Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Esta nova fase do pensamento político muito se deu pelos fatos do desgaste dos
valores morais da época assim como a realidade política em que se encontrava em
Florença e no restante da Itália. Os principais pontos que devemos nos fixar são:
Realismo Político
O realismo político inaugurado por Maquiavel tem como base a distinção entre o
que deve-ser e o que é, tal como afirma em seu livro O Princípe (escrito em 1513, mas
publicado apenas em 1531, após sua morte).
Porém, sendo minha intenção escrever coisas que sejam úteis a quem
se interesse, pareceu-me mais conveniente ir direto à verdade efetiva da
coisa que à imaginação em torno dela. E não foram poucos que
imaginaram repúblicas e principados que nunca se viram nem se
verificaram na realidade. Todavia a distância entre o como se vive e o
como se deveria viver é tão grande que quem deixa o que se faz pelo
que se deveria fazer contribui rapidamente para a própria ruína e
compromete sua preservação: porque o homem que quiser ser bom em
todos os aspectos terminará arruinado entre tantos que não são bons.
Por isso é preciso que o príncipe aprenda, caso queira manter-se no
poder, a não ser bom e a valer-se disso segundo a necessidade.1
1
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Tradução de Maurício Santana Dias. 1ª edição. Editora Penguin:
São Paulo, 2010, versão digital Kindle.
1
Deste modo vemos que Maquiavel considera que atitudes extremas são
necessárias para dar fim a males extremos, ainda que estas atitudes sejam cruéis. Isto
deriva de sua visão pessimista do ser-humano, que, embora não afirme que o homem é
bom ou mal por natureza, acredita que ele tende a ser mal, daí um príncipe não deve
hesitar em agir e tomar as medidas necessárias para ser temido. O ideal, todavia, seria o
de ser amado e temido, ao mesmo tempo. Como a coincidência dessas duas coisas são
muito difíceis, o príncipe deve fazer a escolha mais funcional para o governo eficaz do
Estado.
Todavia, o príncipe deve inspirar temor de tal modo que, se não puder
ser amado, ao menos evite atrair o ódio, já que é perfeitamente possível
ser temido sem ser odiado. Isso só será viável se ele não cobiçar os bens
de seus cidadãos e de seus súditos, bem como as mulheres destes. E,
quando, for imprescindível agir contra o sangue de alguém, que o faça
por uma justificativa sólida e um motivo evidente. Mas o mais
importante é abster-se dos bens alheios, pois os homens se esquecem
com maior rapidez da morte de um pai eu da perda de um patrimônio.3
Virtude [Virtù]
2
Op. Cit., capítulo VII.
3
Idem.
2
menor virtude de quem os conquista. E, posto que a passagem de
homem privado a príncipe pressupõe virtude ou fortuna, parece que um
ou outro destes atributos pode mitigar, em parte, muitas dificuldades;
não obstante, aquele, que menos se baseou na fortuna se manteve por
mais tempo. 4
A partir do que foi dito a posição de Maquiavel fica bem clara: tomando como
exemplo que já foi realizado por alguns personagens históricos – que neste mesmo
capítulo aparecem, por exemplo, Moisés e Ciro –, os que mais asseguraram o poder se
basearam na virtude e não na fortuna.
Tenho para mim que é melhor ser impetuoso que prudente: porque a
fortuna é mulher, e é preciso, caso se queira mantê-la submissa, dobrá-
la e força-la. De resto, vê-se que ela se deixa vencer mais por estes que
por aqueles que procedem friamente; no entanto, na condição de
mulher, ela é sempre amiga dos jovens, os quais são menos respeitosos,
mais ferozes e, com maior audácia, a comandam.6
4
Op. Cit, cap., VI.
5
Op. Cit., cap., XXV.
6
Idem.
3
romana, baseada na liberdade e nos bons costumes, e, portanto, em um “retorno aos
princípios”. Este ideal podemos ver em seu livro Discurso sobre a primeira década de
Tito Lívio, escrito em 1517 e publicado em 1531.