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«Don Juan então parafraseou seu professor, dizendo-me que a história referia-se a

um homem que sofria uma profunda melancolia. Ele consultou os melhores médicos
de sua época e cada um deles fracassou em tentar ajudá-lo. Ele finalmente foi ao
consultório de um médico eminente, um curador de almas. O médico sugeriu que seu
paciente talvez pudesse encontrar um consolo, e o fim de sua melancolia, no amor. O
homem respondeu que o amor não era problema para ele, e que ele talvez fosse a
pessoa mais amada em todo o mundo. A sugestão seguinte do médico foi que ele,
talvez, devesse viajar para conhecer outras partes do mundo. O homem respondeu
que, sem exagero nenhum, esteve em todos os lugares do mundo. O médico
recomendou 'hobbies' como artes, esportes, etc. O homem respondeu cada sugestão
do médico com as mesmas palavras: tinha feito tudo aquilo e não encontrara alívio. O
médico suspeitou que o homem talvez fosse um mentiroso incurável. Ele não poderia
ter feito todas aquelas coisas, como afirmava. Mas sendo um bom curador, o médico
teve um insight final.

"Ah!" Exclamou ele. "Tenho a solução perfeita para você, senhor. Você deve assistir
ao espetáculo do maior comediante da atualidade. Ele irá deliciar você de tal maneira
que você irá esquecer cada pedacinho de sua melancolia. Você deve assistir ao
espetáculo de 'O Grande Garrick!'"

Don Juan disse que o homem olhou para o médico com a expressão mais triste que
possa ser imaginada, e disse, "Doutor, se essa é a sua recomendação, eu estou
perdido. Não tenho cura. Eu sou 'O Grande Garrick.'"»

(Carlos Castaneda, in «O Lado Ativo do Infinito')

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