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Entender as seitas políticas por uma perspectiva da dinâmica social é compreender Coloque seu e-mail para receber
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sustentam desse jeito, quais aspectos da natureza humana aproveitam e os motivos Junte-se a 7.111 outros assinantes
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A partir desse segundo texto, teremos a companhia de um personagem, Oliveira
Citiwala, guru de um líder político em um país chamado Nibéria, de 130 milhões de
habitantes. Uma das características deste país é o alto desenvolvimento da rede de
computadores, motivo pelo qual Oliveira conseguiu estabelecer um culto político
online. Isso nos dará todas as características necessárias para exemplificação, pois os
cultos online são um fenômeno mais arrojado dos tempos atuais. Como vantagem,
permitem uma observação mais ampla dos eventos.
Ao longo dessas páginas falaremos mais um pouco das características do culto criado
por Oliveira e sua relação com o poder, visto que estudá-la é essencial na abordagem
sobre seitas políticas. Como base para os trabalhos, foram feitos estudos sobre seitas
online com base em pesquisas de crenças e práticas do culto, lista dos “gatilhos”
utilizados, conversas com ex-membros, observação da ação política, lista de jargões e
frases, avaliação da estrutura hierárquica em ação e daí por diante.
Desprogramação
https://ceticismopolitico.com/2019/03/24/a-arte-da-seita-politica-2-dinamica/ 1/16
28/05/2019 A Arte da Seita Política – 2 – Dinâmica – Ceticismo Político
No mundo dos cultos não focados essencialmente na Internet, é bem provável que
várias pessoas deixem o grupo cedo ou tarde, pois em um certo momento se sentirão
demasiadamente oprimidas. Numa seita online isso também pode acontecer. Mesmo
assim, é pura ilusão esperar que a maioria das pessoas abandonem o culto, pois ele
depende de verdadeiras fraturas na identidade de seus adeptos, que sentirão um baita
vazio ao deixarem o ambiente no qual se acostumaram à submissão.
É como apontava Gustave Lebon, que, em 1985, disse que as massas tendem a
priorizar pessoas que os iludam, para serem dominadas, e ficam furiosas quando
alguém tenta destruir essas ilusões. Vieses da mente relacionados ao Efeito Backfire,
investimento emocional e diversos outros (que abordaremos por aqui, mas apenas
em próximos textos) explicam porque, após se submeter, alguém age feito ouriço
brabo diante de quem tenta livrá-los das crenças que o submeteram.
Outro fator que pode levar pessoas a abandonarem uma seita é que, na prática, quase
todos os seus integrantes tiveram que abdicar do seu “eu” autêntico para se
submeterem a pessoas egocêntricas como os gurus e seus escolhidos, além de vários
dos discípulos que ambicionam se converterem em “escolhidos”. De mais a mais, o
comportamento de uma seita é previsível e ficará ainda mais previsível durante esta
série de textos. Em geral, as seitas não entregam o que prometem, convertendo-se em
outro fator que pode tirar as pessoas de lá.
Mesmo assim, por ser uma análise sobre seitas políticas online, a ênfase não está
tanto na desprogramação (que abordaremos ao final), mas na libertação das pessoas
dos efeitos da seita, isto é, visando principalmente aqueles que estão do lado de fora,
dado que seitas políticas tendem ao autoritarismo, como veremos no texto 3
(“Submissão”). Sem autoritarismo, não há espaço para uma seita política. Logo, os
efeitos autoritários impactam as ações políticas do dia a dia, gerando motivos
adicionais para investigação.
Tipos de seitas
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28/05/2019 A Arte da Seita Política – 2 – Dinâmica – Ceticismo Político
Falar em seitas e cultos, em geral, é muita coisa. Outro termo adotado é grupo de alto
controle. Bonnie Zieman, no livro Crack the Cult Code for Therapists, lembra que os
grupos de alto controlem querem “limitar o acesso dos membros a pessoas,
instituições e informações que contradizem seus ensinamentos”. Adicionalmente,
“eles também querem limitar o envolvimento dos membros em outros projetos que
possam absorver seus interesses e energias”.
Como uma consequência disso, diversos membros podem se complicar em sua vida
pessoal enquanto participam do culto. É por isso que existem casos de pessoas
depressivas ao abandonarem esses locais, pois elas ficarão com a sensação de ter
passado muito tempo na vida em culto e perderam oportunidades de crescimento.
Nos institutos de ensino superior, além do assunto ensinado, os estudantes universitários aprendem
a pensar, a analisar, a avaliar, a comparar e contrastar, a pensar de maneira criativa e crítica. Os
cultos gastam uma quantidade excessiva de tempo trabalhando para controlar as mentes de seus
seguidores – influenciando-os a aceitar, cumprir e obedecer. Eles não querem adeptos que aprendam
a pensar criticamente, avaliar e questionar. Assim, eles são fortemente desestimulados a ficar longe
de centros de ensino superior, no que tendem a cumprir e obedecer.
Obviamente, falamos aqui de grupos de alto controle. Nem sempre é assim: alguns
cultos são mais do que suaves, como o culto às motos Harley Davidson. Segundo
Thomas N. Ellsworth, os participantes deste culto querem participar de algo que é
diferente (e os destaque na manada), demonstrar ousadia e determinação perante os
outros, adotar um estilo de vida particular, participar de comunidades, se sentirem
“pertencentes” a grupos de pessoas com gostos similares e valorizar a liberdade.
É evidente que “cultos light” desse tipo estão em todos os lugares na época da cultura
fã, conforme apontada por Henry Jenkins, que explica como fãs de Star Trek e da
série Matrix foram se reunindo, abrindo novas oportunidades para cultos online.
Mas, novamente, quase sempre, falamos de algo “light”.
Para simplificar a abordagem, Steven Hassan menciona que esses métodos nem
sempre são danosos e, às vezes até podem ajudar pessoas, por exemplo, a parar de
fumar, sem alterar quaisquer outros de seus comportamentos. Todavia, quando o
culto começa a afetar mais aspectos da vida da pessoa, os riscos de submissão danosa
aumentam. Além de tudo, Hassan aponta que “o controle mental torna-se destrutivo
quando o local de controle é externo e é usado para minar a capacidade de uma
pessoa pensar e agir de forma independente”.
https://ceticismopolitico.com/2019/03/24/a-arte-da-seita-politica-2-dinamica/ 3/16
28/05/2019 A Arte da Seita Política – 2 – Dinâmica – Ceticismo Político
Hassan escreve que o controle da mente, nos cultos mais destrutivos, “procura nada
menos do que perturbar a identidade autêntica de um indivíduo e reconstruí-lo à
imagem do líder do culto”. No modelo BITE (behavior control – information control
– thought control – emotional control) desenvolvido pelo autor, são os quatro pilares
que devem ser observados para avaliar se estamos ou não diante de um culto
destrutivo. Mesmo que isso será desenvolvido mais detalhadamente nos textos 3 e 4
esta série, os quatro pontos devem ser levados em mente:
Controle do comportamento
Controle da informação
Controle do pensamento
Controle emocional
Pode-se querer classificar qualquer igreja neste tipo de culto, até porque a expressão
“culto” é normalmente adotada por lá. Porém, se existe bastante liberdade às pessoas,
os critérios não se aplicam, tornando-se difícil qualificar esse ambiente como uma
usina de produção de comportamentos antissociais. Por esse motivo, temos que
“filtrar” melhor do que estamos tratando.
Tempos antes, durante as negociações com a polícia, tivemos este diálogo, conforme
visto no livro The Ashes of Waco: An Investigation”, de Dick J. Reavis:
Koresh: “De acordo com abertura do quarto selo, o que Cristo revelou que viria?”
FBI: “Morte.”
FBI: “Prossiga…”
Nota-se que cultos assim podem terminar em suicídio, muitas vezes sendo chamados
de “cultos suicidas” ou cultos “crash and burn”. Outros exemplos são o caso de Jim
Jones, que terminou com 909 membros mortos, a maior parte por suicídio. Em 1997,
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28/05/2019 A Arte da Seita Política – 2 – Dinâmica – Ceticismo Político
A pergunta é: por que estes cultos colapsam? A razão é que a própria estrutura de
culto, levada aos seus níveis mais extremos, pode também levar ao extremo no uso
do narcisismo por parte do guru. Se é evidente que o autoengano perfaz boa parte
dos cultos mais intensos, todos esses fatores são levados à estratosfera em cultos que
tendem ao suicídio. Tal nível chega o narcisismo do guru que ele raramente admitiria
ser pego vivo, preferindo cometer suicídio e levar vários outros consigo, até para que
os participantes não possam se arrepender no futuro de terem participado e, assim,
manchar sua imagem.
O culto criado por Oliveira na Nibéria certamente não se encaixaria na categoria dos
cultos suicidas, mas também é fato que compreende vários aspectos vistos ali. Criado
como uma forma de unificar adeptos de uma direita de tons neofascistas,
reacionárias e até neoconservadores, o culto de Oliveira depende fortemente do
narcisismo de seu líder.
Existem dois atributos importantes que podem ser atribuídos ao culto de Oliveira.
Um é o componente “político”, o que significa que, embora englobe até aspectos
espirituais, abrange várias outras temáticas relacionadas a pontos diversos da vida
dos discípulos, mas principalmente fala da questão política. No pior dos casos, cultos
políticos podem englobar grupos terroristas, motivando atentados com homens
bomba. Mas, por sorte, não parece ser o caso de culto de Oliveira.
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28/05/2019 A Arte da Seita Política – 2 – Dinâmica – Ceticismo Político
perseguição instados por Oliveira a cada vez que ele fosse criticado. Geralmente
reagiam como neste depoimento, de Abduma:
É inacreditável que Oliveira seja uma pessoa tão egocêntrica, incapaz de admitir qualquer crítica,
após a qual ele se torna irascível e indisposto a qualquer forma de diálogo. Se ele desse mais espaço
às opiniões alheias, iria propiciar discussões melhores.
A diferença do “mini culto” é que, por possuir menos pessoas, pode mudar de
direção muito facilmente. Por exemplo, um “mini culto” pode ser criado para
defender uma ideia religiosa. Se não der certo, pode mudar pra a venda de produtos
tipo Herbalife. O que é imutável e pertencente a todos os tipos de culto é a lealdade
entre os membros, a atitude elitista e irmandade entre os seguidores.
Estrutura de um culto
Considere o culto de Oliveira Citiwala, que possui o guru, cerca de 40 “escolhidos”,
4.390 alunos que pagam mensalidades e uma base de seguidores habituais de 300.000
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28/05/2019 A Arte da Seita Política – 2 – Dinâmica – Ceticismo Político
pessoas (que leem seu material diariamente ou assistem seus vídeos), além de outros
participantes que aderem de uma maneira ou outra as suas ideias. Além disso,
existem os participantes do núcleo do poder, o público em geral e os espaços
ocupados. Núcleo do poder significa aqueles que ocupam espaços de poder
(incluindo cargos eletivos) e que podem propagar suas ideias e nomear seus
escolhidos e às vezes até alunos. O público em geral é o universo de pessoas que são
afetadas, considerando políticos, influenciadores e cidadãos comuns, que podem ser
classificados em amigos, inimigos ou aliados. Evidentemente, ex-membros são
classificados como inimigo. Por fim, existem os “espaços”, que são posições na mídia,
nas redes sociais, nas escolas e na indústria cultural, além de espaços em diversos
outros cargos, incluindo cargos públicos.
Eis o esquema:
Em relação ao guru, ele ocupa o topo da cadeia, devendo ter o poder de definir quem
são os “escolhidos”. Estes “escolhidos” são como aqueles que significam um núcleo
reduzido e são muitos poucos em quem o guru pode realmente confiar. São estes, e
apenas estes, que entendem a ambição do guru em detalhes.
Para desconstrair (mas nem tanto), um exemplo do filme Lord of Illusions, de Clive
Barker:
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28/05/2019 A Arte da Seita Política – 2 – Dinâmica – Ceticismo Político
Qualquer guru que queira um bom e duradouro resultado deverá escolher a dedo
estes poucos eleitos, pois não adianta apenas que a pessoa seja hábil em termos de
conhecimento. É preciso que ela esteja disposta a manter segredo em relação aos
objetivos do guru. Esse processo de seleção é árduo e duradouro, geralmente
demorando anos até alguém ser “selecionado” e integrar este seleto círculo.
Por exemplo, Oliveira tem entre seus escolhidos Jean-Baptiste, que se tornou um
membro da equipe do presidente. Para que Jean-Baptiste pudesse ter a confiança de
ser um portador das ideias do guru no governo, não é algo que ocorre do dia para a
noite. Jean-Baptiste se torna participante de um núcleo de poder e, por isso, pode
ouvir do guru dicas como “manipular as ideias alheias” ou “confundir os incautos”,
que dificilmente ele falaria de forma tão clara em suas aulas ou nos posts de Twitter e
Instagram. Claro que ele dará algumas dicas, geralmente cifradas, mas os tais
“segredos inconfessáveis” ficam com esses poucos eleitos.
Falando dos que estão fora do culto, a relação com o núcleo de poder não pode ser
explícita, mas sim daquele tipo apresentado externamente como “meramente
inspirador”. A razão para tentar esconder os laços é que reduziria o risco de que o
governo seja associado às perseguições executadas pelo grupo bem como aos
discursos extremistas. Geralmente, alguns resultados efetivos se observam na
nomeação de pessoas para cargos e até na ajuda a conquistar eleitores para
parlamentares. Dificilmente um culto elegeria um presidente, até por seu
extremismo, mas um guru pode assumir a liderança do comando mental da
presidência pela dominação psicológica de pessoas próxima ao líder máximo ou até
mesmo tentar usurpar os méritos pela eleição do presidente.
Por que ele faria isso? Porque, pelo controle do imaginário de grupo e pelo poder de
intimidação da seita, ele pode focar principalmente na construção de imagem de
“condutor espiritual” das forças no poder. A própria percepção gerada por esta
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encenação já amplia o poder. Como veremos em vários outros textos dessa série, a
relação é tensa e pode levar à ruptura, pois a natureza dos cultos políticos é
extremista e depende de submissão, o que significa a humilhação pública de políticos
apoiados por eles que não “fiquem dentro do quadrado”.
Em relação ao público em geral, há pleno ataque aos inimigos, mas também gera
problemas com os aliados temporários, pois os membros do culto sempre
considerarão aqueles que se aliaram a eles, mas não pertencem ao culto, como
inferiores, e entenderemos isso melhor ao observar os pilares que “plugam” o guru
aos seus súditos.
O pilar do culto
Basicamente, todo culto depende da seguinte relação entre o guru e os que estão
abaixo dele: que é baseada na exploração, com base na submissão e instilação de
senso de elitismo. Isto quer dizer que os membros do culto precisarão achar que são
superiores ao resto da humanidade. Se isso não acontecer, eles ficarão desanimados,
pois não investirão tantas emoções em algo que não lhes dá algo em troca. Mesmo
que a sensação seja artificial, o que importa é que ela seja sentida.
Para criar essa estrutura de sentimentos, que é a força motriz para os projetos de
poder do guru, existirá um plano não revelado (conhecido totalmente por ele, e
parcialmente por seus escolhidos) e um plano auxiliar, que é revelado aos seus
súditos.
https://ceticismopolitico.com/2019/03/24/a-arte-da-seita-politica-2-dinamica/ 9/16
28/05/2019 A Arte da Seita Política – 2 – Dinâmica – Ceticismo Político
Neste caso, uma parte dos objetivos é fantasiosa, mas serve para manter a inspiração
das pessoas. Mas, em geral, o que conta são os objetivos do líder. Obviamente, estes
objetivos não são entregues em todos os detalhes à massa de alunos e seguidores. Isso
porque poderá gerar ressentimento e inveja, além de uma percepção de que estão
sendo feito de trouxas.
Em relação à exploração, isso significa que o guru deve usar seus adeptos conforme
sua conveniência para atingir seus objetivos. No caso de Oliveira, ele começou
estudando a colonização niberiana por um país europeu e entendeu que a
independência do país causou um surto de esquerdismo na nação. Sua tese se baseia
em criar uma “elite de sábios” para a Nibéria, ocupar espaços na mídia, nas artes e no
governo e, com isso, recuperar a “cultura maior” que a Nibéria teria perdido. Embora
isso seja parte de plano externo (e, portanto, nem todo verdadeiro), ele se ampara sob
uma constatação real – de que a esquerda vencera as cinco eleições anteriores -, mas
complementadas por diversas teorias da conspiração, mais furadas que tábua de
pirulito.
Oliveira age assim por ter um plano de exploração de seus adeptos. Como já vimos,
os escolhidos conhecem parte do plano e abocanham ótimos benefícios, mas a maior
parte recebe benefício basicamente subjetivo. Eis então que chegamos ao segundo
ponto da equação: senso de elitismo.
Os seguidores não conseguirão perceber que estão sendo explorados caso acreditem
que eles são uma “elite”. Porém, só acreditarão que são uma elite se acreditarem que
aqueles posicionados acima deles são uma elite ainda maior. Por essas e outras, um
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aluno deve considerar um dos “escolhidos” como superior a ele, bem como todos
considerarem o guru como extremamente superior, quase como um Deus na Terra.
Durante esse processo, os gurus, durante esse processo, atuarão como “pais
substitutos”, como se quisessem ajudar seus súditos. Devem fazer pose de pessoas
amáveis em certo momento, mas também agirem com agressividade e lançar
mensagens explorando a culpa e a vergonha dos adeptos. Seu narcisismo deve ser
cultivado, pois é isso que dará aos adeptos o senso de que seguem um líder especial.
Nesse sentido, o guru irá desqualificar qualquer um que estiver em seu caminho,
além de contar vantagem de forma que possa parecer até doentia para quem estiver
de fora mas funciona para os que já estão emocionalmente controlados.
Há uma emoção forte pela qual passam os adeptos, que é estarem submetidos à
medição de valor, por parte do guru, apenas pelos seus próprios padrões. Isso garante
uma aura de instabilidade para as decisões dele, mas ativa mais fortemente as
emoções, como veremos no capítulo 4. O guru também deverá converter seus
defeitos em valor, pois está criando uma personalidade superior.
Obviamente, eles são orientados a ignorar o conteúdo que está nas universidades,
pois diz que “todas são inúteis” e que o conhecimento verdadeiro está apenas com
ele. Como veremos, isso é quase sempre falso, até porque as verdadeiras estruturas de
conhecimento são validadas. Mesmo assim, por causa da doutrinação, seus adeptos
não o contestam e seguem se sentindo superiores ao resto do mundo.
De qualquer forma, em relação a esta necessidade humana, Maslow lembra que este é
o “desejo de se tornar tudo que alguém é capaz de ser”. Consequentemente, os
adeptos são orientados a estudarem profundamente o material ensinado pelo guru,
que isso os tornará um dos comandantes da cultura da nação niberiana.
Logo, um guru deve sempre atuar com a exploração dos adeptos conforme sua
conveniência, mas fazê-los se sentir parte de algo muito especial em relação ao
mundo. Isso também explica como, mesmo atuando de forma dogmática e submissa,
eles se sentirão superiores a qualquer outro que está fora do grupo. Decerto os
escolhidos capitalizam muito bem, mas como os recursos são finitos, a maior parte
receberá a ilusória sensação de “ser algo mais” do que o resto da humanidade e isso
lhes basta. É assim que cultos conseguem ir avançando os interesse de seu guru e seus
escolhidos.
Processos e conteúdo
Essa estrutura toda se move principalmente por conteúdo, mas ele não funcionaria
adequadamente se não fosse um processo. No caso do processo, falamos de como a
mensagem é entregue. Em relação a conteúdo, é o que alguém diz. Importante, para o
guru, é saber se cada mensagem dita (o conteúdo) está em linha com o processo
estabelecido por (como a mensagem é entregue). Obviamente, este processo deve
estar alinhado a um objetivo.
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É por isso também que, nas redes sociais, Oliveira escreve entre 30 a 100 mensagens
por dia. Quase nada é aleatório, pois sempre atende a um processo com objetivo
claro. Por exemplo, um de seus pupilos, Pio, foi exonerado em um ministério. Isto
motivou Oliveira a escrever diversas mensagens atacando o suposto culpado pelo seu
percalço, Habimana. Essas mensagens, promovidas diariamente duas 3-4 dias, foram
feitas para rotular Habimana como se fosse um marxista, satanista, pedófilo,
globalista e, portanto parte de uma conspiração para tirar “a nova elite cultural” do
poder.
Com isso, Pio, seu pupilo, foi ajudado e Habimana foi demitido. Embora todas as
mensagens eram puramente inventadas, além de serem baseadas em teorias da
conspiração, seguiram a lógica dos gurus, que criam todo e qualquer conteúdo com
base em um processo que deve atender a um objetivo. Muitas vezes o conteúdo é
circular, repetitivo (e deve ser assim), mas, em ritmo bate-estaca, serve para que os
membros fiquem empolgados diante de seus objetivos.
Resumo
Num resumo do que vimos aqui, falamos de seitas políticas e, para sermos bem
específicos, com foco na atuação online. Isso nos levará a uma abordagem mais
arrojada. Entendemos a estrutura desse tipo de culto, principalmente na lógica do
guru, de seus escolhidos, alunos e a massa de seguidores, além de sua relação com os
núcleos de poder e o público, incluindo aliados e inimigos. No pilar do culto, vemos
que tudo se direciona à exploração dos membros pelo guru, que, em troca, deve se
esforçar ao máximo para garantir que eles tenham um senso de elitismo, sem o qual
não se sentirão especiais. Isso dependerá de um alto nível de narcisismo do líder, que
contagiará a tropa. Toda a comunicação deve ser desenhada para atender aos
objetivos do guru. Sendo assim, não há comunicação “descompromissada”, mesmo
que esteja travestida de análise filosófica. A falsa complexidade do esquema pode ser
utilizada para alimentar algumas necessidades psicológicas do time.
Nos próximos 2 textos dessa série, vamos entender como funcionam os processos de
submissão e, depois, os processos de manipulação de emoção. A partir de agora, cada
texto também virá acompanhado de um pacote de rotinas utilizadas para cada um
dos itens. É nessa linha que o próximo texto falará de submissão.
Twitter: https://twitter.com/lucianoayan
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https://ceticismopolitico.com/2019/03/24/a-arte-da-seita-politica-2-dinamica/ 13/16
28/05/2019 A Arte da Seita Política – 2 – Dinâmica – Ceticismo Político
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Introdução Cativos diante da ala autocrática
Sim, este é um risco. Falarei mais disso no sexto capítulo, sobre a doutrinação e
a contínua retroalimentação. O detalhe é que, mesmo diante deste risco, alguns
tendem a se fechar ainda mais, e pode ter um momento em que o culto se reduz
em tamanho.
https://ceticismopolitico.com/2019/03/24/a-arte-da-seita-politica-2-dinamica/ 14/16
28/05/2019 A Arte da Seita Política – 2 – Dinâmica – Ceticismo Político
ao meu ver, não tem nenhum outro grupo que possa contestar os neocons
politicamente. só resta torcer para que eles não consigam poder suficiente para
transformar o Brasil numa Hungria
Espero não estar subestimando, mas acredito que os neocons não possuem
inteligência o suficiente para se perpetuarem por muito tempo no centro das
atenções. O Nando Moura por exemplo, que é um neocon bastante influente,
está com a relevância bem baixa. É óbvio que seus bajuladores continuam aos
seus pés pedindo por ordens, mas ele está tendo que recorrer às estratégias
antigas de arrumar briga com pessoas mais influentes que ele (a mais recente é
o Padre Fábio de Melo) para ver se assim chama atenção novamente.
Ninguém aguenta chapa brancas por muito tempo. O canal dele virou uma
assessoria de imprensa do Bolsonaro, só serve para puxar o saco do governo. Já
passou vergonha nessas pois como o governo Bolsonaro é baseado no falar “A”
de manhã e negar com todas as forças o mesmo “A” de tarde, Nando Moura já
fez vídeos tirando leite de pedra para defender alguma decisão anunciada do
governo que logo em seguida o governo voltou atrás.
Acredito que ninguém aguenta por muito tempo essas táticas manjadas deles de
inventar inimigos e viver de xingar. Claro que sempre haverão os servis, mas
creio que cada vez mais pessoas saíram dessa Matrix, digo isso por já ter
presenciado bastante disso acontecer.
Mas isso não significa em momento algum que devemos deixá-los fazendo seu
freak show e não desmascarar nem atacar, muito pelo contrário.
Ayan, sobre o nobre Oliveira, vale a pena dar uma olhada nessas coisas:
https://ceticismopolitico.com/2019/03/24/a-arte-da-seita-politica-2-dinamica/ 15/16
28/05/2019 A Arte da Seita Política – 2 – Dinâmica – Ceticismo Político
O livro tem muito caô, mas você vai se interessar bastante pelas páginas 15, 16 e 17.
Dá para reconhecer o modus operandi do guru-mor das redes sociais.
https://archive.org/details/229821480ArkonDaraulIdriesShahAHistoryOfSecretSocie
ties
Idries Shah and Sufi Psychology: From the Abbasids to the New Age
Mark Sedgwick
https://www.oxfordscholarship.com/view/10.1093/acprof:oso/9780199977642.001.00
01/acprof-9780199977642-chapter-13
Também vale a pena dar uma olhada na Teoria da dissonância cognitiva, do Leon
Festinger, A theory of cognitive dissonance.
https://ceticismopolitico.com/2019/03/24/a-arte-da-seita-politica-2-dinamica/ 16/16