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RESUMO:
O texto trata de uma pesquisa desenvolvida na Linha de Pesquisa Educação e Arte, de
cunho qualitativo que objetivou, a partir do conhecimento técnico mecânico de produção
industrial, promover ações artísticas, que motivem novas formas da construção do processo
cognitivo – crítico e criativo - dos alunos, do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria
(CTISM), bem como despertar o interesse do aluno pela criação artística a partir dos
conhecimentos de produção Industrial Mecânica, permitindo o auto-conhecimento, o expressar-
se através da arte; identificar com o jovem, as diferentes possibilidades de utilizar seus
conhecimentos construídos na escola técnica e no Ensino Médio, de maneira crítica e criativa;
desenvolver com o aluno, a partir de sua criação, uma leitura diferenciada, esta proporcionada
pela Arte, dos elementos e dos produtos que manuseia no seu cotidiano como aluno técnico
industrial, e como futuro profissional. A pesquisa se desenvolveu no CTISM/UFSM, com alunos
do curso de Mecânica. A coleta de dados foi realizada durante o ano de 2005. Os
instrumentos usados foram a observação participante, as entrevistas semi-estruturada e coletiva e
o diário de campo. Os dados coletados foram interpretados individualmente e de acordo com
as categorias elaboradas, sendo discutidos com base no referencial teórico que permeou a
investigação. Nesta pesquisa, os sujeitos envolvidos realizaram construções artísticas
(desenhos/imagens no programa AUTO-CAD e PHOTO-SHOP, desenhos a mão em papel
ofício e esculturas) nos laboratórios do curso de Mecânica, onde utilizaram materiais e
ferramentas destinadas à indústria e às aulas do próprio curso. Neste estudo concluiu-se que a
arte, bem como o ensino da mesma, pode contribuir em todas as áreas do conhecimento,
inclusive nas tecnológicas. Os alunos utilizaram-se ao máximo dos elementos disponíveis no
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Texto da Pesquisa realizada no Mestrado em Educação na Universidade Federal de Santa Maria/UFSM/BRASIL.
a escola e o mundo do trabalho
XVII colóquio afirse secção portuguesa
PALAVRAS-CHAVE:
Arte. Educação do Sensível. Educação Profissionalizante.
1. Introdução
Vivemos no momento, um período de incertezas, questionamentos. A arte apresenta-se
como uma integrante importante para esse período. Dessa forma a necessidade de uma
formação em prol dos diferentes tipos de construção do conhecimento, nesta sociedade, tornou-
se, além de um desafio, um objetivo importante e necessário. As influências do acelerado
avanço tecnológico-industrial, da mídia e de tudo o que a cerca, está se refletindo com
intensidade na sociedade.
Neste aspecto, ressalta-se a importância de uma educação que enfatize o
desenvolvimento da criatividade, da criticidade, da educação do sensível para uma
sensibilidade maior consigo e com o meio onde o ser humano vive. Esses fatores devem estar
presentes na formação do indivíduo, desde sua Educação Infantil. Neste estudo feito, este
enfoque é abordado para a Educação Profissional e Tecnológica, onde a Arte é um dos pilares
importantes para essa educação sensível, crítica, criativa de alunos da educação
profissionalizante, em que os mesmos utilizaram-se dos seus saberes pessoais e profissionais,
construídos na Educação Profissionalizante, dos materiais do seu cotidiano como aluno, para a
construção-reflexão artística.
Esta visão, mais aberta, criativa, crítica e sensível para a formação profissionalizante
desses jovens, futuros profissionais da indústria, faz com que possibilite mudanças na futura
postura profissional desses alunos, e esses não venham a se tornar simples tarefeiros e sim,
profissionais capazes de se enquadrarem nos grupos responsáveis pelo progresso e crescimento
de qualquer instituição produtiva.
Atualmente, num debate mais crítico, veicula-se uma concepção de cultura tecnológica e de
uma escola que tem sido, nas reflexões do pensamento educacional brasileiro, alvo na ótica
dos interesses dos trabalhadores de uma formação humana unilateral e de formação
politécnica. Trata-se de análises que veiculam a formação e cidadania, como sujeito criador-
crítico participante da construção da cultura.
2 Desenvolvimento
2.1 A formação para a vida
Buscam-se, cada vez mais, as instituições de ensino para auxiliar na “formação para a
vida”. Formar-se para encarar um mundo com transformações rápidas e constantes. Nessa
vivência, o “formar-se” é identificado com o saber se informar, argumentar, se comunicar,
compreender e agir, enfrentar problemas de qualquer natureza, participar socialmente, de
forma prática e solidária, ser capaz de elaborar críticas ou propostas e adquirir uma atitude de
permanente aprendizado e de transformação.
Tal formação exige condições efetivas para que os alunos possam argumentar, criticar,
deparar-se com problemas, compreendê-los e enfrentá-los, participar de um convívio social que
lhes dê oportunidade de se comunicar e se realizarem como cidadãos e futuros profissionais da
indústria, fazerem escolhas e tomarem gosto pelo conhecimento e pela busca constante do
mesmo.
Os PCNs (1999) para o Ensino Médio explicitam três conjuntos de competências, ou
seja, o de comunicar e representar, o de investigar e compreender, assim como o de
contextualizar social ou historicamente os conhecimentos. Um aspecto importante a ser
destacado se refere à perspectiva de que os alunos sejam capazes de desenvolver habilidades
de comunicação (oral, pictórica, escrita, etc.). Isso se relaciona de maneira fundamental para o
desenvolvimento de atitudes e valores que reconheçam que o conhecimento humano se constrói
pela ação coletiva. Tal condição é fundamento básico para que o indivíduo possa se situar
socialmente, valorizar “suas” produções, artísticas ou não, bem como, a dos demais cidadãos.
A necessidade dos alunos reconhecerem que também são agentes da
construção/reconstrução dos processos sociais, e não meros espectadores passivos dos
mesmos, já se faz necessário diante das aceleradas mudanças sociais, nas quais estamos todos
inseridos.
Nesse sentido, é preciso que os discentes possam ser de fato agentes da construção de
sua autonomia intelectual, humana, que é denominada pelo senso comum como “senso crítico”.
Assim, o sujeito atua socialmente nos diversos âmbitos de relações e contextos como, o do
trabalho, que é um fundamento das Ciências Humanas que não pode ser deixado de lado ao
longo do percurso escolar dos educandos.
Um dos aspectos importantes que vem a contribuir na formação desses sujeitos, futuros
profissionais de todas as áreas, é a Arte e seu ensino nas escolas. Mesmo que sendo ainda de
maneira utópica, precisamos crer que a mesma, um dia, será reconhecida e trabalhada em
todos os níveis de ensino, ou seja, da Educação Infantil ao Ensino Médio.
Nos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais)(1999) para o Ensino Médio, discute-se
uma concepção contemporânea da disciplina, segundo a qual a arte é considerada um
conhecimento humano articulado no âmbito da sensibilidade, da percepção e da cognição. É
ainda considerada como linguagem e, como tal, uma forma de comunicação humana,
impregnada de valores estéticos e culturais. Essas idéias estão contempladas nos Parâmetros
Curriculares Nacionais, que indicam o uso das linguagens como um saber a ser desenvolvido e
aprofundado em diferentes situações ou contextos, como nas práticas socioculturais, incluindo
os diferentes públicos. Considerando a linguagem como produção humana, entendida ao
mesmo tempo como produto e produção cultural, os PCNs (1999, p.125) destacam “seu
caráter criativo, contraditório, pluridimensional, múltiplo e singular, a um só tempo.”
Dessa forma, é necessário, que sejam articulados procedimentos, que no exercício da
criação artística, proporcionarão aos estudantes o fazer, o fruir e o refletir sobre o que estão
criando, respeitando a natureza intrínseca desse campo do conhecimento, que é a arte.
mais variadas atividades, pois Arte é conhecimento a ser construído incessantemente; já que
produzir conhecimento implica na produção de estados de diferenças no interior de uma dada
composição.
Conhecer passa por perceber e interferir no acoplamento de universos de referências,
gerador de novas marcas no sistema do complexo, o conhecimento é a produção e o
acolhimento de marcas suscitadoras de estados diferentes de ser. A competência é uma
capacidade de produzir hipóteses, até mesmo saberes locais que, se já não estão constituídos,
são constituíveis a partir dos recursos do sujeito; para isso, é necessário abrir espaços para a
história e o projeto pessoal do aluno, unindo saberes e experiências (FRANGE In: BARBOSA,
2002).
3 Breves conclusões:
Percebemos, no fazer investigativo, que a arte estava distante de alguns sujeitos e que a
possibilidade de trabalharmos a mesma, com a base nos conhecimentos / instrumentos /
elementos técnicos e tecnológicos da educação profissional, seria impossível. Contextualizar
com o que faz parte de nossa vida, que está presente em nosso cotidiano, bem como no nosso
ser, foi um desafio vencido pelos alunos, que desmistificaram a idéia de que a arte é destinada
somente para alguns “dotados do dom”. Tomaram consciência que o fazer arte demanda de
estudo, tempo, dedicação, reflexão e não do “dom”. Neste processo o aluno ativou os
mecanismos sensíveis dos quais o corpo humano é dotado.
Dessa forma, como nos coloca Duarte Jr. (2001) é possível fazer com que a
capacidade sensível do indivíduo torne-se íntegra na existência humana. Onde atua num
conjunto mútuo o corpo e a mente, a estesia e o pensamento. Se à arte cabe a função de
representar a estesia humana, concretizando-a simbolicamente, dessa forma, acaba auxiliando
em seu desenvolvimento e refinamento.
A grande contribuição desta investigação consistiu em desmistificar que a arte, bem
como o ensino da mesma, pode contribuir em todas as áreas, inclusive nas tecnológicas,
sugerindo assim a inserção da mesma nesta área do ensino.
Bibliografia
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