Vitor Cei
Universidade Federal de Minas Gerais
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Lírica e sociedade na poesia marginal brasileira 3
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ilegal, era sistemática e utilizada contra ini- e guerra psicológica contra as instituições
migos e críticos mais ferrenhos do regime, democráticas e cristãs, acabava por gerar
a vigilância sobre a sociedade civil também uma lógica da suspeita. Ao incorporar essa
era constante. Vigiada, rotulada e esnobada, lógica, os milhares de agentes envolvidos,
a poesia marginal era vista com suspeição a fossem funcionários públicos ou delatores
priori. Nas palavras de Torquato Neto (2007, cooptados, passavam a ver a esfera da cul-
p. 60-61): tura com suspeição a priori, pois o meio
artístico seria o local em que os comunistas
Agora não se fala mais e subversivos estariam particularmente infil-
toda palavra guarda uma cidade
trados, procurando fomentar a revolta na so-
e qualquer gesto é o fim
ciedade. Diante da truculência do Estado
do seu início;
de exceção, Francisco Alvim (2007, p. 16)
Agora não se fala nada estampou em seu rosto “o riso amarelo do
e tudo é transparente em cada forma medo”:
qualquer palavra é um gesto
e em sua orla Brandindo um espadim
os pássaros de sempre cantam do melhor aço de Toledo
nos hospícios. ele irrompeu pela Academia
Você não tem que me dizer Cabeças rolam por toda parte
o número de mundo deste mundo é preciso defender o pão de nossos fi-
não tem que me mostrar lhos
a outra face respeitar a autoridade
face ao fim de tudo: O atualíssimo evangelho dos discur-
só tem que me dizer sos
o nome da república do fundo diz que um deus nos fez desiguais
o sim do fim
do fim de tudo O recrudescimento da ditadura foi acom-
e o tem do tempo vindo; panhado por um período de intenso desen-
volvimento econômico, que a propaganda do
não tem que me mostrar
regime militar logo tratou de chamar de “mi-
a outra mesma face ao outro mundo
lagre brasileiro”. O acelerado desenvolvi-
não se fala, não é permitido:
mudar de idéia. é proibido. mento dos meios de comunicação de massa,
não se permite nunca mais olhares da propaganda e da indústria cultural como
tensões de cismas crises e outros tem- um todo facilitou o controle espiritual da
pos. população. Nas palavras de Leila Miccolis
está vetado qualquer movimento. (2007, p. 245), em “três números de má-
gica”:
Conforme Napolitano (2004), a obsessão
pela vigilância como forma de prevenir a a- O espetáculo começa:
tuação “subversiva”, sobretudo naquilo que faço sair da cartola
os manuais da Doutrina de Segurança Na- televisão a cores,
cional chamavam de propaganda subversiva automóveis,
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