Você está na página 1de 12

EXCELENTÍSSIMO DOUTOR JUIZ FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL

FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DO AMAPÁ

PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO: DOENÇA GRAVE – NEOPLASIA


MALIGNA (inciso I, art. 1048 do CPC)

CLEBSON DA SILVA ALMEIDA, brasileiro, solteiro, com união estável,


desempregado, portador da cédula de identidade nº 398788 SSP/AP e do CPF nº
935.491.992-87, residente e domiciliado na Av. Evandro Carreiro de Melo, n.º 1162,
bairro congos, Macapá-AP, CEP 68.900-000., endereço eletrônico xxxx@icloud.com,
por seus representantes judiciais (Procuração Ad Judicia – anexa) que subscrevem a
exordial, Dr. xxxxxxx, inscrito na OAB/SP sob o nº xxxxx e xxxxx, inscrito na OAB/SP
sob o nº xxxxx, ambos com escritório na Rua xxxxx nº xxx – xº andar – Conjuntos
xxx/xx – xxxx – São Paulo/SP - CEP xxxx, endereço eletrônico xxxx@uol.com.br,
consubstanciado nos artigos 11, 42, 43, 142 e 143 da Lei nº 8.213/91, vem, mui
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, propor:
AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE ATIVIDADE RURAL (ECONOMIA
FAMILIAR) C/C APOSENTADORIA POR INVALIDEZ, PEDIDO
SUBSIDIÁRIO DE AUXÍLIO DOENÇA e DE TUTELA PROVISÓRIA DE
URGÊNCIA INAUDITA ALTERA PARTE
Em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, pessoa
jurídica de direito público - autarquia federal, inscrita no CNPJ sob o nº
29.979.036/1160-17, que deverá ser citado, por meio de seu representante legal, no
Viaduto Santa Ifigênia, número 266, 6º andar, Centro, São Paulo - SP, CEP 01.033-050,
pelos motivos de fato e de direito a seguir colacionados.

PRELIMINARMENTE
DA PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO
A parte Autora tem prioridade na tramitação do processo porque é portadora de
neoplasia maligna, conforme relatório médico acostado. Doença permanente sem
condições de trabalhar e sem chances de recuperação das sequelas ocasionadas.
O inciso I, do art. 1048, do CPC, determina prioridade a quem tenha doença grave nos
termos do inciso XIV, do art. 6º, da Lei 7713/88, que dispõe:
XIV – os proventos de aposentadoria ou reforma motivada por acidente em serviço e os
percebidos pelos portadores de moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação
mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia
irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose
anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença de
Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome da imunodeficiência
adquirida, com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença
tenha sido contraída depois da aposentadoria ou reforma;
Assim, com base nos laudos médicos apresentados, requer Vossa Excelência proceda
devida valoração e conceda, sem necessidade de avaliação de médico oficial por não se
tratar de direito de isenção tributária, mas de prioridade de tramitação, conforme
autoriza o precedente do STJ (AgRg no Ag 1.194.807/MG, Rel. Min. Luiz Fux, 1.ª
Turma, julgado em 17.06.2010, DJe 01.07.2010; REsp 1.088.379/DF, Rel. Min.
Francisco Falcão, DJe 29.10.2008; e REsp 749.100/PE, Rel. Min. Francisco Falcão,
DJ 28.11.2005; REsp 302.742/PR, 5.ª T., Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJ 02.08.2004).

DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA


Antes de adentrar no mérito lide, a parte Autora requer a concessão dos benefícios da
Justiça Gratuita, tendo em vista que não possui condições financeiras de arcar com as
custas processuais, sem que ocasione prejuízo para seu sustento e de sua família,
conforme declaração em anexo.
Sustentáculo constitucional para a concessão do benefício da Justiça Gratuita estão nas
disposições tratadas a seguir:
O art. 5º, inciso LXXIV, da Carta Magna, estabelece que “o Estado prestará assistência
jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.
Nessa linha, ainda, a Constituição Federal assegura o direito de acesso à justiça como
direito humano e essencial ao exercício da cidadania, como preconizado no art. 5º,
XXXV, da Constituição Federal.
A benesse vem disciplinada pela Lei 13.105/2015, do Código de Processo Civil –
CPC/2015, em seus arts. 98 a 102, bem como, no seu artigo 1.072, que revogou
expressamente, em seu inciso III, os artigos 2º, 3º, 4º, 6º, 7º, 11, 12 e 17 da Lei
1.060/50.
A parte autora no caso em tela atende aos pressupostos estabelecidos no art. 98, da Lei
13.105/2015:
Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de
recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem
direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.
Atendendo ao disposto no art. 99 do Novo CPC, desde logo, clama pela concessão dos
benefícios da GRATUIDADE DA JUSTIÇA lato sensu, eis que se trata do primeiro
pronunciamento da parte autora, o qual, vem instruído com a declaração de
hipossuficiência da requerente.
Nesse diapasão, requer a juntada aos autos da inclusa declaração de sua “insuficiência
de recursos” para o deferimento da benesse, cuja afirmação goza de presunção de
veracidade (§ 3º do art. 99, NCPC).
Saliente-se, por oportuno, que o simples fato de a parte estar representada por advogado
particular não constitui condição para o indeferimento do pedido da gratuidade de
justiça; questão sanada pelo § 4º, do Artigo 99, do Novo CPC.
Antes de adentrar no mérito da presente lide, a parte Requerente requer lhe sejam
deferidos os benefícios da Justiça Gratuita, por não poder arcar com os ônus financeiros
da presente ação, sem que com isso sacrifique o seu próprio sustento e o de sua família,
conforme declaração que segue anexa e fundamentação exarada no tópico presente.
DA AUTENTICIDADE DOS DOCUMENTOS COLACIONADOS À PEÇA
PREFACIAL
O advogado que esta subscreve, declara serem autênticas as cópias reprográficas dos
documentos anexos à peça prefacial, nos moldes do artigo 425, inciso IV, do Novo
Código de Processo Civil.
Com isso, requer seja acolhida a declaração de autenticidade dos documentos
colacionados à inicial.
MÉRITO
DOS FATOS
A requerente, nascida em xxx/xx/xxxx, sempre exerceu a atividade laborativa rural, no
regime de economia familiar, de forma que, acometida de doença incapacitante e
incurável, requereu o benefício de auxílio doença, NB xxxxx, o qual restou indeferido
pelo Instituto Réu por suposta falta de comprovação da qualidade de segurado.
Convém salientar, entretanto, que a Requerente viveu maritalmente com o Sr. xxxxxxx
durante mais de xxxx anos e na, constância da união estável, adquiriram imóvel rural
denominado Fazenda xxxx, situado no município de xxxxx – MG, conforme demonstra
o Acordo de Dissolução Extrajudicial de União Estável e Partilha de Bens em anexo.
Nesta propriedade rural, houve o nascimento da única filha do casal, xxxxxxxxx,
nascida em xxx/xx/xxx, no Município de xxxxx – xx.
A família sempre exerceu as atividades laborativas rurais no regime de economia
familiar, efetuando as contribuições ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
xxxxxxxxxxx.
Não obstante, a propriedade rural também é isenta de Imposto sobre a Propriedade
Territorial Rural, conforme determina a legislação específica, corroborando-se a
atividade na forma familiar.
Diante disso, acreditando-se que estaria amparada pela legislação previdenciária e
acometida de doença incapacitante a Requerente pleiteou perante o Requerido o
benefício de auxílio doença, porém lhe foi negado seu direito sob a falha argumentação
de não comprovação da qualidade de segurado.
DO DIREITO
DA QUALIDADE DE SEGURADO
Salienta-se que a Requerente se trata de Segurada Especial, cuja legislação estabelece
que são os trabalhadores rurais que produzem em regime de economia familiar, sem
utilização de mão de obra assalariada, incluindo-se nessa categoria, os cônjuges, os
companheiros e os filhos maiores de 16 anos que trabalham com a família em atividade
rural.
A Constituição da República Federativa estabelece em seu art. 195, § 8º que:
O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem
como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia
familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante
a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção e farão
jus aos benefícios nos termos da lei
De acordo com a Lei 8.212/91, de Custeio da Previdência, os produtores rurais são
segurados obrigatórios e devem recolher contribuições para o INSS sempre que
comercializem sua produção.
Por outro lado, a Lei 8.213/91, do Plano de Benefícios, determina que, não havendo a
contribuição, o segurado especial precisa comprovar o exercício da atividade rural
no momento em que vai requerer a aposentadoria ou qualquer outro benefício
previdenciário.
Esta comprovação de exercício da atividade rural, por sua vez, pode ser feita com um
dos seguintes documentos: contrato de arrendamento contemporâneo, parceria ou
comodato rural; comprovante de cadastro do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra); bloco de notas de produtor rural e/ou nota fiscal de venda
realizada por produtor rural; declaração de sindicatos de trabalhadores rurais, de
pescadores ou colônia de pescadores devidamente registrada no Instituto Brasileiro de
Meio Ambiente (Ibama), como também a fornecida pela Fundação Nacional do Índio
(Funai), dentre inúmeras outas.
Conforme estabelece a própria Instrução Normativa do Requerido (IN77) em seu art.
47, a comprovação do exercício de atividade rural do segurado especial, observado o
disposto nos arts. 118 a 120, será feita mediante a apresentação de um dos documentos
elencados nos incisos I a XI:
I - contrato de arrendamento, parceria, meação ou comodato rural, cujo período da
atividade será considerado somente a partir da data do registro ou do reconhecimento de
firma do documento em cartório;
II - declaração fundamentada de sindicato que represente o trabalhador rural ou, quando
for o caso, de sindicato ou colônia de pescadores, desde que homologada pelo INSS;
III - comprovante de cadastro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária -
INCRA, através do Certificado de Cadastro de Imóvel Rural - CCIR ou qualquer outro
documento emitido por esse órgão que indique ser o beneficiário proprietário de imóvel
rural;
IV - bloco de notas do produtor rural;
V - notas fiscais de entrada de mercadorias, de que trata o § 24 do art. 225 do RPS,
emitidas pela empresa adquirente da produção, com indicação do nome do segurado
como vendedor;
VI - documentos fiscais relativos à entrega de produção rural à cooperativa agrícola,
entreposto de pescado ou outros, com indicação do segurado como vendedor ou
consignante;
VII - comprovantes de recolhimento de contribuição à Previdência Social decorrentes
da comercialização da produção;
VIII - cópia da declaração de imposto de renda, com indicação de renda proveniente da
comercialização de produção rural;
IX - comprovante de pagamento do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR,
Documento de Informação e Atualização Cadastral do Imposto sobre a Propriedade
Territorial Rural - DIAC e/ou Documento de Informação e Apuração do Imposto sobre
a Propriedade Territorial Rural - DIAT, entregue à RFB;
X - licença de ocupação ou permissão outorgada pelo INCRA ou qualquer outro
documento emitido por esse órgão que indique ser o beneficiário assentado do programa
de reforma agrária; ou
XI - certidão fornecida pela FUNAI, certificando a condição do índio como trabalhador
rural, observado o § 2º do art. 118.
Neste ínterim, o § 5º de referida Instrução Normativa é clara ao estabelecer que no caso
de benefícios de aposentadoria por invalidez, auxílio-doença, auxílio-acidente, pensão
por morte, auxílio-reclusão e salário-maternidade, o segurado especial poderá
apresentar apenas um dos documentos elencados, independente de apresentação
de declaração do sindicato dos trabalhadores rurais, de sindicato dos pescadores ou
colônia de pescadores, desde que comprove que a atividade rural vem sendo
exercida nos últimos doze meses, dez meses ou no período que antecede a
ocorrência do evento, conforme o benefício requerido.
Ora, a requerente apresentou mais de um dos documentos elencados e mesmo assim
teve seu benefício negado, em flagrante violação legal.
Neste sentido, a jurisprudência do Egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª Região é
firme:
PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO DOENÇA. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ.
SEGURADO ESPECIAL RURAL EM REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR.
CONDIÇÕES PESSOAIS. 1. Ao segurado especial rural é expressamente garantido o
direito à percepção de aposentadoria por invalidez ou auxílio doença, no valor de um
salário mínimo, desde que comprove o exercício da atividade rural, ainda que de forma
descontínua, por período equivalente ao da carência exigida por lei (Art. 39 c/c Art. 26,
III, ambos da Lei 8.213/91), sendo desnecessária, portanto, a comprovação dos
recolhimentos ao RGPS, bastando o efetivo exercício da atividade campesina por tempo
equivalente ao exigido para fins de carência. 2. O Art. 106, da Lei nº 8.213/91, dispõe
que a comprovação do exercício de atividade rural será feita por meio de um dos
documentos elencados, no caso de segurado especial em regime de economia familiar.
3. Presentes os requisitos e considerando suas condições pessoais, faz jus o autor à
percepção do benefício de auxilio doença e à sua conversão em aposentadoria por
invalidez, vez que indiscutível a falta de capacitação e de oportunidades de reabilitação
para a assunção de outras atividades, sendo possível afirmar que se encontra sem
condições de reingressar no mercado de trabalho.(...). TRF3. Processo 0034464-
45.2016.4.03.9999 Data do Julgamento 04/10/2018. Relator Desembargador Federal
BAPTISTA PEREIRA
Evidentemente é possível notar que o legislador constitucional estipulou tratamento
diferenciado para aqueles que se enquadrassem como Segurado Especial, estabelecendo
uma proteção constitucional para aqueles que trabalham por conta própria, em regime
de economia familiar, visando à própria subsistência, principalmente no que concerne
ao modo de custeio.
Fundamenta-se essa necessidade de proteção em razão da instabilidade da atividade, que
em razão dos períodos de safra e temporadas de pesca, dentre outros, não permitem que
seja estipulado uma contribuição mensal fixa, pois são dependentes das condições
climáticas e da natureza.
Comprovando-se, portanto, a qualidade de segurada da Requerente, forçosa se faz
a concessão do benefício pleiteado. Vejamos.

DA APOSENTADORIA POR INVALIDEZ


Conforme exposto, a parte autora vem passando por situações humilhantes e de grandes
dificuldades, inclusive financeira, tendo em vista que diagnosticada com doença
incapacitante, não pode mais exercer a atividade rurícola, deixando sua propriedade
rural, para vir realizar tratamento médico na presente cidade, não podendo, ao menos,
exercer suas atividades sociais, por conta da moléstia adquirida, sendo necessário mudar
de residência e passar a morar com sua filha.
Conforme se verifica nos documentos anexos, a Requerente é portadora de neoplasia
do xxxxx com extensão para xxxx, tendo efetuado radioterapia concomitantemente
à quimioterapia no período de xxxxx a xxxx e colostomia em xxxxxx.
O câncer xxxx é raro e representa de 1 a 2% de todos os tumores do cólon e de 2 a 4%
de todos os tipos de câncer que acometem o intestino grosso[1].
O tratamento depende do estágio em que se encontra e, conforme documentos anexos, a
Requerente possui a neoplasia em grau 2, na qual são normalmente tratados com
quimioterapia, radioterapia e cirurgia.
Não obstante os tratamentos efetuados, certo é que a Requerente não possui condições
de retornar às suas atividades laborativas habituais, primeiro pelos efeitos colaterais do
tratamento e, segundo, pelo impedimento de esforços físicos que a doença não lhe
permite realizar.
Diante disso, é que a Constituição Federal, em seu artigo 6º, dispõe que, dentre os
direitos sociais está a previdência social:
Art. 6o São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.
Ainda, a Carta Magna impera a proteção dos portadores de doença e/ou invalidez:
Art. 201 - A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter
contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante;
III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa
renda;
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e
dependentes, observado o disposto no § 2º.
Importa destacar que a Carta Constitucional visa à proteção do trabalhador, como
meio utilizado de se chegar ao fim último pretendido pela ordem social: bem estar e
justiça social, conforme seu artigo 193:
Art. 193 - A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o
bem-estar e a justiça sociais.
A parte autora é contribuinte do instituto-réu há anos, contudo, quando procura a
“proteção” aludida pela nossa Constituição Federal, esta vê o seu direito negado sob a
argumentação de que “inexiste incapacidade para o trabalho”.
Ora Excelência, resta claro que os posicionamentos adotados pelo réu, ferem todos os
princípios que estão sob o escopo da Carta Magna, principalmente a dignidade da
pessoa humana, sendo que neste ordenamento é de valor absoluto.
Portanto, imperioso se faz conceder o benefício em decorrência de incapacidade laboral
a parte autora, a espécie determinada por V. Excelência, conforme o convencimento,
diante o conjunto probatório, eis que não tem condições de realizar suas atividades
sociais e profissionais.
Com base nos sintomas e na situação da parte Requerente devidamente diagnosticada
pelos médicos, vejamos o que diz o caput do art. 42 da Lei 8.213/91 quanto à
aposentadoria por invalidez:
Art. 42. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a carência
exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for
considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade
que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta
condição.
É notável que a doença que acomete o Requerente é incurável e insusceptível de
reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, sendo o
tratamento paliativo, apenas para controle dos sintomas, impossibilitando-a de retornar
as atividades normais de trabalho.
Os laudos médicos e exames juntados constitui elemento probatório apto a demonstrar a
gravidade do quadro clínico da Requerente, considerando as atividades habituais
exercidas.
Vemos que a Requerente é trabalhadora braçal, cuja atividade depende do plantio e
colheita, não havendo outra forma de realizá-las sem que se submeta a esforços físicos
Ressalta-se que na remota hipótese de ficar constatada a incapacidade total e
permanente em data posterior, o que se cogita somente por amor ao debate, mas é
impossível do ponto de vista lógico e documental, nada impede que o pedido inicial de
concessão da aposentadoria por invalidez seja analisado por Vossa Excelência, na forma
do art. 5º, inciso XXXV da CF.

DO AUXÍLIO-DOENÇA
É um absurdo lógico nessa ação, diante das condições da parte Requerente, pedir,
subsidiariamente, concessão de auxílio doença. Todavia, é necessário realizar tal
pedido, caso porventura no laudo se constate doença por tempo determinado ou
provisória, o que se admite somente por amor ao debate, porque contraria todos os
documentos médicos dos autos.
O art. 59 da Lei 8.213/91, ao reger sobre o auxílio-doença assim afirma:
Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o
caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho
ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos.
E mais, o art. 62 da mesma Lei, alterado pela MP 739/16, assim determina:
Art. 62. O segurado em gozo de auxílio-doença, insusceptível de recuperação para sua
atividade habitual, deverá submeter-se a processo de reabilitação profissional. (Redação
dada pela Medida Provisória nº 739, de 2016)
Parágrafo único. O benefício será mantido até que o segurado seja considerado
reabilitado para o desempenho de atividade que lhe garanta a subsistência ou, quando
considerado não recuperável, for aposentado por invalidez. (Incluído pela Medida
Provisória nº 739, de 2016)
Veja-se, inclusive, Excelência, que segundo os Princípios Constitucionais norteadores
do Direito Previdenciário, a incapacidade para o trabalho deve ser analisada levando-se
em conta o grau de escolaridade do segurado, a sua cultura, a sua idade, ou seja, todos
os fatores sociais que envolvem uma recolocação profissional em atividade compatível.
A perícia deve ser analisada considerando o critério biopsicossocial, esse é o
entendimento que a TNU adota e a 5ª Turma do STJ passou a adotar no
julgamento do REsp nº 965.597/PE.
Depois de reiteradas decisões a TNU publicou a Súmula 47, nos seguintes moldes:
SUMULA 47- Uma vez reconhecida a incapacidade parcial para o trabalho, o juiz deve
analisar as condições pessoais e sociais do segurado para a concessão da
aposentadoria por invalidez. (Destacado)

DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA


A probabilidade do direito resta totalmente comprovada documentalmente, elemento
indispensável para concessão da tutela provisória de urgência.
No mesmo sentido, o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo também
se faz presente, pois a Requerente está sem condições de retornar à atividade campestre,
estando sem qualquer renda, sendo conditio sine qua non para alimentação e sustento
de sua família. E, por via de consequência, proteção de seu salário, proveniente do
princípio da dignidade da pessoa humana, um dos pilares de nosso Estado Democrático
e Social de Direito, previsto no artigo 1º, inciso III, da CF, mormente pelo fato de ser
verba de natureza alimentar.
Diante disso, em face do princípio da dignidade da pessoa humana, previsto art. 1º,
inciso III, da CF e do disposto no art. 5º da LICC, que por sua vez expressa que o juiz
deve se atentar ao caráter social da norma, não há óbice para a concessão da tutela
provisória de urgência com base em eventual indício de irreversibilidade do
provimento.
Por fim, vale aqui a citação das palavras de Rui Barbosa, para quem: “Justiça
tardiamente alcançada não é justiça, senão injustiça, qualificada e manifesta”. Nesta
esteira de pensamento, são também os ensinamentos de Carnelutti, que por sua vez
expressa que: “o tempo é um inimigo do Direito, contra qual o juiz deve travar uma
guerra sem trégua”.
Assim requer seja deferida a tutela provisória de urgência para que seja concedido o
benefício de auxílio doença a Requerente.
DO PREQUESTIONAMENTO
A fim de proporcionar o prequestionamento da matéria requerida, desde já se
prequestiona os seguintes dispositivos constitucionais e infraconstitucionais, sob pena
de nulidade da decisão nos termos do art. 276 e seguintes, bem como ofensa aos
artigos 5º, incisos LIV, LV e 93, inciso IX, ambos da Constituição Federal e artigo
489 do CPC:
• Artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal: Princípio da Dignidade Humana;
• Artigo 5º, da LINDB: finalidade social da norma.
• Artigos 20,21,23,26 42 e 59 da Lei 8.213/91;
• Artigo 201, I, da Constituição Federal;
• Sumula 47 da TNU – critério biopsicossocial para concessão de benefícios de
aposentadoria por invalidez e auxílio doença.

DOS PEDIDOS
Em face do exposto, requer a Vossa Excelência:
a) O deferimento de tutela provisória de urgência inaudita altera parte, para os fins do
pedido, oficiando-se ao Instituto Nacional do Seguro Social, comunicando-lhe o
deferimento da medida, e citando-o dos termos da inicial;
b) No caso de descumprimento da tutela antecipada pelo Réu, que se aplique multa
diária, na forma do art. 497 e 537 do CPC, no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais),
por se tratar de obrigação de fazer;
c) Que após os trâmites, seja a presente julgada procedente, para confirmar a tutela
provisória de urgência e torná-la definitiva;
d) Ao final sejam julgados procedentes os pedidos da presente ação para condenar o
INSS a conceder a aposentadoria por invalidez a Requerente e, subsidiariamente,
AUXÍLIO DOENÇA, ambos a partir da data do agendamento do requerimento
administrativo (xx/xx/xxxx), conforme Resolução 438 do INSS;
e) Que seja o Requerido condenado ao pagamento de todas as parcelas vencidas e
vincendas, inclusive, abono anual, desde a data de do agendamento administrativo
(xx/xx/xxxxx);
f) Juros e correções legais;
g) Honorários advocatícios de 20% no final da demanda, por se tratar de trabalhos
que exigem conhecimentos especializados e pela demora de efetivação dos direitos
nesses tipos de ações, em razão das benesses que desfruta a Fazenda Pública em
relação aos prazos processuais e a forma de pagamento (RPV ou precatório).
Requer ainda, o deferimento do pedido dos benefícios da JUSTIÇA GRATUITA.
Informa que não tem interesse em audiência de conciliação por se tratar de
matéria de direito não passível de mitigação da lesão por ter sido necessário
acionar o judiciário, causando juros de mora e correção monetária para recompor
a perda patrimonial da negativa de concessão de aposentadoria.
Requer, finalmente, deferida a utilização de todos os meios de prova em direito
admitidos, principalmente perícia médica na especialidade oncologia e oitiva de
testemunhas, expedindo-se Carta Precatória para oitiva destas, juntada dos documentos
que acompanham a inicial, depoimento pessoal e depoimento do representante legal do
Requerido, sob pena de confissão e juntada de documentos novos a qualquer momento.
A fim de evitar futura arguição de nulidade no processo, requer que todas as
publicações sejam realizadas exclusivamente em nome dos patronos
xxxxxxxxxxxxx, sob pena de nulidade.
Dá-se a causa o valor de R$ xxxxxxxxxxxxx
Termos em que pede deferimento.
São Paulo, 12 de dezembro de 2018.

Advogado/OAB

DOCUMENTOS QUE ACOMPANHAM A INICIAL


Procuração
Declaração de hipossuficiência de recursos
Documentos pessoais: RG, CPF, comprovante de residência.
Comunicação da Decisão
CTPS
Cálculo RMI
Cálculo Valor da Causa
Extrato de contribuições
Laudos Médicos e Exames
Comprovantes propriedade e atividade rural como segurada especial
Cópia do Processo Administrativo.

ROL DE TESTEMUNHAS
QUESITOS

1. Tendo em vista a sua especialidade médica e as peculiaridades do quadro clínico do


periciando, este Dr. Perito se considera apto a analisar todas as patologias
diagnosticadas (ou de provável diagnóstico) no presente caso?
2. Na hipótese de entender que “não” ao quesito anterior, de qual campo de atuação
médica seria indicada a realização de perícia, em relação às patologias não avaliadas por
este Perito?
3. A partir do exame clínico e dados fornecidos nos autos, quais as doenças que
acometem a Parte Autora? Se possível, indique o Código Internacional da Doença
(CID) e o Código Internacional de Funcionalidades (CIF).
4. Esclareça o Perito Judicial no que consiste as doenças apresentadas pelo periciando.
5. Estas doenças se encontram em estágio evolutivo (descompensado) ou estabilizado?
Em que grau a doença se apresenta no momento da perícia?
6. Considerando a descrição da atividade habitual da Requerente de trabalhadora rural,
diga o Perito se as enfermidades evidenciadas pelo expert nos quesitos “3”, “4”
(principalmente) e “5”, podem incapacitar o requerente para o trabalho? Se “sim”, qual
ou quais doenças tem este condão?
7. Em face das patologias diagnosticadas por este profissional, haveria cura parcial ou
total?
8. Os remédios e tratamentos que o periciando está/esteve submetido podem causar
algum prejuízo? Se “sim”, que tipos de problemas (físicos, químicos, biológicos) podem
ser causados por estes fármacos/tratamentos?
9. Diante das doenças diagnosticadas, quais os prejuízos que a Demandante sofreu/sofre
em decorrência do acometimento de tais patologias em seu dia a dia, de ordem social,
moral, pessoal e trabalhista?
10. O Periciando apresenta dor em virtude das enfermidades a que acometida? Qual o
nível da dor suportado pelo Requerente (leve, moderado ou forte)?
11. A dor pode gerar incapacidade para a atividade de trabalhadora rural? Total ou
parcial? Permanente ou temporária?
12. A pericianda possui sequelas permanentes físicas, cognitivas ou sociais?
13. Caso a resposta acima seja negativa. O Douto perito atesta, sob pena das medidas
legais cabíveis (administrativas, civis e penais) em caso de morte ou decorrente de
acidente, que a parte Requerente está apta para voltar às suas rotinas normais de
trabalho?
CÁLCULO DO VALOR DA CAUSA

[1] http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/anal
______________________

Você também pode gostar