forma  sincera,  que  tenha 
sido  o  mesmo  praticado.  O  agente  desconhece  a  elementar  típica 
falsamente,  uma  condição  do  tipo.  Assim  se  o  agente  não  sabia  que  a 
imputação  era  falsa,  não  agiu  com  dolo  de  caluniar,  excluindo‐se  a 
tipicidade;  
b) no  delito  de  corrupção  ativa(artigo  333  do  CP),  ser  o  agente  passivo 
¨funcionário  público¨  constitui  elemento  essencial  do  tipo,  constando  o 
conceito de funcionário público da lei(artigo 327). Quem oferece propina, 
para a prática de ato de ofício, a um empregado de entidade autárquica, 
ou paraestatal, supondo que essa espécie de empregado não se reveste da 
qualidade de funcionário público, incorre em erro do tipo;  
c) No crime de furto(artigo 155 do CP) dois elementos do tipo são a coisa e a 
circunstância de ser alheia. Quem se apodera de um cheque ao portador, 
seja  por  supor  que  não  se  trata  de  coisa  ou  ainda  por  entender  que  lhe 
pertence, incorre em erro do tipo;  

                                                            
15
 TOLEDO, Francisco de Assis. Obra citada, pág. 267.  


 
d) No crime de desacato, se o agente desconhece que a pessoa contra a qual 
está  agindo  com  desrespeito  é  funcionária  pública,  imaginando  tratar‐se 
de  pessoa  comum,  não  pratica  o  desacato,  por  não  haver  dolo  de 
desacatar, podendo incidir no crime de injúria verbal;  
e) Em  crime  previsto  na  lei  de  drogas,  se  o  agente  tem  cocaína  em  casa, 
supondo‐se tratar de outra substância inócua, pratica erro do tipo;  
f) Em crime de homicídio, se um caçador dispara uma arma sobre um objeto 
escuro, imaginando‐se tratar‐se de um animal, e atinge uma pessoa, incide 
em erro do tipo;  
 
O  dolo,  sabe‐se,  compreende  a  vontade  e  a  consciência  em  realizar  o  tipo 
penal e se o agente errou sobre algum dos elementos do tipo, desaparece o dolo, há causa de 
exclusão da tipicidade.  
 
O  erro  do  tipo  essencial  exclui  o  dolo,  mas  permite  a  punição  pelo  crime 
culposo, se previsto em lei, não se falando em culpabilidade.  
 
O  erro  do  tipo  essencial  é  o  que  recai  sobre  algum  elemento  do  tipo,  sem  o 
qual o crime deixa de existir. Quem se apodera de coisa alheia móvel, pensando ser um objeto 
que lhe pertence, erra sobre um  elemento do tipo, sem o qual  o crime deixa de existir.  Não 
comete furto algum. O erro é escusável.  
 
Diferente é aquele que supondo matar A, mata B, por engano. É erro acidental, 
sendo irrelevante ser a vítima A ou B, bastando matar um ser humano, sendo que o crime não 
deixa de existir.  
 
Fala‐se num erro do tipo permissivo, que ocorre quando o objeto do erro for 
um pressuposto de uma causa de justificação. Para os adeptos da teoria limitada da culpa essa 
é a hipótese a tratar no que concerne às discriminantes putativas, do que se lê do artigo 20, 
parágrafo único, do Código Penal.  
 
Por sua vez, o erro de proibição, na redação que foi dada ao artigo 21, caput, e 
parágrafo  único,  do  Código  Penal,  pela  Lei  7.209/84,  Parte  Geral,  assim  está  previsto:  ¨O 
desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de 
pena: se evitável, poderá diminuí‐la de um sexto a um terço. Considera‐se evitável o erro se o 
agente atua  ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas 
circunstâncias, ter ou atingir essa consciência.¨  
 
Correto  o  entendimento  de  que  no  erro  de  proibição  há  três  elementos 
fundamentais:  a  lei,  o  fato  e  a  ilicitude.  A  lei  como  proibição,  o  ente  abstrato;  o  fato  como 
ação, entidade material; a ilicitude como relação de contrariedade entre o fato e a norma.  
 
O erro de proibição exclui a culpabilidade.  
 


 
O projeto do Código Penal, voltando‐se para um pluralismo que inexistia, por 
certo,  à  época  do  Código  Penal  de  1940,  erigido  no  Estado  Novo,  e  a  reforma  de  sua  Parte 
Geral, de 1984, ao final da ditadura militar, no caso de crimes de índios, defende que se trata 
de erro de proibição, quando o índio pratica o fato agindo de acordo com os costumes, crenças 
e tradições de seu povo(artigo 36).  
 
Correto  o  entendimento  dos  que  entendem  que  ou  seria  reconhecida  uma 
exculpação  por  fato  de  consciência  ou  ainda  por  reconhecimento  da  figura  do  autor  por 
convicção.  
 
É sabido que o autor comum é aquele que está normalmente em contradição 
consigo  mesmo  e  reconhece,  desta  forma,  a  norma  que  viola.  Por  sua  vez,  o  autor  por 
convicção e o autor de consciência não estão em contradição consigo próprios, uma vez que 
agem  segundo as suas convicções, a sua consciência, consoante a sua visão de mundo, e assim 
rejeitam  a  ordem  jurídica,  por  entenderem  ser  contrária  aos  seus  entendimentos,  às  suas 
crenças  e  aos  seus  princípios  éticos  e  morais.  Sendo  assim  o  autor  por  convicção  tem 
consciência  do  caráter  proibitivo  do  ato,  mas  em  nome  de  uma  certa    convicção  política, 
religiosa ou social, nega a natureza criminosa do comportamento que leva a cabo, substituindo 
à sua a valoração legal, como ensina Eduardo Correia16
 
Seja como for, a mensagem do projeto parece ser de que os índios devem ter a 
sua forma de organização social, política e jurídica respeitadas, mas coloca a oposição entre o 
índio e o homem branco, o que se distancia do direito penal liberal, em sua tradição, que se 
afirma cega a determinadas características contingenciais.  
 
Ademais,  fica  nítido  no  Projeto,  quando  se  estuda  esses  crimes  praticados 
pelos  índios,  sob  o  enfoque  de  um  erro  de  proibição,  a  questão,  para  muitos    perigosa,  do 
chamada culpabilidade da personalidade ou de pessoa. Para Figueiredo Dias17, considerado o 
pai  do  código  penal  português,  culpa  da  pessoa  é  a  violação  pelo  homem  do  dever  de 
conformar o seu existir por forma a que, na sua atuação de vida, não viole ou ponha em perigo 
bens juridicamente protegidos.  
 
Assim  a  falta  de  consciência  da  ilicitude  do  fato  irá  excluir  a  culpabilidade. 
Porém,  quem  agir  sem  a  consciência  da  ilicitude,  quando  podia  e  devia  ter  essa  consciência, 
age com culpa.  
 
Há  o  erro  de  proibição  direto  que  ocorre  quando  o  agente  desconhece  a 
norma proibitiva ou a conhece mal ou ainda por desconhecer a sua verdadeira incidência.  
 
Ainda  temos  como  erro  de  proibição  escusável,  o  erro  de  mandamento(erro 
mandamental), quando o agente se encontra em posição de ¨garantidor¨, diante de situação 
de perigo de cujas circunstâncias fáticas tem  perfeito conhecimento, omite a  ação que lhe é 
determinada pela norma preceptiva, envolvendo um dever jurídico de impedir um resultado, 
                                                            
16
 CORREIA, Eduardo. Direito criminal, volume II, Coimbra, Almedina, 1965, pág. 331.  
17
 FIGUEIREDO DIAS, Jorge de. Liberdade – Culpa – Direito Penal, pág. 118.  

10 
 
supondo que não tem o dever jurídico de agir para impedir o resultado, por erro inevitável. O 
tutor,  supondo  já  ser  um  pesado  ônus  ter  aceitado  os  encargos  da  tutela,  pensa  não  estar 
obrigado  a  arriscar  a  sua  própria  vida  para  salvar  o  irrequieto  pupilo  que  está  se  afogando, 
num exemplo trazido por Francisco de Assis Toledo.18
 
No  erro  de  proibição  indireto  o  agente  erra  sobre  a  existência  ou  sobre  os 
limites de uma causa de justificação. Ele sabe que pratica um fato em principio proibido, mas 
supõe,  por  erro  inevitável,  que,  nas  circunstâncias,  milita  a  seu  favor  uma  norma  permissiva 
prevalente.  
 
Veja‐se  a  diferença:  no  erro  de  proibição  indireto,  o  engano  incide  sobre  o 
entendimento da norma excludente da ilicitude, seja quanto à existência dela, seja quanto aos 
seus limites jurídicos. É o exemplo da chamada legítima defesa da honra, no que concerne ao 
erro de proibição sobre os limites objetivos e subjetivos de uma causa de justificação. Há caso 
do exemplo da ultrapassada e censurável ideia da defesa da honra, quando o agente mata o 
cônjuge ao surpreendê‐lo em flagrante adultério 
 
Há ainda exemplo de erro de proibição quanto a existência ou sobre os  limites 
de causa de justificação quando há a prática de um furto, supondo estar o agente da subtração 
em  estado  de  necessidade,  uma  vez  que  está  desempregado  e  com  dificuldades  financeiras. 
Ora, estado de precisão não é estado de necessidade.  
 
São hipóteses de erro sobre a ilicitude do fato. 
 
A eles poderemos somar como casos de erros de proibição:  
 
a) matar uma pessoa gravemente enferma, a seu pedido, para livrá‐la de um 
mal incurável, supondo o agente que a eutanásia é permitida;19  
b) vender  o  relógio  que  recebeu  para  conserto  depois  de  escoar‐se  o  prazo 
em  que  o  proprietário  deveria  apanhá‐lo,supondo  o  sujeito  que  a  lei 
permite a venda para pagamento dos serviços dos reparos;  
c) vender mercadoria do empregador para se pagar de salários atrasados;  
d) a  exibição  de  um  filme  pornográfico  quando  o  agente  supõe  lícita  sua 
conduta por ter sido liberado pela censura.  

O  Projeto  do  Código  Penal  manteve  o  erro  do  tipo  como  estava  na  Lei 
7.209/84. 

                                                            
18
 TOLEDO, Francisco de Assis. O erro no direito penal. São Paulo, Saraiva, 1977, pág. 65.  
19
 Necessário distinguir a eutanásia, da ortotanásia e da distanásia. A ortotanásia, prevista na Resolução 
1.805/2006  do  Conselho  Federal  de  Medicina,    é  o  processo  pelo  qual  se  opta  por  não  submeter  um 
paciente  terminal  a  procedimentos  invasivos  que  adiam  sua  morte,  mas  ao  mesmo  tempo, 
comprometem sua qualidade de vida. Por sua vez, a eutanásia corresponde a prática de interromper a 
vida de um paciente com doença em estágio irreversível(é crime). A distanásia se refere ao adiamento 
da  morte  do  indivíduo,  geralmente  pela  utilização  de  fármacos  e  aparelhagens  que,  muitas  vezes, 
ocasionam  um  sofrimento  desnecessário.  Na  ortotanásia  o  sujeito  não  possui  dolo  de  atingir  o  bem 
jurídico vida, havendo atipicidade de conduta. É a eutanásia passiva.  

11 
 
O  Projeto,  outrossim,  extirpa  a  redação  que  era  dada  ao  artigo  21  que  ainda 
proclama  a  vigência  do  vetusto  brocardo  error  iuris  nocet,  dificultando  o  reconhecimento 
prático da figura do erro de proibição.  

Todavia, na redação que é dada ao artigo 35, § 1º, do Projeto, onde se observa 
que no erro de proibição evitável, o agente responderá pelo crime, sem dúvida, uma expressão 
coloquial que se distancia da definição científica que se deve dar ao texto da lei penal. Correto 
afirmar  que  no  erro  de  proibição  evitável,  a  pena  será  reduzida  de  forma  obrigatória, 
diferentemente do que se lê na redação atual do artigo 21, ¨poderá¨.  

Aliás, essa evitabilidade do erro de proibição deverá levar em conta de acordo 
com as qualidades e defeitos do sujeito, sem levar em conta um padrão médio que se dê de 
comportamento.  

  

IV – DISCRIMINANTES PUTATIVAS  

Como bem advertiu Júlio Fabbrini Mirabete20, diante dos termos do que reza a 
parte geral do Código Penal, com a redação dada pela Lei 7.209/84, há controvérsia séria sobre 
a  sua  natureza  jurídica.  Para  a  teoria  limitada  da  culpabilidade,  as  discriminantes  putativas 
constituem‐se em erro do tipo permissivo, excluindo o dolo, isto é, ocorrendo quando o objeto 
do erro for pressuposto de uma causa de justificação, que excluem a antijuridicidade, excluem 
o  crime.  Para  essa  teoria,  não  age  dolosamente  quem  supõe,  justificadamente,  pelas 
circunstâncias  de  fato,  que  esta  praticando  um  ato  típico,  em  legítima  defesa,  em  estado  de 
necessidade,  etc.  Para  a  teoria  extremada  da  culpabilidade(normativa  pura),  trata‐se  de  um 
erro de proibição, razão pela qual se exclui a culpabilidade.  

Essa a melhor concepção, que tem apoio de Júlio Fabbrini Mirabete.21

Apesar disso considero a teoria limitada como dominante no direito brasileiro, 
como se lê da redação da Exposição de Motivos, item 17.  

Nessa linha de  pensar trago o entendimento de Francisco de Assis Toledo22:  

¨Embora  a  sede  das  discriminantes  putativas  seja  o  §  1º  do  art.  20  
inicialmente  citado  (¨......que,  por  erro  plenamente  justificado  pelas 
circunstâncias  impõe  situação  de  fato  que,  se  existisse  tornaria  a  ação 
legítima¨) pensamos que tal preceito não é exaustivo, não esgota as hipóteses 
das  discriminantes  imaginárias.  Percebe‐se,  com  efeito,  claramente,  que  esse 
preceito,  completado  pela  parte  final  do  parágrafo(¨não  há  isenção  de  pena 
quando o erro deriva de culpa o fato é punível como crime culposo¨), aplica‐se 
apenas ao erro do tipo permissivo¨excludente do dolo, não ao erro excludente 

                                                            
20
 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de direito penal, 7ª edição, parte geral, volume I, pág. 197.  
21
 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Obra citada,pág. 197.  
22
 TOLEDO, Francisco de Assis. Obra citada, pág. 272 a 273.  

12 
 
da censura da culpabilidade, tanto que se permite a punição a título de culpa 
stricto  sensu  (esta  é,  aliás,  a  posição  da  teoria  limitada  da  culpabilidade,  que 
adotamos).¨ 

No  entanto,  o  próprio  Francisco  de  Assis  Toledo23  observa  que  as 
discriminantes  putativas(erro  que  recai  sobre  uma  causa  de  justificação)  não  se  limitam  às 
hipóteses  de  exclusão  do  dolo,  mas  apresentam‐se,  por  vezes,  com  pretensão  à  exclusão  da 
censura  da  culpabilidade.  O  erro  sobre  uma  causa  de  justificação  pode  recair  sobre  os 
pressupostos  fáticos,  mas  sobre  os  limites,  ou  a  própria  existência,  de  uma  causa  de 
justificação(supor estar autorizado).   

Correta  a  posição  de  Alcides  Munhoz  Neto24  para  quem  o  erro  nas 
discriminantes putativas é sempre erro de proibição. Disse ele:  

¨A  ausência  do  dolo  por  não  representação  da  tipicidade  não  pode  ser 
afirmada  nos  casos  de  invencível  erro  sobre  circunstâncias  de  fato,  que 
tornaria  a  ação  legítima,  isto  é,  nas  hipóteses  das  discriminantes  putativas 
fáticas.  Quem,  v.g,  lesa  corporalmente  outrem,  porque  se  imagina  por  ele 
injustamente agredido, tem representação da tipicidade de seu proceder; sabe 
que está a praticar a ação correspondente à definição típica de lesão corporal, 
ou seja, que ofende a integridade corporal e saúde de outrem; supõe, porém, 
que sua conduta é lícita, porque a tem como amparada por uma causa legal de 
exclusão da antijuricidade(legítima defesa). Desta forma, a eficácia do erro de 
fato só pode ser atribuída à ignorância da antijuridicidade.¨ 

Guilherme de Souza Nucci25 defende a teoria extremada da culpabilidade.  

Assim  para  a  teoria  extremada  da  culpabilidade  todo  e  qualquer  erro  que 
recaia sobre uma causa de justificação é erro de proibição.  

O agente, em decorrência da situação de fato, supõe que sua conduta é lícita, 
mas age com dolo, que é a mera vontade de concretizar os elementos do tipo, não se fazendo 
indagação a respeito da antijuridicidade da conduta. O sujeito age com dolo, mas sua conduta 
não é considerada como reprovável por não ter consciência da ilicitude de sua conduta.  

Se  o  erro  do  tipo  exclui  sempre  o  dolo,  quer  seja  inevitável  ou  evitável;  se  o 
erro  do  tipo  é  evitável,  mas  não  se  evitou,  há  que  se  investigar  a  possibilidade  de  um  crime 
culposo. Por sua vez, o erro de proibição exclui a culpabilidade somente quando inevitável.  

Luiz  Flávio  Gomes26  justifica  o  tratamento  do  erro  do  tipo  permissivo,  nas 
chamadas discriminantes putativas,em separado, do artigo 20, § 1ª, afirmando ser ele um erro 
sui  generis, situado entre o erro do tipo e o erro de proibição indireto. Assim o erro não afeta 

                                                            
23
 TOLEDO, Francisco de Assis. Obra citada ,pág. 273 a 274.  
24
  MUNOZ  NETO,  Alcides.  A  ignorância  da  antijuridicidade  em  matéria  penal,Rio  de  Janeiro,  Forense, 
1978, pág. 112.  
25
  NUCCI,  Guilherme  de  Souza.  Manual  de  direito  penal,  4ª  edição,  São  Paulo,  Revista  dos  Tribunais, 
2008.   
26
 GOMES, Luis Flávio. Erro do tipo e erro de proibição, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1992, pág. 114.  

13 
 
o  conhecimento  do  tipo,  mas  leva  o  autor  supor  que  a  norma  proibitiva  é  afastada 
excepcionalmente diante de uma norma permissiva.  

Muito ainda há que se discutir sobre as discriminantes putativas, que surgem, 
no dia a dia, da vida, tal a riqueza dos exemplos que o cotidiano nos dá.  

O  Projeto  do  novo  Código  Penal  inova  ao  proclamar  que  o  erro  do  tipo 
permissivo, que não mais poderá ostentar esse nome, segundo a redação proposta, não exclui 
a  punição  pelo  delito  doloso,  e  submete‐se  às  regras  do  erro  de  proibição,  excluindo‐se,  se 
inevitável, a culpabilidade. Filia‐se o Projeto a chamada teoria extremada da culpabilidade.  

A discussão não para por aqui.  

O  Projeto  considerou  caprichosa27  a  distinção  entre  o  erro  que  recai  sobre  a 


existência jurídica ou sobre a extensão de uma causa de justificação e o erro que recai sobre os 
pressupostos  fáticos  de  uma  causa  de  justificação.  Considerou‐se  a  solução  atual  do  Código 
Penal,  nos  termos  em  que  está  a  Lei  7.209/84,  um  verdadeiro  artificialismo,  pois  o  autor 
embora  se  tenha  comportado  dolosamente,  responderá  por  crime  culposo.  Como  será  por 
exemplo se o autor erra no disparo? Por certo, não há falar em tentativa em crime culposo.  

Mesmo diante da nova opção legal há, sem dúvida, um abismo no tratamento 
que é dado àquele que se crê autorizado pela ordem jurídica a disparar mortalmente contra o 
ladrão  em  fuga  que  furtara  um  boné  e  aquele  que  dispara  por  pensar  que  o  ladrão  que  o 
assalta  retirou  uma  arma  no  bolso,  quando  na  verdade  se  tratava  de  uma  lanterna.  No 
primeiro caso, há nítido excesso de causa justificadora, que elidiria o crime, não representando 
um direito, mas um benefício, que a  lei, em condições de interpretação restrita, lhe dá.  

Os  que  entendem  ao  contrário  defendem  os  termos  da  redação  dada  pela 
reforma de 1984, que alterou o regime jurídico da teoria do erro, ao considerar que o erro do 
tipo permissivo exclui a punição por crime doloso.  

                                                            
27
 Relatório, pág. 220.  

14 
 

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