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Instrumentação

Médico-Hospitalar I

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 1
Sumário
CONCEITOS BÁSICOS E CLASSIFICAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS
BIOMÉDICOS 5

CONCEITUAÇÃO E DEFINIÇÃO 5
TERMINOLOGIA EM ENGENHARIA BIOMÉDICA - GERAL 5
CONCEITUAÇÃO GERAL DE SISTEMAS E EQUIPAMENTOS BIOMÉDICOS 9
CONCEITOS BÁSICOS DE BIOESTATÍSTICA E PARÂMETROS ESTATÍSTICOS. 10
CRITÉRIOS DE PROJETOS DE EQUIPAMENTOS BIOMÉDICOS 16
RESOLUÇÃO 17
FAIXA 17
SENSIBILIDADE.............................................................................................. 17
LINEARIDADE ................................................................................................. 17
EXATIDÃO OU ERRO ....................................................................................... 18
HISTERESE 18
PRECISÃO OU REPETIBILIDADE ........................................................................ 18
RESPOSTA EM FREQUÊNCIA ............................................................................. 19
RELAÇÃO SINAL/RUÍDO .................................................................................. 20
ISOLAÇÃO 20
DRIFT 20

SENSORES E TRANSDUTORES BIOMÉDICOS 20

ELETRODO 20
ELETRODO DE BIOPOTENCIAL .......................................................................... 21
BIOQUÍMICO PARA MEDIR PH .......................................................................... 22
ELETRODO BIOQUÍMICO PARA MEDIR PO2 E PCO2 DO SANGUE ........................... 23
ELETRODO PIEZOELÉTRICO 25
ELETRODO DE TEMPERATURA 27
TERMOPAR 27
TERMISTORES ................................................................................................ 29
PNEUMOTACÔMETRO 32
FLEISCH 32
TELA 33
FIO QUENTE .................................................. 34
TURBINA ................... .................................................................................... 35
INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 2
ULTRASSOM 35
FOTOSSENSORES 36
FOTOELÉTRICAS ............................................................................................. 37
FOTORRESISTORES ......................................................................................... 38
FOTODIODOS ................................................................................................. 38
FOTOTRANSISTORES ....................................................................................... 39
FOTOVOLTAICAS ............................................................................................ 39

FUNDAMENTOS DE SISTEMAS AMPLIFICADORES E DE CONDICIONAMENTO


DE SINAIS EM INSTRUMENTAÇÃO 40

AMPLIFICADORES OPERACIONAIS 40
AMPLIFICADOR OPERACIONAL IDEAL. ............................................................... 40
RESPOSTA EM FREQUÊNCIA ............................................................................. 41
ALGUMAS TOPOLOGIAS MAIS COMUNS USANDO AMPLIFICADOR OPERACIONAL ...... 41
AMPLIFICADOR DE INSTRUMENTAÇÃO ............................................................... 44
SISTEMAS DE CONDICIONAMENTO DE SINAIS. 45

CONVERSÃO ANALÓGICA-DIGITAL E DIGITAL-ANALÓGICA E NOCÕES DE


ARQUITETURA MICROPROCESSADA. 47

DISCRETIZAÇÃO DE SINAIS ANALÓGICOS – CONVERSAÇÃO ANALÓGICO-DIGITAL E


DIGITAL-ANALÓGICO 47
DISCRETIZAÇÃO DOS SINAIS - CONVERSÃO A/D E D/A.................................... 47
NOÇÕES DE ARQUITETURAS MICROPROCESSADAS 49
ARQUITETURA TÍPICA DE UM SISTEMA MICROPROCESSADO ................................ 49

FUNDAMENTOS DE BIOFÍSICA 51

A RADIAÇÃO E O ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO. 51


GERAÇÃO DE ONDAS ELETROMAGNÉTICAS. 52
ESTRUTURAÇÃO DO ÁTOMO – CONCEITOS BÁSICOS 53
DESATIVAÇÕES DO ÁTOMO, DO NÚCLEO, DA MOLÉCULA E POR INTERAÇÃO 54
DO ÁTOMO 54
DO NÚCLEO 54
DA MOLÉCULA 55
PRINCÍPIOS RADIAÇÕES IONIZANTES E NÃO IONIZANTES. 55

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 3
O QUE É IONIZAÇÃO? ..................................................................................... 55
TIPOS DE RADIAÇÃO...................................................................................... 55

EQUIPAMENTO BIOMÉDICO CARDIOVASCULAR 57

ELETROCARDIÓGRAFO 57
O SINAL ECG ................................................................................................ 57
DERIVAÇÕES ................................................................................................. 57
EQUIPAMENTO BIOMÉDICO ELETROCARDIÓGRAFO .............................................. 58
ESTEIRA ERGOMÉTRICA 62

EQUIPAMENTO BIOMÉDICO CARDIOVASCULAR – CONTINUAÇÃO 64

DESFIBRILADOR 64
FLUXÔMETRO DOPPLER. 66
EFEITO DOPPLER ............................................................................................ 67
CONSIDERAÇÕES SOBRE O FLUXO SANGUÍNEO .................................................. 67
DOPPLER DE ONDA CONTÍNUA NÃO DIRECIONAL ............................................... 68
DOPPLER DE ONDA CONTÍNUA DIRECIONAL ...................................................... 70

EBS CARDIOVASCULAR – CONTINUAÇÃO 73

ECOCARDIÓGRAFO 73
SISTEMAS PULSO-ECO ................................................................................... 73
FUNCIONAMENTO ........................................................................................... 74

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 4
Instrumentação Médico-Hospitalar I

Conceitos Básicos e Classificação Dos Equipamentos Biomédicos

Conceituação e Definição
Inicialmente, é fundamental a definição do que se entende por equipamentos médicos,
hospitalares e odontológicos, doravante denominados equipamentos biomédicos (EB).

A área de EB é formada por indústrias de equipamentos, eletroeletrônicos ou mesmo


daqueles que utilizam outra fonte de energia, inclusive energia potencial da gravidade,
incluindo sensores e dispositivos de controle e sistemas de proteção (CGEE, 2007).
Portanto, também podem ser incluídos nesta área de conhecimento os equipamentos
e dispositivos utilizados no suporte a diagnósticos e procedimentos médicos, ainda que
não tenham interação direta com os pacientes, como por exemplo: equipamentos de
laboratórios clínicos; equipamentos aplicados nos processos de limpeza, desinfecção e
esterilização; e mobiliário hospitalar, mesmo que estes não tenham fonte de energia.
Os EB podem ser classificados quanto a:

 Porte: pequeno (ex.: Doppler obstétrico); médio (ex.: respirador volumétrico)


e grande (ex.: aparelho de raios-X).
 Instalação: fixo (ex.: foco de teto); móvel (semiportátil, como bisturi elétrico, e
portátil, como aparelho de pressão).
 Emprego: diagnóstico (ex.: ECG); terapia (ex.: bisturis elétricos); apoio (ex.:
centrífugas).
 Princípio físico predominante: ópticos (ex.: microscópios); mecânicos (ex.:
autoclaves); eletroeletrônicos (ex.: desfibrilador).
 Procedência: nacional e importado.
 Grau de risco.

Terminologia em Engenharia Biomédica - Geral


Os EB são considerados, segundo a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), bens
de capital, e parte significativa deles foi inicialmente concebida como produtos de

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 5
tecnologia elétrica ou metalomecânica. Atualmente, quase todos os EB possuem
controles e comandos eletrônicos ou têm saídas processadas por sistemas
informatizados e ainda dispõem de, pelo menos, um módulo de eletrônica embarcada.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Médico, Odontológicos, Hospitalares e
de Equipamentos de Laboratório [Abimo] - 2007), os subsetores para classificação dos
EB são:

 Laboratório – equipamentos e materiais para laboratórios de análises clínicas.


Exs.: contadores de células; microscópios de laboratório; espectrofotômetros;
agitadores; centrífugas; reagentes para diagnóstico; sistemas coletores; tubos
de ensaio; recipientes em vidro; dentre outros.
 Radiologia e Diagnóstico por Imagem– equipamentos para raios-X,
processadores, filmes (diagnóstico) e de consumo. Exs.: aparelhos de raios-X
móvel; arcos cirúrgicos; simuladores de radioterapia; protetores plumbíferos;
filmes de raios-X para uso médico e odontológico; e outros.
 Equipamentos Médico-hospitalares – equipamentos eletromédicos, mobiliários
hospitalares, instrumentais cirúrgicos, equipamentos fisioterápicos, cozinhas e
lavanderias hospitalares. Exs.: incubadora; aparelho de anestesia; monitor
cardíaco; eletrocardiógrafo; tomografia computadorizada e por ressonância
magnética; esterilizadores e outros.
 Implantes – integram produtos implantáveis, destinados a usos ortopédicos,
cardíacos, neurológicos e outros. Exs.: próteses articulares de quadril;
implantes para coluna; buco-maxilares; parafusos; marca-passos;
desfibriladores; válvulas; stents; cateteres.
 Material de Consumo Médico-Hospitalar – materiais de consumo hipodérmicos
(agulha, seringa, escalpe etc.), têxteis e outros.
 Odontológico – equipamentos odontológicos (consultórios completos),
materiais de consumo (resinas, amálgamas e outros) e de implantes
odontológicos.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 6
O enquadramento da família à qual pertence determinado o equipamento é estipulado
pelos regulamentos vigentes do país de destino e a finalidade de uso. O Quadro 1,
Figura 1.1, apresenta as famílias de equipamentos (exceto os insumos) que integram
o panorama setorial, classificados conforme o Sistema de Harmonização (SH6),
utilizado por 65 países que respondem por 92% das importações mundiais.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 7
Figura 1. Quadro que exemplifica o sistema de classificação dos EB.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 8
Conceituação Geral de Sistemas e Equipamentos Biomédicos
Os equipamentos utilizados em processos de medição e instrumentação usualmente
têm uma arquitetura, em termos sistema, muito equivalente, ou seja, inicialmente o
sensoriamento da grandeza física, em seguida o processamento do sinal e ao fim o
registro. No caso do EB não é diferente, como pode ser observado mais
detalhadamente no diagrama em blocos da Figura 1.2. Os blocos do diagrama são
descritos se seguir.

Figura 2. Diagrama em blocos da arquitetura de um sistema genérico de medição utilizado


pelos EB. O transdutor converte a grandeza a ser medida em sinal elétrico e,
em seguida, é transformada em informação compreensível pelo ser humano.
As possibilidades das conexões variam em função da aplicabilidade .

 Mensurando: grandeza específica submetida à medição.


 Sensor/transdutor: dispositivos capazes de perceber/sentir a variação da
grandeza física e transformá-la em sinal elétrico.
 Estímulo: retorno de sinal ao mensurando, proveniente do sistema em medição,
que pode interferir na variação do mensurando.
 Processamento do sinal: compreende o subsistema de condicionamento do sinal
(analógico), ou seja, tem a capacidade de pré-processar o sinal oriundo do
sensor/transdutor, normalmente é composto por filtros e/ou amplificadores

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 9
eletrônicos. E, em seguida, a digitalização do sinal analógico e o processamento
digital visando à melhoria do sinal a ser analisado.
 Display: dispositivo que faz parte do sistema de medição que tem capacidade
de apresentar visualmente os resultados das medições.
 Registro: parte do sistema de medição responsável pelo armazenamento dos
sinais e das informações inerentes do procedimento executado. As informações
devem ser ordenadamente armazenadas permitindo acessos posteriores ao
procedimento. Os dispositivos podem ser memórias físicas externas ou mesmo
virtuais.
 Telemetria: os sistemas de medição estão cada vez mais integrados aos outros
sistemas sejam locais ou remotos, via web.

Conceitos Básicos de Bioestatística e Parâmetros Estatísticos


A estatística é uma especialidade da matemática aplicada aos vários campos de
conhecimento do homem. Cotidianamente lidamos com dados estatísticos associados
à informação de uso rotineiro. Ouvimos dizer, por exemplo, que a inflação teve um
aumento de 1,3%; o clube tal tem 87% de chance de ser o vencedor do Campeonato;
que 230 em cada 1000 nascidos vivos morrerão antes de completarem 1 ano de idade.
Apesar da familiaridade destas notícias não as associamos à estatística.

A definição de M. R Spiegel, estudioso inglês autor de um conceituado livro sobre o


assunto, é de que “a Estatística está interessada nos métodos científicos para coleta,
organização, resumo, apresentação e análise de dados bem como na obtenção de
conclusões válidas e na tomada de decisões razoavelmente baseadas em tais análises”.
Verificamos, portanto que dados estatísticos, quando corretamente analisados
(inferência estatística), são ferramentas importantes que permitem conhecer o
comportamento pregresso de um determinado fenômeno, calcular seu desempenho
futuro, planejar modificações etc.; enfim, permitem tomadas de decisões com
probabilidade conhecida.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 10
A. População, Amostras e Dados
A.1. População - é todo conjunto de indivíduos ou objetos que possuam pelo menos
uma característica comum observável. Uma população pode tanto se referir ao
indivíduo quanto a uma característica deste. O número de componentes não permite
afirmar se um conjunto se constitui em uma população ou não. Se todos os indivíduos
ou objetos que possuem a característica observável estão presentes pode-se afirmar
que se tem uma população.

A.2. Amostra - pequena parte, porém significativa, de uma população que,


naturalmente, deve ter grandes proporções. Todos os componentes da amostra
guardam as características da população que a originou. O tamanho da amostra em
relação à população é determinado segundo regras específicas

A.3. Dados - qualquer característica pode ser observada ou medida de algum modo.
Se os dados forem qualitativos denominam-se atributos; caso sejam quantitativos
serão variáveis (discretas ou continuas).

B. Classificação dos Dados


Para se realizar a análise estatística dos dados obtidos em uma amostra, é necessário
organizá-los de modo que tenhamos o resumo legível e claro de toda a informação
contida nestes dados. Normalmente a organização se resume no agrupamento dos
dados em classes ou categorias. A seguir, observe algumas definições importantes
inerentes ao processo e, posteriormente, no item “C”, um exemplo ilustrativo.

B.1. Amplitude Amostral - é a diferença entre o valor numérico superior e o inferior


da característica da amostra que está sendo estudada.

B.2. Distribuição ou Tabela de Frequências - arranjo tabular dos dados por classes,
juntamente com as frequências correspondentes.

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B.3. Frequência Relativa de uma Classe - número obtido a partir da divisão da
frequência de uma classe pelo número total de dados da amostra (frequência Total).

B.4. Frequência Acumulada de uma Classe - número obtido a partir da soma da


frequência de uma classe às frequências das classes anteriores. Se dividirmos essa
frequência pela frequência total da amostra obtemos a Frequência Acumulada
Relativa.

B.5. Intervalo de Classe - conjunto de números reais compreendidos entre os dois


limites reais de uma classe.

B.6. Amplitude do Intervalo - diferença entre o limite real superior e o limite real
inferior de uma classe.

C. Exemplo
Os dados do quadro, da Figura 1.3, a seguir representam a quantidade de glicose, em
miligramas por 100 mil, encontrada em uma amostra de sangue em um grupo de 50
homens adultos normais. Pede-se agrupar os dados em intervalos de classe adequados
de igual amplitude.

Figura 3. Exemplo: quadro contendo amostra de dados para análise estatística.

Amplitude Amostral = maior valor - menor valor= 121 - 68 = 53 mg/100 ml.


Considerando-se o número de classes = 10, obtemos: Amplitude de Intervalo = 53/10
= 5,3. Arredondando para número inteiro: Amplitude de Intervalo = 5. Considerando-

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se que o menor valor é 68, adotaremos 65 como o limite real inferior da 1a classe. O
limite superior será: 65 + 12 x 5 = 125 mg/ml.

Tabela com os dados agrupados.


Glicose Ponto Frequência Frequência Frequência Frequência
(mg/100 ml) médio Relativa Acumulada Acumulada
(%) Relativa
(%)

65-70 67,5 2 4 2 4
70-75 72,5 7 14 9 18
75-80 77,5 3 6 12 24
80-85 82,5 9 18 21 42
85-90 87,5 9 18 30 60
90-95 92,5 5 10 35 70
95-100 97,5 1 2 36 72
100-105 102,5 5 10 41 82
105-110 107,5 2 4 43 86
110-115 112,5 1 2 44 88
115-120 117,5 4 8 48 96
120-125 122,5 2 4 50 100
Total 50 100

D. Representações Gráficas
D.1. Gráficos de Barras
Método gráfico útil para representar os atributos. As barras têm a mesma largura e o
mesmo espaçamento, e as suas respectivas alturas indicam as frequências ou
percentagens de cada atributo (Figura 1.4). Exemplo:

Figura 1.4. Distribuição em gráfico de barras segundo a quantidade de defeitos em


diferentes EB.

D.2. Gráfico Polar ou Circular


Compreende um círculo dividido em setores cujas áreas são proporcionais à
distribuição de frequências de um conjunto de dados qualitativos (Figura 1.5).
Exemplo:
INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 13
Figura 4. Distribuição em gráfico polar segundo os tipos de defeitos em um determinado

EB.

D.3. Histograma
Método mais comum para representação gráfica de dados amostrais contínuos. O
histograma consiste de uma série de retângulos contíguos de mesma largura (mais
comum) dispostos no eixo horizontal. Os retângulos ficam posicionados com o centro
da base no ponto médio de cada classe. A área de cada retângulo é proporcional à
frequência da respectiva classe (Figura 1.6).

Figura 5. Distribuição em gráfico de histograma segundo as medidas de pH sanguíneo em


amostras de sangue.

E. Determinação de Parâmetros Estatísticos


Em estatística deseja-se obter conclusões, ou melhor, quantificar características de
amostras que por sua vez representam populações. Desse modo foram estabelecidos
alguns parâmetros básicos (mais utilizados) para que se possa caracterizar uma
amostra: média (x); mediana (Md); moda (Mo); variância (s2) e desvio-padrão (s).

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E.1. Média (x)
Representa o melhor estimador de uma amostra. É calculada dividindo-se a soma dos
valores da amostra pelo número total de dados da mesma amostra (veja exemplo do
item E.5).

E.2. Mediana (Md)


É definida como valor central dos dados amostrais, caso a amplitude total da amostra
seja ímpar, e caso seja par é definida como a média dos dois valores centrais (veja
exemplo do item E.5). Para o caso em que os dados estão agrupados em uma tabela
de frequências com diferentes classes deve-se calcular a classe mediana.

E.3. Moda (Mo)


Valor de maior frequência em uma amostra.

E.4. Variância (s2) e Desvio-padrão (s)


Parâmetro que quantifica o grau de dispersão dos dados de uma amostra em relação
à média (x) da distribuição.

Os parâmetros estatísticos mais utilizados para medir a dispersão dos dados são a
variância (s2) e a sua raiz quadrada, o desvio-padrão (s). A variância e o desvio-padrão
são definidos por:

Onde: xi = valor de cada dado da amostra;


n = tamanho da amostra;
b = n de classes.
INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 15
Os valores de s e s2 são, por definição, não negativos, ou seja, podem assumir
qualquer valor ≥ 0. Caso s e s2 sejam iguais a zero, significa que todos os dados da
amostra têm o mesmo valor (veja exemplo do item E.5).

E.5. Exemplo
Considere a tabela de frequências abaixo e calcule a média, a moda e a variância.

Xi fi fiXi fixi2
6,1 1 6,1 37,21
7,5 4 30,0 225,00
8,3 8 66,4 551,12
10,1 9 90,9 918,09
11,2 6 67,2 752,64
12,0 2 24,0 288,00
Total 30 284,6 2.772,06

Critérios de Projetos de Equipamentos Biomédicos


Quando é analisado o desempenho de algum equipamento eletrônico, a análise é
sempre referenciada a determinadas medidas características de instrumentos, que por
sua vez são aceitas universalmente. Essas medidas são utilizadas para caracterizar os
instrumentos de um modo geral, inclusive os transdutores, as quais ajudam na
comparação de suas performances. As características mais comuns são: faixa,
resolução, sensibilidade, histerese, erro, precisão e outras mais específicas. Essas
unidades, denominadas de características de instrumentos, são fundamentais quando
se deseja estabelecer uma comparação entre dois instrumentos similares. Desta
forma, fica garantido que qualquer manual técnico de qualquer sistema eletrônico,
mesmo de baixa complexidade, descreverá as características do sistema da mesma

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 16
forma. Nem sempre todas as características a serem descritas são utilizadas em todos
os instrumentos, entretanto, e certamente, qualquer instrumento será caracterizado
por algumas dessas. A seguir, serão definidos cada um destes parâmetros.

Resolução
Define-se resolução como o menor incremento do sinal de entrada que pode ser
percebido ou medido pelo instrumento. No caso de um multímetro digital a resolução
seria uma unidade para mais ou para menos do último algarismo significativo (último
dígito), pois variações menores que isso não são sensíveis ao instrumento.

Faixa
Faixa ou “range” representa todos os níveis de amplitude do sinal de entrada nos quais
o equipamento opera. Um sistema que mede pressão, por exemplo, ao ser fabricado
para operar na escala de -200 mmHg até +200 mmHg, esta é definida como a faixa
de operação do equipamento.

Sensibilidade
A sensibilidade é a função de transferência do sistema de medição, ou seja, a relação
entre o estímulo de entrada e o sinal de saída produzido pelo instrumento. Exemplos:
Ohms/C para termopares; mV/mmHg para pressão.

Linearidade
A Figura 1.7 representa o procedimento de medição de um valor padrão que deveria
variar linearmente de maneira conhecida; nesse caso resultaria em uma reta (de
referência), entretanto, como sempre há algum erro, a curva obtida foge em alguns
pontos da curva ideal (linha com curvas). A distância máxima observada entre uma
medida feita pelo instrumento e o valor padrão, dividida pelo range e multiplicada por
100%, nos fornece a linearidade. A medida é feita variando-se o valor padrão
linearmente e traçando-se a curva medida.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 17
Figura 6. Definição de linearidade.

Exatidão ou Erro
É a diferença absoluta entre o valor real do padrão e o valor medido, pelo instrumento.
Pode ser dada em percentagem ou em partes por milhão (ppm), quando esse valor é
muito pequeno. É usual ser especificada a escala para qual é válida. No caso de erro
relativo, é informado em porcentagens do fundo da escala.

Histerese
Quando um estímulo de entrada excita um instrumento e cresce até um determinado
valor, o instrumento acusará certo valor. Entretanto, se o estímulo começar em um
valor mais elevado e decrescer até o mesmo valor anterior, o instrumento poderá
acusar um valor diferente daquele acusado antes; caracterizando a, neste caso, a
histerese (Figura 1.8). Histereses podem ocorrer por diversas razões, como, por
exemplo, atrito mecânico nos ponteiros de um instrumento de medida, resposta de
frequência, inércia molecular etc.

Figura 7. Laço de histerese.

Precisão ou Repetibilidade
É a capacidade do instrumento de medição de obter o mesmo valor em diversas
medições sob as mesmas a condições. Pode ser dada pelo desvio-padrão das medidas

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 18
efetuadas de um mesmo valor ou pelo maior erro esperado em qualquer medida. Por
exemplo, em um lote de vários resistores de precisão 1%, a repetibilidade é o maior
erro que o valor de qualquer resistor apresenta, que é, no máximo, 1% do valor
indicado.

Resposta em Frequência
Define-se a resposta EM frequência como a faixa do espectro que determinado sistema
pode operar dentro das especificações de projeto. O diagrama de Bode é usualmente
utilizado para representar esta informação (Figura 1.9). Pela teoria de Bode, definimos
a faixa de passagem, ou largura de faixa, como o intervalo de frequências em que,
para uma determinada amplitude de entrada, a potência do menor sinal de saída é
maior ou igual à metade da potência do maior sinal. Por consequência, a razão entre
as amplitudes do menor sinal com o maior sinal é 0,707. Cada ponto no diagrama de
Bode é calculado por:

Para j = 1, 2, 3, ... , n
Onde: dB(fj) é o valor da ordenada do diagrama de Bode na frequência fj;
Ao é a amplitude do sinal de saída na frequência fj;
Ai é a amplitude do sinal de entrada na frequência;
j varia de 0 até n, sendo Fo a maior frequência de interesse.

Figura 8. Exemplo de Diagrama de Bode demonstrando a resposta espectral de um


equipamento.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 19
Relação Sinal/Ruído
É a relação entre a potência de um sinal qualquer presente na saída de um instrumento
e a potência do sinal de ruído com o sinal ausente na entrada.

Isolação
É a maior tensão que pode estar presente em um determinado circuito do instrumento
ou transdutor sem que haja ruptura da junção dielétrica entre o determinado ponto e
o potencial de terra do instrumento, provocando uma descarga elétrica para outros
pontos. É uma informação particularmente importante quando se trata de segurança
do usuário em aparelhos de medida de altas tensões ou em equipamentos médicos.

Drift
“Drift” representa, em um equipamento, a mudança de alguma variável com o passar
do tempo. Essa variação pode ser por envelhecimento, ou por temperatura, por
exemplo. A unidade de drift é geralmente uma derivada, ou seja, o drift é sempre
dado com relação a uma outra grandeza. Portanto, um resistor, pode ter sua
resistência variando de -5%/C, o que quer dizer que sua resistência desce de 5% de
seu valor para cada grau centígrado de subida de temperatura.

Sensores e Transdutores Biomédicos

O dispositivo que realiza a conversão de uma forma de variável em outra é chamado


de transdutor. O sensor, por sua vez, não efetua a conversão, ou seja, se o fenômeno
físico é elétrico ele apenas perceberá e amplificará o fenômeno, fornecendo um sinal
elétrico proporcional. Este tópico apresenta os principais transdutores utilizados na
área biomédica, ou seja, aqueles que efetuam a conversão de todas as formas de
variáveis fisiológicas em sinais elétricos. Os transdutores serão apresentados quanto
ao método e ao princípio de funcionamento.

Eletrodo

Os eletrodos são apenas sensores.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 20
Eletrodo de Biopotencial
Os eletrodos de biopotencial, doravante chamados apenas de eletrodos, têm a função
de tornar mais eficiente as medições dos potenciais iônicos gerados no corpo humano
(potenciais bioeletrônicos), convertendo-os em potenciais eletrônicos antes de serem
medidos pelos métodos convencionais.

O potencial gerado pelo eletrodo é resultado da diferença da difusão dos Íons da


solução em direção ao metal, e para fora dele. O equilíbrio é produzido pela formação
de camadas de cargas em cada lado da interface, sendo estas de polaridades opostas.

Figura 9. Circuito equivalente de medição com dois eletrodos.

Em virtude da impossibilidade de se obter o valor absoluto dos potenciais dos


eletrodos, estabeleceu-se internacionalmente que o eletrodo de hidrogênio passaria a
ser referência, ou seja, teria um potencial de eletrodo de “0 Volts”.

Apesar de existir uma grande variedade de eletrodos de biopotencial, neste item são
descritos apenas os eletrodos superficiais e/ou de pele, que são utilizados em ECG,
EEG, EMG.

É apresentado, na Figura 2.1, o circuito equivalente de um eletrodo e o modelo


eletrônico de como se processa a medição dos biopotenciais com dois eletrodos
equivalentes.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 21
A escolha dos materiais que recobrem os eletrodos deve ser cuidadosa, pois deve-se
priorizar a estabilidade. Foi descoberto que o “eletrodo de prata-cloreto de prata” é
muito estável.

A impedância dos eletrodos, além de dependente da frequência, é extremamente


dependente de suas dimensões. Os eletrodos de superfície, por exemplo, que são
relativamente grandes, possuem impedância em torno de 2 a 10 kΩ, que são valores
relativamente baixos. O importante é que a impedância de entrada dos circuitos
amplificadores associados aos eletrodos seja várias vezes superior para que se possa
obter bons resultados.

Para se tornar mais eficiente o processo, é necessário que se coloque uma pasta ou
gel (solução eletrolítica) entre o eletrodo e a pele. Na Figura 2.2 é apresentado o
diagrama do eletrodo, denominado “floating electrode”, utilizado para extrair ECG.

Figura 10 Diagrama de um eletrodo de superfície tipo "floating" (ECG).

É importante salientar que a única diferença entre o eletrodo para ECG apresentado
na Figura 10 e aquele utilizado para EEG é o diâmetro, que no caso do EEG será menor,
ou seja, em torno de 7 mm.

Eletrodo Bioquímico para Medir pH


O pH sanguíneo é um indicador muito importante para que se possa obter a
informação sobre o balanço químico do corpo humano. O pH normal do sangue arterial
fica entre 7,38 e 7,42, enquanto o pH do sangue venoso é 7,35. O pH sanguíneo é
diretamente relacionado com a concentração de íons de hidrogênio:

eq. (2.1)
INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 22
A Figura 2.3 apresenta um eletrodo que possui uma fina camada de vidro que permite
somente a passagem de íons de hidrogênio na forma de H³O+. É importante observar
que cada um dos eletrodos é responsável pela medição de metade do potencial total
(half-cell potential). O eletrodo de referência (Ag/AgCl) deve ficar em contato com a
solução na qual o pH está sendo medido. Por outro lado, o eletrodo ativo (indicador -
Ag/AgCl) deverá ficar inserido na solução altamente ácida presente no bulbo.

Esse tipo de eletrodo (vidro) é muito eficiente apenas para medir situações em que o
pH fique em torno de 7. Esses eletrodos estão sujeitos à deterioração após prolongado
uso, porém podem ser restaurados repetidamente, bastando deixá-los em um copo
com água forte, formando uma solução de bifluoreto de amônia a 20%. A impedância
desses eletrodos fica na faixa de 50 a 500 M.

Figura 11. Eletrodo para medir pH contendo o eletrodo de referência e o eletrodo ativo
para indicação do pH relativo.

Eletrodo Bioquímico para Medir PO² e PCO² do Sangue


Da mesma forma que o pH, as “pressões parciais de oxigênio (PO2) e dióxido de
carbono (PCO2)” são importantes indicadores da eficiência dos sistemas cardiovascular
e respiratório do corpo humano. Convém lembrar que a pressão parcial de um gás no
sangue é proporcional à quantidade desse gás nesse mesmo fluido.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 23
Figura 12. Diagrama do eletrodo PO2 com catodo de platina, mostrando o princípio de
operação.

A Figura 12 apresenta o princípio básico de medição da PO². Um fio de metal nobre,


no caso a platina, é embebido em vidro para isolamento. Apenas a ponta deste fio fica
em contato com a solução eletrolítica na qual está o O² difundido. Quando é aplicada
uma voltagem de 0,7 V entre o eletrodo de referência (+) e o fio de platina (-) ocorre
uma corrente de oxirredução proporcional à pressão parcial de oxigênio difundido.
Normalmente a solução eletrolítica fica dentro de uma cuba de chumbo, permitindo,
assim, somente a passagem de moléculas de O² através da respectiva membrana
permeável.

Com o passar do tempo, nesses eletrodos de PO² há uma redução da corrente pelo
efeito de polarização, o que pode causar um erro no processo de medição.

Figura 13. Combinação do eletrodo de PO2 e PCO2.

O logaritmo da PCO² possui uma estreita e linear correlação com o pH da solução;


assim, o processo de medição da PCO² é essencialmente associado ao eletrodo de pH,
que normalmente fica coberto por uma membrana permeável (Teflon) seletiva a CO.
A Figura 13 ilustra uma possível arquitetura de combinação dos dois sensores em único
transdutor.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 24
Eletrodo Piezoelétrico
Quando determinados materiais não condutivos, como cristais e cerâmicas, são
submetidos a um pressão mecânica em uma determinada direção, eles se tornam
eletricamente polarizados e, consequentemente, uma voltagem elétrica, Vp, pode ser
medida nos extremos do material (Figura 14).

Figura 14. Princípio do transdutor piezoelétrico.

Esse processo é denominado “efeito piezoelétrico” e é perfeitamente reversível, ou


seja, se for aplicada uma voltagem nos extremos do material, este, por sua vez, sofrerá
automaticamente uma deformação proporcional.

O princípio piezoelétrico é usualmente utilizado em microfones para captar sons ou


sinais acústicos provenientes do interior do corpo humano, porém a mais importante
aplicação desses transdutores em instrumentação biomédica é, sem dúvida, em
equipamentos ultrassônicos. Nesses casos o transdutor é utilizado tanto como
transmissor como receptor de ondas mecânicas.

Em aplicações médicas raramente a frequência do ultrassom ultrapassa 15 MHz, e os


materiais piezoelétricos mais indicados e/ou utilizados são: cerâmicas piezoelétricas,
como titanato de bário e zircanato titanato de chumbo, e os cristais de quartzo por
apresentarem boas propriedades mecânicas.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 25
Figura 15. Transdutor piezoelétrico do equipamento Doppler CW.

Figura 16. Circuito modelo do transdutor piezoelétrico que inclui os efeitos da ressonância
mecânica em altas frequências: (a) circuito modelo; (b) resposta em
frequência.

Um dos principais EB que utiliza esse princípio é o fluxômetro Doppler CW (onda


contínua), que tem como função quantificar/medir a velocidade do sangue nos
principais vasos do corpo. O transdutor do equipamento Doppler CW normalmente
utiliza dois elementos piezoelétricos dentro do mesmo “invólucro” (devidamente
isolados elétrica e mecanicamente) (Figura 15): um transmissor e outro receptor.

Para que se consiga a máxima eficiência ou a diminuição das perdas de um sistema


transdutor, é necessário que se proceda ao casamento de impedância entre a
superfície irradiadora do transdutor e a carga. Para o caso dos tecidos humanos, que
possuem uma carga equivalente à água, o material escolhido para efetuar o casamento
de impedâncias é a “resina epóxi” misturado com alumínio pulverizado. Ainda
objetivando a redução das perdas, como podemos observar na Figura 15,
normalmente se coloca gel entre o transdutor e a pele para ocupar os possíveis
espaços de ar.

A frequência na qual o material piezoelétrico oscila com a máxima amplitude em suas


faces é denominada “frequência de ressonância fundamental”. A Figura 16 apresenta
o circuito equivalente e a resposta em frequência do transdutor piezoelétrico.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 26
Eletrodo de Temperatura

Termopar
Se colocarmos dois metais diferentes em contato elétrico surgirá uma diferença de
potencial entre eles que será função da temperatura. Esse fenômeno, denominado
efeito termoelétrico, é utilizado para medir temperaturas em um espectro bem amplo.
A junção é feita soldando-se dois fios de metal diferentes por suas pontas, sem utilizar
na solda nenhum outro material que não seja os dois metais.

Tendo por objetivo a implementação de um método eficiente de medição de


temperaturas, pesquisadores buscaram diferentes tipos de metais e ligas de forma a
obter linearidade, exatidão, grandes coeficientes de temperatura e repetibilidade.
Mediante este fato, descobriram junções que possuíam um largo espectro que vão
desde alguns Kelvins (cerca de -270 C) até 2.500 C e uma razoável resolução de 0,5
C a 2 C com coeficiente de temperatura de 5 a 50 µV/K.

Obviamente, dependendo dos metais da junção são obtidas características diferentes


que por sua vez determinam a aplicação da junção. Normalmente os fabricantes
fornecem tabelas que mostram as tensões dos termopares para cada grau centígrado
dentro do range/faixa de temperatura do sensor.
As curvas dos principais termopares com relação à temperatura de trabalho, em geral,
são bem lineares em todos os espectros de funcionamento dos termopares, facilitando
o processamento das tensões de saída por simples milivoltímetros digitais ou
analógicos.

Figura 17. Circuito termopar.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 27
Conhecendo-se a curva ou a tabela equivalente do termopar torna-se bem fácil a
medição da temperatura, bastando para tal, medir a tensão do termopar e em seguida
procurar na tabela a temperatura respectiva.

Se houver o interesse de apresentar a temperatura em um display de LED ou LCD ou


mesmo em um sistema analógico deve-se amplificar o sinal antes de enviá-lo para o
display. A amplificação deverá ser feita de tal maneira que a tensão de salda do
amplificador seja de mesmo valor absoluto da temperatura respectiva, pois assim a
leitura será direta eliminando-se a necessidade de tabelas.

A Figura 17 apresenta um circuito de termopar com dois tipos diferentes de metais, A


e B, em duas distintas temperaturas, T1 e T2. A tensão entre os terminais c e d é
função da diferença entre as temperaturas das duas junções e das propriedades dos
dois metais.

Na prática, uma das junções é mantida a uma temperatura constante e conhecida


como referência, para que se possa determinar a temperatura desejada e
desconhecida da outra junção. Para alcançar esse objetivo, foi idealizada a topologia
apresentada na Figura 18, em que são utilizadas duas junções que são conhecidas
como “junção quente” e “junção fria”. A junção quente é colocada no meio cuja
temperatura deseja-se medir. A junção fria ficará numa temperatura conhecida e vai
propiciar Junções iguais com tensões opostas nos terminais de cobre dos sistemas de
aquisição. É usual colocar a junção fria numa caixa com gelo mantida a zero grau
Sendo assim, somente a junção quente será levada em conta, já que a tensão da
junção fria será zero Volt.

Figura 18. Montagem utilizada para eliminar variações de tensão das junções adicionais .
INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 28
Nos casos em que a temperatura da junção fria não é zero grau, o procedimento seria
verificar no gráfico qual seria a respectiva tensão para a Junção fria e subtrair esta da
tensão proveniente da junção quente Essa subtração pode ser feita matemática ou
eletronicamente.

Nestes tipos de circuitos é aconselhável que o medidor, seja digital ou analógico, tenha
impedância de entrada maior que 10 kΩ e um bom CMRR a 60 Hz.

Termistores

Os transdutores de temperatura mais utilizados em equipamentos comerciais e


científicos são os termistores cujo princípio de funcionamento tem como base a
variação de resistência de condutores elétricos com a temperatura. Qualquer material
condutor apresenta sua resistência em função de suas dimensões físicas, porém
algumas vezes pode-se equacionar a variação da resistência de um material em função
da temperatura pela equação (2.2):

eq. (2.2)

onde: T = T - T0.
=
R0 resistência à potência zero (veja adiante) medida a temperatura T0.
1 e 2 = constantes conhecidas como coeficientes de temperatura (TC)
que podem ser positivas (PTC) ou negativas (NTC).

Aproveitando esta propriedade dos resistores surgiram os termistores, que são


dispositivos cuja resistência é variável com a temperatura do material, seja essa
variação devida a uma causa externa ou interna (efeito Joule), os termistores são, em
sua grande maioria, do tipo NTC. Na Figura 2.11 são apresentadas diversas curvas
típicas de termistores NTC.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 29
Figura 19. Típicas curvas de diferentes termistores NTC normalizados pelos valores da
resistência de potência-zero.

Perceba que a equação que rege as diferentes curvas apresentadas na Figura 19 tem
a seguinte forma:

R(T) =A eB/T eq. (2.3)

Onde A e B são constantes que dependem do material e do método de fabricação do


termistor.

Características dos Termistores

I. Resistência à Potência Zero (R0) - resistência do termistor quando uma potência


desprezível é nele aplicada a uma temperatura de especifica (normalmente 25 ºC)

II. Coeficiente de Temperatura (α) - pode ser definido por:

α= -B /T2 eq. (2.4)

Percebe-se que α é dependente da temperatura, ou seja, varia de ponto para ponto


nas curvas da figura. De modo geral, α varia desde -2%/C a cerca de -5%/C para
termistores comerciais.

III. Temperatura Máxima de Operação - temperatura máxima que o termistor garante


suas especificações.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 30
IV. Constante de Dissipação Térmica - razão entre a variação de potência dissipada
por variação de temperatura do corpo do termistor.

V. Constante de Tempo Térmica - é o tempo necessário para que o termistor modifique


em 63,2% a diferença entre suas temperaturas de corpo inicial e final quando sujeito
a um degrau de temperatura, caracterizando o “tempo de resposta do termistor”.

A. Composição
Os termistores são fabricados a partir de uma mistura de óxidos metálicos (manganês,
cobre, níquel, titânio, cobalto, lítio ou ferro) sintetizados sob alta pressão e altas
temperaturas.

B. Aplicações e Circuitos com Termistores


Há uma grande diversidade de circuitos nos quais os termistores podem ser utilizados
com grande vantagem. A seguir são exemplificadas algumas aplicações mais comuns
e seus respectivos circuitos.

I. Medida de Temperatura - o circuito apresentado na Figura 2.12(a) apresenta uma


topologia de circuito de baixa complexidade, porém de baixa precisão. Para medições
mais precisas, podem-se utilizar dois termistores colocados em braços opostos da
Ponte de Wheatstone onde a variação de temperatura atua simultaneamente nos dois
termistores. Esse procedimento multiplica por dois a sensibilidade do sistema A Figura
20(b) apresenta esse circuito com um amplificador operacional que amplifica o modo
não comum (veja o item 3) do sinal proveniente dos termistores.

(a) (b)
Figura 20. Circuitos típicos com termistor para medição de temperatura.
INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 31
II. Controle de Relé - a Figura 21 mostra um circuito simples que pode ser utilizado
para controlar um relé a partir de um termistor. O relé poderá, por exemplo, controlar
um resistor de aquecimento de água numa cuba onde algum tipo de processo deverá
ter sua temperatura constante. O termistor é colocado dentro do líquido e controla a
corrente que abre ou fecha o relé, de acordo com o ajuste efetuado através do
potenciômetro.

Figura 21. Circuito para controle simples de relé com termistor.

Pneumotacômetro

Dispositivo utilizado para medição de fluxo aéreo respiratório. Existem vários tipos de
pneumotacômetros (Pt), ou pneumotacógrafos como também são conhecidos,
descritos a seguir.

Fleisch

Consiste de um grupo de tubos capilares que formam uma colmeia, que oferece uma
pequena resistência a passagem do ar. Obedece a lei de Poiseulle para fluxos
laminares.

Onde: ∆P = pressão diferencial; µ = viscosidade do gás; l =


comprimento do capilar; V = vazão; r = raio do
capilar.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 32
Figura 22. Diagrama do Pt tipo Fleisch acoplado ao transdutor de pressão.

Devem ser utilizados com temperatura e viscosidade do gás nas mesmas condições da
calibração, e os fluxos devem ser laminares. Se essas condições não forem satisfeitas,
será altamente impreciso. Geralmente estão acoplados a um transdutor de
pressão/tensão (Figura 22) que converte a pressão diferencial gerada pelo Pt em
tensão elétrica.

Tela

Uma fina tela oferece resistência à passagem do fluxo, gerando, com isso, uma
pressão, do mesmo modo que no Pt tipo Fleisch (Figura 23).

Devem-se evitar fluxos que possuam partículas devido ao entupimento e também


deve-se evitar fluxos turbulentos. Devem ser limpos e recalibrados com frequência
para manterem a exatidão. Também são acoplados a transdutores de pressão/tensão.

Suas vantagens em relação ao Pt tipo Fleisch são: menor tamanho, maior resposta em
frequência e menor custo, podendo ser descartável.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 33
Figura 23. Pneumotacógrafos tipo tela. (a) metálico e bidirecional; (b) unidirecional e
descartável.

Fio quente
Ar em movimento tende a esfriar objetos. Esse é o princípio de funcionamento deste
tipo de transdutor de fluxo, ou seja, coloca-se um fino fio de platina no centro de um
tubo, aquece-se esse fio através de um circuito eletrônico que tende a manter a
temperatura constante. Ao se passar um fluxo de ar pelo tubo, o fio aquecido tenderá
a esfriar, porém o circuito eletrônico compensará esse esfriamento com o aumento da
corrente que será proporcional ao fluxo de ar.

Vantagens: alta sensibilidade a fluxos baixos; baixo custo, pois é necessário o uso do
transdutor de pressão.

Desvantagens: fragilidade, pois a limpeza se torna necessária, ocasionando


frequentemente o rompimento do fio; não linear, necessitando de um circuito
linearizador (Figura 24).

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 34
Figura 24. Diagrama do Pt tipo turbina. O pulso é gerado quando a turbina interrompe o
feixe luminoso.

Turbina

Um fluxo de ar é capaz de movimentar a hélice de uma turbina. O número de voltas


desta hélice é proporcional ao valor do fluxo de ar. Esse é o princípio de funcionamento
deste tipo de Pt. Na prática, essa hélice é feita de material bem leve para reduzir a
inércia e o número de voltas pode ser medido por uma fonte de luz e uma célula
fotoelétrica (Figura 2.17).

Vantagens: podem ser usados com fluxos turbulentos, tais como composição gasosa,
vapor d’água e temperatura diferentes da calibração, custo relativamente baixo se o
contador for acoplado a um microcomputador.

Desvantagens: baixa resposta em frequência pela inércia da turbina.

Figura 2.17. Diagrama do Pt ultrassônico. O fluxo de ar cria pequenos redemoinhos.


(turbilhamento) contados quando interrompem as ondas mecânicas.

Ultrassom

Esse tipo de transdutor tem o princípio de funcionamento o seguinte: quando um fluxo


de ar movimentando-se suavemente dentro de um tubo e encontra uma obstrução,
torna-se turbulento. Se o fluxo de ar movimenta-se mais rapidamente, aumenta a

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 35
turbulência. Um redemoinho único de turbulência pode ser detectado por pulsos de
onda mecânica (ultrassom) (Figura 2.18).

Vantagens: não entope facilmente com secreção ou umidade; pode ser de tamanho
reduzido.

Desvantagens: deve ser usado para baixos fluxos, pois com fluxos altos pode provocar
tanta turbulência que não será possível medir individualmente cada redemoinho.

Figura 2.18. Diagrama do Pt ultrassônico. O fluxo de ar cria pequenos redemoinhos


(turbilhamento) contados quando interrompem as ondas mecânicas.

Fotossensores

Apesar do vasto campo da optoeletrônica, este item irá restringir-se ao estudo dos
três diferentes tipos de células fotossensíveis: fotoelétricas, fotocondutivas e
fotovoltaicas (Figura 2.18).

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 36
Figura 2.18. Classificação dos fotossensores.

Os dispositivos fotossensíveis apresentam três importantes características:

 Resposta Espectral - o seu comportamento varia de acordo com as diferentes


frequências das energias radiantes.
 Sensibilidade - variação da corrente do dispositivo em função do iluminamento
(normalmente expresso em µA/lux).
 Resposta em Frequência - à medida que aumenta a frequência do feixe
incidente, a sensibilidade do dispositivo vai diminuindo chegando a -3 dB do
patamar inicial, ou seja, alcançando a frequência de corte do fotossensor.

Fotoelétricas

O funcionamento dessas células baseia-se no fenômeno de emissão fotelétrica, isto é,


na emissão de elétrons de uma superfície de um material metálico quando este é
exposto a um fluxo luminoso. O princípio físico é expresso pela equação (2.5).

E= h.f eq. (2.5)

Onde: E = energia de um fóton; h = constante de Planck (6,6256 x 10-34 Joule .


segundo); e, f = frequência da luz utilizada.

Quando um fóton incide em uma superfície metálica choca-se com os elétrons dos
átomos do material. Caso sua energia seja suficiente para retirar o elétron do átomo

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 37
do qual fazia parte, este poderá ser projetado para o espaço com certa velocidade
inicial.

Fotoresistores

Normalmente constituídos simplesmente por material semicondutor: a partir da


incidência de um feixe luminoso sobre sua superfície há uma redução da resistividade
do material. Os materiais mais utilizados para sua construção são o sulfeto de cádmio
e o sulfeto de chumbo. Os fotorresistores geralmente são conhecidos por LDR, ou seja,
light dependent resistor.

Fotodiodos

Os fotodiodos são análogos aos diodos de junção quando polarizados inversamente.


Quando um feixe luminoso incide na região de transição, são quebradas ligações
covalentes, provocando a variação da corrente de saturação, que consequentemente
atua no circuito associado ao fotodiodo.

Normalmente os fabricantes fornecem curvas que relacionam a variação da corrente


de saturação com a tensão inversa aplicada ao diodo, tendo como parâmetro o fluxo
luminoso que incide sobre a junção geralmente expresso em lux
(1 lux = 10 lumens/m2). A Figura 2.19 apresenta o gráfico de um fotodiodo típico. É
importante ressaltar a necessidade da especificação da temperatura na qual foi
extraído o gráfico em questão.

Figura 2.19. Curva característica de um fotodiodo típico.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 38
Fototransistores

São dispositivos semicondutores com duas Junções, que permitem a passagem de luz
sobre a junção base-emissor. Quanto maior a incidência de luz no diodo base-emissor,
maior a condutividade do transistor e consequentemente haverá um aumento da
corrente de coletor. As curvas são semelhantes às fornecidas em transistores comuns,
porém o parâmetro é o iluminamento (Figura 2.20).

Figura 2.20. Curva característica de um fototransistor tipo NPN.

Fotovoltaicas

Tais células produzem uma tensão elétrica quando submetidas a um fluxo luminoso.
Essa situação se verifica quando o diodo fica polarizado diretamente, forçando uma
corrente interna igual a zero. Observe também que nas células voltaicas quando a
tensão no diodo é nula temos a presença de corrente interna proporcional à
intensidade do feixe luminoso como apresentado na Figura 2.19.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 39
Fundamentos de Sistemas Amplificadores e de Condicionamento de Sinais
em Instrumentação

Os sistemas de medição de utilizados em engenharia biomédica usualmente aplicam


subsistemas denominados “sistemas de condicionamento de sinais”, os quais são
formados basicamente por circuitos amplificadores associados a filtros. A aplicação
desses circuitos garante uma melhor qualidade do sinal a ser tratado posteriormente,
pois são retirados ou minimizados os ruídos indesejados em relação ao sinal que de
fato trás a informação desejada. A seguir são as descritos os conceitos básicos desses
amplificadores e algumas topologias básicas dos circuitos mais conhecidos e utilizados.

Amplificadores Operacionais

Amplificador Operacional Ideal


Um dos principais objetivos da abordagem tecnológica na área de saúde é, sem dúvida,
a monitorização e/ou obtenção de sinais oriundos do próprio corpo humano, que,
nesse caso, torna-se uma fonte geradora de sinais. Infelizmente, a maioria desses
sinais provenientes dos processos fisiológicos internos ao corpo, são de pouca
intensidade e muito ruído. Assim, tornou-se obrigatório o desenvolvimento de sistemas
amplificadores que pudessem traduzir esses sinais em “algo” que pudesse ser,
posteriormente, analisado (Figura 3.1).

Neste tópico tentamos transmitir ao leitor o conhecimento necessário para que possa
compreender o funcionamento destes sistemas amplificadores, que em tópicos
posteriores (EQUIPAMENTOS) serão novamente abordados.

A. Simbologia

V1 (entrada invertida)

V2 (entrada não invertida) Vo (saída)

Figura 3.1. Simbologia de um amplificador operacional ideal apresentando alguns dos


possíveis terminais encontrados em diferentes tipos.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 40
B . Parâmetros
1. Ganho de tensão diferencial = infinito
2. Ganho de modo-comum = 0
3. Largura de banda = infinito
4. Impedância de entrada = infinito
5. Vo = 0 Volts quando a tensão de entrada = 0 Volts
6. Desvio dos parâmetros com a temperatura = 0
7. Ruído inerente à entrada= 0

Resposta em Frequência
A partir da Figura 3.2 verificamos o comportamento do amplificador operacional (Amp
Op) no domínio da frequência. Quando configurado em malha aberta, possui um alto
ganho, porém sua resposta em frequência é bem limitada. Por outro lado, quando
configuramos em malha fechada, amplificador inversor, por exemplo (Figura 3.2), há
uma expressiva redução no ganho e um consequente aumento na banda passante.

Figura 3.2. Resposta em frequência do amplificador operacional.

Algumas Topologias mais comuns Usando Amplificador Operacional


a. Buffer: Configuração não inversora de ganho unitário (Figura 3.3).

Figura 3.3. Circuito buffer.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 41
b. Inversor: Configuração inversora de ganho controlado pelo razão dos resistores
(Figura 3.4).

Figura 3.3. Circuito do amplificador inversor.

c. Não Inversor: Configuração não inversora de ganho controlado pelo razão dos
resistores.

Figura 3.4. Circuito do amplificador não inversor.

d. Diferencial: Configuração amplificadora de sinal não referenciados ao terra.


Ganho controlado pelo razão dos resistores (Figura 3.6).

Figura 3.5. Circuito do amplificador diferencial.

e. Somador: Configuração inversora que soma diferentes entradas de sinais com


pesos proporcionais aos resistores de entrada. Ganho controlado pelo razão dos
resistores (Figura 3.7).

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 42
Figura 3.6. Circuito do Amplificador somador inversor.

f. Filtro Passa-Baixa: Configuração que prioriza a eliminação de frequências


indesejáveis mais altas. Ganho e frequência de corte são controlados pelos valores
dos resistores e capacitores (Figura 3.8).

Figura 3.7. Exemplo de um filtro passa-baixa ativo de segunda ordem com amplificador
operacional.

g. Filtro Passa-Alta Configuração que prioriza a eliminação de frequências


indesejáveis mais baixas. Ganho e frequência de corte são controlados pelos
valores dos resistores e capacitores (Figura 3.9).

Figura 3.8. Exemplo de filtro passa-alta ativo de segunda ordem com amplificador
operacional.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 43
h. Filtro Passa-Banda:
Configuração que permite a passagem de frequências intermediárias.

Figura 3.9. Filtro passa-banda.

1.1.1 Amplificador de Instrumentação


a. Circuito: Configuração que combina diferentes topologias e é excelente para receber e
tratar analogicamente sinais oriundos de sensores não referenciados ao terra.

Figura 3.10. Circuito do amplificador de instrumentação usando três amplificadores


operacionais.

Vantagens e Aplicações
Esta topologia tenta minimizar algumas das limitações encontradas no circuito
amplificador diferencial básico (Figura 3.5). Tais limitações se resumem em se
conseguir o equilíbrio entre seus quatro principais parâmetros, ou seja, alta
impedância de entrada (Zin), grande ganho diferencial (Ad), alto CMRR e, mínimo DC-
offset na saída.

Uma observação cuidadosa no circuito da Figura 3.10 e verificamos que os dois


estágios de entrada, A1 e A2, são essencialmente amplificadores não inversores, o que
INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 44
nos garante altas impedâncias de entrada maiores que 1.010 Ohms. Os amplificadores
A1 e A2 podem ser projetados para altos ganhos sem causar excessivo offset nas
saídas V3 e V4. Para minimizar esse pequeno offset, o estágio de salda A3 pode/deve
utilizar resistores de valores baixos.

Em nossa observação verificamos, também, que o estágio de saída, A3, é um


amplificador diferencial básico e, desse modo, o CMRR de todo o sistema dependerá
exclusivamente do CMRR desse estágio. Assim, basta esse estágio estar perfeitamente
balanceado, ou seja, R6/R4 = R7/R5, para que consigamos alto CMRR. O desajuste
de R1, R2 e R3 apenas afeta o ganho diferencial e não o ganho de modo comum O
ganho de todo o sistema é normalmente controlado somente pelo ajuste de R1.

Em função de suas características, o amplificador de instrumentação, normalmente,


deve ser utilizado apenas em situações especiais, isto é, situações em que o sinal a
ser tratado é da ordem de (no máximo) dezenas de milivolts, e que por isso necessitem
ser grandemente amplificados (em torno de 1.000 vezes); e ainda assim o sistema
amplificador deve ter alta “rejeição do modo comum”, pois o “ruído de modo comum”
geralmente está presente no sinal processado. Esses tipos de sinais, em nosso caso,
são provenientes dos transdutores utilizados pelos EB, como, por exemplo, eletrodos,
termistores, pneumotacômetros etc.

Sistemas de Condicionamento de Sinais


Os sistemas de condicionamento de sinais de instrumentos de medição basicamente
são compostos pela combinação desses circuitos responsáveis pela amplificação e pela
filtragem dos sinais provenientes dos sensores/transdutores.

A Figura 3.11 apresenta uma diagramação em blocos-padrão na qual é possível


perceber um subsistema amplificador conectado diretamente ao transdutor e em
seguida um subsistema de filtro passa-baixa para redução do ruído no sinal; após esse
tratamento analógico do sinal, é em entregue ao subsistema responsável pela
conversão analógica-digital do sinal.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 45
Figura 3.11. Diagrama em blocos de um sistema de condicionamento de sinais típico de
um instrumento de medição padrão.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 46
Conversão Analógica-Digital E Digital-Analógica E Noções De Arquitetura
Microprocessada

Discretização de Sinais Analógicos – Conversação Analógico-Digital e


Digital-Analógico
Nas últimas décadas houve um incremento significativo no processamento digital das
informações, ou seja, os sinais analógicos provenientes dos transdutores deveriam ser
convertidos em sinais digitais para posteriormente serem processados pela arquitetura
microprocessada interna desses equipamentos. Essa conversão é denominada
“digitalização” dos sinais. A digitalização seria apenas uma ferramenta utilizada para
se converter os sinais analógicos, em sinais que possam ser interpretados pelos
sistemas computadorizados (Figura 4.1), ou seja, em linguagem binária. A abordagem
profunda desse tema será suficiente para a compreensão dos equipamentos a serem
descritos ao longo do curso.

Figura 4.1. Exemplo de diagrama geral de um sistema que converte um sinal analógico
em digital e digital em analógico.

Discretização dos Sinais - Conversão A/D e D/A


Transformação de um sinal de tensão contínuo no tempo em um sinal discretizado
conforme apresentado na Figura 4.2. Cada segmento do sinal discretizado apresentado
na Figura 4.2, representa a respectiva quantização, naquele instante de tempo, do
nível de tensão do sinal contínuo. Esse valor quantizado é então convertido para a

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 47
linguagem do computador, ou seja, para a “base binária”. Essa amostra do sinal
contínuo é feita em intervalos conhecidos (T – tempo de amostragem).

Eletronicamente, a amostragem do sinal do contínuo, a quantização, e a conversão


desta quantização pode ser feita com diversas técnicas, que não serão nosso objeto
de detalhamento por se tratar de assunto muito específico em termos eletrônicos. A
Figura 4.3 apresenta uma tabela exemplo de correlação de valores de voltagem,
resultados de um processo de amostragem do sinal contínuo, e o respectivo valor
binário atribuído ao valor amostrado.

Figura 4.2. Representação gráfica do processo de discretização de uma função/sinal


contínuo.

Figura 4.3. Exemplo de correlação de valores de voltagem amostrados de um sinal


contínuo e depois convertidos em códigos binários para serem compreendidos
por computadores.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 48
O processo de conversão digital para analógico utiliza a mesma correlação
apresentada, contudo, ao final retorna-se ao sinal contínuo. Esse sinal contínuo
reconstruído, entretanto, apresenta algumas pequenas distorções, conforme pode ser
observado no exemplo apresentado na Figura 4.4. Essas distorções podem ser
estimadas e calculadas de forma se tornarem aceitáveis para atender às especificações
do sistema eletrônico. Uma das restrições mais importantes é condicionada pelo
teorema de Nyquist, o qual impõe que a frequência utilizada para fazer a amostragem
no processo de quantização (denominado em inglês “Sample/Hold”) deve ser
minimamente duas vezes a frequência do harmônico principal do sinal a ser
digitalizado/discretizado. Nesse sentido, como forma de segurança na garantia da boa
qualidade do sinal, normalmente a frequência de amostragem é pelo menos 10 vezes
superior à frequência do harmônico principal do sinal a ser digitalizado. Nesses casos,
as distorções serão totalmente imperceptíveis, atendendo completamente às
exigências de projeto.

Figura 4.4. Exemplo de circuito de conversor Digital-Analógico tipo SOMADOR NÃO


INVERSOR. Os resistores deste circuito necessariamente devem ser de precisão.

Noções de Arquiteturas Microprocessadas

Arquitetura Típica de um Sistema Microprocessado


A análise em blocos, conforme apresentado na Figura 4.5, permite-nos afirmar que as
plataformas microprocessadas são compostas basicamente por três principais partes:
INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 49
a) CPU, ou Unidade de Processamento de Central – onde são interpretados e
executados os comandos, os códigos de controle, e o
endereçamento/mapeamento interno do sistema, ou arquitetura eletrônica.
b) Memória – parte responsável pelo armazenamento dos códigos e dados no
formado binário.
c) I/O – são dispositivos externos de entrada e saída de dados, tais como teclado,
monitor, disco rígido, entre outros.

Figura 4.5. Arquitetura-padrão de um sistema microprocessado.

Ainda muito importante é o responsável pela comunicação entre todos estes grandes
blocos que são os barramentos. Esses barramentos são responsáveis pelo tráfego da
informação para dentro e para fora da arquitetura. São divididos em três tipos de
barramentos:

 Endereçamento: dentro de uma arquitetura microprocessada tudo é mapeado


de forma binária, pois desse modo a CPU consegue controlar a localização de
bit dentro do sistema.
 Controle: são sinais internos específicos para determinar as ações que devem
ser realizadas, tais como escrita ou leitura na memória.
 Dados: diz respeito ao tráfego da informação propriamente dito.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 50
Fundamentos de Biofísica

Radiação e Espectro Eletromagnético

As RADIAÇÕES ELETROMAGNÉTICAS incluem ondas como a luz, as ondas de rádio,


os raios-X e outras radiações. Os diversos tipos de ONDAS diferem apenas no
COMPRIMENTO DA ONDA (λ) e na FREQUÊNCIA (f), que estão relacionadas pela
Equação 5.1. Assim como a quantidade de energia (E) transportada em cada FÓTON
(Ef) pode ser calculada a partir de seu comprimento de onda como demonstrado na
equação (5.2):

eq. (5.1)

eq. (5.2)

onde c = velocidade da luz no vácuo, e h = Constante de Planck (4,15x10-


15
eV).

Figura 5.1 mostra o espectro eletromagnético e os nomes que estão habitualmente


associados aos diversos intervalos de comprimento de onda e frequência. Esses
intervalos não são, muitas vezes, bem definidos e em alguns casos podem se sobrepor.
Por exemplo, ondas de comprimentos próximos a 0,1 nm são usualmente
denominadas de raios-X. Entretanto, quando originadas no núcleo atômico, são
denominadas raios gama.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 51
Figura 5.1. Diagrama do espectro eletromagnético.

O olho humano é sensível a comprimentos de onda entre 400 e 700 nm, por isso essa
região do espectro é denominada visível. Todas as cores do arco-íris têm
comprimentos de onda entre esses extremos. Os comprimentos mais curtos do
espectro do visível correspondem à luz violeta e os mais longos, à luz vermelha. Ondas
com comprimentos inferiores e superiores a estes correspondem à radiação
ultravioleta (UV) e à radiação infravermelha (IV), respectivamente.

Não há limites para os comprimentos de onda da radiação eletromagnética, ou seja,


teoricamente todos os comprimentos de onda são possíveis.

As diferenças entre os diversos comprimentos de onda são muito importantes. O


comportamento das ondas depende muito das dimensões relativas dos comprimentos
de onda e dos corpos físicos que as ondas encontram. Os raios-X, por exemplo, que
possuem comprimentos muito curtos e frequências muito altas, penetram com
facilidade muitos materiais opacos à luz, que tem frequências menores e são
absorvidas por aqueles materiais. As micro-ondas têm comprimentos de onda da
ordem de alguns centímetros e frequências próximas às frequências da ressonância
natural das moléculas de água, forçando o aquecimento dos fornos de micro-ondas.

Geração de Ondas Eletromagnéticas

Ondas-eletromagnéticas são resultados de força externa que provoca uma dupla


vibração que compreende um CAMPO MAGNÉTICO (H) e um CAMPO ELÉTRICO (E).
Essas duas vibrações estão em fase, possuem direções perpendiculares e se propagam
no vácuo com a velocidade da luz (Figura 5.2).

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 52
Figura 5.2. Representação da propagação de uma onda eletromagnética.

Estruturação do Átomo – Conceitos Básicos

O modelo atômico mais aceito baseia-se na composição apresentada na Figura 5.3, na


qual é observada a presença de partículas orbitais e um núcleo, os quais podem ser
caracterizadas segundo a ilustração.

Figura 5.3. Modelo do átomo.

 Núcleo composto por:


o Prótons: carga +1; determina o número atômico.
o Nêutrons: sem carga; isótopos = mesmo número de nêutrons; número de
prótons + número de nêutrons = peso atômico.
 Elétrons: carga -1; orbitam o núcleo; determinam propriedades químicas.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 53
Desativações do Átomo, do Núcleo, da Molécula e por Interação

Do Átomo

O átomo tem o seu estado fundamental de energia que está associado ao seu estado
fundamental de configuração eletrônica. Entretanto, ele pode assumir outros estados:

 Excitado (instável) – caracterizado pela migração de elétron para orbital mais


externo e o seu retorno para o orbital de origem onde é emitida uma radiação.
A energia da radiação emitida por um átomo ativado depende das diferenças
de energia entre as órbitas onde se processam os saltos eletrônicos (Figura
5.4(a)). Saltos entre as órbitas mais externas dão origem ao infravermelho (IV),
à luz visível ou ao ultravioleta (UV), em quanto àqueles que se processam nas
órbitas internas podem resultar na emissão de Raios-X.

 Ionizado: quando há ejeção de elétron (Figura 5.4(b)).

(a) (b)

Figura 5.4. (a) Processo de excitação do átomo resultado e emissão de energia/fóton.


(b) Processo de ionização em que a interação da radiação provoca retirada de
elétrons do átomo.

Do Núcleo

 Núcleos radioativos: radiações eletromagnéticas podem ser emitidas por núcleos


de átomos radioativos. São radiações de alta frequência (energia) denominadas
raios gama (y).

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 54
 Núcleos excitados: alinham-se com campo magnético B e, se resubmetidos ao
campo eletromagnético, realinham-se com RF; e, quando RF desaparece, voltam
ao alinhamento com B emitindo onda eletromagnética (efeito da RNM).

Da Molécula

O estado energético de uma molécula compreende a soma de várias instâncias de


energia: dos elétrons + vibração dos átomos + de rotação da molécula + translação
da molécula. Esse estado energético pode ser alterado denominando-se ativação ou
excitação. Quando esse estado de excitação retorna ao estado fundamental teremos
a emissão de radiação, conhecidas como fosforescência ou fluorescência.

Princípios Radiações Ionizantes e Não Ionizantes

O que É Ionização?

 Retirada de elétrons da estrutura eletrônica do átomo.


 Por que a ionização é tão prejudicial?

Tipos de Radiação

• Ionizantes – Raios gama (< 0,01 nm), raios-X duros, raiosX moles, radiação UV (A,
B, C). Veja o diagrama do espectro eletromagnético na Figura 5.5.

• Não Ionizantes – Luz visível (390 a 700 nm, violeta, azul, verde, amarelo, laranja e
vermelho), Infravermelho próximo (700 a 2.200 nm), infravermelho médio (2.200 a
5.000 nm), infravermelho distante (5.000 a 20.000 nm), micro-ondas (freq = GHz),
radiofrequências (f = MHz e kHz).

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 55
Figura 5.5. Diagrama do espectro das radiações ionizantes e não ionizantes.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 56
Equipamentos Biomédicos - Cardiovascular

Eletrocardiógrafo

O sinal ECG
O eletrocardiógrafo, ECG ou EKG, é um instrumento que mostra graficamente a
atividade elétrica do coração. O registro chama-se eletrocardiograma, também
abreviado por ECG, que, por sua vez, é normalmente reproduzido em registradores de
papel a uma velocidade de 2,5 ou 5 cm/s; Eletrocardiógrafos mais recentes também
podem apresentar o sinal de ECG em monitores de Tubo de Raios Catódicos (TRC),
sendo que o processamento poderá ser tanto analógico como digital.

O eletrocardiograma é uma forma de registro da atividade elétrica do coração obtida


a partir de eletrodos colocados na superfície do corpo. O ECG registra o efeito somado
de todos os potenciais de ação individuais das células miocárdicas. A Figura 6.1
apresenta um sinal de ECG básico.

Figura 6.1. Sinal de ECG básico.

Derivações
O coração pode ser encarado como um gerador elétrico encerrado em um volume
condutor: a cavidade torácica. O ECG mede os potenciais existentes entre os vários
pontos na superfície desse volume condutor e estas informações são usadas para
determinar as condições clínicas do coração. A Figura 6.2 apresenta todas as
configurações para as respectivas derivações comumente utilizadas.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 57
Figura 6.2. Configurações possíveis das derivações de ECG. (a) Ligações bipolares aos
membros; (b) ligações unipolares aos membros; (c) Ligações unipolares ao
peito (precordiais).

Equipamento Biomédico Eletrocardiógrafo

O sistema como um todo pode ser dividido em três partes (Figura 6.3):
i. Transdução (sensores): os sensores de entrada são pares de eletrodos
afixados à superfície do corpo do paciente ou diretamente ao tecido do coração.
São responsáveis pela captura dos sinais elétricos de interesse.
ii. Amplificação: graças à baixa amplitude do sinal proveniente dos eletrodos é
necessário um estágio de amplificação que possua alta impedância com ganho
ajustável.
iii. Registro: no caso de registradores de papel, emprega-se um sistema de
galvanômetro com uma pena atrelada à agulha, registrando em fita de papel o
sinal cardíaco.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 58
Figura 6.3. Diagrama em blocos do eletrocardiógrafo.

A. Análise dos Blocos

i. Buffers: esse bloco representa a interface entre o sinal de entrada (ECG) e o sinal
que será processado. Apresenta as seguintes características: altíssima impedância de
entrada, baixa impedância de saída, ganho unitário e baixo ruído inerente.

ii. Rede de Wilson (Comutador): Para se realizarem todas as combinações


possíveis (12) respectivas a cada derivação, utiliza-se uma rede resistiva em estrela
denominada “rede de Wilson”. Normalmente o comutador possui um contato que
provoca curto-circuito no amplificador entre as sucessivas posições das derivações
para evitar deslocamentos indesejáveis da pena durante a comutação. Alguns
eletrocardiógrafos realizam parada automática do papel durante a comutação da
chave. A primeira posição do comutador (Std) permite ao operador, por intermédio
de um botão no painel, gerar 1 mV (fonte interna) para calibrar o ganho do aparelho
sempre que necessário.

iii. Amplificador Diferencial: nesse estágio pode-se utilizar apenas um simples


“Amplificador Diferencial”, ou de forma aconselhável, um “Amplificador de
Instrumentação”. É neste estágio que se realiza o ajuste de ganho.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 59
iv. Realimentador de Modo Comum (RMC): esse pequeno sistema tem como
objetivo minimizar as possíveis interferências de 60 Hz provenientes da rede elétrica.
Observa-se na Figura 6.3 que esse sistema, também denominado “Righ-Leg-
Amplifier”, consiste em injetar na perna direita do paciente a soma invertida dos
sinais interferentes que chegam aos buffers na forma de tensão de modo comum. A
impedância de saída desse estágio é relativamente alta por causa da proteção ao
paciente.

vi. Registrador: o elemento motor da pena possui desenho similar a um


galvanômetro d’Arsonval, porém de construção mais robusta. Em alguns
equipamentos o elemento motor da pena incorpora um transdutor que fornece uma
tensão proporcional à posição da pena, que por sua vez é utilizada como sinal de
realimentação para o amplificador de potência para melhorar a resposta em
frequência do registrador. Este ainda contém: uma pena termoimpressora, a fonte
de alimentação e o motor de arraste de papel com mecanismos seletor de
velocidades.

vii. Considerações Gerais:


• O Shield do cabo que conduz os fios respectivos a cada eletrodo deverá ser
aterrado.
• Cada fio de cada derivação possui uma cor específica: RA - branco, LA - marrom;
RL - verde; LL - vermelho e C -preto.
• Os estágios de entrada possuem uma rede de resistências e lâmpadas neon para
proteger o equipamento de prováveis sobretensões, provenientes de outros
equipamentos (bisturis elétricos e/ou eletrocauterizadores, por exemplo).

B. Características/Especificações (normas)
As características de operação de operação foram especificadas pela Associação
Americana do Coração (1975) e são as seguintes:

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 60
I. Com uma resposta de amplitude de 20 mm pico a pico em 25 Hz, a resposta
em amplitude constante para sinais senoidais na faixa de 0,14 a 25 Hz será
plana dentro de 6% (0,5 dB). A resposta em 0,05 Hz não será reduzida para
menos que 30% (-3 dB) da resposta em 0,14Hz
II. Com uma resposta em amplitude de 10 mm pico a pico em 25 Hz, a resposta
para amplitude constante a sinais senoidais na entrada acima de 50 Hz deverá
ser plana entre +6% (+0,5 dB).
III. Com uma resposta em amplitude de 5 mm pico a pico em 25 Hz, a resposta
para amplitude constante a sinais senoidais na entrada acima de 100 Hz não
será reduzida por menos que 30% (-3 dB), produzindo um registro na saída de
3,5 mm em 100 Hz.
IV. Dentro da banda, nenhuma frequência terá a resposta excedida aos limites
superiores especificados para a faixa de 0,14–50 Hz.
V. No aparelho deve haver um sinal padrão de amplitude igual a 1 mV para servir
de calibração.
VI. A velocidade gráfica é padronizada em 2,5cm/s ou 5cm/s.
VII. O instrumento não deve admitir correntes superiores a 1 μA através do paciente
(correntes de fuga inferiores a 10 μA já são aceitáveis).
VIII. O ganho deverá estar disponível em três opções: 5, 10 e 20 mm/V.
IX. O desvio de linearidade deve ser menor que 5% da saída pico a pico, para um
sinal cuja amplitude na saída esteja entre 5 e 50 mm no gráfico. Para amplitudes
pico a pico menores que 5 mm, o desvio de linearidade não deve ser maior que
0,25 mm. Esses requisitos cobrem sinais compostos de componentes de
frequência entre 0,05 e 100 Hz.
X. Rejeição de modo comum: para cada posição da chave seletora de entrada,
com o ganho do registrador ajustado em 10 mm/mV e com todas as linhas de
entrada de eletrodos conectadas, aplica-se a essa junção de eletrodos, por meio
de um capacitor de 22 pF, um sinal de 120 VRMS 60 Hz de fonte, cujo segundo
terminal foi aterrado. Sob estas condições a deflexão de pena não deve exceder
20 mmpp Essa especificação deverá ainda ser válida quando uma resistência

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 61
de 100 kΩ for colocada em série com uma ou mais linhas de entrada em
qualquer das combinações de eletrodos.
XI. A impedância de saída deve ser menor que 100 Ω e o fundo de escala deve ser
de +1 V.

Esteira Ergométrica

A esteira e a bicicleta ergométrica são utilizadas para se diagnosticar a capacidade do


coração em responder aos esforços e verificar a existência ou não de alterações no
registro do eletrocardiograma e da pressão arterial.

O paciente é submetido a um esforço físico crescente propiciado pelo aumento da


velocidade e inclinação da esteira e, no caso da bicicleta, ao aumento da resistência
aos pedais.

As esteiras são preferidas em relação às bicicletas porque o esforço físico despendido


na “caminhada” é mais abrangente, comprometendo vários grupos musculares, do que
a “pedalada”, na qual o grupo muscular dianteiro da coxa é o mais exigido. Assim, a
primeira modalidade permite que o músculo cardíaco responda ao esforço antes de
ocorrência de fadiga muscular esquelética. Já na segunda modalidade pode ocorrer a
fadiga da musculatura da coxa antes de ocorrer resposta da musculatura cardíaca.

Esses aparelhos são largamente utilizados em hospitais, clínicas e consultórios


especializados em testes ergométricos.

Princípio de Funcionamento e Operação

A esteira é constituída por um motor com uma alta potência (3 CV), responsável pelo
deslocamento do piso, com controle de velocidade, que pode ser elétrico/eletrônico ou
mecânico, e outro motor de menor potência que o primeiro, responsável pela
inclinação do piso.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 62
A bicicleta, também chamada de ciclo ergômetro, é fixada a um plano e acionada pelo
próprio paciente, sendo o controle da velocidade executado por ele em um painel
indicativo (velocímetro). A carga a ser acrescida ao esforço de pedalar é colocada
gradativamente pelo operador e a velocidade deve ser mantida constante pelo
paciente.

As esteiras mais modernas possuem protocolo de investigação de uso internacional.


Há, portanto, pré-programação da velocidade de deslocamento da inclinação, em
função da idade, sexo e condições físicas do paciente. Essa pré-programação é
acionada por circuito eletrônico que controlam os parâmetros escolhidos (velocidade,
percentual de inclinação e tempo).

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 63
Equipamentos Biomédicos Cardiovasculares – Continuação

Desfibrilador
O coração é uma bomba síncrona, ou seja, há um perfeito casamento entre os
movimentos de contração (sístole) e dilatação (diástole) dos músculos de suas
cavidades: átrios e ventrículos. Quando se caracteriza a perda deste sincronismo
denominamos o fenômeno de “fibrilação”. A fibrilação tanto pode ser atrial como
ventricular. A fibrilação atrial é traumática para o paciente, porém, pode autocorrigir-
se, ou seja, dificilmente leva à morte o indivíduo em curtos espaços de tempo. Por
outro lado, os casos de fibrilação ventriculares podem levar o indivíduo à morte em
poucos minutos, pois o fenômeno não é autocorrigível.

Figura 7.1.(a) Circuito básico do desfibrilador cardíaco. (b) Curva de descarga típica.

Mediante todos esses fatos descritos, era imprescindível que se descobrisse um


equipamento/processo que pudesse forçar o retorno ao sincronismo, ou melhor, o
término da fibrilação. Inicialmente, após alguns testes e estudos chegou-se à
construção do desfibrilador AC, que utilizava uma descarga de corrente alternada na
área do coração do paciente. Posteriormente, esse método foi abandonado por sua
ineficiência e a consequente descoberta do desfibrilador DC (1962), que demonstrou
ser bem mais eficiente. A técnica de desfibrilação DC é utilizada até os dias de hoje;
INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 64
baseia-se no simples princípio de carga de alta tensão em um capacitor, C (Figura
7.1(a)), e sua rápida descarga, por meio de eletrodos próprios, no peito do paciente.
Essa técnica demonstrou ser extremamente eficiente na correção de fibrilações atriais,
ventriculares e outras arritmias.

O capacitor C presente no circuito do desfibrilador apresentado na Figura 7.1(a)


normalmente chega a acumular a energia elétrica de 100 a 400 W-seg (Joules) durante
a descarga, que dura aproximadamente 5mseg. O indutor L tem a função de evitar
picos/transientes indesejáveis no momento do chaveamento para descarga.

Na Figura 7.1(b) verifica-se que a curva do capacitor é essencialmente monofásica,


chegando a alcançar correntes próximas a 20 A, equivalente em tensão a 6.000 Volts,
que, por sua vez, pode vir a causar danos ao miocárdio e às paredes do peito do
paciente.

Objetivando a diminuição dos riscos ao paciente, a curva de descarga passou a ter


maior duração, 10 mseg (Figura 7.2), ou seja, passou a ter dois picos respectivos a
descarga de dois capacitores. Nesse caso a descarga do segundo capacitor somente
pode começar milissegundos após o pico de carga do primeiro capacitor. Se a energia
de descarga é igual à área da curva, poder-se-ia reduzir o nível de tensão para
1.000 Volts, o que garantiria uma energia de 50 a 200 W-seg.

Figura 7.2. Curva de carga e descarga do desfibrilador que traz menos riscos ao paciente.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 65
Apenas com o objetivo de otimizar o desempenho do desfibrilador representado na
Figura 7.1, finalmente, desenvolveu-se um desfibrilador, usado até os dias de hoje,
que possui a curva truncada, tanto em amplitude como no tempo. Como podemos
verificar na Figura 7.3, a curva tem a amplitude razoavelmente constante e a duração
da descarga pode ser ajustada pelo operador. Para garantir esse desempenho, o
equipamento deve possuir dois circuitos adicionais: limitador de tensão e temporizador
(circuito lógico). Ainda nesse equipamento foram introduzidos os eletrodos utilizados
até hoje, ou seja, pás-discos de metal de 8-10 cm.

Figura 7.3.Curva de carga e descarga dos desfibriladores atuais.

Normalmente, o desfibrilador possui uma perda interna relativa ao que ele apresenta
em seu indicador (W-seg) e o que realmente será aplicado ao paciente, podendo
chegar em algumas situações a 40%. Desse modo, é recomendado que se faça a
calibração do equipamento com regularidade preventiva.

Os equipamentos mais novos, utilizados atualmente, permitem que o acionamento da


descarga seja sincronizado com a onda “R” do sinal de ECG proveniente de outro
equipamento. Essa sincronia evita possibilidade de provocar fibrilação ventricular no
paciente. Esse tipo de equipamento também é denominado cardioversor.

Fluxômetro Doppler
Um suprimento adequado de sangue para todos os órgãos é necessário; de fato, um
suprimento debilitado de sangue pode ser causa de várias doenças. A capacidade de
medir o fluxo sanguíneo que supre um determinado órgão seria de grande ajuda nos
INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 66
diagnósticos de tais doenças. Infelizmente, o fluxo sanguíneo não é facilmente medido,
forçando a utilização de um método indireto para se conseguir este objetivo. Em
particular, será exemplificado e descrito o método de medição baseado no princípio
do “Efeito Doppler” presente na interação com ondas ultrassônicas. Em outras
palavras, será apresentado o “fluxômetro Doppler de onda contínua direcional e não
direcional”; antes, porém, será feita uma rápida explanação sobre os princípios físicos
do “efeito Doppler”. Vale ainda ressaltar, que a técnica a ser descrita, em geral não é
invasiva e, portanto, não traz danos ao paciente.

Efeito Doppler

Pelo efeito Doppler, o movimento relativo entre o transmissor e o receptor produz uma
mudança na frequência do sinal (oriundo do transmissor) que chega ao receptor. O
desvio da frequência é proporcional à velocidade relativa entre o receptor e o
transmissor. Em aplicações biomédicas, o efeito Doppler é utilizado principalmente
quando a superfície refletora se move e o transmissor e o receptor estão parados. A
Equação 7.1 relaciona o desvio da frequência (fd), da onda refletida em relação à onda
emitida.

fd = 2 fi Vr cos (Ø/c) eq. (7.1)


onde, fd = desvio em frequência; fi = frequência da fonte; Vr = velocidade relativa
do refletor (hemácias); c = velocidade de propagação do ultrassom nos
tecidos (1.540 m/s); Ø = ângulo entre o feixe do ultrassom e o eixo
longitudinal do vaso sanguíneo.

Considerações sobre o Fluxo Sanguíneo

O movimento das hemácias no sangue será totalmente síncrono com o batimento


cardíaco. Em geral o fluxo sanguíneo possui três fases na seguinte ordem: anterógrado
ou direto; retrógrado ou reverso e anterógrado novamente. Desta forma, a onda
resultante, proporcional em amplitude à movimentação das hemácias será como
apresentado na Figura 7.4.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 67
Figura 7.4. Sinal representativo em amplitude do fluxo sanguíneo.

Perceba que a análise do fluxo sanguíneo através do sinal apresentado na Figura 7.4
permite concluir que não há simultaneidade de fluxos: direto e reverso. Essa conclusão
é incorreta, pois já é de conhecimento que existem momentos de coexistência dos dois
tipos de fluxos. Essa observação é importante, porém não afeta os propósitos.

Doppler de Onda Contínua Não Direcional

Esse tipo de equipamento, atualmente, resume-se apenas aos Doppler obstétricos


(ainda é utilizado em fluxômetros Doppler vasculares mais antigos), em que o mais
importante é a transmissão da sensação auditiva para o médico. O som emitido pelo
equipamento já traz subsídios suficientes para que o médico possa chegar a conclusões
dentro daquilo a que ele se propõe. Por outro lado, o sinal registrado, nesse caso,
pode causar algumas confusões.

A Figura 7.5 mostra o diagrama em blocos de um simples medidor de fluxo sanguíneo


de onda contínua. A seguir a descrição das principais características de cada bloco:

i. Oscilador - gera sinais senoidais com frequências entre 2 (obstétrico) e 10 MHz.

ii. Amplificador de RF - o sinal proveniente do transdutor é a soma (no domínio da


frequência) da portadora com o sinal deslocado (Doppler). A amplitude do sinal
deslocado é aproximadamente 0,1% da amplitude da portadora. O deslocamento
de frequência é da ordem de 0,001 da portadora, ou seja, alguns kHz.

iii. Detector - circuito formado por transistor, responsável pelo “batimento” das
frequências recebidas. Nesse módulo ocorre o processo de eliminação da
INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 68
portadora através da seleção/sintonia da frequência deslocada (Doppler). Esses
sinais detectados estão dentro da faixa audível.

iv. Amplificador de Áudio - a frequência Doppler fica na faixa audível, porém para
que possamos escutar através de autofalantes é necessário que este sinal seja
amplificado. Normalmente antes desse estágio amplificador coloca-se um filtro
passa-faixa operando na faixa de 100 a 15 KHz.

v. Zero-Crossing (Detector de Zeros) - tem a função de efetuar a conversão de


frequência em tensão, do sinal de áudio proveniente do amplificador de áudio.
Toda vez que o sinal de áudio cortar o eixo (zero), o circuito emitirá um pulso de
área constante. Devido à presença de ruídos no sinal é necessário que o circuito
comparador force uma histerese.

vi. Filtro Passa-Baixa (FPB) - o sinal na saída do zero-crossing é uma série de pulsos.
Esse sinal passa pelo FPB com frequência de corte superior em 25 Hz (que
reproduzem as frequências de interesse do fluxo sanguíneo), onde serão
removidas as componentes de alta frequência. Finalmente, a saída desse FPB
produzirá um sinal analógico proporcional à velocidade do sangue.

Figura 7.5. Diagrama em blocos de um fluxômetro Doppler de onda contínua não


direcional.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 69
Figura 7.6. Sinal-padrão de um equipamento Doppler não direcional.

A comparação entre os sinais representados nas Figuras 7.4 e 7.6 demonstra que esse
tipo de equipamento Doppler apresenta uma grave limitação, ou seja, não é capaz de
detectar o sentido do fluxo sanguíneo.

Doppler de Onda Contínua Direcional

A primeira, e mais simples, solução a surgir foi a elaboração de um sistema formado


por um “detector por quadratura de fase” e pelo “sistema set-reset”. Cabe ressaltar
que essa solução apresenta um erro inerente ao sistema eletrônico, porém esse
sistema foi, e ainda é, muito utilizado.

Sistemas mais atuais utilizam outras técnicas, como por exemplo, “Phase Locked Loop”
(processamento analógico) e “Fast Fourier Transform” (processamento digital). Esse
tipo de equipamento é bastante utilizado atualmente em exames vasculares em geral
(Figura 7.6).

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 70
Figura 7.6. Diagrama em blocos de um Doppler direcional de onda contínua que utiliza o
“detector por quadratura de fase” e o “sistema set-reset”.

Observando-se a Figura 7.6, verifica-se que dois sinais de referência, seno e coseno,
gerados a partir do circuito oscilador, são injetados em dois somadores/misturadores
(na frequência). Os sinais de referência e o sinal à saída do amplificador de RF são
linearmente misturados, produzindo sinais sem a presença da portadora. Esses sinais
sem a portadora devem passar por respectivos filtros passa-faixa para que se eliminem
as frequências indesejáveis. Eliminando-se os níveis DC residuais, chega-se aos
seguintes sinais:

S = -X sen wdt + Y sen wrt eq. (7.2)


C = X cos wdt + y cos Wrt eq. (7.3)
onde: wd = deslocamento de frequência do fluxo direto;
wr = deslocamento de frequência do fluxo reverso; e
X e Y = constantes.

Assumindo o processamento no domínio do tempo, ou seja, ou o fluxo é direto ou é


reverso, nunca os dois simultaneamente, chegamos à conclusão (a partir das Equações
7.2 e 7.3) de que, no caso de fluxo direto, o sinal C terá o mesmo comportamento na
fase do que para fluxo reverso. Por outro lado, o sinal S apresentará uma defasagem
de 180 para a mesma situação.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 71
Figura 7.7. Diagrama no tempo relativo ao sistema set-reset.

A Figura 7.6 mostra a lógica que detecta o sinal da fase. Essa lógica faz o papel do
sistema set-reset, que, por sua vez, desempenha a função do zero-crossing nesse
equipamento. O canal respectivo ao sinal C controla o comparador (1), de quem a
saída é conectada às entradas das duas portas lógicas AND (Figura 7.7), que não
trocam com o sentido do fluxo. O canal S sincroniza/controla um monoestável que
deve gerar pulsos de pequena largura. Dependendo do sentido do fluxo, o
monoestável sincroniza o pulso no início ou meio do período, como mostrado na Figura
7.7. Assim, as portas AND guiam esses pulsos para as entradas “+” e “-” do
amplificador diferencial, que, então, produz a saída bidirecional.

INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 72
Equipamentos Biomédicos Cardiovasculares – Continuação

Ecocardiógrafo

O ecocardiógrafo é um equipamento destinado a auxiliar o diagnóstico de doenças


cardíacas, através da utilização de ultrassom. O diagnóstico mediante utilização do
ecocardiógrafo é considerado um método não invasivo, já que nenhum dano aos
tecidos foi registrado. Essa modalidade de equipamento utiliza a técnica dos “sistemas
pulso-eco” em ultrassom; portanto, inicialmente, será feita uma rápida explanação
sobre o princípio de funcionamento desses sistemas.

Sistemas Pulso-Eco

Os princípios desse sistema são ilustrados na Figura 8.1. Se o processo ilustrado é


repetido de modo suficientemente rápido (em taxa acima de 20 s-1), o traço
permanecerá fixo e poderá ser observado no monitor.

Figura 8.1. Princípio básico de sistemas “pulso-eco”.

Esse sistema apresentado na Figura 8.1 é denominado Modo A de operação, que por
sua vez não tem muita aplicação em EB. A seguir, a Figura 8.2 apresenta a
diagramação dos modos B e M de operação, sendo este último utilizado em
INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR I 73
Ecocardiógrafos. Como pode ser observado, o modo M representa graficamente na
tela do osciloscópio um corte ultrassônico dos tecidos. Nesse modo, os pontos
apresentados na modalidade B passam a se deslocar no osciloscópio com velocidade
conhecida o tempo e o espaço, pois o eixo X representará o tempo e o Y a distância.

Figura 8.2. Representação dos modos A, B e M de operação dos sistemas pulso-eco: (a)
representação esquemática de uma seção através do corpo (b) modo A; (c)
modo B; (d) modo B com a linha de varredura síncrona com a direção do probe
e (e) modo B de duas dimensões, ou modo M, integrado por várias varreduras
individuais, cada uma similar a (d).

Funcionamento

A descrição a seguir estará de acordo com o diagrama em blocos da Figura 8.3.


Inicialmente, observamos um circuito “oscilador” que tem a função de gerar sinais
senoidais com frequência em torno de 5 MHz. Esse sinal será basicamente a portadora
dos pulsos que deverão ser gerados no circuito “gerador de pulsos - clock”.

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Como o próprio nome menciona, o circuito gerador de pulsos produzirá os pulsos, que
após serem amplificados, excitarão as cerâmicas piezoeléctricas do transdutor. Tais
pulsos têm a duração de 1 a 2 μs, sendo 500 a 1.000 μs o intervalo entre eles. Assim,
nos 999 μs restantes, o transdutor receberá os ecos de ultrassom provenientes das
diversas interfaces dos tecidos. Esses pulsos-eco serão amplificados e, em seguida,
desmodulados e filtrados, a fim de se eliminar ruídos.

O circuito amplificador é projetado de modo a ter uma “amplificação diferencial”, ou


seja, ecos de interfaces mais distantes devem ser mais amplificados ou os ecos mais
próximos devem ser amortecidos. Na prática, esses amplificadores possuem um ganho
logaritmo.

Antes de esse sinal ser injetado no filamento respectivo ao brilho do TRC, deverá
passar pelo circuito “amplificador de vídeo”, que elevará os níveis de tensão do sinal.

Figura 8.3. Diagrama em blocos de um ecocardiógrafo básico.

Para discutirmos a formação da imagem é necessário que observemos antes o circuito


“controlador do transdutor”. Como sabemos, para formação da imagem no modo M,
é necessário que se realize uma varredura ultrassônica nas estruturas do corpo que se
deseja examinar, e, para isso, é imprescindível que tenhamos um circuito exclusivo
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para controlar todo este processo síncrono. Para cada pulso da varredura ultrassônica
teremos uma respectiva linha de varredura horizontal no monitor (não esquecendo o
respectivo atraso), formando-se desta forma a imagem na tela. É importante perceber
que toda vez que o processo tiver reinício, ou seja, quando já tiver sido feita a
varredura ultrassônica em toda a seção desejada do corpo, o processo deverá
recomeçar para reconstrução da nova imagem. Para garantir que isto aconteça é
necessário que haja um sincronismo entre o circuito gerador de varredura vertical e o
controlador do transdutor.

Vale lembrar que a imagem formada no monitor é respectiva à visão transversal à


direção dos pulsos ultrassônicos, ou seja, são vistas transversais à estrutura.

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Bibliografia Básica

CROWELL L. Biomedical instrumentation and measurements. 2. ed. USA


Prentice-Hall, 1980.

WEBSTER, J. G. Medical instrumentation: application and design. 4. ed. Boston:


Houghton Mifflin Co., 2009.

Bibliografia Complementar

BRONZINO J. D. Management of medical technology: a primer for clinical


engineers. [s/l] Taylor & Francis e-Library, 2005.

COBBOLD, R. S. C. Transducers for biomedical measurements: principles and


applications. USA: John Wiley & Sons, 1974.

NORTHROP, R. B. Introduction to instrumentation and measurements. 2. ed.


USA, 2005.

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