MANUAL
de
REDAÇÃO JURÍDICA
da
ADVOCAGIA GERAL DA UNIÃO
(A G U )
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 2
I – A REDAÇÃO JURÍDICA
2. O linguajar jurídico
O linguajar jurídico concentra-se nos conceitos de direito e de
justiça, veiculados predominantemente pela lei – que é sua fonte primária
(LICC, art. 3º) em nosso sistema romano-germânico -, e, supletivamente,
pela analogia, pelos costumes e pelos princípios gerais de direito (LICC,
art. 4º), além de, subsidiariamente, pela doutrina (aprofundamento dos
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5. O âmbito da obra
Não é de interesse apresentar aqui mais um desses “formulários”
para os diversos tipos de ação, que deles já existem muitos. A obra
pretende orientar o advogado (o da União, nomeadamente), sobre como
conduzir uma ação judicial, em suas diversas partes constitutivas (v.
VII/VII.3) – tomando como parâmetro o procedimento ordinário do CPC,
por ser o mais amplo. O procedimento sumário e dos Juizados Especiais, os
processos de execução e cautelares, bem como os procedimentos especiais
e o rito criminal, adaptar-se-ão ao que o bom senso sugerirá naturalmente.
Tais normas, aliás, também proporcionalmente ajustadas, poderão
utilizar-se nas peças administrativas mais longas, de caráter jurídico, como
nos inquéritos e sindicâncias, pareceres e representações, requerimentos e
ofícios onde se formulem pleitos ou defesas de natureza pública ou privada.
Necessárias, então, recordações gramaticais básicas (com vista à
correção da linguagem), antes de se penetrar no âmbito da literatura,
quando se descobrirão as possibilidades expressivas das palavras,
consideradas quer em si como conjuntos rítmicos de sons que vão dar
harmonia às frases, quer como associações de idéias travadas em razão das
construções sintáticas.
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II – FRASE x ORAÇÃO
1. A frase
Há dois modos fundamentais pelos quais espontaneamente nos
manifestamos pela palavra: mediante frases sem verbo (ou nominais) ou frases
com verbo (oracionais). Desta forma, podemos simplificar:
Frase é um todo significativo, constituído de um ou mais vocábulos,
podendo ser oracional ou meramente nominal.
I – O RELATÓRIO
1. A d. sentença
1.1 A motivação do r. decisum
II – O DIREITO
2. A violação ao art. 458, I/III do CPC
3. O dissídio jurisprudencial
III – A CONCLUSÃO
4. A síntese da matéria
5. Os pedidos:
a) a liminar
b) o mérito
c) os requerimentos gerais (citação, provas etc.)
ANEXO I
A) PREDICADO X PREDICATIVO
III – O PERÍODO
1. Período
É a formulação de nossos conceitos mediante uma ou mais frases
oracionais.
Pode, assim, o período ter a dupla constituição abaixo:
3. Período composto
ANEXO II
1. A coordenação
Na coordenação as orações são independentes entre si sintaticamente (mas
nem sempre semanticamente, isto é: quanto ao entrosamento das idéias): por isso, em
princípio têm menos vigor expressivo do que as orações subordinadas.
Essas orações são de dois tipos, caso tenham elos de ligação entre uma e
outra, ou não os tenham: dizem-se, então, por isso, assindéticas ou sindéticas,
respectivamente.
2. A coordenação assindética
Dá-se quando ocorre mera justaposição de uma oração com outra (quer dizer:
sem conectivo entre si). Nelas a independência é tanto sintática quanto de sentido,
cada uma das orações o tendo completo, a tal ponto que poderiam separar-se por
ponto final ou equivalente, quando então formariam orações absolutas, independentes,
meramente declaratórias: daí, não disporem de qualquer força enfática, por si
mesmas. Compare as duas formulações abaixo e verifique como elas se igualam de
sentido:
O advogado não compareceu à audiência: estava doente.
O advogado não compareceu à audiência! Estava doente.
3. A coordenação sindética
Dá-se quando as orações se acham ligadas por conjunções coordenativas
(aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas ou explicativas), assumindo o nome
destas, a saber:
a) Coordenadas aditivas – são as conexas pelas conjunções e ou nem
(simples), equivalendo às orações justapostas , pois essas conjunções têm o papel de
juntar, apenas, termos ou orações da mesma natureza sintática; mas se essas
orações forem ligadas por conjunção correlativa aditiva (como não só ... mas também ),
ocorre um paralelismo, de forma que a primeira parte do enunciado (prótase) prepara
a expectativa da segunda parte (apódose) – resultando como conseqüência uma
ênfase natural; compare as diversas formulações abaixo:
O advogado não compareceu à audiência e não se justificou (aditiva pura).
O advogado não compareceu à audiência, nem se justificou (idem ).
O advogado não só não compareceu à audiência, como também não se justificou
(aditiva correlativa).
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1. A subordinação
Na subordinação, as orações são dependentes sintática e semanticamente de
uma outra - que é sua principal – e da qual exercem uma função sintática: por isso,
sozinhas e isoladas, não têm sentido. Se se disser, p. ex.: que o advogado virá; ou
que eu vi; ou ainda, quando o juiz chegar – essas orações só terão sentido caso se
lhes acrescente (antecipando, intercalando ou pospondo) as respectivas orações
subordinantes (principais), tais como:
Afirmo [que o advogado virá].
A peça jurídica [que eu vi] era linda.
[Quando o juiz chegar], começará a audiência .
O prisioneiro indagou por que permanecia preso além do prazo legal [= a permanência].
O mandamus objetivava impedir o protesto das cambiais [= o obstáculo].
1. O processo coordenativo
Pelo que se viu do exposto e exemplificado anteriormente (v.
ANEXO II, A, 1/3, a), a coordenação assindética e a sindética aditiva
(simples) são mais apropriadas para as exposições descritivas e narrativas,
próprias dos relatórios (parte inicial das peças jurídicas: v. VII.1) – sem
intransigências nem muito menos exclusividade desses processos. Por isso,
as demais orações coordenadas, máxime quando correlatas, p. ex., podem
ser utilizadas nos relatórios quando se deseja apenas realçar desde logo
certos tópicos, objeto de futuros argumentos na discussão (segunda parte da
peça jurídica): porquanto, embora detenham afinidades com as orações
subordinadas adverbiais correspondentes, não dispõem da mesma
intensidade incisiva destas últimas (v. ANEXO II, A, 3, a/e) – as quais, se
forem utilizadas também, convém o sejam com parcimônia e moderação;
ex.:
Consoante se depreende dos dados-xerox de sua Carteira de Trabalho e demais
provas, o reclamante foi admitido a serviço da reclamada em 01/12/92 no cargo
de frentista: nessas funções permaneceu até 30/06/97, trabalhando de segunda-
feira a sábado, das 14 h às 22 h; ora, tal sobrejornada implicava não somente
48 horas semanais sem intervalo, como também o eram sem remuneração.
2. O processo subordinativo
Por sua vez (conforme se pode verificar das explicações e exemplos
constantes do ANEXO II, B, 1/2, a/e e 3, a), nada a opor que também nos
relatórios se utilizem orações subordinadas substantivas e adjetivas
restritivas, ante a ausência de ênfase desses tipos frasais. As demais
orações subordinadas (as adjetivas explicativas e as adverbiais) são mais
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3. A oração principal
A oração principal é aquela onde se concentra a idéia mais
importante do período ou mesmo do parágrafo - segundo o ponto de vista
do autor -, embora possa não sê-lo sintaticamente: pois essa idéia
transborda, em geral, para as orações substantivas e adjetivas,
complementares que são estas da oração principal, como meras funções
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V – O PARÁGRAFO
1. Parágrafo
É o conjunto de um ou mais períodos, constituindo um todo orgânico
e coerente, onde se conjugam as idéias secundárias a uma idéia central;
prescinde, por isso, de alínea após cada período, exceto se este iniciar um
subtítulo (expresso ou implícito).
No texto abaixo, p. ex., poder-se-iam escrever os períodos uns após
outros, seguidamente, pois seus conteúdos mutuamente se completam e
concatenam. Não obstante, as idéias predominantes em cada um deles
poderiam ou ser encimadas por um título ou subtítulo, a fim de clarificá-las
expressamente; ou poderiam prescindir desses títulos (por serem facilmente
subentendidos seus respectivos assuntos), mantendo-se as alíneas,
entretanto, apenas por motivo de pausa visual e clareza gráfica expositiva;
ex.:
I – RELATÓRIO
1. O agravo de instrumento
Agravo de instrumento, tempestivo, interposto em razão do r. despacho
denegatório de seguimento a REsp, este vazado contra o V. Acórdão da Eg. 2ª
CCTJPR, na parte referente à prefacial de nulidade da sentença por falta de
fundamentação.
2. A motivação do r. interlocutório
Para tanto, o r. despacho baseou-se em que não teria ocorrido negativa de
vigência aos aludidos dispositivos legais e em que não seria o caso de
“improcedência do dissídio jurisprudencial”, fazendo remissão ao art. 255 do
RISTJ.
Outro exemplo:
No agravo regimental sustentou: a) fica suspensa a eficácia das medidas
provisórias, prevalecendo o impedimento de ações cautelares; b) não se
admite pedido de cautelar nos próprios autos da rescisória; c) seria
adequado o pedido de antecipação da tutela; d) não preenchimento dos
requisitos do art. 273 do CPC.
Comentário: Observe-se que nas alíneas a, b e c foram usadas duas formas
passivas analíticas mediante os verbos auxiliares ficar e ser, e uma terceira,
pronominal; que na alínea c foi usado o futuro do pretérito (em vez do
imperfeito do indicativo, que seria o exigido em face da correlação dos
tempos); e que a alínea d iniciou por um substantivo (quando toda a
estrutura anterior principiava por uma forma verbal).
Corrija-se, então:
No agravo regimental sustentou: a) ficava suspensa a eficácia das
medidas provisórias, prevalecendo o impedimento de ações cautelares; b)
não era admissível pedido de cautelar nos próprios autos da rescisória;
mas c) era adequado o pedido de antecipação da tutela; d) não haviam
sido preenchidos os requisitos do art. 273 do CPC.
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VI – O PLANEJAMENTO
1. A redação
Uma boa redação depende essencialmente de dois fatores: da cultura
geral de quem escreve e de seu conhecimento específico sobre a matéria a
ser desenvolvida. E tal implica uma preparação remota e uma preparação
próxima.
2.1 O rascunho
Após a madura reflexão de seus estudos, surge para o escritor um
momento em que se sentirá impelido a iniciar a redação. A propósito, duas
advertências:
1ª) Trata-se de um processo do subconsciente – o qual tem de ser
aproveitado, porque pode não retornar, desperdiçando-se a inspiração.
2ª) Deve-se escrever de um jato - sem permitir interrupções seja por
que motivo for, quer para verificar o conteúdo da exposição ou de sua
lógica, quer para refletir sobre as imperfeições de estilo ou de linguagem.
2.2 A correção
Esta deve processar-se, se possível, após um razoável lapso de tempo
(entremeando-o com outros afazeres), a fim de “esfriar” a cabeça, no
intuito de se obter uma visão bem objetiva do problema. É o momento
propício, então, para se efetuar:
1º) A colocação das idéias rascunhadas em seqüência lógica –
pondo-as em ordem, deslocando-as de posição, se preciso.
Observe a desconexão do texto abaixo (em tom azul):
O recorrido protocolizou petição, sustentando a ocorrência de fato
superveniente com a edição da Medida Provisória nº 2.151/01, porquanto
seu art. 7º previa estarem asseguradas as promoções aos anistiados
políticos.
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VII.1 - O RELATÓRIO
1. A natureza do relatório
O relatório consiste numa exposição objetiva e imparcial dos fatos,
considerados em seu sentido amplo: pois neles se açambarcam as
preliminares, nomeadamente os pressupostos processuais e as condições da
ação: às vezes, cabe a formulação da preliminar por expressa imposição
legal, como no caso das ações diretas de constitucionalidade (Lei nº
9.868/99, arts. 2°, I/IX e 14, III); às vezes convém fazê-lo, por se haver
suscitado dúvida ou levantado discussão quanto a determinadas condições
ou pressupostos. É a ocasião de se empregarem preferentemente orações
coordenadas assindéticas e sindéticas aditivas simples e/ou orações
subordinadas substantivas ou adjetivas restritivas (v. IV, 1 e 2, in initio).
Isto porque nessas peças inaugurais, deve-se tomar uma atitude isenta, e
não de antecipada condenação ou de apoio à tese que se pretende
desenvolver na 2ª parte (a discussão) - o que vai impressionar bem a quem
for julgar ou opinar a respeito, pois a estes cabe inferir qual o direito
oriundo dos fatos expostos, segundo o adágio: jura novit curia (= o
julgador [é quem] conhece o direito). Como os fatos que se vão narrar ou
descrever já ocorreram, o uso apropriado é o dos tempos do perfeito ou o
presente histórico, adotando-se procedimentos variados, conforme o estágio
em que se encontrar a ação.
I – RELATÓRIO
A) A LEGITIMAÇÃO ATIVA
É inequívoco, nos termos do art. 103, § 4º da Constituição Federal e do
art. 13, I da Lei nº 9.868, de 10/11/99, que o Presidente da República possui legitimação
ativa para propor a presente ação declaratória de constitucionalidade dos arts. 14/18 da
Medida Provisória nº 2.152-2/2001. É inequívoco, ainda, que a mesma Autoridade é o
juiz da urgência e da relevância da matéria, objeto das Medidas Provisórias, no exercício
da competência privativa conferida pela mesma Constituição (art. 62 c/c art. 84, XXVI).
I – RELATÓRIO
A) O CABIMENTO DA RECLAMAÇÃO
A Lei nº 9.494, de 10/09/97, determina em seu art. 1º que “Aplica-se à tutela
antecipada prevista nos arts. 273 e 461 do Código de Processo Civil o disposto nos arts.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 35
B) OS FATOS
As requerentes ajuizaram ação ordinária, com pedido de antecipação dos efeitos
da tutela, solicitando fosse a UNIÃO condenada a retificar seu enquadramento na classe
B, padrão 17 da carreira de Técnico Judiciário, retroativamente à data de sua nomeação,
pagando-se- lhe desde logo as diferenças de vencimentos havidos até o presente. Em 1º
grau de jurisdição, foi indeferida a pretensão de tutela antecipada, mas o em. Relator do
Eg. TRT da Região X acolheu as razões do agravo de instrumento, ao qual conferiu
efeito ativo, nos seguintes termos:
“Ante o exposto, suspendo a eficácia da decisão agravada, com base no
art. 558, caput, do CPC, e, atribuindo efeito ativo ao agravo, determino a
inclusão, em folha de pagamento, da diferença de remuneração das agravantes,
entre o padrão 17 da classe B de Técnico Judiciário e o padrão 11 da classe A
da mesma carreira (Lei nº 9.421/96), a título de complementação de
vencimentos, até que venha a ser julgado o mérito da causa.”
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VII.2 - A DISCUSSÃO
1. A natureza da discussão
É a parte mais importante da peça jurídica, consistindo na dissertação
sobre o(s) problema(s) apresentado(s), mediante orações subordinadas
adjetivas explicativas e adverbiais, de preferência (v. IV, 2),
compreendendo a fixação do tema e seu desenvolvimento.
2. A fixação do tema
Este deve ser estabelecido desde logo (preferentemente), definindo o
assunto sobre o qual se vai debater, em termos amplos e genéricos, obtido
pela indução dos fatos e/ou pela dedução dos argumentos oferecidos pelas
partes. Esse tema deve sintetizar-se em um ou dois períodos, apenas,
constando de mera declaração, definição (legal ou doutrinária) da matéria
ou divisão didática desta, ou ainda, da reunião de mais de uma dessas
feições; ex.:
Reza o art. 1.101 do CC que “A coisa recebida em virtude de contrato
comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a
tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor”.
Trata-se da aquisição das quotas sociais de uma empresa, mediante preço
certo, parte à vista, parte à prestação, representadas por notas
promissórias vinculadas ao contrato (doc. I), cujo pagamento podia ser
suspenso em seu vencimento, caso não cumpridas (dentro do termo
prefixado) duplas obrigações: a) as derivadas da lei - a saber: a
comprovação da regularidade fiscal e comercial da empresa; e b) as
decorrentes do ajuste - a saber: a dispensa e respectiva indenização dos
empregados.
3. O desenvolvimento do tema
É a explanação do tema (idéia-núcleo + circunstâncias envolventes) -
o que pode perfazer-se dos mais variados modos:
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 37
Ocorreu deste modo, sem dúvida, negativa de vigência aos arts. 458, I/III
e 459 do CPC. Isso porque os Egs. Colegiados locais não determinaram
ao MM. Juiz a quo proferisse nova sentença (onde não ocorresse nem a
omisssão quanto ao segundo pedido, nem a restrição injustificada quanto
ao âmbito do primeiro): elidiram, assim, o segundo grau de jurisdição,
abonando flagrantes erros procedimentais da r. sentença, cuja nulidade
“sanaram” a pretexto de decisão de mérito proferida em feito conexo,
como se tal tivesse o condão de sanar aqueles.
Ora (como rezam os VV. Julgados transcritos nos REsps), nula é a
sentença carente de qualquer de seus “requisitos essenciais” (CPC, art.
458, I/III), quer por omissão total ou parcial do relatório (RP 4/406, em.
190; RJ 246/394; RT 567/94; RJTJMS 12/101); quer por carência de
fundamentação, que é de ordem pública e constitucional (RT 551/169,
587/155; RE 74.143-SP, DJU 10/11/72, pág. 7732); quer por não decidir
todas as questões submetidas (RT 506/143; JTA 37/292, 92/427; RJTJSP
31/89; RJTJMG 18/115; RJTJMS 12/113).
Bem a propósito, este Col. Superior Tribunal de Justiça, por sua Eg. 4ª
Turma, vem de decidir (REsps nºs 6.277/6.278-MG, Rel. o em. Min.
Athos Carneiro, jj. 20/08/91, DJU 16/10/91)):
“Ação cautelar de sustação do protesto de cártula vinculada ao
contrato. O mérito da demanda cautelar não é o mérito da demanda
principal, e assim a importância desta não implica necessariamente que
se proclame a improcedência da ação acessória. Nesta, prevalece a
prudente discricionariedade do juiz, no prevenir protestos desnecessários
ou vexatórios.”
Ocorreu ainda a negativa de vigência ao art. 798 do CPC: isto porque é
exatamente nesse dispositivo que encontra pleno apoio a sustação do
protesto cambiário.
É que tal protesto constitui, comercialmente, “meio vexatório que causa
inegáveis prejuízos no crédito do devedor”; e dessa maneira, “sua
iminência não deixa de constituir fundado receio de dano grave e de
difícil reparação. Se o ameaçado de protestos tem ação contra o portador
do título para invalidá-lo, é claro que pode pretender evitar o perigo do
dano representado pelo protesto” (HUMBERTO THEODORO JÚNIOR,
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 39
2º) lex dixit minus quam voluit (= a lei disse menos do que
pretendeu/pretendia [dizer]) – ex.:
O art. 714 do CPC somente se refere à adjudicação de imóvel pelo
credor, finda a praça sem lançamento – o que a jurisprudência prevalente
tem estendido aos bens móveis.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 43
VII.3 - A CONCLUSÃO
1. A natureza da conclusão
É o fecho do texto – quando então se empregam orações
subordinadas adverbiais (v. IV, 2), de preferência, e o verbo no tema do
presente. Reitera-se, então, o teor do tema (com predominância de orações
coordenadas) e sintetizam-se os argumentos desenvolvidos na discussão
(com predominância de orações subordinadas adverbiais), mas sem a
contundência desta última.
sentença, pela violação do art. 458, inciso II c/c art. 131 do CPC (por
ausência de fundamentação e motivos do próprio convencimento), afora o
descabimento de correção monetária em concordata preventiva. VI –
Rejeição da nulidade pelo órgão colegiado. VII – Parecer ministerial
opinando pela nulidade da sentença, com ampla dissertação sobre a
ausência de fundamentação da sentença, onde o juiz não dirimiu as razões
de cada um dos litigantes, nem indicou os motivos de seu próprio
convencimento, quando a motivação é preceito de ordem pública, de
assento inclusive constitucional (CF, arts. 5º, XXXV e 93, IX). VIII –
Dissídio jurisprudencial que se considera demonstrado, desnecessitando de
cotejo específico de circunstâncias idênticas, por se tratar de tese jurídica (a
ausência de motivação). IX – Opinião pelo imediato julgamento do recurso
especial, ante a presença no instrumento de todos os elementos necessários
para tanto (Lei nº 8.038, de 28/05/90, art. 28, § 3º).
CONCLUSÃO
EGRÉGIA CORTE:
ANEXO III
A) OS TEMPOS VERBAIS
1. Os tempos verbais
Diz-se tempo a propriedade mediante a qual uma forma verbal designa a
ocasião em que ocorreu o evento, relativamente ao momento em que se fala – como
atual (= presente), anterior (= pretérito) ou posterior (= futuro).
2. O presente
Indica que a ação se passa durante o momento em que se fala (fato permanente
ou habitual); ex.:
Defendo o meu cliente como posso.
Esperamos que tudo aconteça como antes, mantida a r. sentença.
3. O pretérito
Indica que a ação é anterior ao momento em que se fala, expressando-se por
três tempos diferentes: o imperfeito, o perfeito e o mais-que-perfeito.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 49
4. O futuro
Expressa fatos ainda não ocorridos, mas que poderão sê-lo:
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 50
c) O futuro imperativo - equivale a uma ordem, sendo muito comum nas leis e
nos contratos; ex.:
Os recursos necessários à execução do projeto decorrerão do excesso de arrecadação
no Ministério X, no percentual de Y.
Caberá ao gerente representar a empresa judicial e extrajudicialmente.
B) OS MODOS VERBAIS
1. Os modos verbais
O modo é aquela forma verbal que revela nossa intenção de exprimir que um
ato se apresenta como certo (= indicativo), como duvidoso (= subjuntivo) ou como
ordem nossa (= imperativo).
2. O indicativo
É de uso tanto nas orações principais ou independentes de natureza
meramente expositiva ou interrogativa, quanto nas subordinadas onde não haja dúvida
relativamente à ocorrência ou não de um determinado fato; ex.:
Sabe-se que os criminosos dificilmente confessam seus crimes.
Quem penetrará na mente de uma pessoa corrompida?
São os advogados que defendem os direitos de todos.
3. O subjuntivo
É de uso nas orações:
a) Principais ou independentes optativas, imperativas negativas e nas
dubitativas; ex.:
Queira Deus que V. Exª venha a compreender a gravidade da situação!
Não emprestem dinheiro a espertalhões, pois eles criarão aborrecimentos em juízo.
Talvez se arrependam os criminosos, quando olharem para suas vítimas.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 51
4. O imperativo
Seu uso implica uma ordem ou um pedido.
a) O imperativo categórico – é o que expressa uma determinação, sem
escusas (o que é pouco usado nas relações sociais hodiernas):
a.1) nas orações afirmativas - usa-se a 2ª pessoa do imperativo presente; ou a
3ª pessoa do subjuntivo presente; ou o futuro do presente (v. A, 4, c, acima); ou ainda,
o infinitivo presente: ex.:
O juiz ordenou aos policiais: “Evacuai a sala de audiência!”
O juiz ordenou aos policiais: “Evacuem a sala de audiências!”
O juiz ordenou aos policiais: “Evacuar a sala de audiências!”;
C) OS ASPECTOS VERBAIS
1. Os aspectos verbais
Os tempos verbais não conseguem expressar todos os matizes dos momentos
em que se desenrola a ação, embora alguns deles (como os presentes histórico e
futuro, o pretérito imperfeito e o perfeito composto) indiquem simultaneamente o
aspecto durativo da ação. Por isso, o infinitivo e o gerúndio do verbo principal
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 52
1. A clareza
A clareza define-se como a comunicação translúcida do pensamento
– sendo, por isso, a qualidade essencial e o próprio objetivo de qualquer
redação, para ela devendo convergir todas as demais qualidades estilísticas.
Inútil pretender expressar-se com lucidez, entretanto, se o escritor
não dominar completamente o assunto e se não souber formalizá-lo
externamente de modo didático para o leitor e agradavelmente à sua visão.
a) Denotação x conotação
a.1) denotação – é o sentido que o dicionário atribui ao vocábulo,
como usualmente é entendido; ex.: pedra = “matéria mineral dura e sólida,
da natureza das rochas” (Dicionário Aurélio, s. v.): este é o emprego mais
apropriado para uma peça jurídica, objetiva por natureza;
a.2) conotação – é o sentido figurado que o vocábulo evoca, graças
ao processo de associação de idéias (metáforas, comparações, analogias,
semelhanças etc.) que o contexto sugere ou traz à mente; ex.: O homicida
revelou um coração de pedra. Errado? Não: mas seria mais apropriado
descrevê-lo: É um criminoso insensível, por isso de caráter perigoso.
b) Polissemia – nem sempre o vocábulo tem significado unívoco;
ex.: defesa (s. f.) = refutação/contestação: Foi brilhante a defesa do
advogado; defesa (adj. f.) = proibida: ...forma... não defesa em lei”(CC, art.
82). (Os exemplos acima mostram a linguagem técnica exigida pelo
Direito).
c) As dubiedades derivadas de construções morfológicas ou
sintáticas – sendo as mais comuns:
c.1) a do sujeito da oração, se passível de interpretação como o
objeto direto desta ou vice-versa – sobretudo quando ambos são do mesmo
número e/ou do mesmo gênero; ex.: Destruíram os argumentos do réu as
razões do autor. Corrija-se, então, antecedendo ou pospondo o verdadeiro
sujeito ao predicado, assim: ou Os argumentos do réu destruíram as razões
do autor; ou As razões do autor destruíram os argumentos do réu;
c.2) a da contaminação sintática pedir para – equivalendo a “pedir
[licença] a alguém para...”; ex.: O advogado pediu ao juiz para concluir
logo a instrução da audiência. Corrija-se, explicitando: ou O advogado
pediu que o juiz concluísse logo a instrução da audiência; ou O advogado
pediu [licença] ao juiz para [ele próprio] concluir logo a instrução da
audiência;
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 55
2. A clareza gráfica
Esse tipo de clareza deflui da boa distribuição do texto, objetivando
uma leitura mais fácil e mais atraente, a fim de ensejar o repouso
propiciado pelas pausas visuais, suavizando o cansaço decorrente de uma
leitura de natureza técnica. Não poucos fatores são prejudiciais a essa
agradável distribuição, entre os quais se destacam (por isso devendo quanto
possível ser evitados):
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 58
1. A concisão
É o corte da redundância prolixa, mediante a exposição objetiva do
pensamento, sem divagações ou repetições inexpressivas.
2. Caracterização
A falta de concisão resulta geralmente da reduzida capacidade de
síntese de quem escreve, revelando sua limitada capacidade de análise:
pois, quem consegue descer à profundidade dos conceitos consegue
também externá-los em sua essência, facilmente identificando o que é
desnecessário à compreensão da mensagem ou o que é ineficaz à produção
da ênfase que o texto porventura esteja requerendo. É que a finalidade de
convencer – objetivada numa peça jurídica - não se obtém nem procurando
impressionar o leitor com um grande número de páginas consecutivas,
repletas de argumentos idênticos de conteúdo ou simplesmente análogos;
nem com largas transcrições doutrinárias e jurisprudenciais repetitivas (que
uma mera remissão substituiria, no máximo transformando-as em anexos
do texto, se necessário); nem com o exagero de adjetivos qualificadores ou
de circunstâncias adverbiais inexpressivas; nem com a exibição de
sinônimos ou de pleonasmos sem vigor. Antes. Com a utilização de
qualquer desses procedimentos, o emissor da mensagem passa a correr o
risco de o receptor não ler desta senão o começo e o fim ou os meros títulos
e subtítulos da peça: isto porque terá um leitor cansado, em decorrência da
tensão e esforço mentais que lhe estão sobrecarregando, seja para a
depuração do que seria importante, mesmo, seja para a localização do que
seria o verdadeiro núcleo significativo da mensagem. Como esta deve
consistir na exposição objetiva dos diversos tópicos, de preferência
separadamente, um a um, em gradativa apresentação, de grande valia será,
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 60
1. A propriedade
É a utilização precisa dos vocábulos mais condizentes com a idéia
que se deseja expressar.
No afã de conseguir a melhor das escolhas, deve-se atentar para
aquela palavra que, no caso concreto, transmita o significado exato que a
circunstância está exigindo.
Exemplificando: a idéia geral de morrer, é expressa diferentemente
por falecer (= notícia um tanto cerimoniosa); expirar (= linguagem
literária); perecer (= morte violenta); passar desta para a melhor
(= sentido religioso); dormir/sonhar eternamente (= imagem poética);
vestir o pijama de madeira (= gíria popular) etc.
2. Palavra x idéia
É de se ressaltar que o significado exato da palavra somente pode ser
aquilatado no próprio contexto onde se acha situada, em razão da variedade
de sentidos que a palavra pode assumir em conseqüência de seu uso em
caráter denotativo ou conotativo – conceitos que se passam a definir e
exemplificar mais especificamente (v. VIII.1, 1.2, a):
a) Denotação – é o sentido usual (objetivo), como o vocábulo é
entendido comumente pelos usuários da língua; ex.:
O ladrão roubou todos os anéis de ouro (= metal precioso)que estavam
no cofre.
Porque o advogado perdera a chave (= peça que movimenta a lingüeta da
fechadura) do escritório, chegou atrasado à audiência.
O rapaz foi preso simplesmente porque era negro (= de cor preta).
b) Conotação – é o sentido figurado (subjetivo), que o autor quer
emprestar ao vocábulo (por meio das várias figuras estilísticas: metáforas,
comparações, símbolos etc.), quando então se desencadeiam sentimentos
variados (como os de apreço ou desprezo) ou associações de idéias de toda
espécie (como as de solenidade ou vulgaridade). Compare o sentido dos
vocábulos (em itálico) dos exemplos acima com o sentido que os mesmos
vocábulos passaram a adquirir nos exemplos abaixo:
O ladrão não ocultava o ouro (= opulê ncia) de seu luxo.
O advogado, por mais que estudasse a matéria, não conseguia encontrar a
chave (= o que decifra) do problema.
Foi uma injustiça aquela sentença negra (= tenebrosa).
1. A lógica
É a exposição das idéias, de tal forma conexas, que os vocábulos as
expressem coesas dentro do período e estes se interliguem coerentemente
em parágrafos, formando uma unidade de sentido.
Podendo o fato ser executado por terceiro, o credor [Pedro] será livre de
mandá-lo executar à custa do devedor (havendo recusa ou mora deste)
ou pedir indenização por perdas e danos.
Ora, o engenheiro [Paulo] se recusou a construir a casa conforme o
ajustado.
Logo, Pedro pode mandar construí- la à custa de Paulo.
Não pode o devedor de uma obrigação alternativa obrigar o credor a
receber parte em uma prestação, parte em outra.
Ora, o devedor obrigara-se a dar um apartamento de três quartos na asa
sul de Brasília ou seu valor, estimado em R$ 350.000,00.
Logo, não era lícito ao devedor pretender dar um apartamento de dois
quartos e uma indenização de R$ 80.000,00;
3ª) silogismo dilema – é aquele em que, seja qual for a alternativa, a
conclusão será sempre a mesma; ex.:
Ou o sentinela estava prestando guarda ou não estava.
Ora, se estava, cumpria- lhe impedir a entrada de estranhos no quartel; e
se não estava, não cumpria com o seu dever.
Logo, não pode pretender a declaração de injustiça de sua prisão;
4ª) silogismo epiquirema – é aquele em que as premissas são
acompanhadas de provas ou explicações (modo normal em que se redige
uma peça jurídica, podendo as conjunções ora e logo ser substituídas pelas
diversas partículas de conexão (v. 4.2, b.1/b.2, abaixo); ex.:
A irresignação do recorrente merece acolhida, já que a autoridade
judiciária não tem responsabilidade civil pelos atos jurisdicionais
praticados: é que, embora seja considerada um agente público – que são
todas as pessoas físicas que exercem alguma função estatal , em caráter
definitivo ou transitório -, os magistrados se enquadram na espécie
agente político.
Ora, estes são investidos para o exercício de atribuições constitucionais,
sendo dotados de plena liberdade funcional no desempenho de suas
funções, com prerrogativas próprias e legislação específica, requisitos,
aliás, indispensáveis ao exercício de suas atribuições.
Logo, tais agentes não agem em nome próprio, mas em nome do Estado,
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 70
ANEXO IV
1. Causa/efeito: daí, como/em/por conseqüência, por conseguinte, como resultado, por isso,
por causa de/disso, em virtude de/do que, assim, de fato, com efeito, porque, porquanto, pois,
visto que/como, em face disso/do que, iniludivelmente, como era de (s) esperar, como
2. Certeza: de/por certo, certamente, indubitavelmente, inquestionavelmente, sem dúvida
(alguma), inegavelmente, com (toda) certeza, certamente, não há que/como negar
3. Comparação: igualmente, da mesma forma, assim também, do mesmo modo/maneira,
semelhantemente, similarmente, analogamente, por analogia, identicamente, mutatis mutandis,
de acordo com, de conformidade com, segundo, consoante, conforme, sob esse ponto de vista,
tão/tanto ... quanto/como, mais/menos (do) que, do mesmo modo que, semelhantemente
4. Conseqüência: por conseguinte, conseqüentemente, portanto, logo, então, em virtude
disso/do que, como resultado, em vista disso, em conclusão, por isso, devido ao que/a isso
5. Continuação: demais, ademais, além disso, ainda (mais/por cima), por outro lado,
paralelamente, também, outrossim, e, nem, não só/somente ... mas/como também
6. Contraste: ao/pelo contrário, em contraste com, salvo, exceto, menos, mas, porém, todavia,
contudo, não obstante (isso), por outro lado/ponto de vista, de outra parte, diversamente
7. Dúvida: talvez, quiçá, provavelmente, possivelmente, quem sabe?, é
provável/certo/verossímil, se é que, dir-se-ia, há quem diga/afirme, inacreditável, porventura
8. Esclarecimento: por exemplo (p. ex.), a saber, verbi gratia, verbis, litteris, id est, sic, por
estas/outras palavras, literalmente, ou por outra, mutatis mutandis, de lege lata/ferenda
9. Finalidade: a fim/com o fim de, com o propósito de, propositadamente, de propósito,
intencionalmente, a fim de que, para que, com o propósito/objetivo de, decididamente
10. Lugar: perto de, próximo a/de, junto a/de, dentro, fora, mais adiante, além, aquém, aí, ali,
acolá, neste/nesse/naquele (lugar/local/momento/situação), face a face (com), em frente (de)
11. Referência: este, esse, aquele, e isto/o que, por último/penúltimo/antepenúltimo, anterior,
posterior, conforme/segundo/consoante dito antes/depois (no item ... supra, infra)
12. Relevância: antes de mais nada, primeiramente, em primeiro (segundo...) lugar, mormente,
sobretudo, sobremodo, precipuamente, principalmente, primordialmente
13. Síntese: em suma/síntese/resumo, resumindo, em conclusão, enfim, afinal (de contas)
14. Surpresa: inesperadamente, inopinadamente, de súbito, imprevistamente,
surpreendentemente, de improviso
15. Tempo: então, enfim, logo, a seguir, imediatamente, após, pouco antes/depois,
anteriormente, posteriormente, em seguida, afinal, enfim, por fim, finalmente, agora,
atualmente, hoje, nesta data, neste momento, freqüentemente, constantemente,
eventualmente, às/por vezes, ocasionalmente, sempre, raramente, não raro, ao mesmo tempo,
nesse meio tempo, no tempo em que, na ocasião em que, nesse ínterim, simultaneamente,
enquanto isso, quando, enquanto, antes que, depois que, assim que, logo que
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 81
2. A inversão
A inversão tanto pode ocorrer dentro do período, como dentro das
orações que o constituem.
a) A inversão das orações dentro do período – a qual ocorre ou
quando a oração principal é deslocada para o final do período ou nele é
intercalada, ou ainda, quando é interrompida por meio de locuções
adverbiais ou de orações subordinadas: pois tal implica, por sua vez, o
deslocamento destas ou daquelas de sua própria posição, a qual seria (como
regra geral) no final do período, caso fosse este construído na ordem direta
(a saber: oração principal + orações subordinadas substantivas + as
adjetivas + as adverbiais); ex.:
As cauções, entrementes, não havendo sido consideradas suficientes, o
MM. Juiz determinou [que] fossem substituídas por dinheiro corrente.
Deferida a medida liminar, com as informações do juízo impetrado o
ilustre Presidente da Corte tomou conhecimento de que os protestos dos
títulos já haviam sido tirados.
b) A inversão dos termos dentro da oração – a qual ocorre quando
subverte sua ordem direta (que seria: sujeito [+ adjuntos adnominais] →
predicado [+ complementos verbais] → complementos nominais e adjuntos
adverbiais); em vez dessa seqüência rígida, adquirirá realce o termo cuja
posição normal se inverter, desde que no lugar apropriado, conforme
sugestões que abaixo se propõem:
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 82
4. Comparações e contrastes
São processos mais apropriados para o discurso oral, máxime na área
do crime, quando o aspecto conotativo dos vocábulos e seu sentido
figurado adquirem grande força de convencimento, fazendo aflorar a
imaginação e a emoção (v. VIII.1, 1.2, a.2). Devem, por isso, ser usados
com parcimônia no discurso escrito.
a) Comparação – é a figura pela qual dois termos unem os seus
atributos por intermédio de uma partícula (como, tal, qual, tal e qual...);
ex.:
O criminoso partiu para sua vítima como um touro enraivecido.
b) Metáfora - é a figura pela qual se identificam dois seres distintos
por uma qualificação característica que se considera comum a ambos; ex.:
O criminoso não passava de um touro selvagem arremetendo contra sua
indefesa vítima.
A pobre moça, vinda do sertão, era de uma inocência angelical.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 84
OBS.: Devem-se evitar os clichês, por serem metáforas tão usadas que já
perderam qualquer interesse estilístico, e portanto, também sua força
expressiva; ex.:
Trata-se, Excelência, de um autêntico pródigo, que gasta rios de
dinheiro, como se não tivessem nenhum valor.
Vê-se destarte, Meritíssimo, que o réu é um homem de coração duro,
empedernido, incapaz de ter piedade de suas vítimas.
c) Contrastes – são as antíteses e oposições pelas quais se fazem
enfrentar as idéias entre si:
c.1) a antítese – a qual se define como uma idéia que é
expressamente contraditada pela outra com a qual se confronta, atingindo
às vezes o paradoxal; ex.:
Magistrado aposentado, acusado por sua esposa como autor de agressões
físicas contra ela, ponderou gozar de foro privilegiado, devendo por isso
o inquérito ser remetido ao Presidente do Tribunal de Justiça do Estado.
Mas o 1º Vice-Presidente da Corte entendeu que, por se tratar de juiz
aposentado, não mais gozava ele de foro privilegiado. O cerne da
questão reside, assim, em se decidir se o foro privilegiado de um juiz
persiste, não obstante já aposentado. Reza a Súmula 451 do STF que “A
competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime
cometido após a cessação definitiva do exercício funcional”. Contra-
argumenta a impetração, no entanto, que “A prerrogativa foi instituída
em razão do cargo e não do exercício da função. O cargo do magistrado
é vitalício, projetando-se pela aposentadoria afora”. Há um equívoco
nesses conceitos. É que, se há funções sem cargo (como as de certos
“agentes públicos” – chefes do Executivo e Parlamentares, p. ex.), não há
cargo sem função. Pois “Os cargos são apenas os lugares criados no
órgão para serem providos por agentes que exercerão suas funções na
forma legal. (...) As funções são os encargos atribuídos aos órgãos,
cargos e agentes” (Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo
Brasileiro, 14ª ed., RT, SP, 1989, pág. 66).
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 85
1. A harmonia
É a disposição ordenada e proporcional das partes da oração, de
molde a resultar um fluxo sonoro e agradável do texto.
O resultado dessa harmonia é a beleza do estilo, aquela faculdade
que provoca em quem escreve e em quem lê um sentimento especial, que
se pode denominar “emoção estética”. Pois, como definia Aristóteles: “O
belo [consiste] na grandeza [= no todo] [constituído] sobre a ordem” (= Tò
kalón ‘en meghéthei kaì táksei).
3. Os grupos fônicos
Ora, normalmente não se usam as palavras isoladas, pois seu destino
é encadearem-se sintaticamente em orações e períodos (v. II), dentro dos
quais espontaneamente formam grupos fônicos, como autênticas unidades
suas, em conseqüência da presença predominante das palavras tônicas, às
quais se agregam os vocábulos átonos, de pronúncia quase imperceptível.
À semelhança do que ocorre nas estrofes e nos versos das poesias clássicas
(mas sem a rigidez destas), esses grupos fônicos são regidos pelas
respectivas pausas rítmicas, que se impõem também na prosa, formando
fluxos de cadência sonora (de duração e extensão mais ou menos
proporcionais): são essas pausas, por um lado uma exigência da
respiração, fisiológica (na elocução oral) e psicológica (na escrita); e por
outro lado, uma exigência da mente, que precisa dar uma parada entre um
grupo fônico e outro, passo a passo ensejando ao emitente estruturar cada
novo pensamento e ao receptor a compreensão das mensagens enviadas
consecutivamente. Advirta-se, porém: nem sempre a pausa lógica, expressa
pelo sentido e pela pontuação, nomeadamente a vírgula, coincide com a
pausa comentada, de natureza fonética. No exemplo abaixo, a barra simples
indica a primeira e a dupla a segunda:
Da maior relevância, / ainda, / a natureza das normas legais / e
regulamentares, // invocadas pelo recorrente. // É que são elas /
claramente / administrativas, // endereçadas / sobretudo / às respectivas
conseqüências disciplinares. // O simples fato / da depredação de um
sinal de trânsito // não tem o condão de transmudar, / automaticamente, //
a natureza secundária de uma via. // Conseqüências de caráter cível /
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 89
Quem é esse réu tão perverso? Que sanção se lhe pode aplicar, ante as
monstruosidades de seu procedimento? Como é possível suportar sua
presença no meio da coletividade? E por que temos que tolerá- la?
h) A exclamação – implica também as mais variadas emoções
(embora sobreleve a admiração), e por isso, obedece às mais diversas
inflexões da voz, às vezes seguindo o ponto de interrogação e/ou
antecedendo às reticências; ex.:
Bem que se podia esperar do criminoso uma manifestação de pesar,
senão de arrependimento, pelo crime hediondo cometido contra uma
criança indefesa!...
Quem esperaria tal pecado por parte de um religioso, que tinha a missão
de induzir os fiéis à religiosidade?!
i) As reticências – interrompem a frase, sugerindo que o pensamento
não foi de todo expresso, deixando em suspenso a melodia frasal; ex.:
Aliás, a levar às últimas conseqüências a tese do V. Acórdão, os autores
da rescisória teriam de ter sido considerados carecedores da ação – e não
ser esta considerada improcedente, como o foi...
Para convencer o MM. Juízo, apresentaram-se provas testemunhais que
viram de perto o evento, juntaram-se documentos comprobatórios,
aduziram-se eminentes Civilistas, juntou-se a jurisprudência dos mais
Colendos tribunais... Não obstante, Sua Excelência...
IX- A CORREÇÃO
1. A correção
É a obediência às regras da gramática normativa, segundo os padrões
cultos.
Trata-se de uma submissão a um ideal estético, extraído da
linguagem das classes mais instruídas da sociedade, nomeadamente dos
grandes escritores, cujo modo de escrever dentro de determinadas normas,
observadas regularmente, foram convertidas pelos gramáticos em regras do
bem falar. E essas normas (que tendem para a rigidez) é que diferenciam a
maior ou menor liberdade que existe na expressão oral, mesmo das classes
cultas: com esta última não se compadece a linguagem escrita, máxime
quando se trata de um texto técnico, que se utiliza de nomenclatura própria
– como é um texto jurídico (v. I, 1/3).
Funestas são as conseqüências por se desobedecer a essas normas na
redação jurídica. É que, depois do penoso trabalho de planejar o todo (v.
VI, 1/2) e distribuí-lo em suas diversas partes (v. VII.1/VII.3); depois de
burilá-lo com clareza de expressão, concisão de linguagem, propriedade
dos termos, com lógica, ênfase e harmonia (v. VIII.1/VIII.6) – todo esse
esforço hercúleo resultará inútil, fazendo-o ruir, eis que seu autor perderá a
credibilidade pessoal e com ela a de seus argumentos, pelo deboche
carreado por um texto vernaculamente mal-amanhado.
2. Os vícios de linguagem
Como as palavras podem ser consideradas em si ou em seu
relacionamento sintático, apontam os gramáticos os erros cometidos contra
a linguagem escorreita, agrupando-os em vícios contra a palavra e contra a
sintaxe: são os chamados barbarismos e solecismos.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 96
2.1 Barbarismos
Consistem nos erros que incidem sobre uma palavra, viciada quer em
sua pronúncia (erros contra a Fonética), quer em sua forma (erros contra a
Morfologia), quer em sua significação (erros quanto ao sentido).
a) Os erros contra a pronúncia – são os cometidos contra a ortoépia
(ou ortoepia) ou contra a prosódia, não raro atraindo conseqüências sobre a
ortografia, nesta incluindo-se a acentuação gráfica:
a.1) os erros contra a ortoépia - isto é, contra a boa pronúncia da
palavra; ex.:
extinguir e não extingüir; fluido e não fluído; advogado e não adevogado;
óbolo e não óbulo; mendigo e não mendingo;
a.2) os erros contra a prosódia - isto é, contra a correta acentuação
tônica da palavra; ex.:
recém e não récem; avaro e não ávaro; aerólito e não aerolito;
ínterim e não interim; Madagáscar e não Madagascar.
b) Os erros contra a forma – são os cometidos (mais comumente)
contra as flexões do vocábulo ou contra seu gênero; ex.:
cidadãos e não cidadões; ricaço e não ricasso;
intervindo e não intervido; fizestes e não fizésteis;
se eu vir e não se eu ver; águo e não aguo; mobílio e não mobilio;
o grama (medida de peso) e não a grama (erva); o clã e não a clã;
o sanduíche e não a sanduíche; o telefonema e não a telefonema;
a dinamite e não o dinamite; a cal e não o cal.
c) Os erros contra a significação – são os cometidos contra o
verdadeiro sentido dos vocábulos, em geral por serem parônimos; ex.:
desapercebido (= desprovido) por despercebido (= desatento);
retificar (= corrigir) por ratificar (= confirmar);
espiar (= olhar) por expiar (= sofrer);
coser (= costurar) por cozer (= cozinhar);
fluir (= correr) por fruir (= desfrutar);
eminente (= insigne) por iminente (= prestes a acontecer).
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 97
2.2 Solecismos
São os erros contra a sintaxe de concordância (nominal ou verbal),
de regência (nominal ou verbal) ou de colocação pronominal.
a) A sintaxe de concordância correta (regras gerais):
a.1) na concordância nominal – isto é, quanto à concordância do
adjetivo ou do pronome (antepostos ou pospostos) com vários substantivos
(de gênero e/ou número diferentes); ex.:
Calada a natureza, a terra e os homens. (Herculano)
Rótulo e notas traçadas pela mão erudita. (Eça)
Jó perdeu os filhos e filhas mortos e sepultados de um só golpe no
mesmo dia. (Vieira)
Salas e coração habita-os a saudade. (Alberto de Oliveira);
a.2) na concordância verbal – isto é, quanto à concordância do verbo
com a pessoa e o número do sujeito composto (anteposto ou posposto); ex.:
Eu, tu e José das Dornas devíamo-nos retirar. (Júlio Diniz)
Até hoje reinam a solidão e o deserto onde havia já a sociabilidade
humana. (Rui)
OBS.: Caso típico de concordância verbal é a do infinitivo pessoal
flexionado (v. ANEXO V), como um dos nossos idiomatismos lingüísticos.
b) A sintaxe de regência correta – se perfaz por meio das
preposições, cuja identificação suscita freqüentes dúvidas, as quais
somente os dicionários (sobretudo os especializados) são capazes de
elucidar:
b.1) na regência nominal – é a pedida por um substantivo, um
adjetivo ou um advérbio, resultando o conjunto no complemento nominal
(e, lato sensu, nos adjuntos adnominal e adverbial); ex.:
De Portugal passou ao Brasil a devoção à Virgem. (C. Laet)
O amor de Cristo para com S. João não se prova... (Vieira)
Os pretos sofriam como predestinados à dor. (M. Lobato)
Alfredo Gassiot segurou-se muito e convulsivamente amparado no
pescoço do amigo. (Camilo);
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 98
ANEXO V
1.1 Quando equivale a um substantivo (usado como mera forma nominal); ex.:
"Viver é lutar". (G. Dias).
"Era solene e tremendo o espetáculo que apresentava a gruta naquele alçar repentino
de tantos homens." (Herculano)
“Reformar e não inovar é o voto do legislador prudente.” (Marquês de Maricá)
1.4 Quando, precedido de preposição (a, para, de, sem etc.) pertencendo a uma
locução verbal ou não, indica modo (equivalendo a um gerúndio), fim e outras
circunstâncias; ex.:
"Mandou Cristo à cidade os apóstolos... para trazer de comer." (Vieira)
"Se não és para dar-lhe honroso estado,
É ele para dar-te um reino rico." (Camões)
"... tinham nascido e morrido sem estiolar.” (Júlio Ribeiro).
"Todos no mesmo navio, todos na mesma tempestade, todos no mesmo perigo, e uns
a cantar, outros a zombar, outros a orar e chorar?" (Vieira)
1.5 Nas locuções verbais, isto é, quando, sem sujeito próprio, constitui-se o
infinitivo em verbo principal de um todo único, juntamente com um verbo auxiliar; ex.:
A) Modal – indicando:
B) INFINITIVO FLEXIONADO
C) CASOS ESPECIAIS
ANEXO VI
1. O conceito de crase
a) No conceito geral - crase é a contração de duas vogais idênticas contíguas;
ex.:
vee (= venhen) > vêm; tee (= tenhen) > têm
4. Casos particulares
"José Dias recusou, dizendo que era justo levar a saúde à casa de sapé do
pobre." (M. Assis)
b) Significando prédio, casa comercial, instituição - a crase é obrigatória; ex.:
"Tenciono ir à casa nº 24 da Rua da Alfândega que está para alugar." (Mário
Barreto)
Dirigiram-se então à casa "O Rei dos Barateiros".
Enviou à casa (= convento) dos frades uma grande esmola.
4.3 Antes da palavra HORA - usa-se a crase (mesmo precedida do numeral UMA);
ex.:
"Sucedia, muito amiúde, encetar eu a minha banca de estudo à uma ou às duas horas
da antemanhã." (Rui)
Inglaterra ...); a omissão dava-se sobretudo quando esses nomes de lugar vinham
preposicionados: daí, o ser lícito crasear ou não, diante de tais nomes;
a.2) se o nome de lugar rejeita o artigo - não se craseia; ex.:
Viagem a Paris, a Minas Gerais, a Copacabana.
b) Com adjunto adnominal que os determine - usa-se a crase, mesmo com
aqueles nomes de lugar que, sozinhos, rejeitam o artigo; ex.:
Chegamos à Roma dos primeiros cristãos.
Dirigi-me à alegre Campinas.
4.6 Depois de ATÉ - emprega-se a crase ou não, conforme se utilize (ou se julgue
utilizada pelo autor):
a) A preposição essencial ATÉ - sem crase; ex.:
"Foi, penetrou no paraíso, rastejou até a árvore do bem e do mal, enroscou-se
e esperou." (M. Assis)
b) A locução prepositiva ATÉ A - com crase; ex.:
"Ouvindo isto, o desembargador comoveu-se até às lágrimas, e disse com mui
entranhado afeto." (Camilo)
OBS.: Comparem-se esses exemplos quando se usa ATÉ e ATÉ A antes de palavra
masculina:
"Maria Regina acompanhou a avó ATÉ o quarto." (M. Assis)
"A Virgem das virgens serve no templo de Jerusalém desde os três anos até
aos quatorze anos de sua idade." (Castilho)
B) O PROBLEMA DO À (ACENTUADO)
existência de crase" (Rocha Lima), como: "apanhar à mão, cortar à espada, enxotar à
pedrada, fazer a barba à navalha, fechar à chave, ir à esquerda, à força de, à imitação
de, à maneira de, à medida que, à míngua de, à noite, à pressa, à proporção que, à
semelhança de, à toa, à ventura, à vista, à vista de..."; ex.:
"... não quero falar dos olhos molhados à entrada e à saída."(M. Assis)
“Trajava à moderna." (M Assis)
"Não a matei por não ter à mão ferro, nem corda, pistola, nem punhal.”
(M. Assis)
"Inácio chegou ao extremo de confiança de rir um dia à mesa..." (M. Assis.)
C) A PROIBIÇÃO DE CRASEAR
1. Não há crase
1.5 Nas locuções constituídas de termos repetidos (como face a face, cara a cara,
gota a gota, uma a uma); ex.:.
"Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras." (M. Assis)
Deparei-me com o estelionatário cara a cara.
ANEXO VII
SINCLITISMO PRONOMINAL
1. Sinclitismo pronominal
Diz-se sinclitismo pronominal o conjunto de normas que regem a colocação
dos pronomes oblíquos átonos na oração. Trata-se de uma questão de fonética
sintática, pois “a pronúncia brasileira diversifica da lusitana” (Said Ali, Gramática
Secundária da Língua Portuguesa). Isto porque tais pronomes em Portugal são
pronunciados atonamente, enquanto que no Brasil são praticamente semitônicos. A
Gramática clássica, entretanto, conserva com certa rigidez alguns princípios
fundamentais, que abaixo serão expostos.
Segundo esses critérios – ditos cultos -, os aludidos pronomes devem observar
determinada colocação antes do verbo (próclise), depois do verbo (ênclise) ou no
meio de uma forma verbal (mesóclise).
1. A próclise – é obrigatória:
2. A ênclise – é obrigatória:
2. De gerúndio
2.3 Precedido de palavra proclisante - é lícita tanto a próclise quanto a ênclise; ex.:
“Vendo-vos olhos sobejam;
Não vos vendo, olhos não são.” (Camões)
“Nem abrindo-se as ondas encolhidas
Soltas em branca escuma nos penedos.” (Rodrigues Lobo)
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 116
3. De particípio
3.1 Fora de locução verbal – não é permitida nem a próclise nem a ênclise, devendo-
se substituir o pronome átono pelo tônico correspondente (precedido de preposição);
ex.:
“As andorinhas, desde esse dia, voaram despercebidas para mim.” (Camilo)
“Viu-se adorado nas imagens suas; viu-se imitado, refletido nelas.” (Garrett)
“Obra incomparável no seu gênero, desconhecida, creio eu, entre nós.” (Rui)
SUMÁRIO
I - A REDAÇÃO JURÍDICA 2
II - FRASE x ORAÇÃO 5
1. A frase 5
2. Frase nominal 5
3. Frase oracional 6
ANEXO I 7
A) PREDICADO x PREDICATIVO 7
III - O PERÍODO 9
1. Período 9
2. Período simples 9
3. Período composto 9
ANEXO II 10
1. A coordenação 10
2. A coordenação assindética 10
3. A coordenação sindética 10
1. A subordinação 12
2. Orações subordinadas substantivas 12
3. Orações subordinadas adjetivas 13
4. Orações subordinadas adverbiais 14
1. O processo coordenativo 16
2. O processo subordinativo 16
3. Oração principal 17
4. Outras estruturas frasais 18
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 118
V - O PARÁGRAFO 20
1. Parágrafo 20
2. Defeitos na redação do parágrafo 20
2.1. Abuso de coordenação 20
2.2. Abuso de subordinação 21
2.3. Assimetria frasal 22
VI - O PLANEJAMENTO 25
1. A redação 25
1.1. A preparação remota 25
1.2. A preparação próxima 25
2. Fases do processo de escrever 27
2.1. O rascunho 27
2.2. A correção 27
2.3. A redação final 31
VII.1 O RELATÓRIO 33
1. A natureza do relatório 33
2. Os procedimentos na petição inicial ou na contestação 33
3. Os procedimentos nos recursos 34
VII.2 A DISCUSSÃO 36
1. A natureza da discussão 36
2. A fixação do tema 36
3. O desenvolvimento do tema 36
VII.3 A CONCLUSÃO 43
1. A natureza da conclusão 43
2. A reiteração do teor do tema 43
3. A técnica da reiteração do tema 43
ANEXO III 48
A) OS TEMPOS VERBAIS 48
1. Os tempos verbais 48
2. O presente 48
3. O pretérito 48
3.1. O pretérito imperfeito 49
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 119
B) OS MODOS VERBAIS 50
1. Os modos verbais 50
2. O indicativo 50
3. O subjuntivo 50
4. O imperativo 51
C) OS ASPECTOS VERBAIS 51
1. Os aspectos verbais 51
2. Os variados matizes das locuções verbais perifrásticas 52
1. A clareza 53
1.1. A clareza interna 53
1.2. A clareza externa 53
2. A clareza gráfica 57
1. A concisão 59
2. Caracterização 59
1. A propriedade 62
2. Palavra x idéia 63
3. Os entraves à propriedade vocabular 63
1. A lógica 66
2. As fases do pensamento coerente 66
3. Os métodos científicos do pensamento lógico 67
3.1. A utilização do método indutivo 67
3.2. A utilização do método dedutivo 67
4. Como transformar o pensamento lógico em um texto lógico 71
4.1. A oração terminologicamente apropriada 72
4.2. O encadeamento entre as orações, os períodos e os parágrafos 73
4.3. A lógica na narração e na descrição dos fatos 75
4.4. A lógica na argumentação 77
ANEXO IV 80
1. A harmonia 87
2. As palavras e o acento de intensidade 87
3. Os grupos fônicos 88
3.1. Os grupos fônicos e a construção frasal 89
4. A pontuação em face das pausas fonéticas da melodia frasal 90
5. Os vícios contra a harmonia da frase 93
IX - A CORREÇÃO 95
1. A correção 95
2. Os vícios de linguagem 95
2.1. Barbarismos 96
2.2. Solecismos 97
ANEXO V 100
ANEXO VI 105
1. A próclise 112
1.1. Nas orações negativas, interrogativas e exclamativas 112
1.2. Nas orações subordinadas desenvolvidas 112
1.3. Após os advérbios de tempo, lugar, modo, dúvida e intensidade 113
1.4. Após pronomes indefinidos de sentido quantitativo ou indeterminado 113
2. A ênclise 113
2.1. Quando o período inicia por um verbo 113
2.2. Nas orações imperativas afirmativas 113
3. A mesóclise 114
3.1. Quando os futuros iniciam o período 114
3.2. Quando os futuros são colocados no meio do período 114
1. De infinitivo 114
1.1. Não precedido de preposição nem de palavra proclisante 114
1.2. Precedido de preposição (exceto A) ou de palavra proclisante 114
2. De gerúndio 115
2.1. Não precedido da preposição EM nem de palavra proclisante 115
2.2. Precedido da preposição EM 115
2.3. Precedido de palavra proclisante 115
3. De particípio 116
3.1. Fora de locução verbal 116
3.2. Dentro de locução verbal 116
1. O pronome oblíquo não pode ficar “solto” entre dois verbos 116
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 123
BIBLIOGRAFIA
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