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FUNÇÕES ORTOGONAIS E

SÉRIES DE FOURIER

Profª. Marilia Vasconcellos


FUNÇÕES ORTOGONAIS
• Nosso objetivo é resolver determinados tipos de
equações diferenciais parciais lineares. Apesar de
não resolvermos equações nesse momento, veremos
alguns conceitos para os procedimentos futuros.

• No início dos anos 1800, o matemático Joseph


Fourier antecipou a ideia de expandir uma função f
em uma série de funções trigonométricas em
suas pesquisas sobre a teria do calor.
FUNÇÕES ORTOGONAIS
• Em determinadas áreas da matemática, uma função é
considerada como sendo uma generalização de um vetor.

• Veremos como os dois conceitos vetoriais de produto interno,


ou escalar, e ortogonalidade de vetores podem ser estendidos
para as funções.

RECORDANDO

Produto interno: 𝑢 = 𝑥1 𝑖 + 𝑦1 𝑗 + 𝑧1 𝑘 e 𝑣 = 𝑥2 𝑖 + 𝑦2 𝑗 + 𝑧2 𝑘
forem dois vetores em R³, então o produto interno ou o
produto escalar de 𝑢 e 𝑣 é um número real (ou escalar)
definido como a soma dos produtos das somas das suas
coordenadas correspondentes:
𝟑

𝒖, 𝒗 = 𝒙𝟏 𝒙𝟐 + 𝒚𝟏 𝒚𝟐 + 𝒛𝟏 𝒛𝟐 = 𝒙𝒊 𝒚𝒊
𝒊=𝟏
• O produto interno 𝑢, 𝑣 possui as seguintes
propriedades:

i. 𝒖, 𝒗 = 𝒗, 𝒖
ii. 𝒌𝒖, 𝒗 = 𝒌 𝒖, 𝒗 , 𝒌 sendo um escalar
iii. 𝒖, 𝒖 = 𝟎 𝒔𝒆 𝒖 = 𝟎 𝒆 𝒖, 𝒖 > 𝟎, 𝒔𝒆 𝒖 ≠ 𝟎
iv. 𝒖 + 𝒗, 𝒘 = 𝒖, 𝒘 + 𝒗, 𝒘

• Qualquer generalização do produto interno tem essas


mesmas propriedades.

• Suponha que 𝑓1 e 𝑓2 sejam funções definidas em um


intervalo [a, b]. Como uma integral definida no intervalo
do produto 𝑓1 (𝑥) ∙ 𝑓2 (𝑥) possui as propriedades (i)-(iv)
do produto interno de vetores, sempre que a integral
existir a seguintes definição é válida:
• Definição 1: Produto interno de funções
O produto interno de duas funções 𝑓1 e 𝑓2 em um intervalo
[a, b] é o número
𝑏
𝑓1 , 𝑓2 = 𝑓1 (𝑥) ∙ 𝑓2 𝑥 𝑑𝑥
𝑎

• Motivado pelo fato que de dois vetores 𝑢 e 𝑣 são


ortogonais sempre que o produto interno deles for nulo,
definimos as funções ortogonais de uma maneira similar:

• Definição 2: Funções ortogonais


Duas funções 𝑓1 e 𝑓2 são ditas ortogonais em um intervalo
[a, b] se
𝑏
𝑓1 , 𝑓2 = 𝑓1 (𝑥) ∙ 𝑓2 𝑥 𝑑𝑥 = 0
𝑎
• Exercícios 1: Determine o produto interno das
seguintes funções:
𝑎) 𝑓1 𝑥 = 𝑥, 𝑓2 𝑥 = 𝑥²; −2, 3
b) 𝑓1 𝑥 = 2𝑥², 𝑓2 𝑥 = 𝑥³; 0, 1

• Exercícios 2: Verifique se as funções são ortogonais


𝑎) 𝑓1 𝑥 = 𝑥², 𝑓2 𝑥 = 𝑥³; −1, 1
b) 𝑓1 𝑥 = 𝑥³, 𝑓2 𝑥 = 𝑥² + 1; −1,1
c) 𝑓1 𝑥 = 𝑒 𝑥 , 𝑓2 𝑥 = 𝑥𝑒 −𝑥 − 𝑒 −𝑥 ; 0,2

Ao contrário da análise vetorial, onde a palavra ortogonal


é um sinônimo para perpendicular, no contexto presente
o termo ortogonal e a condição funções ortogonais não
têm significado geométrico.
• Definição 3: Conjunto ortogonal
Um conjunto de funções reais 𝜙1 𝑥 , 𝜙2 𝑥 , 𝜙3 𝑥 , … é dito ortogonal
em um intervalo [a, b] se
𝑏
𝜙𝑚 , 𝜙𝑛 = 𝜙𝑚 (𝑥) ∙ 𝜙𝑛 𝑥 𝑑𝑥 = 0, 𝑚≠𝑛
𝑎

• CONJUNTOS ORTONORMAIS:
• A norma, ou comprimento 𝑢 de um vetor 𝑢 pode ser escrita em
termos do produto interno.

• A expressão 𝑢 = 𝑢, 𝑢 é denominada a norma do vetor.

• De modo similar, a norma (ou comprimento) de uma função, é

𝑏
𝜙𝑛 (𝑥) = (𝜙𝑛 , 𝜙𝑛 ) = 𝜙𝑛2 𝑥 𝑑𝑥
𝑎
• Se 𝜙𝑛 (𝑥) for um conjunto ortogonal de funções no
intervalo [a, b] com a propriedade de 𝜙𝑛 (𝑥) = 1
para 𝑛 = 0, 1, 2, . . . Então 𝜙𝑛 (𝑥) é dito ser um
conjunto ortonormal no intervalo

• Exemplo 3: Mostre que o conjunto


1, cos 𝑥 , 𝑐𝑜𝑠 2𝑥 , … é ortogonal no intervalo
−𝜋, 𝜋 .

• Exemplo 4: Determine as normas de cada função


do conjunto ortogonal indicado no exemplo 1.
SÉRIES DE FOURIER
• Veremos como resolver muitos problemas importantes
envolvendo equações diferenciais parciais, desde que
possa expressar uma função dada como uma séries
infinita de senos e ou cossenos.

• A partir daqui vamos explicar em detalhe como isso pode


ser feito.

• Essas séries trigonométricas são chamadas séries de


Fourier; esta série fornece um modo de se expressar
funções bastante complicadas em termos de certas
funções elementares (seno e cosseno).
• Vamos começar com uma série da forma :

𝑎0 𝑛𝜋𝑥 𝑛𝜋𝑥
+ 𝑎𝑛 cos + 𝑏𝑛 𝑠𝑒𝑛
2 𝑝 𝑝
𝑛=1

• No conjunto de pontos onde esta série converge, ela


define uma função f cujos valores em cada ponto x é a
soma da série para aquele valor de x.

• Nesse caso, dizemos que a série acima é a série de


Fourier.

• Nossos objetivos imediatos são determinar que funções


podem ser representadas como uma soma de uma série
de Fourier e encontrar maneiras de calcular os
coeficientes na série correspondente a uma função dada.
• Definição 4: A série de Fourier de uma função f definida em um
intervalo (−𝑝, 𝑝) é definida como

𝑎0 𝑛𝜋𝑥 𝑛𝜋𝑥
𝑓 𝑥 = + 𝑎𝑛 cos + 𝑏𝑛 𝑠𝑒𝑛 (1)
2 𝑝 𝑝
𝑛=1

Onde
1 𝑝
𝑎0 = 𝑓 𝑥 𝑑𝑥 (2)
𝑝 −𝑝
1 𝑝 𝑛𝜋
𝑎𝑛 = 𝑓 𝑥 cos 𝑥 𝑑𝑥 (3)
𝑝 −𝑝 𝑝
1 𝑝 𝑛𝜋
𝑏𝑛 = 𝑓 𝑥 𝑠𝑒𝑛 𝑥𝑑𝑥 (4)
𝑝 −𝑝 𝑝

• A série trigonométrica (1) com coeficientes 𝑎0 , 𝑎𝑛 , 𝑏𝑛 é dita ser a série


de Fourier da função f. Os coeficientes obtidos a partir de (2), (3) e
(4) são referidos como coeficientes de Fourier
• Exemplo 1:
0, −𝜋 < 𝑥 < 0
Expanda 𝑓 𝑥 = em uma série de
𝜋 − 𝑥, 0 ≤ 𝑥 < 𝜋
Fourier
y

       






CONVERGÊNCIA DE UMA SÉRIE DE FOURIER

• O teorema a seguir indica as condições suficientes para a


convergência de uma série de Fourier.

• Teorema 1: Condições para convergência

Considere 𝑓 𝑒 𝑓 ′ contínuas por partes no intervalo (−𝑝, 𝑝), isto


é admita que 𝑓 𝑒 𝑓 ′ sejam contínuas exceto em um número
finito de pontos no intervalo e que tenham, nesses pontos,
somente descontinuidades finitas. Assim a série de Fourier de 𝑓
no intervalo converge para 𝑓(𝑥) em um ponto de continuidade.
Em um ponto de descontinuidade, a série de Fourier converge
para a média
𝑓 𝑥 + + 𝑓(𝑥−)
2
• Onde 𝑓 𝑥 + 𝑒 𝑓(𝑥−) representam os limites de 𝑓 em x a
partir da direita e da esquerda, respectivamente.
• Exemplo 2: Convergência em um ponto de
descontinuidade
• A função do exemplo 1 satisfaz as condições do
Teorema 1 . Logo para todo x no intervalo
−𝜋, 𝜋 , exceto em 𝑥 = 0. A série converge para 𝑓 𝑥 .
Em 𝑥 = 0 a função é descontínua e assim a série
convergirá para

𝑓 0 + + 𝑓(0−) 𝜋 + 0 𝜋
= =
2 2 2
SEQUÊNCIA DE SOMAS PARCIAIS

• É interessante vermos como a sequência de somas


parciais 𝑆𝑛 (𝑥) de uma série de Fourier aproxima de
uma função. Por exemplo, as primeiras três somas
parciais do exemplo 1 são:
𝜋
𝑆1 𝑥 =
4
𝜋 2
𝑆2 𝑥 = + cos 𝑥 + 𝑠𝑒𝑛(𝑥)
4 𝜋
𝜋 2 1
𝑆3 𝑥 = + cos 𝑥 + 𝑠𝑒𝑛 𝑥 + 𝑠𝑒𝑛(2𝑥)
4 𝜋 2

• Nas figuras seguintes aparecem os gráficos das somas


parciais de 𝑆5 𝑥 , 𝑆8 𝑥 𝑒 𝑆15 𝑥 no intervalo −𝜋, 𝜋 e a
extensão periódica usando 𝑆15 𝑥 em −4𝜋, 4𝜋
−𝑥, −2 < 𝑥 < 0
Exemplo 3: Expanda 𝑓 𝑥 =
𝑥, 0≤𝑥<2
em uma série de Fourier y


x

       






Esta função representa uma onda triangular, e é


periódica com período T = 4. (veja gráfico). Neste
caso, p = 2.
• Assumindo que f tem uma representação em série
de Fourier, encontrar os coeficientes 𝑎0 , 𝑎𝑛 𝑒 𝑏𝑛 .
• O gráfico para 𝑆1 e 𝑆2
SÉRIES DE FOURIER DO SENO E
COSSENO
• Os esforços despendidos para o cálculo dos coeficientes
𝑎0 , 𝑎𝑛 e 𝑏𝑛 para expandir uma função 𝑓 em uma série de
Fourier é significativamente reduzido quando 𝑓 for uma
função par ou ímpar.

𝑷𝑨𝑹 𝒔𝒆 𝒇 −𝒙 = 𝒇 𝒙

Í𝑴𝑷𝑨𝑹 𝒔𝒆 𝒇 −𝒙 = −𝒇 𝒙

• Em um intervalo simétrico tal como (−𝑝, 𝑝), o gráfico


de uma função par tem simetria em relação ao eixo y,
enquanto que o gráfico de uma função ímpar tem
simetria em relação à origem.
Função par Função ímpar

• A origem das palavras par e ímpar vem do fato de que os


gráficos de funções polinomiais constituídas apenas por
potências pares de x são simétricos em relação ao eixo y,
enquanto que os gráficos de polinômios constituídos
apenas por potências ímpares de x, são simétricos em
relação à origem.
• Por exemplo:
𝑓 𝑥 = 𝑥² é 𝑝𝑎𝑟 𝑝𝑜𝑖𝑠 𝑓 −𝑥 = −𝑥 ² = 𝑥² = 𝑓 𝑥

𝑓 𝑥 = 𝑥³ é í𝑚𝑝𝑎𝑟 𝑝𝑜𝑖𝑠 𝑓 −𝑥 = −𝑥 ³ = −𝑥 3 = −𝑓 𝑥

• As funções trigonométricas cosseno e seno são


funções par e ímpar, respectivamente, pois

cos −𝑥 = cos 𝑥 𝑒 𝑠𝑒𝑛 −𝑥 = −𝑠𝑒𝑛 𝑥

• As funções exponenciais 𝑓 𝑥 = 𝑒 𝑥 e 𝑓 𝑥 = 𝑒 −𝑥 não


são ímpar nem par
• PROPRIEDADES DAS FUNÇÕES PAR E ÍMPAR

I. O produto de duas funções pares é par


II. O produto de duas funções ímpares é ímpar
III. O produto de uma função par por uma função ímpar é
ímpar
IV. A soma (diferença) de duas funções pares é par
V. A soma (diferença) de duas funções ímpares é ímpar
VI. Se 𝑓 for par, então
𝑎 𝑎
𝑓 𝑥 𝑑𝑥 = 2 𝑓 𝑥 𝑑𝑥
−𝑎 0
VII. Se 𝑓 for ímpar, então
𝑎
𝑓 𝑥 𝑑𝑥 = 0
−𝑎

• A partir das propriedades podemos definir


• Definição 5: Série de Fourier para cossenos e senos

1. A série de Fourier de uma função par no intervalo (−𝑝, 𝑝) é a série


de cossenos

𝑎0 𝑛𝜋𝑥
𝑓 𝑥 = + 𝑎𝑛 𝑐𝑜𝑠
2 𝑝
𝑛=1
Onde
2 𝑝 2 𝑝 𝑛𝜋
𝑎0 = 𝑓 𝑥 𝑑𝑥 e 𝑎𝑛 = 𝑓 𝑥 𝑐𝑜𝑠 𝑥 𝑑𝑥
𝑝 0 𝑝 0 𝑝

2. A série de Fourier de uma função ímpar no intervalo (−𝑝, 𝑝) é a


série de senos

𝑛𝜋𝑥
𝑓 𝑥 = 𝑏𝑛 𝑠𝑒𝑛
𝑝
𝑛=1
Onde
2 𝑝 𝑛𝜋
𝑏𝑛 = 𝑓(𝑥) 𝑠𝑒𝑛 𝑥 𝑑𝑥
𝑝 0 𝑝
• Exemplo 4: Expanda 𝑓 𝑥 = 𝑥, −2 < 𝑥 < 2, em
uma série de Fourier


x

       





• A função do exemplo satisfaz as condições do
Teorema 1, consequentemente a série converge para
a função em (-2, 2).
• A extensão periódica da função f com período 4 é
descrita abaixo
−1, −𝜋 < 𝑥 < 0
• Exemplo 5: Expanda 𝑓 𝑥 = , em
1, 0 ≤ 𝑥 < 𝜋
uma série de Fourier 
y


x

       







• Nas figuras a seguir são traçados os gráficos de
𝑆1 𝑥 , 𝑆2 𝑥 , 𝑆3 𝑥 e 𝑆15 (𝑥) das somas parciais dos termos não
nulos do exemplo 2.
• O gráfico de 𝑆15 (𝑥) tem oscilações pronunciadas
próximos das descontinuidades 𝑥 = 0, 𝑥 = 𝜋 e 𝑥 =
− 𝜋 e assim por diante. Esses “sobreimpulso” pelas
somas parciais 𝑆𝑁 a partir dos valores funcionais
próximos a um ponto de descontinuidade não se
suavizam, porém permanecem constantes, mesmo
quando o valor N é considerado grande.

• Esse comportamento de uma série de Fourier


próxima de um ponto no qual 𝑓 é descontínua é
conhecido como Fenômeno de Gibbs

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