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Efeitos psicossociais do racismo afetam reconhecimento individual de

negros
Além de direitos e liberdades afetados, identidade do negro pode ser mais um ponto prejudicado
por esse problema

Por Isabella Schreen, do USP.com (http://www.usp.br/aun/exibir?id=7649)

De acordo com o professor Alessandro de Oliveira Santos os efeitos psicossociais do racismo sobre
os negros criam impasses no próprio avanço do combate ao racismo (https://www.geledes.org.br/?
s=racismo). O motivo mora numa perda de reconhecimento do negro como individuo na medida em
que, num cenário de supremacia branca, ele tende a carregar os estereótipos negativos do grupo
impostos pela sociedade.

Efeitos psicossociais são fenômenos que possuem determinações comportamentais e psíquicas e,


ao mesmo tempo, sociais. Podem-se analisar três eixos dentro desta esfera: o preconceito
(https://www.geledes.org.br/?s=+preconceito), a discriminação e a humilhação social.  O primeiro
consiste na emissão de pré-concepções relativas a um indivíduo ou grupo, não facilmente
modi cáveis, mesmo que ocorram de forma automática e irre etida. Já a discriminação é o ponto
prático danoso à vítima, pois mexe com formas de acesso e tratamento na sociedade, colocando
em risco direitos e liberdades. Por exemplo, um funcionário da imigração que barra a entrada de
um negro em seu país apenas por ser negro. Ambas as práticas juntas produzem uma humilhação
social.

Esse último eixo consiste num sofrimento derivado das condições de um rebaixamento público e
político, que revelam a subordinação e prisão de um individuo aos estereótipos negativos
associados ao seu grupo de pertença étnico-racial. Assim, existe uma impossibilidade de
participação na vida social como sujeito histórico e de direitos. “A igualdade pertence ao indivíduo,
independente da raça, condição sorológica, sexo ou qualquer outro fator. A diferença pertence ao
grupo. Enquanto determinados grupos forem tratados de forma desigual, as pessoas que
pertencem à esses grupos nunca atingirão a igualdade ” comentou o professor.

Em relação às causas dos efeitos psicossociais do racismo, existem inúmeras condições que criam
uma atmosfera para inferioridade da população negra. Pontos como a falta de um letramento
étnico-racial, como a de uma linguagem que permita falar abertamente sobre racismo, podem
abafar a voz dos negros em suas lutas e buscas pelo reconhecimento. Do mesmo modo, soma-se
um descompromisso em se livrar de vícios linguísticos que os tratam de forma pejorativa. Ao se
deparar com um cenário completamente hostil ao seu pertencimento étnico-racial, entendido como
marcador social de desigualdades, a frustração do negro pode tomar proporção tamanha que o
podem levar a quadros de depressão, consumo de drogas, mutilação, doenças e suicídio.

Ainda sobre os efeitos, estes podem signi car rebaixamento não somente social para a vítima,
mas também político. Segundo Santos, temos um bom conjunto de leis e marcos regulatórios para
a promoção da igualdade étnico-racial no país, mas que são pouco colocados em prática.  A Lei
10.639/03, que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira nas
escolas de Ensino Fundamental e Médio, por exemplo, signi ca um avanço, mas muitas vezes, está
parada na prática. Nas universidades a disseminação do conhecimento sobre a cultura e história
da população negra ainda é baixo, havendo falta de incentivo ao seu estudo. Além disso, falta
políticas que promovam uma redistribuição de recursos frente a uma desigualdade derivada de um
histórico escravocrata no país. “Por isso que devemos ter paridade participativa. No dia que você
tiver o negro ocupando todos os tipos de cargos e todas as posições sociais, você vai criar modelos
de identi cação positivos, e gerar a sensação de igualdade”, explicou o professor.

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Na contramão deste cenário, o professor iniciou a linha de pesquisa Psicologia e Relações Étnico-
Raciais, no Instituto de Psicologia da USP (https://www.geledes.org.br/?s=USP), estruturada em
três eixos: história do pensamento psicológico brasileiro na compreensão das relações étnico-
raciais; abordagem do tema nos currículos dos cursos de graduação e pós-graduação em
psicologia; e atuação do psicólogo no enfrentamento dos efeitos psicossociais do racismo.

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Humberto Baltar Consulting


O negro se vê como figurante em praticamente todos os espaços e situações sociais onde está presente. este texto
sinaliza muito bem as razões disso... =/
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