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SOMENTE NO ACERVO O retorno do fantasma


DA REVISTA CH Colunista fala sobre os mecanismos evolutivos dos vírus e o surgimento da gripe suína na população

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DA CH POR E-MAIL A compreensão da história evolutiva dos diferentes grupos de
digite seu email vírus é vital para que possamos entender a sua epidemiologia e
desenvolver estratégias eficazes para o combate de uma série
de doenças humanas.
NOTÍCIAS
Alguns vírus têm profundo efeito sobre a história da
ESPECIAIS humanidade, enquanto outros têm impacto marcante e atual
sobre a saúde pública. Compreender a evolução dos vírus e dos
RESENHAS meios pelos quais eles obtiveram sua diversidade genética atual
pode nos auxiliar a entender esses efeitos.
COLUNAS

Os vírus são extremamente diversos e podem ser agrupados de


PERFIS
acordo com seu material genético: DNA ou RNA de fitas simples
ou dupla. Contudo, diferentemente de outros grupos
GALERIA
taxonômicos, não há entre os variados grupos de vírus
similaridade filogenética – ou seja, relação evolutiva.
ESTÚDIO CH

Tipicamente, vírus pertencentes a uma mesma família possuem


genoma similar e alguns genes semelhantes ou homólogos.
Membros de famílias diferentes raramente possuem genes O microbiólogo e botânico holandês Martinus
homólogos identificáveis. Podemos, portanto, traçar uma árvore Beijerinck, um dos fundadores da virologia, em
filogenética descrevendo as similaridades evolutivas dos seu laboratório (foto: Delft School of Microbiology
organismos que apresentam estrutura celular (bactérias, Archives).
arqueobactérias e seres eucariotos), mas isso não é possível
para os vírus.

Os vírus são classificados em cerca de setenta famílias. Destas, vinte infectam o homem. A diversidade
genética dos grupos de vírus é afetada por sua história evolutiva e a de seus hospedeiros. Ancestrais
humanos foram infectados por muitos vírus e a compreensão dessa relação nos diz muito sobre a nossa
própria história evolutiva.
A coluna Por
Dentro das Por exemplo, vírus que causam doenças associadas com aglomerações não puderam se manter nas
Células é pequenas populações caçadoras e coletoras de homens pré-históricos. O vírus do sarampo é um exemplo
publicada na primeira e clássico desse grupo. Indivíduos afetados por essa infecção desenvolvem imunidade durante sua vida. Por
na terceira sexta-feira de isso, a manutenção desse vírus requer um suprimento constante de indivíduos não infectados –
cada mês pelo biólogo principalmente crianças.
Jerry Carvalho Borges.
Visite o arquivo para ler Tem-se estimado que o sarampo pode persistir em
as colunas anteriores e populações com pelo menos 250 mil indivíduos, algo que só
leia a apresentação do ocorreu com grupos humanos há 5 mil anos, no Oriente
colunista. Para enviar Médio. Uma vez que os primeiros humanos chegaram ao
críticas, comentários e continente americano há mais de 10 mil anos, eles não
sugestões, escreva para estiveram expostos – até 1492, quando a América foi
falecomjerry@ “descoberta” por Cristóvão Colombo – a vírus adquiridos por
yahoo.com.br populações humanas aglomeradas. Por isso, estima-se que
até o século 16 cerca de 90% das populações nativas das
Américas morreram de doenças causadas por vírus como o
sarampo e a varíola, provenientes dos invasores europeus.

Por outro lado, alguns vírus passaram a afetar a saúde


humana apenas nas últimas décadas do século 20. O HIV é
o exemplo mais conhecido desses vírus. Existem, contudo,
diversos outros, como o Marburg, o Ebola, o Nipah, o
Hendra e o SARS, que têm um espectro de ação mais
limitado. Essas viroses emergentes estão associadas com o Micrografia do vírus do sarampo, que precisa de
crescimento demográfico e as alterações ambientais e a grandes aglomerados humanos para se manter na

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poluição que vêm nos trilhos desse aumento populacional.


população (foto: Cynthia S. Goldsmith/ CDC).

Além disso, a maior facilidade dos indivíduos para se


deslocar para qualquer lugar do planeta contribui para o surgimento dessas infecções. Por exemplo, em
1999, foi noticiado um caso de infecção por um vírus da região oeste do rio Nilo (África) nos Estados Unidos
e, em 2005, o vírus Chikungunya, originário da África Central, contaminou aproximadamente um terço dos
cerca de 770 mil habitantes das ilhas Reunião, no oceano Índico. Outro caso que estamos acompanhando
atualmente nos noticiários é o alastramento global da gripe suína a partir do México.

Diversidade genética viral


A diversidade genética contemporânea dos vírus está associada com o período de separação dos diferentes
grupos a partir de seus ancestrais e com a sua respectiva taxa de evolução. Diversos vírus têm sido
adquiridos pelo homem a partir de outras espécies animais (por exemplo, o vírus da gripe suína) e sofrem
muitas vezes modificações posteriores na espécie humana.

Forças como a deriva genética, a seleção natural, as taxas de mutação e a competição entre indivíduos de
espécies iguais ou diferentes obviamente atuam sobre esses vírus. Grupos menores ou que apresentem uma
menor capacidade de dispersão e que sofram uma proporção maior de mutações genéticas podem evoluir
mais rapidamente.

Vírus de RNA que dependem da RNA polimerase para a sua replicação estão mais sujeitos a sofrer
mutações. Isso se deve ao fato de que essa enzima é mais propensa a erros do que a DNA polimerase,
associada à multiplicação dos vírus de DNA.

Substituições das subunidades componentes do DNA e do RNA – conhecidas como nucleotídeos – que não
afetam o tipo de aminoácido codificado (substituições sinonímias) são provavelmente neutras do ponto de
vista evolutivo. Por outro lado, substituições não-sinonímias podem afetar de forma negativa ou positiva a
estrutura tridimensional da proteína codificada e influenciar, portanto, a sua atividade.

Como as proteínas têm sido, durante milhões de anos, submetidas a uma forte pressão seletiva, baseada na
eficiência de seu relacionamento com os seus substratos, modificações na sequência de aminoácidos e,
consequentemente, na estrutura tridimensional das proteínas quase sempre são nocivas para essas
moléculas orgânicas.

Vírus da gripe
O vírus da gripe ou influenza representa – juntamente com o
HIV – o exemplo mais extensivamente estudado de vírus
que têm se associado ao homem. Os homens são
infectados por três vírus da gripe relacionados entre si.
Esses vírus, denominados A, B e C, pertencem à família
Orthomyxoviridae.

Dentre esses três vírus da gripe, apenas o tipo C causa


infecções mais brandas. O vírus tipo B pode provocar
consequências danosas para a saúde de seus hospedeiros.
Por isso, ele é utilizado no Brasil em campanhas de
vacinação para idosos, nos quais pode causar problemas
graves e mesmo óbitos.

O vírus tipo A, por sua vez, está associado à maioria das


epidemias com consequências sérias. Tipicamente, as
propriedades antigênicas (capazes de provocar a formação Micrografia colorizada do sorotipo H1N1 do vírus da
de anticorpos) dos vírus tipo A variam um pouco de um ano gripe tipo A, responsável pela pandemia de 1918 e
para o outro, um processo conhecido como deriva pelo atual surto de gripe suína (foto: E. Palmer e R.E.
antigênica. Esse processo é responsável pela incapacidade Bates/ CDC).
do organismo humano hospedeiro de criar uma resistência
permanente contra a gripe.

Contudo, em três ocasiões durante o século 20, as propriedades antigênicas do vírus da gripe tipo A
modificaram-se radicalmente. Essas mudanças (conhecidas como mudanças antigênicas) fizeram com que
esses vírus passassem a apresentar um sorotipo diferente (linhagem que induz anticorpos diferentes no
hospedeiro) e geraram pandemias que levaram milhões de pessoas à morte.

O vírus da gripe tipo A possui um genoma formado por uma cadeia de RNA de fita simples com oito
segmentos separados. Cada um desses segmentos corresponde grosseiramente a um gene. Cada sorotipo é
determinado pelas proteínas hemaglutinina (H) e neuraminidase (N), codificadas respectivamente pelos
segmentos 4 e 6.

Dezesseis sorotipos H e nove N são conhecidos. Existe também uma série de combinações entre eles.
Porém, apenas poucos desses sorotipos são encontrados no homem e, tipicamente, apenas um ou poucos
estão presentes na população humana em um dado período. Por outro lado, todos os sorotipos são
encontrados em aves aquáticas, o reservatório natural do vírus da gripe tipo A. Alguns sorotipos estão

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presentes também em mamíferos como os cavalos e os porcos.

A evolução dos vírus da gripe


Os vírus da gripe foram caracterizados inicialmente na década de 1930 e o primeiro sorotipo identificado foi
denominado H1N1. Uma mudança antigênica ocorreu em 1957, levando ao surgimento do sorotipo H2N2 e à
pandemia conhecida como gripe asiática. Outra mudança ocorreu em 1968 e deu origem ao sorotipo H3N2 e
à gripe de Hong Kong.

Estudos indicam que a gripe espanhola de


1918 marcou o início da infecção dos vírus
H1N1 no homem. Essa foi de longe a
pandemia humana mais severa do século 20 –
e obviamente de todos os tempos. Estima-se
que ela tenha levado pelo menos 40 milhões
de pessoas à morte (veja coluna de janeiro de
2007 ).

O enorme impacto dessa pandemia sobre a


saúde humana não ocorreu devido a uma
associação de formas virais já presentes na
espécie humana, mas sim devido à introdução
de um sorotipo completamente novo de vírus
(o H1N1) proveniente das aves.
Hospital militar nos Estados Unidos durante a pandemia de gripe
Durante os últimos anos, tem-se observado o espanhola de 1918 (foto: National Museum of Health and Medicine,
ressurgimento do sorotipo H1N1 na população Armed Forces Institute of Pathology).
humana. Um exemplo desse tipo de evento é a
atual gripe suína, que, até o fechamento desta coluna (no dia 30 de abril), já havia infectado 260 pessoas
somente em seu local de origem – o México – e provocado 12 mortes no país.

Portanto, a gripe suína não representa uma grande novidade em termos evolutivos, mas sim um velho
fantasma que a humanidade tem combatido nos últimos 90 anos.

Jerry Carvalho Borges


Universidade do Estado de Minas Gerais
01/05/2009

SUGESTÕES PARA LEITURA


Hendrix,R.W., Lawrence,J.G., Hatfull,G.F., e Casjens,S. (2000). The origins and ongoing evolution of
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Louz,D., Bergmans,H.E., Loos,B.P., e Hoeben,R.C. (2005). Cross-species transfer of viruses:
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vaccines. J. Gene Med. 7, 1263-1274.
Lovisolo,O., Hull,R., e Rosler,O. (2003). Coevolution of viruses with hosts and vectors and possible
paleontology. Adv. Virus Res. 62, 325-379.
Reid,A.H. e Taubenberger,J.K. (2003). The origin of the 1918 pandemic influenza virus: a continuing
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Rumyantsev,S.N. (2006). Genetic immunity and influenza pandemics. FEMS Immunol. Med. Microbiol.
48, 1-10.
Shoham,D. (2006). Review: molecular evolution and the feasibility of an avian influenza virus
becoming a pandemic strain – a conceptual shift. Virus Genes 33, 127-132.
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Top. Microbiol. Immunol. 315, 67-83.

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