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ÉTICA E A INOCÊNCIA
DO MÉTODO
Leila Marrach Basto de Albuquerque
Rodolfo Franco Puttini
(organizadores)
QUESTÕES SOBRE A
ÉTICA E A INOCÊNCIA
DO MÉTODO
Sumário
Prefácio.......................................................................................07
(Débora Diniz)
Débora Diniz1
8
Questões sobre a ética e a inocência do método
Referência Bibliográfica
WOOLF, Virginia. A Torre Inclinada. In: ______. O Valor do Riso e Outros En-
saios. Tradução e Organização: Leonardo Froés. São Paulo: Cosac Naify, 2014. p.
427-463.
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O corpo como construção social
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ainda tem a seu favor toda a força e o fervor da fé. Nesse corpo me-
dieval, o espírito e a matéria não se separam. Ainda não se os pensa
como fadados respectivamente à eternidade e à degradação. Impli-
cam-se simbolicamente por uma lógica de metáforas e de metoní-
mias, para nós, hoje, difícil de compreender: tudo o que se fizesse
à matéria era ao espírito que pelo mesmo gesto se fazia e vice-versa
- um pouco como rasgar o verso de uma folha é destruir também o
seu anverso.
Por esta lógica, atribuía-se sentido à tortura e à dor: a punição
sobre o físico era também sobre a alma, podendo inclusive poupar
sofrimentos ulteriores ainda mais rigorosos. Por esta lógica, com-
preendia-se a ida de cadáveres aos tribunais, se crimes fossem des-
cobertos depois da morte de seus autores; também se explicava a
superposição de várias penas de morte sobre uma mesma pessoa:
a união corpo-alma e a responsabilidade social não cessavam com
o falecimento. Aí está também a razão pela qual os filhos de uma
viúva muitas vezes fossem atribuídos ao finado marido.
Por esta coordenação de ideias e sentimentos se recusava a cre-
mação e se a considerava prática de bárbaros pagãos, digna apenas
de criminosos graves, de hereges sacrílegos. Pelas premissas dessa ló-
gica, repudiava-se veementemente a dissecação, a abertura (ou pro-
fanação) do corpo humano com a finalidade de observação. Nesse
tempo, o olhar científico, presidido pela oposição sujeito/objeto de
observação, não havia ainda conquistado legitimidade social. Nada
a estranhar, pois, no fato de que os primeiros a serem dissecados
tivessem sido exatamente indivíduos condenados, aqueles a quem
a infâmia já houvesse desprovido do respeito. Mesmo assim, as
dissecações tinham lugar apenas algumas vezes por ano, em datas
predeterminadas, mediante autorização papal específica, fazendo-
se preceder e suceder de vários dias de sortilégios, destinados a
exorcizar tais gravíssimos cometimentos.
Cada corpo individual também não se separava muito nitida-
mente dos demais. Na morte, as sepulturas eram coletivas, convi-
vendo os corpos em covas entreabertas até que estivessem cheias. Os
cemitérios situavam-se nas imediações (dentro e ao lado) das igrejas.
Estas, como sabemos, eram o centro da vida comunitária medieval.
Consequência: o cemitério era também o locus central da vida co-
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minha mulher”. Foi preciso esperar a época deste testador, para que
as sepulturas individuais começassem a se multiplicar. E aguardar os
séculos XVIII e XIX, para que a paisagem familiar de nossos cemi-
térios se banalizasse e se transformasse em direito individual: incon-
táveis sepulturas, para incontáveis mortos, cada um proprietário de
seu corpo e de sua morada.
Na vida, as coisas não eram diferentes. Ligados aos feudos, os
corpos não podiam ir e vir, bandeira fundamental do conceito de
“liberdade” desde os primeiros comerciantes burgueses. “Meus fi-
lhos” ou “minha mulher” não eram os lugares por excelência da
afetividade - posição que ocupariam mais tarde, como consequência
da ruptura capitalista dos laços que teciam a comunidade: minha
família e minha mulher são hoje os farrapos que restaram de um
mundo em que os contatos primários, as relações afetivas e face a
face davam a tônica. Não é à toa, pois, que as canções de hoje, os
filmes, as novelas da televisão, de tão grande apelo emocional, não
falam a nós de outra coisa: ruiu a comunidade, fragmentou-se a
família, o casamento está desmoronando... Sobra, por enquanto,
como lugar privilegiado do afeto, esta entidade de definição sexual
cada vez mais difícil: uma dupla de indivíduos - o casal.
O casal medieval era definido. Mas não se formava a partir das
mesmas premissas que o moderno. Não imperava o amor, este sen-
timento íntimo e particular, brotado daquilo que é o mais “pro-
fundo”, “essencial”, “autêntico” e “genuíno” de um indivíduo. Não
tinha lugar esta emoção suscitada apenas por um determinado e
especial outro indivíduo, minha cara-metade, minha alma-gêmea,
este que foi feito, sabe-se lá por que mágico artífice, sob medida
apenas para mim. Pelo menos não era o amor o que fundava e ci-
mentava um casal. Se afeição existisse entre marido e mulher, tanto
melhor. Mas deveria em geral ser consequência, não causa, da vida
em comum.
Romeu e Julieta, como Viveiros de Castro e Bezaquem de Araú-
jo(1977) demonstraram, ilustram a emergência do sentimento mo-
derno de “amor” (profundo, íntimo, individual, especial, possessivo,
às vezes louco). Por isso, Romeu e Julieta são marginais, desviantes
em relação a seu tempo. Discrepam e contradizem a normatividade
social, querem sobrepor seus sentimentos individuais aos desígnios
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Tudo isso é verdade. Não obstante, muito além disso, não pode-
mos esquecer que as usinas, fábricas, oficinas e escritórios modernos
são projetados tecnicamente e organizados para que em seu espaço
qualquer invenção criativa, qualquer gesto deslocado, qualquer ma-
nifestação espontânea de vida não programada seja impossível. Não
podemos subestimar que os corpos neles inseridos são devorados
por encadeamentos medidos segundo o ritmo das máquinas e das
agendas, ritmos que determinam a priori e exteriormente todos os
gestos. Ritmos que transformam progressivamente os trabalhadores
em complementos das engrenagens.
Insatisfatório para o sistema produtivo e insatisfeito com seu
lugar no mesmo, o corpo deverá progressivamente sair das fábri-
cas. Neste segundo ato, não é mais o corpo-ferramenta que ocupará
o proscênio. Nesta civilização de abundância industrial, de lazer e
consumo, o corpo terá, doravante, nova tarefa: a de ser o suporte
material e ideológico da produção. Não mais se queimando como
carvão nos fornos das usinas, mas digerindo mercadorias, destruin-
do-as e aniquilando em escala industrial, para que novas levas pro-
dutivas tenham lugar.
Aí está o novo corpo, agora ponto fundamental de articulação
da produção com o consumo, agora ponto crucial da re-produção do
sistema. Aí está o novo corpo, agora plenamente “livre”, estetizado,
vestido, curtido, ginasticado, medicalizado, indo e vindo. Cada par-
te deste novo corpo - das unhas (esmaltes, lixas, alicates...) aos fios
de cabelo (xampus, rinses, secadores...), do estômago (alimentos,
digestivos, restaurantes...) aos órgãos sexuais (talcos, cremes, deso-
dorantes, preservativos...) - cada ínfima parte se transformou em
consumidor especializado.
Surge daí um corpo aparentemente liberado do dever. Um cor-
po destinado às férias e às horas livres, voltado para o lazer, o prazer
e o gozo. Um corpo belo e liso, sem calos nem cicatrizes. Corpo
sem signos de trabalho, corpo sorriso, corpo publicitário. “Livre”
do constrangimento de ser alugado como meio de produção, “li-
berado” da submissão ao ritmo exterior das correias e alavancas.
Finalmente o corpo da sociedade industrialmente avançada: inteira-
mente “meu”. O corpo de quem sabe o que quer, de quem pode ir e
vir, de quem consegue gozar, de quem é dono do próprio nariz, de
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Referências Bibliográficas
ARIÈS, Ph. L’Enfant et la Vie Familiale sous l’Ancien Régime. Paris: Seuil, 1973.
______. Essais sur l’Histoire de la Mort en Occident: du Moyen Age à nos jours. Paris:
Seuil, 1975.
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Da inocência do método ao método da
inocência
Stelio Marras2
zer. Isto é, saber aprender antes de ensinar. Ou que essa figura nos
ensine a aprender continuamente. Ensejo, enfim, para lançar uma
pequena contribuição à difícil, mas cada vez mais urgente, tarefa de
desestabilizar as fronteiras que a modernidade ergueu e que foram
produtivas até bem pouco tempo. Refiro-me à “Grande Divisão”5
(LATOUR, 1991) de forças – naturais, de um lado, e sociais, de
outro – que deu origem à separação do conhecimento entre ciências
naturais e ciências sociais6. Refiro-me, em especial, ao modo como
Bruno Latour, antropólogo da ciência e dos modernos, propõe ca-
racterizar a modernidade.
Resumidamente, a modernidade que LATOUR (1991) nos
apresenta diz respeito a um arranjo paradoxal de duas práticas: essa
da separação oficial entre forças naturais e forças sociais, e outra,
oficiosa, que mistura os mais heterogêneos agentes em composições
experimentais de toda sorte de agências e forças, de modo a que
um fato seja aí produzido, mas desde que essa produção venha a se
purificar como revelação natural ou construção social. O paradoxal
é que essa produção participativa (isto é, produção a partir da troca
de propriedades e credibilidades entre coisas e pessoas), ela não pode
aparecer como tal: uma entidade surgida em laboratório não pode
aparecer como produção humana, e sim como descoberta ou revela-
ção que as ciências teriam o condão de trazer à luz. Elas trazem à luz,
mas é como se7 este seu feito de trazer os fatos à luz, quando então
bem sucedido, não pudesse ser concebido como fabricação. O tabu
modernista remete assim à prática de proibir a concepção de formas
5. Ou rompimento da Velha Aliança animista que PRIGOGINE e STENGERS
(1984) tematizam.
6. Momento decisivo desse acordo de cavalheiros, que teve na controvérsia do sécu-
lo XVII entre Robert Boyle e Thomas Hobbes um emblema, pode ser acompanha-
do no luminoso livro de SHAPIN & SCHAFFER (1985). Note-se que essa obra
foi fundamental para a argumentação de LATOUR (1991)
7. Cf LATOUR (1991) sobre a produtividade da “Constituição Moderna”, cujo
arranjo se serve decisivamente do expediente do “como se”, de modo a que o pa-
radoxo moderno (esse que afirma que o real é feito, mas é “como se” não o fosse,
assim garantindo a um só tempo a experimentação híbrida e sua purificação em
forças sociais ou naturais pré-estabelecidas) não se paralise em contradição (ou não
se paralisava quando tínhamos mais confiança em nossa modernidade).
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mistas como condição para que essas formas ganhem realidade ofi-
ciosa no curso das experimentações científicas – tais as que ocorrem
nos laboratórios de ciências naturais. Conforme entende LATOUR
(1991), esse arranjo moderno permitiu a proliferação científica de
híbridos em termos de formas puras (sociais ou naturais). Ainda
como modernos (que misturam o que quer seja sob a garantia de
que essas misturas se purificarão em forças da Natureza ou da Socie-
dade), nós pensamos ou concebemos esses híbridos aí produzidos
como intermediários de fatos ou artefatos.
A primeira vez que ouvi essa palavra, “artefato”, foi no interior
de um laboratório de genética durante o meu doutorado (MAR-
RAS: 2009). A pesquisadora lamentava que sua experiência tinha
sido “artefatada”, isto é, tinha malogrado em erro. De fato, esse jar-
gão de laboratório está previsto no dicionário (HOUAISS: 2002):
em sua semântica geral, artefato é “uma conclusão enganosa deri-
vada de ensaio científico ou de medição, e causada por problemas
na aparelhagem empregada ou por ineficácia do método eleito.” Na
rubrica da antropologia e da arqueologia, ainda conforme o dicio-
nário, artefato refere-se à “forma individual de cultura material ou
produto deliberado da mão-de-obra humana”. E na rubrica da cito-
logia, artefato aparece como “qualquer alteração na estrutura ou no
estado das células, causada por manipulações de laboratório; artifí-
cio”. Todas essas acepções guardam como semelhança a manipulação
humana. Em ciências naturais, aí onde o humano deve ser purificado
do não-humano, artefato é sinônimo de erro, de engano. Assim, se a
experiência alcança sucesso, candidata-se a fato; se não o alcança, tal
se deve a erros de manipulação técnica humana: é artefato. Ou seja,
quando o experimento tem sucesso, o humano desaparece; quando
não, aí então o humano aparece, mas negativamente, como aquele
que se enganou na manipulação, se desviou do caminho reto rumo
ao fato, à descoberta, à revelação da natureza exterior. É esse, portan-
to, o “raro sucesso que constitui a definição dos objetos científicos”,
escreve Isabelle Stengers, “a possibilidade de associar a eles aquilo de
que temos experiência” 8. Ou seja, a percepção da natureza não pode
8. A citação provém da resenha de ROQUE (2008: pp. 107-8) a propósito do
livro de STENGERS (2002) sobre o filósofo Alfred N. Whitehead: Penser avec
Whitehead: une libre et sauvage création de concepts. Filósofo dos processos e das
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Referências bibliográficas
LATOUR, Bruno: Nous n’avons jamais été modernes – essai d’anthropologie symé-
trique. Paris, La Découverte, 1991.
LATOUR, Bruno: Politiques de la nature: comment faire entrer les sciences en démo-
cratie. Paris, La Découverte, 1999.
ROQUE, Tatiana: Isabelle Stengers: Penser avec Whitehead - Une libre et sauvage
création de concepts. Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 1,
n. 1, pp. 106-111, jan | jun 2008
SAHLINS, Marshall: The Western Illusion of Human Nature. Chicago, Prickly Par-
adigm Press, 2008.
SHAPIN, Steven & SCHAFFER, Simon: Leviathan and the air-pump - Hobbes,
Boyle, and the Experimental Life. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1985.
STENGERS, Isabelle: A invenção das ciências modernas. São Paulo, Editora 34,
2002.
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STENGERS, Isabelle: «La proposition cosmpolitique» In: Lolive, Jacques & Sou-
beyran, Olivier (eds.). L’émergence des cosmopolitiques. Paris: La Découverte, 2007,
pp. 45-68.
Dicionário
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Neutralidade como uma aspiração para a
ciência contemporânea?21
Hugh Lacey22
Introdução
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Ou:
N2, que cada perspectiva de valores é servida por alguns itens do conhe-
cimento científico – globalmente de maneira equitativa?
que eles não fornecem apoio para quaisquer perspectivas de valores, em vez de ou-
tras, em virtude das suas implicações lógicas. Os resultados obtidas sob as SDs (§3.1),
por causa das restrições impostos das categorias utilizadas nas teorias confirmadas
sob estas estratégias, certamente são de acordo à neutralidade cognitiva. Este é a
noção ilusória da neutralidade da ciência, mencionada na Introdução acima; é uma
tese lógica (não um ideal), que tem nada a ver com a reivindicação fatual/empírica
da neutralidade que estou discutindo neste artigo. Para outras reflexões sobre a
neutralidade, ver Oliveira (2008).
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Conclusão
34. Estas são questões sobre o espaço das alternativas agrícolas. Acho que questões
sobre o espaço das alternativas devem preceder toda pesquisa que visa a inovação
tecnocientífica. Espero que os leitores identifiquem questões sobre o espaço das
alternativas nas ciências da saúde.
35. Respondo às vários aspectos desta questão em muitos dos meus escritos recen-
tes (ver Referências), e nas discussões do Forum Mundial de Ciência e Democracia.
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Como deve a pesquisa científica ser conduzida (e por quem), e as
tecnologias desenvolvidas e administradas, de modo a assegurar que
a natureza seja respeitada, que seus poderes regenerativos não sejam
mais solapados, e restaurados sempre que possível, e que o bem-estar
e os direitos de todos sejam fortalecidos em todo o mundo?
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Referências Bibliográficas
KITCHER, P. (2001) Science, Truth and Democracy. New York: Oxford Uni-
versity Press.
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da criação, ciências naturais e tecnologia em diálogo, p. 127–147. São Paulo:
Editora Paulinas.
LACEY, H. & MARICONDA, P. (2012) The Eagle and the Starlings: Gali-
leo’s argument for the autonomy of science – how pertinent is it today? Studies in
the History and Philosophy of Science 43, 122–131.
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A Crítica do Ressentimento:
Filosofia e Psicologia Social.
De Friedrich Nietzsche a Theodore Dalrymple
Theodore Dalrymple
Abertura
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A descoberta do ressentimento.
Mas o que está por detrás desse niilismo passivo e desse plato-
nismo pra pobre? Um sentimento meloso e rancoroso contra o fato
de que o ser é indiferente a nós. Queríamos ser os filhos amados da
poeira cósmica, mas somos apenas mais poeira cósmica num mar de
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So farewell hope...
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estética, uma vida do heroísmo grego antigo. Não basta matar Deus,
há que matarmos a esperança de que haja alguma vida que não seja
a agonia infinita, repetitiva, e às vezes criativa, do eterno retorno do
mesmo. Eros só renasce no sangue de Agon (conflito). A paz é para
os fracos.
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A era do ressentimento.
O iluminismo britânico
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A nova astrologia
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tudo é causado pela sociedade que deve a este individuo uma vida
melhor (como se uma vida melhor fosse função dos astros ou dos
outros). O sistema é culpado, não eu. Meu “eu real” é bom e ho-
nesto, mas a sociedade “me faz fazer o que eu faço”, o sistema faz.
“A faca apareceu em minha mão”, não eu que a peguei (relatos de
homens que esfaquearam suas mulheres (pacientes de Darlymple)
mas se diziam inocentes porque não sabem como isso aconteceu.
Neste discurso, um “eu fenomênico”, mau, nada tem a ver com o
“real me” (real eu), bom e inocente. O “eu fenomênico” é o causado
pelo sistema.
O determinismo sociológico do ato moral (o marxismo é um
dos melhores casos “científicos” desta forma de determinismo com
sua “astrologia da luta de classes”) elimina a escolha moral do sujei-
to, tornando-o vítima do sistema ou da sua classe na luta de classes.
O ressentimento contra o fato óbvio de que a vida sempre foi, é e
será “unfair” se associa a uma desculpa ideal para não ter que assu-
mir sua responsabilidade na “derrota”. A nova astrologia se revela
aí: uma metafísica podre do social justifica a derrocada do caráter
do sujeito. Ao eliminar a escolha, elimina-se a possibilidade do sen-
timento de culpa (no varejo essa eliminação se manifesta em erros
históricos segundo os quais a culpa seria uma invenção da igreja
católica), e sem culpa não há possibilidade de desenvolvimento e
caráter. Saber-se incapaz de responsabilidade moral aumenta o res-
sentimento porque é um traço característico de pessoas sem caráter.
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Sexo
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mais sofrem na medida em que são levados a negar aquilo que veem,
a saber, o fato de que, sim, existem valores que se contrapõem apesar
da dificuldade em justificá-los universalmente. A fraqueza moral é
erguida em justificativa da ausência de esforço moral.
Questão final
Referências Bibliográficas
-----------------. Life at the Bottom, the worldview of the underclass. Chicago: Ivan R.
Dee, 2001.
-----------------. Our Culture, What’s Left of it, the mandarins and the masses. Chica-
go: Ivan R. Dee, 2005.
HIMMELFARB, G. The Roads to Modernity, the British, French and American En-
lightments. New York: Alfred A. Knopf, 2004.
Nietzsche, F. Basic Writings Of Nieztsche. New York: The Modern Library, 2000.
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Sobre os autores
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