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Educação Básica
Autora: Profa. Maria Ephigênia de Andrade Cáceres Nogueira
Colaboradores: Profa. Silmara Maria Machado
Prof. Nonato Assis de Miranda
Profa. Renata Viana de Barros Thomé
Professora conteudista: Maria Ephigênia de Andrade Cáceres Nogueira
Nascida em Ipaussu-SP, formou-se em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
– USP, instituição onde cursou também mestrado e doutorado. Além disso, realizou um curso de especialização em
Gestão Educacional na Universidade de Campinas – Unicamp.
Começou sua carreira profissional como professora concursada de Educação Infantil da Secretaria Municipal de
Educação de São Paulo, função que exerceu de 1979 a 1990; atuou ainda, no mesmo período, em escolas particulares
na cidade de São Paulo. Em 1980 passou a ministrar aulas às turmas de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental da
Secretaria Estadual de Educação de São Paulo. Depois da reorganização da Secretaria de Educação de São Paulo, em
1995, assumiu o cargo de diretora de escola, onde permaneceu até sua aposentadoria.
Na direção da escola, desenvolveu trabalhos, em 1996 e 1997, com o Cenpec, na formação de professores das
classes de aceleração, para a correção idade/série dos alunos do Ensino Fundamental da rede estadual de São Paulo.
Em 2007, iniciou seu trabalho na Universidade Paulista como professora do curso de Pedagogia. Em seguida,
assumiu a liderança da disciplina Estrutura e Funcionamento da Educação Básica e Políticas Públicas de Educação. No
ano de 2012, foi convidada a participar do Grupo de Pesquisas de Políticas Públicas e Gestão de Práticas Educativas e
a atuar nos cursos de pós-graduação de Formação em Educação a Distância e Formação de Professores da UNIP, como
professora e conteudista, atividades que desenvolve até a presente data.
CDU 37.014.5
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permissão escrita da Universidade Paulista.
CENTRO UNIVERSITÁRIO PLANALTO DO DISTRITO FEDERAL – UNIPLAN
Reitoria
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7
Unidade I
1 POLÍTICA EDUCACIONAL NO BRASIL E TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: TRAJETÓRIA
HISTÓRICA E REDEFINIÇÕES DO PAPEL DO ESTADO.............................................................................. 13
1.1 Concepções de Estado e sociedade; políticas públicas; as políticas sociais
e a política educacional............................................................................................................................. 13
1.1.1 Estado e seu conceito............................................................................................................................ 13
1.1.2 Estado e seu papel ................................................................................................................................. 15
1.1.3 Governo e seu conceito........................................................................................................................ 15
1.1.4 Governo e seu papel............................................................................................................................... 15
1.1.5 Conceito de nação................................................................................................................................... 16
1.1.6 Conceito de público................................................................................................................................ 16
1.2 Crise do Estado de Bem-Estar Social e redefinições do papel do Estado;
políticas internacionais, educação e reajustes do mundo capitalista..................................... 22
1.2.1 Visão liberal................................................................................................................................................ 22
1.2.2 Visão social-democrata ........................................................................................................................ 22
1.2.3 Visão neoliberal........................................................................................................................................ 23
1.3 Planos e políticas públicas de educação .................................................................................... 24
1.3.1 Políticas públicas neoliberais.............................................................................................................. 24
1.3.2 Políticas públicas pós-neoliberalismo............................................................................................. 26
1.4 A reestruturação produtiva, a delimitação do campo educacional, a função
social da escola e a lógica do mercado............................................................................................... 28
2 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ............................................................................................................... 31
2.1 Conceito ................................................................................................................................................... 31
2.2 Abrangência............................................................................................................................................. 31
2.2.1 Planejamento educacional/estratégico ......................................................................................... 31
2.2.2 Planejamento curricular ...................................................................................................................... 32
2.2.3 Planejamento escolar ........................................................................................................................... 32
2.2.4 Planejamento de ensino ...................................................................................................................... 32
2.2.5 Planejamento coletivo .......................................................................................................................... 33
2.2.6 Planejamento participativo ................................................................................................................ 33
2.2.7 Planejamento das aulas ....................................................................................................................... 33
2.3 Concepções de planejamento.......................................................................................................... 34
2.4 A relação entre políticas públicas, planejamento e gestão ................................................. 35
3 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL: PRINCÍPIOS E FINS DA EDUCAÇÃO................................................ 36
3.1 Atitudes perante a legislação........................................................................................................... 36
3.2 Hierarquia das leis ............................................................................................................................... 37
3.3 Educação: direito e dever. Educação para os direitos humanos........................................ 39
3.3.1 Constituição Federal de 1988............................................................................................................. 39
4 PRINCÍPIOS E OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR ......................................................................... 40
4.1 O que propõe a Lei nº 9.394/96?..................................................................................................... 40
Unidade II
5 SISTEMA DE ENSINO E ORGANIZAÇÃO CURRICULAR....................................................................... 55
5.1 Conceituação de sistema de ensino.............................................................................................. 55
5.1.1 O sistema escolar .................................................................................................................................... 55
5.2 Organização do sistema de ensino brasileiro nos âmbitos federal, estadual e
municipal: composição, incumbências e organogramas (LDB, artigo 8º a 20)................... 56
5.2.1 Estrutura .................................................................................................................................................... 56
5.2.2 Sistema ....................................................................................................................................................... 57
5.2.3 Funcionamento ....................................................................................................................................... 57
5.2.4 Níveis de administração dos sistemas de ensino........................................................................ 58
5.3 Organização curricular: regras comuns (LDB, artigos 21 a 28) ......................................... 67
5.3.1 Ensino Fundamental de nove anos................................................................................................... 73
5.3.2 Escola de gestores da educação básica.......................................................................................... 74
5.3.3 Fundeb.......................................................................................................................................................... 74
5.3.4 Merenda escolar....................................................................................................................................... 74
5.3.5 Plano de Ações Articuladas ................................................................................................................ 74
5.3.6 Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) ............................................................................... 74
5.3.7 Plano Nacional de Educação (PNE).................................................................................................. 74
5.3.8 Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).............................................................................. 74
5.3.9 Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de Educação (Pradime)............................ 75
5.3.10 Programa Nacional de Capacitação de Conselheiros Municipais de
Educação (Pró-Conselho)................................................................................................................................ 75
5.3.11 Programa de Fortalecimento Institucional das Secretarias Municipais
de Educação do Semiárido (Proforti).......................................................................................................... 75
5.3.12 Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE)...................................................................... 75
5.3.13 Programa Nacional de Reestruturação e Aparelhagem da Rede Escolar
Pública de Educação Infantil (ProInfância) ............................................................................................. 75
5.3.14 ProInfantil................................................................................................................................................ 75
5.3.15 Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE)............................................................................ 75
5.3.16 Prova Brasil.............................................................................................................................................. 76
5.3.17 Rede Nacional de Formação Continuada de Professores..................................................... 76
5.3.18 Transporte Escolar ............................................................................................................................... 76
5.3.19 Caminho da Escola............................................................................................................................... 76
5.3.20 Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (PNATE)............................................. 76
6 NÍVEIS E MODALIDADES DE ENSINO........................................................................................................ 81
6.1 Primeira etapa da educação básica: Educação Infantil......................................................... 81
6.2 Segunda etapa da educação básica: Ensino Fundamental.................................................. 83
6.3 Etapa final da educação básica: Ensino Médio......................................................................... 85
6.4 Modalidades de ensino ...................................................................................................................... 89
6.4.1 Educação de Jovens e Adultos........................................................................................................... 89
6.4.2 Educação Profissional............................................................................................................................ 90
6.4.3 Educação Especial.................................................................................................................................... 92
6.5 Profissionais da educação ................................................................................................................ 94
6.5.1 Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia............................................... 99
7 POLÍTICA PÚBLICA E FINANCIAMENTO DO ENSINO: FONTES DE RECURSOS E
VINCULAÇÃO DOS RECURSOS FINANCEIROS À EDUCAÇÃO............................................................100
7.1 O financiamento da educação escolar nas constituições brasileiras.............................102
7.2 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e financiamento da educação.......104
7.3 As políticas públicas no contexto da atualidade....................................................................111
7.3.1 Plano Nacional de Educação (PNE) – Lei nº 10.172/01.......................................................... 112
7.3.2 Novo Plano Nacional de Educação.................................................................................................113
7.3.3 Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE)................................................................................119
8 MECANISMOS DE IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS................................................120
8.1 Fundef......................................................................................................................................................121
8.2 Fundeb.....................................................................................................................................................121
APRESENTAÇÃO
O financiamento do ensino, com a autonomia das escolas, as fontes e os recursos e a vinculação dos
recursos financeiros à educação são os temas relacionados a verbas públicas. As avaliações Saeb, Enade
e Enem foram introduzidas no Sistema Nacional de Educação, e a descentralização (Fundef, Fundeb) e
o ajuste do currículo da educação básica (DCNs e PCNs, RCNEI) são os mecanismos apresentados para o
desenvolvimento da educação escolar.
São objetivos específicos da disciplina: relacionar as principais questões políticas com o contexto
atual, possibilitando o exercício da ação consciente e responsável; refletir sobre a importância dos
valores na práxis social; e estabelecer relações entre a política pública, o planejamento educacional, a
democracia e o exercício da cidadania. Além disso, procuramos também propiciar o exercício da reflexão
sobre Estado, governo e nação, bem como os instrumentos para a compreensão das políticas públicas
em educação, ou seja, um pensar consequente, de forma que o aluno possa organizar seus pensamentos
e expressá-los com clareza, tendo por base argumentos válidos. Temos ainda a intenção de possibilitar o
exercício da reflexão crítica, por meio da análise e da discussão de textos acadêmicos; o entendimento
dos fins e princípios da LDB; a compreensão de deveres, direitos e objetivos; e o conhecimento sobre a
organização da educação escolar, os níveis e as modalidades de ensino e o papel dos profissionais da
educação.
Por fim, você será convidado a elaborar diferentes compreensões acerca das políticas públicas
educacionais no Brasil, partindo da compreensão histórica da educação no país, da legislação educacional
e das questões da contemporaneidade.
INTRODUÇÃO
O tema de nosso livro-texto é de fundamental importância para você, futuro profissional da educação,
pois além de estudar a estrutura e o funcionamento da educação básica, pano de fundo de toda a sua
atuação profissional no futuro, o assunto será abordado a partir das políticas públicas educacionais
atuais brasileiras. Há assuntos correlatos que permeiam o tema, e será necessário recorrermos a estes
com o intuito de esclarecer essa questão de tamanha importância para a sua formação e atuação
profissional.
De modo geral, a disciplina Política e Organização da Educação Básica visa propiciar as condições
para que você compreenda o embasamento legal para sua atuação profissional e as políticas a
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este associadas, reconhecendo o sistema escolar como um elemento de reflexão sobre a realidade
educacional brasileira e sentindo-se estimulado a acompanhar as atualizações constantes que vêm
sendo realizadas por intermédio dos membros do Conselho Nacional de Educação, do Ministério da
Educação, nos estados e municípios, das secretarias de educação estaduais e municipais e dos conselhos
estaduais e municipais de educação. Em decorrência disso, o planejamento educacional está atrelado
às decisões das políticas públicas da educação e revelam como as prioridades nacionais, expressas no
Plano Nacional de Educação e nos planos estaduais e municipais de educação, estão sendo e serão
desenvolvidas. O planejamento educacional e as políticas públicas de educação compõem o cenário,
pano de fundo do contexto escolar.
É preciso que tenhamos a consciência de que, atualmente, a escola é o local de atendimento ao aluno,
do desenvolvimento da qualidade de ensino por meio do processo educativo, de modo que garanta a
aprendizagem escolar, com sucesso e permanência dos educandos até o fim da educação básica.
Mas o que entendemos por contexto escolar? Para entender o conceito, prestemos atenção ao modo
como o definem Formosinho, Kishimoto e Pinazza (2007):
É que uma escola articula atores que mantêm relações com outros atores,
desenvolvendo atividade intencional, criando memória da presença no
contexto. Um contexto físico, por si só, não faz escola; para que um
edifício escolar seja uma escola, são necessárias diversas condições.
Uma escola é um contexto social constituído por atores que partilham
metas e memórias, por indivíduos em interdependência com o contexto
que constroem intencionalidade educativa (FORMOSINHO; KISHIMOTO;
PINAZZA, 2007, p. 23).
É no contexto escolar que a educação formal é desenvolvida e tem a finalidade de trabalhar com
conteúdos sistematizados, social e historicamente desenvolvidos, por professores com intencionalidade,
em espaços com ambientação própria, com regras, em escolas que são regulamentadas por leis, que
emitem certificados e são organizadas de acordo com diretrizes nacionais. Os objetivos mais amplos
estão voltados para a formação plena do cidadão, participativo e ativo, com o desenvolvimento de
habilidades e competências para a vida social e para o trabalho.
O contexto escolar significa também a comunidade em que a escola está localizada, sua
história, o contexto geográfico, histórico, econômico, social e cultural, assim como a história das
pessoas que nela estão trabalhando, de seus alunos e de suas famílias. Um dos itens importantes
das políticas públicas de educação é o reconhecimento da diversidade como princípio agregador
e incentivador das ações e relações humanas. A diversidade requer o olhar direcionado ao local
específico, sua gente, sua identidade, valores, costumes e hábitos. É nesse sentido que a identidade
da escola representa o elemento identificador da qualidade de ensino necessária para suas crianças
e seus jovens.
Para isso, a educação formal está sistematizada de acordo com o currículo nacional mínimo e com
uma parte diversificada que permite o desenvolvimento das identidades locais e acontece num tempo
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definido por níveis e modalidades de ensino que têm como objetivo garantir a aprendizagem efetiva
dos alunos.
Nesse sentido, o estudo da organização e do funcionamento da educação básica, bem como das
políticas públicas de educação, tem como meta compreender que as políticas públicas educacionais
devem garantir a efetiva aprendizagem das crianças e dos adolescentes brasileiros, por meio do
desenvolvimento de programas, planos e ações que atendam às necessidades educacionais prioritárias
brasileiras. Em sentido mais amplo, as políticas públicas educacionais revelam-se como a concretude da
ação política do Estado para garantir a todos o mínimo nacional da educação escolar e do ensino. Nas
unidades escolares públicas, o Projeto Político-Pedagógico, parte integrante do Plano de Gestão, é que
vai orientar o desenvolvimento do processo educativo de acordo com as políticas públicas nacionais e
locais, sob a responsabilidade do diretor/gestor escolar.
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POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Unidade I
1 POLÍTICA EDUCACIONAL NO BRASIL E TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS:
TRAJETÓRIA HISTÓRICA E REDEFINIÇÕES DO PAPEL DO ESTADO
Para entender o conceito de políticas públicas, vamos tratar de alguns de seus elementos, com
o objetivo de delimitar sua abrangência e seu conteúdo temático, partindo dos conceitos de Estado
e governo. O conceito de nação vai ser apresentado com o objetivo de esclarecer seu significado,
diferenciando-o dos de Estado e governo.
Para Vieira e Albuquerque (2001), muitas são as formas de entender o significado do conceito de
Estado. Conforme Houaiss (2009, p. 341), Estado é entendido pela noção clássica de “povo social e
política e juridicamente organizado, que, dispondo de uma estrutura administrativa, de um governo
próprio, tem soberania sobre determinado território”.
13
Unidade I
Segundo Bobbio (2007), os elementos do Estado são de ordem material e formal. Do ponto de vista
material, temos a população e o território; do ponto de vista formal, o governo. Já de acordo com
Kelsen (2000), do ponto de vista material, podemos entender por população o conjunto de todos os
habitantes do território do Estado. Por povo, o conjunto dos cidadãos que mantêm vínculos políticos e
jurídicos com o Estado. Território é entendido como o espaço para o qual apenas uma ordem jurídica
está autorizada a prescrever atos coercitivos e onde podem ser executados.
Do ponto de vista formal, governo refere-se ao exercício do poder do Estado ou à condução política
geral. Diz respeito ao povo e pode ser entendido como o órgão ao qual a Constituição atribui o poder
executivo sobre uma sociedade e que geralmente é formado por um presidente ou um primeiro-ministro
e alguns ministros, secretários e outros funcionários.
O termo é escrito em letra maiúscula e representa um governo próprio que, em seu território,
tem soberania. As teorias que tratam do Estado estudam as suas funções tradicionais, que estão
englobadas em três grandes domínios de poder: Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder
Judiciário. Podemos afirmar que as funções desempenhadas pelo Estado são as políticas, as sociais
e as econômicas.
Para Acquaviva (2000) e Maluf (1980), a Teoria Geral do Estado faz parte do Direito Constitucional
e compreende um conjunto de ciências que são necessárias para a compreensão do fenômeno estatal,
assim, desdobra-se em Teoria Social do Estado, Teoria Política do Estado e Teoria Jurídica do Estado.
Portanto, o conceito de Estado é inconfundível e apresenta vários sentidos. Conforme Acquaviva (2000,
p. 4), origina-se do latim status, que, em letra minúscula, significa “a condição pessoal do indivíduo
perante seus direitos políticos e civis”, e, em letra maiúscula,
Para encontrar um denominador comum às várias definições e suas influências históricas, sociais e
econômicas, Jellinek (apud ACQUAVIVA, 2000, p. 7) define-o como “corporação de um povo, assentada
num determinado território e dotada de um poder originário de mando”.
14
POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Assim, Estado pode ser entendido como a unidade administrativa de um território e constitui-se
pelas instituições públicas que o representam, organizam e que devem atender aos desejos e anseios de
seus cidadãos, de suas instituições públicas e privadas. A educação escolar é uma das instituições que
representam o Estado.
Encontramos duas grandes correntes de pensamento que discutem o papel do Estado para com a
sociedade: uma de fundamentação liberal e outra de suporte marxista. Cada uma explicita os tipos de
relação entre os cidadãos de um país, por exemplo, direitos individuais e sociais.
Para organizar o funcionamento estatal, encontramos três poderes que fazem parte de sua estrutura formal
para garantir que o Estado cumpra suas funções: Poder Executivo, que administra os órgãos governamentais
e desenvolve as atividades relacionadas às políticas públicas; Poder Legislativo, que tem a responsabilidade
de estabelecer as leis regulamentares e ordinárias que regem as atividades e relações entre os cidadãos e as
instituições; e o Poder Judiciário, que tem a função de distribuir justiça, fazendo respeitar a constituição e
aplicar as leis, segundo os códigos vigentes. Seu objetivo principal é garantir a efetividade dos direitos e das
obrigações de todos os cidadãos, bem como de instituições públicas e privadas.
Sintetizando, podemos afirmar que os fins do Estado são: garantir a segurança de seus cidadãos e de
suas instituições públicas e privadas, assim como assegurar a justiça e o bem-estar econômico e social.
No dicionário Novo Aurélio (FERREIRA, 1999, p. 1.000), governo refere-se a “ato ou efeito de governar;
administração, gestão, direção; e ainda, administração superior, ministério, Poder Executivo e também
sistema político pelo qual se rege um país”.
Resumindo, o governo tem o papel de administrar o Estado, com a função executiva, e, nesse sentido,
caracteriza-se como uma das instituições que compõem o Estado: o Poder Executivo. Essa administração
é transitória e pode ser representada pelos diversos partidos políticos existentes.
Estamos nos referindo ao Poder Executivo de um país, estado ou município que durante um período de
tempo administra, chefia. Por isso, quando falamos de governo, identificamos a pessoa que o representa,
o governante de uma esfera de Poder Executivo (federal, estadual ou municipal) e expressamos nossa
opinião sobre seu desempenho, por exemplo, dizendo que foi alguém que governou bem no seu tempo,
que provocou mudanças favoráveis para o povo, e julgando sempre de acordo com o tipo de sociedade
que o Estado decidiu ser. Atualmente estamos numa sociedade democrática.
Nesse sentido, não podemos entender como idênticos o papel do Estado e o do governo. O governo
tem a responsabilidade de desenvolver, por meio de planos, programas e projetos, ações com o objetivo de
atender à sociedade brasileira em todas as suas necessidades, que são apontadas por meio de avaliações
nos diferentes setores da vida pública e revelam as intervenções necessárias, das mais urgentes àquelas
que são apenas reflexos de ideais nos diferentes setores da vida da nação brasileira.
Podemos tratar dos planos do governo que já foram desenvolvidos e avaliá-los, a fim de concluir
se foram planejados com eficiência, respeitando os interesses dos cidadãos brasileiros. Nessa avaliação,
analisamos se o governante atuou com lisura, transparência e responsabilidade na administração e
no uso dos recursos públicos para a implantação e a implementação dos programas, planos e projetos
desenvolvidos para o atendimento à sociedade brasileira. Estes estão previstos no que podemos chamar
de políticas públicas nacionais, estaduais ou municipais. Em se tratando da área educacional, chamamos
de políticas públicas educacionais. Podemos identificar, nas políticas públicas, as áreas em que estas
se subdividem e atuam: a área educacional faz parte da área social. Quando nos referimos às políticas
públicas sociais, estamos nos referindo às áreas que estão sob essa denominação, apontada pela
atual Constituição Federal de 1988. Assim, ao tratarmos das políticas públicas educacionais, estamos
abordando as políticas públicas sociais.
Na área educacional, é o Plano Nacional de Educação o documento que expressa a realidade brasileira
na área da educação escolar.
Por nação entendemos um povo, agrupamento ou organização de uma sociedade cujos membros
compartilham uma tradição histórica e que, por isso, apresentam uma identidade, uma cultura própria
que os distingue de outros e que também os une.
Usamos cotidianamente as palavras Estado, governo e nação como se fossem sinônimas, porém elas
representam aspectos bem diferentes da realidade social, política e econômica brasileira.
Chegamos aos conceitos de política e público para entendermos a atuação das políticas públicas
educacionais brasileiras. Mas o que significa o termo políticas públicas?
No Dicionário Michaelis (2009), entre outras, encontramos as seguintes definições da palavra política:
“Arte ou ciência de governar. [...] Arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou
estados. [...] Aplicação desta arte nos negócios internos (política interna) da nação ou nos negócios
externos (política externa)”.
Quando pensamos no termo política, estamos nos referindo àquilo que é próprio do homem, auxilia-o
a resolver problemas, conflitos e a organizar sua vida social. Para Padilha (2001), há várias definições
para política, mas o sentido que está mais presente é o das ações e relações humanas. Identificamos,
para nossos estudos nesta disciplina, as políticas sociais, dentre as quais estão as políticas educacionais.
16
POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
No caso da educação escolar, em sentido específico, o termo política “pode representar a administração
do Estado pelas autoridades e [pelos] especialistas governamentais, ações da coletividade em relação a
tal governo [...]” (PADILHA, 2001, p. 20) e em relação à educação escolar.
Estamos tratando do ser humano como ser político, que realiza escolhas, participa da vida familiar,
produtiva e social, colabora com a comunidade e é por ela envolvido. Ao fazer parte de uma comunidade,
torna-se um ser político coletivo, pois assume, perante o seu grupo, responsabilidades, compromissos
relativos à continuidade da vida social, realiza as tarefas que lhes são próprias, aceita as normas e
costumes comuns, assim como compartilha dos valores morais e éticos do grupo.
Saiba mais
<www.unip.br>.
<http://dicionario.cijun.sp.gov.br/houaiss/>.
<www.primeiroconceito.com.br>.
<www.michaelis.uol.com.br>.
17
Unidade I
O desafio do curso será entender o processo das políticas públicas educacionais, observando sua
formulação (que envolve a definição de prioridades, responsabilidades, uso e destinação das verbas
públicas), a implantação e a implementação de ações, planos, programas e projetos, bem como o
acompanhamento e a avaliação dos resultados.
A luta dos movimentos sociais pela educação nunca teve muita visibilidade, pois, no decorrer
da história, foi assumida pelos sindicatos de professores, de profissionais da educação ou por
organizações não governamentais (ONGs). A partir da década de 1990, segundo Gohn (2006), as
lutas se dirigiram para falta de vagas nas escolas públicas, filas para matrículas, deslocamento
de filhos de uma mesma família para escolas diferentes, atrasos nos repasses de verbas, entre
outras causas.
A discussão sobre os movimentos sociais pela educação escolar já aponta, desde as décadas de 1970
e 1980, indícios de que ainda não foi superada a fase de reivindicações mais básicas, como discute
Azanha (1975, p. 17), quando afirma que “a capacidade reivindicatória das comunidades, em matéria da
educação, não vai além da luta pela abertura de escolas” e acrescenta que “as classes de mais baixa renda
não conseguem ainda discernir o bom do mau ensino e por isso, em face das sucessivas reprovações de
seus filhos, apenas se limitam a retirá-los da escola”.
Observação
18
POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Da mesma forma, de acordo com o sentido etimológico, a palavra público (FERREIRA, 1999, p. 1.664)
“é um adjetivo que diz respeito ao que é relativo ou pertencente ou destinado ao povo, à coletividade e
também relativo ou pertencente ao governo de um país”.
Para entendermos o que políticas públicas significam, usando as definições apontadas, podemos
dizer que são diretrizes, princípios norteadores de ação do Poder Público, regras e procedimentos que
estabelecem as relações entre este e a sociedade, as mediações entre a população e o Estado, ou seja,
cidadãos que representam a sociedade e o Estado.
Nesse sentido, as políticas públicas são explicitadas em documentos como leis e programas que
definem quais as prioridades e as linhas de financiamento que determinam as aplicações de recursos
públicos em educação.
Podemos afirmar que as políticas públicas em educação traduzem e sistematizam, em seu processo
de elaboração, a definição das necessidades educacionais brasileiras e a forma de intervenção a ser
adotada; a implantação e a implementação de ações, projetos e programas e qual a população a ser
atendida; e os resultados esperados em curto, médio e longo prazo.
Nesse processo estão envolvidas as formas de exercício do poder político – uma vez que se trata de
distribuição e redistribuição do poder – o papel do conflito social nos processos de decisão e a repartição
de custos e benefícios sociais.
É importante esclarecer que as políticas públicas tratam de recursos públicos que serão destinados
diretamente aos projetos, programas e ações junto à área educacional, ou por meio de isenções ou
relações que são de interesse público.
A crescente participação da sociedade civil nas diferentes esferas da vida social faz com que se
entrecruzem interesses e visões de mundo, e torna difícil a delimitação clara entre o público e o privado.
Daí surge a importância do debate público, articulado por grupos sociais, em espaços públicos, promovido
com transparência e visibilidade.
Ao tratarmos de poder, queremos esclarecer que o conceito deve ser entendido como a relação
social entre os vários personagens que se interessam direta ou indiretamente pela área educacional, que
atuam nela ou são seus beneficiários, com projetos ou interesses diferenciados. O interesse por essa área,
em nosso caso, necessita de mediações sociais e institucionais para que as políticas públicas possam ser
legitimadas e, assim, tornarem-se eficazes.
19
Unidade I
Segundo Teixeira (2002), a natureza de regime político em que o país vive, o grau de organização
da sociedade civil e a cultura vigente determinam a elaboração de políticas públicas. Dessa maneira, as
políticas públicas são definidas e sistematizadas, podendo-se, por isso, determinar quem é responsável
por decidir o que, quando, com que consequências e para quem.
Os objetivos das políticas públicas sociais estão voltados, principalmente, aos setores marginalizados
da sociedade, que são considerados vulneráveis. Nesse sentido, as políticas visam a efetivar os direitos
da cidadania. As demandas da sociedade civil (por mobilização, luta ou pressão social) são apresentadas
por meio de movimentos sociais. Reconhecidas institucionalmente, geram políticas de atendimento que
promovem o desenvolvimento, seja para a geração de emprego ou renda, seja para outras políticas de
cunho mais estratégico.
Assim, as políticas públicas trazem em seu bojo valores e visões de mundo e os exprimem em suas
ações. Dessa forma, expressam as visões de mundo dos que controlam o poder. Contudo, para que esse
poder seja representativo dos interesses de todos os segmentos sociais, depende-se da capacidade de
organização e negociação dos segmentos sociais dominados.
Para atingir os objetivos de determinada política pública, é preciso considerar a natureza ou o grau
de intervenção, a abrangência dos benefícios e os impactos aos beneficiários ou às relações sociais.
Podemos analisar se a natureza ou o grau de intervenção é estrutural ou conjuntural. É estrutural
quando se trata de intervir em relações socioestruturais, como renda, e é conjuntural ou emergencial
quando procura atender a uma situação imediata.
A abrangência pode ser universal, quando se estende a todos os cidadãos; segmentada, quando
atende a um fator determinante, como idade, gênero; e fragmentada, quando atende a um determinado
grupo social, de um segmento específico.
Quanto aos impactos que podem causar nas relações sociais ou em seus beneficiários, as políticas
públicas podem ser: distributivas, quando distribuem benefícios individuais; redistributivas, ao buscar
equidade redistribuindo os benefícios entre os grupos sociais; e regulatórias, ao definir regras e
procedimentos para atender aos interesses gerais da sociedade.
20
POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Observação
Exemplo de aplicação
Pesquise em seu município ou em seu estado quais são as metas dos planos de educação, sua
abrangência e as prioridades educacionais apontadas, os programas, planos e ações em desenvolvimento,
as parcerias com o sistema federal ou estadual e as formas de publicidade dos dados e das verbas
públicas utilizadas.
É importante atentar para programas criados pelo Ministério da Educação junto às unidades da
federação e seus sistemas de ensino – federal, estaduais, municipais e do Distrito Federal –, como o
PDE (Plano de Desenvolvimento da Escola). Esse plano foi concebido em conformidade com a atual
legislação educacional, que destaca a importância da escola como agente principal de desenvolvimento
da educação escolar brasileira e também local em que a relação professor-aluno se realiza – e é
na qualidade dessa relação que residem, em grande medida, a aprendizagem do aluno e o bom
desenvolvimento do ensino. O PDE é planejado pelo MEC de acordo com as prioridades educacionais
brasileiras, e o financiamento das ações nele previstas está presente no planejamento setorial do MEC.
As unidades escolares públicas podem se tornar parceiras dessas ações, de acordo com seu Projeto
Político-Pedagógico e suas necessidades locais. Para isso, a participação da comunidade nas decisões
sobre o desenvolvimento educacional da instituição é importante para definir tanto as prioridades
locais quanto os objetivos da escola, tendo como meta a aprendizagem escolar com qualidade. É
também importante discutir a importância da autonomia da escola para decidir sobre quais projetos e
ações devem ser desenvolvidos para atingir esse objetivo. Em contrapartida, a legislação educacional
implantou a cultura das avaliações institucionais na educação escolar brasileira, que ocorrem sob a
responsabilidade das diferentes esferas administrativas e de seus sistemas de ensino. Por meio das
avaliações do MEC – como Saeb, Prova Brasil, Provinha Brasil, Enem –, das avaliações dos sistemas
estaduais e dos municipais e da instituição do Ideb (Índice de Desenvolvimento da educação básica),
podemos aferir como está o funcionamento da educação escolar nacional e seus pontos de avanços
e de fragilidades. O Brasil participa também da avaliação internacional do Pisa, que aponta como o
país está no desenvolvimento educacional da população comparado aos outros países participantes
da prova. Como podemos observar, o sistema nacional de educação escolar está implantando e
implementando ações com o objetivo de garantir a real qualidade de ensino ministrado pelas escolas
brasileiras, para garantir um dos direitos da cidadania ao cidadão brasileiro.
21
Unidade I
A visão da política liberal tem no liberalismo seus fundamentos, que se traduzem no “conjunto
de ideias e doutrinas que visam a assegurar a liberdade individual no campo da política, da moral, da
religião dentro da sociedade” (FERREIRA, 1999, p. 1.209). O liberalismo político resultante da filosofia
liberal defende a liberdade política do indivíduo em relação ao Estado e à existência de oportunidades
iguais para todos. A ideia do Estado liberal está centrada na noção de Poder Público com autoridade
política dentro de limites precisos, separado de governante e governado. Há três tradições na ciência
política. A primeira analisa a política liberal como a que discute as questões da cultura política da nação
e a constituição do cidadão. A segunda discute problemas de representação política e responsabilização,
propondo que as ações dos indivíduos, das instituições e do Estado podem estar sujeitas a controles
provenientes dos acordos centrais do pacto democrático. A terceira enfatiza o poder do Estado nos
aspectos que se referem à obtenção do consenso e à implementação de medidas representativas de
interesses, defendidos, inclusive, se necessário, com atos de coerção e relações sociais de dominação.
Nesse sentido, a visão liberal defende uma concepção de política pública voltada para interesses
individuais e que desconsidere as desigualdades sociais. A vida social e econômica é resultante das
capacidades individuais e do esforço individual de superação para uma melhor qualidade de vida.
Essa concepção opõe-se à universalidade dos benefícios de uma política social. Para ela, a política
social não tem papel relevante, pois as desigualdades sociais são resultantes de esforços individuais.
Como exemplo dessa visão, Azanha (1975, p. 17) afirma: “Geralmente, a escola não é responsabilizada
pela reprovação, pois o malogro escolar é recebido como resultado de deficiências pessoais das crianças”.
Dessa maneira, a visão liberal está presente no cotidiano da vida escolar, inclusive de crianças e
jovens, sem ter presente a importância do atendimento escolar como fator de sucesso no ensino.
A visão social-democrata concebe uma política de atuação com benefícios sociais que visem à
proteção dos mais fracos, como uma maneira de dar igualdade de condições a todos, em decorrência
das diferenças econômicas promovidas pela sociedade capitalista. O Estado de Bem-Estar Social é o
sistema que representa a visão social-democrata, na qual as políticas públicas têm um papel regulador
das relações econômico-sociais. Nesse sentido, representa um acordo social entre o trabalho e o capital
em que os cidadãos podem aspirar a níveis mínimos de bem-estar social, incluindo educação, saúde,
seguridade social, salário e moradia.
22
POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Esse sistema cresce e leva a uma relativa distribuição de renda e ao reconhecimento de uma série de
direitos sociais. Fundos públicos são constituídos e utilizados em investimentos em áreas estratégicas
para o desenvolvimento e em programas sociais, o que acarreta um controle político e burocrático da
vida dos cidadãos consumidores de bens públicos.
A partir da década de 1970, esse modelo entrou em crise, devido aos novos padrões introduzidos
pelas tecnologias nos processos de acumulação e nas relações de trabalho. Essa situação levou à falência
do Estado protetor e ao agravamento da crise social, em virtude do esgotamento das possibilidades
de atendimento às necessidades crescentes da população, gerando o burocratismo e a ineficiência do
aparelho governamental.
A crítica a essa situação foi de que a política de intervencionismo causou a estagnação econômica
e o parasitismo social. Foi proposto, então, um ajuste estrutural, que levasse a um equilíbrio financeiro,
à redução dos gastos sociais e a uma política social seletiva e emergencial.
O sistema que historicamente veio responder a essas necessidades sociais e econômicas foi
o neoliberalismo, que defendia a ação mínima do Estado. O equilíbrio social é resultante do livre
funcionamento do mercado. As noções de mercados abertos e tratados de livre-comércio, redução do
setor público e diminuição da intervenção estatal na economia e na regulação do mercado resultaram
em programas e políticas de ajuste estrutural. Nesse sistema modificam-se as formulações das políticas
públicas, pois com a ação mínima do Estado é preciso que as regulamentações sejam mínimas e as
políticas distributivas compensem desequilíbrios graves e passem, então, a ter um caráter seletivo de
atendimento a todos – ou seja, um atendimento não universal.
O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional aparecem como instituições com grande
poder de influência, por meio de um conjunto de programas e políticas com vistas ao ajuste estrutural
necessário ao novo modelo econômico e social do Estado. O modelo de ajuste e estabilização proposto é
baseado numa série de recomendações de políticas públicas que tem como premissa a redução drástica
do gasto governamental, por meio da privatização das empresas paraestatais, da liberalização dos
salários e preços e da reorientação das produções industrial e agrícola para exportação.
23
Unidade I
Educadores brasileiros como Paulo Freire e Moacir Gadotti criticam o pensamento e a prática
neoliberal, pois consideram o neoliberalismo contrário à ética integral do ser humano, à utopia e à
educação como ato democrático. O neoliberalismo naturaliza a desigualdade e sustenta a ética do
mercado. O homem é considerado como força de trabalho. Para o neoliberalismo, a globalização é
considerada uma realidade definitiva, e não uma categoria histórica.
• Plataformas políticas: expressam as concepções do papel do Estado e da sociedade civil por meio de
programas e ações voltados às demandas e carências. As políticas públicas representam o sentido
do desenvolvimento histórico-social dos atores sociais na disputa para construir a hegemonia.
• Dimensão estratégica: é representada pelas políticas públicas que são diretamente ligadas ao
modelo econômico e à constituição de fundos públicos e estabelecem referência e base para a
definição de outras políticas ou programas em determinadas áreas. As inovações tecnológicas e a
reestruturação produtiva, acompanhadas de seus efeitos sobre o emprego e o agravamento das
desigualdades sociais, devem ser consideradas nas opções estratégicas.
Quando nos referimos à sociedade civil devemos reconhecer a diversidade de interesses e visões
presentes. Chegar a um consenso exige a realização de uma tarefa complexa, pois é necessário o debate,
o confronto e a negociação. Esse consenso depende do grau de organização da sociedade civil e de suas
organizações, que atualmente estão fragmentadas, embora com algumas iniciativas de articulação de
alguns setores.
Teixeira (2002) aponta os passos a serem seguidos para uma participação efetiva e eficaz da sociedade
civil:
Atualmente, os conceitos que fazem parte do conteúdo e do processo da estruturação das políticas
públicas são: sustentabilidade, democratização, eficácia, transparência, visibilidade, diversidade,
participação e qualidade de vida para a construção de uma nova ética centrada na vida, na solidariedade,
25
Unidade I
com vistas a uma cultura da paz. Mas não basta conhecer esses elementos, é preciso que sejam traduzidos
em parâmetros objetivos para que orientem a elaboração, a implementação e a avaliação das políticas
propostas.
O Estado de Bem-Estar Social, como uma das formas de atuação da política, não deu conta de
atender a todas as necessidades educacionais que se propôs a oferecer à coletividade social. O governo,
como responsável pelo desenvolvimento das políticas públicas em educação, não cumpriu as metas de
universalização da educação escolar obrigatória, da qualidade de ensino, da remuneração do professor
e da proposta de valorização do magistério; também não resolveu satisfatoriamente os problemas
relacionados a políticas públicas de formação continuada dos profissionais da educação e ao estado de
precariedade das instalações dos estabelecimentos de ensino. Isso é visível nos índices de analfabetismo
e no resultado insatisfatório das avaliações institucionais das diferentes esferas de poder (federal,
estadual e municipal), que apontam problemas ainda básicos de leitura e interpretação de textos e na
resolução de problemas de Matemática.
Autores como Barroso (2005) discutem que a proposta neoliberal adotada como fundamentação
para o desenvolvimento de políticas públicas afirmando que a sociedade civil deve se responsabilizar pelo
desenvolvimento de ações demandadas por contextos locais é, de certo modo, uma desresponsabilização
do Estado pelo setor social, especificamente pela educação escolar. Na proposta neoliberal, as políticas
públicas educacionais que atendiam especificamente à unidade escolar deviam ser desenvolvidas por
meio de ações, programas e planos envolvendo a parceria entre a sociedade civil e a escola pública,
mas, mesmo assim, não resultaram na melhoria da qualidade do ensino oferecido à população. Em
função disso, aponta que está havendo uma recomposição das relações entre “Estado e mercado, no
que se refere ao fornecimento e financiamento dos serviços púbicos, incluindo, no caso vertente, a
educação” (BARROSO, 2005, p. 745). No Brasil, as organizações do terceiro setor têm atuado em parceria
com as instituições de ensino no desenvolvimento de projetos que têm o objetivo de atender a cada
estabelecimento de ensino em ações e programas específicos. Tais ações e programas estão relacionados
diretamente ao Projeto Político-Pedagógico da escola e têm o objetivo de proporcionar, aos educandos
da escola, atividades que venham a contribuir para a efetivação da qualidade de ensino que é necessária
26
POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
à população. Dessa forma, efetiva-se o objetivo da política neoliberal, que é manter a sociedade civil,
representada pelo terceiro setor, ou seja, as ONGs, em parceria com as unidades escolares vinculadas
às redes públicas de ensino municipal ou estadual. Essas organizações do terceiro setor podem buscar
recursos públicos e privados para o atendimento a esses projetos sociais voltados para a educação
escolar. Porém, tais projetos geralmente são desenvolvidos por tempo limitado e não conseguem
abranger toda a coletividade escolar e seu cotidiano, tornando, assim, frágil a relação entre ONGs e
escolas, e não atingindo o objetivo de melhorar a qualidade do ensino. Em contrapartida, é defendido
que qualquer que seja a mudança nas questões políticas, é preciso proteger e promover a escola pública,
como “garantia da aquisição e distribuição equitativa de um bem comum educativo” (BARROSO, 2005,
p. 745).
Canário (2003, p. 150), discutindo as políticas públicas educacionais, dá ênfase ao objetivo maior da
escola, que está inserida numa comunidade para a qual deve voltar sua ação, contribuindo, assim, para
a democratização da sociedade por meio da transformação do ensino: “pensar a escola a partir de um
projeto de sociedade, não a partir dos meios disponíveis, e sim das finalidades a atingir”.
Alguns teóricos da educação escolar, como Paro, Oliveira, Ferreira e Dourado, defendem o
conceito de educação escolar como fator de transformação social, como um direito à cidadania e
à escola. Os responsáveis pelas políticas públicas estão atrelados ao Plano Nacional de Educação,
assim como aos planos estaduais e aos municipais de educação, para o uso das verbas públicas
previstas no financiamento da educação. Órgãos administrativos como o MEC e as secretarias
estaduais e municipais de educação promovem ações que têm como princípio o desenvolvimento
de competências e habilidades e a construção dos conhecimentos pelas crianças e jovens da
educação escolar básica, garantindo a eles a plena participação nos processos sociais, produtivos
e políticos. É direito do aluno da escola pública ter acesso aos conhecimentos necessários que
o tornem capaz de participar plenamente da vida produtiva, social e política, assim como ter
domínio desses conhecimentos.
Muitos instrumentos legais foram implementados para a garantia desse direito. A decisão política
tomada foi colocar a escola como o local onde se deve olhar para avaliar a qualidade de ensino
desenvolvida, ou seja, a aprendizagem do aluno. Para isso, os conceitos de gestão escolar e Projeto
27
Unidade I
O entendimento desses conceitos passa pela visão política adotada pelo Estado, e, em função disso,
exige a compreensão das prioridades nacionais elencadas e das políticas públicas educacionais em
concordância com um projeto de Estado brasileiro. Destacamos a importância do planejamento em
todas as áreas e setores da educação escolar.
Temos de retomar o que Barroso apontou como o mais importante: que a escola pública nunca seja
desvinculada de seu papel e de sua importância no seio da sociedade.
Dourado (2001), Paro (2002) e Antunes (2000) apontam a influência da reestruturação produtiva na
educação escolar, principalmente ao discutir a função social da escola nos dias de hoje, em relação à
lógica do mercado.
Antunes (2000) analisa a sociedade contemporânea e suas transformações, que são discussões
presentes diariamente no nosso cotidiano. Sempre nos referimos à escola como instituição transformadora,
em função de seu papel na formação do cidadão, para a cidadania e a vida social e produtiva. Nesse
sentido, considerar o novo perfil de cidadão e profissional, o papel de mudanças e avanços tecnológicos,
da sociedade do conhecimento, da globalização e da mundialização da cultura que essa nova sociedade
requer significa compreender o neoliberalismo, a reestruturação produtiva, a globalização produtiva e a
era da acumulação flexível.
Soares (1997) cita Harvey [s.d.] para tratar das transformações da economia e aponta que:
O texto citado discute que a reestruturação pós-fordista se define por novas tecnologias, novos
métodos de gestão e, em função disso, novas maneiras de tratar da utilização da força de trabalho,
o que levou a novos modos de regulação estatal nomeados, pelo autor, de elementos que definem o
“modo de acumulação flexível de capitais” (HARVEY, [s.d.] apud SOARES, 1997). Podemos apontar como
integrantes dessa reestruturação os seguintes aspectos:
O texto comenta que globalização, efemeridade e dispersão são aspectos que estão presentes na
reorganização do sistema financeiro global. Esses elementos tornam essa reorganização uma esfera
autônoma, responsável pelos fluxos de capital e capaz de desvincular-se das antigas noções de tempo e
espaço. Suas características, naturalmente, fazem dessa reorganização, um sistema complexo e de difícil
compreensão para muitas pessoas (HARVEY, [s.d.] apud SOARES, 1997).
Soares (1997) define a economia pós-moderna como essas novas atividades materiais de produção
e consumo, como o novo sistema financeiro global, que não é mais uma economia de escala, como
a fordista. Em consequência, o Banco Mundial/FMI, chamado por ele de “Estado do capital mundial”,
atua além da autonomia do Estado-Nação. A sociedade capitalista pós-moderna, em que o poder da
competição é decisivo no sistema de mercado e a corporação transnacional é o tipo de organização
produtiva mais atuante, tem na informação operacional, que se constitui como bem mais procurado, a
possibilidade de exercer a hegemonia.
Dessa maneira, o rápido acesso à informação atualizada para a tomada de decisão é a maneira
de ser das novas corporações transnacionais e o que gera “os riscos e as crises globais (globalização)
e a economia de transitoriedade, cujo lema é: ‘compre-use-e-descarte’ produtos, pessoas, ideias
(efemeridade); e exige de todos uma flexibilidade fora do comum em termos de adaptação (dispersão)”
(SOARES, 1997).
Assim, Antunes (2000), tendo como pano de fundo essas transformações, afirma que:
O autor chama a atenção para a reestruturação produtiva que acarreta a transformação no trabalho,
pois algumas ocupações ou postos, devido às grandes transformações no conhecimento e à globalização
da economia, entraram em processo de extinção. Isso exige do trabalhador uma rápida formação
para o desempenho de novas tarefas, cargos e funções necessários ao mundo contemporâneo. Essas
transformações, de acordo com Antunes (2000), atingem ainda o meio ambiente, bem como as relações
dos homens entre si e com esse ambiente, obedecendo a uma lógica que até então não existia: a
lógica neoliberal, num modelo toyotista de produção. O autor acrescenta também que essa crise é uma
tendência mundial, atingindo até os países capitalistas centrais, provocando grande concorrência e
causando um processo destrutivo dos postos de trabalho, levando à exclusão, do mercado de trabalho,
de grande quantidade de trabalhadores, bem como à desestruturação da relação homem-trabalho.
Destaca-se, então, a importância da escola e do seu papel como garantia de aprendizagem e inserção
social dos alunos. É preciso ressignificar o papel da escola no mundo atual, a favor da conquista da
cidadania plena para todas as crianças e todos os jovens da educação básica, principalmente os oriundos
das classes populares. Isso porque a escola, cumprindo seu papel de instituição capaz de promover
transformação social, empreende uma caminhada rumo a uma sociedade mais democrática e inclusiva,
em que o cidadão possa se sentir sujeito coletivo e participativo na vida social, econômica e política do
país.
Saiba mais
30
POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
2 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL
2.1 Conceito
O ato de planejar está presente em todos os níveis da educação brasileira – nos sistemas de ensino
federal, estadual ou municipal, em seus órgãos administrativos e na unidade escolar – para elaborar
desde o projeto político-pedagógico até o plano de aula, em que a tarefa educacional se realiza
na concretude da relação professor-aluno. Podemos citar como tipos de planejamento: o global, o
estratégico, o setorial, o regional e o local.
Os termos planejamento, plano e projeto são usados cotidianamente nas escolas. Para Padilha (2001),
estes precisam ser explicitados, e, no nosso caso, para que as práticas de racionalização do trabalho
ocorram de forma bem-sucedida, a busca de eficiência deve fazer parte da organização das atividades
educativas, quaisquer que sejam o local e o nível de abrangência.
O planejamento é discutido por vários autores, como Azanha (1975, 1993, 1995), Vasconcelos
(1995), Fusari (1988) e Libâneo, Oliveira e Toschi (2009). Nas discussões dos autores citados, temos que,
no planejamento, há um processo contínuo, sistemático e coletivo de tomada de decisões em relação a
objetivos claramente definidos. Para Fusari (1998), é um processo de análise da realidade escolar, com
o objetivo de conhecer mais sobre os problemas do cotidiano pedagógico e superá-los. Já Vasconcelos
(1995) destaca que é um processo permanente de reflexão sobre a realidade, que possibilita planejar o
futuro e escolher as melhores atitudes para se atingir o objetivo.
2.2 Abrangência
Encontramos o ato de planejar nas várias instâncias da educação escolar nacional. A seguir, veremos
os diferentes tipos de planejamento, conforme Padilha (2001).
Planejamento de maior abrangência, geralmente dos sistemas de ensino. Padilha (2001) aponta que
se trata,
bem mais que a elaboração de um projeto contínuo que engloba uma série
de operações interdependentes (PADILHA, 2001, p. 32).
Os itens abordados na definição desse conceito de planejamento deixam claro seu papel, bem como
sua importância, os passos de sua elaboração e sua abrangência.
Se pesquisarmos programas, ações e planos propostos e desenvolvidos pelo MEC, entenderemos sua
organização e forma de atuação, assim como a abrangência de cada um.
Trata da dinâmica das ações internas da escola. Isso significa que cuida do desenvolvimento escolar
dos alunos e de como vai ser sua vida na escola. Estabelece o tipo de relação que o aluno tem com os
conteúdos escolares, colegas, professores, funcionários e com a própria escola. Segundo Vasconcellos
(1995, p. 56), “é o processo de tomada de decisões sobre a dinâmica da ação escolar. É a previsão
sistemática e ordenada de toda a vida escolar do aluno”. É também um instrumento que regula as ações
escolares em prol dos objetivos a serem alcançados, integrando a escola e garantindo a interdependência
entre todos os setores, áreas e ações.
Voltado para a coordenação da ação docente e de sua relação com o contexto social. Para Libâneo (2001),
é uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das atividades didáticas em
termos da sua organização e coordenação em face dos objetivos propostos
quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de ensino. É um
processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente,
articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social (LIBÂNEO,
2001, p. 221).
O autor nos chama ainda a atenção para a ação planejada das práticas didáticas, ao mesmo tempo
introduzindo o conceito de revisão como meio de refletir sobre a ação para a tomada de decisões
conforme os objetivos propostos. Essa ação tem como orientadora de seu desenvolvimento a política
educacional adotada.
Processo para decidir ações e interações entre educadores e alunos da escola. Para Fusari (apud
PADILHA, 2001):
A abrangência da atuação das políticas educacionais escolhidas chega ao cotidiano escolar, e sua
influência está presente nas tomadas de decisão, bem como nas ações e em como estas são desenvolvidas.
Tem como meta organizar a ação, a responsabilização e a divisão das tarefas a serem realizadas. Esse
conceito introduz a importância da organização das ações entre todos os participantes de um projeto,
programa ou plano. Organizar a ação não quer dizer que todos vão fazer tudo juntos, mas sim que vão
ordenar e dividir as tarefas tendo em vista o coletivo das ações.
É aquele realizado a partir da participação de todos os atores envolvidos naquela situação. Para
Cornely (1980),
O conceito de participação está presente em todos os momentos das ações educacionais. É o que vai
dar autoridade às decisões, na medida em que representam a maioria. Daí a importância de transparência,
impessoalidade, lisura, responsabilidade e compromisso dos envolvidos nas ações e tomadas de decisão.
Refere-se à tomada de decisões sobre os conteúdos das aulas, diante das ações pedagógicas
propriamente ditas, envolvendo o professor e o aluno, na sala de aula, como: conteúdos, metodologias,
temas, recursos didáticos e avaliação. Pode referir-se ao planejamento de uma aula ou a um plano que
vai ser desenvolvido em um ano ou mais.
Para isso, é importante saber que cada ação, cada conteúdo ou atividade envolve dimensões
diferentes no que concerne a abrangências, especificidades, limites e possibilidades. É próprio do ato de
planejar especificar bem seu tema de atuação, pessoas, locais que lhe dão contornos e especificidades
próprias, porém todas envolvendo a importância da racionalização das ações e do caminho a perseguir,
das ações a serem desenvolvidas e da reavaliação das ações para que os objetivos sejam atingidos.
33
Unidade I
Tratamos do planejamento educacional mais amplo da educação nacional; mesmo assim, podemos
identificar as concepções de planejamento presentes em nossa realidade educacional.
O estudo das teorias da Administração permite compreender as relações entre educação, planejamento
e administração. Ultimamente o planejamento educacional tem privilegiado dois grandes temas de
investigação: a qualidade do ensino e a gestão educacional. É nesse sentido que, na perspectiva da
gestão escolar, com destaque para o clima participativo da comunidade, a escola é considerada o centro
da ação pedagógica. Nesse cenário, insere-se a concepção do Projeto Político-Pedagógico, instrumento
que permite à gestão desempenhar o importante papel de garantir a globalidade da organização e
buscar o comprometimento de todos os seus elementos na construção de consensos, bem como na
identificação de princípios, valores e políticas que orientarão a tomada de decisões para a resolução de
problemas e, consequentemente, buscarão a qualidade de ensino.
No fim do século XIX e início do XX a Teoria da Administração Científica é proposta por Frederick
Winslow Taylor e Jules Henri Fayol, que introduzem princípios administrativos para organizar as atividades
dos operários da indústria, subdividindo as funções e defendendo a especialização das tarefas e a previsão
das ações, tudo isso com o objetivo de obter de seus operários eficiência máxima. O planejamento tem o
objetivo de prever as ações, racionalizando as atividades dos operários e os recursos materiais. Identificamos
a relação burocrática nas ações e relações do planejar, priorizando a divisão das tarefas.
Refratária ao pensamento de Taylor e Fayol, surge, no século XX, a Teoria das Relações Humanas,
de Elton Mayo, que abandona a visão mecanicista do ser humano e vê nos operários seres que
agem influenciados pelas interações sociais dentro e fora da fábrica. O planejamento, nessa teoria
administrativa, preocupa-se com o comportamento humano e tem uma perspectiva para cada situação.
As ações têm o objetivo de promover integração.
As ações dos planejamentos globais e sistêmicos devem priorizar programas, ações, planos e projetos
que tenham como foco a qualidade do ensino oferecido pelas escolas. Para isso temos o PDE (Plano de
Desenvolvimento da Escola), que, com várias orientações, auxilia a unidade escolar na elaboração de seu
planejamento.
Segundo Freitas (2000), no Brasil, no início do século XX, o modelo de administração educacional
baseava-se na Administração Científica, desenvolvida por Frederick Taylor. No início da sociedade
industrial no Brasil, a Administração Científica tinha como características a centralização e a
hierarquização das funções. As decisões eram responsabilidade do chefe diretamente superior, e todos os
chefes de setores específicos respondiam a uma figura de autoridade central, que concentrava o poder.
A tomada de decisão tinha o formato de pirâmide (da qual o chefe ocupava o topo), e as atividades eram
minuciosamente divididas – cada funcionário desempenhava tarefas extremamente especializadas.
Quanto mais perto da base da pirâmide, menos poder de decisão possuía o funcionário, cujas atividades
seriam de natureza mais mecânica. Esse funcionário tinha ainda como características menor respeito
social e educação formal inexistente. O maior reflexo desse sistema no setor educacional foi a adoção
do planejamento educacional elaborado pelos órgãos superiores e administrativos da educação escolar
– que não representavam a realidade local –, e o cumprimento desses planejamentos era supervisionado
pelos representantes do sistema educacional. O não atendimento ao que era determinado constituía
falta grave passível de punição.
Foi na década de 1980, com a abertura política e a demanda social por escola para todos e
igualdade de oportunidades educacionais, que a instituição escolar passou a ser considerada o ponto
mais integrador e no qual o desenvolvimento do processo educacional ocorria. Foi reconsiderada a
forma de gerenciamento da educação escolar: o planejamento educacional foi repensado, chegando
ao consenso de que sua elaboração deveria acontecer a partir da realidade escolar. No final do século
XX, já encontramos mudanças nas políticas públicas educacionais brasileiras em função das novas
necessidades sociais.
35
Unidade I
Neste tópico vamos estudar a legislação educacional que mais interessa a nós, pedagogos. É difícil
delimitar o estudo da lei da educação brasileira atual, a Lei nº 9.394/96. Assim, apresentaremos a partir
de agora um manual que vai trazer a lei e, ao mesmo tempo, apontar os seus pontos principais, para
aqueles que estão iniciando os estudos. Para isso, alguns assuntos serão apresentados e, a partir destes,
vamos entender o sistema nacional de educação.
Lembrete
Antes de iniciarmos a discussão da Lei nº 9.394/96 propriamente dita, vamos tratar do que significa
legislação. O que é lei? Como é escrita, como deve ser consultada, onde a encontramos?
Segundo Ferreira (1999, p. 1.196), legislação é “o conjunto de leis acerca de determinada matéria;
ciência das leis, a totalidade das leis de um Estado, ou de um determinado ramo do Direito”.
E o que é lei? Ainda segundo Ferreira (1999, p. 1.197), é a “regra de direito ditada pela autoridade
estatal e tornada obrigatória para manter, numa comunidade, a ordem e o desenvolvimento; norma ou
conjunto de normas elaboradas e votadas pelo Poder Legislativo”.
porém, quando trata de vários aspectos de um tema geral, é subdividido em títulos, capítulos,
seções e subseções.
Conforme apontado, para a escrita das leis usamos artigos, incisos, parágrafos e alíneas, que são
descritos por Acquaviva (2000) da seguinte forma:
[...]
[...]
[...]
Saiba mais
A Lei nº 9.394/96 teve como base para sua elaboração os princípios orientadores da Constituição
Federal de 1988, em primeiro lugar, e depois os do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. A partir
da Constituição Federal, cada estado e o Distrito Federal devem elaborar suas constituições estaduais,
e os municípios, suas leis orgânicas. Devem, a partir desses dispositivos legais, definir as regras que
37
Unidade I
Podemos entender que há diferentes formas de buscar uma legislação. A maneira de encontrar o que
queremos é conhecer o tipo de legislação de que estamos tratando, qual a esfera do Poder Executivo
e, neste, qual a secretaria, o departamento. A lei é classificada de acordo com o responsável pela sua
elaboração (geralmente, os poderes federal, estadual ou municipal). Assim, os diplomas legais federais
são os mais abrangentes e prevalecem sobre os outros; os estaduais complementam os federais e tratam
da região estadual e suas necessidades; e os municipais complementam os estaduais na sua esfera de
atuação, explicitando como deve ser aplicada a legislação no município.
Assim, a hierarquia das leis emana do poder que as legisla. As esferas que as regulamentam usam
outras denominações e podem ser encontradas de acordo com o que estas indicam.
O Conselho Nacional de Educação, assim como os conselhos estaduais e municipais, para orientar o
entendimento e a ação na área educacional, usa os seguintes textos:
• Parecer: tem o objetivo de expressar e fundamentar teoricamente posturas que vão esclarecer
procedimentos cotidianos. O parecer é um documento explicativo e teórico, que subsidia a
compreensão dos textos legais. É o documento que os conselhos nacionais, estaduais e municipais
de educação usam para responder e explicitar partes de documentos legais como a Lei nº 9.394/96
e que resultam em indicações ou resoluções.
• Resolução: é a tomada de decisão para orientar e coordenar as ideias previstas na Lei nº 9.394/96
e em outras leis complementares.
38
POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Observação
A Constituição Federal de 1988, chamada por Ulisses Guimarães de “Constituição cidadã”, em seu
terceiro capítulo, determina os princípios da educação, da cultura e do desporto. Nessa seção, do artigo
205 ao 214, dispõe sobre os fins e princípios da educação nacional, prevendo a sua estrutura e o seu
funcionamento. Dos textos constitucionais brasileiros, o atual é o que tratou a educação no Brasil de
forma mais detalhada.
39
Unidade I
de Jovens e Adultos, Educação Profissional, Educação Especial e Ensino Superior). Nos artigos de 61 a
67, trata das condições dos profissionais da educação; nos artigos de 68 a 77, determina a procedência
e os critérios de uso dos recursos financeiros destinados à educação; e, por fim, nos artigos de 78 a 92,
estabelece as disposições gerais e transitórias para a aplicação da lei.
Saiba mais
O estudo da LDBEN que vamos realizar passa pela leitura do texto legal e pela exposição dos
conceitos com o objetivo de deixar a lei clara e objetiva, evitando imprecisões. Também apresentaremos
as modificações da lei, desde sua homologação até a presente data. A ideia é que possamos acompanhar
as revisões e alterações a fim de observar que o texto da lei não é imutável e fixo, mas, em vez disso, é
contextualizado e tem a missão de atender, de forma integral, à educação escolar brasileira e ao ensino.
Título I
Da Educação
40
POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
O caput do artigo conceitua educação, que é entendida de forma ampla, como um conjunto
de processos formativos que se desenvolvem de diferentes maneiras e nas diversas instâncias da
sociedade.
O parágrafo 1º explicita que educação escolar é aquela que ocorre por meio do ensino, em instituições
próprias. Isso significa que a LDB cuida somente da educação escolar. Os outros processos formativos,
que ocorrem em outras instâncias sociais, podem ser considerados educação, porém não educação
escolar.
O parágrafo 2º complementa o conceito de educação escolar por meio da definição do princípio que
deve norteá-la: a vinculação ao mundo do trabalho e à prática social. Podemos entender, assim, como
o objetivo principal da educação escolar a preparação do aluno para o trabalho e para o convívio social.
A educação apresenta como novos mapas de referência para a escola e para o processo educativo a
prática social, o mundo do trabalho, movimentos sociais e manifestações culturais.
Título II
A LDB reproduz de forma mais simplificada o que está no artigo 205 da Constituição Federal de 1988,
pois não cita que a educação deverá ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, como
consta na Lei Maior. Podemos afirmar que o Título II da LDB é um dos mais importantes, ao explicitar de
forma clara os princípios e finalidades da educação brasileira.
Devemos entender que a educação é um direito de todos e que é dever da família e do Estado
proporcionar as condições para que esse direito seja usufruído. O Estado, representado pelo governo da
esfera federal, estadual ou municipal, deve garantir as vagas nas escolas públicas aos alunos. Aos pais
cabe o dever de matricular seus filhos na escola, e ao aluno cabe o direito de estudar. Nesse sentido,
dever e direito são conceitos-chave.
O preparo para o exercício da cidadania está vinculado à qualificação para o trabalho, assim como
a prática social está vinculada ao mundo do trabalho, e ambos constituem os principais elementos da
concepção de Educação.
O Título II da LDB, apesar de conter apenas dois artigos, pode ser considerado um dos mais
importantes, pois expressa de maneira clara os princípios que devem nortear a educação brasileira e
suas finalidades.
41
Unidade I
Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
O artigo 3º repete o que está disposto no art. 206 da Constituição e o amplia, apresentando doze
incisos. Estes são os princípios que explicitam as ideias, os conceitos e as concepções que regem a
educação brasileira.
O inciso I repete o inciso I do artigo 206 da Constituição e diz respeito à igualdade de condições para
acesso e permanência na escola, o que significa criar possibilidade de acesso à escola para os cidadãos,
por meio de ofertas de vagas nas escolas públicas. A permanência com sucesso na escola torna-se
tão importante quanto o próprio acesso, e ambos conjugados significam a qualidade de ensino que o
cidadão deve ter para usufruir integralmente o direito à educação.
O inciso II repete o inciso II do artigo 206. A colocação desse princípio reflete a coerência do conceito
de educação para a construção do cidadão com o de uma sociedade democrática: liberdade de aprender,
ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber.
O inciso III está integrado ao inciso V, e ambos estão contidos no inciso III do artigo 206 da
Constituição Federal: pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e coexistência de instituições
42
POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
públicas e privadas de ensino, que também fazem parte de uma concepção de educação democrática.
Isso significa que as instituições privadas de ensino oferecem-no como uma garantia constitucional.
O inciso IV, respeito à liberdade e apreço à tolerância, revela quais são os valores humanos que
devem reger o ensino e que são fundamentais à educação e não estão contemplados no artigo 206.
A LDB nº 9.394/96, lei complementar, pode e deve ampliar as ideias e concepções presentes na
Constituição, sem que isso signifique ilegalidade ou inconstitucionalidade.
O inciso VII repete, com menor abrangência, o inciso V do artigo 206 da Constituição Federal, falando
sobre a valorização do profissional da educação escolar – mas significa a exclusão dos trabalhadores não
docentes da categoria de profissionais da educação.
O inciso VIII, gestão democrática do ensino público, na forma desta lei e da legislação dos sistemas
de ensino, repete o inciso VI do artigo 206 da Carta Magna e é o princípio mais importante para os que
defendem a educação pública democrática, gratuita e laica.
O inciso IX está presente no inciso VII do artigo 206, falando sobre a garantia de padrão de qualidade,
embora não esclareça o que exatamente significa esse padrão.
O inciso X não aparece na Constituição Federal. Ele trata do reconhecimento à importância das
diferentes propostas pedagógicas existentes no princípio da valorização da experiência extraescolar. É
importante reconhecer o papel dos conteúdos sistematizados trabalhados pela escola.
O inciso XI reforça a ideia já presente no art. 2º como concepção de educação. Apresenta também
como princípio norteador da educação e do ensino brasileiro preparar o aluno para o trabalho e para a
convivência em sociedade.
Dando continuidade à leitura da Lei nº 9.394/96, observemos o artigo 4º, que apresenta muitas
modificações.
Título III
Art. 4º. O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado
mediante a garantia de:
43
Unidade I
a) pré-escola;
b) Ensino Fundamental;
c) Ensino Médio;
Este artigo da LDB determina quais são os deveres do Estado na oferta da educação escolar pública.
Sete de seus incisos estão apresentados no art. 208 da Constituição Federal e seus três parágrafos finais
estão contemplados em outras partes da Lei nº 9.394/96.
1
Texto com modificações promovidas pela Lei n° 12.796, de 2013, e pela Lei n° 11.700, de 2008.
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POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Os deveres apresentados são as obrigações que devem ser cumpridas, que estão previstas nos seus
incisos e representam as garantias mínimas a serem respeitadas na oferta da educação escolar pública.
O inciso I dispõe que o Estado deve oferecer a educação básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17
anos de idade, organizada da seguinte forma:
• Educação Infantil;
• Ensino Fundamental;
• Ensino Médio.
O inciso II apresenta a oferta da Educação Infantil gratuita às crianças de até cinco anos de idade.
O inciso III trata do atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades (ou superdotação), transversal a todos os
níveis, etapas e modalidades, preferencialmente, na rede regular de ensino.
O inciso IV fala do atendimento aos jovens e adultos, do acesso público e gratuito aos Ensinos
Fundamental e Médio para todos os que não concluíram os estudos na idade esperada.
O inciso V, assim como o inciso V do artigo 208 da Constituição Federal, contempla o direito de todas
as pessoas ao acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, mas limita
esse direito, quando acrescenta que o acesso se dará “segundo a capacidade de cada um” (BRASIL, 1996).
O inciso VI coincide com o inciso VI do artigo 208 e dispõe sobre o dever do Poder Público quanto
à “oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do aluno” (BRASIL, 1996). O problema está
no entendimento desse princípio, que pode significar um ensino com menos conteúdo que o diurno.
O inciso VII da LDB não está escrito na Constituição Federal. O cuidado no entendimento desse
princípio é o da não discriminação da Educação de Jovens e Adultos na forma de ensinar ou na redução
do conteúdo a ser ensinado.
O inciso VIII retrata o inciso VII do artigo 208 da Constituição, que cuida das condições objetivas
da permanência dos alunos na escola quando as condições socioeconômicas são adversas em todas
as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático-escolar,
transporte, alimentação e assistência à saúde.
O inciso IX, que não está contemplado na Constituição, disserta sobre padrões mínimos de qualidade
de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao
desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem. Apesar de defender a qualidade de ensino, não
define objetivamente quais são os critérios para que sejam elencados os padrões mínimos de qualidade
que, nesse sentido, podem incluir tudo.
45
Unidade I
O parágrafo 1º do artigo 208 da Constituição Federal está explicitado no caput do artigo 5º da LDB, explicando
de forma mais abrangente o que é “direito público subjetivo”. Trata-se do fato de que está capacitado a exigir
vaga para o acesso à educação básica, para toda e qualquer criança ou adolescente que esteja fora da escola,
“[...] qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou
2
Texto com modificações promovidas pela Lei n° 12.796, de 2013.
46
POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público” (BRASIL, 1996). Isso significa que não é necessário
ter vínculo com a criança ou o adolescente para solicitar uma vaga na escola.
O parágrafo 1º do artigo 5º da LDB define, em três incisos, as medidas que devem ser tomadas para
que o direito de acesso à educação básica obrigatória seja garantido, bem como as competências dos
estados e municípios, em regime de colaboração e contando com a ajuda da União.
O inciso I trata de uma das medidas que devem ser tomadas pelo Poder Público, que é o recenseamento,
em sua região, tanto da população em idade escolar quanto daquela que, embora fora da idade, não
tenha frequentado a educação básica.
O inciso II fala de outra medida que é dever do Poder Público: a chamada da população para
a matrícula. Já o inciso III estabelece que é dever do Poder Público fazer os pais e responsáveis se
encarregarem da frequência do aluno à escola.
Esses três incisos estão agrupados no parágrafo 3º do artigo 208 da Constituição Federal.
O parágrafo 3º dispõe que qualquer das partes mencionadas no caput deste artigo tem legitimidade
para peticionar no Poder Judiciário, na hipótese do parágrafo 2º do artigo 208 da Constituição Federal,
estabelecendo ainda que é gratuita e de rito sumário a ação judicial correspondente.
O parágrafo 5º abre novas possibilidades para que o Poder Público ofereça acesso aos diferentes
níveis de ensino, como forma de abrir novas possibilidades de atendimento. Um exemplo prático dessas
possibilidades é a Educação de Jovens e Adultos a distância.
Exemplo de aplicação
O artigo 5º da Lei nº 9.394/96 traz o conceito de direito público subjetivo como um direito à educação
irrevogável para o cidadão brasileiro. Para compreender melhor, verifique na sua cidade como as escolas
oferecem o ensino obrigatório, que é direito público subjetivo.
Dando prosseguimento à análise da lei, observemos o artigo 6º, que também sofreu alterações e
atualmente apresenta a seguinte redação: “É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das
crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de idade” (BRASIL, 1996).3
3
Texto com modificações promovidas pela Lei n° 12.796, de 2013.
47
Unidade I
Esse artigo complementa o artigo 5º, estabelecendo como dever dos pais ou responsáveis efetuar a
matrícula das crianças na educação básica, já a partir dos quatro anos de idade.
É importante lembrar aqui que a questão da destinação de verbas públicas da educação para as
instituições privadas de ensino sempre esteve presente nas Constituições brasileiras – em 1934, 1946,
na elaboração da primeira LDB brasileira, na LDB nº 4.024/61 e na atual Constituição Federal.
As outras situações discutidas no artigo 213 da Constituição Federal serão retomadas no artigo 77 da LDB.
A tabela a seguir apresenta o número de alunos matriculados na educação básica brasileira, de 2007
a 2012, por dependência administrativa, abrangendo matrículas realizadas pelo Poder Público e pela
iniciativa privada.
48
POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
A partir de 2007, é realizado o Censo Escolar da Educação Básica, que, segundo o Inep (2013),
O fato de estabelecer uma data anual para a coleta dos dados permite “a comparabilidade estatística
dos dados no mesmo ano e em anos diferentes” (INEP, 2013, p. 7). O Censo Escolar é considerado o mais
abrangente e relevante levantamento estatístico da educação básica no país. O Ministério da Educação
usa os dados para a formulação de políticas públicas para a educação básica brasileira, como programas,
planos e ações, assim como para a definição de critérios para a atuação supletiva do MEC. O censo é
utilizado também para “o cálculo de indicadores como o Índice de Desenvolvimento da educação básica
(Ideb), que serve de referência para as metas do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE)” (INEP,
2013, p. 7).
Podemos observar que a Tabela 1 apresenta uma tendência de acomodação nos números coletados,
em função da nova metodologia adotada pela criação do Censo Escolar, de 2007 a 2012.
Para o Inep (2013, p. 12), os especialistas chamam os dados apresentados de “movimento de fluxo
escolar”. Do ponto de vista da história, o sistema educacional brasileiro apresentou, por um período
longo, grandes taxas de reprovação. Isso provocou a defasagem idade/série. Assim, a análise dos dados
obtidos deve sempre levar em conta essa realidade da educação escolar brasileira.
No site do Programa Todos pela Educação encontramos os dados do atendimento à educação básica
brasileira, assim como informações complementares que podem nos dar a visão real do desempenho
do sistema nacional de educação em 2011. O Brasil apresentou, em 2010, uma população total de
190.755.799 pessoas, com uma renda média de R$ 668,00. Dessa população, 45.364.276 pessoas
estavam em idade escolar. A taxa de analfabetismo na faixa de 10 a 14 anos era de 1,9% e na faixa que
tinha 15 ou mais anos era de 8,6%.
49
Unidade I
Observação
Em junho de 2013, a Agência Brasil lançou a notícia de que, no país, “3,6 milhões de crianças e jovens
entre 4 e 17 anos estão fora da escola. A maioria (2 milhões) tem entre 15 e 17 anos e deveria estar
cursando o Ensino Médio” (TOKARNIA, 2013). Dados levantados em 2011 apresentaram a informação
de que 92% das crianças e adolescentes dessa faixa etária estavam na escola. A notícia foi publicada
no site Todos pela Educação, num relatório que apresenta dados dos diferentes estados brasileiros e diz
que, numa análise global, houve uma melhora no atendimento; porém, como podemos concluir, ainda
é insuficiente.
com índices pouco acima dos 70% em 2000, conseguiram espaço em uma
década e tiveram as maiores taxas de crescimento de matrículas. Em 2011,
o Acre apresentou 88,9% dos jovens e crianças matriculados, o Amazonas,
88,7% e Rondônia, 86,3% (TOKARNIA, 2013).
O Estado do Amapá, em termos percentuais, apresentou “os maiores índices de pessoas nessa faixa
etária fora da escola: de 11% a 13% da população de 4 a 17 anos” (TOKARNIA, 2013).
Em São Paulo, considerado o estado mais rico da federação, “é onde existe o maior número de jovens
e crianças fora das salas de aula: 575 mil alunos, o que corresponde a 6,6%” (TOKARNIA, 2013). O estado
de Minas Gerais aparece em segundo lugar, com 367 mil alunos (8,3%).
O relatório De Olho nas Metas, que divulga esses dados, apresenta também a situação que
sempre devemos observar para entender o fenômeno com mais clareza, ou seja, a entrada das
crianças na Educação Infantil e a saída dos jovens do Ensino Médio, numa análise do fluxo escolar
do período. Aponta que houve um crescimento na oferta de vagas no Ensino Fundamental, em
resposta à definição desse nível de ensino como obrigatório na Lei nº 9.394/96 e ao pouco avanço
na Educação Infantil e no Ensino Médio. Tendo em vista essa situação, essa lei foi alterada, como
estudaremos a seguir.
Analisando a matrícula, na Educação Infantil, “a cada cinco crianças brasileiras entre 4 e 5 anos de
idade, uma não encontra vaga. O país precisaria criar 1.050.560 vagas para atender a todas as crianças
nessa faixa etária” (TOKARNIA, 2013).
Tokarnia (2013) afirma que, segundo a diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz:
50
POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
No Ensino Médio, a taxa de evasão de 2010 foi 10,3%, maior que as dos anos
iniciais (1,8%) e finais (4,7%) do Ensino Fundamental. De acordo com dados
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) citados no relatório,
40,3% dos jovens evadidos deixam o sistema alegando falta de interesse. O
mesmo estudo mostra que parte considerável dos jovens entre 15 e 17 anos
ainda não chegou ao Ensino Médio: 31,6% estão no Ensino Fundamental
(TOKARNIA, 2013).
Lembrete
Saiba mais
Acesse:
<http://www.ibge.gov.br/>.
<http://www.inep.gov.br/>.
<http://www.mec.gov.br/>.
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Unidade I
Resumo
Exercícios
Questão 1. (ENADE 2008 – Adaptada) A partir dos anos 1990 foram realizadas várias reformas
curriculares no âmbito das instituições educativas, dentre elas, as propostas de reorganização dos anos
de escolaridade em ciclos, que trouxeram mudanças significativas para a estruturação curricular e a
avaliação, com a implantação da progressão continuada. Tais experiências fizeram constatar que a
implementação de novas propostas nas escolas necessita que os(as):
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa incorreta.
C) Alternativa correta.
Justificativa: a alternativa é correta, pois reflete a atual concepção educacional pautada pela
autonomia e pela participação de todos os atores presentes na unidade escolar (equipe gestora, corpo
docente, funcionários, alunos, comunidade) para que as mudanças sejam bem-sucedidas.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: segundo a concepção educacional atual, pautada pela autonomia das unidades
escolares, estas não podem ficar numa posição passiva, esperando que as orientações venham como um
“pacote pronto” na forma de cursos e capacitação.
Questão 2. (ENADE 2008 – Adaptada) Leia o enunciado e considere as afirmativas que seguem.
De acordo com a regulamentação municipal, haverão novas eleições para o conselho escolar no
próximo ano.
III – Em desacordo com a LDBEN nº 9.394/1996, pois permite que pessoas de fora da escola interfiram
em sua gestão.
IV – De acordo com a LDBEN n 9.394/1996, pois tem um conselho escolar atuante, com participação
comunitária.
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