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FILIPE PIRES

Portugaliae Genesis
Sintra
Akronos
Orquestra Filarmónica de Budapeste,
Coro da Ópera Nacional Húngara
Jànos Sándor (Maestro)
Oliveira Lopes – barítono
PORTUGALSOM

Filipe Pires, nascido em 1934, é um dos compositores mais importantes da segunda metade do
século XX em Portugal. Jovem pianista com uma carreira internacional em ascensão, a composição
foi adquirindo desde cedo uma maior força na sua vida musical. Ainda muito jovem foi galardoado
em concursos internacionais de composição (Liege 1959, Colónia 1959, Nápoles 1960), tendo
terminado os estudos na Alemanha e regressado a Portugal em 1960, nomeado professor de
composição no Conservatório do Porto.
Filipe Pires é um compositor que se caracteriza por não se sentir filiado a uma das estéticas
presentes no seu tempo. Entre as suas obras, inicialmente mais próximas do canon neo-clássico,
encontram-se exemplos das mútiplas referências do séc XX tais como dodecafonismo, serialismo,
experimentalismo cagiano, minimalismo repetitivo, obras electro-acústicas, obras com infuência da
música porpular portuguesa, etc. Mais ainda, tal ecletismo é constante no tempo, não havendo
períodos que se possam definir em termos de uma ou outra técnica/estética, com excepção do neo-
classicismo de pendor germânico nas obras iniciais.
As obras presentes neste CD representam uma fase específica da sua carreira, sendo comum o saber
instrumental e o domínio da orquestra em obras distintas nas técnicas e nos propósitos.
Portugaliae Genesis, de 1968, é uma obra monumental para coro, barítono e orquestra que obteve o
Prémio Gulbenkian. Escrita em três quadros (era arianorum, era sarracenorum e libertas),
reconhece-se as múltiplas influências então presentes, desde as sonoridades mais vanguardistas
presentes em Akronos, até o melodismo de influência popular e as estruturas neo-clássicas próprias
do iníco do século. Destaca-se a capacidade expressiva, integrando de uma forma unitária as
múltiplas influências presentes, tendo eventualmente em perspectiva a procura de uma possível
portugalidade musical na multiplicidade das suas influências.
Sintra, de 1969, com o subtítulo “música para uma curta metragem imaginária”, é uma curta obra
orquestral inspirada em 8 hipotéticos quadros da região. Apesar do título algo descritivo, a música
denota o interesse do compositor não pela superficialidade impressionista mas por sonoridades
orquestrais densas e fortemente expressivas, talvez coincidentes com o espírito misterioso - mesmo
esotérico - que a zona de Sintra e o seu património carregam. Como em Portugaliae Genesis,
destaca-se a profusão de recursos expressivos mas, ao contrário desta, a música aproxima-se
nitidamente das sonoridades abstractas de Akronos.
Akronos, para orquestra de cordas, de 1964, evidencia o lado hipoteticamente vanguardista deste
compositor, na verdade pouco dado a provocações públicas. Estreada em Lisboa, foi alvo de
bastante controvérsia mercê das suas propostas aparentemente inusitadas. É uma obra sintomática
da procura expressiva de Filipe Pires após a frequência dos Cursos de Darmstadt (1963), no entanto
sempre filtrada pela expressividade directa e intuitiva comum a outras obras.
Sendo Filipe Pires um compositor sempre atento ao seu tempo, estas três obras não refletem a
integridade do percurso estético deste invulgar compositor, sendo somente representativas das suas
amplas capacidades expressivas e das motivações estéticas e técnicas que Filipe Pires e o meio
musical viveram nos anos 60 em Portugal.

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