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Desenvolvimento Social
CADERNO
ENERGIA
www.seesp.org.br
Energia
AUTOR:
Eng. Carlos Augusto Ramos Kirchner
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Engenharia e Desenvolvimento Social
Publicação do Sindicato dos Engenheiros no Estado de
São Paulo, por ocasião do III Fórum Social Mundial,
realizado entre 23 e 28 de janeiro de 2003, na cidade de
Porto Alegre/RS – Brasil.
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APRESENTAÇÃO
As propostas da engenharia
para um outro mundo
O SEESP (Sindicato dos Engenheiros no Estado de técnicos do SEESP para diferentes setores – energia,
São Paulo) tem somado à firme defesa dos habitação, meio ambiente, saneamento, transporte e
interesses de seus representados uma atuação trabalho. Esse último, embora não seja um tema
baseada na idéia de um sindicato-cidadão. Dessa específico da engenharia, é sem dúvida prioritário para
forma, ao longo de sua história, dedica-se ao debate os profissionais da área, que também precisam ter
e formulação de propostas para questões cruciais ao garantidos os seus direitos, arduamente conquistados.
desenvolvimento e bem-estar da população Apresentados por ocasião do Fórum Social Mundial
brasileira. Todas, ainda que vistas como políticas, 2003, no seminário “Engenharia e Desenvolvimento
econômicas ou sociais, têm sua solução na Social”, promovido em parceria com a Federação
tecnologia bem-dirigida, tomada como instrumento Nacional dos Engenheiros, os trabalhos têm o objetivo
de melhoria das condições de vida dos cidadãos. de ser uma contribuição à construção de um outro
Esta publicação faz parte de uma pequena mundo, que certamente é possível.
coleção, intitulada “Engenharia e
Desenvolvimento Social”, e é composta de seis Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
volumes que trazem as propostas elaboradas por Presidente do SEESP
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Nesse ponto, é falacioso dar ao consumidor a opção § 1º – A empresa pública, a sociedade de economia
de comprar energia de várias distribuidoras ou mista e outras entidades que explorem atividade
comercializadoras, quando fica vulnerável, do ponto econômica sujeitam-se ao regime jurídico próprio das
de vista tarifário, ao poder de mercado e até a ficar empresas privadas, inclusive quanto às obrigações
sem energia, se essa for a estratégia e/ou omissão trabalhistas e tributárias.
dos agentes do poder econômico.
§ 2º – As empresas públicas e as sociedades de economia
O que é um serviço público? O que o caracteriza? mista não poderão gozar de privilégios fiscais não
Qual a razão conceitual para um consumidor, ao extensivos às do setor privado.
deixar de ser “cativo” transformando-se em “livre”,
não mais ser atendido pelo serviço público? Essas
questões serão respondidas com o auxílio de Art. 175 – Incumbe ao poder público, na forma da lei,
renomados juristas e autores. diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, sempre através de licitação, a prestação de
serviços públicos.
SERVIÇO PÚBLICO
Importante lembrar o que prevêem os artigos 173 e 175 Parágrafo único – A lei disporá sobre:
da Constituição Federal:
I – o regime das empresas concessionárias e
Art. 173 – Ressalvados os casos previstos nesta permissionárias de serviços públicos,
Constituição, a exploração direta de atividade o caráter especial de seu contrato e de sua
econômica pelo Estado só será permitida quando prorrogação, bem como as condições de
necessária aos imperativos da segurança nacional ou a caducidade, fiscalização e rescisão da
relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. concessão ou permissão;
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Nos termos da Constituição brasileira, em relação à sobre a generalidade das atividades privadas
grande maioria dos serviços públicos, não há (fiscalização e controles esses que se constituem no
obrigação estatal de prestá-los diretamente ou chamado “poder de polícia”).
por criatura sua, podendo simplesmente
patrocinar-lhes a prestação pela outorga de seu Justamente pelo relevo que lhes atribui, o Estado
exercício a terceiros, mediante concessão ou considera de seu dever assumi-las como
permissão (a Lei Maior fala ainda em pertinentes a si próprio (mesmo que sem
autorização). Cumpre, pois conhecer as exclusividade) e, em conseqüência, exatamente por
características do serviço público, as exigências isso, coloca-as sob uma disciplina peculiar
constitucionais a respeito, assim como o regime instaurada para resguardo dos interesses nelas
jurídico que preside as concessões e permissões encarnados: aquela disciplina que naturalmente
do serviço público. corresponde ao próprio Estado, isto é, uma
p. 595 disciplina de direito público.
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prerrogativas de supremacia e de restrições Como toda e qualquer noção jurídica, esta – serviço
especiais –, instituído em favor dos interesses público – só tem préstimo e utilidade se corresponder a
definidos como públicos no sistema normativo. um dado sistema de princípios e regras; isto é, a um
regime, a uma disciplina peculiar. Daí que só merece
Por meio de tal regime o que se intenta é ser designado como serviço público aquele
instrumentar quem tenha a seu cargo garantir-lhes a concernente à prestação de atividade e comodidade
prestação com os meios jurídicos necessários para material fruível singularmente pelo administrado,
assegurar a boa satisfação dos interesses públicos desde que tal prestação se conforme a um determinado
encarnados no serviço público. Pretende-se proteger e específico regime: o regime de direito público, o
do modo mais eficiente possível as conveniências da regime jurídico-administrativo.
coletividade e, igualmente, defender a boa prestação
do serviço não apenas (a) em relação a terceiros que Com efeito, o único objeto que o juiz, o advogado, o
pudessem obstá-la; mas também — e com o mesmo intérprete do sistema em geral procuram é o conjunto
empenho — (b) em relação ao próprio Estado e (c) de regras que regula determinada situação ou
ao sujeito que as esteja desempenhando hipótese. Segue daí que de nada lhes adianta qualquer
(concessionário ou permissionário). Com efeito, ao conceito, categoria ou noção, por mais aliciante que
erigir-se algo em serviço público, bem relevantíssimo seja, se não lhes fornecer a indicação dos princípios e
da coletividade, quer-se também impedir, de um lado, regras pertinentes à solução de questões jurídicas.
que terceiros os obstaculem e; de outro; que o titular Eis, pois, que um conceito jurídico é necessariamente
deles; ou quem haja sido credenciado a prestá-los; um ponto terminal de regras, um termo relacionador
procedam, por ação ou omissão, de modo abusivo, de princípios e normas.
quer por desrespeitar direitos dos administrados em
geral, quer por sacrificar direitos ou conveniências Não é difícil, então, compreender por que Jèze, tão
dos usuários do serviço. oportuna e corretamente, afirmou que o serviço
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público é um “processo técnico – e não o único – b) Elemento formal caracterizador do serviço público:
através do qual se satisfazem necessidades de seu regime jurídico
interesse geral”.
O segundo elemento, formal, isto é, a submissão a um
Conclui-se, pois, espontaneamente, que a noção de regime de direito público, o regime jurídico-
serviço público há de se compor necessariamente de administrativo, é que confere caráter jurídico à noção de
dois elementos: serviço público. Sua importância, pois, é decisiva.
a) um deles, que é seu substrato material, consistente Convém, então, enumerar princípios que
na prestação de utilidade ou comodidade fruível inexoravelmente terão de comparecer quando se permita
singularmente pelos administrados; o outro, (b) uma atividade qualificável como serviço público:
traço formal indispensável, que lhe dá justamente
caráter de noção jurídica, consistente em um 1) dever inescusável do Estado de promover-lhe a
específico regime de direito público, isto é, numa prestação, seja diretamente, nos casos em que é
“unidade normativa”. prevista a prestação direta, seja indiretamente
mediante autorização, concessão ou permissão, nos
casos em que permitida tal modalidade, que, de
Essa unidade normativa é formada por princípios e resto, é a regra geral. Segue-se que, se o Estado
regras caracterizados pela supremacia do interesse omitir-se, cabe, dependendo da hipótese, ação
público sobre o interesse privado e por restrições judicial, para compeli-lo a agir ou responsabilidade
especiais, firmados uns e outros em função da por danos que tal omissão haja causado;
defesa de valores especialmente qualificados no
sistema normativo. 2) princípio da supremacia do interesse público, em
pp. 599 a 602 razão do que, tanto no concernente à sua
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10) princípio do controle (interno e externo) sobre as III – os lagos, rios e quaisquer correntes de água em
condições de sua prestação. terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um
pp. 604 e 605 Estado, sirvam de limites com outros países, ou se
estendam a território estrangeiro ou dele provenham,
Os chamados “consumidores livres”, ao exercerem o bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
que estabelece os artigos 15 e 16 da Lei 9.074/95, ou ...
seja, a possibilidade de comprar no todo ou em parte de
um produtor independente de energia, sendo de livre VIII – os potenciais de energia hidráulica;
escolha seu fornecedor, deixarão de ser atendidos pelo
serviço público. Pois o produtor independente não Art. 21 – Compete à União:
estará praticando o princípio da universalidade, ...
impessoalidade e transparência. Tanto o fornecedor
como o consumidor livre estão praticando aquilo que a XII – explorar, diretamente ou mediante autorização,
livre iniciativa prevê no artigo 173 da Constituição concessão ou permissão:
Federal, pois o valor de compra e venda da energia ...
decorrerá da oferta e da procura do produto e da
disposição e vontade das partes de fechar tal negócio. b) os serviços e instalações de energia elétrica e o
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a energia elétrica não pode ser separada, ou “os órgãos públicos, por si ou por suas empresas,
melhor, não existiria, sem esses meios físicos que concessionárias, permissionárias ou sob qualquer
lhe dão sustentação e que constituem um sistema outra forma de empreendimento, são obrigadas a
integrado. Para que haja energia elétrica deve fornecer serviços adequados, eficientes, seguros
haver circuitos e corrente elétrica. É situação e, quanto aos essenciais [como é o caso da
diversa da produção de um bem material qualquer energia elétrica], contínuos”.
em relação a seu transporte pela rede rodoviária
até seus consumidores. Essa é a idéia, com Assim, o fornecimento de energia elétrica é prestação
fundamento físico, que leva a ver a produção, de serviço, antes de ser entrega de um produto. É
transmissão e distribuição de energia elétrica como serviço público, submetido às regras de direito
uma verdadeira prestação de serviços integrada. público, pelo mandamento constitucional, devendo,
portanto, em todas suas etapas, atender os cinco
Sob o ponto de vista legal, vai no mesmo sentido o princípios sintetizados por Hely Lopes Meirelles:
art. 21, XII, b, da Constituição Federal. Dessa “O princípio da permanência impõe a
forma, o tratamento comercial da energia elétrica continuidade do serviço; o da generalidade impõe
como coisa móvel pode ser aplicado, mas é serviço igual para todos; o da eficiência exige
necessário ver todo o conjunto, e não apenas a atualização do serviço; o da modicidade exige
transmissão e a distribuição, como prestação de tarifas razoáveis; e o da cortesia traduz-se em bom
um serviço. É o que também se infere da Lei de tratamento para com o público.”
Greve (Lei 7.783/89), que em seu art. 10, I, arrola
a produção e distribuição de energia elétrica Querer enxergar a produção de energia elétrica
entre os serviços e atividades essenciais, bem dissociada do serviço público é descumprir os preceitos
como o art. 22 do Código de Defesa do constitucionais que não deixam quaisquer margens de
Consumidor (Lei 8.078/90), ao determinar que dúvidas quanto a sua inclusão.
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Art. 6º – Toda concessão ou permissão pressupõe Vejamos o que o autor Luiz Alberto Blanchet discorre a
a prestação de serviço adequado ao pleno respeito desse artigo:
atendimento dos usuários, conforme
estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes Embora a análise preliminar menos criteriosa possa
e no respectivo contrato. parecer que esse tratamento diferenciado estaria
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Este Contrato regula a exploração dos serviços Na prestação dos serviços referidos neste Contrato, a
públicos de distribuição de energia elétrica CONCESSIONÁRIA terá ampla liberdade na direção
objeto das concessões de que é titular a de seus negócios, investimentos, pessoal e tecnologia
CONCESSIONÁRIA, discriminadas e e observará as prescrições deste Contrato, da
reagrupadas no Anexo I, em conformidade com legislação específica, das normas regulamentares e
a Resolução ANEEL nº 72 de 25 de março de das instruções e determinações do PODER
1998, publicada no Diário Oficial da União de CONCEDENTE e da ANEEL.
27 de março de 1998 e outorgadas pelo Decreto ...
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Sexta Subcláusula – A CONCESSIONÁRIA não poderá Não resta dúvida que o consumidor, ainda que
dispensar tratamento diferenciado, inclusive tarifário, “potencialmente livre” enquanto servido por sua
aos usuários de uma mesma classe de consumo e nas concessionária, ou seja, por aquela empresa que
mesmas condições de atendimento, exceto nos casos detém a área geográfica territorial onde se localiza a
previstos na legislação. unidade atendida, estará recebendo um serviço
... público. A essa concessionária não é dado o direito
de negociar seus preços de venda de energia, por
Cláusula Sétima – Tarifas aplicáveis na exemplo, para evitar perder tal consumidor e cobrir
Prestação dos Serviços oferta que eventualmente um produtor independente
esteja lhe oferecendo. Deixando de ser atendido por
Pela prestação dos serviços que lhe são concedidos por sua concessionária para o ser por um produtor
este Contrato, a CONCESSIONÁRIA cobrará as independente ou comercializador, estará
tarifas discriminadas no Anexo II, que é rubricado automaticamente abdicando do serviço público.
pelas partes e integra este instrumento, homologadas
pelo PODER CONCEDENTE. De outro lado, não podemos ser ingênuos de
desconsiderar que o atual modelo apenas quis “fazer
Primeira Subcláusula – É facultada à de conta” que estão sendo respeitados os atuais
CONCESSIONÁRIA cobrar tarifas inferiores às dispositivos constitucionais, pois hoje todas as
discriminadas no Anexo II, desde que não distribuidoras – concessionárias de serviços
implique pleitos compensatórios posteriores públicos – já têm criadas, pelos mesmos
quanto à recuperação do equilíbrio controladores, empresas comercializadoras de
econômico-financeiro e resguardadas as energia que atuam de forma paralela com a própria
condições constantes na Sexta Subcláusula da distribuidora. Assim, o mesmo funcionário da
Cláusula Segunda. distribuidora que encerra o atendimento pelo
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serviço público o formaliza pela comercializadora, produzir energia elétrica destinada ao comércio
quando passa a praticar tarifa diferenciada. O de toda ou parte da energia produzida, por sua
consumidor, na verdade, não consegue enxergar conta e risco.
alguma diferença entre estar ou não sendo atendido
pelo serviço público. Parágrafo único – O produtor independente de
energia elétrica está sujeito a regras operacionais
A fragilidade está na correta definição de onde e comerciais próprias, atendido o disposto nesta
provém a geração de energia. A confusão foi causada Lei, na legislação em vigor e no contrato de
pela Lei 9.074/95 que, ao introduzir a figura do concessão ou ato de autorização.
produtor independente de energia, não delimitou e
separou devidamente suas atribuições das do Temos como positiva a figura do produtor
concessionário público de geração. independente, sem as amarras do serviço público e
como uma alternativa para aqueles consumidores que,
pelo seu porte, podem ajudar a viabilizar sua própria
PRODUTORES INDEPENDENTES DE ENERGIA energia, apesar de não chegarem a ser autoprodutores.
Os produtores independentes de energia surgiram
através da Lei 9.074/95 e sua atuação foi O autor Luiz Alberto Blanchet, em seu livro “Concessão
regulamentada pelo Decreto 2.003/96. Sua definição é de serviços públicos”, assim comenta esse artigo:
dada pelo artigo 11 da referida lei:
INCONSTITUCIONALIDADE
Art. 11 – Considera-se produtor independente de ... A execução de serviço público, por imposição,
energia elétrica a pessoa jurídica ou empresas principalmente, do princípio constitucional da
reunidas em consórcio que recebam concessão isonomia, deve ser outorgada exclusivamente a
ou autorização do poder concedente para concessionário ou permissionário, mediante prévia
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Não somos críticos, como o autor, na medida IV – conjunto de consumidores de energia elétrica,
que se pudesse imaginar os produtores independentemente de tensão e carga, nas
independentes de energia realizando sua atividade condições previamente ajustadas com o
de interesse econômico devidamente afastada concessionário local de distribuição;
do serviço público.
V – qualquer consumidor que demonstre ao poder
O problema decorre, na verdade, quando se começa a concedente não ter o concessionário local lhe
misturar a figura do produtor independente com o assegurado o fornecimento no prazo de até cento e
serviço público: oitenta dias contados da respectiva solicitação.
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Parágrafo único – A venda de energia elétrica na como o que estabelece o inciso I do artigo 12 da
forma prevista nos incisos I, IV e V deverá ser Lei 9.074/95 – é afrontar toda a conceituação de
exercida a preços sujeitos aos critérios gerais serviço público.
fixados pelo poder concedente.
Luiz Alberto Blanchet analisa esse artigo:
A salada está feita. Como pode quem tem preços
liberados vender energia para quem tem preços, ou A já exaustivamente comentada
melhor, tarifas reguladas e módicas? inconstitucionalidade do produtor independente
atinge seu ápice neste artigo 12, no que concerne
É só verificar a fórmula de reajuste de todos os aos casos em que a atividade exercida pelo
contratos de concessão da Aneel (Agência produtor independente não seja objeto de
Nacional de Energia Elétrica) junto às concessão precedida de licitação, salvo nas
distribuidoras para concluir que os preços, situações de dispensa ou inexigibilidade, pois a
podendo variar ao sabor do mercado pelos esse produtor a lei permite concorrer,
produtores independentes, resultarão em tarifas desigualmente, com aquele que se submeteu a
para os consumidores finais que variarão quase que todas as exigências relativas a uma licitação e se
à mesma proporção. Isso ocorre em razão da subordina às imposições contratuais,
parcela “A” do cálculo do IRT (Índice de Reajuste regulamentares e legais pertinentes à atividade a
Tarifário), conhecida por “custos não- ele delegada, atividade essa que, embora idêntica
gerenciáveis”, ser na prática um repasse integral à executada pelo produtor independente, é
dos custos incorridos pelas distribuidoras na denominada serviço público!
compra de energia junto às geradoras. Permitir que
um produtor independente venda energia para uma Para o produtor independente de energia, a Aneel adota
distribuidora – concessionária de serviço público – “Contrato de Concessão de Uso de Bem Público” em
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lugar de “Concessão de Serviço Público”. “Concessão impossibilita a venda de sua energia produzida para o
de Uso de Bem Público”, segundo ensina o mestre serviço público, nada obstando para que efetue venda
Hely Lopes Meirelles, é somente aquela outorgada diretamente aos consumidores livres ou aos
para fins de interesse particular do concessionário, comercializadores de energia.
como seria o caso da concessão de uso de um hotel de
propriedade do poder público. Qual razão lógica seria Entretanto, existe outra séria restrição quanto a sua
apropriada para justificar a denominação de atuação e que também, indiretamente, resolve o
“Concessão de Uso de Bem Público” para designar problema citado do “Contrato de Concessão de Uso
situação idêntica (quando a finalidade imediata ou de Bem Público”. A questão é: podem os
mediata é a prestação de serviço público) à da aproveitamentos hidráulicos ser usados para
“Concessão de Serviço Público”, se a única diferença é exploração de energia pelos produtores
o nome atribuído pela lei aos envolvidos, independentes ou autoprodutores? Em outras
respectivamente produtor independente e palavras, os aproveitamentos hidráulicos são
concessionário de serviço público? restritos ao serviço público?
A execução de serviço público, por imposição, Nosso entendimento é que sim. A Constituição reservou
principalmente, do princípio constitucional da os aproveitamentos hidráulicos ao serviço público. Não
isonomia, deve ser outorgada exclusivamente a cabe o seu usufruto econômico nem pelos produtores
concessionário ou permissionário, mediante prévia independentes de energia, nem pelos autoprodutores.
licitação, ressalvadas unicamente as situações de
dispensa e inexigibilidade. Potenciais de energia hidráulica ou referidos como
aproveitamento energético dos cursos de água devem
Não temos dúvida que a correção e consolidação da ser colocados à disposição única e exclusivamente
figura do produtor independente passa pela restrição que pelo serviço público.
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Vejamos o que diz ainda o artigo 176 da Constituição: previstas neste artigo não poderão ser cedidas ou
transferidas, total ou parcialmente, sem prévia
Art. 176 – As jazidas, em lavra ou não, e demais anuência do poder concedente.
recursos minerais e os potenciais de energia
hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, § 4º – Não dependerá de autorização ou concessão o
para efeito de exploração ou aproveitamento, e aproveitamento do potencial de energia renovável de
pertencem à União, garantida ao concessionário a capacidade reduzida.
propriedade do produto da lavra.
Mais uma vez, fica claro que os potenciais de
§ 1º – A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o energia hidráulica pertencem à União. E ainda, que
aproveitamento dos potenciais a que se refere o caput não dependerá de autorização ou concessão o
deste artigo somente poderão ser efetuados mediante aproveitamento de energia renovável de capacidade
autorização ou concessão da União, no interesse reduzida. Aqui existe uma abertura para que os
nacional, por brasileiros ou empresa brasileira de capital aproveitamentos de energia, mesmo os de origem
nacional, na forma da lei, que estabelecerá as condições hidráulica, de capacidade reduzida, sejam
específicas quando essas atividades se desenvolverem em utilizados por produtores independentes de energia
faixa de fronteira ou terras indígenas. ou autoprodutores.
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podemos ter quaisquer dúvidas que instalar bastasse esse fato, existe a determinação
competição, tirando a vantagem comparativa das constitucional do art. 21, inciso X, caracterizando
hidrelétricas e esperando que os investimentos os serviços e instalações de energia elétrica como de
privados ocorram espontaneamente, é uma lógica que alçada do poder público federal.
decididamente não funciona para o setor elétrico em
nosso País, em que os investimentos requerem longa Para diversos autores que se aprofundaram em
maturação e grande prazo para amortização. questões do direito administrativo e, em especial,
com relação às concessões de serviços públicos, é
A saída do atual modelo e a migração para um novo, tormentoso enfrentar as modificações do setor
que restabeleça a condição do serviço de energia elétrico trazidas pelas leis 9.074/95 e 9.648/98.
integralmente como público, aliás, como nunca
deixou de estar em nossa atual Constituição, sob o O Reseb, ao efetuar a desintegração vertical dos
ponto de vista jurídico, não representará nenhuma serviços de energia elétrica, com a separação de
dificuldade. Podemos afirmar com toda segurança atividades competitivas (geração) e não-competitivas
que a saída do atual modelo afastará conflitos legais (transmissão e distribuição), não encontra qualquer
e não criará nenhum novo problema, com respaldo constitucional. Quis caracterizar a produção
necessidade de se efetuar algumas pequenas de energia como uma atividade econômica,
modificações na legislação infraconstitucional. dissociada do serviço público.
É preciso que se aceite, sem quaisquer restrições, que o A bem da verdade, foi detectada pelo Reseb a
serviço de energia elétrica, em sua plenitude, é público. necessidade de formulação de uma emenda
Independentemente de qual seja o jurista que faça constitucional que, se houvesse sido implementada,
sua conceituação do que é serviço público, fica poderia tornar agora a saída do atual modelo muito
claro que se encaixa o de energia elétrica. Se não mais dificultosa.
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Tudo o que descrevemos até aqui tem a ver com o competente, com suas metas inarredáveis. É
modelo setorial adotado pelo Reseb e não diz indiferente em relação à forma e modelo setorial
respeito à privatização ou não de empresas estatais. que será adotado pelo futuro Governo;
Conforme afirma o professor da UFPR
(Universidade Federal do Paraná) e autor de ● considerando que ninguém pode ser privado do
inúmeras publicações, Marçal Justen Filho: serviço público regulado, sendo um dever do
Estado prestar o serviço ou de quem lhe faça as
A concessão não produz modificação do regime vezes, cada vez que lhe seja requerido, o
jurídico que preside a prestação do serviço consumidor deixa sua condição de cativo,
público. Não acarreta transformação do serviço tornando-se livre, se quiser. O usuário não está, a
público em privado. A outorga da concessão não princípio, obrigado a usar o serviço público;
representa modalidade de desafetação do serviço,
retirando-o da órbita pública e inserindo no ● produtor independente de energia e consumidores
campo de direito privado. livres estão fora do serviço público, pois não
atendem alguns dos seus princípios, tais como
Como se constrói a base legal do novo modelo, igualdade (uniformidade) e generalidade
tendo por objetivo procurar acomodar a coexistência (universalidade). Dessa forma, a prestação de um
dos diversos agentes criados? Elencamos os serviço público deve ser igual para aqueles que se
principais tópicos: encontrem em situações comparáveis, respeitadas
as distinções de suas condições. O serviço deve
● Pressuposto básico: entendimento que o serviço de ser exigido e usado por todos os que dele
energia é público e como tal deverá ter um necessitem, indistintamente. É evidente que a
planejamento determinante, ou seja, a expansão relação entre produtores independentes e
da oferta entendida como necessária pelo órgão consumidores livres, pautada pela oportunidade
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do negócio e a livre negociação, nada tem a ver O serviço de energia elétrica é público e dessa
com os princípios do serviço público. forma deve ser oferecido ao conjunto da população.
Energia elétrica não é um serviço privativo da
Deveremos ter, então, três situações para os União, ou seja, agentes econômicos podem
consumidores de energia: oferecê-lo como alternativa ao serviço público.
Ninguém deve hoje ser obrigado a ter de abdicar do
● Consumidor cativo (compulsório); serviço público de energia elétrica. Em outras
palavras, o “consumidor potencialmente livre” pode
● consumidor cativo por opção; permanecer em sua condição de “cativo” se assim o
desejar. Somente uma nova caracterização do que
● consumidor livre (não-atendido por sejam empresas eletrointensivas poderia lhes retirar
sua distribuidora). da condição de serviço público.
A produção independente deve ser destinada aos Consolidar as mudanças necessárias na atual
grandes consumidores individuais. Nesse caso, legislação significa tornar claro o que é serviço
torna-se evidente que se reduz a necessidade de público – atendimento das necessidades de energia
interferência do Estado, considerando o equilíbrio de elétrica dos consumidores cativos – e o que não é. Ou
poder econômico entre o fornecedor de energia e o seja, atividade econômica de exploração dos serviços
grande consumidor. Por opção, esse último deixa de de produção de energia pelos produtores
ser atendido pelo serviço público de geração de independentes ou para uso próprio.
energia, remanescendo o serviço público de
transmissão, dada a necessidade de integração ao Deverão ser preservados os direitos adquiridos nos
sistema e o incentivo do Estado à atividade processos de privatização e nos contratos de
econômica supletiva de energia elétrica. concessão. Porém, é preciso estimular a alteração do
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