Você está na página 1de 12
‘A Soberania Popular em Hegel e Marx: Gilberto Bercoviei” 0 sucesso da concepeio de direito romano-burgués e do paradigma cientifico formalista e privatista da escola de Savigny coincide com o triunfo da burguesia, ndo ‘mais revolucionéria, na Europa. A razio juridica burguesa era considerada inerente a forma juridica. A Escola Historica, a partir de 1840, praticamente abandona as suas cexplicagdes histdricas e orginicas e se preocapa com a construgio de um sistema de direito privado que garanta a caleulabilidadee a racionalidade do direito. A constru ‘gio do direito & entendida como abstrata e formal. A Pandectistica busca reaproxi rar os juristas alemaes da legislacao, seguindo a concepedo de ciéncia juridica de Savigay, mas abandonando sua visio unilateral contréria & lei. O direito legistado pass a ser entendide também como fruto di evolugio historica da experiéneia jurf- ica, O passo final para a construgdo do sistema de direito alemio vai ser dado com © primado da Idgica formal da chamada Jurisprudéncia dos Conceitos (Begrifisjurisprudenz). Os conceitos sio entendidos como modelos formais dotados de coeréneia légica interna, que consticuema base do direito objetivo dos institutos. A tarefa do juristaé vincular o direito objetivo (institutos) ao direito formulado (nor- mas), com 0 sistema juridico ultrapassando, assim, a mera vigéncia das normas ema nadas pelo legislador. Como afirma Walter Wilhelm, o método exclusivamente juri~ dico ji esti formulado ¢ configurado de forma completa na metade do século XIX. Hegel sempre chamou a atengZo para cs limites e o unilateralismo do formnalis- mo juridico, que seria superado no Estado, De acordo com Fioravanti, a missao his tériea do Estado e do direito publico, para Hegel, 6 intervir nos conilitos sociais pars transformar os elementos patencialmente destrutivos em elementos de coesdo social ©, pata isso, o8 elementos sociais e econémicos niio podem ser isolados ou ignorados, pois fazem parte do sistema estatal tanto quanto o direito, Deste modo, como cons tata Schiavone, a alternativa hegeliana sequer foi levada em consideragio,! mas vai ‘te usta tml em pate dot capes 4 ¢ 5 de meu lio Ginn BERCOVICH, Soberan & (Conse: Pa uma Crit do Contnucinalane, So Past, Quai Lain, 2008, Draesoe Associ a Fase de Dist da Univeriade de Sto Paul, Dotor em Dieeko do stato ‘Live Docent en Ditto Eso pea Unive de Sto Plo, Profesor do Programa de Pos ‘Graduigio em Dre Polkiooe Econdmivg da Univerade Predteiaa Mackesie 1 Waliee WILHELM, Zur rinichen Marbodenlshreim 19 krhondere Di Herkunf der Methode Pal Tabands so der Privattecherwinenscaf enka are ain, Vite Kloster 1958, xp 70-57 € 121128; Fane WIEACKER, Micra de Drv fivado Modero, 2 ed, Ln, Fanaa Calouste Gulbenkian, 1953, pp, 455-459 « 491 508, Ernt-Wolfgang BOCKENFORDE, “Die Hisoreche Auchsscule und das Problem der Geachichehhet des Recs an Hecht, Sat, Prehet~ Sud :0¢ Rechipilesophie Sacebwoce und Verfusungaguciche, Frankfurt Main, Sobrhamp, 199, pp. 226 Mauricio FIORAVANTI, Gite Costtiane Polis nelfrtocento Teco Milano, Gs, 1979, p. 72-7 Aldo SCHAVONE, Alle Ogi’ de! Dito Borghese: Hegel conto Sevigny, Bat, 295 Gilberto Becovch influenciar profundamente todas as tentativas de contestagio do modelo jurfdico- politico dominante na Europa do século XIX. A revolugdo, para Hegel, ¢ a liberdade absoluta e a Revolucio Francesa & 0 momento histérieo de realizacio da liberdade2 A visio de Hegel como fildsofo da reagiio e do Estado de poténcia (Machtsstaat) prussiano além de restaurador da “razio de Estado” foi criada por Rudolf Haym, intelectual do partido nacional-libe- ral alemdo, apés fracasso da revoluco de 1848, que entendia a defesa do Estado de Hegel incompativel com a tead: 10 “germAnico-protestante”. A partir do livro de sera, 1841p. 61-7; Naito HORAVANTL “Dio stl Metall Cosme dls Tews Geni dll se" in La Scena el Dito Pabcs Douine dello Sie dle Cte tr Ot « Novecent, Milan, iat 200. wl 1. pp. 28.58 e Olver JOUANIAN, Une Hore deh Pesto Jide en Allene (1800-1918) Iialame et Coptaaimne cher les Jer Aleman de XK Site Pari, PUB, 205,395 17-178 2 Nicos Miva Lopes GALERA, “Brae y Soberant Popular en Hope", Astle Cte Franco ‘Snes 0° 2-24 Gravals, Univeral de Gran, (980-1984, pp. T2194 ona alow SAVGAADD, A Idi de utcs em Hegel Si Pale, oye, 196, pp 16-317 « eagenicn LOSURDO, Hage, Maca (04 Trac liberal LBcwdad,(ualdode Esa, Sas Paso, EAUNESP. 1996, yp. 151-156. 160-166 ‘ina anbre @ conceto de revlucio para Hegel, vile Karl GRIEWANK, Der nevsstihe Revolrionbopril: Caotehung nd Emwactung, ed, anlar. Barn Weraanst, 982 pp. 210.215. Paras recepgndsRevolagio Frances ent o pbicas lems, vide Reinhart KOSES CR, ‘evolution (Rebelion. leu, Gurgertneg on Oro BRUNNER, Werner CONZE & Rewhrt KOSEL LICK (on), Geschichhe Grataughie: Hisorbches Lexikon zur politic soilon Sprache in Declan ripe. Suge, let Cott, 194, wok 3, pp. 726732 « Michael STOLEN, nc biete ‘desofentichen Rechts ip Deutschir! Mioees, Verlag CH. Deck, 18K, 1 p 327-528. 3 Par Hedich Reinecke e Bane Rawesaaig eoncrt chase da Eads negli era ode pen nv atop, baer, or eg um indian sapeiore wo, pare le rcs vy “valida do ser sprint dn Eat 0 Fst, dn ma esata nha ut ede ‘ee manciraabrlstamonte congrta de acon com a ec pp , pa i nae renter {odor ot bial, tune de acordo com untied superar sei dn moral anbinsin: CL Tielrich MEINECKE, Die te der Stasersson in der neweren Gewicht el, Monchen, & (denboure Vera, 1963, p. 4-489 «Fre ROSENZAVEIG, Hegel Pa, Pai PU, P91 p12 117. Beleve sina, placa entre tsicdnieh Meinecke ¢Herann Heller. Para Heran Hele, 2 im nuendo Heyl et samt ane conch ds Esta de atria non J Mick eaten sleque objetivo de Hegel me cra propsumeateo poder nacsinal maa ela naconaio roan da ‘ameiéncia Us iberdade Vide Pitch NIFINECKT, Di de de Staotnm in ler neasnen Gesechte Sit pp HW0-432¢ Herman HELLER, Hoge und der nainale Macheasagdae in eur hond Bin [Boia air pliachen Goivergercicht im GrammileSibifion 2 Tbingen, }CB. Ma (Pa Siebert, 192. 9 tp 87. 4 Meineke entende que Heel. plc invade syprandividal do Edo, pode lei todes ‘srexcesas des politics de pee como manitues evils ofglncas de ea ser C.Prdrch IMEINECKE, Die He dr Siaaterion in der neuer Geschichte cit. 438 en sre pri, Cat Fredrich etende que eel eleva Eula vel de tanacendenta ue aco pars spree (no preci se joseados CT. Ca FRIEDRICH, Cuneta! Reason of tare: The Siva of ‘he Consiatiaal Orde, Dowdence, Brown University Press 1997 pp. 91-107 112-113 i Mahe se opie seta nerprcagies, defendends a impish dade da concepcao de eto de Rado no sea ‘loco de Hegel CE Gamiber MALUSCHKE. “Heys und dar Problem der Seastsrison” in oman SCHNUN (org) Satrion” Sten aur Gevchichte ainespaltactenHyrif, Bes. Duncker & ‘Humblor 1975, pp. 5/3587. Para a rca s interpretages de Hoge de Meinecks Hrarie, ide [Ghather MALUSCHE, “Hegel ind das Problem der Statrson cits pp 569.971 «587 588 A Soberania Poplar en Hegel Marx Haym, intitulado “Hegel e seu Tempo" (“Hegel und seine Zeit”), de 1857, visio de Hegel como reacionirio fez sucesso em vars circulos intelectusis © fundamentou tmiimeras interpreragdes de sua obra.S A teoria do Estado de Hegel promove, simultaneamente, uma ruptura ¢ um enfrentamento com as doucrinas de seu tempo, © anti-contrarwalismo hegeliano, segundo Losurdo, foi muitas vezes visto como conservador, Hegel, em busca de hhovas fundamentos teéricos, combate a visio privatista e individuialista de Estado, detectando suas insuficiéncias e contradigoes, mas nio pretende juaificar 0 absolu ‘ismo ou negar os direitos individuais. Hegel rejeita o diceito natural e 0 formalismo do Iluminismo, criticando a visio do individuo precedente a sociedade. Para ele, a precedéncia é do todo sobre a parte. do povo sobre o individuo, O individualisine exacerbado, inclusive, wa sta opinizo, teria levado ao Terror, pois a afirmagio da liberdade absoluta excluiu qualquer outra.6 Para Hegel, Rousseau, por fundamnentar o Estado na vontade livee, &a origem «da moderna concepgio de Exxado. No entanto, 0 querer universal, essa vontade que se manifesta no Estado, aparece em Roussesu como vontade individual que cria 0 Ccontrato social, ou seja, como uma vontade absteata e atomistica, A grande limitagao, para Hegel, de Rousseau é defender a origem do Estado na vontade individual? A conseqiiéncia da Revolugdo Francesa, segundo Hegel, fol 0 reconhecimenta ‘universal da subjetividade livee e nascimenta de cidadlao, A questo da liberdade radical colocada pela Revolugio Francesa sé >oderia ser resolvida pelo papel media or de uma organizagao totalizadora. O poder do Estado deveria ser convertido para servir & liberdade, O Estado de Hegel é um Estado pos-revolucionario, que busca a tealizagio da liberdade. E, segundo Eric Weil, é uma teoria do Estado que &, no do [stado ideal, pois trata da razio vealizada no homem, por ele mesmo e para ele mesmo. O Estado esté na esfera do mundo, portante, pode ser eritieado. O conheci- mento de uma idéia de Estado ¢ um conhecimento abjetivo, que busca a reconcil io entre o universal e o particular.® 5. Domenico LOSUINO, Hegel, Many a Tealico Lien ep. 37-47 Par ota vist conte ner retain de Hope came also jsienie da woman la Pr, ve Jogi Cares SAL DBO. 2s ce cre Hegel spp AE 6 Gunther MALUSCHKE, Philosophische Geundlgen des demokratishen Verascingstetes. Treibury Munchen, Vvig Kat Albet, 1982, pp. 21286 Nicole Mara Lapee CALERA, “Extods Saberana Poputr en Hegel” ce, yp 15153; Joan Carioe SALGADO, A Hi de fsa om ge! ‘ir pp 311-313 «345-846: Dospenico LOSURDO, Hagel Morse » Trai liberal pp 85-100 Piezo COSTA, Civiax: Stride Cedinona in Ea. RoBi, Laveen 2000, v2 pp 40-4 7 Shlomo AVINERL, Hegel Thar ofthe Modern Seze, Cambridge, Cambrage University Pes 78, pp. I-18 Joaquim CalosSALGADO, A tin ce tin em Hegel tp. 297-299, Bre WIL, eget x Pa: Ging Conferences suis Maree le Phlorphie dt Dros, Pati ‘Vain, 1994, pp. 27-31; Plere-ean LABARRIERE. “La Ragonaié du Poovar oa Comment Gever "ety tegen” n Gwendoline JARCZYK & ie Jean LABARRIERE Hope ane POF, 186, p.251-259 lagu Carles SALGADO, A las de fag em Hoge ct. 34 pe vison Naples 2 gra hsdrca que conseguiie erga med qve gran Vberdade ea dignidade de hormem Vide, ore ager que Hegel aia de Napa Franz ROSENZWEIG, Hegel act pp 219240, om ier Bereovih [Na visio de Salgado, a teoria do Estado de Hegel é uma teoria das relagdes sociais em sentido amplo, A sociedade civil é um momento do Estado, que a contém. AA sociedade civil garante o sistema das necessidades, trazido pela economia moder na. Fla nao realiza por si s6 a unidade dos individuos, pelo contririo. Ao colocar 0 individuo como fir iltimo, a sociedade civil representa sua propria negacio. As clas ses sociais surgem da injustica estrutural da sociedad civil na repartigao dos bens.? (© mecanismo de mercado cria a polarizagio social, a pobreza e a alienagdo. Hegel adota a teoria de Adam Smith, mas nio seu entusiasmo com a economia de mercado. A pauperizagio e a alienagao no sio acidentais, mas endémicas ao siste= ma, A exelusio da pobreza cria o "populacho” (“Pabel’), conjunto de homens aliena- dos da sociedade e que nio desejam mais ser integrados nels.!0 Se ha, portanto, indi- vviduos alionados, a propria sociedade esta em causa. E, nesta medida, o Fstado ainda do se realizou, O Estado deve intervir na economia para defender a realizasao do interesse dos cidadios, nao por caridade ou filantropia. A fungi0 do Fstado nao & ‘apenas garantir a propriedade e o mercado, mas deve agir para garantir a liberdade ddos cidadias, mesmo contrariando o direito de propriedade, O Estado deve, acima do sistema das necessidades individuais, tornar possivel a participagao de todos. Esta participacao se legitima pelo direito a0 trabalho.!! Para tanto, o Fstaclo deve subme: ter a economia, De acordo com Joaquim Salgado, o fundamento do Estado de Hegel 6a liberdade, Por isso, 0 Rstado deve garantir o desenvolvimento de todas as dimen ses da individualidade, inclusive o direito ao trabalho. Avineri e Losurdo destacam que, embora Hegel defenda a atuagio do Fstado,? ele no consegue resolver a con~ tradigao da convivéncia entee miséria © riqueza na sociedade industrial e deixa essa ‘questio em aberto.13, (© Bstado é entendido por Hegel como liberdade.'é $6 0 Estado tem objetivos conscientes e universais que se sintetizam na razio ¢ na sua realizagio, ou seja, na 9 Georg Wilhelm Fidhch HEGEL, Grundinien dr Phosopiedes Rechte Hamburg, FlixMeiner ‘erlo1985,6§ 2482 24, pp 200.20; Frans ROSENZIWEIC, Hegel ec PE cit p. 818-122: Shlomo AMINER!, Hegel Theory oF the Modern Soto cit pp. W- 147. Pitre Jam LABARRIERE, "Ca Rationales Poul, Cmmmens Gérer Heritage Heplen el, pp 261-266 Jonguim Carla SAL GGADO, A Si de ig. om Hel, pp 381 585 10. Georg Wilhelm Teadrich HEGEL, Grndinien der Philamphie es Recs ch §§241 £244. p. 199 e201 11 Georg Withelm Medrich MEGEL. Grundlinten der Philophie dr Recht it § 736 yp. 197-198 12 Georg Wien Feri HEGEL Gnd der Pulse des Rec. 9 p- 2854248, pp. 201.203. 13. Flame ROSENZWEUG, Hegel Pa cit, p, 322315; Ene WEIL Hegel ec Bc op 8937: Shlomo [AVINERI Hagel Theory ofthe Moders State cit pp. M4714; Ginher MALUSCHKE. Pilsophische Grundlagen des demokratichen Verisngetaees rp. 237-248, oauin Cals SALGADO. Adis {Jugs em Hegel its pp, 422-428; Domenico LOSURDO, Hegel: Mar e 2 Trad Liberte pp TOU IG), 121-129: 204209 728-23; Pjrre ROSANVALLON, O Liberalism Econémieo: stride Iai de Mercad, Baars, EDUSC, 22, pp 190207 e Peto COSTA, Civitas cit, vol 2, pp. 435-19, Tondo, sina lina qu, emboranepore dice de etna, Hegel reconbece o dito de neces thie (Sorrecht como deo do ndivluo rant wo. CE Damenico LOSURDO, Hegel Mars © “Tengo Liber i, pp 135-139. 14. Geong Wilhelm Ercdich HEGEL, Grundinion der Philaphie des Rechts cit, §§ 396258 p. 48-50 € 2a 31 A Sobers Poplar om Hegel Marx liberdade, © Estado ¢ a razdo realizada, portanto, a liberdade. Fora do Estado, 0 hhomem ests fora de sua esséncia. O Fstado de Hegel representa 0 universal organi- zado em que o cidadio & a0 mesmo tempo, parte e sujeito do todo, particular enquanto nao pode existir sem o todo, ¢ universal como autdnomo sujeito do Estado. © ciidadio é, assim, a consciéncia particular clevada a universalidade. A totalidade de Hegel ¢ dialética: a parte esta de tal forma integrada no todo que teaz em sia univer- salidade do todo. No Estado, os interesses particulares ou 05 privilégios nao podem set consagrados ou predominar sobre o intexesse comum e a igualdadle. Por isso, em 1802, Hegel afirma categoricamente que a Alemanha nao era mais um Fstado.'5 A Alemanha nio era mais um Estado porque nio existia mais o universal, A concepgao de constituigo de Hegel & material, no formal.!6 O surgimento do Bstado moderno na Alemanha, como na Itilia,enfrentava virios absticwlos ¢ Hegel, assim como Maquiavel havia feito, vai apelar para uma lideranga politica capaz de cestruturar 0 Estado alemio.!7 ‘A soberania populat, no entanto, ndo existe no sistema hegeliano. Para Hegel. a soberania popular representa uma categoria politica do individualismo. Segundo Calera, em seu esforgo para elevar o principio da individualidade & méxima instin- cia ética e politica, Hegel se posiciona contreriamente a democracia individualista € abstrata, buscando uma concepeio totalizamte do Estado, Hegel, assim, nao concebe © povo como intermedidrio do particular a0 universal.!8 O povo nao é excluido, mas ecessita de uma instincia de universalizagéo, o Estado, para sua existéncia, Hegel reconhece a soberania do povo na medida em que este se organiza em Bstado,!® 15 Georg Wilken Feedich HEGEL. Uber de Reichaersnang, Monchen, CH, Beck, 2002p. 1; Ee [WEIL eget e rc pp 8-4 Shlamo AVINEEL, Hagel Theary ofthe Moder Statece-1p. 17 4: Nicol Maria Lopez CALERA, "xadoy Sobeania Ppala en Hegel it, yp. 19-151 «foam Cirle SALGADO, A ede fsa et Hegel it, pp 298-296, 401-408. Pass tera de Hegel necer se dese novo ipo de Exado pos» Aleman, vide Frane ROSENZWEIG, Hegel et Mea etpp 29 152, Sobre a concepaohepsins de Fando ve sinds. Reinert KOSELLECK. Sct und Souweane™ {in Oo BRUNNER: Werner CLNZE & Reinhact KOSELLECK lige), Geschichdche Grande i 915 yp. 37-40, 16 Georg Wie Fidviek HEGEL, Ober de eicheversung i, pp. 11-16 6-74 Fran ROSENZWEL, Hegel FP 12-12 « Shlonto AVINERL, Hagel Theory ofthe Madern Sti cpp. 38-44, 17 Georg. Wiel Friedrich HEGEL, Uber de Reichrtstng cle pp. 116126 © 175176, Pane ROSENZWEIG, Hegel ear ci, pp 12-129 Sine AVINER, ges They ofthe Mover Sate ‘it, pp. 461, especisimente pp. 561. Para a eepeo de Magulael por Hegel no temo sre 8 CCnstticio da Alenanh, vide Claude LEFORT, Le Travail de TOvusre Machine, ed Pai allman 1986, p- 109-112. Vide sind, Petro COSTA, Civitas cc, ol 2. pp. 421-126, 18 Ger he den HEGEL, Gren der Pope do Reis $30 «08, 264 285 19 Enc WEIL, Hegel eat ci, pp 0-6 Nclis Mata Lopes CALERA, “Eade ySobeanis Populus en ‘Hegel cic. pp 154-157, ier Jan LABARRIERE, “Paice de a Théri Politque Hegs heme Gwendoline JARCZY& & Pier Jun LABARRIERE, Hogeloa eft, yp. 246-278 « Giuseppe DUSO, “La Ruppresntana Politic ela ata Sutra Spceltiv nel Peco epslion', Quadern! orentn! pot |i Stovin del Pensiewo Girtdca Maderno 11, Mila, Git, 1985. pp 7.75. 289 ihe Herc A mediagio do aparato que garante a liberdade ¢ necessiria para o exercicio do poder do povo. A soberania popular diretn esta descartada para Hegel, pois ele recu- sa possibilidade de o bem comumn ser definido pelo somatério das vontades indivi- dduais, Para se realizar éticamente, um povo precisa adotar um princfpio de raciona~ Tidade e de universalidade, cuja organizacio se dé através da constituicio. A consti- tuigio é a organizagao da liberdade, onde os cidados se reconlhecem, sem perder sus individualidade, no Estado. Para Hegel, a fungio da constituigio 6 reunir as forgas ino controladas do povo e inclu‘-las como um elemento essencial dentro de uma totalidade na qual elas adquirem sentido. ‘A constituigio é entendida por Hegel como organizagao do Estado,2! referin- do-se, em tiltima instincia, ap povo racionalmente constituido, nio como simples associacio de individuos”? Para Hegel, no contririo dos juristas do século XIX, 2 ‘constituigdo é a realidade anterior & toda teoria. A pergunta sobre quem deve fazer a constituigio nio faz sentido, pois parte de pressupostos stomisticos de sociedade.2 ‘A questio do poder constituinte, assim, & deixada de lado por Hegel, cujo conceito de constituigio diz respeito a organizagio do Estado, nfo 4 carta que garante dite: 0s individuais. O que interessa, para Hegel, é que 0 texto escrito sempre correspon~ da. constituigio real, histérica.?4 ‘A finalidade de um povo, para Hegel, é se constituir em Estado, Um povo que ‘lo se constitui em Fstado, nao entra na histéria, O Estado é formado de acordo com as peculiaridades de cada povo, pois 6 a realizagio de sua liberdade concreta® As for- ‘mas de Estado sio histdrieas, desenvolvendo, em cada época, todos os momentos da idéia de liberdacle em um certo tempo e espaco. A forma mais perfeita do Estado oci- dental é 0 Estado constitucional.2 A defesa que Hegel faz do Estado constitucional fica clara também no escrito sobre Wiirttemberg, de 1817, em que defende a carta constitucional proposta pelo vei e propée sugestées para 0 seu aperfeigosmento.2? ‘20 Georg Wilhelm Freeh HEGEL, Grondnen der Philosophie des Rac cit, § 273, p- 25-288: Georg Wilhelm Fredich HECEL, "A Props di Relormbll Angas in Bee Polnigues Pcs, Editions (Champ Libre, 1877, pp. 356-362 €380 384; Erie WEIL, Hegel Bact pp 57-5% Nicola Mars Lopes CALERA, “Btado y Soberan Popular eo Hegel” cic, pp. 157162, Pee Je LABARRIERE, “La Rationalité €u Poswoir, on Comment Cater Fiérage Heglien” cit, pp. 253255 © Grendaline JARCZYK & Pareja LABARRIDRE, Le Sllogisme di Pour: Yes une Démocraie Hegelian? Pai, Aubin. 1989p 352353, 21. Georg Wisin Fredich HEGE. Grondinin dr Pilsophie dos Rech cit § 271.28. 22 Georg Wilhelm Fredich HEGEL, Grant der Piesphc dev Recht, § 74, p. 23-240 28. Georg Wiefm Friedvich HEGEL. Gnnalinion dr Philosophie dee Roce cie-§ 273. pp. 235-238 24 Brie WEIL, Hoe! et TBat elt, yp. 5657. Vide tambm Jcky HUNMEL, Le Constizadonnaiome Alles (18151916): Le Mole ANemand des Monarchie Limite, Pare PUB, 292, pp. 97-100 Sobre a concpciohegeions de consi, vide, and, Franz ROSENZWEIG, Hoge et [Ba i, Fp [BU338e Mauraso HORAVANTL, Cottusiane, Bologna, Mulino, 1989, pp. (3135, 25 Georg Wilhelm Fredkich HEGEL, Grandinin de Phiceophie dor Recs ct, § 278, pp. 239-240 25 Jaeguim Carlos SALGADO. A Idi de us eax Hagel cpp 11-417 21 Georg Will Fiedich HEGEL, “Actes de URmembls dee Eas Royse de Wartmborg en 1815 1816 Analy Cetgu” in Ev Poliiqus ct pp. 205-949, Frane ROSENZWEIG, Hage ot Bat ‘he pp. 248 258 Shlomo AVINERI, Hagel Theory ofthe Modern Sat ct p. 7240 A Soberania Poplar em Hegel e Marx A racionalidade ética do Estado é personificada no monarca.28 A soberania do ppova niio pode se opor & lo monarca; pelo contririo, ela $6 & possivel em articulagio com a do monarca, constituindo a soberania do Estado, Nio ha povo sem monarca, ‘mas também nao hi monarea sem povo, Para Hegel, a autGntica soberania & a do Estado.2° nao sendo possivel atribui-la ao povo, que esti integrado ao Fstado, O Estado detém a soberania porque articula monarca e povo pela organizagao de pode: res € corpos interinediarios. O Estado harmoniza 0 universal e o particular 50 O principe & 2 instancia de decisio que tira seu sentido da toralidade na qual se insere. Como o poder do principe contém is momentos da totalidade.3! ou sea, a uni versalidade da constituicao e das leis, a deliberagao como relagio do particular a0 uni- versal e a decisio como auto-determinacio2 9 melhor regime, para Hegel, é a monar~ quia constitucional. A monarquia promove a realizagio universal do diseito, o seja, a supressio dos privilégios, que 86 é possivel gor causa da ligago racional entre principe € povo, que torna a monarquia incontestivel.35 Q principe do Estado hegeliano é cons- titucional, mas exerce o papel preponderante do Estado, © ‘pouvoir princier”. que é 0 poder de auto-orgenizagao como mediador privilegiado da soberenia, representando a vontade unitéris do Estado, O principe decide, em iltima instancia, sobre a legislagio e sobre © governo, embora nao execute suas decisées, nem legisle.¥ Para Bourgeois: “Te pouvoir du prince hégélien est le pouvoir absolu dian monarque non absola">> O interesse dos individuos, para Hegel, se realiza no Estado, No Estado, além do principe, hi o poder represencativo, que determina universalmente o universal (legis Tativo) e 0 poder que subsume o caso particular & regra universal (administragio)36 Gwendoline Jarczyk @ Pierre Labarribre destacam a importancia da constituigao no sistema hegeliano, cujo equilibrio constitucional ¢frato da articulagio dindimica entre [2 Georg Wilhelm Bredich HEGEL, Grundlinion der Philoephie des Rechts cit. § 29 pp, 242-247 29. Georg Wilhelm Friedrich HEGEL Grandinion dy Philophi des Recht, §§ 277 pp. 240-247 30 Frane ROSENZWEKG, Hopel et [Pit cit, pp- 389-34), Niclis Misi Lopes CALERA “Fsado Serna Popular e Hel” ct p. 158159, Plrefean LABARRIERE, “Li Rationale du Powel, Comment Carer Hertge Uepelin” cit, pp. 157-268 c acky HURMEL. Le’ Contautonnalne Allemand ci pp 88-7 31 Georg Wilhelm Predich HEGEL, Grundinien dr Phionphie des Rect ch, § 272 pp 234-28, 52 Georg Wilhelm Pridsich MEGEL, Grondinen dee Phionope ds Rechte. 8275. 20, 38 Fane ROSENZWEIG, Hagel "Bact pp. 386339; Stam AVINERL Hopete Theory ofthe Mader State cpp. 185-169; Porefean LABARRIELE, “La Ratoyalité dv Pouvot. ou Commem Gtrer Teritage Heyelin” cle, pp. 268-70: Pierre Jeon LABARRIERE, “Plsichs te fe Théorie Polligue Hegecnne” ci, pp. 27-281 e Bernard BOURGHOMS, “Le Prince Hégilien” in Eudes Heplennes Baton 1 isin, are, PUR, 1952 pp. 207-208, 3H Bernard BOURGEOIS, "Te Prine Hégin” cit 208-200, 211-214 «223-238 35. Herard BOURGEOIS, “Le Prince Hagen” itp. 257 Rec Wail rm sinterpretagio opt bre 0 papel do principe a manarguaconmitacionalhgsians. Puree, opine representa o universal, = fontinidade do ado. O gincipe, corse "pve didnt cite ois tant, hs € © centro do sto, pois nto cra problema, em slugs. © prtcpe ne gover portant no € 9 Peder principal do Baa hegliano. © poder pep sei, para Wei, ds adminiaaga Ene WH, Hoge et "Batt p.99.62 264-68, 36 Georg Wiles Franch HEGEL, Grondinen der Pil ple des Recs i, § 301, pp 261-268 291 ier Merce ‘0s momentos da singularidade do principe, da particularidade da adminiseragiio e da universalidade expressa pela representagio politica da sociedade. O fundamento cconstitucional ver dessa essencial fluidez da realidade politica, inscrita em um pro- ccesso de mediagio reciproca. Na sintese de Eric Weil, 0 Fstado hegeliano & uma monarguia constitucional, fortemente centralizada na administracio e descentraliza~ dda no tocante aos interesses econdmicos. Possui um corpo profissional de funcioné- ios, no tem roligio oficial e & absolucamente soberano, tanto no exterior como n0 ‘seu interior. Hegel, assim, defende a monarquia constitucional e a democracia equi: librada. Fei primeiro a perceber a fungio determinante do econdmico na gestio politica ¢ a importincia da opiniso piblica, além de dar ao povo uma participagio ativa no Estado, Para Hegel, © govern e a administragio devem servir 8 singularida, de deciséria co principe e 4 multiplicidade do povo.” Hegel acredita, segundo Weil, que a administragio fara todo o pessivel para pre~ venir uma ruptura entre a realdade social e a forma de Estado, Embora tenha percebi- do.a existéncia do conflito socials ele achava que a administracio poderia mediar as classes em conflito ¢ evitar o rompimento, Este otimismo sera seguido por Lorenz von. Stein, A diferenca entre ambos e Marx é que Mars defende que s6 a agio revolucioné. via poderd realizar a sociedade verdadeiramente humana ¢ essa ago revolucionéria da classe oprimida se dari, inclusive, contra 0 Estado? Marx, assim, critica a teoria do Estado de Hegel, chamando-o de abstracionista ‘que no conseguiu levar em consideracio os sujeitos reais da historia, negando a soberania popular. A soberania de Hegel, segundo Marx, existe apenas como idéia, Se Hegel tivesse partido dos sujeitos reais como base do Estado, n3o precisaria sub, jetivar o Estado de uma maneiva mistica.® A soberania idealizada de Hegel 6, ainda, individualizada na vontade do principe, transformando os atributos do monarca em autodeterminagio da vontade. O monarca de Hegel & 0 momento da vontade indivi- dual no Estado, a soberania personificada.‘i Hegel, assim, atribui a qualidade viva da S37 ic WIL, Hagel Hit ot, pp. S657, 58-62 « 6-68; Fere-Jean LABARRIERE, “Planet deb ‘hore Pole egstenne” cpp 281-284 eGivendoline JARGZVK & Piet Jean LABARRTERE, LeSylogne a Povo cp. 2-351, Ainda sve cone de Est de Hoye, dewarando a ‘isto do Eada coma forma de esl de am ovo, vide Fate ROSENZWING, Hegel eat > 362-368 372-574 Sobre 0 conceto de representag police de Hegel, vide Giseppe DUSO. "a Rapeenetansa Pai Lana Stata Speculative el Peer Hegelian” ct pp. 4812 ‘a8 Emscu uklmotesco, sure ald efor leitor! nga, Hegel alma gue 2 relma no ia elacio- ‘avn problemas sect de Inter Havin cena de ramaformatin til, no apna pies ‘ar eleitral A efor, para ee ao era rail sufcee- Vide Goong Wilken Ciedsich HEGEL," A Prop a Refrai! Angee. 398.395 rane ROSENZWENG, Hagel eae, pp. 41325 Shlomo AVINER, Hepes Theory ef the Aledera State cit. pp. 28-220 © Jcky HUMMEL, Le Canaan alm Mem i, yp. 191-158 Stre a condenacan qu Hegel fa da arecetaia gle ‘3: vide Domenico LOSURDO, Hegel, Mara ea Dado Liberal it, pp. T2177 39 Ere WEI, Hope! at ct, pp. 106-108 “M0 Kas MARK, Zur Kris der HogenchenRectsphioophien Mr fngels Werk, Hein, Dist Veg 1977.vah 1. pp. 222-225 441 Kael MARX. Zur Krk dr HegeichenRechephilowphie cit p. 225-228, [A Soberania Popular em Hegel e Mare soberania ao Estado abstrato, hesitando em atribut-la a0 povo concrete, Se o princi pe ésoberano porque representa a unidadedo povo, ele representa a soberania popu lar. Portanto, afirma Marx, a soberania popular nao existe por meio do principe, mas ‘principe é que existe por meio da soberenia popular. Afinal, como enfatiza Marx, 0 Estado € abstrato, s6 0 povo & concreto "Der Seeat ist ein Abstraktum. Das Volk allein ist das Konkretum’):? ‘0 objeto da filosofia do direito hegeliana ¢ 0 conceito do direito na sua efetivi dade, ou seja, 0 diteito como uma realidade naquela determinada situacio histrica, rio 0 direito como deve ser. O direito € 3 existéncia da vontade livre, ou seja, sua cesséncia 6a liberdade 3 O direito &a realidade produzida pela vontade conereta dos hhomens, ou, nas polavras de Joaquim Salgado: “o direito ral como & no seu tempo tal como se forma na conjuncio dos seus momentos, pensado, &a idéia do direito, 0 ‘conceito da realidade denominada direito"*4 A concepcio de direito de Hegel, por tanto, nde tem nenhuma relagio com a visio formalista e privatista da proposta da Escola Historica de Savigny, de quem divergia essencialmente.’® Marx, por sua vez, defende a revolugio auto-emancipadora do proletariado. Por este motivo, Marx e Engels vio estar em constante conilito com a social-democracia alemé, particularmente com a visio oriunda das concepgées de Ferdinand Lassalle, entendendo a saida parlamentar ¢ do sufrigio universal como limsitadas, A emanci paciodos trabalhadores vird de uma revolucao socialista, nio por concessées de umia rminoria esclarecida.*6 Friedrich Engels, noentanco, em 1895, no preficia 3 nova edi- Gio de As Lucas de Classe na Franca entre 1848 ¢ 1850, de Karl Marx, destacou a imporcincia do sufrégio universal como outro meio de luta dos trabaltadores, ser- vindo como instrumento de emancipacio do proletariado, dando novas possibilida des para a Inta contra a dominagio burguesa a partir das prOprias instituigdes esta tais. A transformagio completa da organizagao social, para Engels, necessita da mobilizagio das massas, cujo trabalho de conscientizagio poderia ser realizado pelo sufrdgio universal” BTA NaRY, Zor kik de eget Rechsphilophicit 9p, 29-29. Videos, Glee MALU. CCHKE, Pilospliscle Grundayen dev deodratetien Verfoatngstate ci. pp 260 27; Nos Maria Ieper CALEIUA, "Enadoy Sober Ppularen Hagel” 138; Michel LOWY, A Pao d Revo no Tove Mrs Peps, Votes, 200, pp. 79-8 jacky HUN, Le Consttiounaline Allemand Gp GS-10 De ara com Ene We na us Cea lia do ite de Heel. Marx to dese ‘ove una tors pot da Esdo. Fe WEIL Hagel ac pp. II-US, 48. Geary Wilhelm Friis HEGEL, Grundlinen der Philp det chic, § 29, p48 Joaquim (atios SALGADO. A fale fsia em Hegel ee pp 32733, “46 Jonguim Carlos SALGADO, A Idi ce gn en gel it, p 3H, 45 Para doputa teria ene Hegel Sutgny, vide Aldo SCHIAVONE, Alle Origin det Dirk Borge sitoyp 3-0, 46 Michuel LOWY, Teoria da Revol no Jovem Mars it pp 229-254 «739-245. 427 Fredch ENGELS, “ooetung [a Kal Mars Kbenkmple in Trankeich 1808 bis 150° 1895" a ‘Marc Bngol Werke, Belin, Det Ver 168, 2, p. SL S19 523 54, Para umsansliz da rela (ges ete o socal eo debate sobre aueiie uninal ng Franca ene 1872 # 1939, ve Mare DAVID. La Souveraineé da Peple Pars BP, 186 pp. 256288 Citbero Retest Na Critica da Filosofia do Direito de Hegel, Marx afirma que, na democracia, que consiste na verdadeira unidade do universal e do particular, a constituigio é a autodeterminagio do povo. Ou seja, a constituiglo nao existe em si, mas segundo a realidade, em seu fandamento real, © povo concreto. A constiigéo é um produto livre dohomem.# A questdo que Hegel nfo consegue resolver, segundo Marx, &3 do papel do poder legislativo em relagio A constituigdo. Para Hegel, o legislative fiz pare da constituiglo, masa constituigio nio se fa por si mesma. preciso que exis- ta ou tenha existido um poder legislativo antes e fora da constituigdo.® O poder legislativo tem um duplo significado. Por um lado, é 0 poder de organizar 0 univer- sal, ultrapassando a constituigdo (‘Sie greiftiber Uber die Verfassung’). Por otto, também é um poder constitueional, submetido, portanto, & constituigio. Segundo ‘Marx, Hegel tenta resolver essa contradigio afirmando que a constituigdo & pressu- posta 20 poder legislativo, que pode reformé-la, Ou scja, pode decompé-la parcial- ‘mente, mas nio totalmente. A antinomia, assim, subsiste. Marx afirma que a verda~ deira quostio ¢ se o povo tem 0 direito de se dar uma nova constituiglo. Ea respos- ta 86 pode ser afirmativa, A constituigdo so as determinacbes universes de cada povo, que resultam da acomodagio entre o Estado politico e 0 Estado nao politico. A antinomia, assim, pode ser resolvida com a distingio francesa entre “assemblée cons- riruante” e “sssemblée constituée”5° Marx, no encanto, nfo vai ser um teérico do poder constituinte stricto sensu, ‘mas do poder constituinte Jato sensu, enquanto frato da revolugio proletéria, Para Marx, na descriglo de Michael Lawy, a alienagao econdmica do mercado capialista ‘cortesponde a uma alienagio politica. Por isso, a emancipagio politica burguesa pro- jeta a vida politica em uma esfora externa a sociedade, fundada no mito de um sal- vador que constitui o Estado, © proletariado nao precisa desse ajuda “do alto", como | ppensavam os socialistas utépicos. Embora a revolugdo burguesa também pretenda mudar o mundo, rapidamente a ordem é zestaurada e as promessas se frustram. A revolugdo burguesa sempre efetua uma restauragdo, ainda que parcial, da situagio anterior ¢ 2s mudancas decepeionam os que nela acreditaram. O conservadorismo é intrinseco & burguesia. J& 0 proletariado & 0 herdeiro da proposta transformadora do ‘mundo, assumindo o lugar abandonado pela burguesia. Séa revolugdo proletéria tem capacidade, para Marx, de produzir 0 novo, de estar voltada para o futuro.5! As con- ‘digées para o surgimento da idéia de auto-emancipagdo séo conjunturais (a situagéo revolucionéria) e estruturais (a condigSo proletéria). O papel da conjuntura essen- cial, pois & durante as grandes crises revoluciondrias que as masses do proletariado GB Kar MARX, Zu Ki der Hagechon Rechespilaophie it, op. 230-22 49 "“Bamus eine gacagtbende Gevalevor der Vertsung und aus der Versa besten oder besten ‘abe (los ho propio tox) In Kal MARX, Zar Ke der HeglchenRechpilsophi ct 257. 50 Kas MARX, Zur Kris der HegelschenRechphilosphie it pp 257-260. 51 Marcelle ques ovlugi oil deve npirar no uuzo,nio no pasa, Vide Kar MARX, Der ache delat aie des Loe Bonaparte in Mrs Fngels Werk, Bed. Diez Vera, 196, vl 8p 117 A Soberaia Popalirem Hegel e Max adquirem auvo-conscincia da sua necessidade de aute-Libertago, Para Manx, se ndo for a auto-libertagdo do proletariado, nio se trata de revolugio, de transformagio ‘consciente da sociedade. A revolugio comunista ¢ a auto-libertagio das massas. O papel dos comunistas ¢ 0 de catalisar a totidade das massas no movimento operé- tio, que € 0 instrumento de sva auto-libertagio 3? Em A Questio Judaica, Mare faz uma critica radical da sociedade burguesa, especialmente do discurso dos direitos do homem, que entendem o homem apenas ‘como “uma ménada isolada, dobrada sobre si mesma” (“sls isoliertr auf sich zuriick- gezogener Monade’)53 A cidadania liberal, com sva emancipagio exclusivamente politia, esc a servigo da burguesia. © direito de liberdade 6, na pritica, abolido pelo direito de propriedade, Deste modo, para Marx, nenhum dos chamados “direitos ‘humanos" ultrapassa a barreira do homem como individuo isolado na sociedade bur- sguesa, Apenas a verdadcira emancipagio universal do homem individual concreto, que difere essencialmente do homem nio rolitico da sociedade burguesa, é capaz de superar as contradigdes desta sociedade.¢ Na Alemanha, no entanto, nem os direitos individuais burgueses estavam sgrantidos. A burguesiaalemg, segundo descreve Marx em “Introdugdo a Critica da Filosofia do Direito de Hegel”, ndo era revctucionéria, sendo medrosa e conservado- rs, quando deveria ser revoluciondria e ousada. Deste modo, seria impossivel uma revolucio burguesa na Alemanha, cuja emancipagéo teri que vir com a emancipacio universal da revolugio proletéria. Ao contririo da burguesia, o proletariado, de acor- do com Marx, nfo pode emancipar-se a simesmo sem emancipar também todas as demais clases sociais.5 E a forma de organizacio do proletariado deve se dar por ‘meio de um partido comunista, No Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels destacam a importancia do proceso de auto-organizacio do proletariado em um par- tid, representante e mediador da totalidade do proletariado.56 52 Withael LOWY, A Teors do Revolugto no Jovem Mari cit, pp. 4253 ¢ Renato Janine RIBEIRO, “© "Novo e0"Patos (Em Taro do ‘Deco Brumavoy" in A Ukins Rszto doe Ree Enis stir Posts «Polis, rcimpr, Sto Palo, Companhia das Leras, 2002, pp. 120-12] © 128 Vide amb Antonio NUGR, 11 Pocer Cottaent:Sggoslle Alemadve del Moder, 2 e, Roma, Manta Libri 2002, Pp. 524329, Ainda sobre o conato de revoke para Marx vide Kael GRIEWANK, Der neretiche Kevolutonsbegif city pp. 217-222 e Reinhar KOSHLLECK, "Revolutson (Rebelion, Auieubs, Burgers” le, pp. 738-754, 59. Kae MARY, Zar fudenfage in Mare-Sngle Werke, Beri, Diets Vesug, 197 vo, hp. 364, 54 Karl MARX, Zur Jadenfage cl, pp 362-370 «Michael LOWY, A Teor da Revol a fovem More ‘tp. 9498. Vie, anda, Pleo COSTA, Chir it, vol 2, p 580-590 « Ge-c9, 55. Kau MARX, "Zur Kel dor Hegdechen Rechrphibaighle~ Eunletang in Mace Engels Werk, Belin, Diet Veg 1977, vol 1p. 389 391 e Mlchuc| LOWY, A Teoria de Revoldo no Jovem Mare ci 98-107 538. Kati MARX & Frindsich ENGELS, Monit der Fommunitchen Para in Karl MARX & Feiedsich JINGELS, Auigewahice Schriten, Sen, Diet Verlag, 1955, vol 1, pp. 22 2-1 « 5354 © Michael DOWY, A Teoria do Reve no Jove Marx cit p- 113-228. Sogn Ly, prime vex gue Marx ‘menciona aia dem paride camanisa ocr "A cologa Alem” Nee exo ce detaca gee © erterevalclndsio do proletarian decor dena cond scl concret, que 2" emcee elt 2s

Você também pode gostar