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Resumo

Parte Geral do Novo Código Civil


Ubi societas, ibi jus, e vice-versa; quem forma a sociedade são as pessoas, por isso o
CC, que é a constituição do cidadão, começa tratando das pessoas.
1 – DAS PESSOAS: os animais e as coisas podem ser objeto de direito, mas apenas as
pessoas são sujeitos de direito. Mesmo quando uma lei ambiental protege a fauna, ela
visa na verdade ao próprio homem e seu direito a um meio ambiente equilibrado (ver
CF, art. 225). As pessoas é que vão se relacionar na sociedade, precisamos dos outros, é
impossível viver sem as outras pessoas para atender nossas necessidades e satisfazer
nossos interesses individuais de saúde, educação, habitação, lazer, etc. Das relações
entre as pessoas, cuida o Direito Civil.

Podem as pessoas ser físicas (art. 1o) ou jurídicas (40):


A) pessoas físicas: são as pessoas naturais, os seres humanos, cuja personalidade
começa do nascimento com vida (2o); personalidade é a aptidão ou capacidade para
adquirir direitos e contrair obrigações; todos têm capacidade de direito (1o), mas o
incapaz (arts. 3oe 4o) não tem capacidade de fato, falta-lhe consciência e vontade,
precisando ser assistido e representado (115, 1634,V – pai, tutor e curador); a
incapacidade do menor cessa aos 18 anos ou com a emancipação (p.ú., do 5o) –
aquisição da capacidade de fato;
Ao longo de sua vida o homem se relaciona com outros homens (ex: contratos) e com as
coisas (ex: ocupação, 1263) para satisfazer suas necessidades e formar um patrimônio;
este patrimônio é a projeção econômica da personalidade; mas a personalidade também
envolve direitos extrapatrimoniais, que são os direitos personalíssimos (ex: alimentos,
vida, liberdade, imagem, privacidade, honra, nome, nacionalidade, parentesco – é o
direito de “status” das pessoas, arts. 11, 13, 16, 21), cujo valor econômico só surge
quando violados (12); os direitos personalíssimos são exemplificativos, são “numerus
apertus” e são todos os indispensáveis à vida saudável; a personalidade do ser humano
termina com a morte, que pode ser presumida no caso do ausente ou de quem estava em
perigo de vida (6o e 7o). Ex de perigo de vida: pessoa que viajava dentro de avião que
caiu no mar, mesmo que não se ache o corpo, se presume que ela morreu e juiz pode
mandar expedir a certidão de óbito.
B) pessoas jurídicas: são o conjunto de pessoas físicas e de bens, dotado pelo Estado de
personalidade, para juntar esforços e realizar grandes empreendimentos; a PJ permite ao
homem superar seus limites físicos e ultrapassar a brevidade de sua vida; como a PF, a
PJ também tem um nascimento, registro, capacidade, domicílio, morte e sucessão (arts.
46 e 52); no séc. XX a PJ desenvolveu-se muito e neste séc XXI tudo é feito
por associações, sociedades e fundações (44); ao contrário da PF, cuja capacidade de
regra é plena, a capacidade da PJ é limitadaa sua finalidade, prevista no estatuto que a
criou; as PJ podem ser de direito público (dir. administrativo, 41 e 42) e de dir. privado,
interessando estas ao dir. civil pois beneficiam particulares;
As associações não tem fins lucrativos (53 CC; 5o XVII CF, ex: partidos políticos, 17 e
§ 2o, CF), ao contrário das sociedades que visam ao saudável lucro (981) e que vão
interessar ao dir. empresarial; já a fundação é um patrimônio despersonalizado
destinado a um fim altruísta indicado pelo fundador (62 e p.ú.), fiscalizada pelo
Ministério Público (66); diz-se “despersonalizado” pois o gestor da fundação não é seu
sócio, é mero administrador; quando a PJ for usada para lesar terceiros (ex: fraudar
credores), o Juiz deve desconsiderá-la para responsabilizar seus sócios e membros, ou
seja, como se o ato fosse praticado por uma PF (50); atenção que a desconsideração é
exceção, precisa atender os requisitos desse art. 50, ou seja, desvio de finalidade ou
confusão patrimonial, comprovado em perícia contábil. Isto porque, via de regra, a PJ é
distinta dos seus membros, apesar de serem eles que a representam e agem por ela.
Pensar diferente, ou seja, responsabilizar os sócios por toda insolvência da empresa,
sem atentar para o art. 50, fragilizaria o empreendedorismo. Quem vai arriscar seu
patrimônio num negócio, sabendo que se o negócio fracassar, todos os bens do
empresário serão confiscados? E pela importância das empresas na sociedade, pela
geração de empregos, riqueza e impostos que ela traz, o empreendedorismo precisa ser
protegido pelo Direito.
2 – DOMICÍLIO: toda pessoa tem um lugar onde se concentra sua vida, sua família e
seus negócios; o nomadismo é exceção pois as pessoas sempre se fixam em algum
lugar; domicílio é o lugar onde a pessoa física reside (elemento objetivo) com ânimo
definitivo (elemento subjetivo), conforme art. 70 e 74; já a PJ tem por domicílio o lugar
de sua sede (75, IV) prevista em estatuto; domicílio é importante para fins civis (7o,
LICC), processuais (competência), eleitorais e fiscais (tributários); admite-se
a pluralidade de domicílios (72); algumas pessoas têm domicílio fixado por lei
(domicílio necessário, 76 e p.ú.).
3 – DOS BENS: são os objetos raros e úteis ao homem que podem ser apropriados
(propriedade = é o direito real mais importante; não é só, a proteção à propriedade é
condição de desenvolvimento, pois história mostra que neste séc XXI os países
socialmente mais justos e economicamente desenvolvidos, são aqueles que garantiram a
propriedade dos seus cidadãos ao longo dos séculos).

Classificação dos bens:

a) incorpóreos (softwares, dir. autoral, fundo de comércio) e corpóreos (a grande


maioria), estes sujeitos à posse e à usucapião; atenção que neste séc XXI os bens
incorpóreos tem mais valor que os corpóreos, basta lembrar o patrimônio de
companhias como Apple, Google e Windows. Até o séc XX ouro, terra e petróleo eram
os bens mais preciosos. Agora tecnologia e informação são a riqueza.

b) móveis (podem ser deslocados sem dano, 82), semoventes (seres com movimento
próprio, 82) e imóveis (não podem ser deslocados, 79; sujeitam-se a fins sociais, § 1odo
1.228);
c) fungíveis (são os móveis que podem ser substituídos por outros, 85, ex: dinheiro),
consumíveis (se exaurem com o uso normal, como os alimentos) e infungíveis
(individuais como os imóveis e uma obra de arte);

d) divisíveis (87, imóvel, pois forma coisa autônoma com valor proporcional ao todo)
e indivisíveis (diamante grande, barco, carro)

e) singulares (89, um livro, um boi) e coletivos (90, universalidade de fato=


biblioteca, rebanho; 91, universalidade de direito= complexo de rel. jurídicas =
patrimônio, herança, massa falida);
f) principais e acessórios (92): o acessório segue o principal (1.209) e pode
ser: natural(frutos e produtos), industrial(derivado do trabalho humano) e civil (juros,
aluguel, rendimentos); as pertenças via de regra não são acessórios, mantendo sua
individualidade e autonomia, sem incorporação à coisa principal; as pertenças são
empregadas intencionalmente para exploração, aformoseamento ou comodidade da
coisa principal (ex: som num automóvel, lustre e cortina numa casa, 94).
Benfeitorias: são acessórios industriais, decorrentes do trabalho humano, ou seja, são
obras feitas para conservar, melhorar ou embelezar a coisa principal (96 e 97).
g) públicos (99) e particulares (98), mas há bens que a ninguém pertencem (é a res
nulius1263, que difere da res amissa 1233, que difere da res derelictae 1275, III); outros
bens estão fora do comércio(ex: bens públicos 100, bens abundantes como a energia
solar, o ar, a areia da praia, a água do mar; bens inalienáveis por determinação do dono
em favor de terceiros nas doações e testamentos 1911 e p.ú.; bem de família dos arts.
1.715 e 1.717)
obs: sobre o Bem de Família: são bens protegidos pela lei com a inalienabilidade e
impenhorabilidade para garantir a família com uma moradia – 1.712. É exceção à regra
de que o proprietário não pode tornar seus bens impenhoráveis, já que a garantia do
credor é o patrimônio do devedor – 1.715. No CC existe o bem de família voluntário,
que exige um custo para registro (1.714). Já na lei 8.009/90, temos o bem de família
legal, com proteção automática, independente de registro (art. 5o da lei), de modo que o
bem de família voluntário tem pouco uso prático. Crítica: dificulta a obtenção de
crédito por quem só tem um imóvel residencial, privando os maus e bons pagadores de
acesso a crédito.
4 – DOS FATOS JURÍDICOS

FJ lato sensu: é todo acontecimento, natural ou humano, voluntário ou não, relevante


para o direito (o direito se origina do fato), em virtude dos quais nascem, subsistem e se
extinguem as relações jurídicas.

Os FJ em sentido restrito são o terremoto em zona urbana ou o raio que atinja uma
pessoa, exemplos em que haverá consequências jurídicas: morte, sucessão, seguro, etc.

Os Atos Jurídicos são praticados pelo homem; o AJ restrito não tem intenção de
negócio, mas por acidente, surgem efeitos jurídicos (ex: descobrir um tesouro 1264,
plantar por engano em terreno alheio 1255 – no p.ú. temos a desapropriação particular,
tema bastante interessante).
Os Negócios Jurídicos são uma declaração de vontade para produzir efeito jurídico,
podendo ser mais livremente combinados pelas partes do que previamente regulados
pela lei (é informal, ex: contratos verbais do 107,112; os contratos e a propriedade são
os dois principais institutos do dir. civil, art. 170 CF), ou então o contrário (negócio
solene, ex: casamento, testamento, alienação de imóvel que exige forma escrita do 108).
O art. 104 traz os elementos do NJ, aos quais se deve acrescentar a legitimidade:
limitador da capacidade em relação a certos negócios jurídicos, ou seja, é o interesse e
autorização para agir em certos casos previstos em lei como o 497 e o 1647.
Finalmente, os atos ilícitos produzem efeitos jurídicos contrários à lei; seu autor será
punido financeiramente se provocou um dano, patrimonial ou moral, a outrem (art
186). Consequência do ato ilícito é a responsabilidade civil (art 927) que veremos em
Civil III, nas Fontes das Obrigações.

5 – ELEMENTOS MODIFICADORES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS


São três os elementos acessórios (não obrigatórios – 104) que subordinam a eficácia do
negócio jurídico a certos acontecimentos determinados pelas partes:

a) condição (121): não afeta a existência mas a execução do negócio, a depender de


acontecimento futuro e incerto (ex: loja que pega roupa da fábrica mas só paga se
vender ao consumidor; se não vender, devolve a roupa ao fabricante); não é condição a
cláusula natural do negócio, como pagar o preço na compra e venda; não se admite
condição em certos casos previstos em lei (ex: 1.613, 1.808) ou em outros negócios que,
de modo geral, contrariem os bons costumes (negócios ilícitos e imorais, 104, II); a
condição tem duas espécies: suspensiva(o seu acontecimento faz iniciar os efeitos do
negócio, exemplo supra, 125) e resolutiva (o seu acontecimento faz terminar os efeitos
do negócio, 127, ex: ajudar um jovem carente se estudar);
b) termo: é o dia no qual tem que começar ou extinguir-se a eficácia de um negócio
jurídico; no termo o evento é futuro e certo (ex: daqui a dez meses, quando meu filho
fizer 21 anos); na condição o “se”, no termo o “quando”; o termo depende do passar do
tempo que é imposto pela natureza; prazo é o lapso de tempo entre a formação do
negócio (termo inicial) e a sua eficácia (termo final), art. 132;

c) encargo ou modo: é um ônus imposto a uma liberalidade; só é encontrado nos


negócios gratuitos como doação e legado; é uma simples diminuição da vantagem
criada pelo doador ou testador (ex: doação de uma fazenda com o ônus de construir uma
creche; doação de dinheiro à Prefeitura com o ônus de colocar meu nome numa rua); há
um clássico exemplo de encargo na literatura no maravilhoso “Quincas Borba” de
Machado de Assis. O encargo deve ser pequeno para não configurar contraprestação,
hipótese em que não haveria liberalidade, mas troca; assemelha-se à condição, mas o
encargo não suspende a aquisição do direito (136); por outro lado, o encargo não
cumprido posteriormente pode revogar a liberalidade (553, 1.938); na dúvida,
considera-se encargo.

6 – DOS DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

A vontade espontânea é o elemento principal dos negócios jurídicos, e tal vontade deve
corresponder ao desejo da pessoa (art. 112); porém tal vontade pode ser perturbada por
algum vício, por algum defeito, capaz de ensejar a anulação ou até a nulidade do
negócio jurídico; tais defeitos são:

a) o erro ou ignorância: é o desconhecimento de um fato que leva o agente a emitir sua


vontade de modo diverso do que a manifestaria se tivesse conhecimento exato daquele
fato, conforme art. 139 do CC (exs: 1.557, 441, 1.974); o erro facilmente perceptível
não anula o negócio para não trazer grande instabilidade às relações jurídicas – art.
138: pessoa de diligência normal; o erro importa em verdadeiro prejuízo ao declarante;
a anulação de um NJ por erro deve ser pleiteada em ação ordinária no prazo de quatro
anos (art. 178), valendo o negócio até a sentença. Lamentável que vários devedores
aleguem “erro” e desconhecimento do que assinaram para escapar das obrigações…
b) dolo: enquanto o erro decorre de equívoco da própria pessoa, que se engana sozinha,
o dolo é o erro provocado na pessoa pela outra parte do negócio; o erro é espontâneo e o
dolo é provocado; o dolo é a provocação intencional de um erro através de ações
maliciosas, ou da própria omissão (147, 773), prejudicando a parte em benefício do
autor do dolo ou de terceiro; no dolo existe vontade de enganar, é o “dolus malus”,
diferente do “dolus bonus”, que é tolerado por ser facilmente perceptível (ex:
propaganda comercial que exalta o produto); o dolo não se presume e precisa ser
provado pela parte enganada, que pode exigir anulação do negócio mais perdas e danos
(art. 186); se ambas as partes agiram com dolo, nada podem pleitear, afinal ninguém
pode se beneficiar da própria torpeza (art. 150).

c) coação: quem pratica negócio jurídico sob ameaça moral ou patrimonial, tem a
vontade viciada e o negócio é anulável – 151; se sofre violência física o ato é nulo pois
a vontade inexiste (ex: apontar arma – coação absoluta); a coação é a ameaça injusta e
seria capaz de provocar temor – 152; enquanto o dolo atinge a inteligência da parte, a
coação atinge a liberdade da parte; na violência física (ex: assine o contrato ou lhe
mato), a parte não tem opção, por isso o negócio é nulo; já na ameaça (coação relativa)
a parte pode optar entre realizar o negócio exigido ou sofrer as consequências da
ameaça (ex: sofrer calúnia, desonra por um segredo revelado); não há coação se a
ameaça é justa (ex: protestar título vencido, pedir a prisão do devedor de alimentos) ou
decorre de temor reverencial (receio de desgostar amigos e parentes), conforme art. 153;

d) estado de perigo: é semelhante ao estado de necessidade do Direito Penal; o


indivíduo, diante das circunstâncias, não possui outra alternativa e assume obrigação
excessivamente onerosa (156); ex: prestar elevada caução (cheque) em hospital para
internar parente; o Juiz deve manter o negócio reduzindo o valor da prestação com
razoabilidade, por analogia do § 2odo art. 157.
e) lesão: o negócio jurídico pode ser viciado quando há desproporcionalidade nas
prestações, afinal um contrato pressupõe trocas úteis e justas, e ninguém contrata para
ter prejuízo (arts. 157, 421, 478); é modo de proteger a parte economicamente mais
fraca dando-lhe superioridade jurídica – dirigismo contratual; considera-se viciada a
vontade de quem age sob necessidade (semelhante à coação, ex: comprar água por uma
fortuna durante uma seca) ou por inexperiência (semelhante ao dolo, ex: médico
comprando fazenda); a lesão enseja a nulidade do negócio em quatro anos (178, II) e o
retorno ao estado anterior, salvo na hipótese do § 2odo art. 157;
f) fraude contra os credores: é a diminuição maliciosa do patrimônio para
prejudicar credores antigos(quem contrata com pessoa já insolvente não encontra
patrimônio garantidor), pois a garantia do credor quirografário é o patrimônio do
devedor (primitivamente era o próprio corpo do devedor, que podia ser preso,
escravizado ou esquartejado); credor quirografário é o credor sem garantia real (uma
hipoteca ou penhor) ou sem garantia pessoal (um aval ou fiança); o ANIMUS
NOCENDI não é relevante pois presume-se a fraude (presunção absoluta) desde que o
devedor esteja insolvente (dívidas superiores aos bens ativos; não se aplica aos
devedores solventes) e efetuou alienação gratuita (doação) ou perdoou dívidas – art.
158; a alienação onerosa (compra e venda, troca) também é anulável nos termos do art.
159, quando feita a parente ou amigo; chama-se de “pauliana” a ação que vai anular o
negócio e devolver o bem ao patrimônio do devedor para ser alvo de execução por seus
credores; a fraude à execução é diferente, pois já existe ação judicial em curso, e ocorre
nos termos do art. 593 do CPC; o art. 1.813 do CC (renúncia à herança) também visa
coibir fraude contra os credores.
g) simulação: é mais grave do que os demais pois é defeito que enseja a nulidade, e não
apenas a anulabilidade do negócio; há simulação quando em um negócio se verifica
intencional divergência entre a vontade (interna) e a declaração (externa) das partes, a
fim de enganar terceiros; ou seja, a simulação é a declaração enganosa da vontade entre
as partes de um negócio para prejudicar terceiros (ex: contrato a preço vil para não
pagar imposto; atestado médico falso; compra e venda aparentando doação para não ser
aquesto, 1.659,I); enquanto no dolo uma parte engana a outra, na simulação ambas as
partes enganam terceiro; na fraude o devedor insolvente realiza negócio verdadeiro para
prejudicar credores, na simulação o negócio é aparente, as partes, insolventes ou não,
não têm intenção de praticar tal negócio; o negócio simulado é nulo e imprescritível
(167 e 169) por opção do legislador.
7 – DA INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO

A invalidade comporta graus, de acordo com o defeito do negócio jurídico, podendo ser:

a) nulo: quando o defeito é mais grave e consiste na falta de um dos elementos


essenciais do art. 104, conforme art. 166; é nulo também quando ocorre simulação (167)
ou nos casos dos arts. 489, 548, 549, 1.428, 1.548; a nulidade pode ser apenas de
algumas cláusulas (184); a nulidade caracteriza-se por ser imediata(invalida o negócio
desde o nascimento – natimorto, pelo que o Juiz de ofício deve declará-lo nulo, p.ú.,
168), absoluta(qualquer pessoa tem legitimidade para alegá-la, 168), insanável (não tem
cura, não pode ser confirmada pelas partes, 169 e p.ú. 168) e perpétua (não se confirma
pela prescrição, pois o decurso do tempo não convalesce o que nasceu morto, 169)
b) anulável: o defeito é menos grave nas hipóteses do art. 171; estão presentes os
elementos essenciais, mas a vontade foi perturbada, pelo que a parte prejudicada pode
pedir sua anulação, se não preferir confirmar o negócio; a anulabilidade tem as
seguintes características, antônimas daquelas do negócio nulo: diferida(= adiada até a
sentença suspender o negócio, anulando-o após provocação da parte, não podendo o
Juiz agir de ofício, 177, 1aparte), relativa (só a parte prejudicada é que tem legitimidade
para alegá-la, 177, in fine), sanável (o ato anulável pode ser confirmado expressamente
pela parte, 172) e provisória (é a confirmação tácita do negócio pelo não ajuizamento da
ação de anulação no prazo legal dos arts. 178 e 179)
Nulo o negócio, ou anulado o negócio, as partes retornam ao estado anterior (art. 182).

Há ainda negócios inexistentes que não entram no mundo jurídico, são desprezados pelo
legislador e são equiparados aos negócios nulos (ex: casamento celebrado por um
prefeito, sentença proferida por um deputado, lei feita por um juiz).
8 – DOS ATOS ILÍCITOS

Conforme classificação supra dos Fatos Jurídicos (nº 4), os atos ilícitos são praticados
pelos homens mas produzem efeitos jurídicos contrários à lei; seu autor será punido
financeiramente se provocou um dano, patrimonial ou moral, a outrém (186).

O AI tem quatro elementos: 1) ação ou omissão de alguém; 2 ) culpa “lato sensu”


(abrange o dolo e a culpa stricto sensu que é a negligência e impridência; a culpa pode
ser contratual – 389, ou extracontratual – 927, que é a culpa do AI, também chamada
“aquiliana”); 3 ) violação de direito privado (se violar direito público, pode configurar
crime e ensejar duas sanções; 948); 4) dano (patrimonial ou moral; o dano é mais
importante do que a culpa, pois eventualmente existe responsabilidade sem culpa –
objetiva, p.ú. 927).

Mais detalhes em responsabilidade civil em Fontes das Obrigações.

Não são atos ilícitos aqueles do art. 188: legítima defesa, exercício regular de um direito
e estado de necessidade.

Abuso de Direito: é o ato praticado no exercício irregular de um direito, com abuso para
terceiros (ex: fechar a rua num protesto, greve de servidor público que tem estabilidade
no cargo, cerca elétrica num muro de mil volts); o juiz deve analisar a irregularidade,
fixar uma indenização e destruir o ato abusivo; trata-se de regra de harmonia social, pela
qual o direito de um termina onde começa o do outro (art. 187)

9 – PRESCRIÇÃO

O passar do tempo é um fato jurídico “stricto sensu” ordinário (vide item 4 supra) de
grande importância pois conduz à prescrição; conceito de prescrição: perda da ação
atribuída a um direito, em consequência do não uso dessa ação durante certo lapso de
tempo – 189; a prescrição se justifica porque “dormientibus non sucurrit jus” e para que
relações incertas (ex: posse injusta conduz à usucapião – 1208; pessoas conservarem
recibos de pagamento para sempre; o credor poder para sempre executar o devedor)
sejam resolvidas pelo tempo – estabilidade das relações sociais; a prescrição extingue o
exercício do direito e não o direito em si; a prescrição é matéria de ordem pública,
muito importante para o ordenamento jurídico, de modo que só a lei (e não o contrato –
192) pode declarar os direitos que são prescritíveis e por que prazo; a prescrição pode
ser renunciada por aquele a quem favorece (191, 193 – ex: a dívida está prescrita, mas o
devedor quer pagar ao credor e não alega a prescrição que lhe beneficiaria – obrigação
natural 882; o juiz pode declarar de ofício com a revogação do art 194.

A prescrição pode não correr por:

a) impedimento: é obstáculo ao início do prazo prescricional (197, 198 I e 199 I e II).

b) suspensão: é a parada do curso do prazo após ter se iniciado ( 198, II e III, 199 III);
o tempo decorrido é integrado no prazo após o reinício, ou seja, aproveita-se o prazo já
percorrido, considera-se o tempo anterior.

c) interrupção: inutiliza-se a prescrição em curso, determinando o reinício da


contagem do prazo prescricional, ou seja, o prazo recomeça todo (202)

Toda ação de regra é prescritível nos prazos dos arts. 205 e 206, mas alguns direitos são
imprescritíveis como os direitos de personalidade: vida, honra, nome, ação de divórcio,
investigação de paternidade, pedir alimentos (§ 2o do 206); os direitos potestativos (só
dependem de um para ser exercido), exs: art. 1.320, despedir empregado, revogar
procuração; os bens públicos são também imprescritíveis, ou seja, terceiros não
adquirem pela usucapião – prescrição aquisitiva do art. 102.
10 – DECADÊNCIA

É a perda de um direito pelo decurso do prazo (tempo) fixado para seu exercício, sem
que o titular o tivesse exercido (inércia). Enquanto a prescrição extingue diretamente as
ações e indiretamente o direito, a decadência extingue diretamente o direito. Possui o
mesmo efeito da prescrição, pois em qualquer caso haverá a extinção de um direito,
tanto que a doutrina tem dificuldade em diferenciá-las.

A decadência não se sujeita à suspensão ou interrupção, apenas ao impedimento do art.


198, I (vide 207 e 208); o prazo decadencial pode ser fixado pela lei ou pelas partes
(211), já a prescrição é apenas legal (192); a decadência fixada pela lei deve ser
reconhecida de ofício pelo Juiz (210); a decadência não pode ser renunciada (209), já a
prescrição pode (191); a decadência tem efeito contra todos, já a prescrição não produz
efeitos para as pessoas do art. 197.

Os prazos de decadência estão espalhados pelo Código nos arts. 119,pú, 178, 179, e na
parte especial nos arts. 445, 501, 559, 1.481, 1.532, 1.555, 1.560; todos os prazos da
parte especial são de decadência.

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