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Cgcad702lerconhecer140513 PDF
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Ler e
conhecer
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Ler e conhecer
Caro(a) trabalhador(a),
A língua portuguesa já é nossa conhecida no Programa de Qualificação Profissional.
No módulo Comunicar é preciso, refletimos sobre as diversas formas de linguagem
que permitem a comunicação entre as pessoas.
Por meio dos textos e das atividades propostas até aqui, você teve contato com essas
diferentes formas de linguagem, que podem ser usadas dependendo da situação em
que se encontra.
Neste novo módulo de língua portuguesa, você prosseguirá em suas reflexões a esse
respeito, conhecendo outras formas de texto.
Teremos a oportunidade de conhecer melhor aquilo a que chamamos gêneros textuais,
conhecendo o que é produzido em jornais e também na literatura.
Nosso objetivo é, principalmente, compreender como cada tipo de texto é construído
e como eles devem ser lidos.
Na Unidade 1, retomaremos a importância do uso adequado da linguagem, consi-
derando as diversas situações enfrentadas no dia a dia.
Na Unidade 2, vamos conhecer as várias partes que compõem um jornal e como
os tipos de texto são diferentes, dependendo do objetivo a ser alcançado. Assim,
vamos trabalhar bastante com nossa leitura e escrita.
Por fim, na Unidade 3, a literatura será a estrela do espetáculo!
Mãos à obra!
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Programa de Qualificação Profissional • Conteúdos Gerais
Unidade 1 Aperfeiçoando
a comunicação
De todas as linguagens que usamos para nos comunicar, a que utilizamos com
maior frequência é, sem dúvida, a linguagem oral.
Porém há momentos em que, a fim de sermos compreendidos de forma mais rápida e
objetiva, podemos simplesmente fazer gestos com as mãos
ou usar bandeiras, buzinas etc. Veja as imagens abaixo:
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Programa de Qualificação Profissional • Conteúdos Gerais
Romance
Texto com personagens e época definidos.
Conta uma história que pode se basear na realidade.
Geralmente é um texto longo.
Semelhante ao romance, é, no entanto, um texto mais
Novela curto que ele e mais extenso que um conto.
Na novela, diversas personagens aparecem em poucas
situações.
Conto
Texto curto, que narra uma única situação ou drama,
de forma direta, sem que uma situação se desdobre
em diversas outras.
Essas definições são simplificadas, mas já dão alguma ideia sobre cada um desses
textos. Porém é importante pesquisar o assunto a fim de saber mais a respeito.
E a notícia? E a reportagem? Alguém se lembrou desses textos?
A notícia e a reportagem estão mais presentes no nosso cotidiano, pois são gêneros
jornalísticos, não apenas do jornalismo escrito, mas também do televisivo.
Os jornais (sejam eles impressos ou transmitidos pelo rádio ou pela televisão)
são nossos “informantes” sobre os acontecimentos de nossa região, cidade, es-
tado, país e até do mundo. Eles são caracterizados pela informação rápida e pela
linguagem direta.
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Mesmo com o avanço da internet, a televisão ainda é o meio de comunicação mais usado para quem busca informações sobre seu cotidiano.
Também encontramos no jornal outros textos que não possuem essas mesmas ca-
racterísticas. Você sabe dizer quais? A crônica, por exemplo, é um texto que pode
aparecer nos jornais e que não se preocupa em usar linguagem direta, como a notícia.
A crônica pode ser inspirada em um acontecimento real, como uma notícia, mas
também tem muita semelhança com os textos literários.
Isso significa que, no jornal, a informação é veiculada de diferentes formas, por
meio de diferentes tipos de texto. Vamos então trabalhar com esse veículo que pode
ser muito útil e também divertido.
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Programa de Qualificação Profissional • Conteúdos Gerais
Um jornal é formado
por quantas partes?
Todo o conteúdo do jornal é produzido, principalmente,
a partir dos acontecimentos ocorridos em determinado
período, em geral recente (por exemplo, os fatos mais im-
portantes do dia anterior).
Para saber mais... Mas o jornal também procura oferecer maior compreen-
Você sabia que, como são sobre os fatos, ou seja, ele apresenta análises de alguns
os livros, os dicionários fatos para o leitor. Por essa razão o jornal escrito, o noti-
também têm autores?
ciário a que assistimos na televisão ou o que ouvimos no
Por isso os dicionários
não são todos iguais. rádio são conhecidos como formadores de opinião.
Há autores que, O jornal é, portanto, um espaço de debates que leva infor-
além de fornecer o
mação às pessoas. Contudo, ainda que algumas análises
significado das palavras,
procuram aprofundar
sejam oferecidas, sempre devemos estar atentos à infor-
essas explicações e a mação transmitida. É preciso parar e pensar: será que há
classificação de cada outra versão para o mesmo fato? O veículo jornalístico (a
vocábulo. emissora de TV, a rádio, o jornal) está apresentando todos
Antonio Houaiss foi os lados da situação? Ao levantarmos essas questões a nós
um dos principais
mesmos estaremos traçando um bom caminho para cons-
“dicionaristas”
brasileiros. Estava truirmos nossa própria opinião.
redigindo o Dicionário Assim como fizemos uma relação dos tipos de texto que
Houaiss da língua conhecemos e, entre eles, dos diferentes tipos de livro,
portuguesa quando
morreu, em 1999, e
podemos, aqui, listar as partes que compõem o jornal, as
pretendia que esse chamadas seções:
fosse o dicionário mais
completo da nossa
INTERNACIONAL CULTURA
língua. esportes horóscopo CIDADES
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Cada seção é construída de uma forma e trata de assuntos diferentes dos tratados nas
outras seções. Mas, independentemente de qual seja a seção,
existem, no jornal, diferentes gêneros de texto. Os primeiros jornais
Gênero é o termo técnico correto. Podemos falar em gênero tex- brasileiros são de 1808:
o Correio Braziliense
tual e também em gênero literário, em referência a divisões da lite-
e a Gazeta do Rio de
ratura que agrupam as obras literárias de características semelhan- Janeiro.
tes a fim de facilitar o estudo e a compreensão dos textos literários.
A notícia
SUPERSTOCK/GETTY IMAGES
A notícia é um dos tipos textuais que mais aparecem
nos jornais e está ligada ao principal objetivo do veí-
culo: informar.
Geralmente construída com objetividade, a notícia
relata os fatos ou acontecimentos atuais sem expres-
sar a opinião de quem escreve.
reprodução
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2 Agora reúna‑se com mais quatro colegas. Vocês devem discutir sobre as questões
seguintes.
a) O que o texto quer dizer? Qual a mensagem que o jornal pretendia transmitir
aos leitores?
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2 Com essas informações, releia a notícia que você escreveu e analise como ela pode
ser escrita de uma forma melhor, ou seja, aprimorada. Após reescrever sua notícia,
cole‑a no mural da sua turma.
Philippe Huguen/AFP
que notícia e reportagem sig-
nificam a mesma coisa, mas
vamos ver algumas diferenças.
O grande objetivo da repor-
tagem é informar, e ela colhe
vários elementos para noticiar
um fato ou divulgar uma infor-
mação. Como procura expor
pontos de vista diferentes, a
reportagem necessita de maior
investigação que a notícia.
Vamos ver um exemplo.
Você está assistindo ao jornal e ouve o repórter dizer: “Aumenta o emprego formal no
Brasil”.
Ele entrevista um sindicalista, que dá sua opinião sobre o assunto: “É verdade!
Cresceu o emprego com carteira assinada, mas ainda temos muitos colegas desem-
pregados! Precisamos de mais empregos!”.
Em seguida, o repórter mostra a opinião de um empresário: “Está difícil… a crise atingiu
a todos os setores da economia, mas temos interesse em criar mais postos de trabalho!”.
E, normalmente, o locutor encerra a notícia dando a opinião do jornal: “São muitas as
tentativas para aumentar o emprego no país, mas o desemprego é um fato que aconte-
ce no mundo todo. Será que a Copa do Mundo no Brasil vai gerar mais empregos?”.
Percebeu como a reportagem é construída?
Podemos dizer ela é mais opinativa do que a notícia, pois apresenta mais opiniões
a respeito ao mesmo tempo.
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2 Comecem agora a “coletar dados” sobre o tema escolhido, por meio de uma pes-
quisa que pode ser feita na internet ou na biblioteca da escola. Além disso, vocês
podem entrevistar pessoas que tenham algum conhecimento sobre o assunto em
questão. Por exemplo: se o assunto for relacionado ao curso, podem entrevistar o
coordenador, o monitor e um colega.
Veja alguns passos que vocês devem seguir para realizar uma entrevista:
• listem as pessoas que trabalhem/lidem com o assunto pesquisado;
• marquem as entrevistas com antecedência;
• façam um “roteiro de entrevista”, anotando as perguntas que querem fazer e as
dúvidas que querem esclarecer sobre o assunto.
Lembre‑se: é importante que você e seus colegas conversem antes de começar o
trabalho a fim de dividir as atividades, ou seja, de definir o que cada um vai fazer.
3 Vamos agora registrar os resultados do trabalho?
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b) Entrevistas: registre abaixo o nome das pessoas que vocês entrevistaram e suas
opiniões sobre o assunto.
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Artigo de opinião:
mais um gênero jornalístico
Você já entrou em discussões, em debates, “comprou brigas” para defender seu ponto
de vista? Quando produzimos esse tipo de debate na forma de texto, estamos produ-
zindo uma dissertação.
Portanto, um texto é chamado de dissertativo quando tomamos uma posição, de-
fendemos uma ideia, uma opinião diante de um fato, usando argumentos para “dar
força” às nossas convicções.
Defender um ponto de vista exige de quem escreve:
• maior conhecimento sobre o assunto;
• capacidade de analisar diferentes posições e optar por uma delas;
• construção de argumentos suficientes que sustentem e defendam a sua opinião.
Nos jornais, esse gênero de texto aparece, em geral, com o nome de editorial e expressa
a opinião do jornal sobre assuntos da atualidade.
Texto 1
“A educação profissional no Brasil esteve historicamente relacionada ao atendi‑
mento da demanda do setor empresarial e sua versão mais estruturada esteve, por
um lado, predominantemente voltada à formação de aprendizes para a indústria,
o que significou, para além de seus aspectos técnicos, o predomínio de uma edu‑
cação voltada para a produção e distanciada de uma formação mais integral dos
cidadãos. Isso quer dizer, em outras palavras, que tal ensino era caracterizado pela
ausência de enfoques mais humanistas e privilegiava a construção de um traba‑
lhador que deveria atender, antes de tudo, e principalmente, à lógica da produção.
Por outro lado, a educação profissional conteve, historicamente, um caráter de
envolver segmentos da sociedade excluídos do ensino público de boa qualidade.”
Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo.
Desafios da educação profissional, 2008.
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Texto 2
“Eu não sabia construir casa, eu precisava construir uma casa, mas não sabia
construir uma casa. Aí eu fui ajudar algumas pessoas que estavam construindo
casas. Eu ajudei e aprendi a construir uma casa. Aí, eu voltei e construí a minha
casa. Aí, um dia lá na fábrica, tinha uma área lá que precisava fazer um cômodo
a mais e a burocracia da engenharia tava lá há meses para fazer isso. Eu falei para
o meu chefe: ‘Me dá o material que eu construo esse galpão’. E construí.”
Operário de uma fábrica de Santo André. Cit. em Empregabilidade e educação,
Alípio Casali e outros, São Paulo, EDUC, 1997, p. 17.
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2 Agora que você planejou seu texto, mãos à obra! Não se esqueça de dar um título à
sua dissertação.
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A crônica
ANDRé CONTI/AE
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O conde e o passarinho
Acontece que o Conde Matarazzo estava passeando pelo parque. O Conde Ma-
tarazzo é um Conde muito velho, que tem muitas fábricas. Tem também muitas
honras. Uma delas consiste em uma preciosa medalhinha de ouro que o Conde
exibia à lapela, amarrada a uma fitinha. Era uma condecoração (sem trocadilho).
Ora, aconteceu também um passarinho. No parque havia um passarinho. E
esses dois personagens – o Conde e o passarinho – foram os únicos da singular
história narrada pelo Diário de São Paulo.
Devo confessar preliminarmente que, entre um Conde e um passarinho,
prefiro um passarinho. Torço pelo passarinho. Não é por nada. Nem sei
mesmo explicar essa preferência. Afinal de contas, um passarinho canta e
voa. O Conde não sabe gorjear nem voar. O Conde gorjeia com apitos de
usinas, barulheiras enormes, de fábricas espalhadas pelo Brasil, vozes dos
operários, dos teares, das máquinas de aço e de carne que trabalham para
o Conde. O Conde gorjeia com o dinheiro que entra e sai de seus cofres, o
Conde é um industrial, e o Conde é Conde porque é industrial. O passari-
nho não é industrial, não é Conde, não tem fábricas. Tem um ninho, sabe
cantar, sabe voar, é apenas um passarinho e isso é gentil, ser um passarinho.
Eu quisera ser um passarinho. Não, um passarinho, não. Uma ave maior,
mais triste. Eu quisera ser um urubu.
Entretanto, eu não quisera ser Conde. A minha vida sempre foi orientada
pelo fato de eu não pretender ser Conde. Não amo os Condes. Também não
amo os industriais. Que eu amo? Pierina e pouco mais. Pierina e a vida, duas
coisas que se confundem hoje, e amanhã mais se confundirão na morte.
Entendo por vida o fato de um homem viver fumando nos três primeiros
bancos e falando ao motorneiro. Ainda ontem ou anteontem assim escrevi.
O essencial é falar ao motorneiro. O povo deve falar ao motorneiro. Se o mo-
torneiro se fizer de surdo, o povo deve puxar a aba do paletó do motorneiro.
Em geral, nessas circunstâncias, o motorneiro dá um coice. Então o povo
deve agarrar o motorneiro, apoderar‑se da manivela, colocar o bonde a nove
pontos, cortar o motorneiro em pedacinhos e comê‑lo com farofa.
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Quando eu era calouro de Direito, aconteceu que uma turma de calouros assal-
tou um bonde. Foi um assalto imortal. Marcamos no relógio quanto nos deu na
cabeça, e declaramos que a passagem era grátis. O motorneiro e o condutor per-
deram, rápida e violentamente, o exercício de suas funções. Perderam também
os bonés. Os bonés eram os símbolos do poder.
Desde aquele momento perdi o respeito por todos os motorneiros e condutores.
Aquilo foi apenas uma boa molecagem. Paciência. A vida também é uma imensa
molecagem. Molecagem podre. Quando poderás ser um urubu, meu velho Rubem?
Mas voltemos ao Conde e ao passarinho. Ora, o Conde estava passeando e veio
o passarinho. O Conde desejou ser que nem o seu patrício, o outro Francisco, o
Francisco da Umbria, para conversar com o passarinho. Mas não era aquele, o São
Francisco de Assis, era apenas o Conde Francisco Matarazzo. Porém, ficou encanta-
do ao reparar que o passarinho voava para ele. O Conde ergueu as mãos, feito uma
criança, feito um santo. Mas não eram mãos de criança nem de santo, eram mãos de
Conde industrial. O passarinho desviou e se dirigiu firme para o peito do Conde.
Ia bicar seu coração? Não, ele não era um bicho grande de bico forte, não era, por
exemplo, um urubu, era apenas um passarinho. Bicou a fitinha, puxou, saiu voando
com a fitinha e com a medalha.
O Conde ficou muito aborrecido, achou muita graça. Ora essa! Que passari-
nho mais esquisito!
Isso foi o que o Diário de São Paulo contou. O passarinho, a esta hora assim, está
voando, com a medalhinha no bico. Em que peito a colocareis, irmão passari-
nho? Voai, voai, voai por entre as chaminés do Conde, varando as fábricas do
Conde, sobre as máquinas de carne que trabalham para o Conde, voai, voai, voai,
voai, passarinho, voai.
O conde e o passarinho, Rubem Braga, Record, Rio de Janeiro, 2002.
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1 Explique, com suas palavras, por que o texto “O conde e o passarinho” é uma crônica.
2 Como você viu, as crônicas são escritas a partir de uma história que nos aconteceu
ou mesmo de um sonho que tivemos. Pense em alguma situação ocorrida com
você, alguém de sua família ou um amigo e que mereça ser contada.
Procure agora transformar essa história em uma crônica. Lembre‑se: a linguagem
no caso da crônica pode ser informal, como se você estivesse mesmo contando uma
história que acha interessante, de forma criativa, poética, bem‑humorada…
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Vimos até agora quatro tipos de texto que aparecem todos os dias nos jornais:
• as notícias, que, em geral, compõem a maior parte do que é veiculado nos jornais;
• as reportagens, que apresentam comentários sobre as notícias feitos por pessoas
de diferentes profissões, posições políticas, formas de pensar;
• os artigos de opinião, nos quais os autores comentam e expressam o que pensam
sobre determinada notícia; e
• a crônica, gênero de texto que mistura realidade e ficção.
Mas, se abrirmos um jornal, perceberemos que há também outros tipos de texto.
Vamos ver quais são eles?
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Quadrinhos
Classificados
Charge
Horóscopo
Palavras Cruzadas
Propagandas
Anúncios de
falecimento
(obituário)
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A notícia de jornal também é uma narração, mas de fatos reais, com personagens reais.
Nela há a preocupação com a veracidade, ou seja, a busca da “verdade”. Na literatura,
diferentemente, nós temos espaço para criar histórias, inventar situações, sensações,
personagens. É o que chamamos de ficção. Contudo a ficção costuma ter semelhan-
ças com a verdade, o que recebe o nome de verossimilhança.
Lenda
Você conhece alguma lenda? Muitas vezes a lenda é definida como uma história que
ouvíamos de nossas avós. Mas ela possui características específicas.
A lenda – assim como a crônica – é um tipo de texto que combina fatos reais com fatos
irreais, aqueles produzidos pelo homem. Ela dá um caráter poético à realidade, que
fica misturada à imaginação popular.
As narrativas lendárias são histórias que vão sendo recontadas, passando de uma pessoa
para outra: de um vizinho para outro, do avô para o neto, do tio para o sobrinho. Essa
forma de transmitir histórias recebe o nome de “tradição oral”.
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Você sabia?
Muitos escritores famo‑
sos de nossa literatura re‑
gistraram, de forma escri‑
ta, as lendas, os folclores
e “causos” que eram con‑ A lenda é uma das formas mais simples de literatura que
tados entre as pessoas. existe, mas isso não significa que ela seja menos importan-
te que as demais.
No módulo sobre artes vimos que os nossos antepassados
produziam arte para representar o mundo em que viviam.
A lenda e o folclore existem desde sempre e podem ser
considerados uma pintura feita com palavras.
Se fizermos o exercício de passar para o papel uma história
que conhecemos, vamos contribuir para que ela permane-
ça viva, não é mesmo?
A lenda faz parte de nossa memória coletiva, e é possí-
vel compreender a literatura como um grande arquivo de
vida, no qual ficam guardadas as memórias, as crenças, as
histórias da vida nas cidades, no campo etc.
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Poesia e prosa
Agora vamos conhecer melhor dois gêneros de texto que possibilitam
a expressão de nossos sentimentos e sensações. Estrofe é, segundo o
Dicionário Houaiss da
Qual é a diferença entre prosa e poesia? língua portuguesa, a
A prosa é um texto escrito em parágrafos. Ela é mais utilizada na “divisão de um texto
[…], formada por um
linguagem do dia a dia. Todos os textos que vimos até agora neste determinado número
módulo são textos em prosa: textos jornalísticos, crônicas, lendas. de versos que apre‑
sentam ou não rima
Por sua vez, a poesia é escrita em estrofes e, geralmente, apresenta entre si”.
uma combinação de sons (sonoridade), ritmo, rima e verso, ou ape-
nas alguns desses elementos. É dela que falaremos em seguida.
Leia o poema seguinte:
Esse poema foi escrito pelo poeta português Luís Vaz de Camões,
no século 16 (XVI), e chegou a ser musicado pelo grupo Legião Urbana.
Isso mostra a capacidade da poesia de se manter atual.
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2 Que mensagem o poema transmite? O que o autor quer nos dizer com essas palavras?
3 Você conhece alguma música que considere um verdadeiro poema? Qual? Se não
conseguir se lembrar bem dela, faça uma pesquisa na internet, na sala de informática.
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Muitas pessoas pensam que o gênero poesia trata sempre de amor, o que é um engano,
pois há poemas sobre vários outros assuntos!
Lendo diferentes poemas vamos perceber que o importante na poesia é como o poeta
compreende alguma coisa e a transforma em versos.
Uma pedra pode virar poesia? E o trabalho de um operário? Leia o poema abaixo,
de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1928 na Revista de Antropofagia:
No meio do caminho
Carlos Drummond de Andrade
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra
Agora leia este trecho de um poema escrito, em 1956, por Vinicius de Moraes:
O operário em construção
Vinicius de Moraes
Era ele que erguia casas De fato, como podia
Onde antes só havia chão. Um operário em construção
Como um pássaro sem asas Compreender por que um tijolo
Ele subia com as casas Valia mais do que um pão?
Que lhe brotavam da mão. Tijolos ele empilhava
Mas tudo desconhecia Com pá, cimento e esquadria
De sua grande missão: Quanto ao pão, ele o comia…
Não sabia, por exemplo Mas fosse comer tijolo!
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião E assim o operário ia
Como tampouco sabia Com suor e com cimento
Que a casa que ele fazia Erguendo uma casa aqui
Sendo a sua liberdade Adiante um apartamento
Era a sua escravidão. Além uma igreja, à frente
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Ler e conhecer
3 Quando todos estiverem com seus poemas prontos, vocês devem agrupá‑los por
temas: poemas sobre o amor, a criança, a cidade… Para isso, organizem uma ativi-
dade: quem quiser pode declamar seu poema para os colegas; outros poderão fazer
cartazes com ele. Soltem a criatividade e vivenciem um momento acolhedor com
seus colegas.
Organizem também uma galeria de fotos do sarau. Registrem o evento com a má-
quina fotográfica construída nas aulas de arte.
Esperamos que este módulo tenha lhe trazido informações novas e despertado ou
aumentado seu interesse pela leitura e pela escrita!
Até breve!
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via rápida emprego
Arte e cotidiano
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