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REFORMA PSIQUIÁTRICA

A partir da promulgação da Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, o Brasil entrou para o grupo de
países com uma legislação moderna e coerente com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde e seu Escritório
Regional para as Américas, a OPAS.

A Lei indica uma direção para a assistência psiquiátrica e estabelece uma gama de direitos das pessoas portadoras de
transtornos mentais; regulamenta as internações involuntárias, colocando-as sob a supervisão do Ministério Público,
órgão do Estado guardião dos direitos indisponíveis de todos os cidadãos brasileiros.

A Reforma Psiquiátrica é entendida como processo social complexo, que envolve a mudança na assistência de acordo
com os novos pressupostos técnicos e éticos, a incorporação cultural desses valores e a convalidação jurídico-legal desta
nova ordem.

A reestruturação da assistência, principal pilar da Reforma, contava, desde 1990, com a Declaração de Caracas,
documento norteador das políticas de Saúde Mental. Os três níveis gestores do Sistema Único de Saúde buscaram
soluções efetivas para esta área, sustentados por vigoroso movimento social e com diretrizes pactuadas nas conferências
nacionais de 1987, 1992, 2001 e 2010.

A IV Conferência Nacional de Saúde Mental – Intersetorial (IV CNSM-I) foi convocada por decreto presidencial em
abril de 2010 e teve sua etapa nacional realizada em Brasília, entre os dias 27 de junho a 1º de julho de 2010. O tema da
IV Conferência – “Saúde Mental direito e compromisso de todos: consolidar avanços e enfrentar desafios” – permitiu a
convocação não só dos setores diretamente envolvidos com as políticas públicas, mas também de todos aqueles que têm
indagações e propostas a fazer sobre o vasto tema da saúde mental. A convocação da intersetorialidade, de fato, foi um
avanço radical em relação às conferências anteriores, e atendeu às exigências reais e concretas que a mudança do
modelo de atenção trouxe para todos.

Os dados da Coordenação Nacional de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas apontam que o movimento de
descapitalização dos portadores de transtornos mentais continua em curso. Entre 2002 e 2012 houve uma queda no
quantitativo de leitos psiquiátricos de 51.393 para 29.958 e uma redução do percentual de gastos com a rede hospitalar
de 75,24% para 28,91%. Por outro lado, a quantidade de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) subiu de 424 para
1.981 e o percentual de gastos extra-hospitalares aumentou de 24,76% para 71,09%. Em 2012 houve ainda importante
investimento financeiro nos CAPS, que passou de 460 milhões no ano anterior, para 776 milhões, representando um
aumento de 68%.

A mudança do modelo assistencial e a consequente inversão das prioridades de financiamento foram acompanhadas por
um aumento global dos recursos financeiros destinados à saúde mental, que passaram de R$ 619 milhões em 2002, para
R$ 1,8 bilhão em 2011.

O processo de mudança na assistência só terá sustentação se os portadores de transtornos mentais, cuidados


adequadamente, não forem excluídos da comunidade em que vivem ou não se tornarem um fardo para seus familiares.
Desde 2004 existem políticas do Ministério da Saúde e da Secretaria de Economia Solidária, do Ministério do Trabalho
voltadas para a inserção social por meio de programas de geração de renda, que já computou 660 experiências nesse
sentido.

Dentre os desafios da Reforma há consenso sobre a necessidade da sociedade conviver de forma mais harmônica com
os diferentes e o reconhecimento das potencialidades dessas pessoas, que não estão à margem do projeto de Nação, que
têm capacidade de trabalhar e de produzir. Nos últimos anos, tem ocorrido a valorização, por mérito, de diversas
expressões culturais e artísticas de portadores de transtornos mentais. Em todo o País, é possível encontrar artistas
usuários de serviços de Saúde Mental produzindo, pintando, gravando, escrevendo, expondo e se expondo, orgulhosos
de seus dons e valores. Comercializam telas, livros e CD, o que é, provavelmente, uma segura manifestação de
cidadania e pertencimento a esse mundo do mercado que compra e vende arte.

Infelizmente a sociedade ainda está longe do consenso sobre essas práticas e valores, mas não há como negar que essa é
uma tendência que vem se tornando hegemônica.

Domingos Sávio N. Alves


Instituto Franco Basaglia (IFB)
http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/mostra/reforma.html
“Não me incomodo muito com o Hospício, mas o que me aborrece é essa intromissão da polícia na minha vida. De mim
para mim, tenho certeza que não sou louco; mas devido ao álcool, misturado com toda espécie de apreensões que as
dificuldades de minha vida material, há seis anos, me assoberbam, de quando em quando dou sinais de loucura,
deliro”.

Lima Barreto Diário do Hospício


A loucura, objeto de meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um
continente”.

Machado de Assis
O Alienista
“As imagens do inconsciente são apenas uma linguagem simbólica que o psiquiatra tem por dever decifrar.
Mas ninguém impede que essas imagens e sinais sejam, além do mais, harmoniosas, sedutoras, dramáticas, vivas ou
belas, constituindo em si verdadeiras obras de arte”.

Mário Pedrosa

Ilustração de Raphael

“E não podemos admitir que se impeça o livre desenvolvimento de um delírio, tão legítimo e lógico como qualquer
outra série de ideias e atos humanos”.

Antonin Artaud
Carta aos diretores de asilos de loucos
"Os doentes mentais são como beija-flores. Nunca pousam. Estão sempre a dois metros do chão."

Bispo do Rosário

R E F O R M A P S I Q U I Á T R I C A : O P R O G R A M A D E V O LTA PA R A C A S A

O Programa De Volta para Casa, criado pelo Ministério da Saúde, é um programa de reintegração social de pessoas
acometidas de transtornos mentais, egressas de longas internações, segundo critérios definidos pela Lei n.º 10.708,
sancionada pelo Presidente Lula em 31 de julho de 2003. Esta estratégia vem ao encontro de recomendações da
Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a área de saúde mental.
O programa objetiva reverter gradativamente um modelo de atenção centrado na internação em hospitais psiquiátricos
especializados por um modelo de atenção de base comunitária, consolidado em serviços territoriais e de atenção diária.

Ao prever o pagamento mensal de um auxílio reabilitação psicossocial em contas bancárias para os próprios
beneficiários, o programa também atende ao disposto no artigo 5.º da Lei n.o 10.216, de 6 de abril de 2001, que dispõe
sobre a proteção e os direitos dos usuários dos serviços de Saúde Mental, determinando que os pacientes a longo tempos
hospitalizados, ou para os quais se caracterize situação de grave dependência institucional, sejam objeto de “política
específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida”.

O Programa De Volta para Casa, em conjunto com o Programa de Redução de Leitos Hospitalares de Longa
Permanência e com os Serviços Residenciais Terapêuticos, constitui-se em um dos tripés do processo de
desinstitucionalização e da Política Nacional de Saúde Mental.

O objetivo deste programa é contribuir efetivamente para o processo de inserção social, incentivando a organização de
uma rede ampla e diversificada de recursos assistenciais e de cuidados, facilitadora do convívio social, capaz de
assegurar o bem-estar global e estimular o exercício pleno de seus direitos civis, políticos e de cidadania.

foto de Radilson Carlos Gomes

O Programa De Volta para Casa vem se consolidando como ferramenta imprescindível para a concretização da
desinstitucionalização e a reafirmação dos ideais da Reforma Psiquiátrica brasileira, além de representar um importante
avanço no campo dos direitos humanos.

Novas oportunidades e novos sonhos são possibilitados pelo auxílio reabilitação psicossocial. A garantia de renda
mensal permite que o portador de transtorno mental circule pelos espaços urbanos, constituindo novas relações e
aprendizados com os seus vizinhos, com os comerciantes locais, com sua consequente inclusão em atividades culturais
e no trabalho.
Dessa forma, os beneficiários do Programa de Volta para Casa (re)conquistam a sua cidadania, como atores que
transpõem os muros dos hospitais psiquiátricos, e recontam suas histórias em novos cenários

REFORMA PSIQUIÁTRICA: RESIDÊNCIAS TERAPÊUTICAS

Os Serviços Residenciais Terapêuticos, também conhecidos como Residências Terapêuticas, são casas, locais de
moradia, destinados a pessoas com transtornos mentais que permaneceram em longas internações psiquiátricas e
impossibilitadas de retornar às suas famílias de origem.

As Residências Terapêuticas foram instituídas pela Portaria/GM não 106, de 11 de fevereiro de 2000 e são parte
integrante da Política de Saúde Mental do Ministério da Saúde. Esses dispositivos, inseridos no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS), são centrais no processo de desinstitucionalização e reinserção social dos egressos dos hospitais
psiquiátricos.

Tais casas são mantidas com recursos financeiros anteriormente destinados aos leitos psiquiátricos. Assim, para cada
morador de hospital psiquiátrico transferido para a residência terapêutica, um igual número de leitos psiquiátricos deve
ser descredenciado do SUS e os recursos financeiros que os mantinham devem ser realocados para os fundos
financeiros do estado ou do município para fins de manutenção dos Serviços Residenciais Terapêuticos.

Em todo o território nacional existem mais de 470 residências terapêuticas.

Coordenação Nacional de Saúde Mental/MS

A R E D E D E AT E N Ç Ã O P S I C O S S O C I A L N O S I S T E M A Ú N I C O D E S A Ú D E
(SUS)

A Política Nacional de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas é orientada pelas diretrizes da Reforma Psiquiátrica e da
Lei nº 10.216 – superação do modelo asilar e garantia dos direitos de cidadania da pessoa com transtornos mentais.
Nessa perspectiva, prioriza iniciativas que visam garantir o cuidado integral centrado nos territórios, na perspectiva da
garantia de direitos com a promoção de autonomia e o exercício de cidadania, buscando progressiva inclusão social.

A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) – Portaria GM/MS nº 3.088/2011 –, preconiza o atendimento a pessoas com
sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas.

A RAPS é formada por 7 componentes:

I – Atenção Básica em Saúde


II – Atenção Psicossocial Especializada
III – Atenção de Urgência e Emergência
IV – Atenção Residencial de Caráter Transitório
V – Atenção Hospitalar
VI – Estratégias de Desinstitucionalização
VI - Reabilitação Psicossocial

Principais pontos de atenção

– Unidades Básicas de Saúde


- Núcleos de Apoio à Saúde da Família
- Consultórios Na Rua
- Centros de Convivência
- Centros de Atenção Psicossocial nas suas diferentes modalidades
- Atenção de Urgência e Emergência
- Unidades de Acolhimento
- Serviços de Atenção em Regime Residencial
- Leitos de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas em Hospitais Gerais
- Serviços Residenciais Terapêuticos
Objetivos

I – ampliar o acesso da população em geral;


II - promover o acesso das pessoas com transtornos mentais e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e
outras drogas e suas famílias aos pontos de atenção;
III - garantir a articulação e integração dos pontos de atenção das redes de saúde no território, qualificando o cuidado
por meio do acolhimento, do acompanhamento contínuo e da atenção às urgências.

Lançado pelo Governo Federal ao final de 2011, o Programa Crack: É possível Vencer é uma ação interministerial –
Ministérios da Justiça, da Saúde, da Educação, da Assistência Social e Combate à Fome e Secretaria de Direitos
Humanos – com a finalidade de aumentar a oferta de cuidado e atenção integral aos usuários e seus familiares, reduzir a
oferta de drogas ilícitas e promover ações de educação, informação e capacitação.

Rede de Atenção Psicossocial

1.982 CAPS
625 Residências Terapêuticas
4.160 beneficiários do Programa de Volta para Casa
60 Unidades de Acolhimento
81 Consultórios na Rua
4.121 Leitos em Hospitais Gerais
Redução de 21.435 Leitos em Hospitais Psiquiátricos, desde 2002

Fonte: Ministério da Saúde, abril de 2013


Confira o fôlder Raps - Rede de atenção psicossocial

Oficinas Terapêuticas

As oficinas terapêuticas realizadas no Centro Cultural do Ministério da Saúde foram o resultado da parceria com a
Secretaria Municipal de Saúde-RJ/Subsecretaria de Ações e Serviços de Saúde/Coordenação de Programas de Saúde
Mental, no sentido de promover a autonomia e a cidadania à pacientes com transtornos mentais.

Aberto a todos os CAPS.

Oficina teatral “O outro, um espelho de mim”

A oficina teatral “O outro, um espelho de mim” constitui um dos meios de atuação da cia de teatro amador Os
Nômades, projeto do Espaço Terapêutico Antonin Artaud. Através de jogos teatrais e dramatizações, a oficina busca
contribuir para a implementação de uma cultural antimanicomial, atuando como multiplicador de ações e propostas de
trabalho no âmbito da atenção psicossocial, proporcionando aos participantes uma reflexão sobre o sofrimento psíquico
dos usuários dos serviços de saúde mental.

Público-alvo: Profissionais, estudantes e usuários de saúde mental


Número de vagas: 15 por oficina
Carga horária: 2:30h por encontro
Horários:
28 de Setembro - 9:30h às 11:30h
19 de Outubro - 9:30h às 11:30h
23 de Novembro - 9:30h às 11:30h
30 de Novembro - 9:30h às 11:30h

Confira as fotos
Lançamento dos cadernos do IPUB (Instituto de Psiquiatria da UFRJ)

Volume 22 – Desinstitucionalização. A experiência dos serviços terapêuticos.


Editor: Patrícia Albuquerque
Volume 23 – Psicopatologia e Trabalho.
Editor: João Ferreira da Silva Filho
Volume 24 – Saúde Mental na atenção básica.
Editor: Cristina Loyola Miranda

Local: Centro Cultural do Ministério da Saúde


Data: 9 de Outubro de 2007 - Horário: 17

Curso “O Cuidado em sua Dimensão Ética, Clínica e Política”

Secretaria Municipal de Saúde-RJ/ Subsecretaria de Ações e Serviços de Saúde/Coordenação de Programas de Saúde


Mental
Coordenação: Patrícia Albuquerque

Período: de 16 de Outubro a 6 de Novembro de 2007


Terças-Feiras – Horário: 14h às 17:30h
Número de vagas: 30

Programa:

16/10 “A Loucura e suas Épocas”


Constituição do Campo da Saúde Mental
Perspectiva histórica da evolução das ideias, dos saberes e das práticas no trato com a loucura
Saúde Mental e Cidadania: a constituição de um novo lugar social para loucura

23/10 Cuidar em Liberdade


O que informa e forma a Clínica da Atenção Psicossocial:

Oficina de Dança

Oficina de Dança

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