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A psicologia se consolidou, ao longo do século XIX, como uma vertente filosófica; neste período ela estudava tão

somente o comportamento, as emoções e a percepção. Vigorava então o atomismo – buscava-se compreender o


todo através do conhecimento das partes, sendo possível perceber uma imagem apenas por meio dos seus
elementos. Em oposição a esse processo, nasceu a Gestalt – termo alemão intraduzível, com um sentido
aproximado de figura, forma, aparência.

Por volta de 1870, alguns estudiosos alemães começaram a pesquisar a percepção humana, principalmente a visão.
Para alcançar este fim, eles se valiam especialmente de obras de arte, ao tentar compreender como se atingia
certos efeitos pictóricos. Estas pesquisas deram origem àPsicologia da Gestalt ou Psicologia da Boa Forma. Seus
mais famosos praticantes foram Kurt Koffka, Wolfgang Köhler e Max Werteimer, que desenvolveram as Leis da
Gestalt, válidas até os nossos dias. Com seu desenvolvimento teórico, a Gestalt ampliou seu leque de atuação e
transformou-se em uma sólida linha filosófica.
Esta doutrina traz em si a concepção de que não se pode conhecer o todo através das partes, e sim as partes por
meio do conjunto. Este tem suas próprias leis, que coordenam seus elementos. Só assim o cérebro percebe,
interpreta e incorpora uma imagem ou uma idéia. Segundo o psicólogo austríaco Christian von Ehrenfels, que em
1890 lançou as sementes das futuras pesquisas sobre a Psicologia da Gestalt, há duas características da forma – as
sensíveis, inerentes ao objeto, e a formais, que incluem as nossas impressões sobre a matéria, que se impregna de
nossos ideais e de nossas visões de mundo. A união destas sensações gera a percepção. É muito importante nesta
teoria a idéia de que o conjunto é mais que a soma dos seus elementos; assim deve-se imaginar que um terceiro
fator é gerado nesta síntese.

Leis da Gestalt
Observando-se o comportamento espontâneo do cérebro durante o processo de percepção, chegou-se á elaboração
de leis que regem esta faculdade de conhecer os objetos. Estas normas podem ser resumidas como:
•Semelhança: Objetos semelhantes tendem a permanecer juntos, seja nas cores, nas texturas ou nas
impressões de massa destes elementos. Esta característica pode ser usada como fator de harmonia ou de
desarmonia visual.
•Proximidade: Partes mais próximas umas das outras,em um certo local, inclinam-se a ser vistas como um
grupo.
•Boa Continuidade: Alinhamento harmônico das formas.
•Pregnância: Este é o postulado da simplicidade natural da percepção, para melhor assimilação da
imagem. É praticamente a lei mais importante.
•Clausura: A boa forma encerra-se sobre si mesma, compondo uma figura que tem limites bem marcados.
•Experiência Fechada: Esta lei está relacionada ao atomismo, pensamento anterior ao Gestalt. Se
conhecermos anteriormente determinada forma, com certeza a compreenderemos melhor, por meio de
associações do aqui e agora com uma vivência anterior.

A Terapia Gestalt
A Gestalt Terapia surgiu pelas mãos do médico alemão Fritz Perls (1893-1970), que tinha grande interesse pela
neurologia e posteriormente pela psiquiatria. Por este caminho tornou-se um psicanalista. Ao elaborar novas idéias
psicanalíticas, chegou a ser expulso da Sociedade de Psicanálise. Depois de um encontro com Freud, rompeu
definitivamente com este campo de pesquisas. Em 1946, Fritz imigrou para a América, instalando-se
definitivamente em Nova York, onde conheceu seu grande colaborador, Paul Goodman. Juntos introduziram o
conceito de Gestalt Terapia, recebendo depois o apoio e o auxílio da esposa de Fritz, Lore, e de outros autores.
Foram inspirados por várias correntes, como o Existencialismo, a Psicologia da Gestalt, a Fenomenologia, a
Teoria Organísmica de Goldstein, a Teoria de Campo de Lewin, o Holismo de Smuts, o Psicodrama de Moreno,
Reich, Buber e, enfim, a filosofia oriental.

A Gestaltpedagogia
No campo da pedagogia, a Gestalt também encontrou terreno fértil. O russo Hilarion Petzold, radicado na
Alemanha, foi o primeiro a apresentar esta possibilidade na área educacional. Em 1977, ele cria a
Gestaltpedagogia, uma transferência dos princípios terapêuticos da filosofia da Gestalt para o contexto da
educação, com o objetivo de resolver os principais problemas pedagógicos da atualidade.
Mais de 50 anos depois da criação da Gestalt Terapia, estes princípios filosóficos conquistaram seu lugar no
panorama psicoterapêutico, bem como na educação e na área de Recursos Humanos das empresas.
A Teoria da Gestalt, em suas análises estruturais, encontrou determinadas leis que regem a percepção humana das
formas, facilitando a compreensão das imagens e idéias. Essas leis seriam conclusões sobre o comportamento
natural do cérebro, no que concerne ao processo de percepção. Os elementos constitutivos são agrupados de
acordo com as características que possuem entre si, como semelhança, proximidade e outras que veremos a
seguir.

Veja mais em: Exemplos gráficos das leis da Gestalt.

São estas, resumidamente, as Leis da Gestalt:

PROXIMIDADE: Os elementos são agrupados de acordo com a distância a que se encontram uns dos
outros. Logicamente, elementos que estão mais perto de outros numa região tendem a ser percebidos como um
grupo, mais do que se estiverem distante de seus similares.

SEMELHANÇA: Eventos semelhantes se agruparão entre si. Essa semelhança se dá por intensidade, cor,
odor, peso, tamanho, forma etc. e se dá em igualdade de condições.

CONTINUIDADE: Há uma tendência de a nossa percepção seguir uma direção para conectar os elementos
de modo que eles pareçam contínuos ou fluir em uma direção específica.

PREGNÂNCIA: A mais importante de todas, possivelmente, ou pelo menos a mais sintética. Diz que todas
as formas tendem a ser percebidas em seu caráter mais simples. É o princípio da simplificação natural da
percepção. Quanto mais simples, mais facilmente é assimilada.

EXPERIÊNCIA PASSADA: Esta se relaciona com o pensamento pré-Gestáltico, que via nas associações o
processo fundamental da percepção da forma. A associação aqui, sim, é imprescindível, pois certas formas só
podem ser compreendidas se já a conhecermos, ou se tivermos consciência prévia de sua existência. Da mesma
forma, a experiência passada favorece a compreensão metonímica: se já tivermos visto a forma inteira de um
elemento, ao visualizarmos somente uma parte dele reproduziremos esta forma inteira na memória.

CLAUSURA: Ou “fechamento”, o princípio de que a boa forma se completa, se fecha sobre si mesma,
formando uma figura delimitada. O conceito de clausura relaciona-se ao fechamento visual, como se
completássemos visualmente um objeto incompleto.

A psicologia da Gestalt também fala da questão da “figura/fundo” que seria a tendência de organizar as
percepções do objeto sendo visto e do fundo sobre o qual ele aparece. A figura seria aquilo que procuramos ou
voltamos a atenção e fundo seria o contexto no qual a figura está inserida, como por exemplo: quando você está
com fome e busca um restaurante e o encontra, a figura é o restaurante e o fundo seria a rua. Assim como as
páginas para o livro, as letras para o papel.

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