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Disciplina: Microbiologia e Imunologia

Apresentação

A disciplina Microbiologia e Imunologia estuda as principais características dos micro-organismos


presentes no planeta e as inter-relações com o homem, informações fundamentais para todos os
pro ssionais da saúde. Além da associação usual com doenças, é também importante que o aluno
possa identi car nos desequilíbrios aos ecossistemas a redução da biodiversidade no planeta,
acarretando, entre outros prejuízos, a perda de muitas moléculas biologicamente ativas produzidas
por esses seres que hoje são alvos da microbiologia industrial.

A partir da origem dos primeiros seres vivos no planeta e da evolução da microbiologia como
ciência, serão explorados a morfologia (bacteriana e viral), a nutrição e o crescimento bacteriano.
Esse estudo estará sempre contextualizado aos conhecimentos adquiridos em biologia celular e
bioquímica para células eucarióticas.

Os conceitos atualizados da genética bacteriana serão explorados com as superbactérias,


utilizando os fatores de virulência nas interações prejudiciais entre micro-organismos e o homem.
Com isso, o aluno deverá estar apto a reconhecer muitos sinais e sintomas clínicos do processo
in amatório e as células envolvidas na ativação de linfócitos e produção de anticorpos.

Haverá ainda o aprendizado dos mecanismos inato e adaptativo da resposta imune. Esses
mecanismos serão associados às vantagens dos diferentes tipos de imunizações, alergias e
doenças autoimunes.

Objetivos

Identi car a importância dos micro-organismos nas


atividades humanas e no planeta;

Estudar os fatores produzidos pelos micro- Conteudista


organismos que interferem nas relações bené cas e Viveca Giongo
prejudiciais com o homem;
 Currículo Lattes

Reconhecer as etapas de reconhecimento de


Validador: Alline Ferreira
antígenos para a formação de memória imunológica
Brasil
e os tipos de imunizações;

Analisar os mecanismos que tornam o sistema


imune responsável por doenças, como em alergias e
doenças autoimunes.
Resumos

Aula 1: Introdução à Microbiologia

Nesta aula, é apresentada a história da microbiologia através dos estudos da microscopia e das
descobertas mais in uentes entre os séculos XVIII e XX até a importância dos avanços da era
genômica atual.

Aula 2: Importância da diversidade microbiana para o planeta

O início da construção do planeta e a origem das células procariotas são explorados para a
apresentação das principais características dos três domínios de seres vivos. Destacam-se os eventos
de endossimbiose na evolução do metabolismo aeróbio e a eucariogênese.

Aula 3: Morfologia microbiana

Nesta aula, serão descritas as várias morfologias bacterianas e as funções dos componentes
essenciais das bactérias gram-positivas e gram-negativas, além da estrutura do vírion.

Aula 4: Metabolismo e controle do crescimento microbiano

Saberemos quais as necessidades básicas para uma célula bacteriana crescer através de metabolismo
aeróbio e anaeróbio, as fases de crescimento e os mecanismos físico e químico de controle da
população microbiana.

Aula 5: Interações microbianas com o homem


Nesta aula, serão analisadas as relações consideradas bené cas para bactérias e o homem, como as
interações patogênicas e parasitárias. Abordaremos ainda a capacidade de transferência de
informações entre as células procariotas.

Aula 6: Fundamentos do sistema imunológico

Destaque para as propriedades da resposta imune em relação a especi cidade, diversidade, tolerância
ao próprio e memória imunológica contra diversos patógenos. As funções das células e dos órgãos
envolvidos na resposta imunológica serão apresentadas a partir de uma célula-tronco e do
desenvolvimento das células da linhagem mieloide e linfoide.

Aula 7: Imunidade inata

Nesta aula, a defesa inicial contra infecções é apresentada desde os mecanismos físico-químicos das
superfícies corporais até os mecanismos de quimiotaxia e fagocitose de algumas células com liberação
de citocinas in amatórias.

Aula 8: Antígenos, imunógenos e reconhecimento antigênico

Iremos analisar as diferenças entre antígenos e imunógenos e como as células da imunidade inata e
especi ca utilizam diversos receptores capazes de reconhecê-los. Nesta aula, também serão
apresentadas as moléculas de classe I e II do complexo principal de histocompatibilidade.

Aula 9: Mecanismos efetores da imunidade celular e humoral

De niremos o papel das células T e B na eliminação de micro-organismos a partir da apresentação


antigênica e da diferenciação das células efetoras. O aluno deverá ser capaz de reconhecer a ações das
citocinas no curso da resposta imune especí ca.

Aula 10: Doenças provocadas pelo sistema imune


Nesta aula, o aluno aprenderá que heranças genéticas in uenciam diretamente na intensidade da
resposta imunológica, provocando doenças alérgicas, e que a permanência de clones autorreativos é
responsável pelo aparecimento de doenças autoimunes.
Disciplina: Microbiologia e Imunologia

Aula 1: Introdução à Microbiologia

Escherichia coli, um exemplo de bactéria presente no cólon. | Fonte: Pixabay <https://pixabay.com/pt/illustrations/bact%C3%A9rias-


 Baleia Jubarte | Fonte: Pixabay <https://pixabay.com/pt/photos/baleia-jubarte-salto-viola%C3%A7%C3%A3o-1984341/>
bact%C3%A9ria-microbiologia-1832824/>
Apresentação

A microbiologia é a ciência que estuda os seres vivos de dimensões da ordem de micrômetros,


incluindo bactérias, algas e alguns vírus. Eles estão presentes no homem, nos animais e em todos
os locais do planeta, alguns cujo acesso é impossível para o ser humano. Cada vez mais o
conhecimento sobre seu metabolismo nos permite, por exemplo, minimizar desastres ecológicos
na biorremediação.

 
Aprender sobre a história da microbiologia é exercitar o raciocínio cientí co. Desde a invenção das
lentes e o aperfeiçoamento dos microscópios, todas as teorias sobre a presença de vida em um
mundo invisível ao olho humano são novamente testadas através de importantes cientistas e suas
experiências.

 
Hoje estamos avançando rapidamente nos estudos de sequenciamento de genomas e outras
ferramentas da biologia molecular. O antigo binômio saúde e doença não contempla mais todas as
funções de muitas bactérias e vírus no nosso planeta, nos permitindo explorar muito mais as bases
da microbiologia.

Objetivos

De nir os micro-organismos e as subdivisões da microbiologia;

Apontar as teorias que dominaram a ciência nos séculos XVIII e XIX;

Destacar os cientistas que alavancaram a microbiologia médica e o aparecimento da área de


genômica da microbiologia.
Os micro-organismos na história
do mundo (e do homem)
Por de nição, micro-organismos são todos os organismos
unicelulares que só podem ser vistos em preparações para
microscópios. São eles:

Bactérias Leveduras
Algas Microscópicas Vírus 1
Para conseguirmos observar um vírus, um microscópio deve ter
uma capacidade de aumento de 50 mil vezes. São os chamados
microscópios eletrônicos. As bactérias, devido a seu tamanho,
podem ser observadas em microscópios óticos com aumento de
100 vezes.
Se reunirmos todas essas células e vírus, estaremos dentro da área da

Microbiologia

 Fonte: Freepik <https://www.freepik.com/free-vector/microorganism-illustration_764998.htm>

Essa é a ciência que estuda a sua composição. Analisa como vivem e se reproduzem
em todos os ambientes do nosso planeta, solos, nas águas doces e marinhas, assim
como no nosso corpo, nos animais e nos vegetais.

QUAIS SERIAM AS APLICAÇÕES DESSES ESTUDOS?


Produção de vacinas, melhoria do paladar e durabilidade de frutos na agricultura e na
indústria com produtos desses micro-organismos.

A maioria das doenças em animais e plantas é causada por micro-organismos. Conhecê-los


profundamente nos auxilia no diagnóstico 2 e prevenção.

Exemplo
Não puri camos mais proteínas de bactérias. Conhecer a função de muitas proteínas nos permite
sintetizar uma molécula capaz de ligá-las especi camente a ela, bloqueando o reconhecimento em
células de animais. Trata-se da modelagem molecular. Identi car os tipos de micro-organismos no solo
é capaz de aumentar a produção agrícola. Há muitos exemplos da importância da microbiologia.

Escherichia coli
Bactéria presente no cólon. Sua forma alongada, com inúmeros
prolongamentos por toda a superfície, permite locomoção.

Por muito tempo, as bactérias receberam nomes de cientistas em


homenagem à descoberta dessas células.

Theodor Escherich identi cou-a no cólon (ou intestino grosso): por


isso, seu nome é Escherichia coli.
Nem todas as bactérias, no entanto, recebem o nome de seus pesquisadores.

1735
Algumas são nomeadas segundo as
de nições de Carolus Linneaus 3, um
naturalista sueco, feitas nessa data. De
início, elas são escritas em latim, a
língua tradicional da época e que ainda
permanece nos nomes cientí cos.

1969
O ecologista Robert Whittaker foi o
primeiro a propor a classi cação de
cinco reinos para as biotas no planeta:
Animalia;

Plantae;

Fungi;

Protista;

Monera.

1977
Carl Woose e George Fox descobriram
um novo domínio: Archaea. Os dois
cientistas a rmaram que todos os
seres vivos pertencem a um dos três
grandes domínios: Archaea, bactéria e
Eucarya. Dessa forma, quando
estamos classi cando um ser vivo,
começamos com o nível ou táxon mais
abrangente na hierarquia: o domínio. Já
sabemos da existência dos três
domínios listados anteriormente.
Dentro deles, estão os reinos.

Exemplo

Vamos usar o domínio Eucarya como exemplo. Os reinos incluídos nele são Animalia, Fungi, Plantae
etc. Cada reino contém um lo cuja ordem inclui hierarquicamente:
 
Classe;

Ordem;

Família;

Gênero;

Espécie (nome especí co).

 
Veja que as características apresentadas estarão cada vez mais especi cadas e detalhadas até a
espécie.

Todos os micro-organismos são denominados pelo sistema binomial. O primeiro nome designa o
gênero e é escrito em letra maiúscula. Em seguida, vem a espécie (epíteto especí co). Ambos devem
estar em itálico; se forem manuscritos, sublinhados. Em um texto cientí co, quando o nome de um
micro-organismo já tiver sido descrito, podemos abreviar seu primeiro nome. Exemplo: E. coli.
Veja agora o exemplo da baleia jubarte.
Dominio Eukarya
Gênero: Espécie:
Megaptera Novaeangliae
{ {
Reino Animalia
{ {
grande + asa nova + Inglaterra
A escolha é uma referência às Ela foi identi cada pela primeira
Filo Chordata suas grandes nadadeiras vez na Nova Inglaterra, em 1781,
peitorais que parecem asas. por Georg Heinrich Borowsky.

Classe Mammalia

Ordem Certatiodactyka

Sub ordem Mysticeti

Família Balaenopteridae

Gênero Megaptera

Espécie Megaptera
novaeangliae

Classi cação da baleia jubarte.


Fonte: Elaborada pelo autor.

A microrrevolução cientí ca
Agora você pode imaginar como a invenção do microscópio mudou completamente a maneira de o
homem ver o mundo?

Antes invisíveis - e, por isso mesmo, desconhecidas -, as bactérias acabaram provocando uma
revolução no pensamento cientí co. Isso porque, durante séculos, foram muitas as explicações para o
aparecimento de doenças e grandes epidemias, como, por exemplo, a peste negra 4.
 Bactéria Yersinia Pestis | Fonte: Wikipedia <https://pt.wikipedia.org/wiki/Yersinia_pestis#/media/File:Yersinia_pestis.jpg>

Hoje sabemos que a peste negra é causada pela bactéria Yersinia pestis, presente nas
pulgas dos ratos.
Vamos ver como foi essa microrevolução?

Fonte: British Museum <https://www.britishmuseum.org/research/collection_online/collection_object_details/collection_image_gallery.aspx?


 partid=1&assetid=1366310001&objectid=369215>

Na época medieval as lentes de aumento já eram amplamente utilizadas. Conta a


história que os romanos já usavam em 721 a.C. uma lente biconvexa chamada lente de
Layard para aumentar objetos 5.
 Fonte: Vice <https://motherboard.vice.com/en_us/article/ypwdx7/gaze-upon-the-internets-first-telescope-archive>

O seu uso foi cada vez mais aperfeiçoado até 1591, quando surgiu o primeiro modelo de
microscópio inventando pelos holandeses Hans e Zacharias Janssen, pai e lho que
eram fabricantes de lentes. Ele era formado por um cilindro de metal com um sistema
de duas lentes: aumentava o tamanho dos objetos, que eram descritos em detalhes,
embora nenhum registro cientí co importante tenha surgido até essa época.
Fonte: Investigación Y Ciencia <https://www.investigacionyciencia.es/blogs/medicina-y-biologia/43/posts/los-microscopios-de-van-
 leeuwenhoek-13351>

A percepção de um mundo invisível aos nossos olhos teve início em 1674 por iniciativa
do holandês Anton van Leeuwenhoek. Comerciante de tecidos muito criterioso em
relação à qualidade de suas peças, ele desejava analisar infusões de pimenta.
Leeuwenhoek fabricou mais de 400 lentes. A partir daí, decidiu fabricar o próprio
microscópio, com uma única lente, mas tão bom que permitisse uma percepção visual
até 300 vezes maior. Com seus estudos, ele a rmou existir um mundo dentro de uma
gota d´água, com vários seres em movimentos: os animálculos. Leia mais
 Robert Hooke | Fonte: Wikipedia <https://sw.wikipedia.org/wiki/Picha:Robert_Hooke_1635-1703_Engineer.jpg>

As primeiras células foram descritas por Robert Hooke, lósofo naturalista inglês. Ele foi o responsável
pelas traduções dos trabalhos de Leeuwenhoek para a academia de ciências.

Mais elaborado, seu microscópio era formado por um sistema de duas lentes. Após esses estudos, ele
publicou em 1664 o livro "Microgra a, ou algumas descrições siológicas de pequenos corpos, feitas
com lentes de aumento, com observações e investigações sobre os mesmos". Suas imagens são
impressionantes, ricas em detalhes.
Microscópio utilizado por Robert Hooke e desenho de uma pulga a partir de suas observações. | Fonte: Adaptado de Hooke (1664, p. 210-211)
A descoberta mais importante de Hooke, com certeza, veio das suas observações com cortiças que ele
preparava em nas camadas.

Com o microscópio, ele as descreveu como se fossem favos de uma colmeia, uma estrutura repleta de
alvéolos vazios. Na verdade, a cortiça é um tecido de revestimento formado por estruturas já mortas.

Ele denominou cada alvéolo de cell (em inglês), ou cela. Dizemos que foi o primeiro registro de uma
célula vista no microscópio.
Desenho de Hooke sobre sua observação que levou ao termo “cell”.| Fonte: Wikipedia
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Cork_Micrographia_Hooke.png>
Apesar dessas descrições, as funções dos micro-organismos e o que eles faziam no planeta
caram adormecidas por muitos anos. No entanto, na segunda metade do século XIX,
algumas questões sobre a geração espontânea e a natureza das doenças infecciosas deram
um novo impulso à microbiologia.

Na época, muitos cientistas e lósofos acreditavam que algumas formas de vida poderiam surgir
espontaneamente da matéria morta e do solo úmido com estrume de vacas. Por outro lado, alguns
cientistas, como Leeuwenhoek e o italiano Francesco Redi, já excluíam essa possibilidade.

 Fonte: Wikipedia
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Francesco_Redi#/media/File:Francesco_Redi.jpg>
.

 1668
Redi divulgou um estudo no qual a rmava ser impossível surgir vida
a partir de matéria inanimada.
Sua experiência cou famosa.

Vamos conhecer?
Experiência de Redi 6
Vidros com carne

 Experiência de Redi com frascos contendo alimentos cobertos com gaze. | Produzido pelo aluno Borck.
Separou seis frascos, colocando em cada um vários pedaços de carne de boi e de peixe.

Com uma gaze na, cobriu três frascos, deixando o restante aberto, e cou observando o que
ocorria com o passar das horas.

O cientista percebeu que os frascos com gaze mantinham os pedaços de carne frescos, ou melhor,
sem nenhuma larva sobre as carnes, mas os frascos descobertos começaram a apresentar larvas.
Se a teoria da abiogênese a rmava que vidas poderiam surgir espontaneamente de matérias, por
que então não surgiram larvas nos dois frascos? Sabe onde as larvas apareceram?

Nas gazes, onde havia depósitos de ovos e larvas.

Comentário

Mesmo assim, a teoria da geração espontânea continuou forte. Anos depois, o inglês John Needham
a rmou que, depois de aquecer um caldo nutriente (como um caldo de galinha ou de milho) e deixá-lo
esfriar, logo surgiam micro-organismos espontaneamente. Se deixarmos qualquer frasco com o mínimo
de nutrientes em contato com o ar, sabemos que os micro-organismos do ar se depositam e
contaminam. Óbvio? Nem tanto. Já pensou nas condições de estudo na época? Nos instrumentos que
eles tinham à disposição? Quando os defensores da geração espontânea eram questionados sobre o
fato de os frascos fechados não terem bichos, eles argumentavam que, nesses frascos fechados, não
existia a mesma quantidade de força vital que havia nos abertos. Por isso, nada cresceria. O que eles
chamavam de força vital é oxigênio.

Pasteur, um divisor de águas no estudo da


microbiologia

 Fonte: Wikipedia
<https://es.wikipedia.org/wiki/Cient%C3%ADfico#/media/File:Louis_Pasteur,_foto_av_Paul_Nadar.jpg>
.
Ao entrar na discussão sobre geração espontânea, Louis Pasteur 7 ,
cientista já renomado na época, mudou os rumos dela
completamente. Você vai entender que a sua experiência foi tão
bem planejada que todos à época a aceitaram.
Experiência com frasco em forma de pescoço de cisne

 Resumo da experiência de Pasteur.


Transferiu caldos nutritivos em dois frascos e os aqueceu até a ebulição>> Pensava assim que
todos os micro-organismos presentes no caldo estariam mortos pelo calor.

Deformou o gargalo de um dos frascos, que cou alongado e curvo como um S 8.

Deixou os dois frascos (o da forma de gargalo em S e o outro com gargalo normal) em repouso
para tentar observar neles algum vestígio de contaminação.

Enquanto o frasco com gargalo de cisne mantinha o caldo com aspecto límpido, o outro frasco,
aquele da abertura com acesso mais fácil ao ambiente, já apresentava sinais de contaminação
com seu caldo opaco.
Para provar que os micro-organismos do ambiente eram os responsáveis por essa
contaminação, ele quebrou a ponta do frasco em forma de pescoço de cisne e também
observou que, depois de algum tempo, ele cava contaminado como o outro frasco.

Ficou difícil manter a teoria da geração espontânea depois de uma


experiência controlada como essa, não é?
Pasteur conseguiu demonstrar a presença de micro-organismos no ambiente como o fator
responsável pela vida no caldo, provando que nada poderia surgir espontaneamente. A
teoria da abiogênese foi nalmente derrubada.

Saiba mais

A vida pro ssional de Louis Pasteur foi repleta de descobertas e inovações. Ele identi cou a
fermentação de leveduras em cervejas e vinhos, padronizou o método de esterilização chamado
pasteurização e descobriu vacinas. Entre 1880 e 1890, ele produziu as vacinas contra antraz, cólera e
raiva.
Leia o texto Vacina: sua relação com o verão e as vacas <galeria/aula1/pdf/vacina.pdf> , e conheça
sobre o início dos estudos da vacina contra cólera, é bem divertido e vale a pena ser contado.
 Fonte: Pixabay <https://pixabay.com/pt/illustrations/v%C3%ADrus-doen%C3%A7a-bact%C3%A9rias-gripe-3949207/>

A Teoria dos Germes: como curar inoculando

 Fonte: Wikipedia
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Koch#/media/File:Robert_Koch_BeW.jpg>
.

Médico alemão Robert Koch, dedicou a sua vida para identi car a
presença de micro-organismos no sangue e correlaciona-los com a
manifestação da doença.
Para Kock, muitas vezes permanecia a dúvida:

Estaria ele observando no microscópio realmente o responsável por


aquela doença?

Por isso, o médico programou uma série de experiências que resultaram na Teoria dos Germes e nos
Postulados de Koch, que, em 1874, utilizavam a bactéria antraz.
Teoria dos Germes

Inoculava em um camundongo sadio o sangue de um animal doente e observava se esse animal


desenvolvia os mesmos sintomas do outro animal. Ele repetiria o experimento com vários animais.

Havia um detalhe, no entanto, que fazia toda a diferença: nessa época, Koch já utilizava meios de
crescimento em placa para observar o crescimento de colônias microbianas.

Ele coletava o sangue desses animais e os colocava nos chamados meios seletivos, ou seja, meios que
contêm substâncias que permitem o crescimento do organismo da doença, mas não de outros que
podem estar presentes.

Seus trabalhos provocaram uma evolução tão grande na área porque Koch foi capaz de
identi car o Mycobacterium tuberculosis, que provoca a tuberculose, e o Vibrio cholerae
(cólera), entre outros micro-organismos. A sua Teoria do Germe deu origem à microbiologia
médica pela enorme importância dos seus resultados.
Apesar de os postulados de Koch serem considerados extremamente valiosos, hoje sabemos que
existem micro-organismos que não crescem em culturas de laboratório e que podemos ter o modelo
animal da doença humana. No entanto, felizmente houve avanços em novas técnicas de identi cação
molecular, o que auxiliou muito nessas descobertas.

 Fonte: Pixabay <https://pixabay.com/pt/illustrations/dna-material-gen%C3%A9tico-h%C3%A9lice-3539309/>

DNA e nanotecnologia: a microbiologia do (já


presente) futuro
A partir do século XX, houve o surgimento da microbiologia ambiental e industrial com suas bactérias
xadoras de nitrogênio no solo (Azotobacter) e os lactobacilos nos alimentos probióticos.
Navegue nas datas abaixo.

Clique nos botões para ver as informações.

 1900 

Graças a estudos com bactérias, o microbiologista e botânico


Martinus Beijerinck percebeu a presença de um patógeno em
ltrados de folhas de tabaco.

O microbiologista e botânico Martinus Beijerinck, percebeu a


presença de um patógeno em ltrados de folhas de tabaco.E o
que ele a rmava “tratar-se de um organismo muito pequeno,
ltrável e de difícil identi cação presente no interior das células”
era, na verdade, um vírus.

Fonte: Wikipedia
 1950 

Watson e Crick mudaram totalmente a concepção de vida com a


identi cação da estrutura de DNA.

Fonte: Wikipedia
<https://wikipedia.com>

 1960 

Graças a estudos com bactérias, o microbiologista e botânico Martinus Beijerinck percebeu a


presença de um patógeno em ltrados de folhas de tabaco.

O microbiologista e botânico Martinus Beijerinck, percebeu a presença de um patógeno em


ltrados de folhas de tabaco.E o que ele a rmava “tratar-se de um organismo muito pequeno,
ltrável e de difícil identi cação presente no interior das células” era, na verdade, um vírus.

Comentário

Após 300 anos de estudo, a microbiologia nos fornece inúmeras ferramentas para que possamos
controlar epidemias e o próprio planeta. Exemplos temos muitos: desde a biorremediação, que é o uso
de bactérias para recuperar águas contaminadas por petróleo e solos com herbicidas, até a alça
microbiana. A teoria sobre a alça foi descoberta há poucas décadas: as bactérias nos sedimentos
marinhos promovem o uxo de carbono para as cadeias tró cas superiores. Dessa forma, elas mantêm
a química do planeta. Fantástico, não acha?
Atividade
1) (Unirio - RJ) Lineu, em 1735, publicou um trabalho no qual apresentava um plano para classi cação
de seres vivos. Nele, estavam propostos o emprego de palavras latinas e o uso de categorias de
classi cação hierarquizadas. Deve-se também a Lineu a regra de nomenclatura binominal para
identi car cada organismo. Nessa regra, entre outras recomendações, ca estabelecido que devemos
escrever:

a) em primeiro lugar o gênero, depois a família.


b) em primeiro lugar o gênero, depois a espécie.
c) em primeiro lugar a espécie, depois o gênero.
d) em primeiro lugar a espécie, depois o filo.
e) em qualquer sequência, gênero e filo.

2) Apesar da visualização dos animáculos e das experiências de cientistas como Redi, muitos
pesquisadores na época acreditavam que micro-organismos poderiam surgir de material não vivo. Um
deles é Needham, considerado um defensor da geração espontânea. Ele provou que, em caldos fervidos
(e, portanto, estéreis), cresciam micro-organismos. Explique qual foi o erro da sua experiência que o fez
acreditar que micro-organismos cresceriam de caldos nutritivos fervidos?

3) Depois de vários testes, Louis Pasteur pôde nalmente comprovar que não existiam formas de vida
pequenas a partir de matérias não vivas. Explique qual foi a parte da experiência de Pasteur que,
comparada a outros cientistas, excluiu a ideia de geração espontânea?

Notas

Vírus 1

Ao contrário dos demais microrganismos, não são células, embora estejam incluídos nesse grupo pela
sua dimensão.

Existem algumas exceções. Megavirus, Mimivirus e Pandoravirus podem ser vistos no microscópio
óptico. Isso mesmo: o Mimivirus identi cado em 2003 é chamado de vírus gigante. Por que será? De
qualquer forma, esses tipos de vírus estão presentes na água doce e nos mares do Chile e Austrália.
Como infectam amebas, não discutiremos muito sobre eles.
Diagnóstico 2

Muitos testes de diagnóstico utilizam a proteína de superfície desses micro-organismos: o


conhecimento da sua sequência permite que eles sejam sintetizados em laboratório.

Carolus Linneaus 3

Considerado o pai da taxonomia, parte da ciência que dá os nomes e classi ca os seres vivos. Apesar
de ter também agrupado matérias não vivas, como os minerais, a taxonomia hoje em dia só é utilizada
para os seres vivos.

Peste Negra 4

A peste negra também foi chamada peste bubônica por provocar inchaços ou bulbos nas glândulas
linfáticas. Ela assolou a Europa no século XIV, mas teve início na China, um país dominante nas
transações comerciais da época. De lá, essa doença foi capaz de alcançar o velho continente. Como a
Europa da Idade Média poderia explicar a origem de algo tão devastador? Sob forte in uência católica, a
população entendeu a doença como um castigo divino. Existem relatos da época relacionando a
passagem do cometa Halley à má sorte e ao início dessa epidemia.

Objetos 5

Nero, inclusive, a utilizava para assistir aos combates dos gladiadores.

Experiência de Redi 6

As conclusões de Redi vieram de um experimento controlado. Na ciência, toda experiência deve ter
controles para eliminar a presença de outras variáveis. A presença da gaze foi o seu controle.

Louis Pasteur 7
Foi um gigante para a microbiologia. Atuou principalmente como químico e microbiologista. Conta a
história que uma vez Pasteur foi convidado por industriais para explicar as di culdades com a produção
de álcool durante a fermentação de beterrabas. Ele começou a estudar a fermentação alcoólica,
identi cando que o álcool só poderia ser produzido por um organismo. A partir disso, Pasteur foi um
oponente poderoso da geração espontânea. O cientista explicou que seres microscópicos estavam no
ambiente e, ao se depositarem, cresciam e estragavam os alimentos.

S8

Ganhando o nome de pescoço de cisne para assim controlar a entrada de micro-organismos do


ambiente.

Leia mais

O comerciante também divulgou o que via em células do sangue, bras musculares, espermatozoides e
bactérias. Anton van Leeuwenhoek também a rmou que carunchos (inseto da família do cupim e do
besouro) não surgiam espontaneamente a partir de grãos de trigo, mas se desenvolviam a partir de
ovos diminutos. Essa observação é um marco para o início do movimento contra a geração espontânea
que vamos ver um pouco mais adiante.

Referências

MADIGAN, M. T.; MARTINKO, J. M.; BENDER, K. S.; B., D. H.; STAHL, D. A. Microbiologia de Brock. Porto
Alegre: Artmed, 2016.

TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

Próximos aula

Aparecimento do nosso planeta;

Teorias para o surgimento da célula comum ancestral;

Seres procariotos e eucariotos;

Classi cação de um ser vivo.


Explore mais

Biorremediação <https://www.youtube.com/watch?v=U11VKFTpO_Q>

Biotecnologia marinha <https://www.youtube.com/watch?v=-9aTWJ7C95c>


Disciplina: Microbiologia e Imunologia

Aula 2: A importância da diversidade microbiana para o


planeta
Apresentação

Nesta aula, os eventos que deram origem ao planeta serão o ponto de partida para conhecer a
evolução dos primeirosmodelos de células. Mesmo não sendo possível obter um modelo dedigno
dessa era, os estudos de sequenciamento de RNA ribossômico sugerem que o último ancestral
comum (designado pela sigla LUCA - last universal common ancestor) era um procarionte anaeróbio
de ambiente marinho.

Em referência aos estudos genômicos, apresentaremos as principais teorias e divergências


evolutivas que deram origem aos três domínios de vida e nos zeram constatar que, no planeta,
todos os seres vivos possuem células, material genético para replicação e um metabolismo próprio
para manutenção das reações químicas. Além disso, hoje sabemos que todos possuem ancestrais
com os mesmos genes básicos, em especial o sistema de membrana para geração de ATP.

Os conhecimentos adquiridos com os domínios archaea, bacteria e eukarya e a recente participação


dos vírus como agentes propulsores da evolução ampliam as funções dos estudos em
microbiologia nos campos ambiental, industrial e clínico.

Objetivos

Apresentar a origem do planeta e o último ancestral comum (LUCA);

De nir as principais características de bactéria e eukarya;

Analisar as origens dos primeiros seres aeróbios e dos vírus no planeta.


As origens da vida na Terra
A origem da Terra data de
4,5
bilhões de anos

Inúmeros estudos que explicam a origem do planeta descrevem que tudo começou a partir de uma
poeira nebulosa e dos gases liberados por uma estrela supernova originada a partir da explosão de uma
estrela antiga. O sol teve origem no centro dessa nuvem: compactado, ele libertaria enorme quantidade
de luz e energia através de ssão nuclear.

Os materiais que permaneceram nessa nuvem começaram a se agregar graças às inúmeras colisões e
também à própria atração gravitacional, aumentando, assim, o volume original dos planetas do sistema
solar. Na Terra, a energia liberada durante esse processo transformou inicialmente o planeta em uma
massa de magma extremamente quente, que ainda receberia massas vindas do espaço. Esse ambiente
inóspito deve ter durado 500 milhões de anos.

Para muitos, o nosso planeta deveria se chamar água devido à


abundância de rios, mares e oceanos vistos em imagens de satélites.

Mas como surgiu a água na Terra?

As colisões de cometas e asteroides glaciais com os gases vulcânicos vindos do interior do planeta
geraram, conforme o esperado, muitos vapores, mas esse fenômeno constante acabou gerando um
esfriamento da superfície terrestre.

Depois de um longo período, nalmente a condensação desse vapor d´água transformou o acúmulo de
água em dois oceanos primitivos, algo em torno de 4,4 a 4,3 bilhões de anos.

Essas evidências começaram a surgir a partir de estudos com microfósseis encontrados no Canadá e
na Austrália. Rochas com idades entre 3,5 e 3,7 bilhões de anos contêm formações microbianas
denominadas estromatólitos 1. Para garantir que se trata de microfósseis, são procurados nessas
rochas traços das seguintes matérias orgânicas preservadas:

Gra te

Carbonato

Apatita
 Microfósseis analisados em rochas no Canadá explicam a origem da vida no planeta. | Fonte: National Geographic
<https://www.nationalgeographic.com.es/ciencia/actualidad/indicios-vida-microbiana-unas-rocas-australia-hace-3480-millones-anos_11497> / CNN
<https://edition.cnn.com/videos/world/2017/03/01/earths-oldest-fossils.cnn>
Fonte: Pixabay

Primeira hipótese
O início da vida no planeta ocorreu no leito do fundo dos oceanos, em fendas bem abaixo da superfície
recobertas com ferro e outros compostos catalíticos localizados em fontes hidrotermais. Em contato
com as águas frias dos oceanos, essas superfícies formaram precipitados 2 que funcionariam como
catalisadores para a formação de ligações. Essas ligações originaram:

Aminoácidos

Peptídeos simples

Açúcares

Bases nigtrogenadas

Atenção

Segundo estudos na área, graças ao aparecimento de fosfatos, foram formados os nucleotídeos e, em


seguida, o RNA, cuja atividade enzimática é a ribozima. O mundo de nitivamente começou com RNA.
Uma das hipóteses é que o primeiro esboço de células teria sido formado com montmorillonita, um tipo
de argila bem comum na Terra primitiva. Isso deu origem a vesículas que aumentariam de tamanho
incorporando o RNA e outros compostos.

Fonte: Pixabay
Segunda hipótese
Sugere que a primeira célula autorreplicante teria surgido nas bacias marinhas mais rasas a partir de
um caldo primordial rico em compostos orgânicos e inorgânicos.

A única dúvida para atestar essa hipótese é que a superfície da Terra nesse período era constantemente
bombardeada por meteoros, apresentando muitas utuações na temperatura com essas tempestades.
Como esse ambiente poderia manter o modelo de célula?

MAS COMO SERIA ESSA BACTÉRIA PRIMITIVA?


 Fonte: Wikipedia <https://cs.wikipedia.org/wiki/Sinice#/media/File:Nostoc.jpg>

Inicialmente, você precisa saber que o oxigênio surgiu no planeta somente depois da evolução da
fotossíntese oxigênica (fotossíntese formadora de oxigênio) com as cianobactérias 3. Portanto, o
metabolismo seria totalmente anaeróbio, sem a participação de oxigênio.

Os cientistas acreditam que essa célula (LUCA) teria surgido há 4,25 bilhões de anos nos ventos
quentes hidrotermais do nordeste do Oceano Pací co  como uma célula anaeróbica e autótrofa 4. Ela
dependia de hidrogênio, dióxido de carbono (CO2) e nitrogênio para formar compostos orgânicos, como
amônia.

Teoria LUCA
Em 1984, o biólogo evolucionista Jim Lake (Universidade
da Califórnia, em Los Angeles) propôs uma árvore de dois
domínios.

Ela começou com LUCA para depois se rami car em


bactéria e archea. Mais adiante, surgiriam as eukaryotas.

Décadas depois, essa teoria ganhou força pelas mãos do


biologista molecular William Martin, da Universidade de
Newcastle, no Reino Unido.  Sistema de classificação em três domínios.

O dois biólogos publicaram na Nature Microbiology em


2016 um estudo do sequenciamento de genes em arqueas
presentes nos ventos termais marítimos cujas condições
de vida estariam mais próximas da ancestral LUCA 5.
Antes de falar de cada componente, vamos entender os dois tipos de célula?

Tipos de células

 Estruturas presentes em uma célula procariota e eucariota. / Fonte: Wikipedia <https://en.wikipedia.org/wiki/Cell_(biology)#/media/File:Celltypes.svg>

Eucariota Procariota 6

Mais complexo e evoluído, ele surgiu depois do Ser vivo estruturalmente mais simples, pois não
procarioto. possui organelas com membranas.

Uma de suas principais características é uma O material genético é processado diretamente no


região denominada núcleo, onde está o DNA, uma citoplasma; portanto, a replicação e a síntese de
molécula linear bem maior e mais complexa do RNA e de proteínas ocorrem no mesmo local 7.
que em procariotos. Possui várias funções
O seu DNA é um cromossomo pequeno,
especí cas comandadas por organelas. Exemplo:
condensado e circular chamado nucleoide. Vários
mitocôndrias e cloroplastos.
procariotos possuem um DNA extracromossomial
Modelos de eucarioto: denominado plasmídeo. Eles utilizam a
membrana plasmática para gerar energia.
Algas;
Modelos de procarioto:
Fungos;
Bactéria;
Protistas;
Arquea.
Plantas;

Animais.
 Fonte: Freepik <https://www.freepik.com/free-photo/3d-abstract-medical-background-with-virus-cells-dna-strands_4007390.htm>

Domínios eukarya, bactéria e archaea


Na evolução do planeta, os eucariotos surgiram há 2 bilhões de anos depois do aumento do oxigênio no
planeta com o surgimento de micro-organismos aeróbios. Esse surgimento ocorreu pela incorporação 8
de uma bactéria que realizava o metabolismo aeróbio, dando origem à mitocôndria nas células
animais. Nas plantas, houve a endossimbiose de uma cianobactéria fotossintética.

Comentário

A prova disso é que tanto a mitocôndria como o cloroplasto possuem DNA circular próprio e
ribossomos. São provas indiscutíveis de que eles foram seres vivos. O mais interessante é que alguns
antibióticos que atuam em bactérias livres acabam atacando também a mitocôndria.

Em resumo, todos os seres eucariotos surgiram no planeta de uma célula quimera:


combinação de célula com característica de bactéria e archaea.

Vamos ver agora quais são essas características:

Bactéria
 Fonte: Freepik <https://pixabay.com/pt/illustrations/bact%C3%A9rias-m%C3%A9dica-biologia-sa%C3%BAde-3662695/>

Em destaque, há a presença de uma estrutura externa formada por carboidratos e peptídeos


denominada parede celular.
Clique nos botões para ver as informações.

Distribuição 

Há nas mais variadas formas:

Organização 

Outro tipo de agrupamento dependendo do gênero e da espécie.

Nutrição 

Provém de compostos produzidos por organismos vivos ou mortos, embora bactérias também
produzam a sua fonte de energia (fotossintéticas).

Reprodução 

Ocorre por divisão de uma célula em duas iguais ( ssão binária).


Filos 

Este domínio agrupa 16 los de acordo com:


Tipo de fonte de carbono;

Tipo de energia;

Faixa de pH ótima para crescimento;

Temperatura.

Gram-negativas 

De todos os seus los, destacam-se as proteobactérias, bactérias com uma enorme diversidade
morfológica e metabólica.

Muitas proteobactérias possuem importância médica: exemplares dos gêneros entérica,


Escherichia, Salmonella e Enterobacter estão associados a infecções intestinais bacterianas. A
mitocôndria – lembre-se da endossimbiose - surgiu a partir de uma proteobactéria,
especi camente de um tipo semelhante à atual Riquétsia (bactéria parasita intracelular).

Incluem-se também nesse lo bactérias importantes do solo, como Azotobacter ( xadoras de


nitrogênio) e Nitrosomonas (oxidam amônia).

 Salmonella, exemplo de proteobactéria | Fonte: Wikipedia <https://pt.wikipedia.org/wiki/Salmonella#/media/File:SalmonellaNIAID.jpg>


Gram-positivas 

Agrupam bactérias dos gêneros Staphylococcus, Streptococcus, Mycobacterium e Clostridium.


Elas são responsáveis por:
Infecções de pele;

Orofaringe;

Tuberculose;

Tétano;

Outras infecções.

Comentário

Os los cianobactérias e procloró tas são responsáveis pela síntese de oxigênio na Terra. Já bactérias
hipertermó las de rami cação precoce são capazes de crescer em temperaturas de 90°C.

Archaea
 Fonte: Wikipedia <https://en.wikipedia.org/wiki/Bacteria#/media/File:EscherichiaColi_NIAID.jpg>

Bactéria altamente especializada em resistir a temperaturas altas ou muito baixas nos ambientes com
concentrações elevadas de sal e valores extremos de pH. Sua capacidade de adaptação evita a
desnaturação das suas proteínas e impede o rompimento celular.

As bactérias hipertermó las 9 estão localizadas


em fontes termais ricas em enxofre e fendas
termais de águas profundas.

Exemplo

Pyrococcus furiosus (uma hipertermó la do lo Euryarchaeota) possui a temperatura ótima de


crescimento em 100°C. Já o lo Crenarchaeota contém arqueas que vivem tanto em água fervente
como em ponto de congelamento, embora a maioria permaneça em ambientes com temperaturas de
80°C.

 Águas termais são locais abundantes para arqueas resistentes a altas


temperaturas. | Fonte: Wikipedia
<https://en.wikipedia.org/wiki/Archaea#/media/File:Grand_prismatic_spring.jpg>

Eukarya
 Fonte: Pixabay <https://pixabay.com/pt/illustrations/v%C3%ADrus-microsc%C3%B3pio-infec%C3%A7%C3%A3o-doen%C3%A7a-4030721/>

Possui enorme diversidade de organismos. Sua relação logenética foi construída com base no RNA
ribossômico (rRNA), que, em eucariotos, é altamente conservado e mantém relações com os outros
domínios. O registro logenético do domínio eukarya data de 2 bilhões de anos, quando ocorreu o maior
acúmulo de oxigênio na atmosfera e a camada de ozônio permitiu o aumento do número de habitats
 disponíveis para a colonização.

Nas últimas décadas, os estudos de ecologia microbiana molecular evidenciaram que a maioria dos
micro-organismos presentes em um habitat jamais foi cultivado. A evolução de técnicas de
identi cação de sequências genômicas permite criar chips de 1 a 2 centímetros disponíveis para análise
de amostras de DNA de vários organismos. Esses microarranjos se compõem, na verdade, de 5.000 a
6.000 genes que podem hibridizar com amostras-teste e veri car a presença de determinado gene.

 Árvore filogenética do domínio Eukarya. | Fonte: Wikipedia


<https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81rvore_filogen%C3%A9tica#/media/File:Phylogenetic_tree_pt.svg>
Vamos ver alguns desses:

Algas e fungos

Coletivamente, os eucariotos microbianos –


produtores primários - são chamados de
protistas. Alguns são fototró cos 10, como as
algas, que contêm cloroplastos e vivem em
ambientes com poucos minerais.

 Fungo aquático | Fonte: Wikipedia Já os fungos, que não possuem pigmentos


<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Young_Aquatic_fungus_champignonAquatique_%C3%A0_lamelles_Moyenne-
De%C3%BBle_2015_05_34_F.Lamiot.jpg> 11
fotossintetizadores , apresentam-se como
unicelulares ou lamentosos.

Atenção

As algas e os fungos possuem parede celular; os protozoários, não. Móveis e agelados, os


protozoários surgiram em uma rami cação precoce na árvore Eukarya. Eles vivem em ambientes
aquáticos - e vários são patógenos 12 para o homem e outros animais.

Bolores ou mofos limosos


Trata-se de outra informação importante em
termos de evolução. Eles foram os primeiros
protistas a se agruparem para cooperação celular
num esboço de estruturas multicelulares.

Suas células se reúnem, formando uma estrutura


 Physarum psittacinum. | Fonte: Wikipedia multicelular chamada de corpo de fruti cação. Os
<https://en.wikipedia.org/wiki/Physarum#/media/File:Physarum_psittacinum124.jpg>

esporos saem a partir desse corpo.


Liquens
Estruturas formadas por fungos associados a
outros organismos.

De aparência semelhante a folhas, os liquens


crescem sobre rochas, folhas e árvores.

 Líquen sobre um tronco de árvore. | Fonte: Wikipedia Atuam em mutualismo com outros seres
<https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADquen#/media/File:Parasita_na_arvore_050806_REFON_2.jpg>
fototró cos, como algas ou cianobactérias
(produtores primários). Esses seres dão a cor ao
líquen por possuírem compostos carotenoides. Já
o fungo confere proteção ao sistema.

Vírus

Muitos autores excluem a apresentação dos vírus


nesta grupo, mas todos os seres vivos são
parasitados por eles. Segundo essa ótica,
devemos entender e aceitar a sua participação.

 Vírus | Fonte: Pixabay


<https://pixabay.com/pt/illustrations/v%C3%ADrus-microsc%C3%B3pio-
infec%C3%A7%C3%A3o-doen%C3%A7a-1812092/>
Mas, a nal, qual é a origem dos vírus no planeta?

Apesar de haver uma certa lógica em sua exclusão da evolução dos domínios – vírus não são
considerados formas de vida 13. E isso é o ponto de saída da virologia molecular para estudar os traços
evolutivos dos vírus.

Há três hipóteses para a origem dos vírus:

Progressiva ou escape: Os vírus surgiram de elementos genéticos que ganharam capacidade de


se mover entre células;

Regressiva ou de redução: Os vírus são remanescentes de organismos celulares, hipótese


ilustrada com exemplares grandes, como o Mimivirus 14  e o vírus da varíola humana;

Coevolução dos vírus com os seus hospedeiros naturais;

Duas hipóteses (progressiva e regressiva) a rmam que os vírus surgiram depois das células. Será
mesmo? Não tenha certeza disso. Alguns estudos genéticos têm mostrado que os vírus existiram em
um mundo pré-celular como unidades de autorreplicação e que eram mais complexos e organizados.
Como já aprendemos que existiram moléculas de RNA com atividade enzimática no mundo pré-celular,
talvez essas moléculas tivessem a capacidade de infectar as primeiras células.

Comentário

Em 2001, Takemura e seus colaboradores estudaram a pressão evolutiva dos vírus nas células
procariotas. Os estudiosos a rmaram que vírus grandes de genoma DNA entraram em células
procariotas por um evento de endossimbiose, tornando-se permanentes na célula e impulsionando a
formação de um núcleo primitivo.

Independentemente das teorias, a virologia é um campo de estudos fascinante que nos faz cada vez
mais acreditar que o conceito simplista de vírus como entidade parasitária não corresponde ao seu
papel no planeta.

Atividade
1. Caracterize metabolicamente o último ancestral comum (LUCA).
2. Assinale as opções que representam os três domínios de vida:

a) Procarioto, Bactéria e Eucarioto


b) Eukarya, Batéria e Archeae
c) Eucarioto, Archeae e Procarioto
d) Bactéria, Eucarya e Procarioto

3. Qual a hipótese para a formação de uma organela geradora de energia?

4. Qual a hipótese para o aparecimento dos vírus no planeta?

Notas

Estromatólitos 1

Massas microbianas fossilizadas.

Precipitados 2

Contendo magnésio, sulfetos de ferro e níquel.

Cianobactérias 3

Trata-se, portanto, de células - e isso nos faz compreender que não foram as cianobactérias os
primeiros seres vivos como até então se supunha.

Autótrofa 4

Seres vivos que produzem seu próprio alimento.


Ancestral Luca 5

Em resumo, eles chegaram a identi car 355 genes ancestrais, mostrando que bactérias e arqueas são
derivadas logeneticamente da LUCA e que, depois, surgiu um novo ramo, de onde derivavam os
eucariotos.

Procariota 6

Procarioto vem de uma palavra grega que signi ca pré-núcleo.

Mesmo local 7

Diferentemente dos eucariotos, onde a replicação e a transcrição acontecem no núcleo e a tradução, no


citoplasma.

Incorporação 8

Um processo chamado de endossimbiose.

Hipertermó las 9

Organismo que sobrevive em temperaturas extremamente altas, acima de 60°C.

Fototró cos 10

Utilizam a luz para as suas necessidades energéticas.

Fotossintetizadores 11
A importância deles na reciclagem de matéria orgânica é signi cativa: fungos, que se nutrem de matéria
em decomposição,são os principais agentes de biodegradação na natureza.

Patógenos 12

Organismos capazes de causar doenças em seu hospedeiro.

Vida 13

Vírus comportam-se como tal dentro de células durante a replicação do seu genoma.

Mimivirus 14

O Mimivirus é um vírus gigante, volumoso, com genoma de 1,2 milhão de pares de base e que não
demonstra ser totalmente dependente da célula hospedeira para se replicar. Alguns virologistas
a rmam que ele seria um descendente de ancestrais mais complexos.
 Mimivirus, vírus de genoma DNA cujo ancestral foi responsável pela pressão evolutiva de células eucariotas. | Fonte: Wikipedia
Referências
<https://en.wikipedia.org/wiki/Mimivirus#/media/File:Mimivirus_svg.svg>

CARDOSO, A. M. et al. Archaea: potencial biotecnológico. In: Revista biotecnologia ciência e


desenvolvimento. n. 30. jan./jun. 2003. Acesso em:
https://www.arca. ocruz.br/bitstream/icict/12137/2/Biotec%20Cienc%20Desenv_30.pdf. Acesso em: 20
fev. 2019.

JEREW, B. Synthetic fuel from carbon dioxide by tweaking 'Pyrococcus Furiosus' bacteria. In: The green
optimistic. 28 mar. 2013. Disponível em: https://www.greenoptimistic.com/synthetic-fuel-pyrococcus-
furiosus-20130328/#.XG1IROhKgdV. Acesso em: 20 fev. 2019.

WEISS, M. C. et al. The physiology and habitat of the last universal common ancestor. In: Nature
microbiology. v. 1. 25 jul. 2016. Disponível em: https://www.nature.com/articles/nmicrobiol2016116.
Acesso em: 20 fev. 2019.

WESSNER, D. R. The origins of viruses. In: Nature education. v. 3. n. 9. Disponível em:


https://www.nature.com/scitable/topicpage/the-origins-of-viruses-14398218. Acesso em: 20 fev. 2019.

Próxima aula

Formas das células procariotas nos vários ambientes do planeta;

Bases siológicas das estruturas de procariotos;

Vírus e morfologia viral.

Explore mais
Estudos da origem da vida no planeta – microfósseis
<http://www.enigmasdouniverso.com/cientistas-encontraram-evidencias-mais-antigas-de-vida-na-
terra-na-australia/>

Paramecium caudatum  <https://www.youtube.com/watch?v=jctNl30Cv_I>


Disciplina: Microbiologia e Imunologia

Aula 3: Morfologia microbiana


Apresentação

Nesta aula, descreveremos as estruturas comuns nas células procariotas.  


Muitas funções provavelmente já foram estudadas nas células humanas, mas agora o objetivo
principal é demonstrar que algumas estruturas vitais surgiram há bilhões de anos em processos
evolutivos que deram origem aos três domínios da vida.

Objetivos

Explicar as formas das células procariotas nos vários ambientes do planeta;

Reconhecer as bases siológicas das estruturas de procariotos;

De nir vírus e morfologia viral.


Morfologia das células

Quais são as formas das células procariotas?

Será que sua forma é capaz de in uenciar a divisão ou captação de nutrientes?

Quantas estruturas essenciais são necessárias nesse tipo de célula?

Essas perguntas são lançadas para que, no decorrer da aula, você possa associar os processos
seletivos para evolução dos seres vivos.

Estrutura da célula bacteriana. (Fonte: Shutterstock)

Observe na gura quantas estruturas estão presentes em uma bactéria típica. Repare também que
algumas dessas estruturas (presentes nas células humanas, como as mitocôndrias) estão ausentes.

Isso ocorre porque este modelo é uma versão mais simples de célula, embora todas as suas estruturas
satisfaçam completamente as suas adaptações nos mais variados ambientes.

Os estudos com bactérias têm fornecido há décadas informações sobre controle da


expressão gênica, além do potencial biotecnológico, geoquímico e de biorremediações.

Vamos conhecer suas características estruturais?


 (Fonte: Shutterstock)

Forma celular

Existem alguns padrões típicos:

Coco Bacilo
Forma ovalada ou esférica. Mais achatada, parecendo um cilindro

Espirilo
Mais comprida e torcida em um eixo central
Organização

Após se dividirem, muitas bactérias se mantêm organizadas em arranjos ou agrupamentos. Elas podem
formar:

Bacteria Neisseria gonorrhoeae. (Fonte: Shutterstock)

Diplococos (duplas)

Streptococcus pyogenes. (Fonte: Shutterstock)

Longas cadeias

Staphylococcus aureus. (Fonte: Shutterstock)

Cachos

Em alguns casos, esses agrupamentos podem apresentar uma forma geométrica, um cubo
tridimensional composto de oito (Sarcina) ou quatro bactérias (Tétrade).

Morfologia de algumas bactérias patogênicas ao homem


Morfologia de algumas bactérias patogênicas ao homem. (Fonte: Shutterstock)

Existe alguma lógica por trás dessas formas celulares?


Sim. Suas diversas formas in uenciam, por exemplo, na captura de nutrientes, no tipo de deslocamento
1 etc.

Tamanho da célula
É da ordem de micrômetros.

1 0,001
micrômetro
= centímetro

As bactérias 2 apresentam de

0,2 a 700
micrômetros

Mas a forma in uencia na captura de nutrientes?


Se pensarmos que uma célula pequena possui uma maior área super cial em relação ao seu volume
interno, sim. Ela pode trocar muitos nutrientes pela superfície.
E, se capturam muitos nutrientes, bactérias pequenas podem crescer mais rápido. Elas se dividem mais
e replicam mais vezes o seu DNA 3, podendo favorecer o aparecimento de mutações 4.

Membrana Citoplasmática

De aparência oleosa - e não uida, como se pensava antes -, a membrana serve para
garantir a barreira de permeabilidade e ancorar muitas proteínas de transporte e
reações enzimáticas.

 Dentro da membrana celular (citoplasma) (Fonte: Shutterstock)


Toda membrana citoplasmática é uma estrutura delgada com características:

Hidrofílica: Dupla camada de fosfolipídios voltada para os meios internos e externos em contato
com o solvente;

Hidrofóbica: No interior da dupla camada, pela presença de ácidos graxos.

As moléculas pequenas e hidrofóbicas atravessam com facilidade a membrana por simples difusão,
mas, se forem maiores e com carga (polares), elas precisarão do auxílio de proteínas transportadores.
Essas proteínas são transmembrana: atravessam os dois lados da membrana para transportar íons e
substâncias de várias maneiras (observe a gura).

(Fonte: Shutterstock)

Há três tipos de transporte:

1 Uniporte: Substância levada em um único sentido;

2 Antiporte: Duas moléculas ou íons levados em sentidos contrários;

3 Simporte: Íon e molécula transportados;


Tipos de transporte na membrana citoplasmática. (Fonte: Shutterstock)

Exemplo

Como exemplo desses transportes, podemos citar:

Dissacarídeo lactose é levado com íons H+ (simporte);

Íons de cálcio (Ca2+) e sódio (Na+) atravessam em direções contrárias (antiporte);

A água é transportada por proteínas aquaporinas, como a proteína AqpZ da bactéria Escherichia
coli.

Célula procariota
A célula procariota exporta enzimas – chamadas de exoenzimas, como amilase e celulase - para
produzir a glicose que será transportada pela célula. Em algumas bactérias patogênicas, como
Salmonella, Shigella e Escherichia, existe um sistema de secreção que, em humanos, provoca a perda
de eletrólitos, provocando infecções intestinais.

O citoplasma da célula procariota é formado por 80% de água, contendo íons, proteínas enzimáticas,
lipídeos e carboidratos. Estão presentes nesse citoplasma ribossomos, DNA e corpos de inclusão ou
grânulos.

Saiba mais

A membrana plasmática de procariotos possui uma enzima chamada de ATPase ou F1F0. Para os
organismos que utilizam oxigênio (aeróbios), ela é o local de síntese de ATP e de manutenção de um
potencial elétrico. Essa enzima é tão importante que sua estrutura é praticamente conservada em todos
os domínios de vida no planeta. Nos organismos estritamente anaeróbios, que não crescem na
presença de oxigênio, a ATPase mantém a força próton motiva, mas sem gerar ATP.
Observe na imagem que o agelo está inserido
em um local da membrana da bactéria por onde
atravessam muitos íons H+.

Veja também que a estrutura da ATPase tem


formação acoplada de moléculas de ATP para dar
energia ao movimento.

Após observar essa estrutura, é possível saber


qual parte surgiu posteriormente nos eucariotos,
substituindo a membrana plasmática na síntese
de ATP: a mitocôndria.

Agora, a endossimbiose estudada anteriormente


faz todo o sentido, não é mesmo?

Membrana de procariotos com vários mecanismos de transporte e


geração de ATP através da bomba próton motiva. (Fonte: MADIGAN et
al., 2016)

Estrutura geral das bactérias

 (Fonte: Shutterstock)

Glicocálice
Acima da parede celular, ancoram-se algumas estruturas externas com função de proteção, locomoção
e troca de material genético, entre outras. Todas as bactérias apresentam uma camada viscosa externa
à parede celular chamada de glicocálice. Ela é formada por um ou vários tipos de açúcar, além de
aminoácidos como a glicina. Há dois tipos de camada:
1 2

Cápsula 5 Camada limosa


Bem aderido à parede celular. Frouxamente associado à parede celular.

Cápsula da bactéria Acinetobacter calcoaceticus, integrante da


microbiota intestinal

Fímbrias e Pili
Ainda na superfície da célula bacteriana, há estas duas
estruturas formadas por proteínas:

Clique nos botões para ver as informações.

Fímbrias 

Estruturas mais longas, lamentosas, que possuem forte adesão a superfícies e auxiliam na
xação e formação do bio lme.

Pili 

Micrografia eletrônica de Salmonella typhi, mostrando


flagelos e as fimbrias mais curtas (ampliação 7,800 x). Foto
Mais longo e no que as fímbrias, aparece em menor número. Sua principal função é trocar o DNA
de J.P. Duguid and J.F. Wilkinson. Fonte: Enciclopédia
britânica. entre as bactérias durante a conjugação, mas serve também para auxiliar a bactéria a se arrastar
pela superfície em movimentos pulsantes.

Flagelos
São estruturas formadas pela proteína agelina,
que funciona em movimentos como uma hélice
de barco com gasto de energia.

Escherichia coli, exemplo de bactéria com presença de flagelo. (Fonte:


Shutterstock)

Os agelos 6 estão presos e ancorados na membrana citoplasmática em várias posições:


Monótricas Lofótricas
Em uma das extremidades. Presos em tufo de agelos.

Anfítricas Perítricas
Nas duas extremidades da célula. Por todo o corpo da célula.

O movimento pode ocorrer por taxia, ou seja, ele é provocado pela presença de substâncias
consideradas atrativas ou repelentes. Na ausência desse gradiente químico, a bactéria
apresenta um movimento agelar aleatório, mas, a partir do reconhecimento da substância,
ela inicia movimentos mais amplos, menos oscilantes e direcionados. Se a concentração
começar a diminuir, a bactéria lentamente interrompe o seu movimento e reorienta a sua
direção. Esses movimentos são chamados de quimiotaxia.
A bactéria consegue monitorar o ambiente utilizando, na membrana plasmática, proteínas sensoriais
denominadas MCP. Através delas, a bactéria percebe a presença de maltose (atrativo) e de metais
pesados, como níquel (repelente). Os movimentos também podem ocorrer em resposta à presença de
luz (fototaxia) e oxigênio (aerotaxia).

Grânulos
Onde ocorre o armazenamento de substâncias. Há reservatórios de carbono, ferro, enxofre, fosfato
inorgânico, fosfolipídios e ácidos nucléicos que variam conforme o gênero e a espécie.

Magnetossomo
Algumas células o possuem. Magnetossomos funcionam como uma bússola respondendo a um
campo magnético. Não se sabe ao certo como eles operam, mas uma hipótese é de que sejam
responsáveis pela orientação das bactérias marinhas para os sedimentos no fundo do mar onde podem
se alimentar.

Saiba mais

Em áreas impactadas por derrame de petróleo, aumenta muito a quantidade de bactérias no sedimento,
pois elas se alimentam de hidrocarboneto. O planeta controla 7  seus desastres - e o nome disso é
biorremediação.

Bio lme
É a associação de vários tipos de micro-
organismos sobre uma superfície, como dentes,
válvulas cardíacas e próteses anatômicas. Além
de impedir o reconhecimento das células
fagocitárias do nosso sistema de defesa, essa
ecologia microbiana, no caso dos dentes, cria um
ambiente propício para a formação da cárie.

Pela grande oferta de carboidratos, a atividade


metabólica intensa dessas bactérias faz com que
elas produzam muitos ácidos que desmineralizam O uso de corantes odontológicos auxilia na identificação de biofilmes
sobre a superfície dos dentes. (Fonte: Shutterstock)
a superfície do dente e ganhem acesso a tecidos
mais profundos.

Endósporo
As bactérias em condições críticas para sobrevivência, como carência nutricional 8 , levam à formação
do endósporo 9 em um processo denominado esporulação.

A estrutura do endósporo é formada por:

Externamente: Fina camada de proteínas;

Internamente: Várias capas formadas por proteínas especí cas do endósporo e um córtex
contendo peptideoglicano.
O cerne contém, além da membrana citoplasmática, o citoplasma de aspecto
gelatinoso com DNA, ribossomos e outros constituintes essenciais para a célula. Não
possui água devido à presença de ácido picolínico e cálcio, importante para a
manutenção da fase latente.

Parede Celular
Com o transporte de solutos para o interior da bactéria, a tendência seria um aumento na pressão
interna, levando ao risco de rompimento. Para evitar que isso ocorra, as bactérias possuem uma
estrutura rígida denominada parede celular. Localizada acima da membrana citoplasmática, ela é
importante para manter o ambiente interno protegido de alterações do meio.

A parede celular é formada pelos polissacarídeos N-acetilglicosamina (NAG) e N-acetilmurâmico (NAM)


dispostos em uma estrutura linear. Entre essas camadas, mantendo-as unidas, há peptídeos e
tetrapeptídeos.

Peptidoglicano de parede celular bacteriana. (Fonte: ROMANIUK; CEGELSKI, 2018)

Saiba mais

A enzima lisozima produzida pelas glândulas lacrimais e salivares cliva a ligação entre o NAG e o NAM.
Com isso, a bactéria não consegue manter intacta a sua estrutura, transformando-se em protoplasto.

Localizadas na membrana citoplasmática, as enzimas transpeptidases têm a importante função de


organizar os peptídeos para as ligações cruzadas da parede celular. O antibiótico penicilina atua
inibindo a enzima transpeptidase.

O autor dessa descoberta (Alexander Fleming) percebeu que não havia crescimento de bactérias se a
cultura estivesse contaminada por bolor. Com a sua descoberta, começou a era dos antibióticos.
Micoplasmas
Patógenos que não possuem parede celular,
substituindo-o por uma membrana citoplasmática
bem rígida rica em esteróis.

A teoria para a ausência dessa parede é que esses


micro-organismos naturalmente vivem em
ambientes osmoticamente protetores.

Arqueas não possuem parede celular nem


membrana externa: sua rigidez é substituída por
uma pseudomureína, que é a união de N- Estrutura da célula de Mycoplasma. A bactéria é o agente causador de
doenças sexualmente transmissíveis, pneumoniae, pneumonia atípica e
acetilglicosamina e N-acetiltalosaminurônico. outros distúrbios respiratórios. Não é afetado por muitos antibióticos .
(Fonte: Shutterstock)

Dependendo dos constituintes da parede celular, as bactérias são divididas em dois grupos: Gram 10 -
Negativas e Gram-positivas. Em contato com álcool, as bactérias não têm cor.

Vamos conhecer as características dessas duas classi cações?

Gram-positivas

 Resultado da coloração de cocos Gram-positivos. (Fonte: Shutterstock)

Acima, podemos ver o resultado da adição do corante Fucsina em bactérias Gram-positivas: coloração
nal roxa.

A parede celular pode apresentar aproximadamente 20 camadas (mais espessas que as poucas
camadas de Gram-negativas). Além disso, elas também possuem ácidos teicóico e lipoteicóico ligados
à membrana citoplasmática.
Estas bactérias podem ter diferentes organizações e formas:

Gram-negativas

 (Fonte: Shutterstock)

Nas bactérias Gram-negativas, o vermelho é a coloração nal após adição do corante Fucsina.

Na parede celular, está presente o ácido diaminopimélico. Além disso, ele possui uma membrana
externa acima dos peptidoglicanos. Na gura abaixo, repare no LPS (lipopolissacarídeo) 11 ,
considerado uma das toxinas mais agressivas para o homem.

Também podemos observar a existência de um espaço delimitado entre as membranas citoplasmática


e externa. Ele possui muitas enzimas hidrolíticas que transformam os nutrientes para serem
transportados. O espaço periplásmico também tem quimiorreceptores para orientar o deslocamento da
bactéria até onde haja a maior concentração do alimento que ele desejar.
Estrutura da parede celular de bactérias Gram-negativas. (Fonte: Corte de uma bactéria Gram-negativa mostrando peptídoglicano
Shutterstock) (PG), membrana externa (OM) e membrana interna (IM). (Fonte:
ERICKSON, 2017)

Estas bactérias apresentam diferentes organizações e formas:

 (Fonte: Shutterstock)

A morfologia do vírus
Na verdade, ela é denominada vírion, que é partícula infecciosa viral. Os vírus estão em todos os
ambientes do planeta e em todos os seres vivos, inclusive em bactérias. Em procariotos, eles auxiliam
na transferência de genes, embora participem também da manutenção do ciclo de matéria nos
oceanos.
Como de nimos os vírus? Parasitas intracelulares?

A resposta é sim. No entanto, devemos ter cuidado, pois também existem bactérias intracelulares,
como Chlamydia e Ricketsia.

Vírus são de nidos como estruturas subcelulares, de replicação intracelular, cuja função básica é a
replicação e ampli cação do seu genoma. Podemos, assim, diferenciá-los das bactérias.

Estrutura
Formada por uma superfície de proteínas em
arranjos geométricos bem de nidos chamados de
capsômeros. O conjunto de capsômeros forma o
capsídeo 13 .

Na estrutura do capsídeo, são projetadas ainda as


glicoproteínas especializadas no reconhecimento
da célula hospedeira. Elas são chamadas de
espículas.

O capsídeo envolve o material genético e algumas


proteínas, a maioria delas enzimas utilizadas para Estrutura 3D do vírus influenza, causador da gripe. As glicoproteínas
azuis representam a hemaglutinina (HA); em verde, a neuraminidase
iniciar a sua replicação na célula. (NA). O capsídeo em vermelho é formado pelas proteínas M1. O interior
contém 8 fragmentos de RNA.

Alguns vírus possuem uma membrana


fosfolipídica 14 sobre o capsídeo; por isso, eles
são denominados vírus envelopados.

Classi cação
De acordo com a morfologia viral, os vírus são classi cados em:
Icosaedro Helicoidal
Lembra uma gura geométrica de 20 faces. Semelhante a um cilindro.

Complexos
Misto de helicoidal e icosaédrico, como o
vírus da gripe.

A divisão na classi cação dos vírus distribui-se em sete grupos de acordo com o genoma viral do tipo
DNA ou RNA disposto em uma ta simples ou ta dupla de ácido nucléico.

Nas células humanas, não existem duas tas de RNA. Por isso, quando a célula detectar
esse material genético, ela irá responder imediatamente para ativar a defesa imunológica.

Existem vários mecanismos de detecção de infecção viral. Um deles é a presença de proteínas


estranhas a ela. As bactérias, por exemplo, possuem enzimas endonucleases que degradam ácidos
nucléicos que lhe são estranhos. Isso signi ca que bactérias também estão se protegendo dos vírus.
Replicação
As etapas gerais de replicação do vírus começam
com:

Adsorção: reconhecimento do receptor


celular;

Penetração;

Desnudamento do capsídeo;

Ativação das suas enzimas para começar a


replicação;

Replicação do genoma;

Síntese de proteínas;

Montagem do capsídeo para que ele possa Ciclo de replicação do HIV. Este vírus RNA será inserido no DNA da
célula hospedeira. Para isso, ele transformará o RNA em DNA utilizando a
sair. enzima transcriptase reversa. (Fonte: Shutterstock)

Cada vírus tem um ciclo de replicação especí co.


Alguns ciclos são mais rápidos do que outros,
além de também serem diferentes quanto à sua
penetração.

Infecção
As infecções provocadas pelos vírus podem ser:

Agudas (quadro clínico mais rápido. Exemplos: dengue, chikungunya e zika);

Crônicas (quando o vírus se replica continuamente, como nas hepatites B e C);

Latente (quando a crise vem e passa, como na infecção por herpes).

Atenção

Alguns vírus podem ser responsáveis por tumores, como alguns tipos de HPV.

Essa visão geral dos vírus nos ajuda a entender que eles são mais complexos do que imaginamos e que
estão ativamente em processo de evolução. Convido você a ler um pouco mais sobre os vírus marinhos
para entender que eles não existem somente para nos provocar doenças.

Atividade
1 - A forma bacteriana mais comum é a esférica. O termo microbiológico que descreve essa forma é:

a) Cocos
b) Bacilos
c) Diplococos
d) Espirilo
2 - O gênero Streptococcus pode ser rapidamente identi cado, pois as bactérias apresentam a forma de:

a) Cocos dispostos em pares.


b) Cocos enfileirados em linha reta.
c) Cocos formando cachos.
d) Bacilos em linha reta.

3 - A bactéria Gram-positiva é identi cada por possuir:

a) Uma segunda membrana externa que retém o corante cristal violeta.


b) Múltiplas camadas de peptideoglicano que auxiliam a reter o cristal violeta.
c) Uma cápsula espessa que prende o cristal violeta.
d) Apresenta um espaço periplásmico que retém o cristal violeta.

4 - Qual a função da fímbria na estrutura de uma bactéria?

a) Aderir a bactéria a várias superfícies.


b) Permitir que a bactéria se mova em ambientes líquidos.
c) É um sensor de nutrientes no ambiente.
d) São vias de secreção de enzimas.

5 - Qual o objetivo da bactéria formadora de endósporo?

a) Permitir à bactéria produzir uma série de esporos para serem espalhados no ambiente.
b) Auxiliar a bactéria para se diferenciar em fases de crescimento mais rápidas.
c) Permitir que a bactéria sobreviva em condições de ausência de oxigênio.
d) Permitir que a bactéria sobreviva em períodos longos de calor e desidratação.

6 - Um vírus do tipo RNA utiliza qual local para se replicar dentro da célula?

a) Parede celular
b) Núcleo
c) Mitocôndria
d) Matriz citoplasmática

7 - Qual das opções a seguir é um exemplo de vírus que provoca uma infecção crônica no paciente?

a) Vírus da Hepatite B.
b) Vírus da herpes simples.
c) Vírus varicella-zoster.
d) Vírus influenza.

Notas

Deslocamento 1
Na gura 1, temos o agelo, prolongamento em uma das extremidades da bactéria que lhe garante o
movimento.

Bactérias2

Uma exceção é a Thiomargarita: ela apresenta 750 micrômetros de comprimento e está localizada em
sedimentos dos oceanos.

DNA3

O DNA aparece em duas formas:

Nucleoide: uma única molecula de DNA linear;

Plasmídeo: uma ou vearias cópias de DNA circulares.

Mutações4

A explicação para as mutações está no tipo de genoma das bactérias: o haploide (uma cópia dos seus
genes). Nossas células são diploides. Por isso, houve nelas uma mutação que será passada adiante,
fato muito vantajoso para a sua resistência e evolução.

Cápsula5

Dois exemplos de bactéria produtora de cápsula:

Streptococcus mutans, responsável pela cárie;

Streptococcus pneumoniae, bactéria responsável pela pneumonia.

Flagelos6

Além de bactérias, é muito comum a presença de agelos no domínio archaea.

Controla7

As cianobactérias, produtoras de oxigênio no planeta, possuem vesículas de gás que lhes permitem
utuar nas colunas d’água de lagos e oceanos. Já as bactérias dos gêneros Bacillus e Clostridium são
especializadas na formação de endósporos.

Carência nutricional8
Restrição no fornecimento de nutrientes necessários ao desenvolvimento vegetativo, como carbono ou
nitrogênio.

Endósporo9

Bactérias dos gêneros Bacillus e Clostridium são especializadas na formação de endósporos.

Gram10

O termo Gram é uma referência ao médico dinamarquês Hans Christian Joachim Gram por conta de
sua metodologia desenvolvida em 1882. Ao trabalhar com Carl Friedlander em um hospital de Berlim
observando amostras de pulmão, Gram identi cou o bacilo causador da doença febre tifoide vermelha
(Corynebacterium diphtheriae). Esse método é exclusivo para a bacteriologia, não sendo utilizado em
arqueas.

Nas suas experiências, Gram percebeu que a mistura de cristal violeta e iodo tornava as bactérias roxas
ao microscópio, pois essa mistura era insolúvel deixando-as assim por muito tempo. No entanto ao
gotejar álcool sobre essas bactérias roxas, Gram rapidamente percebeu que algumas perdiam a cor
enquanto outras não.

LPS (lipopolissacarídeo)11

Na verdade, o LPS, por ser produzido no interior das células de microrganismos e não ser secretada
para o meio externo, é considerado uma endotoxina.

Essa substância é considerada tóxica para nós por estimular uma resposta imunológica muito forte,
podendo fazer com que o hospedeiro entre em choque hipovolêmico.

Sua pressão arterial é capaz de ser tão reduzida que o levaria à morte. Se essas bactérias alcançarem a
circulação sanguínea, chamada de bacteremia, pode haver ainda bastante vasodilatação, febre e um
quadro realmente bem agressivo.

Exemplos dessas bactérias: Escherichia coli e os gêneros de Shigella e Salmonella.

Capsídeo13

Há vírus contendo mais de um capsídeo. É o caso do rotavírus, que provoca diarreia em adultos e
crianças.

membrana fosfolipídica14

Essas membranas fazem parte da célula hospedeira e são retiradas no momento da saída da partícula
viral por um mecanismo de brotamento.

Referências

ERICKSON, H. How bacterial division might cheat turgor pressure – a uni ed mechanism of septal
division in gram-positive and gram-negative bacteria. In: Bioassays. v. 39. n. 8. 2017.
MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

ROMANIUK, J. A. H.; CEGELSKI, L. Peptidoglycan and teichoic acid levels and alterations in S. aureus by
cell-wall and whole-cell nuclear magnetic resonance. In: Biochemistry. v. 57. n. 26. jul. 2018.

TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

Próxima aula

Tipos de metabolismo microbiano;

Condições para crescimento de populações de bactérias.

Explore mais

Assista ao vídeo da Fiocruz sobre o mosquito Aedes:

Conhecendo os mosquitos Aedes - transmissores de arbovírus <https://www.youtube.com/watch?


v=3tiuRHuzST4. Acesso em: 20 fev. 2019> .
Disciplina: Microbiologia e Imunologia

Aula 4: Metabolismo e controle do crescimento


microbiano
Apresentação

Todo ser vivo depende de reações bioquímicas complexas para se desenvolver.

 
Nesta aula, você reconhecerá que muitas reações de síntese e produção de moléculas de ATP
encontradas em células procarióticas estão adaptadas a micro-organismos eucarióticos e
organismos pluricelulares.

 
Por isso, conhecer os fatores e as condições de crescimento auxilia no cultivo de células no
laboratório e no conhecimento das nossas próprias células. A biotecnologia pode ser considerada a
aplicação direta desses conhecimentos.

Objetivos

De nir reações catabólicas e anabólicas nos micro-organismos;

Reconhecer as vias para obtenção de energia em bactérias;

Classi car as condições para o crescimento de micro-organismos.


Metabolismo: quebras e sínteses
Todo organismo precisa colocar em ação um número x de reações para se manter vivo. São reações
para retirar energia de algum nutriente, repor algum componente consumido e estocar algum composto
energético. São muitas - e todas elas, importantes.

Não existe desperdício nos sistemas biológicos. Por isso, muitas dessas reações estão conectadas
com outras vias de reação para fornecer mais de uma ação para a célula. O conjunto dessas reações é
denominado metabolismo. Uma reação que gera a quebra de uma molécula maior, como, por exemplo,
um polissacarídeo, automaticamente vai estar acoplada com uma reação de construção de alguma
estrutura.

Em bioquímica, há as reações de:

1 2

Quebra Síntese
Catabólicas ou degradativas 1 . Anabólicas ou biossintéticas.

O metabolismo ideal existe quando as reações de quebra estão em equilíbrio com as


reações anabólicas.

Nas reações que envolvem a quebra de ligações químicas, ocorre


a liberação da energia.
Mas como ela pode ser consumida pela célula?
Se uma ligação química é rompida, essa energia condicionada não sai simplesmente como um gás.
Uma possibilidade seria transferir a energia para uma reação de síntese, correto? Para isso, é preciso
que exista um elo entre essas duas condições. A resposta está na molécula de ATP: trifosfato de
adenosina.
 Fonte: Shutterstock

Molécula de ATP: trifosfato de adenosina


No metabolismo energético da célula, a molécula de ATP libera o último fosfato inorgânico,
transformando-se em ADP e Pi, o fosfato inorgânico. Não existe estoque de ATP porque o processo é
extremamente dinâmico: a todo momento, uma molécula de ADP está se ligando a um Pi para reter (ou
quebrar) uma ligação altamente energética.

Dica

Lembre-se das reações que precisam de uma entrada de energia: as endergônicas. São elas que
utilizam o ATP, rompendo essa última ligação covalente para fornecer a energia de ligação para a
síntese de alguma molécula.
Síntese e clivagem da molécula de ATP. | Fonte: Shutterstock

O ATP pode ser formado de duas maneiras:

1. Fosfato é retirado de um substrato e se liga a um ADP : processo conhecido como fosforilação em


nível de substrato;

2. Com o auxílio de uma enzima ATPase 2 : cujo rendimento de moléculas de ATP é bem superior.

Glicólise
A melhor forma de compreender o conceito de catabolismo é explorar uma de suas principais vias
metabólicas: a glicólise 3

A glicólise é o carboidrato que a maioria dos micro-organismos utiliza como fonte


primária para obtenção de energia – em seguida, vêm os lipídeos e as proteínas.
Para produzir energia, os micro-organismos utilizam dois processos:

1. Fermentação;

2. Respiração celular (ou, simplesmente, respiração).

Ambos começam a partir do mesmo ponto: glicólise. Trata-se de uma via metabólica com várias
reações que transformam um carboidrato de seis carbonos em duas moléculas de três carbonos, o
ácido pirúvico. Nas onze reações que levam à formação de ácido pirúvico, são produzidas duas
moléculas de:

1.  ATP (através de fosforilações em nível de substratos);

2. NADH.

A glicólise consiste de dois passos básicos:

Clique nos botões para ver as informações.

Fase preparatória 

Duas moléculas de ATP são utilizadas para que a glicose se reestruture e se transforme em
gliceraldeído 3-fosfato (GP) e diidroxiacetona-fosfato (DHAP). A DHAP é convertida em
gliceraldeído 3-fosfato. São as etapas 1 a 5.

Fase de recuperação de energia 

Há a oxidação dessas moléculas em duas moléculas de ácido pirúvico com ganho nal de duas
moléculas de ATP.
 Visão geral das reações da glicólise. | Fonte: Shutterstok

Se o micro-organismo é aeróbio, o ácido pirúvico será guiado para reações que transferem
elétrons até o oxigênio. Se o micro-organismo é anaeróbio, no lugar do oxigênio entra outra
molécula, como, por exemplo, o íon nitrato (NO3-) no gênero Pseudomonas 4 .

Ciclo de Krebs
A etapa seguinte à da glicólise é o ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs. Nele, o ácido pirúvico reage
com a coenzima A (CoA), perdendo 1C e formando acetil-CoA. O oxaloacetato, um composto renovável
do ciclo de Krebs, reage com o acetil-CoA, formando o ácido cítrico e liberando a coenzima A, que será
utilizada novamente. São 10 reações que recuperam ao nal o oxaloacetato, gerando, a cada entrada de
molécula de ácido cítrico, a liberação de:
1 2

Quatro moléculas de CO2 para o ambiente. Seis moléculas de NADH.

3 4

Duas moléculas de FADH2. Duas moléculas de ATP (geradas em nível de


substrato).

O ciclo de Krebs, na verdade, é uma encruzilhada metabólica que gera produtos utilizados
pela bactéria para os mais variados ns. E uma das funções mais importante dessa etapa é
a saída das coenzimas reduzidas NADH e FADH2 para entregar esses elétrons a um sistema
de moléculas carreadoras.

Veja a sequência das reações do ciclo de Krebs na gura a seguir e con rme se o mais importante é
mesmo a geração de energia pelo ATP. Parece que não. Há dez reações e produção de duas moléculas
de ATP.

Na gura, repare que as enzimas desidrogenases


trabalham com as coenzimas NAD+ e FAD+, tornando-as
reduzidas. As moléculas carreadoras de elétrons podem
até ser diferentes entre os procariotos, mas ao nal sempre
vai existir uma enzima ATPase.

 Visão geral do ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs. |


Fonte: Shutterstock
Como já foi comentado neste curso, a ATPase é um dos ganhos evolutivos mais conservados entre os
seres vivos: tamanha é a sua importância que nós e as bactérias aeróbias compartilhamos o mesmo
processo em relação a ela. Quando os H+ alcançam essa enzima, ela torna-se ativada, fazendo a ligação
entre ADP e Pi. É a fosforilação oxidativa, pois a formação de ATP está acoplada às reações de
oxidação. A con guração dessa enzima é tão especial que permite que os H+ passem pelo seu interior,
mudando a sua con guração inativa para ativa. São produzidas 38 moléculas de ATP por hexose.

Micro-organismos anaeróbios
Não existem todas as reações do ciclo de Krebs porque eles não possuem todos os aceptores dos
aeróbios. Isso faz com que esses micro-organismos produzam menos energia, o que explica seu
crescimento ser mais lento que o dos aeróbios.

Organismos fermentadores
Não há o ciclo de Krebs nem a cadeia de transporte de elétrons. Grande parte da energia ca na
estrutura da molécula nal (álcool ou lactato), gerando somente uma ou duas moléculas de ATP.

Fermentação lática

Os gêneros Streptococcus e Lactobacillus realizam a fermentação lática, utilizando NADH para


reduzir duas moléculas de ácido pirúvico a duas de ácido lático. Como só produzem ácido lático,
eles são denominados homoláticos. São esses micro-organismos que deterioram os alimentos,
mas eles também geram o iogurte a partir do leite e outros alimentos comercializados pela
indústria alimentícia.

Fermentação alcoólica

Já a produz duas moléculas de acetaldeído e duas de CO2 do ácido pirúvico. O acetaldeído vai dar
origem ao etanol. Dois exemplos: a levedura Saccharomyces cervisae, que serve para a produção de
álcool e bebidas, e o CO2, para o crescimento do pão. Segundo bons padeiros italianos, a
lievitazione (fermentação do pão) deve levar no mínimo oito horas. Repare como a massa dobra de
tamanho, cando bem fofa e volumosa. A fermentação, há muito tempo, é estudada e controlada.
Exemplos: seleção de uvas, tempo de fermentação  dos vinhos 5 e extrato de malte para as
cervejas.
 Fonte: Shutterstock

Características dos Micro-organismos


Micro-organismos são classi cados de acordo com:

1) Fonte de energia:

1 2

Fototró cos Quimiotró cos


Fonte primária de energia é a luz. Utilizam compostos orgânicos e inorgânicos que
serão reduzidos.

2) Fonte de carbono:
Clique nos botões para ver as informações.

Autotró cos 

Termo signi ca alimentação própria. São todos aqueles que utilizam CO2.

Heterotró cos ou organotró cos 

Dependem de outros seres para obter carbono.


São todos os animais, a maioria dos fungos, os protozoários e as bactérias.

A maioria é patogênica para o homem.

A combinação dessas duas classi cações (fonte de energia e fonte de carbono) dá origem a quatro
seres vivos:

Fotoautotró cos

Fotoheterotró cos

Quimioautotró cos

Quimioheterotró cos

3) Temperatura

Fator determinante para o crescimento de micro-organismos, e todos possuem uma temperatura


mínima, ótima e máxima.

Temperatura mínima que funciona como barreira: abaixo dela, não é possível ele se dividir. Já a
temperatura máxima acabaria desnaturando suas proteínas, levando o micro-organismo à morte.
 Fonte: Shutterstock.


HÁ EXCEÇÕES

Existem micro-organismos adaptados para viver em ambientes que a maioria dos seres vivos não
suportaria. São os micro-organismos extremó los. Eles vivem, por exemplo, em zonas vulcânicas ou
hidrotermais marinhas do planeta.

Vamos conhece-los?
Temperaturas baixas

Psicró los 6 : crescem a 4 °C ;

Psicrotolerantes: podem crescer em temperaturas de 0 °C.

Comentário

Ambos podem crescer em ambientes refrigerados sendo responsáveis pela deterioração da carne,
frango e peixe.

Temperaturas mais elevadas

Mesó los: crescem entre 25 e 40 °C 7 . Estão os microrganismos mais comuns;

Termó los: são os que habitam o solo e águas termais com temperatura ótima entre 50 e
60 °C.

Termó los extremos, ou hipertermó los: temperatura ainda mais elevada, próxima a 80ºC,
como as arquibactérias. Habitam as águas quentes ricas em enxofre perto do vulcão.

Isolada de um gêiser no parque nacional


Yellowstone, nos Estados Unidos, a bactéria
Thermus aquaticus revolucionou a biotecnologia,
fornecendo a enzima polimerase, que não
desnatura nas etapas da técnica chamada de
reação em cadeia da polimerase (PCR).

 Parque Nacional de Yellowstone | Fonte: Wikipedia


<https://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Nacional_de_Yellowstone>

4) PH

O pH é uma escala logarítmica da concentração de H+ livres. Seu excesso interfere na estrutura das
proteínas, desnaturando-as 8 . Por isso, ele é um fator químico importante de ser observado nos meios
de cultivo para células eucarióticas e procarióticas.
A maioria dos micro-organismos cresce em ambientes numa faixa de pH que varia
entre 6,5 e 7,5.

Vamos ver a classi cação dos micro-organismo de acordo com a taxa de PH?

Clique nos botões para ver as informações.

Acidó los 

Crescem em de pH abaixo de 6. Fungos são mais tolerantes que as bactérias.

Acidó los obrigatórios 

São conhecidos pela resistência a ambientes extremos para a maioria dos micro-organismos.
aparecem em vários gêneros Archaea.

Acidó los extremos 

Localizados localizados em regiões de vulcões ácidos e mantém seu pH intracelular em 4,5.


Temos como exemplo o Picrophilus oshimae.

Neutró los 

Mantem a faixa de pH entre 6 e 8;

Alcalinó los 

A indústria utiliza as lipases e proteases produzidas por eles para sabão em pó. Já deve estar
reconhecendo na prateleira do supermercado aquela marca pioneira nesse uso, não é?
Outras formas de crescimento

- Sal

Haló los são micro-organismos que crescem bem na água do mar, rica em cloreto de sódio. Eles
dividem-se em:

Haló los moderados (concentração de NaCl varia entre 7 a 15%);

Haló los discretos (1 a 6 % de NaCl);

Haló los extremos (concentração de 15 a 30%);

Atenção

Existem também os halotolerantes, micro-organismos que podem viver com certa redução de
moléculas de água.

- Açúcar

Micro-organismos que vivem em ambientes ricos em açúcar são chamados de osmó los.

- Ambiente seco

Organismos xeró los são aqueles que vivem em ambientes extremamente secos por falta de água.

- Oxigênio

Já sabemos que alguns utilizam o oxigênio como aceptor nal na respiração celular para a produção de
ATP, enquanto outros micro-organismos preferem outro tipo de aceptor nal.

Na realidade, esta classi cação (utilizar ou não o oxigênio) seria muito simples frente à enorme
diversidade de organismos no nosso planeta. Por isso mesmo, existe uma escala de utilização de
oxigênio que divide os micro-organismos em:

 
Microaeró lo (sobrevive com pouco oxigênio);

Aeróbio facultativo (fermenta sem oxigênio. Exemplos: Escherichia coli e leveduras);

Tolerante.
Atenção

Os micro-organismos chamados de aeróbios crescem em ambiente com grande tensão de oxigênio,


algo em torno de 21%. No entanto, como o oxigênio é pouco solúvel, alguns micro-organismos se
adaptaram para fazer a fermentação quando o oxigênio não estiver disponível. Por outro lado, os
anaeróbios obrigatórios não crescem se o oxigênio estiver presente, pois ele é considerado toxico. É o
caso dos gêneros Clostridium e Botulinum, formadores de endósporos.

A capacidade de sobreviver na presença de oxigênio depende da presença de algumas enzimas que


processam os radicais superóxidos (O2-) ou ânions superóxidos do metabolismo do oxigênio. Do ponto
de vista evolutivo, a presença das enzimas superóxido dismutase e catalase garantiu a sobrevivência de
todos os seres vivos aeróbios no nosso planeta. Veja as reações a seguir:

Repare que o oxigênio molecular reage com elétrons, produzindo o ânion superóxido (O-2). A presença
do elétron não pareado é tóxico porque ele é capaz de interagir com elétrons de outro elemento químico,
alterando proteínas e outros alvos celulares. Assim, a ação da enzima superóxido dismutase devolve o
oxigênio molecular, embora também produza o peróxido de hidrogênio. Além disso, a enzima catalase
transforma H2O2 em produtos que serão aproveitados pela bactéria.

Exemplo

O teste da catalase é um teste bioquímico muito comum no laboratório de bacteriologia. Mesmo sem
conhecê-lo, você já deve ter observado surgirem bolhas na pele com feridas ao aplicarmos água
oxigenada no local. Essas bolhas são do oxigênio liberado pela ação da catalase.
Portanto, micro-organismos anaeróbios obrigatórios não possuem esse sistema
detox, enquanto anaeróbios aerotolerantes possuem a enzima superóxido dismutase.

 Fonte: Shutterstock

Macronutrientes para o crescimento dos micro-


organismos
Para crescer os microrganismos necessitam em primeiro lugar de quantidades de água e
macronutrientes.

O carbono é considerado um dos macronutrientes mais importante. Sendo utilizado para a


síntese de proteínas, açúcares e lipídeos.
Além do carbono, os micro-organismos utilizam o nitrogênio para a síntese de DNA e RNA, aminoácidos
e todos os nucleotídeos, ATP, GTP, UTP e CTP. Esse macronutriente é recuperado da atmosfera pelos
microrganismos presentes no solo, os chamados xadores de nitrogênio associados a raízes de
plantas.

O fósforo também é necessário para a síntese de ácidos nucléicos, bases nitrogenadas e nucleosídeos.
E o enxofre é utilizado para os aminoácidos cisteína e metionina.

Outras exigências para o crescimento são os elementos traço como ferro, zinco, manganês, magnésio,
cobalto, cloro, sódio e cobre que atuam como coenzimas e cofatores igualmente em todos os seres
vivos e são necessários em baixa concentração.

Os micronutrientes são fatores de crescimento pois são importantes para a composição de várias
proteínas, estruturas celulares entre outras funções celulares. A exigência desses fatores varia muito, e
em alguns microrganismos, como os Lactobacillus, as concentrações são até maiores que em
humanos.

A partir de agora estudaremos as fases de crescimento em uma população de


bactérias, veri cando todas as condições necessárias para uma bactéria crescer.
 Fonte: Shutterstock

Crescimento e controle de bactérias


No laboratório, quando um inóculo microbiano for semeado em um meio de cultura especí co, ocorrerá
inicialmente um período de adaptação.

 Em seguida, a população irá realizar múltiplas divisões até a redução dos nutrientes tornar impossível
seu crescimento, levando-a à morte. Essas etapas ou fases de crescimento microbiano são divididas
em:
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Lag 

A primeira fase é de adaptação. As células quase não se dividem, ativando vários genes
necessários para metabolizar os constituintes adquiridos do meio ou para a síntese de novos
compostos.
Esta fase de latência pode durar horas ou até mesmo dias dependendo de:

Número de células viáveis no inóculo;

Meio de cultura;

Própria espécie microbiana.

Log (ou exponencial) 

Quando ocorrem as divisões celulares com o tempo de geração constante. O tempo de geração é
o período necessário para uma célula se duplicar.
Como os nutrientes estão em excesso nesta fase, as células se dividem bastante de acordo com
seu(s):

 
Metabolismo;

Meio de cultura;

Outros fatores (temperatura, pH e água).

Estacionária 

Fase também caracterizada pelo crescimento microbiano, embora, ao mesmo tempo, se observe
um aumento no número de células mortas. O esgotamento de nutrientes do meio de cultivo leva
ao acúmulo de resíduos. Por isso, o pH do meio torna-se ácido, causando danos para as células.

Declínio 

Se for crescente, a situação descrita no item acima leva à morte da população de bactérias
quando todos os recursos forem consumidos.
Observe o grá co a seguir:
Perceba no grá co da fugira, o aumento dos valores de densidade ótica à direita. De um valor
aproximado de 0,13 de turbidez, a fase exponencial eleva o valor em seis vezes. A medida da turbidez é
um recurso laboratorial de fácil veri cação do crescimento de bactérias em meio líquido. Ao crescerem,
as bactérias tornam os frascos mais turvos; com isso, a luz atravessa com menos intensidade do que
antes, fornecendo os valores de densidade ótica. A curva de crescimento só poderá ser observada em
experiência se não houver nenhuma interferência. Exemplos: repor os nutrientes consumidos ou acertar
o pH do meio de cultura.

 Curva de crescimento típica de uma população de bactérias. | Fonte: (MADIGAN et al., 2016)

Diante de tantos micro-organismos presentes no ambiente, é muito importante controlar o crescimento


deles utilizando agentes físicos e químicos. Eles podem atuar eliminando totalmente a população
microbiana ou impedindo o seu crescimento.

Exemplo

Para controle de populações microbianas há algumas ações que podemos utilizar. Como por exemplo:
Controle físico: como: uso de chama em objetos contaminados, calor seco e úmido, radiações gama e
ultravioleta e ltração.

Controle químico: álcool, fenóis, detergentes e agentes oxidantes.


Nesta aula, você aprendeu sobre os tipos de metabolismo dos principais grupos microbianos. A
importância desse conhecimento reside em sua aplicação em vários processos industriais, como a
biotecnologia.

Atividade
1. Com relação ao metabolismo de seres vivos, assinale a opção que represente, respectivamente, a
síntese de moléculas complexas a partir de formas mais simples e a construção das moléculas
complexas:

a)  Anabolismo e catabolismo.
b) Metabolismo aeróbio e anaeróbio.
c) Fase log e declínio.
d) Catabolismo e anabolismo.
e) Fase lag e log.

2. Micro-organismos aeróbios toleram a presença de oxigênio porque possuem uma enzima chamada:

a) ATPase
b) NADH
c) Oxigenase
d) Superóxido dismutase.
e) Cadeia transportadora de elétrons.

3. Em relação às condições de temperatura para crescimento, as temperaturas elevadas normalmente


levam a (à):

a) Taxas de crescimento mais elevado.


c) Um estado de equilíbrio.
d) Morte da bactéria.
d) Morte da bactéria.
e) Situações específicas dependendo da espécie.

Notas

degradativas 1
Nas reações degradativas, muitas vezes são utilizadas moléculas de água para quebrar essas ligações.
Trata-se da chamada hidrólise.

ATPase2

No processo com a ATPase, algumas enzimas desidrogenases especí cas retiram prótons e elétrons,
transferindo-os para coenzimas do tipo NAD+ ou FAD+. Elas os encaminham para uma série de
aceptores numa cadeia de transporte de elétrons até o oxigênio ou outro tipo de aceptor nal. A cada H+
transportado, a enzima ATPase presente na membrana citoplasmática é ativada, promovendo a ligação
entre ADP e o fosfato inorgânico (Pi).

glicólise3

A glicólise é chamada também de Embden-Meyerhoff em homenagem aos pesquisadores Gustav


Embden e Otto Meyerhoff, mas um dos primeiros a estudá-la foi Pasteur, em 1860, com a fermentação
de leveduras.

Pseudomonas4

Essas bactérias reduzem o nitrato a nitrito (NO2-), oxido nitroso (N2O) ou gás CO2.

fermentação dos vinhos5

Provavelmente, você deve lembrar que, na primeira aula, Louis Pasteur de niu o chamado Efeito
Pasteur. Ele viu que o número de micro-organismos presentes nas uvas amassadas aumentou logo no
início desse processo, mas, com a redução da concentração de oxigênio, eles começavam a produzir
etanol. Ele associou o fermento à concentração de oxigênio: quanto mais oxigênio, menos etanol. É o
que hoje se faz nos tonéis de vinho, não permitindo a entrada de oxigênio para não reduzir a
fermentação. Somos grandes produtores de álcool a partir do açúcar da cana pelo controle do mesmo
processo.
psicró los6

Recentemente, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)


identi cou a bactéria psicró la Deinococcus sp. Ela é capaz de resistir a radiações. Cientistas acreditam
que isso pode ser útil na indústria de cosméticos e na busca por novos medicamentos.

25 e 40 °C7

Para as bactérias patogênicas a temperatura ótima de crescimento é 37 °C, igual ou próxima a dos
animais que colonizam.

desnaturando-as8

Por essa razão também que a maioria dos alimentos ácidos são protegidos da deterioração por
microrganismos.

Referências

TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L.Microbiologia. Porto Alegre: Artmed, 2010.

MADIGAN, M. T.; MARTINKO, J. M.; BENDER, K. S.; B., D. H.; STAHL, D. A. Microbiologia de Brock. Porto
Alegre: Artmed, 2016.

Próxima aula

Tipos de metabolismo microbiano;

Condições para crescimento de populações de bactérias.

Explore mais

Sugestões de vídeo:

Bactérias que degradam petróleo <https://www.youtube.com/watch?v=kqx0zdmvbSA> .


Bactérias que comem plástico
<https://www.ted.com/talks/two_young_scientists_break_down_plastics_with_bacteria#t-160867> .
Disciplina: Microbiologia e Imunologia

Aula 5: Interações microbianas com o homem


Apresentação

O limite entre a colonização de micro-organismos no nosso corpo e o aparecimento de uma doença


depende de inúmeros fatores, entre eles o estado imune do hospedeiro e as características dos
micro-organismos que permitem ultrapassar essas defesas.

 
Nesta aula, conheceremos os mecanismos patogênicos e saberemos por que a transferência de
genes em micróbios é fundamental para a consciência das medidas de ações individuais
preventivas.

Objetivos

Identi car os tipos de relações entre micro-organismos e o homem;

De nir patogenicidade, infectividade e virulência;

Reconhecer as bases siológicas dos micro-organismos patogênicos.


Relações do micro-organismo e o hospedeiro
Se alguém pedir para um grupo dar exemplos de micro-organismos conhecidos, provavelmente a
grande maioria só se lembraria daqueles que provocam doenças. Isso é bem compreensível.

Desde os primeiros agrupamentos em pequenas sociedades, o homem precisou se proteger de muitas


epidemias e fatalidades. Isso contribuiu para essa sensação coletiva de que existem muito mais micro-
organismos perigosos do que podemos sequer contabilizar.

Não é verdade: a maioria dos micro-organismos não é patogênica ao homem. Eles conseguem manter
relações bené cas com várias espécies de animais.

Dependendo do tipo de relação com o homem e os outros seres vivos, os micro-organismos, ao


compartilharem o mesmo ecossistema, são classi cados em diferentes níveis de cooperação. Esse
compartilhamento é conhecido como simbiose.

A simbiose é uma relação a longo prazo entre dois organismos de espécies distintas.
Essa relação pode ser bené ca ou não para ambos os indivíduos envolvidos.

As relações simbióticas consideradas bené cas são de três


tipos:
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Comensalismo 

É quando uma das espécies se bene cia dessa relação sem causar danos à outra.

Exemplo

É o caso das bactérias localizadas na rizosfera, a zona das raízes das plantas, que se bene ciam dos
produtos do metabolismo das plantas.

Protocooperação 

Relação bilateral em que ambas se bene ciam. No entanto, essa associação não é obrigatória, ou
seja, cada espécie pode viver separadamente.

Mutualismo 

No mutualismo microbiano, o fungo está associado a alga ou bactéria, que atua como produtor
primário, enquanto ele fornece um anteparo e proteção.
Dessa forma, dois organismos distintos se bene ciam e dependem dessa relação, ou seja, só
conseguem viver na presença do outro.

Exemplo

Líquens encontrados nas folhas, árvores e rochas.


Microbioma intestinal: anatomia do sistema digestivo humano e
bactérias entéricas Escherichia coli. | Fonte: shutterstock

Na espécie humana, a presença da microbiota na


pele e no intestino é um bom exemplo de
relação comensal, embora ela também possa ser
considerada um mutualismo, especialmente a
Escherichia coli produtora de vitamina K.

A relação simbiótica na qual uma das espécies é bene ciada enquanto a outra é prejudicada é o
Parasitismo.

É fácil, por exemplo, reconhecer essa propriedade em vírus.

Staphylococus epidermidis: bactéria que vive na pele humana. | Fonte:


Wikipédia

Se uma bactéria vive na pele e penetra em


tecidos mais profundos através de um poro ou
até mesmo um pequeno corte, ela será capaz de
desenvolver uma doença bacteriana. São por
isso chamadas de oportunistas 1 .
É importante perceber que um mesmo micro-organismo pode
se comportar como comensal ou parasita dependendo de
condições como a troca do habitat e a capacidade de resposta
imune do hospedeiro.

Atenção

É importante conseguir diferenciar os agentes potencialmente patogênicos dos patógenos primários.


O patógeno primário obrigatório desenvolve uma doença mesmo em indivíduos saudáveis e
normalmente não faz parte da microbiota, enquanto os potencialmente patogênicos aparecem em
indivíduos com algum nível de imunode ciência.

Diferenças entre infectividade, patogenicidade e


virulência
É preciso saber a diferença entre infectividade, patogenicidade e virulência, o que geralmente provoca
muitas dúvidas.
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Infectividade 

Capacidade de um micro-organismo de causar infecção. Ele consegue penetrar, se desenvolver e


se multiplicar no hospedeiro.

Atenção

Isso não signi ca necessariamente a aparição de uma doença. Muitos micro-organismos que
conseguem penetrar no hospedeiro são eliminados pelo sistema imunológico sem que ele apresente
sinais de qualquer doença.
 
A infectividade é quanti cada pela ID50, dose necessária para infectar 50% da população.

O tamanho do inóculo é um fator importante para o desenvolvimento de uma doença.

Patogenicidade 

É a capacidade de um micro-organismo provocar uma doença.


Alguns serão considerados de alta patogenicidade quando sempre suscitarem o aparecimento
dela no hospedeiro.
Virulência 

Capacidade de gerar uma doença grave ou letal. Isso é medido pela LD50, dose letal que
corresponde à necessária para matar 50% da população.

Atenção

A virulência está associada ao nível de agressividade da doença.


 
A gravidade de uma doença depende da cepa bacteriana2 . Nesse tipo de micro-organismo, são
identi cados vários genes que levam à produção de proteínas especializadas na aderência, invasão e
destruição do tecido do hospedeiro como também à manipulação da resposta imune. Esses genes são
denominados fatores de virulência.

Eventos da patogênese. | Fonte: (MADIGAN et al., 2016)


 Fonte: Shutterstock

Troca Genética

Provavelmente, você deve estar pensando como esses micro-


organismos se tornaram patogênicos.

Está pensando em mutações?


No entanto, elas não explicam a transferência de informações entre as bactérias.
Antes disso, é preciso lembrar que o genoma bacteriano se
divide em uma ta de DNA altamente condensada em
várias cópias de DNA circulares chamados de plasmídeos.

Os plasmídeos podem receber ou doar genes.

Existem muitos tipos de plasmídeos, mas os plasmídeos


de virulência são bem conhecidos por conter genes para
proteínas associadas à patogenicidade, como as
enterotoxinas3 .

No cromossomo bacteriano, existem sequências


Estrutura bacteriana. | Fonte : Shutterstock
chamadas de transposons que são excluídas e também
transferidas, mas geralmente esse DNA está associado a
mecanismos de resistência aos antibióticos.

Recombinação
As bactérias realizam recombinações que favorecem a aquisição de uma nova característica. É um
processo horizontal que depende de mecanismos intercelulares de transformação, transdução e
conjugação.

Os plasmídeos e transposons são elementos genéticos transferidos pela conjugação de duas bactérias
por meio de pili. O gene é duplicado, enquanto uma cópia é transferida para a bactéria receptora.
Mecanismo de transferência de genes entre bactérias por meio de
conjugação. | Fonte: Shutterstock

A transformação é o mecanismo de captação de material genético de bactérias mortas que estão


espalhados no meio. Este DNA exógeno é incorporado na bactéria viva.

 
A transdução depende da transferência com o auxílio de bacteriófagos, que são vírus bacterianos.

Os genes que serão transferidos são localizados no genoma em trechos denominados ilhas
de patogenicidade 4 .

Como os patógenos acessam o hospedeiro?

Fonte: Shutterstock
Para um micro-organismo ter sucesso no processo infeccioso, ele
precisará de:

 Longas cadeias;

 Conseguir se xar no local de infecção,


obtendo nutrientes;

 Escapar ou suportar os mecanismos de


defesa imune;

 Provocar as lesões no tecido do hospedeiro;

 Interferir nos mecanismos de sinalização e


citoesqueleto da célula;

 Disseminar-se para outras células e órgãos.

As vias de entrada são as membranas mucosas que revestem o trato respiratório,


gastrointestinal e geniturinário e a membrana conjuntiva. A maioria acessa pelo trato
gastrointestinal e respiratório.

Trato respiratório
O micro-organismo pode estar na cavidade nasal e na boca ou alcançar a mucosa através de
perdigotos, aquilo que expelimos quando falamos, e partículas de pó.

Atenção

No caso de Infecções virais, talheres e objetos de uso pessoal também podem transmitir. Por isso, é
muito importante higienizar as mãos para evitar o contato quando estiver infectado.
Algumas doenças com origem bacteriana: tuberculose
(Mycobacterium tuberculosis), pneumonia (Streptococcus
pneumoniae), resfriado comum (rinovírus), vírus sincicial
respiratório em crianças com menos de dois anos de idade
e sarampo.
Micro-organismos que desenvolvem doenças no trato
respiratório inferior. | Fonte : Shutterstock

Trato gastrointestinal
Para acessá-lo, os micro-organismos precisam ultrapassar a barreira química natural do ácido clorídrico
estomacal e as enzimas liberadas pela bile e pelo intestino delgado. Como muitas são proteases, elas
atuam sobre as proteínas da superfície do patógeno, inativando-o.

Ultrapassam esses obstáculos, entre outros, os vírus da hepatite A e rotavírus e as bactérias do gênero
Shigella que provocam a disenteria bacteriana. Esses patógenos são transmitidos por via fecal-oral
através de:

 
Contato pessoal Ingestão de água


Consumo de alimentos
contaminados

Comentário

Após o ciclo de divisão e destruição do epitélio absortivo, os patógenos são liberados nas fezes,
podendo contaminar a água (caso de esgoto aberto) que será consumida ou utilizada por outro
indivíduo. Também é importante manter a limpeza das mãos nesse tipo de transmissão. Nas
rotaviroses, é comum que mãos contendo partículas virais propiciem a autoinoculação ou a
transmissão através do adulto cuidador.
Transmissão sexual
Depende do contato com as mucosas integradas ou abrasão. As chamadas infecções sexualmente
transmissíveis (ISTs)5 são monitoradas nos boletins epidemiológicos da Secretaria de Vigilância em
Saúde para que sejam programadas ações de prevenção e tratamento nas unidades de atenção básica
dos municípios.

Atenção

Tem chamado a atenção o número de casos de sí lis nos últimos anos. Esta doença (ou qualquer IST)
facilita a transmissão sexual do HIV. Além disso, a transmissão da sí lis durante a gestação pode
provocar cegueira, pneumonia, de ciência mental e surdez, entre outras sequelas, no bebê.

Pele
Formada por uma camada rígida e espessa de células mortas, ela com certeza protege o corpo de
infecções. Além disso, a superfície da pele está sujeita à desidratação - e isso não favorece o
crescimento abundante de micro-organismos. A maioria dos micro-organismos está associada a
glândulas sudoríparas e folículos pilosos, fatores que levam à multiplicação deles.

Entradas pela pele normalmente ocorrem por pequenos cortes acidentais e cateteres que fornecem um
meio para as bactérias terem acesso aos tecidos mais profundos.

Na via parenteral6 , o agente patogênico alcança a circulação quando as barreiras forem rompidas.
Ocorre em:

 Infecções;

Ferimentos;

Cortes profundos;

Agulhas (caso do HIV e HBV);

 Expressão correta no meio.

Exemplo
A bactéria Staphylococcus aureus pertence à microbiota e penetra na pele através de rupturas nela. Já
alguns fungos, como o Trichophyton mentagrophytes, causador da tinea, se alimentam de queratina,
causando o aparecimento de manchas na pele.

Perceba que a porta de entrada nada mais é do que uma escolha evolutiva com base nas
vantagens que esse ambiente pode fornecer ao micro-organismo em termos de acesso a
tecidos especí cos e possibilidade de nutrição. No caso de vírus, são células que devem
possuir componentes disponíveis para a replicação viral.

Formas de atuação dos micro-organismos


patogênicos
Adesinas
Independentemente do acesso ao hospedeiro, o patógeno deve apresentar mecanismos que permitam
a aderência aos tecidos.

Em bactérias, essa aderência ocorre com o auxílio de adesinas, glicoproteínas ou lipoproteínas


presentes em glicocálice, pili, fímbrias e agelos.

As adesinas mudam a sua estrutura conforme a cepa bacteriana.


 A placa bacteriana representa a ação
conjunta de vários micro-organismos
que propiciam a desmineralização do
dente e à lesão cariosa. | Fonte:
Shutterstock

Sua ação ocorre na formação da cárie.

A Streptococcus mutans possui a enzima glicosiltransferase para converter a glicose presente no açúcar da
dieta em um polissacarídeo bem aderente (dextrana) que se xa na superfície dos dentes.

Após a fímbria da Actinomycetos, uma outra bactéria, se ligar ao glicocálice de Streptococcus mutans,
gradativamente vai sendo formado um consórcio de bactérias e seus produtos chamado de bio lme.

A atividade metabólica dessas células bacterianas gera a redução do pH e a perda da integridade do


esmalte dos dentes, formando, assim, a lesão cariosa.
 Aderência de bactérias à borda em
escova das microvilosidades: (a)
Escherichia coli enteropatgênica e sua
cápsula; (b) Vibrio cholerae, que não
possui cápsula. | Fonte: (HACKER et al.,
1990)

Cepas de Escherichia coli enteropatogênica também utilizam adesinas para regiões especí cas do
intestino delgado. A aderência das bactérias promove uma resposta da célula hospedeira que leva à sua
endocitose.

O micro-organismo é engolfado pelo fato de as bactérias possuírem uma proteína de superfície (invasina)
que causa um rearranjo nos lamentos de actina do citoesqueleto no local do contato.

Ainda manipulando os lamentos de actina a seu favor, as bactérias do gênero Shigella e Listeria são
capazes de organizar esses lamentos em uma das suas extremidades, provocando propulsão pelo
citoplasma. Quando alcançarem as junções entre as células, elas usarão a caderina dessas junções para
passar de uma célula para outra.

Atenção

Os vírus, por sua vez, não possuem adesinas, e sim outras proteínas localizadas na superfície do
capsídeo que são especí cas do tecido alvo. Os receptores virais, entre outros exemplos, são:
Ácido siálico (para o vírus in uenza);

Integrinas (para rotavírus);

Molécula CD4 da célula T (HIV).

Agora que você provavelmente já está impressionado com a capacidade das bactérias de manipular as
células do hospedeiro, repare o que elas podem fazer para utilizar os nutrientes.
O ferro é muito importante para a maioria das
bactérias, mas temos muito pouco ferro livre na
circulação.

As bactérias secretam sideróforos que roubam o


ferro, muitas vezes internalizando a proteína
transportadora desse nutriente. Elas também
matam as células para liberar o ferro7 .

Isso explica a anemia provocada nas infecções


 Nível normal de glóbulos vermelhos | Nível de glóbulos vermelhos
bacterianas. na Anemia | Fonte: Shutterstock

Toxina
A maior parte dos danos causados por bactérias ocorre pela ação de toxinas. Essas proteínas são
consideradas os principais fatores de patogenicidade 8 .

Muitas vezes, a liberação na circulação ou linfa dessas toxinas é fatal.

As toxinas são classi cadas como endotoxinas e exotoxinas.


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Exotoxinas 

As exotoxinas são secretadas pelas bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. Muitas são


enzimas que, mesmo em pequenas quantidades, são bem perigosas.

Exemplo

Toxina botulínica propicia a paralisia de alguns membros;

Esta locócica é responsável pela intoxicação alimentar.

Além da associação do nome da toxina com a doença, muitas estão associadas ao tecido alvo, como,
por exemplo:

Neurotoxinas - atingem as células nervosas;

Cardiotoxinas - afetam as células cardíacas;

Leucocidinas - destroem os leucócitos;

Enterotoxinas - atacam as células que revestem o trato gastrintestinal.


Endotoxinas 

Acredito que você se lembre da composição da parede celular de Gram-negativas.


Na membrana externa, localiza-se o lipopolissacarídeo (LPS) que contém a porção lipídeo A
considerada endotoxina.

Como não é secretada pela bactéria, o LPS ca livre quando a bactéria morrer ou em objetos
contaminados.

Seu efeito é sobre macrófagos, as células fagocitárias de defesa, que, ao processar os restos
bacterianos, libera muitos fatores que provocam no hospedeiro um quadro clinico de calafrios,
febre, fraqueza generalizada e choque.

O uso de antibióticos contra essas infecções pode provocar sintomas de febre e aparente piora,
mas são esperados e transitórios.

Essas endotoxinas também ativam os fatores de coagulação do sangue. Isso gera o aparecimento
de pequenos coágulos que obstruem os capilares, levando à morte do tecido, uma condição
denominada Coagulação Intravascular Disseminada. No entanto, essa condição grave pode
também aparecer na presença da toxina esta locócica.

 Exotoxinas e endotoxinas.
Superantígenos
Muitas proteínas bacterianas são chamadas de superantígenos. O superlativo no nome já dá uma dica
de que é algo grave.

Essas proteínas bacterianas são perigosas porque possuem um sítio de ligação nos linfócitos T, um tipo
de célula especial que organiza e regula a resposta imunológica.

Linfócitos ativados dessa forma iniciam a produção de muitas proteínas citocinas para
ativar outras células da resposta imunológica. Essa situação é muito grave. O sistema imune
provoca muitos efeitos malé cos ao hospedeiro, como febre, náusea, vômito, diarreia,
choque e até morte.

Exemplo

As mais bem conhecidas são as toxinas esta locócicas da intoxicação alimentar que provocam a
síndrome do choque tóxico.

No início da aula, foi mostrado que os micro-organismos


patogênicos deveriam também ser capazes de ultrapassar ou
escapar das defesas do hospedeiro, lembra?
Como já vimos em morfologia bacteriana, a presença de cápsulas é um fator de sobrevida para
algumas bactérias.

Sua natureza química impede a fagocitose, processo no qual algumas células engolfam e destroem os
micro-organismos.

Exemplo

Algumas bactérias produtoras de capsula são:


Streptococcus pneumoniae;

Klebsiella pneumoniae;

Haemophilus in uenzae 9 .
A presença de cápsula normalmente está associada à cepa patogênica, mas pode-se encontrá-la
também em bactérias não patogênicas. A defesa imune contra elas depende da presença de anticorpos
que atuam como uma ponte entre a bactéria e o fagócito.

Enzimas
Como você já deve ter percebido, são muitas as estratégias dessas bactérias para permanecer no
hospedeiro. Assim como a presença de uma cápsula controla o mecanismo de fagocitose, algumas
bactérias produzem enzimas que degradam anticorpos.

Exemplo

São as proteases IgA, que destroem o principal anticorpo de mucosas. Daremos dois exemplos dessas
bactérias: Neisseria gonorrhoeae (gonorreia) e Neisseria meningitidis (agente causador da meningite).

Outros fatores de virulência são as exoenzimas. A coagulase produzida por algumas bactérias do
gênero Staphylococcus está envolvida na formação dos abscessos das infecções de pele.

Ela converte o brinogênio em brina, formando uma estrutura sólida que impede o acesso de células
de defesa.

Já a hialuronidase é secretada por estreptococos e hidrolisa o ácido hialurônico, que une as células do
tecido conjuntivo, permitindo o acesso a tecidos mais profundos.

Outra enzima é a estreptoquinase produzida por Streptococcus pyogenes, que degrada a brina dos
coágulos. Sua ação é tão e caz que a indústria farmacêutica padronizou o seu uso em infartos
produzidos por obstrução das artérias coronárias.

 Fonte: Shutterstock

Variação antigênica
Uma das características mais comuns entre todos os patógenos que infectam o homem é a variação
genética.

Na próxima aula, você começará a estudar imunologia.


Uma das propriedades da resposta imune especí ca é a memória imunológica. Ela
representa um grupo de linfócitos circulantes que já reconheceu o patógeno em um
encontro anterior, ativando, dessa forma, uma resposta imunológica mais rápida contra esse
patógeno. Para evitar esse reconhecimento, é muito comum os patógenos produzirem novas
proteínas com substituições no sítio de ligação dos receptores dos linfócitos.

Exemplo

Vírus: In uenza e o HIV (apesar de muitos vírus com genoma RNA possuírem tal capacidade);
Bactérias: Streptococcus pneumoniae (possui 84 variações de cápsulas) e Neisseria gonorrhoeae (44
variantes ilustram a dimensão que as variabilidades antigênicas têm sobre o homem).

Com esta aula, você naliza os conhecimentos básicos sobre microbiologia desde a diversidade dos
micro-organismos presentes no planeta e no homem até os mecanismos que podem propiciar o
aparecimento de doenças.

A partir da próxima aula, iremos ministrar as informações sobre a resposta imunológica e quais
mecanismos de defesa serão ativados para eliminação de patógenos.

Atividade
1. Em relação ao tipo de relação simbiótica entre espécies, assinale a opção que representa uma
interação na qual uma espécie é bene ciada sem, no entanto, provocar qualquer dano à outra:

a) Parasitismo
b) Simbiótica benéfica
c) Comensalismo
d) Parasitismo facultativo
e) Oportunista
2. A presença de algumas cepas de Escherichia coli produtoras de vitamina K na microbiota intestinal é
um bom exemplo de que tipo de interação?

a) Oportunista
b) Mutualismo
c) Simbiótica
d) Parasitismo
e) Comensalismo

3. A diferença entre patogenicidade e virulência pode ser identi cada na seguinte opção:

 A virulência está associada à capacidade de resposta imune do hospedeiro; a patogenicidade, à


resistência do micro-organismo.

a) A patogenicidade indica a gravidade da infecção; a virulência, os fatores que promovem a doença.


b) A virulência está associada a micro-organismos patogênicos; a patogenicidade, aos não patogênicos.
c) A virulência indica a gravidade da doença cujas condições definem a patogenicidade.
d) A patogenicidade é o resultado da capacidade de defesa do hospedeiro, enquanto a virulência é o
resultado das características do micro-organismo.

4. Assinale um componente presente em algumas células bacterianas que impede a ação dos
fagócitos.

a) Lipopolissacarídeo
b) Cápsula
c) Fímbrias
d) Pili
e) Protease IgA

Notas

oportunistas1

Com certeza, você já leu sobre as infecções oportunistas em pacientes que desenvolvem AIDS. São
infecções provocadas por organismos de baixa virulência em indivíduos saudáveis, mas tornam-se
graves nos pacientes imunosuprimidos pelo HIV.
Outro exemplo é a bactéria Pseudomonas aeruginosa, que infecta vítimas de queimaduras.

cepa bacteriana2

Em bacteriologia, cepas são variações dentro de uma espécie. Algumas cepas são consideradas mais
virulentas que outras. Todas derivam de um mesmo ancestral, retendo as principais características
morfológicas ou siológicas. Cepa é o mesmo que estirpe.

enterotoxinas3

toxinas produzidas por diversos microrganismos que agem no intestino, causando principalmente dores
abdominais, diarreias e vômitos. É uma das causas de intoxicação alimentar.

patogenicidade4

O conceito de ilha de patogenicidade foi introduzido na década de 1990 para estudar a virulência de
amostras da Escherichia coli produtora de hemolisina.

Essa proteína promove a lise de eritrócitos e do epitélio intestinal, provocando o processo diarreico.

Hoje, com as técnicas de sequenciamento de genes, muitas ilhas de patogenicidade são identi cadas,
auxiliando tanto no entendimento dos mecanismos de lesão como na produção de vacinas.

infecções sexualmente transmissíveis (ISTs)5

As principais ISTs são:

HIV;

HPV;

Herpes genital;

Sí lis;

Clamídia;
Gonorreia.

Via parenteral6

Qualquer via que não seja a oral e a intestinal.

ferro7

Está associado a proteínas transportadoras de ferro, como a lactoferrina e a transferrina, ou faz parte
da hemoglobina.

fatores de patogenicidade8

O nome é intoxicação porque muitas doenças são provocadas pelo efeito das toxinas - e não da
bactéria.

Haemophilus in uenzae9

Responsável pela pneumonia e meningite, daí a enorme importância da vacina Hib em crianças por elas
serem naturalmente mais suscetíveis a esse fator de virulência.

Referências

_______.Boletim epidemiológico de sí lis. Brasília: Ministério da Saúde/Secretaria de Vigilância em


Saúde, 2018. Disponível em: http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2018/boletim-epidemiologico-de-si lis-
2018 <http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2018/boletim-epidemiologico-de-si lis-2018> . Acesso em: 14
mar. 2019.

HACKER, J. et al. Deletions of chromosomal regions coding for mbriae and hemolysin occur in vitro
and in vivo in various extraintestinal Escherichia coli. In: Microbial pathogenesis. n. 8. 1990. p. 213-225.

MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

Próxima aula
Sistema imunológico: a não reação natural contra nossas estruturas;

Células participantes do reconhecimento desses patógenos.

Explore mais

Assista a documentário  sobre vírus mutantes:

 Vírus mutantes: assassinos microscópicos (dublado). <https://www.youtube.com/watch?


v=yUojmY7sNhk> .
Disciplina: Microbiologia e Imunologia

Aula 6: Fundamentos do sistema imunológico


Apresentação

A capacidade de defesa contra agentes patogênicos é comum a todos os seres vivos,


independentemente da sua complexidade. Entender o sistema imunológico dos animais e do
homem é acompanhar um sistema evolutivo dinâmico no qual os principais envolvidos (patógenos
e hospedeiros) estão em um processo de coevolução.

 
Sob a perspectiva dos pro ssionais de saúde, conheceremos nesta aula os princípios que regem a
resposta imunológica no hospedeiro e que servem de base para as soluções na promoção de
saúde, prevenções e inovações tecnológicas.

Objetivos

Listar os componentes da imunidade nativa e adquirida;

Explicar as propriedades da resposta imunológica adquirida;

Reconhecer as características de linfócitos e órgãos linfoides.


Funções do sistema imunológico
Imunidade é a resistência a doenças infecciosas. Em qualquer tipo de doença, somos preparados para
ativar, o mais rápido possível, células e moléculas para eliminá-los e, principalmente, garantir que isso
não ocorra de novo caso o agente patogênico reapareça.

Dessa forma, a função siológica do sistema imune é:

1. Prevenção de doenças;

2. Erradicação daquelas já existentes;

3. Defesa contra tumores 1 ;

4. Responder à presença de células e moléculas em um tecido ou órgão transplantado.

Com exceção dos micro-organismos mais evoluídos, esses objetivos são sempre alcançados com
sucesso.

A imunologia é o estudo do sistema imunológico, incluindo a resposta aos agentes


patogênicos e às lesões produzidas e seu papel nas doenças.  

O sistema imunológico também responde à presença de células e moléculas em um tecido ou órgão


transplantado. Nesse caso, é um desa o o controle sobre essas células imunes. Trata-se da mesma
di culdade encontrada agora com as terapias gênicas.
Atenção

Em situações especiais, o sistema imunológico pode prejudicar as células do hospedeiro, como nas
doenças in amatórias, alergias e doenças autoimunes.

O sistema imunológico é representado por:

1. Diversas células;

2. Vários sistemas de proteínas;

3. Seus órgãos especializados, que servem de produção e sítio de ativação de muitas células.

Quando a resposta imunológica estiver em curso, as células se comunicarão através de proteínas


secretadas chamadas de citocinas, cuja aparência é de uma enorme rede de comunicações a
orquestrar todas as etapas e ações para a eliminação do agente invasor.

É relativamente fácil imaginar que qualquer falha nesse sistema possa comprometer o hospedeiro e
possivelmente levá-lo à morte.

Exemplo

Um exemplo desse desequilíbrio é a infecção pelo vírus da imunode ciência adquirida (AIDS). Como as
células alvo são os linfócitos T e os macrófagos, o paciente gradativamente perde a capacidade de
responder a qualquer tipo de patógeno, mesmo aqueles de baixa virulência. Infelizmente, com o
aparecimento da AIDS, muitas funções das células T foram descobertas simplesmente porque a sua
ausência evidenciava o papel central dessas células no controle de doenças infecciosas e tumores.

O sistema imune é dividido em dois tipos de imunidade caracterizados por respostas diferentes:
imunidade inata ou natural e imunidade adquirida ou adaptativa.

Veja abaixo o esquema mostrando uma linha do tempo do


desenvolvimento de uma doença e os componentes da
imunidade inata e adquirida.
Figura 1: Componentes da imunidade inata e adquirida. | Fonte:
(ABBAS; LICHTMAN, 2014)

A seguir vamos entender cada resposta do sistema imune.

Imunidade inata ou natural


Imunidade inata é a primeira linha de defesa, com duração média de 12 horas.

Se você imaginar o desenvolvimento de uma doença numa linha do tempo, principalmente se for o
primeiro contato com o patógeno, poderá ver que, já nas primeiras horas, entram em ação mecanismos
simples e muito e cientes.
Presentes mesmo no indivíduo sadio, eles tentam controlar a entrada de micro-
organismos, como as barreiras epiteliais, e peptídeos antibióticos presentes no
epitélio.

O fato de muitos micro-organismos patogênicos possuírem enzimas que permitem a sua penetração
em tecidos e na circulação faz com que entrem em ação fagócitos, células dendríticas, Natural Killer e
proteínas do sistema complemento. Todos esses componentes reconhecem esses micro-organismos e
tentam reduzir o número de patógenos.

No caso dos fagócitos, eles possuem receptores que reconhecem estruturas comuns a grupos de
patógenos. Um exemplo é o reconhecimento do componente LPS de parede celular Gram-negativa ou o
ácido teicoico de Gram-positiva.

Além da eliminação dos patógenos, outra função muito importante da resposta imune inata é a
ativação da resposta imune adquirida. E não é por acaso que muitos agentes patogênicos possuem
mecanismos para escapar da resposta imune inata.

Imunidade adquirida
A imunidade adquirida é representada pelos linfócitos 2 e pela proteína anticorpo. Esses componentes
reconhecem uma variedade muito maior de estruturas do que aqueles da imunidade inata. Podem
inclusive reconhecer estruturas não infecciosas.

Linfócitos são células muito especializadas: elas se dividem após sua ativação e se
diferenciam das outras células por realizarem ações muito especí cas contra o
antígeno (qualquer substância reconhecida por linfócitos).
As ações da imunidade adquirida são divididas em imunidade humoral e imunidade celular. Isso
signi ca que, dependendo da presença do micro-organismo (intracelular ou extracelular), serão ativados
os mecanismos mais competentes para a sua eliminação.

Imunidade humoral
A atividade humoral é ativada quando forem
necessários mecanismos de defesas contra
micro-organismos extracelulares - como ocorre
na maioria das doenças bacterianas - e
precisarmos de apoio na circulação. Ela é
mediada por anticorpos produzidos pelos
linfócitos B ativados.

Os anticorpos estão presentes na circulação e no


líquido de mucosas, funcionando como uma
etiqueta marcando os micro-organismos e as
toxinas para a sua eliminação. Eles podem:

Recobrir os micro-organismos;

Reconhecer o antígeno sobre as células e


ativar as que forem natural killer;

Associarem-se às toxinas, formando


 Imunidade humoral. | Fonte: Shutterstock
complexos imunes para que muitos fagócitos
possam reconhecer e eliminar os micro-
organismos. Dessa forma, os anticorpos
impedem seu acesso a células e tecidos.
Imunidade celular
A imunidade celular é representada pelos
linfócitos T e ativada em doenças provocadas por
parasitas intracelulares, como os vírus. Os
linfócitos T podem:

Ativar os fagócitos que estiverem com micro-


organismos em suas vesículas; ou

Eliminar qualquer célula que possua micro-


organismos no citoplasma.

 Imunidade celular. | Fonte: Shutterstock

Comparação dos tipos de imunidade adaptativa celular e humoral. |


Fonte: (ABBAS; LICHTMAN, 2014)

Atenção
Outra diferença entre as células B e T é em relação ao tipo de estrutura química dos antígenos que eles
reconhecem. Os linfócitos B podem reconhecer proteínas, lipídeos, carboidratos e ácidos nucleicos,
enquanto a maioria dos linfócitos T só reconhece proteínas.

Ao nal dessa linha do tempo, que mostra o desenvolvimento de uma doença, o hospedeiro terá ativado
muitas células e anticorpos que irão promover a sua recuperação. Essa resposta ativa é chamada de
imunidade ativa.

Quando isso não acontece, como nos casos em que não existe tempo hábil para a elaboração da
resposta imunológica e a proteção não dura muito tempo, é necessário alcançar o estado imune pela
transferência de anticorpos. Isso se chama imunidade passiva. Um bom exemplo é a transferência de
anticorpos durante a amamentação de recém-nascidos, cujo sistema imunológico ainda não é capaz de
responder a muitos patógenos e precisam de proteção.

Resposta imune especí ca


Apesar das diferenças que você aprendeu nos dois tipos de imunidade adaptativa, algumas
propriedades comuns fazem da resposta imune especí ca uma referência em termos de sobrevivência
e evolução. São elas:
Clique nos botões para ver as informações.

Memória 

É uma característica da imunidade adaptativa melhorar a capacidade de defesa a cada encontro


com um mesmo micro-organismo.
Dessa forma, os mecanismos de eliminação são mais rápidos e e cientes. Isso se deve à
presença de linfócitos de memória.

Resposta imunológica primária 

No primeiro contato, os linfócitos virgens participam da resposta imunológica primária - alguns


chegam a permanecer viáveis por muitos anos.

 Aspectos da resposta imune primária e secundária


Resposta imunológica secundária contra antígenos. | Fonte: (ABBAS; LICHTMAN, 2014)

A propriedade anterior é muito importante nas infecções persistentes e recorrentes, pois cada
encontro gera mais linfócitos de memória. Essa resposta posterior é chamada de resposta
imunológica secundária.

Você já se perguntou se realmente possuímos linfócitos


su cientes para todos os tipos de patógenos no ambiente?
A RESPOSTA É SIM:

possuímos um repertório bem diverso de linfócitos organizados em clones 3 .

A especi cidade de receptores garante a capacidade de distinguir entre os muitos antígenos


diferentes. Como há muitos clones distintos, utilizamos, quanto aos receptores especí cos,
o termo diversidade.
Outra propriedade fundamental para o sucesso da resposta adquirida é a especialização, na qual os
linfócitos apresentam funções que são aproveitadas dependendo do antígeno. Assim, os linfócitos com
capacidade para destruir células devem participar da resposta imunológica contra vírus - e não
bactérias.

Atenção

É fácil entender que o sistema imunológico existe para nos proteger de agentes infecciosos, mas é
fundamental que isso não seja estimulado por moléculas e estruturas presentes no nosso corpo.
A ausência de autorreatividade contra antígenos próprios é uma condição importante durante o
desenvolvimento dos linfócitos. Se eles desenvolverem receptores com a nidade por estruturas
próprias, deverão ser eliminados nos órgãos geradores. A permanência desses clones de linfócitos
autorreativos leva ao aparecimento de doenças autoimunes, como vitiligo e lúpus eritematoso.

Toda resposta imunológica especí ca possui etapas bem de nidas. Vamos entender cada uma delas a
seguir:
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Fase de reconhecimento 

A resposta imunológica especí ca começa com o reconhecimento do antígeno pelos linfócitos


através dos receptores de membrana.
Os linfócitos precisam de dois sinais para serem ativados:

 Antígeno;

Molécula produzida por uma célula da imunidade inata.

Fase de expansão clonal 

A partir do reconhecimento desses sinais, inicia a fase clonal. O linfócito - ou melhor, o clone dos
linfócitos selecionados – entra em sucessivas divisões para aumentar o número de células
especí cas contra esse patógeno.

Fase efetora 

Na divisão, algumas células se diferenciam em células efetoras, cuja ação é especializada na


resposta imunológica. Isso explica o aparecimento de anticorpos produzidos pelos linfócitos B
diferenciados. O mesmo processo ocorre em outros linfócitos como se todos agora assumissem a
sua função na destruição do patógeno.

Fase de declínio 

Com a redução do número de patógenos e outros fatores, muitos linfócitos morrem por apoptose.
Isso garante que sempre tenhamos um número viável de linfócitos no nosso corpo.
Alguns deles são insensíveis ao estímulo de apoptose e permanecem em estado de repouso por
muitos anos até serem rapidamente ativados se o mesmo patógeno entrar no organismo. São
conhecidos como células de memória.
Células e órgãos do sistema imunológico
Agora que o panorama da resposta imunológica já foi apresentado, o passo seguinte nesta aula será o
de conhecer algumas células e órgãos que compõem o sistema imunológico.

As células da imunidade inata serão descritas detalhadamente na aula sobre imunidade inata.

Para que a resposta imunológica seja ativada, são necessárias três células:

Linfócitos Células apresentadoras de


antígenos
Células efetoras 4

Vamos apresentar cada uma.


LINFÓCITOS

Conforme vimos anteriormente, linfócitos são células muito especializadas, consideradas mediadoras
da imunidade adquirida.

Essas células possuem as funções de ativar macrófagos para que aumentem a capacidade de
destruição de micro-organismos ingeridos e neutró los para a in amação. Elas são produtoras de
muitas citocinas que propiciam a proliferação de linfócitos T e B.
1 2

Linfócitos T Linfócitos B
Importantes na imunidade celular. Importantes para a imunidade humoral.

Os Linfócitos T
subdividem-se em:

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Linfócito T auxiliar 

Possui o receptor para antígeno TCRαβ e um correceptor CD4 5 na sua superfície entre várias
moléculas de sinalização;

Linfócito T citotóxico 

Também possui TCRαβ e um correceptor CD8. Reconhece os antígenos na superfície de células


infectadas, levando à sua destruição. Da mesma maneira que a CD4, as moléculas CD8 também
servem para a conexão com as membranas celulares. Por isso, são denominadas correceptores:
embora não reconheçam o antígeno, são importantes para a ativação dos linfócitos T.

Linfócito T regulador 

Importante para o controle da resposta imunológica, esta célula, apesar de possuir CD4, funciona
suprimindo a resposta imunológica.

 Receptores de antígeno dos linfócitos B e T. | Fonte: (BENJAMINI; COICO; SUNSHINE, 2002)


As moléculas CD4 ou CD8 são utilizadas para o contato com membranas de células
apresentadoras e servem como marcadores para contagem de linfócitos T em diversas
patologias.

Um tipo de linfócito que não possui TCR (receptor)


é a célula Natural Killer, que reconhece a alteração
da membrana de células infectadas por vírus.

Apesar de ser considerada um linfócito, é uma


célula da imunidade inata. Assim como a célula T
citotóxica, a Natural Killer é especializada na
destruição de células anormais ou infectadas.

 Figura: A ativação de células NK é dependente da ausência de ligante


no receptor inibitório, quando por exemplo tumores e infecções virais
provocam a redução de moléculas de classe I na superfície de células
nucleadas. Fonte: stream.wum.edu.pl
<http://www.stream.wum.edu.pl/en/knowledge-base/96-nk-cells-
applications-in-immuno-oncology>

Os Linfócitos B
Os linfócitos B possuem anticorpos na sua superfície como receptor de antígeno chamados de BCR ou
imunoglobulina de superfície. Quando ativadas, essas células se diferenciam em plasmócitos, que
secretam anticorpos para desempenhar muitas funções da resposta imunológica.

Atenção

Todos os linfócitos originam-se de alterações sucessivas de células-tronco, gerando uma linhagem


linfoide. Enquanto as células B são desenvolvidas unicamente na medula, para as células T existe uma
etapa que propicia a saída de células precursoras para o timo onde se desenvolvem os timócitos. E daí
são liberados os linfócitos TCD4+ e TCD8+ maduros.
 Distribuição dos órgãos linfoides centrais e periféricos pelo corpo. | Fonte: Shutterstock

Vamos conhecer alguns desses órgãos:

Órgãos linfoides periféricos


Servem para facilitar a interação entre antígeno, células apresentadoras de antígeno e linfócitos.
 Estrutura de um Linfonodo. | Fonte:
Shutterstock

Linfonodos
Órgãos encapsulados formado por nódulos e distribuídos ao longo dos vasos linfáticos do corpo. A
circulação linfática contém muitas substâncias originadas do epitélio e dos tecidos. As células
apresentadoras de antígeno localizadas nos linfonodos reconhecem os antígenos de patógenos que
passam pelos linfonodos e os capturam, tornando-se ativadas.

Outra possibilidade é o reconhecimento de antígenos 6 de micro-organismos pelas células dendríticas no


epitélio e outros tecidos que se deslocam até o linfonodo para também se apresentarem.

Leia Mais >>

 Anatomia do baço. | Fonte:


Shutterstock

Baço
Órgão ricamente vascularizado. Por esse motivo, pode receber antígenos vindos da circulação. Os
linfócitos T se localizam na bainha linfoide periarteriolar que circunda as arteríolas, enquanto os linfócitos
B estão em folículos.
 Células do Sistema imunológico da
pele. | Fonte: Shutterstock

Sistema imunológico cutâneo


Local onde linfócitos, células apresentadoras e moléculas efetoras participam do reconhecimento de
antígenos vindos pela pele. Eles estão distribuídos por todo o nosso corpo.

 Anatomia da Placa de Peyer


sinalizando a presença de grupos de
células do sistema linfoide. | Fonte:
Shutterstock

Sistema imunológico mucoso


Possui os mesmos componentes nos tratos gastrintestinal e respiratório, mas podemos perceber uma
organização mais semelhante aos linfonodos.

São as amígdalas na faringe e as placas de Peyer no intestino delgado.

No intestino delgado, existe a célula M cuja especialidade é transportar os antígenos do lúmen para os
tecidos linfoides. Nesses locais, muitos linfócitos são de memória.

O grande desa o nesses locais é ativar a resposta imunológica contra antígenos que entram nos epitélios
sem, no entanto, reagir contra a nossa microbiota. Isso só será possível com o auxílio de células T
reguladoras e as células dendríticas que suprimem esse ataque.
Órgãos linfoides geradores ou centrais
Trata-se da medula e do timo, locais onde ocorre a geração dos linfócitos. Durante o desenvolvimento
embrionário e fetal, esta função é respectivamente do saco vitelino e do fígado fetal.

Timo
Órgão localizado no mediastino dividido em vários
lóbulos, cada um com uma região córtex e uma
medula. Os timócitos são células imaturas em
proliferação, mantendo contato através de suas
membranas com várias células acessórias, como
as nurse 7 . Serão, após esse processo,
chamados de TH ou Tc. As células nurse
disparam o sinal apoptótico para timócitos cujos
receptores apresentarem alta a nidade por
proteínas próprias.

Parece confuso, mas não é. Essas células


apresentam na sua membrana muitas proteínas
derivadas de constituintes celulares do nosso
corpo, avaliando, assim, a intensidade do sinal do
receptor antigênico. Dessa forma, sobrevivem os
clones de linfócitos cujos receptores sejam muito
diversos contra outras estruturas que não sejam  Estrutura do Timos. | Fonte: Shutterstock
as nossas. Denominamos seleção positiva
quando os linfócitos possuírem receptores
funcionantes e seleção negativa quando eles
forem autorreativos.

A vinda de precursores da medula óssea para o timo ocorre pela liberação de hormônios, como a
timulina e a timopoietina, que são produzidos pelo epitélio tímico, sugerindo um papel de atração nas
células precursoras de LT. A entrada e saída de células pelo timo ocorre através das vênulas endoteliais
altas ou HEV, que aderem fortemente aos timócitos e também protegem o ambiente tímico.
Medula
Os precursores de linfócitos B se desenvolvem até
se tornarem maduros com seus receptores BCR.
Ao redor dessas células, as células do estroma
produzem muitas moléculas de adesão e
citocinas que propiciam o seu desenvolvimento.
Aqui todas as etapas de desenvolvimento da
célula B também serão avaliadas, podendo sofrer
a seleção positiva e negativa.

 Medula e suas estruturas. | Fonte: Shutterstock

 Desenvolvimento dos linfócitos T e B nos órgãos linfoides geradores e circulação nos órgãos linfoides periféricos. | Fonte: (ABBAS; LICHTMAN,
2014)
Os linfócitos maduros e virgens saem da medula e do timo, entrando na circulação e nos órgãos
linfoides periféricos, onde podem encontrar o antígeno para o qual possuam receptores especí cos. Ao
ocorrer a seleção clonal, essas células entram em proliferação e se diferenciam em células efetoras e
de memória.

Os linfócitos virgens circulam preferencialmente para entrar nos órgãos periféricos, enquanto as células
efetoras, já ativadas, se deslocam para o local da infecção.

Como já percebemos, as células efetoras participam da resposta imunológica para a eliminação do


antígeno, enquanto as de memória não participam e circulam por muito tempo. Se elas forem ativadas
pelo antígeno especí co, o ciclo irá se repetir: as células entrarão em divisão, parte delas irá se
diferenciar em efetoras e novas células de memória serão formadas. Por isso, com o passar dos anos, a
memória imunológica aumenta contra o antígeno. Se as células T ou B virgens não forem ativadas em
um período de semanas, elas morrem por apoptose.

Durante o seu desenvolvimento, os linfócitos B e T adquirem receptores de antígeno, mas, caso


possuam alta a nidade por componentes próprios do corpo, eles deverão ser eliminados em um
processo chamado de deleção clonal. Esta etapa faz parte da tolerância central, mecanismo de
tolerância aos chamados antígenos próprios na medula (para os linfócitos B) e no timo (linfócitos T).

Atividade
1. Assinale, na ordem, um componente da imunidade inata e da adaptativa:

a) Linfócitos e células dendríticas.


b) Fagócitos e células dendríticas.
c) Linfócitos e fagócitos.
d) Sistema complemento e fagócitos.
e) Células dendríticas e linfócitos.

2. Quando a rmamos que a capacidade diferenciada de recombinar os genes que dão origem às
proteínas de reconhecimento é exclusiva de linfócitos, nos referimos à:

a) Memória
b) Especialização
c) Autorreatividade
d) Especificidade
e) Fagocitose
3. Assinale a opção que se destina somente aos órgãos linfoides periféricos:

a) Presença de precursores de linfócitos T e B.


b) Proliferação celular.
c) Diferenciação em células efetoras.
d) Circulação de linfócitos.
e) Seleção negativa.

4. Trata-se dos Linfócitos que não possuem TCR e atuam na eliminação de células infectadas. Esta
de nição está associada à qual célula?

a) TCD4
b) NK
c) TCD8
d) Células dendríticas
e) Células imunes

Notas

tumores1

Em relação a tumores, a presença de proteínas anormais nos nossos tecidos estimula o


reconhecimento de uma célula especial da resposta imunológica chamada de natural killer.

Linfócitos2

São células muito especializadas: elas se dividem após sua ativação e se diferenciam das outras células
por realizarem ações muito especí cas contra o antígeno (qualquer substância reconhecida por
linfócitos).

clones3
Na década de 1950, a teoria da seleção clonal a rmou que já possuíamos clones de linfócitos
especí cos antes do encontro com o antígeno. Esta substância seleciona um clone - entre um milhão
deles - que será ativado para participar dessa eliminação. Isso ocorre porque essas células possuem
uma capacidade diferenciada de recombinar os genes que dão origem às proteínas de reconhecimento.
Portanto, cada recombinação gera um tipo de receptor especí co diferente na superfície dessas células.

células efetoras4

principalmente outros leucócitos.

correceptor CD45

As células TH reconhecem antígenos na superfície de células apresentadoras de antígeno, e a molécula


CD4 é utilizada para se conectar com a célula apresentadora.

Detalhes desta etapa você vai aprender mais tarde durante a ativação dos linfócitos.

Antígenos6

A apresentação antigênica, em linhas gerais, é o processamento dessas proteínas em fragmentos


menores de tal forma que eles possam ser colocados na sua superfície e, assim, os linfócitos os
reconhecerem com os TCRs.

Nurse7

“Como (as células) nurse”.

Leia Mais
Os linfócitos T e B ocupam regiões especí cas dentro do linfonodo, sendo o córtex a região dos
linfócitos B que se organizam em folículos e abaixo, na região paracortical, os linfócitos T. É muito
importante a aproximação dessas populações, pois o T ativado irá ativar algumas funções importantes
no linfócito B. Se a célula B responder à presença de um antígeno, a sua morfologia muda para o
aspecto de uma célula bem volumosa e rica em retículo endoplasmático rugosa chamada de
plasmócito. Essas células produtoras de anticorpos estão nos chamados centros germinativos, que são
os antigos folículos com células B ativadas.

Referências

ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H. Imunologia básica. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

ABBAS, A.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. Imunologia celular e molecular. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2019.

BALESTIERI, F. M. P. Imunologia. São Paulo: Manole, 2009.

BENJAMINI, E.; COICO, R.; SUNSHINE, G. Imunologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

MALE, D. et al. Imunologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

Próxima aula

Defesas ativadas nas primeiras horas após a exposição do micro-organismo;

Funções das células envolvidas na in amação;

Elo entre resposta imunológica inata e adaptativa.

Explore mais

Assista ao vídeo:

Doenças autoimunes <https://www.youtube.com/watch?v=1h-GFxiWfs8> .


Disciplina: Microbiologia e Imunologia

Aula 7: Imunidade inata


Apresentação

Todos os seres vivos possuem um tipo de defesa contra micro-organismos e protozoários. Do


ponto de vista evolutivo, a presença de funções semelhantes à fagocitose e de proteínas do sistema
complemento mostra que a imunidade inata é obrigatória para a sobrevivência de qualquer ser vivo.

 
Nesta aula, você aprenderá sobre a primeira linha de defesa em humanos e qual o curso dessa
ativação.

Objetivos

De nir as principais características do sistema imunológico inato;

Reconhecer as funções de células e proteínas do sistema imunológico inato;

Explicar as etapas da in amação.


A primeira barreira contra infecções
Durante a evolução dos seres vivos, surgiram também mecanismos para eliminação de micro-
organismos patogênicos e remoção de células mortas participando do reparo de tecidos. Denominada
imunidade inata, essa defesa, tal a sua importância na evolução das espécies, pode ser identi cada em
vários seres vivos logeneticamente distantes.

A imunidade inata representa a primeira etapa contra infecções, atuando também na


ativação do sistema imunológico adquirido. Outra função dela é a de remoção de células
velhas ou danosas, estimulando o reparo tecidual.

Antes de começarmos a estudar esses mecanismos, vamos aprender em linhas gerais algumas
características da resposta imunológica inata.
Características gerais da resposta imunológica
inata
Sabe aquela vermelhidão, dolorida e inchada que surge quando cortamos a nossa pele?

Ela representa o processo in amatório em curso.

Se pudéssemos colocar esse material em um


microscópio, conseguiríamos observar células
mortas pela lesão e vários componentes
celulares ativados para remover bactérias e
outros micro-organismos que entraram por esse
corte.

Essas células produzem também sinalizadores


para estimular a chegada de novas células de
apoio.

Trata-se de uma das funções do sistema


imunológico inato.

In amação é o acúmulo e a ativação de leucócitos e proteínas plasmáticas em locais de


infecção ou lesão tecidual. Atua contra micro-organismos extracelulares.

Ao romper esse epitélio, os micro-organismos serão reconhecidos por fagócitos 1  do tipo macrófagos
e células dendríticas que iniciam a in amação.

Atenção

O mecanismo inato de defesa sempre responde da mesma forma nos encontros com o micro-
organismo, enquanto o sistema imunológico adaptativo responde de forma cada vez mais e caz a cada
encontro. Isso é porque não temos células de memória no sistema imunológico inato.
O sistema imunológico inato reconhece estruturas comuns a diversas classes de micro-organismos:

Existe um receptor para todas as bactérias Gram-negativas O sistema reconhece, por exemplo, a
molécula lipopolissacarídeo de parede celular Gram-negativa e a molécula peptideoglicano, e há um
receptor para esses componentes. Repare que são componentes comuns e não especí cos de uma
determinada espécie. Isso também ocorre com um vírus: a presença de material genético RNA dupla
ta faz com que a célula reconheça e responda à presença dele.

Essas moléculas são denominadas padrões moleculares associados a patógenos


(PAMP). Já os receptores presentes nas células da imunidade inata são os receptores
de reconhecimento de padrões.
A evolução desses receptores faz com que eles reconheçam estruturas vitais dos agentes patogênicos:
mesmo se houver mutação, a estrutura vai permanecer, pois o micro-organismo a utiliza na colonização
e infecção.

Comentário

Nas células necróticas ou danosas, essas células utilizam outro receptor: o padrão molecular de dano
(DAMP).
Como já foi dito neste curso, a imunidade inata também é responsável pela remoção de células e pelo
reparo do tecido.

Veja a diferença entre a imundade inata e adquirida em relação aos receptores de reconhecimento
padrão:

IMUNIDADE INATA IMUNIDADE ADQUIRIDA


Os receptores não são sintetizados a Os linfócitos se agrupavam em clones
partir de recombinações de genes (como 2 , todos com o mesmo receptor
ocorre nos linfócitos). antigênico.

Distinguem as estruturas de patógenos Se um linfócito em desenvolvimento


das estruturas próprias do corpo. Elas sintetizar um receptor que aparente uma
não reagem contra o próprio corpo: grande a nidade de ligação com
existe a discriminação entre o que é estruturas próprias, ele deve ser
próprio e não próprio nele. eliminado.

Exemplo

Na imunidade inata, o macrófago reconhece uma determinada estrutura comum a um grupo de


patógenos – comum, portanto, a todos os macrófagos. Não existe clone.

Resposta imunológica inata em ação


 Fonte: Shutterstock <https://cs.wikipedia.org/wiki/Sinice#/media/File:Nostoc.jpg>

Já é do seu conhecimento que muitos micro-organismos utilizam como porta de entrada o epitélio da
pele e os tratos gastrintestinal e respiratório, seja por, respectivamente, contato, ingestão ou inalação.

Nosso epitélio possui um conjunto de barreiras físicas e químicas de controle. De início, ele é contínuo,
di cultando a passagem de qualquer micro-organismo. Além disso, esse tecido:

produz peptídeos antibióticos


denominados defensinas e
catelicidinas que controlam a
invasão de micro-organismos.

possui na cavidade peritoneal e em


mucosas, os linfócitos
intraepiteliais τ γδ, NK-T 3 e as
células B-1. São células que, apesar
de serem linfócitos, possuem o
aspecto de imunidade natural.
Exemplo

Um exemplo da importância das defensinas é na Doença de Chron, que leva a uma in amação grave
nos intestinos, uma mutação faz com que elas não sejam produzidas em quantidade su ciente, cando
o paciente debilitado sem essa defesa natural.

Barreira física à infecção. Morte dos micro-organismos por antibióticos,


derfensinas e catelicidinas localmente produzidos.

Morte dos micro-organismos e células infectadas


por linfócitos intraepiteliais.

 Defesas inatas epiteliais. Fonte: Adaptado de ABBAS; LICHTMAN (2014)


Principais tipos de
receptores
Receptores do tipo Toll ( TLR 4 )
Esses receptores são bem conhecidos. Eles
receberam esse nome porque a mosca Drosophila
melanogaster possui uma proteína homóloga
chamada Toll que também atua na defesa contra
patógenos. Além de sua presença em macrófagos
e células dendríticas, o receptor TLR também está
presente em neutró los, células epiteliais e células
endoteliais.  Os receptores do tipo Toll reconhecem componentes microbianos na
superfície, no citoplasma ou dentro de vesículas endossomais. Fonte:
(ABBAS; LICHTMAN, 2014).

1 2

TLR-4 TLR-5
Reconhece o lipopolissacarídeo Reconhece a proteína agelina que compõe o
agelo de bactérias

TLR3, TLR 7 e TLR 8


Reconhecem os tipos de genomas virais

Esses receptores estão distribuídos na membrana plasmática, no interior de vesículas


endossomais e no citoplasma. Portanto, é bem difícil para o patógeno escapar deles.
Receptor RIG
Reconhece o RNA viral e o in amassoma, um arranjo de proteínas que converte a citocina pró-
interleucina 1b em molécula Interleucina 1b (IL-1b), tornando-a biologicamente ativa. Esta molécula
induz a in amação aguda e febre.

Exemplo

Além da sua função na defesa do hospedeiro, hoje se acredita que possa estar envolvido na ativação da
in amação de três doenças:
Gota;

Aterosclerose;

Diabetes do tipo 2 associado a obesidade.

Funções básicas de citocinas

 Fonte: Shutterstock <https://cs.wikipedia.org/wiki/Sinice#/media/File:Nostoc.jpg>

Durante a resposta imunológica inata e adaptativa, as células são ativadas pela presença de micro-
organismos e outros tipos de antígeno que as façam mudar de estado.
No entanto, a intensidade da resposta, e por que não dizer o seu desfecho, depende
muito de proteínas chamadas de citocinas.

Vamos entender as funções básicas de citocinas, pois o seu conhecimento nos auxiliará na
compreensão das etapas das respostas imunológicas do hospedeiro.

Citocinas são polipeptídios produzidos por células que provocam reações de regulação nas
respostas in amatórias e imunológicas. Suas funções são claramente associadas a
resistência às infecções, embora elas também atuem no reparo e no desenvolvimento de
linhagens celulares hematopoiéticas.

Essas reações são um evento rápido e autolimitado. Muitas dessas ações provocam a síntese de outras
citocinas como um efeito em cascata, provocando ao m uma série de reações celulares.

Observe na gura a seguir as ações autócrina 5 , parácrina 6 e endócrina das citocinas:


 Citocinas e receptores de citocinas. Fonte: Shutterstock

Atenção

Fica claro que todas as células alvo possuem receptores para citocinas e que ocorre um efeito
ampli cador dessas ações durante a resposta, pois muitas células aumentam o número de receptores
em suas membranas. Elas representam mensagens químicas com os mais variados objetivos
identi cáveis a cada caso.

As células produtoras de citocinas da imunidade inata são os macrófagos e as dendríticas Vamos


conhece-las a seguir.
MACRÓFAGOS

 Fonte: Shutterstock

São células residentes no tecido conjuntivo e em vários órgãos do corpo. Eles representam a
diferenciação de monócitos sanguíneos, ou seja, são dois estágios da mesma linhagem celular
conhecida como sistema fagocitário mononuclear.

Em média, há na circulação 500 a 1.000 monócitos por mililitro de sangue.

Macrófagos são responsáveis por ingerir micro-organismos no sangue e em tecidos. Distribuem-se no


tecido conjuntivo e em vários órgãos do corpo. As suas funções são:
1 2

Remoção e destruição dos Produção de citocinas que


micro-organismos. iniciam e regulam a
in amação.

Limpeza de tecidos mortos


para iniciar o processo de
reparação tecidual.

Os macrófagos utilizam os receptores de reconhecimento padrão para reconhecer os micro-


organismos, mas também podem ser ativados por anticorpos e fragmentos do sistema complemento.

Durante a resposta inata, os macrófagos respondem aos patógenos produzindo as citocinas:

1 2

Fator de necrose tumoral ( TNF Interleucina-1 (IL-1)


7 .)

Citocinas quimioatrativas 8

 Já dissemos que a IL-1 induz a febre pela resposta do hipotálamo, mas o TNF também realiza essa
ação. Junto com a interleucina-6, essas citocinas atuam também nas células do fígado para a produção
de várias proteínas chamadas reagentes da fase aguda. Exemplos: a proteína C-reativa e o brinogênio.

Atenção
Quando ocorrer uma infecção bacteriana grave e disseminada pelo corpo, poderá acontecer o chamado
choque séptico. Seus sinais clínicos incluem:
Hipotensão arterial;

Coagulação intravascular disseminada;

Distúrbios metabólicos estimuladas no início por níveis elevados de TNF.

CÉLULAS DENDRÍTICAS

 Fonte: Wikipedia <https://en.wikipedia.org/wiki/Bacteria#/media/File:EscherichiaColi_NIAID.jpg>

As células dendríticas (DC) também respondem aos micro-organismos, produzindo quimiocinas e a


interleucina-12 (IL-12) em resposta ao lipopolissacarídeo e a outras moléculas microbianas. A IL-12
atua em células NK e T, que respondem produzindo IFN-γ.

Nas infecções virais, um subconjunto de células dendríticas e, em menor escala, outras células
infectadas produz o IFN tipo 1, que inibe a replicação viral e evita a disseminação da infecção para
células sadias.

A DC representa um elo entre a imunidade inata e a adaptativa através da ativação das


células T virgens.
Outra célula que participa dessa fase é o
mastócito 9 . Sua principal característica é o
grande número de grânulos citoplasmáticos
presente na pele e no epitélio mucoso. Pode ser
ativada por micro-organismos utilizando TLR ou
anticorpo. Seus grânulos contêm aminas
vasoativas como a histamina, responsável pela
vasodilatação e pelo aumento da permeabilidade
dos vasos, duas ações importantes no local da
in amação. Essas células também secretam
prostaglandinas e citocinas que estimulam a
in amação.
 Mastócito e grânulos de histamina. Fonte: Shutterstock

Outros participantes importantes da imunidade


inata
Neutró los
Na circulação, a presença de neutró los -
também conhecidos como leucócitos
polimorfonucleares – é fundamental para a
in amação. Existem entre 4.000 e 10.000 deles a
cada mililitro de sangue, mas esse número pode
dobrar durante a infecção.

Muitas células que participam da infecção


produzem as citocinas, são conhecidas como
fator estimulador de colônias. Na medula óssea,
esse fator estimula as células-tronco
hematopoiéticas a proliferarem e amadurecerem
os precursores de neutró los. Além de ingerirem
 Os neutrófilos polimorfonucleares são abundantes no sangue e (fagocitose) os micro-organismos na circulação,
participam ativamente da inflamação. Fonte: Shuttertock
essas células são recrutadas para os tecidos
in amados.

A vida média do neutró lo é de 8 horas; por isso, eles não oferecem uma defesa por muito
tempo.
Natural Killer
Uma célula que se destaca em infecções virais
logo no início da resposta é a natural killer (ou
exterminadora natural).

Ela é um tipo de linfócito que possui receptores de


ativação capazes de reconhecer moléculas de
superfície nas células infectadas com vírus e
bactérias intracelulares, além de células
estressadas por dano ao DNA e transformação
maligna.

Quando ativada, ela libera grande quantidade de


proteínas armazenadas em seus grânulos
citoplasmáticos, gerando a apoptose da célula  Célula Natural Killer (NK) identifica células cancerígenas. Fonte:
Shutterstock

alvo da mesma forma que o linfócito T citotóxico.

No entanto, ela não possui o receptor TCR na sua superfície, utilizando um receptor NKG2D que
reconhece as moléculas classe I do MHC que pertencem ao complexo principal de
histocompatibilidade.

Um outro receptor de ativação da NK é o CD16, mas ele será utilizado mais à frente na resposta quando
já existirem anticorpos ligados às células. A NK reconhece anticorpos sobre células e também provoca
a morte. Esse fenômeno é chamado de citotoxicidade celular dependente de anticorpo (ADCC, do
inglês antibody-dependent cellular cytotoxicity).
Em relação a citocinas, já vimos que macrófagos
produzem a interleucina-12, que atua na NK a
estimulando a produzir a interferon-γ. A IFN-γ, por
sua vez, estimula os macrófagos a se tornarem
mais efetivos na morte de micro-organismos
fagocitados. Propicia a ativação da célula NK o
interferon tipo 1 (IFN tipo 1) produzido por
dendríticas e macrófagos que ingerem células
mortas com vírus.

 Figura: Receptor da célula NK inibitória. Fonte: (BENJAMINI; COICO;


SUNSHINE, 2002)

Sistema complemento
Outro participante importante da imunidade inata. O sistema complemento é composto de um conjunto
de proteínas circulantes e também ligadas à membrana para estimular a:

Fagocitose  de micro-organismos;

Degranulação de mastócitos;

Migração leucocitária para o local da lesão;

Destruição de bactérias durante a in amação.

Essas proteínas são produzidas normalmente pelo fígado, mas a importância do


sistema complemento na in amação é tão grande que os macrófagos ativados
também começam a produzi-las.
O sistema complemento funciona como uma cascata de ativação em que determinada proteína é
modi cada e atua sobre a seguinte. Suas proteínas são identi cadas pela letra C seguida de um número
e pela letra F. O sistema participa tanto da imunidade inata como da adquirida. Existem duas vias de
ativação do sistema complemento durante a resposta imunológica inata:  

Clique nos botões para ver as informações.

Via alternativa 

Começa com o depósito de C3 sobre a parede celular de bactérias. Com a participação dos fatores
B e D, essa proteína dá origem a dois fragmentos:

C3a - liberado no meio;

C3b - permanece associado à parede celular.

 
Quimioatrativo para neutró los e monócitos, o fragmento C3a acaba promovendo o recrutamento
desses leucócitos para o local da lesão. Já o fragmento C3b é reconhecido pelas células
fagocitárias que possuírem o receptor chamado CR1. Ele atua na opsonização (estímulo à
fagocitose). A molécula responsável por isso chama-se opsonina. Com o C3b, os micro-
organismos são rapidamente destruídos pelos fagócitos.

Via da lectina 

Começa quando o carboidrato manose (presente nas glicoproteínas de superfície dos micro-
organismos) for reconhecido por uma proteína plasmática ligante de carboidrato, a lectina ligante
de manose (MBL). Os componentes dessa via são os mesmos da via clássica de ativação que
ocorre na presença de anticorpos. Aqui também serão produzidos os fragmentos C3a e C3b.
 
A continuação da cascata de ativação propicia a clivagem da proteína C5 com o fragmento C5a,
apresentando a mesma função de C3a como quimioatrativo. O fragmento C5b, ancorado na
parede celular da bactéria, inicia a ligação das proteínas nais C6, C7, C8 e C9 em um evento que
se chama complexo de ataque à membrana ( MAC 10 ).
 Vias de ativação e produtos do sistema complemento. Fonte: (ABBAS; LICHTMAN, 2014)

Processo da in amação no local da infecção

 Fonte: Shutterstock
A nal, quem começa a in amação?
Quando um patógeno alcançar o tecido subepitelial, ele será reconhecido pelos macrófagos residentes
que utilizarem PAMP ou DAMP. Em resposta, essas células produzirão TNF e IL-1, que agem no
endotélio de vênulas próximas ao local de infecção. O endotélio agora começará a expressar as
moléculas de adesão E-selectina e P-selectina, que são da família selectina.

 Os neutró los e os monócitos circulantes possuem na superfície carboidratos que se ligam fracamente
às selectinas. Inicialmente, os neutró los se juntam ao endotélio, mas o uxo de sangue não deixa essa
ligação ser rme e a célula se solta. Mais adiante, estabelece-se uma nova junção; assim, os leucócitos
seguem em rolamento ao longo do vaso.

Os leucócitos também possuem outro conjunto de moléculas de adesão chamadas de integrinas. Elas
estão presentes normalmente em baixa a nidade nos leucócitos inativos. Sob efeito das quimiocinas
produzidas pelos macrófagos e também pelas células endoteliais, essas integrinas ganham mais
a nidade pelos ligantes presentes no endotélio. Ao mesmo tempo, a TNF e a IL-1 produzidas pelo
macrófago estimulam o endotélio a expressar os ligantes para as integrinas.

Com isso, o rolamento diminui e o citoesqueleto dos leucócitos é reorganizado, enquanto as células se
espalham na superfície endotelial. Em minutos, as quimiocinas C3a e C5a do sistema complemento
estimulam a motilidade dos leucócitos que passarem através da parede do vaso, seguindo um
gradiente de concentração desses quimioatrativos, até chegarem ao local da infecção.

 Os capilares tornam-se mais permeáveis nesse processo atiçado pelo TNF. Muitas proteínas, como as
do sistema complemento e até do anticorpo, saem dos vasos e entram no local da lesão. Isso acelera a
eliminação, pois elas auxiliam os fagócitos. Você se lembra da opsonização?

 Etapas da inflamação. Fonte: Shutterstock


No caso da opsonização por complemento e anticorpos, a ligação é bem forte. Em seguida, o fagócito
organiza o seu citoesqueleto, estendendo a membrana plasmática ao redor da partícula, que se fecha
formando uma vesícula chamada de fagossoma.

Os fagossomas se fundem com os lisossomas, formando os fagolisossomas. Ao mesmo tempo, o


fagócito ativa muitas enzimas responsáveis pela digestão, como a oxidase fagocitária, convertendo o
oxigênio molecular em ânion superóxido e radicais livres. Esse processo é denominado surto oxidativo;
os compostos, de intermediários reativos do oxigênio ( ROS 11 ).

ROS são extremamente tóxicos para os micro-organismos que estão no fagolisossoma. Outra enzima, a
óxido nítrico sintase induzida (iNOS), metaboliza o aminoácido arginina em óxido nítrico (ON). As
enzimas proteases lisossômicas são essas substâncias microbicidas que destroem os micro-
organismos. Os neutró los ativados também liberam os conteúdos de grânulos microbicidas.

 Fases da fagocitose. Fonte: (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012)

Como já foi visto neste curso, os neutró los têm vida curta: ao morrerem, liberam suas proteínas
nucleares, as histonas que se tornam proteínas antimicrobianas. Essas proteínas, que fazem parte das
redes extracelulares de neutró los ( NETs 12 ), servem para matar bactérias e fungos.
Apesar de a in amação ser um processo dirigido contra micro-organismos, a liberação dos
intermediários reativos do oxigênio e de algumas enzimas acaba provocando lesões nos
tecidos do hospedeiro.

Como podemos imaginar, em um processo evolutivo alguns micro-organismos evoluíram para resistir a
essa destruição. Eles podem escapar da vesícula fagocítica e entrar no citoplasma livre do ataque de
ROS (ou óxido nítrico), como a Listeria monocytogenes, que provoca a meningite. Na tuberculose, essa
micobactéria  possui uma enzima que impede a fusão da vesícula com o lisossoma.

Esta aula foi o primeiro passo no conhecimento das etapas de ativação e eliminação de patógenos na
espécie humana desde mecanismos muito simples localizados na superfície corporal até a organização
de uma rede de células e citocinas. Ficou claro para você que a in amação é um processo bem
complexo. Poderíamos dizer que ele também é dinâmico, pois os mecanismos de escape dos micro-
organismos provavelmente desencadearão novas alternativas para as nossas defesas.

Atividade
1 - Assinale a única opção que não representa a resposta imunológica inata:

a) Especificidade
b) Fagocitose
c) Quimioatração de neutrófilos
d) Citotoxicidade
e) Memória imunológica
2 - (Fiocruz - Médico alergista e imunologista - 2010) A resposta inata funciona como uma primeira linha
de defesa contra diferentes tipos de infecção. Sobre a imunidade inata, assinale a a rmativa incorreta:

a) Depende da expansão clonal das células que compõem o compartimento linfoide.


b) Pode ser demonstrada em seres vivos tão diversos quanto a drosófila, o camundongo e o ser humano.
c) Envolve sistemas de fase fluida como o sistema complemento, assim como populações celulares como as
células natural killer.
d)Tem papel importante como moduladora do tipo de resposta específica que será observada em seguida
decorrente da ativação linfocitária.
e) Fagócitos tem duas funções importantes relacionadas à proteção: eles englobam e ingerem partículas e
apresentam maquinaria enzimática necessária para a eliminação de partículas vivas.

3 - O sistema complemento é um conjunto de proteínas que atua durante todo o curso da resposta
imunológica no hospedeiro. Em relação à função do fragmento C3b na resposta imunológica, assinale a
opção correta:

a) Participa do complexo de ataque à membrana.


b) Estimula a fagocitose.
c) É uma citocina da imunidade inata.
d) É quimioatrativo para neutrófilos.
e) Permite aderência ao endotélio no local da infecção.

4 - Qual das opções representa a citocina responsável por estimular as células natural killer durante a
resposta imunológica inata?

a) Interleucina-1
b) Fator de necrose tumoral
c) Interleucina-6
d) Interleucina-12
e) Interleucina-2

5 - De na in amação.
6 - Durante as fases da in amação, os neutró los reagem à presença de moléculas de adesão na
superfície do endotélio. Em um primeiro momento, a força do uxo de sangue não permite que a ligação
entre endotélio e neutró lo seja forte o su ciente para a manter. Observamos então o fenômeno de
rolamento, cuja molécula responsável nessa etapa é:

a) Selectina
b) Integrina
c) Fator de necrose tumoral
d) Opsonina
e) Quimioatraente

Notas

Fagócitos 1

Fagócitos são leucócitos (conhecidos como glóbulos brancos) do sangue atuantes na defesa do
organismo, ingerindo (fagocitose) partículas e micro-organismo estranhos no corpo.

A fagocitose é a ingestão de partículas com mais de 0,5 µm de diâmetro depois de serem ativados
estes três receptores: de reconhecimento padrão, para anticorpos e para fragmentos do complemento.

Clones 2

Temos muitos clones com receptores diferentes: esse número é da ordem do bilhão.

reconhece o lipídeo microbiano apresentado pela molécula CD1 das células apresentadoras de
antígenos.

TLR 4

Signi ca : TLR: toll-like receptors.


autócrina 5

A ação autócrina provoca seu efeito na mesma célula de origem. Um exemplo é a interleucina-2
produzida por linfócitos recém-ativados, estimulando sua proliferação.

parácrina 6

A ação parácrina é a mais comum, especialmente durante as defesas imunológicas, envolvendo a


célula produtora e a célula alvo em resposta a essa ação.

Podemos usar a IL-1b como um modelo de ação endócrina. Ela foi liberada por células no sítio da lesão
e na circulação. O hipotálamo possui receptores para o IL- 1b, que, em resposta, altera a temperatura
corporal – o que chamamos de febre.

TNF 7

sigla em inglês para tumor necrosis fator.

Citocinas quimioatrativas 8

como a interleucina-8, que atua recrutando neutró los e monócitos para os locais de infecção.

Mastócito 9

Mastócitos são células contendo grânulos de histamina e outros componentes que contribuem para a
in amação e podem ser também encontrados em processos alérgicos.

MAC 10

do inglês membrane atack complex.


O MAC estimula a perturbação da membrana da bactéria, principalmente pelas ações de C8 e C9. O
resultado disso é a lise osmótica ou a apoptose do micro-organismo.

ROS 11

do inglês reactive oxygen species.

NETs 12

do inglês neutrophil extracellular traps.


Referências

ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H. Imunologia básica. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

ABBAS, A.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. Imunologia celular e molecular. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2019.

BALESTIERI, F. M. P. Imunologia. São Paulo: Manole, 2009.

BENJAMINI, E.; COICO, R.; SUNSHINE, G. Imunologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

MALE, D. et al. Imunologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. Porto Alegre: Artmed, 2012.

Próxima aula

Distinção entre antígenos e imunógenos e suas principais características;

Diferentes tipos de epítopos;

Moléculas de classe I e II do complexo principal de histocompatibilidade nos diversos tipos de


apresentação antigênica.

Explore mais
Micro-organismos – fagocitose; <https://www.youtube.com/watch?v=PHJxwBvfwgY>

Sistema imune inato (com legendas em inglês e português). <https://www.youtube.com/watch?


v=CXz6FVqPqHw>
Disciplina: Microbiologia e Imunologia

Aula 8 : Antígenos, Imunógenos e reconhecimento


antigênico
Apresentação

Para o sistema imunológico nem todo antígeno é capaz de ativar a resposta imunológica.

Um bom imunógeno estimula a apresentação antigênica e a ativação da defesa especí ca e


também a memória contra os patógenos.

Veremos nesta aula que, para a resposta especí ca se desenvolver, é fundamental o papel das
moléculas MHC na apresentação de antígenos aos linfócitos T.

Objetivos

De nir antígenos, imunógenos e suas principais características;

Reconhecer as proteínas do Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC);

Identi car as vias de apresentação antigênica.


Antígenos

Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online

Em vários momentos nas últimas aulas, você compreendeu que a resposta imunológica adaptativa tem
início quando os antígenos são reconhecidos pelos receptores especí cos dos linfócitos, TCR do
linfócito T e BCR do linfócito B.

Antes de mostrarmos a ativação de linfócitos, precisamos entender o que são antígenos.

Antígenos são substâncias reconhecidas por receptores do sistema imunológico


adaptativo. As regiões do antígeno que se ligam aos receptores são denominadas
determinantes antigênicos ou epítopos.
Já em relação aos imunógenos, são substâncias capazes de ativar linfócitos
provocando a resposta imunológica.
Algumas características importantes dos imunógenos ajudam a entender a sua imunogenicidade, ou
seja, a capacidade de promover a resposta imune especí ca:

Clique nos botões para ver as informações.

Estranheza 

Normalmente, o sistema imunológico sabe a diferença entre as estruturas próprias do organismo


e as não próprias. Quanto mais o nosso sistema imune conhecer diferentes substâncias, maior a
chance de serem reconhecidas como imunógenos e ativar a resposta.

Tamanho 

Não existe uma de nição concreta do tamanho ideal, mas quanto maior for a molécula, mais
imunogênica ela é considerada.

Composição química 

As proteínas ou glicoproteínas são consideradas ótimos imunógenos, assim como os


lipopolissacarídeos. Já os ácidos nucleicos não são considerados bons imunógenos, a não ser que
estejam ligados a proteínas.

Degradabilidade 

É a facilidade dos antígenos serem fagocitados. Como isso é importante para a apresentação
antigênica, o fato de serem fragmentados é um bom fator para a ativação das células T. Esse
processo dá origem aos determinantes antigênicos que serão reconhecidos pelos receptores de
linfócitos T. Para os linfócitos TCD4, o tamanho do epítopo varia entre 12 e 20 resíduos de
aminoácidos. Já para os linfócitos T CD8, vai de 8 a 9 resíduos de aminoácidos.
Lembre-se de que o determinante antigênico ou epítopo é a região de ligação com o
receptor antigênico. Por isso, usamos também esse nome para a ligação com os
anticorpos. Nesse caso, os anticorpos interagem livremente com o antígeno.
 Mecanismo de reconhecimento do anticorpo ao antígeno. Cada tipo de anticorpo liga-se apenas a um antígeno específico. A interação está
ocorrendo nas regiões de paratopo e epítopo. Fonte: shutterstock
Agora que entendemos que um antígeno possui vários epitopos devemos perceber também
que nem todos interagem com a mesma intensidade aos receptores das células imunes. Os
que interagem com maior a nidade com o receptor, comparado a outros, é denominado
epitopo imunodominantes e podem induzir uma resposta imunológica forte.

Veja como os epítopos são classi cados:

Epitopos lineares

Fazem parte de uma sequência de aminoácidos na estrutura do antígeno.

Epitopos conformacionais

São formados pela estrutura tridimensional das proteínas ou dobras dos polissacarídeos. A molécula
de anticorpo interage com pontos de contato nessa estrutura tridimensional.
 Identificação de epítopo linear e epítopo conformacional na
estrutura de uma proteína antigênica. Fonte: BENJAMINI, COICO e
SUNSHINE, 2002.

Além disso, os antígenos são classi cados de acordo com a participação, ou não, das células T:
Clique nos botões para ver as informações.

Antígenos T-independente 

São antígenos reconhecidos diretamente pelos linfócitos B. Uma característica comum nesse tipo
de antígeno é a sua estrutura química formada por unidades repetitivas, como os polissacarídeos.
Esses antígenos também são mais resistentes à degradação, podendo car mais tempo no
organismo.

Muitos clones diferentes de células B são ativados por esse antígeno, o que é chamado de
ativação policlonal.

Antígenos T-dependentes 

São aqueles que não estimulam diretamente a produção de anticorpos e precisam da participação
de TH.
Proteínas são antígenos T dependentes capturados pelas células dendríticas, chamadas de
apresentadoras de antígeno (em inglês Antigen Presenting Cell).

Além das células dendríticas, macrófagos e linfócito B são também APCs. No caso do linfócito B, a
sua participação como APC ocorre em uma condição especial durante a sua ativação e produção
de anticorpos. Essas células possuem em comum uma proteína chamada de MHC classe II.
 Fonte: Shutterstock

Ativação da resposta imunológica adaptativa


Vamos entender um pouco mais sobre as etapas da ativação da resposta imunológica adaptativa, que
tem início quando os antígenos são reconhecidos pelos receptores especí cos dos linfócitos TCR do
linfócito T e BCR do linfócito B.

 Imunidade adaptativa: linfócito, anticorpo e antígeno. Fonte: Shutterstock


1

Linfócitos B
Os receptores BCR, também chamados de imunoglobulinas de superfície dos linfócitos B, reconhecem
antígenos de proteínas, polissacarídeos, lipídeos e ácidos nucleicos que estão presentes na circulação
ou que pertencem à estrutura de um patógeno.

Linfócitos T
São capazes de reconhecer peptídeos dos antígenos proteicos, ou seja, os receptores antigênicos
dessas células reconhecem somente proteínas.

Além disso, o reconhecimento e a ativação de linfócitos T devem ser realizados com o auxílio de células
denominadas células apresentadoras de antígeno. Para isso, elas possuem um grupo de proteínas na
membrana chamado de Proteínas do Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC).1 .
Proteínas do Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC)

Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online

As moléculas MHC são proteínas presentes em todas as células do nosso corpo. Possuem várias
funções siológicas e sua principal característica é uma fenda formada na sua estrutura que permite se
ligar a peptídeos de antígenos para ativar o linfócito T.

Essa ligação entre a proteína MHC e o peptídeo ocorre ainda dentro da célula APC 2 e o complexo é
deslocado até a membrana plasmática da célula. Dessa forma, o TCR 3 faz contato com a proteína
MHC, por meio de vários aminoácidos do peptídeo antigênico, e também com alguns aminoácidos da
célula apresentadora.

O contato com a proteína MHC é chamado de restrição MHC, e isso ocorre para que a célula T possa
responder ao antígeno que foi mostrado por um componente próprio do organismo.
 Interação entre a molécula TCR e classe II do MHC. Fonte: Adaptado de BENJAMINI, COICO e SUNSHINE, 2002.

Comentário

Existem algumas populações menores de linfócitos T chamadas NK/T 4 , lembra?


Elas reconhecem lipídeos junto com um tipo de proteínas semelhante ao MHC. Elas também possuem
receptores TCR, mas com uma diversidade mais limitada que reconhecem lipídeos ligados a moléculas
CD1, semelhantes ao MHC. Essas células são importantes na imunidade inata para o reconhecimento
de bactérias.

O lugar dos genes das proteínas MHC ─ lócus gênico ─ é no cromossomo 6 em humanos e recebe o
nome HLA 5 – antígenos leucocitários humanos. O equivalente ao MHC humano em camundongos
está no cromossomo 17 e chama-se H2.
Essas proteínas são determinantes para a aceitação ou rejeição de enxertos entre
indivíduos e, por isso, recebem o nome de antígenos leucocitários, sendo capazes de
estimular a produção de anticorpos no indivíduo receptor do tecido ou órgão
transplantado 6 .

Em todas as espécies, o lócus do MHC contém dois conjuntos de genes altamente polimór cos,
chamados de genes do MHC classe I e classe II, que codi cam as moléculas do MHC classes I e II nas
quais há os peptídeos às células T.

Existem também os genes do MHC classe III que expressam proteínas do sistema complemento, além
de algumas citocinas da in amação, mas que não participam da apresentação antigênica que vamos
aprender.

Um fato interessante é que os genes do MHC são expressos de maneira codominante 7 . O


que quer dizer que os alelos do pai e da mãe aparecem igualmente nas células do lho(a).

Observe na gura o lócus gênico em humanos


HLA, que :

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Moléculas de classe I 

São expressas pelos genes HLA-A, HLA-B e HLA-C. Se combinarmos os 3 genes da mãe e os 3
genes do pai vamos ter 6 moléculas diferentes para a classe I. Quanta diversidade não?

Moléculas de classe II 

São os HLA-DP, HLA-DQ e HLA-DR, e um indivíduo pode então herdar


8 de 6 a 8 alelos de MHC de
 Genes Haplótipo Humano (HLA) e camundongos (H2). Fonte:
classe II, além de outras variáveis. ABBAS, LICHTMAN e PILLAI, 2019.

As moléculas de classe II apresentam variabilidade ainda maior.


Esses genes são tão polimór cos que ninguém possui o mesmo grupo de genes que
outro individuo no planeta e a identi cação dos antígenos leucocitários humanos faz
parte da triagem pré-transplante junto com os antígenos ABO para avaliar o nível de
compatibilidade entre o doador e receptor.

Já vimos que as moléculas de MHC se ligam a peptídeos, mas sempre a um peptídeo por vez. A ligação
com o peptídeo ocorre durante a síntese da molécula MHC no interior da célula.

 
Dessa forma, a molécula MHC vai para a superfície sempre com uma “carga” ou peptídeo acoplado a
ela em uma fenda formada no arranjo dessas moléculas.

Agora vamos estudar as estruturas dessas moléculas.


Estruturas da MHC

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Moléculas de classe I 

É formada por uma cadeia  a  ligada de forma não covalente a uma cadeia β – microglobulina.
Sua fenda é formada pelos domínios 9 a1 e a2 na sua região amino-terminal 10 .
Essa fenda possui um assoalho, que cabe um peptídeo de 8 a 11 aminoácidos, e paredes. É no
assoalho da fenda que o peptídeo se liga à proteína do MHC, pela interação com um ou dois
aminoácidos do peptídeo. O polimor smo das moléculas MHC é na região da fenda que se liga
aos peptídeos.
Por outro lado, o domínio a3 ao lado é sempre constante e a sua função é interagir com o
coreceptor CD8 do linfócito Tc, os linfócitos com função citotóxica.
Com isso, as células TCD8 só podem interagir com peptídeos associados a moléculas de classe I.
Como as moléculas de classe I estão presentes em todas as células nucleadas, concluímos que
qualquer célula que apresente peptídeos antigênicos via classe I será alvo da ação da célula T
citotóxica, certo?
Isso mesmo, qualquer alteração funcional de uma célula, seja por vírus ou proteínas aberrantes
como tumores, será identi cada e destruída por um linfócito citotóxico. O mecanismo para a
apresentação antigênica vamos ver mais adiante.

Molécula de classe II 

Possui uma estrutura formada por cadeia  a  e uma cadeia β, e os domínios a1 e β1 unidos
formam a fenda da molécula classe II. Essa fenda comporta um peptídeo de 10 a 30 resíduos de
aminoácidos.
Para a molécula de classe II o domínio β2 não é polimór co e é o local de ligação com o
correceptor CD4 do linfócito TH. Da mesma forma que concluímos com CD8, a célula TH só
 Estrutura das proteínas classe I e II do MHC. Fonte: ALBERTS, 2008.
poderá interagir com células que possuem moléculas de classe II.
As moléculas de classe II estão presentes em células apresentadoras de antígenos, APC (Antigen
Presenting Cell). As APCs mais especializadas são as células dendríticas, que estão espalhadas
pelo epitélio e tecido subepitelial e também em áreas ricas em linfócito T nos órgãos linfoides
periféricos. São as células dendríticas as responsáveis pela ativação dos linfócitos virgens,
levando à expansão clonal das células T. As outras APCs são os macrófagos e linfócitos B, e
funcionam ativando novamente os linfócitos efetores e de memória.
 Fendas formadas pelas moléculas de classe I e classe II vistas de cima
com os peptídeos acoplados. Fonte: ABBAS, LICHTMAN e PILLAI, 2019.
Papel da dendrítica e moléculas classe II do MHC na ativação de
células T virgens

Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online

Como já estudamos em microbiologia, os microrganismos entram no nosso corpo por:

Contato na nossa pele;

Ingestão, atingindo o trato gastrointestinal;

Picada de insetos, alcançando a circulação;

Inalação, atingindo o trato respiratório.

No entanto, a ativação dos linfócitos virgens ocorre somente no interior de algum órgão linfoide
periférico e com a participação das células dendríticas.
1

Na pele existem células dendríticas chamadas de células de Langerhans, capazes de reconhecer os


microrganismos utilizando vários receptores, como os da lectina, que reconhecem carboidratos, e o
receptor tipo Toll (TLR). Entrando, em um estado de ativação produzindo as citocinas TNF e IL-1.

Nesse estado de ativação, ocorrem, também, alterações fenotípicas que levam a sua migração e
mudança de função. Elas perdem a adesão ao epitélio e passam a produzir um receptor de quimiocina
11 chamado CCR7.

Com isso, elas são direcionadas até os linfonodos e, no trajeto 12 , amadurecem e se tornam células
capazes de estimular os linfócitos T, ou seja, apresentadoras de antígenos. Elas aumentam o número de
moléculas MHC ligadas a peptídeos na sua superfície e também outras moléculas coestimuladoras
importantes para ativar de maneira completa o linfócito virgem.

As células dendríticas capturam as proteínas microbianas e as internalizam com auxílio de vesículas


endocíticas. Com a ajuda de lisossomos, que contêm enzimas proteolíticas, essas proteínas são
transformadas em peptídeos antigênicos.

Em paralelo, as moléculas de classe II são sintetizadas no reticulo endoplasmático (RE) e, no lugar do


peptídeo, é colocado um peptídeo chamado CLIP – peptídeo da cadeia invariante classe II ─ para
impedir que algum peptídeo do retículo endoplasmático ocupe o lugar que será do peptídeo antigênico.

A molécula de classe II formada é direcionada ao endossoma e, no seu interior, uma proteína DM faz a
troca do CLIP pelo peptídeo antigênico. Nesse momento, é ancorado na fenda o peptídeo antigênico
que apresentar alta a nidade pela fenda, entre tantos peptídeos produzidos durante a degradação. Esse
complexo da molécula MHC e peptídeo antigênico segue para a superfície da célula. Por essa razão, é
chamada de apresentação antigênica.

 Captura e apresentação antigênica de células dendríticas. Fonte: ABBAS, LICHTMAN e PILLAI, 2019.
O resto você já sabe:
O linfócito T que possuir receptor de antígeno (TCR) capaz de reconhecer o antígeno, entre muitos que
fazem contato, entrará em ativação.

Lembre-se também da necessidade de contato entre CD4 e a região b2 da molécula de classe II. O
reconhecimento do peptídeo pela célula TCD4 (helper) no contexto do MHC classe II, próprio, é
chamada de restrição do MHC ao próprio.

Se, por acaso, a molécula classe II não encontrar o peptídeo, ela será degradada no endossoma.

 Apresentação antigênica via moléculas de classe II do MHC. Fonte: ABBAS, LICHTMAN e PILLAI, 2019.

Apresentação via classe I do MHC


Quando existem situações como a de células infectadas por vírus, microrganismos fagocitados que
escapam de fagossomas ou proteínas mutantes do próprio hospedeiro, citosólicas ou nucleares, a
própria célula direciona a degradação desses alvos.

A primeira etapa desse processo é a ligação covalente dessa proteína antigênica a uma proteína da
célula hospedeira chamada Ubiquitina (Ub).

O complexo Ubiquitina-proteína é encaminhado até uma organela chamada Proteassoma.


Proteassoma é uma organela repleta de enzimas proteolíticas de onde saem os
peptídeos antígenos que serão transportados para o reticulo endoplasmático onde as
moléculas de classe I estão sendo sintetizadas.
A proteína responsável por transportar ativamente cada peptídeo do citosol para o
interior do RE é a Proteína Transportadora de Peptídeos ─ TAP 13 .

Repare na gura que a molécula classe I está localizada bem próxima de onde os peptídeos são
transferidos. A ligação com o peptídeo antigênico é facilitada pela presença da Tapasina na membrana
do RE.

 Apresentação antigênica via moléculas de classe I do MHC. Fonte: ABBAS, LICHTMAN e PILLAI, 2019.
Da mesma forma que você entendeu a ligação de alta a nidade com a molécula de classe II, para a
classe I também ocorre a seleção do peptídeo antigênico que apresentar maior a nidade na interação
com a fenda.

Os peptídeos que se ligam às moléculas MHC para serem apresentados são denominados peptídeos
imunodominantes. Em seguida, o complexo classe I – peptídeo antigênico segue para a superfície para
a apresentação antigênica.

 
 A célula TCD8 que possuir receptor especi co para esse peptídeo antigênico, e também ligar a região
a3 da molécula classe I, será capaz de eliminar a célula alvo através da liberação de perforina e
granzima dos seus granulos, promovendo a apoptose.

 
 No entanto você provavelmente deve estar perguntando quem ativou a célula TCD8 virgem. A nal,
até aqui foi mostrada a sua função citotóxica, não é mesmo?

 
A célula responsável pela ativação da TCD8 virgem é a célula dendrítica. Além de realizar o
processamento de proteínas antigênicas e apresentar via moléculas de classe II, elas também são
capazes de transferir peptídeos para se ligarem a moléculas de classe I.

Esse mecanismo é chamado de apresentação cruzada e somente as células dendríticas são capazes
de realizá-la. Repare que elas não estão infectadas, elas são especializadas para o acoplamento tanto
para as proteínas de classe II como de classe I.

Em resumo, uma célula dendrítica é capaz de ativar as células TH e Tc virgens


simultaneamente.

Já as Tc amadurecem produzindo seus grânulos e se tornam as CTL ─ Células Efetoras Citolíticas. Isso
é importante como um mecanismo de proteção para que essas células só possam destruir os seus
alvos quando forem efetivamente ativadas.

Para as células TCD8, o reconhecimento do peptídeo no contexto do MHC próprio, classe I, é chamado
de restrição do MHC ao próprio.
Vimos nesta aula que a apresentação antigênica por meio de ligações com moléculas MHC
permitem que as células T virgens possam ser ativadas no contexto ideal por uma célula própria.

Além disso, estudamos que diferentes mecanismos de processamento antigênico permitem que
possamos responder à presença de micro-organismos extracelulares e intracelulares.

Isso, com absoluta certeza, é um marco evolutivo para a permanência de muitas espécies no
planeta!

Atividade
1 - Assinale um exemplo de antígeno T-independente:

a) Proteína
b) Glicoproteína
c) Polissacarídeo
d) Peptídeo antigênico
e) Glicose

2 - O termo restrição do MHC é utilizado em qual situação:

a) Ligação ao peptídeo.
b) Apresentação via moléculas próprias classe I e classe II.
c) Reconhecimento de anticorpos.
d) Amadurecimento das células dendríticas.
e) Apresentação via moléculas de classe I.

3 - A molécula classe I é exposta na superfície celular com peptídeos originados de (o):

a) Retículo endoplasmático
b) Golgi
c) Membrana plasmática
d) Citosol
e) Vesícula endocítica
4 - Para evitar que peptídeos originados do reticulo endoplasmático se liguem a fenda da molécula de
classe II, é necessário a presença de:

a) CLIP
b) TAP
c) Ubiquitina
d) Tapasina
e) B2 microglobulina

Notas

Proteínas do Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC) 1

Em inglês: Major Histocompatibility Complex.

célula APC 2

Células apresentadoras de antígeno.

TCR 3

Receptores de células T.

NK/T 4

Células T Natural Killer.

HLA 5

Em inglês human leucocyte antigen.


transplantado 6

O Brasil é referência mundial na área de transplantes e possuir o maior sistema público de transplantes
do mundo, cando atrás apenas dos Estados Unidos.

codominante 7

Não existe relação de dominância entre os alelos.

Genes Haplótipo 8

Conjunto de alelos presentes em cada cromossomo, por exemplo um indivíduo é HLA-A1, HLA-B5
sempre o gene seguido de um número.

Domínios 9

Em relação a proteína é uma região com uma função especi ca. Dessa forma, a1 e a2 formam juntas a
fenda cuja função é ancorar o peptídeo microbiano.

amino-terminal 10

É uma das extremidades da cadeia polipeptídica.

Quimiocina 11

Quimiocinas são citocinas quimioatrativas que promovem a migração de leucócitos, e nesse caso esse
receptor responde a substâncias liberadas pela zona de célula T nos linfonodos.

Trajeto 12
No caso de antígenos presentes na circulação linfática as células dendríticas do baço, o mecanismo de
apresentação será o mesmo.

TAP 13

Do inglês Transporter Associated with Antigen Processing.


Referências

ABBAS, A.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. Imunologia celular e molecular. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2019.

 
ALBERTS, B. Biologia molecular da célula. Porto Alegre: Artmed, 2008.

 
BALESTIERI, F. M. P. Imunologia. São Paulo: Manole, 2009.

 
MALE, D. et al. Imunologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

Próxima aula

Resposta imune especí ca por meio de mecanismos imunes celulares e humorais;

Presença de microrganismos dentro ou fora de células;

Mecanismos diferenciados para a destruição desses patógenos.

Explore mais

Assista aos vídeos:

Reconhecimento do antígeno – processamento das moléculas do MHC de classe I;


<https://www.youtube.com/watch?v=9pbf6MkBtuM>

Reconhecimento do antígeno – processamento de moléculas do MHC de classe II;


<https://www.youtube.com/watch?v=SN-rrvM7d5Y>
Disciplina: Microbiologia e Imunologia

Aula 9: Mecanismos efetores da imunidade celular e


humoral
Apresentação

Nesta aula, estudaremos a imunidade mediada por células, realizada pelos linfócitos T. Além disso,
veremos que a imunidade humoral é uma subdivisão da imunidade adquirida em que a resposta
imunológica é realizada por moléculas existentes no sangue: os famosos anticorpos.

Perceberemos que antígenos diferentes estimulam respostas diferentes para otimizar a resposta
imunológica. E quem comanda isso é a célula TH e suas citocinas.

Objetivos

Diferenciar a resposta imune celular da resposta imune humoral;

Explicar a importância das citocinas produzidas por TH;

Reconhecer as funções biológicas dos anticorpos.


Imunidade celular
Na imunidade mediada por células, o principal papel dos linfócitos T é fornecer defesas contra vírus no
citoplasma e outros microrganismos intracelulares, que podem utilizar mecanismos de escape e fugir
das vesículas endossômicas, passando a sobreviver e se dividir no citoplasma.

É possível também ter infecções nas quais alguns microrganismos, como as bactérias, sobrevivem no
interior dessas vesículas. A tuberculose é um exemplo disso.

Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online

COMO ISSO ACONTECE? 


Proteínas de membrana envolvidas na ativação e inibição do sistema imune através da interação de células apresentadoras de antígeno (APC) e
 células T (linfócitos T). / Fonte: Shutterstock
O receptor do linfócito T para antígenos é formado pelas cadeias alfa e beta, compondo TCR, e duas
cadeias, CD4 ou CD8, denominadas correceptores.

Esse complexo reconhece outro complexo da célula apresentadora, que está a sua frente. Ela possui o
peptídeo que está em exposição localizado em uma fenda da molécula MHC.

O linfócito TH, que possui CD4 na sua superfície, interage com uma região da molécula MHC classe II
fora da fenda de apresentação.

O mesmo procedimento ocorrerá se for um linfócito TCD8. Porém, neste caso, reconhecerá uma região
da molécula classe I do MHC.

Também há moléculas de adesão, como a LFA-1, que garantem a permanência e a ativação do linfócito
junto da célula apresentadora.

 Além dos componentes mostrados na membrana do linfócito, o sinal da sua ativação existe pela
presença de um conjunto de moléculas denominado CD3.

Essas cadeias polipeptídicas possuem uma cadeia intracitoplasmática maior do que TCR, e passível de
reações bioquímicas que levam à ativação do linfócito.

Do lado da APC, existem as moléculas CD40 e B7, que são coestimuladores.

A célula TCD8 necessita dos sinais enviados pela TCD4 (auxiliar) para entrar em ativação e se tornar a
célula T citotóxica (CTL).

Isso é e ciente pois garante que a proteção desse tipo de célula não seja ativada à toa.
Contudo, essa dependência também se torna um risco, pois na infecção pelo vírus HIV, por
exemplo, as células alvo são macrófagos e TH, mas, como a TH está reduzida, não existe
CTL, que seria uma boa saída para matar as células infectadas pelo HIV.
 A região de contato entre essa a célula T e a APC ca totalmente concentrada com os todos
componentes para reconhecimento de antígeno e ativação da T. Esse momento é chamado de sinapse
imunológica.

A partir desse momento, ocorrem sinalizações intracelulares bioquímicas por meio da ativação de
proteínas que estavam inativas.

Várias delas estão fosforiladas e são ativadas migrando para o núcleo da célula, estimulando o DNA
para a síntese de um RNA mensageiro para uma determinada proteína. Por isso, são chamadas de
fatores de transcrição.

Vamos ver alguns fatores de transcrição bem conhecidos?

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Moléculas NFAT 

É o caso da molécula NFAT que está na célula T em repouso. A ação de uma fosfatase faz com
que ela perca o fosfato ligado à sua estrutura.

No estado ativo, ela migra para o núcleo da célula T. Sua ação é ativar o gene para a Interleucina -2,
que é chamado de fator de crescimento de célula T.

Moléculas NFkB 

A NFkB também é outro fator de transcrição e estimula vários genes de citocinas.

O reconhecimento antigênico culmina com a expansão de clones e diferenciação das células T em


efetoras.

A primeira citocina a ser produzida é a Interleucina –2, entre 1 a 2 horas após a ativação. Além da IL-2, é
produzido também o receptor completo para IL-2 na membrana.

Dessa forma, uma célula T virgem não poderia entrar em mitoses a não ser pela ativação antigênica.
Lembrando que a Il-2 estimula a sobrevivência e a proliferação dessas células signi cativamente.

Interessante que o linfócito TCD8 não produz IL-2 mas responde bem à IL-2 vinda da TH, assumindo
que o controle é da TH.
Essas células podem aumentar em até mil vezes o número
inicial de linfócitos, mas as TH não se dividem tanto como
as TCD8.

 Fonte: Shutterstock <https://cs.wikipedia.org/wiki/Sinice#/media/File:Nostoc.jpg>

A explicação para isso é que, em uma resposta celular, é muito


importante que existam mais células T citotóxicas.

 A TCD4 efetora secreta um grupo variável de citocinas que ativam outras células efetoras. Por isso, não
há a necessidade de tantas células TCD4 se compararmos à TCD8.

A diferenciação celular ocorre entre 3 a 4 dias e essas células efetoras deixam os órgãos linfoides
periféricos e a maioria segue para o local da infecção onde TCD4 e TCD8 possuem funções diferentes.

As células TCD4 no entanto permanecem nos órgãos linfoides e migram para os folículos ou centros
linfoides, auxiliando na ativação dos linfócitos B.
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Atenção

Uma proteína de superfície importante na célula T é chamada de Ligante de CD40.

Essa molécula se liga a CD40 na superfície de células dendríticas, macrófagos e também linfócitos B
ativando a célula TH.

A reação da APC é produzir citocinas que ative as células T.

Subdivisão das células TH


Na década de 1980, várias pesquisas em imunologia começaram a sugerir que existia uma
subdivisão das células TH, que existiriam subgrupos de TH que eram diferenciados de acordo
com o tipo de citocinas que produziam.

 Assim, cou claro que o sistema imunológico responde de maneira diferente aos tipos de
patógenos, pois agem de acordo com essas citocinas que ativam células especializadas.

 Fonte: BlurryMe / Shutterstock

Exemplo

No caso de microrganismos resistentes à destruição pelos fagócitos, a chamada ação microbicida de


fagócitos cria a necessidade de um “empurrão” para que essas células possam aumentar os
constituintes de destruição intracelulares.

Vemos que ocorre o mesmo quando não é possível fagocitar um patógeno, como é o caso de
helmintos, os populares vermes.

O que podemos fazer nesses casos?

Ativamos um tipo de resposta que estimula as células a liberarem seus conteúdos em cima dos
helmintos, modi cando a sua cutícula e permitindo a sua fragmentação.

Nesse caso, são respostas que produzem anticorpo IgE e eosinó los que fazem uma parceria
fantástica.

Quais são os subgrupos das células TH?


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TH1 

 As células TH1 estimulam o englobamento mediado por fagócitos e a sua eliminação. A principal
citocina é Interferon gama (IFNg).
É considerada um compotente ativador de macrófagos e dendríticas, estimulando a expressão de
moléculas de classe II e de B7 na sua superfície. Essa citocina da TH1 também estimula a troca de
isótipos de anticorpos que estimulam a fagocitose de macrófagos.
A IFNg também estimula o sistema complemento e o mecanismo de citotoxidade por meio de
anticorpo.
A ativação do IFNg ao receptor, associada à ligação da LCD40 –CD40 na superfície dos
macrófagos, leva à ativação de fatores de transcrição e os genes para as enzimas proteases e
outros que estimulam a síntese de intermediários reativos do oxigênio. Com isso, macrófagos
tornam-se fortemente microbicidas.
A TCD8 também secreta IFNg e por isso contribui para a ativação de macrófagos.

Qual a lógica disso?

Em uma infecção intracelular, é fundamental para a resolução da resposta imune que haja a
remoção de células infectadas ou modi cadas já mortas.
Além disso, os macrófagos, ao fagocitarem células mortas, estarão mais uma vez apresentando
peptídeos de antígenos que estavam localizados no interior dessas células. Isso mantém o estado
ativo e focado no antígeno.

Macrófagos ativados secretam IL-12 que estimulam a diferenciação de TH virgens.


TH2 

O subtipo TH2 estimula a imunidade mediada por eosinó los, produzindo Interleucina -4 (IL-4), que
estimula a produção do anticorpo IgE, e a Interleucina-5 (IL-5), que ativa eosinó los.

A IgE ativa mastócitos e se liga a eosinó los que são importantes na resposta imune contra
helmintos.

A IgE reveste a superfície desses organismos e os eosinó los reconhecem a IgE projetada na
superfície ligando-se a ela. Com isso, ele libera os constituintes dos seus grânulos, entre eles
proteínas catiônicas que destroem a cutícula desses helmintos.

Além da IL-4, a Interleucina-13 (IL-13) estimula a secreção de muco e o peristaltismo, que é a


contração da musculatura lisa para expulsar esses patógenos do organismo.

Importante mostrar também que a IL-4, a IL-10 e a IL-13 possuem funções de ativação de epitélio
e células e inibem as citocinas TH1. Ou seja, a resposta estimula seletivamente células e
mecanismos distintos. Por isso, controlam outros componentes da resposta imunológica.

Como já sabemos, os microrganismos parasitos se bene ciam dos nossos componentes sem
serem eliminados.

Exemplo

Um bom exemplo é a doença lepra.

Mycobacterirum leprae provoca dois tipos de doenças:


• A forma lepromatosa, que é destrutiva; e
• A forma tuberculoide, que é melhor controlada.

A TH1 bene cia enormemente a bactéria!


TH17 

A TH17 induz em outras células a produção de citocinas importantes para o recrutamento de


neutró los. Por isso, a TH17 está presente em in amações crônicas.

Ela estimula macrófagos e células dendríticas a produzirem Interleucina-6 (IL-6), Interleucina -1 (IL-
1) e Interleucina-23 (IL-23). Estimula também a produção de defensinas no epitélio, auxiliando na
manutenção da barreira epitelial.

É o tipo de resposta importante para fungos e bactérias. Quando TH17 está presente a
in amação é mais forte e prolongada.

Comentário

Hoje tem se levado em consideração que alguns subgrupos podem se converter em outros, mas
deixaremos essa discussão para depois.

Outra informação que não podemos nos esquecer é que muitas citocinas não são exclusivas de
células T. Identi camos a mesma sendo produzida por um macrófago e TH.

 Vias de ativação dos subtipos de TH com os fatores de transcrição e citocinas / Shutterstock


Como a TCD8 é ativada?

A TCD8 é ativada pela presença de epitopo antigênico e coestimuladores que induzem à


diferenciação em CTL, ou citotóxico.

É durante a ativação que essa célula começa a produzir as proteínas utilizadas para destruir
células.

O receptor TCR reconhece o peptídeo na fenda da molécula classe I do MHC e o correceptor


CD8 em uma região lateral dessa fenda. Tanto TCD4 como TCD8, ao realizarem essa ligação,
estão interagindo na chamada restrição MHC.

 Fonte: BlurryMe / Shutterstock

É sempre bom lembrar que a restrição MHC garante que essas células serão efetoras contra
antígenos e devem ser apresentadas por células próprias. Assim, ocorre uma aglomeração
em um local especí co da membrana da TCD8 com a participação de TCR, CD8, CD3 e
outras proteínas sinalizadores que desembocam no sinal para o interior da célula. É o que se
chama transdução de sinal.

Com isso, os grânulos repletos de proteínas migram para a periferia da célula no ponto de contato e
descarregam o seu conteúdo.

Duas proteínas são importantes nessa lise1 pelas células CTL:


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Perforina 

Estruturalmente, é semelhante à proteína C9 do sistema complemento. Por isso, também é


especializada em romper a estrutura da membrana da célula alvo.

Ela faz pequenos orifícios que permitem a passagem de outro componente, a granzima b, que
estimula enzimas denominadas caspases que ativam a morte por apoptose nas células
infectadas. .

LFas ou ligante de Fas 

A CTL também possui uma proteína denominada LFas ou ligante de Fas. A célula alvo possui a
proteína Fas e a ligação entre elas também induz a apoptose. No entanto, esse não é o papel
principal da CTL.

Assim, as células destruídas pela CTL são removidas pelos fagócitos.

 Morte celular pela ação da célula CTL. / Fonte: Shutterstock


Migração das células T efetoras
As células T efetoras migram para o local da infecção porque possuem na superfície moléculas de
adesão que podem reconhecer as selectinas e integrinas na superfície do endotélio, como vimos na
imunidade inata.

Elas também possuem receptores para quimioatraentes ou quimiciocinas que fazem com que
atravessem o epitélio e alcancem os macrófagos e as células da in amação.

 As células T virgens não possuem esses receptores e por isso não são encontradas nos locais da
in amação.

 Migração das células T efetoras para o sítio da infecção. Fonte: Abbas e Lichmann, 2014.
Imunidade humoral

Agora, vamos aprender sobre o outro braço da resposta imunológica adquirida: a resposta
humoral.

Como vimos na aula 6, a imunidade humoral serve para neutralizar e impedir a ação de
microrganismos extracelulares e também as toxinas microbianas.

 Atendimento psicológico | Fonte: BlurryMe / Shutterstock

Esse tipo de resposta é também importante no caso de microrganismos com cápsula, pois
os polissacarídeos não são processados pelas enzimas das células apresentadoras de
antígenos.

Microrganismos produtores de cápsula tendem a ser mais virulentos e só conseguimos eliminá-los com
o auxílio de anticorpos. O mesmo para lipídeos e ácidos nucleicos de patógenos.

Os anticorpos são receptores de antígenos que


reconhecem várias estruturas antigênicas diferentes nos
antígenos, os chamados epitopos conformacionais, que
estudamos na aula anterior .
 Fonte: Shutterstock <https://cs.wikipedia.org/wiki/Sinice#/media/File:Nostoc.jpg>

Isso não signi ca que essas proteínas não possam reconhecer sequências lineares, epitopos lineares,
mas a grande vantagem está na ligação com a estrutura nativa da molécula antigênica.

Receptores de antígenos dos linfócitos


Antes de começarmos, vamos entender um pouco mais sobre os receptores de antígenos dos
linfócitos.

Essas moléculas possuem regiões que variam entre os clones de linfócitos e são elas
que se ligam ao antígeno.

Cada clone é especí co para um antígeno, lembra?

São chamadas de regiões variáveis.


Em relação aos anticorpos, quando analisamos
especialmente os pontos de contato com o
antígeno, percebemos que não é toda essa região
variável, mas de dois a três pontos de contato.
Essas regiões garantem a complementariedade
da ligação, o encaixe.

Por isso, são chamadas de regiões determinantes


de complementariedade. E dizemos que são
 Anticorpo e as regiões. / Fonte: Shutterstock.
regiões hipervariáveis, pois, entre os anticorpos,
estão as principais diferenças entre as regiões
variáveis. A essa especi cidade chamamos de
idiotipo da imunoglobulina.

Essas moléculas também possuem uma região


que quase sempre mantém os aminoácidos, por
isso, é denominada de região constante, que não
se liga ao antígeno. Estão na superfície e fazem
parte do receptor de antígeno, seja TCR ou BCR.

No caso dos anticorpos que são secretados, essa região é reconhecida por células da
resposta imune e isso é muito importante para ativação de várias células.

Linfócitos B
Agora, vamos nos concentrar nos linfócitos B.

Essas células possuem receptores chamados o cialmente de imunoglobulinas de superfície ou BCR.

Próximo ao BCR estão duas cadeias denominadas Igα e Igb, especializadas na transdução de sinal
quando a célula B for ativada.

Como vimos, da mesma forma que os linfócitos T, existem moléculas no estado inativo que são
ativadas por fosforilações e se dirigem ao núcleo da célula B, ativando muitos genes responsáveis por
moléculas que medeiam a resposta desses linfócitos.

As células B ativadas passam por um processo de diferenciação, tornando-se plasmócitos secretores


de anticorpos.
 Receptores de células B e T. / Fonte: Imunologia Básica. Abbas, A;. Lichmann, A.; Pillai, S. 2014

Os anticorpos secretados ou as imunoglobulinas


de superfície são proteínas formadas por quatro
cadeias polipeptídicas, que dá uma aparência da
letra Y.

Duas dessas cadeias são maiores e são


chamadas de cadeias pesadas ou H2 , do inglês
heavy (pesada). E as duas menores são
chamadas de cadeias leves ou L3 , do inglês light
(leve).

Parte da cadeia pesada e toda a cadeia leve


formam um braço da molécula de anticorpos.

O que mantém as quatro cadeias unidas, são


ligações dissulfeto entre os resíduos de
 Fonte: Shutterstock
aminoácidos cisteína nas cadeias. Isso contribui
também para a forma da proteína, globular.
Na cadeia de imunoglobulina, a cadeia H e a cadeia L possuem uma região variável e uma região
constante com funções diferentes.

Veja na gura, que a região variável da cadeia H e da L estão na ponta do braço e servem para
reconhecer o antígeno. Assim, VH + VL se liga ao antígeno e é chamada de porção de ligação ao
antígeno ou Fab, do inglês antigen binding (ligação ao antígeno). Na molécula de anticorpo, existem
duas regiões Fab idênticas.

As regiões constantes da cadeia pesada possuem outras funções, como ligar as proteínas do sistema
complemento aos receptores especí cos para essas regiões presentes na membrana de algumas
células do sistema imunológico. A região constante recebe o nome Fc.
 Estruturas básicas de imunoglobulinas. Fonte: Shutterstock

Atenção
Cada molécula de anticorpo possui duas regiões Fab idênticas que se ligam ao antígeno e uma região
Fc que confere as atividades biológicas ou efetoras da molécula de anticorpo.

Entre as regiões Fab e Fc, existe uma região bem exível que permite a abertura dos braços. Pode ser
chamada informalmente de dobradiça, e é importante para a ligação a epitopos que estão distantes.
Assim, dá maior exibilidade para os braços alcançarem os antígenos.

Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online

Propriedades biológicas dos isotipos de anticorpos


 Fonte: Shutterstock <https://cs.wikipedia.org/wiki/Sinice#/media/File:Nostoc.jpg>

Vamos agora aprender um pouco sobre essas propriedades biológicas dos


isotipos de anticorpos.
Clique nos botões para ver as informações.

IgA 

A IgA é uma imunoglobulina que pode variar na região constante dando origem aos subtipos IgA1
e IgA2.

Esse anticorpo está presente na circulação e na superfície de mucosas impedindo o acesso dos
patógenos aos sítios de ligação.

Quando secretado em mucosas, IgA tem a forma dimérica unida com auxílio da cadeia J, que
torna IgA mais competente para ligar mais de dois antígenos (teoricamente quatro). Isso também
é fundamental para a manutenção da sua estrutura, pois impede a exposição de regiões que são
alvos das proteases durante a digestão ou estão presentes no muco.

IgE 

A IgE só existe como monômero e, como já vimos, atua em respostas contra helmintos.

No entanto, alguns indivíduos possuem a tendência a produzir mais esse isótipo e são chamados
de alérgicos.

A região Fc de IgE é reconhecida por receptores de mastócitos e eosinó los. Nesse caso, são os
seus efeitos que provocam a doença alérgica.

IgM e IgD 

A IgM é bem grande. São cinco unidades pela cadeia J, portanto, um pentâmero. Está presente
junto à IgD na superfície da célula virgem.

É secretada por células efetoras plasmócitos logo no início da infecção e o fato de ser pentamérica
garante a ligação, mesmo que teórica, a dez epitopos.

Ela ativa a via clássica do sistema complemento, mas, como não está com as suas regiões Fc
livres, não ativa células. A sua principal função é eliminar antígenos junto com a participação do
sistema complemento.

As recentes descobertas sobre a IgD mostram que ela está presente no trato respiratório superior,
reagindo contra patógenos respiratórios. Já, na circulação, é reconhecida por basó los e outras
células, sugerindo que esse isótipo é importante contra infecções bacterianas respiratórias.
IgG 

A IgG existe em quatro subtipos diferentes, IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4, sempre na forma de
monômeros na circulação.

Atua na neutralização de antígenos impedindo o acesso a tecidos, ativa a fagocitose e a


citotoxidade dependente de anticorpos.

Chamamos de a nidade a força que liga a molécula de antígeno ao epitopo. Em


relação aos anticorpos, veri ca-se que a a nidade aumenta ainda durante a resposta,
e esse fenômeno chama-se maturação da a nidade. Ocorre exclusivamente nos
folículos linfoides dos órgãos periféricos, onde os anticorpos são produzidos.

A produção de anticorpos
Há décadas, a indústria e os centros de pesquisa produzem anticorpos monoclonais que servem para
testes diagnósticos ou tratamentos.

A produção de anticorpos na sua origem envolvia a fusão de uma célula B ativada de um animal
imunizado contra o antígeno de interesse, e a posterior fusão com uma célula chamada de mieloide,
que são tumores de células B. Chama-se anticorpo monoclonal porque é originado de um único clone.

As células fusionadas são chamadas de hibridomas e produziam continuamente o anticorpo de


interesse. Hoje, a técnica de DNA recombinantes é amplamente utilizada para a síntese de anticorpos,
utilizando bactérias contendo o gene da imunoglobulina.
Fases da resposta imunológica humoral
Vamos aprender agora as fases da resposta imunológica humoral.

 Como já vimos, a célula B virgem possui IgM e IgD na sua superfície. Quando ativadas pela presença de
antígenos, entram em expansão clonal chegando a 4000 células.

Os plasmócitos produzem anticorpos com a mesma especi cidade dos receptores de antígeno.
Durante essa diferenciação, algumas células B começam a produzir anticorpos de diferentes isótipos ou
classes.

Isso é importante pela necessidade da participação de um isótipo particular na eliminação


do antígeno. Esse processo se chama troca de isótipo ou cadeia pesada.

As respostas dos anticorpos são classi cadas como dependente de T ou independente de T, segundo a
necessidade de apoio das células T.
A resposta começa quando os linfócitos B 4
reconhecem os antígenos que entraram pelos
tecidos ou sangue.

Usando um linfonodo, os macrófagos que


revestem a cavidade subcapsular podem capturar
esses antígenos e exibi-los às células B, mas
lembre-se de que elas podem reconhecer o
antígeno nativo e utilizam receptores TLR.

No entanto, a interação com macrófagos e


dendríticas são sinais adicionais importantes. As
células B possuem também receptores para o
fragmento C3d do sistema complemento.

A ligação com o antígeno promove o


agrupamento dos receptores e ativa vários fatores
de sinalização para o interior. Em seguida,
internalizam e apresentam os epitopos em
moléculas de classe II.  Ativação de células B em respostas dependentes de T. / Fonte:
Shutterstock.
Depois, ela se desloca em direção à saída do
folículo, em resposta à presença de quimioccinas.
Ao mesmo tempo, os linfócitos TH ativados se
deslocam em direção ao folículo e, em alguma
região nesse trajeto, as células TH e LB interagem.

É importante saber que essas células não apresentam para células TH virgens, só nessa
situação ativada.
As interações envolvem a LCD40 da TH e a CD40 da célula B. Esse é o fator para a célula B entrar em
expansão clonal.

Nessa resposta dependente de T, as citocinas secretadas fazem toda a diferença em relação ao isótipo
que o plasmócito produzirá.

 Como estudamos no início da aula, a presença de IFNg ou IL-4 entre outras estimulam a troca de
classes e também a maturação da a nidade.

A troca de classes ou isótipos é um evento da célula B em que ela utiliza a enzima AID. Se a troca de
isótipo for de IgM para IgG, sai sequência de DNA responsável da cadeia pesada m e entra a cadeia
pesada g.

Então, são produzidas novas moléculas de anticorpos com a mesma especi cidade. A região variável
nesse evento não muda, mas tem uma nova região constante.

Na maturação da a nidade, a AID participa mudando alguns aminoácidos na região


variável e isso faz aumentar a capacidade de ligação ao antígeno.

É comum essas células B ativadas migrarem de volta para o folículo linfoide e carem em uma região
chamada de centro germinativo, onde se dividirem rapidamente e se diferenciam. Nesses locais,
surgem também as células B de memória.
Associação das citocinas de TH com a produção
anticorpos
Agora, vamos rever mais uma vez a associação das citocinas de TH com a produção anticorpos.

A IFNg liberada pela TH1, estimula a troca para IgG com o intuito de atuarem como opsoninas, como as
IgG1 e IgG3.

Dessa forma, fagócitos como macrófagos reconhecem RFcg e as células NK possuem CD16 que
reconhece Fcg.

A IL-4, como já sabemos, estimula a troca para IgE, e mastócitos, eosinó los que possuem RIFce de alta
a nidade. A citocina TGF-b estimula a troca para IgA e é importante para a resposta de mucosas.

Quando o antígeno é grande (formado por vários epitopos repetidos), a célula B reconhece e entra em
um forte estado de ativação.

Exemplo

É o que ocorre com as células B-1 na mucosa e células B no baço. No entanto, esse tipo de ativação,
sem a participação da TH, não produz na resposta anticorpos com muita a nidade.

Comentário

Percebemos nesta aula a importância da ativação de células especializadas para determinados


antígenos. Além disso, vimos que o momento da apresentação antigênica inicia o direcionamento do
subtipo de TH e resposta efetora. Na próxima aula, e última, estudaremos as doenças provocadas pelo
sistema imune. Até lá!
Atividade
1. Quando existem microrganismos extracelulares, a resposta imunológica que deve ser ativada é:

a) IL-1
b) Inata
c) Adquirida
d) Celula
e) Humoral

2. Assinale uma citocina de TH1:

a) IL-1
b) IL-10
c) TNF
d) IFN-g
e) IL-4

3. A região de contato muito especí co entre epitopo e receptor da célula B é denominada de:

a) Fab
b) CDR
c) Fc
d) RFab
e) RIL-2

Notas

Lise

A lise celular é o processo de destruição ou dissolução da célula causada pela rotura da membrana


plasmática.

Cadeias pesadas ou H
Em relação à cadeia pesada, existem cinco tipos de polipeptídeos diferentes: α,μ,ς,ε e γ .

A molécula de anticorpo que possui a cadeia constante g é a IgG.

Da mesma forma, IgA, IgM, IgE e IgD são isótipos dos tipos diferentes de cadeias pesadas das
imunoglobulinas.

Cadeias leves ou L

As cadeias leves são de dois tipos:


• Kappa (K)
• Lambda (l)

Cada célula B em formação escolhe somente um tipo de cadeia leve para formar o seu receptor.

Linfócitos B

Estão localizados nos folículos linfoides do baço, linfonodos e tecidos mucosos, com a presença
também da célula dendrítica folicular.

Referências

ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H. Imunologia básica. 4.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

ABBAS, A.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. Imunologia celular e molecular. 9.ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2019.

MALE, D. et al. Imunologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

Próxima aula

Sistema imunológico como causador da doença;

Alergias e doenças autoimunes.

Explore mais
Para saber mais sobre os assuntos estudados nesta aula, assista ao vídeo Guerras de imunologia: um
bilhão de anticorpos <https://www.youtube.com/watch?v=Na-Zc-xWCLE> .

É possível legendar o vídeo em português no YouTube.


Disciplina: Microbiologia e Imunologia

Aula 10 : Doenças provocadas pelo sistema imune


Apresentação

Nas últimas décadas, o aumento do número de crianças e adultos com alergia alimentar e
medicamentosa tem provocado a ciência para elucidar quais são os mecanismos imunes
envolvidos. O mesmo podemos dizer das doenças autoimunes, que ocorrem quando a resposta
imunológica é direcionada contra estruturas consideradas próprias do nosso organismo.

Nesta última aula, veremos como algumas doenças são provocadas pela própria resposta do
sistema imunológico e como a imunopatologia, ciência que estuda essas doenças, é dividida em:
hipersensibilidades, doenças autoimunes, transplantes e imunode ciências.

Estudaremos ainda os mecanismos básicos pelos quais anticorpos e células, principalmente nas
alergias e doenças autoimunes, provocam essas doenças e conhecermos como alguns tipos de
medicamentos acabam não sendo processados pelos fagócitos como antes se imaginava, mas
associados diretamente aos receptores das células T desencadeando um fenômeno “p-i” (interação
farmacológica) sem qualquer presença de anticorpos.

Objetivos

De nir os conceitos envolvidos nos quatro tipos de hipersensibilidades e nas doenças


autoimunes;

Reconhecer os mecanismos imunes que levam ao desenvolvimento dessas imunopatologias;

Listar os tratamentos possíveis, capazes de controlar as crises alérgicas e reativações dos


clones de células autoimunes.
Alergias alimentares
As alergias alimentares ocorrem quando o sistema imunológico reconhece alguns alimentos como
antígenos.

 Hoje j sabemos que ovo, soja, leite, peixe, amendoim, crustáceos, trigo estão entre os maiores
responsáveis pelas reações alérgicas alimentares.

 Nem toda reação alérgica leva à reação ana lática ou ana laxia ─ colapso com sufocamento e
possibilidade de morte −, mas este ainda é um grande medo.

Quem é mais afetado?

Crianças e adolescentes alérgicos são mais propensos a desenvolverem asma ou qualquer


outro tipo de alergia do que aqueles sem alergia alimentar.

Quais são as explicações para isso?

Existe um termo em alergias que é ATOPIA: a origem genética para o desenvolvimento de alergias.

São genes que estão mais propensos a produzir uma determinada citocina ou um anticorpo comparado
aos indivíduos saudáveis e isso contribui para um tipo de resposta exagerada.

Contudo, isso por si só não é capaz de explicar tudo e a nossa microbiota ganha uma atenção enorme.

Comentário
Você se lembra do papel da microbiota e como a sua manutenção é importante, não é mesmo? O
nosso estilo de vida tem contribuído muito para que esse ecossistema que cada vez menos diverso e
protetor.
Como estamos cada vez mais acostumados a car em ambientes protegidos, sedentários, seja em
casa ou em salas fechadas, temos poucos tipos de bactérias se compararmos à microbiota de pessoas
que vivem no campo.

Além disso, ao usarmos antibióticos desde bem cedo, ainda crianças, acabamos também reduzindo as
nossas guardiãs que fazem muita falta para a primeira linha de defesa.

Para piorar, temos o parto cesáreo no lugar do parto vaginal, que muitos estudos a rmam contribuir
para a formação da microbiota no recém-nascido, assim como a amamentação que fornece
aproximadamente 900 espécies, fazendo com que os bebês sejam menos propensos a alergias do que
os que utilizam leite arti cial.

Portanto, o fato de nossa microbiota estar menos heterogênea do que a dos nossos antepassados tem
relação com os novos hábitos adquiridos pela sociedade moderna.

Ana latoxina

Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online


Em 1902, o estudo de águas-vivas, feito pelo biólogo marinho Paul Portier e pelo médico Charles Richet,
identi cou um veneno capaz de provocar intensa salivação, defecação, di culdade de respirar, paralisia
e morte em cães. Eles o chamaram de ana latoxina, que signi ca “afastado de proteção”.

 Somente em 1963, Robin Coombs e Philip Gell classi caram em quatro os tipos de mecanismos
imunes que provocam as manifestações da resposta imunológica. Vejamos a seguir.

 Mecanismos imunológicos envolvidos nos quatro tipos de hipersensibilidades. | Fonte: ABBAS e LICHTMAN, 2014.

Tipo I
A hipersensibilidade Tipo I é a das alergias alimentares, asma, rinite alérgica e reações a medicamentos.
Ela é ativada pela presença do anticorpo IgE e mastócitos que possuem na membrana um receptor de
alta a nidade para Fc de IgE (Fce RI).

Para facilitar esta explicação, dividimos em três fases:

Clique nos botões para ver as informações.

Fase de sensibilização 

É quando o alérgeno, a substância que ativa a resposta imunológica, é reconhecido pelas células
apresentadoras de antígeno e no processo levam à ativação das TH2. Sabemos que as TH2
ativam as células B por meio da liberação da citocina interleucina -4 (IL-4), fazendo com que
plasmócitos produzam IgE.

Com a liberação de IgE na circulação e a presença de mastócitos no tecido, as moléculas de IgE


são reconhecidas pelo receptor Fce RI.

Fase de ativação 

Veja na gura 2 que os alérgenos se ligam aos anticorpos IgE que estão na membrana do
mastócito e provocam uma reação com liberação do conteúdo dos seus grânulos.

Fase efetora 

É quando os efeitos dos mediadores são percebidos nos tecidos. A histamina liberada faz o efeito
de dilatação nos vasos, aumenta a secreção em mucosas e também contrai a musculatura lisa
dos intestinos e dos brônquios, por isso o sufocamento.

 Outros componentes liberados nesse momento são: TNF-a, Interleucina 8 e fator quimiotático
para os eosinó los (ECF), que promovem a migração de neutró los e eosinó los, fazendo surgir o
processo in amatório.
 Visão geral do mecanismo de alergia desde o primeiro contato e os mediadores liberados que provocam os sintomas. | Fonte: ABBAS e
LICHTMAN, 2014.

Exemplo

As ações dessas células são responsáveis pelo ataque aos tecidos, como, por exemplo, a proteína
básica (MBP), fosfolipase e a proteína catiônica (ECP) liberadas pelo eosinó lo que destroem as células
adjacentes.

É por isso que os pacientes asmáticos acabam desenvolvendo a chamada asma remodelada, que são
alterações devido ao processo in amatório crônico.

Comentário

Quanto mais mastócitos ativados, mais células ativadas e mais intensa é a resposta in amatória.

Além disso, mastócitos também produzem Interleucina -4, prostaglandinas e leucotrienos, promovendo
broncoconstrição e vasodilatação.  

Na alergia, também temos a participação de basó los que possuem receptores para IgE.
O importante é lembrarmos que essa resposta imunológica é bem-vinda em infecções
parasitárias com helmintos 1 , mas um erro no reconhecimento de pólen, caspa de
animais e outros componentes considerados pequenos e insigni cantes para a
maioria das pessoas torna-se agressivo para um indivíduo alérgico.

Por que o alérgico é diferente?

Já se descobriu que os genes para a síntese de Interleucina- 4 e receptor de mastócito são diferentes na
sua regulação, fazendo com que produzam mais do que os indivíduos não atópicos.

Outra coisa é que a alergia pode ocorrer pela ação direta nas membranas dos mastócitos, como a
alergia ao frio e ao morango.

Além disso, outros fatores contribuem para as reações alérgicas:

Microbiota com menos tipos de bactérias; Mulher grávida que expõe precocemente o
feto a esses alérgenos no útero.

A hipersensibilidade do tipo I talvez seja a mais conhecida, principalmente porque


existem muitos indivíduos acometidos por essas reações, mas existem outras
doenças provocadas pela ativação do sistema imunológico e pela liberação de
mediadores.
Exemplo

A alergia ao glúten é muito discutida nos dias de hoje. Trata-se de uma proteína presente no trigo,
centeio e cevada que provoca os sintomas de gases, dores no estômago, tontura, sensação de cansaço,
diarreia, irritabilidade e enxaqueca após as refeições com esses alimentos.

Muitas vezes, a reação ao glúten vem junto da intolerância à lactose, mas são situações diferentes.
Enquanto a alergia é um processo imunológico, a intolerância à lactose tem relação com a quantidade
da enzima lactase no indivíduo.

De qualquer forma, deve-se buscar o auxílio de médicos e nutricionista para retirar os alimentos que
contêm essas substâncias da dieta.

Quais seriam os tratamentos para a alergia?

Se o alérgeno é conhecido e está puri cado, pode-se realizar a vacinação (já existe para
ácaro, entre outros).

Na vacinação, também chamada de hipossensibilzação, o paciente recebe uma série de


imunizações com o alérgeno para mudar o tipo de resposta para uma protetora.

As primeiras injeções são com o antígeno em uma concentração bem inferior à que existe
na natureza e essa dose vai aumentando.

Alguns questionam o efeito dessa prática, mas devemos lembrar que, quanto mais exposições tivermos
ao mesmo alérgeno, mais reativaremos as células de memória como em toda resposta imunológica!

Por isso o diagnóstico precoce e as orientações pro ssionais são muito importantes.

Tipo II
Você já ouviu falar da doença hemolítica do recém-nascido, também chamada de eritroblastos fetal?

E sobre o perigo da mãe ter um tipo sanguíneo diferente do seu bebê durante a gestação?
 Este é um exemplo de hipersensibilidade tipo II que leva à destruição de células. Por isso, é chamada
de hipersensibilidade citotóxica.

A eritroblasto fetal só ocorre quando a mãe é Rh negativo e o bebê Rh positivo.


Se ela é Rh negativo, quer dizer que não possui nas membranas de hemácias essa
proteína.

A situação tem início quando a mulher estiver grávida de um bebê que possui essa proteína, Rh positivo,
herdada do pai.

No momento do parto, a troca de sangue, natural entre os dois, fazem com que as hemácias do bebê
entrem na circulação materna e ativem a sua resposta imunológica. A nal, ela não possui essa proteína
Rh. Logo, vai reconhecê-la como estranha, produzindo na resposta anticorpos IgG anti-Rh.

Nessa primeira gestação, o bebê nascerá


saudável, pois não foi afetado pela resposta
imunológica da mãe.

 Mas lembre-se de que ela já tem anticorpo anti-


Rh. E, por isso, na segunda gravidez nessa mesma
condição (bebê Rh positivo), a mulher transferirá,
pela placenta, seus anticorpos para o bebê e entre
todos estará o anti-Rh.
 Desenvolvimento da eritroblastos fetal, modelo de hipersensibilidade
tipo II. | Fonte: Planeta Biologia
Os anticorpos maternos reconhecerão os <https://planetabiologia.com/eritroblastose-fetal-doenca-hemolitica-do-
recem-nascido-o-que-e/. > .
eritrócitos desse bebê.

Dependendo da quantidade de anticorpos, ele desenvolverá a doença hemolítica, com


aumento dos eritroblastos na sua circulação, que é uma forma imatura dos eritrócitos,
podendo desenvolver várias condições, a icterícia neonatal 2 .
Atenção

Viu porque os exames pré-natal são tão importantes?

Ao se identi car essa condição, a mãe que pariu recentemente recebe uma vacina formada por
anticorpos anti-Rh para não deixar que ocorra a resposta imune especí ca.

Esses anticorpos arti ciais reconhecem os eritrócitos do bebê antes da mãe estimular a resposta
imunológica e os complexos imunes são destruídos.

Vale lembrar que o número de gestações nessa condição pode levar a abortos sucessivos.

Além de IgG, o anticorpo IgM também pode participar na hipersensibilidade tipo II. Ambos levam à
ativação da via clássica do sistema complemento e à ativação da in amação através dos fragmentos
C3a e C5a.

Os anticorpos IgG que recobrem o alvo também estimulam a fagocitose por neutró los e a ativação da
citotoxicidade das células NK que possuem receptores para IgG.

Exemplo

Outro exemplo do mesmo mecanismo ocorre nas reações transfusionais, principalmente de eritrócitos,
levando a um quadro de febre, hipotensão, lombalgia, náusea e vômito. O mesmo se dá em
transplantes renais quando o órgão é revascularizado.

Também podemos veri car isso em algumas reações a medicamentos e nas doenças autoimunes,
que, na presença de autoanticorpo contra membranas de suas próprias células, desencadeiam o
processo imunopatológico.

Tipo III
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online

Na hipersensibilidade do tipo III também vamos observar o anticorpo ativando o sistema


complemento. E, como sabemos, os fragmentos produzidos pelo sistema complemento ativado leva ao
aparecimento dos sintomas.

Esse tipo III é mediado pelos complexos antígeno-anticorpo ou imunocomplexos, ou seja, trata-se da
associação de proteínas antigênicas e anticorpos que acabam se depositando em vasos de pequeno
calibre e articulações.

 Formação de imunocomplexos: A interação entre anticorpo e antígeno resulta em aglutinação. Antígenos como bactérias ou vírus são unidos para
formar um grupo. | Fonte: Por Soleil Nordic / Shutterstock.

Por que eles se depositam?

Primeiro, precisamos entender que o papel siológico dos anticorpos é de neutralização dos antígenos,
impedindo que tenham acesso a células e tecidos.

Lembra quando estudamos os fatores de virulência das bactérias?


Toxinas são proteínas, então os produtos desses patógenos são reconhecidos pelos anticorpos IgG, e,
como possuímos um sistema muito e ciente de fagócitos que reconhecem as regiões Fcg de IgG,
removemos da circulação essas toxinas ligadas aos anticorpos, os imunocomplexos. Isso se chama
clearance (remoção).

Os estudos têm mostrado que nem todas as pessoas são capazes de produzir o tamanho correto do
complexo imune ou imunocomplexo. Nesse caso, eles são maiores e acabam se depositando em locais
onde a circulação é mais reduzida.

O problema começa aqui, pois as proteínas do sistema complemento reconhecem a IgG e


ativam a via clássica do sistema complemento com a liberação, principalmente, dos fatores
quimiotáticos C3a e C5a.

Isso é a base genética para explicar esse fenômeno, mas essa hipersensibilidade também pode ocorrer
em infecções bacterianas crônicas, nas reações a alguns antibióticos etc.

Nesses casos, os fagócitos não conseguem remover os complexos imunes na mesma velocidade.

O resto você já sabe, não?

Migração dos neutró los e de outras células que fazem a in amação. Tudo isso provoca os sintomas
que são vistos nessas doenças.

Exemplo

Se o depósito ocorrer nos rins, eles começam a perder lentamente a capacidade de ltração.

Primeiramente porque ocorrerá in ltração de células e o diâmetro do vaso, com certeza, diminuirá, e,
depois, pela própria ação dos neutró los que liberam enzimas promovendo a destruição do tecido.
 Lesões teciduais: em A, ocorre o reconhecimento de componentes da matriz pelos anticorpos e a lesão tecidual promovida pelos neutrófilos e
macrófagos. Em B, há a situação das hipersensibilidades do tipo III com a deposição de complexos imunes nos vasos sanguíneos de pequeno calibre. |
Fonte: Abbas , 2014
Lúpus Eritematoso Sistêmico
(LES)
Voltando à base genética, na doença autoimune
Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), o paciente
desenvolve anticorpos contra nucleoproteínas,
fosfolipídios e ácidos nucléicos, e isso existe
porque há uma falha na eliminação de linfócitos
autorreativos durante o processo de
autotolerância no timo.

Na verdade, a origem da doença está associada a


fatores hormonais, sendo muito mais frequente
em mulheres durante a idade reprodutiva do que
em homens. Contudo, fatores ambientais e  Lesões em asa de borboleta: as áreas vermelhas na face da mulher
são um conhecido sinal clínico do LES que surge com o depósito de
imunológicos também não são descartados. complexos imunes e inflamação nessas áreas. | Fonte: Por Yuliya
Chsherbakova / Shutterstock.

Essa doença crônica apresenta períodos de


exacerbação e remissão, com sintomas de artrite,
nefrite, vasculite, lesões cutâneas, todos
relacionados à in amação.

 A doença apresenta maior risco quando acomete


os rins e o sistema nervoso central.

Tipo IV
A última hipersensibilidade que vamos entender é a do tipo IV, também chamada de tardia ou DTH.

Por que tardia?

Nessa resposta imunológica os sintomas iniciais surgem após 24 ou 48 horas de exposição ao agente
estimulante, quando uma forte reação in amatória é ativada pela presença de células TH.

 As células TH ou T CD4+ produzem muitas citocinas, como já vimos, e essas citocinas liberadas
estimulam bastante a migração e ativação de neutró los, macrófagos, mastócitos. Tudo isso forma um
in ltrado de células in amatórias.
Exemplo

Você já experimentou alguma reação a brincos, piercing ou qualquer substância química na sua pele?

Então, você já fez uma dermatite de contato e é esse o mecanismo. Na pele, essas substâncias são
absorvidas e ativam a célula dendrítica fazendo com que células TH ativadas sejam responsáveis pelo
resto.

 Mais uma vez, o papel da memória imunológica nessa reação é muito importante. Se
a pessoa sensível continuar utilizando o mesmo material, a reação vai ocorrer em
intervalos cada vez mais curtos.

Outros exemplos ocorrem nas:

Injeções intradérmicas com antígenos de Infecções microbianas com vírus, bactérias


proteínas; intracelulares e fungos intracelulares.

O melhor exemplo para as bactérias é a


tuberculose. O paciente com tuberculose sempre
forma do pulmão os chamados granulomas, que
são os in ltrados de macrófagos, células TH e Tc
na tentativa de controlar a disseminação desse
bacilo.

O empenho dessas células é tão intenso que


 Formação de um granuloma, reação típica da hipersensibilidade tipo
ocorre uma mudança da morfologia delas, IV. Observe a produção de citocinas da TH1 e o infiltrado de monócitos e
linfócitos no tecido. | Fonte: Abbas (2014).
aparecendo as células gigantes multinucleadas
com fusão de macrófagos.
 Fonte: Por Ralwel / Shutterstock

Quando aprendemos há pouco o mecanismo de hipersensibilidades tipo II e III, a palavra autoimune


apareceu algumas vezes.

 Doenças como esclerose múltipla, lúpus, artrite reumatoide, anemia hemolítica autoimune e diabetes
insulino-dependentes são cada vez mais conhecidas pela presença de uma resposta imunológica
contra células e tecidos.

Por que surgem anticorpos contra as nossas próprias


estruturas?

São múltiplas as causas e não se sabe por completo todos os mecanismos envolvidos. Podem existir
semelhanças entre proteínas virais ou bacterianas e proteínas próprias. Isso faz com que essas células
imunes ativadas acabem destruindo um tecido do hospedeiro.

Exemplo
É o caso da artrite reumatoide que pode surgir depois de uma infecção pelo vírus Epstein-Barr. Ou da
Diabetes Mellitus Insulino-dependente (IDDM), cujo alvo é o receptor de insulina nas células do
pâncreas. Essa doença surge após uma infecção com o papiloma vírus.

Mas, que tranquilo(a), não são todas as pessoas que desenvolvem essas doenças
autoimunes.

Para isso, o indivíduo deve ter uma origem genética que torna difícil eliminar esses linfócitos T e B que
chamamos de autorreativos.

Precisamos entender mais uma vez o desenvolvimento dos linfócitos nos órgãos linfoides geradores, o
timo  e a medula óssea.

VAMOS USAR O TIMO QUE É MAIS COMPREENDIDO.


Timo

Durante o desenvolvimento dos linfócitos T maduros no timo, a associação dessas células


com as dendríticas é a etapa mais importante.

Os linfócitos T interagem de forma especí ca com as moléculas classe II do MHC


presentes na membrana. Isso é chamado de restrição MHC e os linfócitos T permanecerão
vivos nessa etapa denominada seleção positiva.

Agora a função dessas células é apresentar peptídeos de várias proteínas do nosso


organismo, ou seja, apresentar o que é nosso, próprio. Nessa etapa, a intensidade da
ligação do receptor antigênico, TCR, com o peptídeo próprio será crucial para decidir se
essa célula vai sobreviver ou não.

Já imaginou o perigo se uma célula reconhecer com muita a nidade o


peptídeo derivado do colágeno?

Pois é isso que ocorre na Síndrome de Goodpasteur.

Nos indivíduos normais, quando ocorre um reconhecimento com alta a nidade a qualquer peptídeo
próprio, a célula dendrítica e outras, como as epiteliais tímicas, eliminam esse clone de linfócitos,
deletam. Por isso, chama-se deleção clonal e é o principal mecanismo na tolerância central no timo.

Quando morrem por apoptose estão sofrendo uma seleção negativa, e tiramos esse clone de linfócitos
prejudiciais. Se por acaso esses clones escapam da seleção negativa no timo/medula óssea, na
periferia existem células T regulatórias que controlam esses clones impedindo a sua ativação. O nome
para esse controle é anergia clonal, ou seja, eles existem, mas não podem ser ativados. Pode também
ocorrer a deleção clonal na periferia.

Heranças genéticas
Nas doenças autoimunes, algumas heranças genéticas impedem que esse controle exista, e esses
indivíduos acabam em algum momento da sua vida ativando os clones autorreativos.
A origem para a manifestação da doença autoimune engloba vários fatores ─ hormonais,
ambientais e genéticos ─ que se acumulam para o aparecimento dos sintomas.

Existem fatores genéticos relacionados a moléculas do MHC que interagem com os receptores de
antígenos dos linfócitos T, como o controle de células regulatórias e a relação com os hormônios
femininos. Por isso, algumas doenças surgem mais em mulheres do que em homens.

Controle da resposta autoimune

Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online

Para controlar a crise em uma resposta autoimune, geralmente, são utilizados os corticosteroides que
atuam na ativação da resposta imunológica, principalmente nas células apresentadoras de antígenos
como os macrófagos. Hoje, são utilizados em menor concentração para não comprometer o sistema
imunológico do paciente.

Além disso, essas manifestações estão cada vez mais relacionadas ao estresse emocional e muitas
terapias alternativas para o controle do estado emocional estão auxiliando esses pacientes. É o caso da
Yoga.
Os pesquisadores vêm se esforçando em compreender essas novas terapias para o tratamento dos
pacientes com doenças autoimunes, já que são capazes de controlar os desequilíbrios do sistema
imune.

Por m, é importante entendermos que, apesar de incuráveis, o indivíduo afetado com


essa doença autoimune pode viver normalmente controlando o aparecimento dos
sintomas.

Atividade
1. (Benjamini - Immunology - 2002) Assinale a a rmativa correta em relação às lesões na
glomerulonefrite induzidas por complexos imunes:

a) Dependem do complemento e eritrócitos.


b) Levam a um aumento da produção de urina.
c) Necessitam tanto do complemento quanto de neutrófilos.
d) Dependem da presença de macrófagos.
e) Precisam de todos os nove componentes do complemento.

2. (Benjamini - Immunology - 2002) A hipersensibilidade tipo II:

a) Não depende de anticorpo para ser ativada.


b) Não depende de complemento para ser ativada.
c) É mediada por células TCD8+.
d) Precisa da formação de complexos imunes.
e) Envolve a destruição de células mediadas por anticorpos.
3. Assinale o componente presente nos mastócitos responsáveis pela contração da musculatura lisa
dos brônquios:

a) Interleucina – 4
b) Fator de Necrose Tumoral (TNFa)
c) Histamina
d) Anticorpo alérgeno específico
e) C3a do sistema complemento

4. (Roitt - Immunology - 2010) O granuloma crônico representa uma tentativa do organismo de:

a) Isolar o sítio da infecção crônica.


b) Tornar o sitio da infecção crônica acessível.
c) Digerir os complexos imunes.
d) Iniciar a resposta imunológica.
e) Mudar o tipo de resposta TH1 para TH2.

5. (Roitt - Immunology - 2010) Qual é o tipo de hipersensibilidade que não pode ser transferida por
anticorpos?

a) Tipo I
b) Tipo II
c) Tipo III
d) Tipo IV
e) Tipo V

6. (Benjamini - Immunology - 2000) Uma pessoa não ativa uma resposta imunológica contra proteínas
próprias pela seguinte razão:

a) As proteínas não são processadas em peptídeos dentro da célula APC.


b) Peptídeos originados de proteínas próprias não se ligam a moléculas de classe I do MHC.
c) Peptídeos originados de proteínas próprias não se ligam a moléculas de classe II do MHC.
d) Os linfócitos que expressam receptores contra proteínas próprias são inativados por meio da deleção ou
anergia clonal.
e) Os linfócitos em desenvolvimento não produzem uma cadeia V (variável) necessária para produzir um
receptor de proteínas próprias.
7. (Benjamini - Immunology - 2000) Quais das opções a seguir é incorreta em relação à tolerância
imunológica?

a) A indução da tolerância é antígeno-específica.


b) A tolerância resulta da inativação ou eliminação de células B ou T.
c) A tolerância pode ser induzida em crianças e idosos.
d) Neutrófilos imaturos são mais suscetíveis à tolerância do que os neutrófilos maduros.
e) A quebra da tolerância pode resultar em autoimunidade.

Notas
1
Helmintos

Vermes

2
Icterícia neonatal

É apigmentação amarela da pele e da parte branca dos olhos num recém-nascido devido ao excesso de
bilirrubina no sangue

Bilirrubina é um pigmento de cor amarela, que, se aumentar muito, será tóxico para o sistema nervoso
central.

Referências

ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H. Imunologia básica. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

MURPHY, K. Imunobiologia de Janeway. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

PLAYFAIR, J. H. L.; CHAIN, B. M. Imunologia básica: guia ilustrado de conceitos fundamentais. 9. ed.
São Paulo: Manole, 2013.

TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

Próxima aula
O papel do chef de cozinha frente às questões contemporâneas da gastronomia;

O movimento Slow Food e as novas abordagens da gastronomia com respeito ao meio ambiente.

Explore mais

Para entender melhor os assuntos estudados nesta aula, assista aos seguintes vídeos:

Lúpus <https://www.youtube.com/watch?v=g75wnPWKPZk >

Alergia alimentar X Intolerância alimentar <https://www.youtube.com/watch?v=PknYOTmlWOg >

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