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Finanças

O MEU LIVRO DE

JOÃO CÉSAR DAS NEVES


ILUSTRAÇÕES TIAGO ALBUQUERQUE
TÍTULO O Meu Livro de Finanças
AUTOR João César das Neves
ILUSTRAÇÃO Tiago Albuquerque
DESIGN E PAGINAÇÃO Silva!Designers
REVISÃO Texto Editores

© João César das Neves (texto)


© Tiago Albuquerque (ilustrações)
© Texto Editores 2011
Todos os direitos reservados
1.a edição • Março de 2011

ISBN: 9789724745015

Texto Editores
Uma editora do Grupo Leya
Rua Cidade de Córdova, 2
2610-038 Alfragide
www.textoeditores.com
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Finanças
O MEU LIVRO DE

JOÃO CÉSAR DAS NEVES


ILUSTRAÇÕES TIAGO ALBUQUERQUE
ÍNDICE
17 Introdução
10 Finanças
12 Primeira Magia: A Moeda

14 I. A Máquina do Tempo
14 1. Segunda Magia: O Entesouramento
16 2.Terceira Magia: O Crédito
18 3. Juro
19 4.Dívida
20 5. Confiança
22 6. Bancos
24 7. Primeira Maldição: A Usura

26 II.A Rede de Pesca


27 1. Quarta Magia: O Capital
29 2. Poupança, Investimento, Lucro
32 3. Capital Monetário
34 4. Capital Financeiro
36 5. Investimento Directo
38 6. Investimento com Intermediário
40 7. Segunda Maldição: O Capitalismo
42 III. O Guarda-Chuva
43 1. O Risco
45 2. Quinta Magia: O Seguro
47 3. Formas de Seguro
51 4. Especuladores
53 5. Risco Geral
55 6. Bolha Especulativa
57 7. Terceira Maldição: A Instabilidade

59 O Milagre das Finanças


INTRODUÇÃO

A
Margarida não costuma dizer mentiras, mas nasceu no dia
1 de Abril. Este ano, um dos presentes de aniversário foi um
porquinho-mealheiro, que ela, toda contente, foi mostrar ao
pai.
– Ah! Recebeste uma máquina do tempo! – disse o pai.
A Margarida fez aquela cara estranha que põe todas as vezes
que o pai diz coisas que ela não percebe. Depois de hesitar um bocadi-
nho, continuou.
– Deram-me isto para eu fazer as minhas poupanças.
– Bem – disse o pai –, hoje podes dizer isso, mas a partir de amanhã
não deves repeti-lo, porque isso é mentira, e as mentiras só se podem
dizer no primeiro de Abril.

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FINANÇAS
No dia seguinte, ao jantar, a Margarida achou que era a altura para
perceber as estranhas declarações do pai na véspera. Então, disse-lhe:
– Pai, por que razão é que o meu mealheiro é uma máquina do tempo?
E porque é que é mentira dizer que meto lá as minhas poupanças?
– Para te explicar isso, tenho de te dizer o que são as Finanças. Que-
res falar disso?
A Margarida, que estava à espera de uma coisa assim, concordou logo.
Mas os irmãos protestaram, porque o jantar ia ficar outra vez estra-
gado com as infindáveis explicações do pai. Assim, ficou combinado que
a história ficaria para depois.
Acabada a refeição, a Margarida e a mãe continuaram à mesa, en-
quanto a irmã e os irmãos foram ver televisão. O pai pôde então expli-
car:
– Hoje já é tarde e tens de ir para a cama, porque amanhã há aulas.
Mas posso começar por te dizer umas coisinhas simples e depois conti-
nuamos. As Finanças são a parte mais mágica da economia.
– Mágica?! – surpreendeu-se a Margarida.
– Sim, mágica – continuou o pai. – Eu sou economista, e isso quer
dizer que sou mágico. Mas faço magia da verdadeira. Não da magia in-
ventada dos filmes e desenhos animados, nem dos truques dos ilusionis-
tas. A magia das Finanças é magia verdadeira, que acontece mesmo.
A magia que acontece mesmo chama-se vida. A vida é a coisa mais
mágica que existe.
– A vida é mágica?
– Claro que sim. É mesmo a única magia que vale a pena. Para res-
ponder ao que perguntaste, tens de perceber cinco magias fundamentais
das Finanças. Mas a magia, como sabes, tem sempre o problema das
maldições que podem estragar os feitiços. As Finanças, além das ma-
gias, têm também três terríveis maldições. A nossa conversa nestes dias
vai ser sobre cinco magias e três maldições.

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– Maldições?! – disse a Margarida, ainda mais entusiasmada com o
assunto.
– É verdade. Tu já deves ter ouvido muita gente a atacar e criticar as
Finanças. Ouviste alguns tios e primos dizerem que os bancos, a Bolsa,
os especuladores, são os culpados das crises, de muitos roubos e outros
males. Isso é o resultado das três terríveis maldições das Finanças.

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PRIMEIRA MAGIA: A MOEDA
– A esta hora da noite, só tenho tempo para te explicar a primeira
magia, que aliás já conheces, porque há uns tempos já falámos sobre
moeda. Lembras-te?1
A Margarida não se lembrava lá
muito bem, mas fingiu que sim.
– Na altura, eu disse-te que a moeda
não servia para nada, estás recordada?
Porque o dinheiro não se come, não se
veste, não se usa, não serve para nos di-
vertirmos, não serve para nada. É um
papel e um pedaço de metal. Mas aqui
aparece a primeira magia das Finanças.
– O pai continuou – A primeira magia das Finanças é que o dinheiro
pode transformar-se em imensas coisas. Se meteres no teu mealheiro
um bilhete de cinema, tens lá um bilhete de cinema. Se meteres um ge-
lado, tens um gelado derretido. Mas, se puseres dinheiro, podes ter quase
tudo o que quiseres. Não podes transformar um gelado num bilhete de
cinema ou numa caderneta de cromos, mas podes transformar moeda
nessas coisas todas. Percebes?
A Margarida concordou.
– O dinheiro tem este poder mágico de se transformar em muitas coi-
sas, um poder que essas outras coisas não têm. O dinheiro não tem valor
em si mesmo, mas vale apenas porque se pode trocar por coisas que têm
valor. Para haver magia são necessárias palavras mágicas. Neste caso, a
palavra mágica é MOEDA. Aquilo a que tu chamas dinheiro é o que os
economistas chamam moeda.

1
Ver João César das Neves e Tiago Albuquerque (2009), O Meu Livro de Economia,
Texto Editores, Lisboa, secção III.2.

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Mas atenção! – continuou o pai. – Toda a magia tem regras muito
concretas. Para esta magia existem duas regras muito importantes.
A primeira é que a moeda só se pode transformar noutras coisas se
existir o sistema económico. Para que o dinheiro se possa trocar, é ne-
cessária a economia. São necessárias lojas, supermercados, cinemas, fes-
tivais de música, etc. Sem isso, o dinheiro é mesmo uma coisa muito
inútil. Numa ilha deserta não interessa ter dinheiro, porque não há nada
para comprar.
A segunda regra é que a moeda não se troca por tudo. Há muitas
coisas que não se podem comprar com dinheiro. A tua mãe costuma
dizer que essas são as coisas mais importantes da vida, as coisas que
não se compram, que não se podem trocar por dinheiro. A amizade, uma
paisagem, um beijo...
– Uma dessas – disse a mãe – é o sono. Pronto, hoje já chega. Vamos
para a caminha, que não há moeda que compre uma noite bem dormida.

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I. A MÁQUINA DO TEMPO
1. Segunda Magia: O Entesouramento
– Ó pai, aquela magia de ontem não pareceu muito extraordinária –
disse a Margarida na tarde do dia seguinte.
– Eu sabia que tu ias dizer isso. Mas vou fazer mais coisas mágicas com
o teu mealheiro. Uma coisa que posso fazer é viajar no tempo. Essa é uma
magia muito importante e que o teu mealheiro pode fazer. Porque um mea-
lheiro é uma MÁQUINA DO TEMPO, que transporta valor através do
tempo.

– Transporta valor através do tempo?! – espantou-se a Margarida.


– Sim. Primeiro, posso passar valor de hoje para o futuro. Se tu tiveres
um bilhete de cinema e não fores ao cinema nesse dia, perdes tudo. Se agora
estiveres a estudar e não puderes ir ao cinema, e se quiseres ir ao cinema
daqui a um mês, quando estiveres de férias, o teu bilhete de cinema não te
servirá de nada. Se tiveres um gelado, mas estiveres de barriga cheia e só

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o quiseres comer amanhã, não há nada que possas fazer. O gelado derrete
e estraga-se. Mas com o mealheiro eu posso passar as coisas de hoje
para o futuro. Em vez de comprares o bilhete ou o gelado, guardas o
dinheiro no mealheiro e amanhã ou no próximo mês transformas a moeda,
que se transforma em tudo, como sabes, seja em bilhete ou gelado. E
pronto, o valor passa para o futuro.
– Essa magia também não parece muito grande – duvidou a Marga-
rida.
– Concordo. Um mealheiro funciona como um frigorífico, ou uma des-
pensa, mas para todas as coisas. No frigorífico e na despensa só se guarda
comida, mas aqui podes guardar de tudo, passando-o de agora para o fu-
turo. Aqui há uma palavra mágica, que é...
– Eu sei – disse a Margarida, entusiasmada. – Chama-se poupança!
– Não. Isso é outra coisa que te explicarei adiante. A palavra mágica
aqui é bastante mais fraquinha. É ENTESOURAMENTO. Por isso esta
magia não parece muito boa. Depois vais ver que há outra palavra mágica
muito mais poderosa, que é POUPANÇA, mas isso é outra coisa.

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2. Terceira Magia: O Crédito
– Mais uma vez, esta magia não te emocionou muito. Mas supõe que eu
consigo fazer a magia ao contrário. Imagina que consigo ter já hoje aquilo
que só vai existir amanhã. Viajar no tempo, mas ao contrário. Isso sim, é
uma magia espantosa, não achas?
A Margarida admitiu, não muito convencida. O pai continuou.
– Viajar no tempo para o futuro é fácil. Basta esperar. Todos o fazemos
todos os dias, quer queiramos quer não. Mas viajar do futuro para o pas-
sado é muito mais difícil. Até há um cientista famoso chamado Einstein que
disse, na sua Teoria da Relatividade, que viajar para o passado é impossí-
vel. Isso nas Finanças só se consegue com magia. Para perceberes isto,
vou contar-te uma história.
– A parte das histórias é a que eu gosto mais.
– Tu fizeste anos há uns dias e, além de receberes o teu mealheiro, os
teus avós deram-te dinheiro. Tens o porquinho com a barriga cheia. Mas
o teu irmão já gastou o dinheiro que recebeu no Natal e quer ir ao festival
de música que haverá em Maio. Em Agosto, quando ele fizer anos, vai re-
ceber o dinheiro do aniversário, mas nessa altura já acabou o festival. Ele
precisará em Maio de ter o dinheiro que só receberá em Agosto.
– Mas ele tem a mesada dele! E eu não tenho mesada só porque sou pe-
quena e... – começou a Margarida, tocando no assunto do costume.
– Sim, mas ele também tem muitas despesas, e o bilhete para o festival
sai fora disso. A mesada não lhe chega para o bilhete. O que ele pode fazer
é usar uma outra palavra mágica que se chama CRÉDITO. Ele pode vir
ter contigo e pedir-te que tu lhe emprestes o dinheiro do teu mealheiro e
prometer-te que te paga em Agosto, depois dos anos dele. Assim ele con-
seguirá já hoje aquilo que só vai receber no futuro.

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3. Juro
– Mas eu não vou dar-lhe o dinheiro do meu porquinho. Não queria
mais nada! Eu nem sequer tenho mesada – disse a Margarida, cheia de
vigor.
– Pois é. Mas, para te convencer, ele vai dar-te mais do que tu lhe dás
hoje. Pode prometer o seguinte: «Tu hoje dás-me 50 euros e eu em Agosto
dou-te mais cinco euros. Ficas com 55 euros.» Que me dizes?
– Não sei, pai. Acho que vou pensar.
– Vês? Assim tu já podes ficar interessada. Esta é outra palavra mágica
das Finanças, chamada JURO. O mano paga um juro para conseguir fazer
esta magia espantosa que é passar dinheiro do futuro para hoje. Neste caso,
ele está a pagar um juro de cinco euros, que é...
– Uma décima.
– Sim. O juro de 5 euros é uma décima parte dos 50 euros que lhe em-
prestaste. Daqui a uns anos, vais aprender que isso em Finanças se diz dez
por cento (10%). Receber uma décima por quatro meses de espera é até
uma taxa de juro bastante alta.

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4. Dívida
– Repara que ele conseguiu passar o dinheiro de Agosto para Abril,
enquanto tu passaste o teu valor de hoje para Agosto. Só é possível adian-
tar um valor se houver alguém que esteja disposto a adiar esse valor para
o futuro. São precisos dois lados. Isto é sempre assim em economia, como
já te disse. Em economia tudo tem dois lados2.
Tu emprestaste dinheiro ao teu irmão e ele, que recebeu o teu crédito,
ficou com o dever de te pagar. Ficou com uma dívida para contigo. Aqui a
palavra mágica tem de ser dupla, para tratar dos dois lados. De um lado a
palavra é CRÉDITO e do outro lado é DÍVIDA. Tu tens um crédito e ele
está endividado.
– Quer dizer que, se eu emprestar o dinheiro ao mano, ele fica mesmo
endividado? E tem essa dívida para comigo?
– É isso mesmo. Tu emprestas-lhe o dinheiro que ele te pediu empres-
tado e, por isso, ele passa a ter uma dívida para contigo.
– Fixe! – disse a Margarida, com os olhos a brilhar. Achava-se mesmo
importante por ter o irmão mais velho endividado com ela.

2
Ver o livro atrás citado, secção I.2.

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5. Confiança
– Chegámos aqui ao núcleo central das Finanças. As Finanças são a
máquina do tempo da Economia. E o mecanismo fundamental dessa
máquina é este processo do crédito e da dívida. Quem dá crédito passa
dinheiro de hoje para amanhã. Quem tem dívida passou dinheiro de
amanhã para hoje.

– Acho que percebi.


– Então também consegues compreender aqui a substância mais im-
portante das Finanças...
– Que é o dinheiro!
– Não. Muitos acham que a substância das Finanças é o dinheiro (que
tu sabes que se chama moeda). Mas dizer isso é como dizer que um filme
é uma fita de plástico. É verdade, mas perdes o mais importante. A moeda
é só a matéria das Finanças, não é a substância. A substância funda-
mental das finanças é a CONFIANÇA. Tu tens de confiar que o teu
irmão te vai pagar o que te deve em Agosto, mais o juro que vocês combi-
naram. E ele tem de confiar que tu não só não lhe vais exigir o dinheiro
antes de Agosto, como também não lhe vais pedir mais de 5 euros de juro.

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