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RESUMO
ABSTRACT
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fundamentais para o destaque do consumidor nessa (e até mesmo àqueles que não são consumidores
relação social; mais ainda, as marcas conquistam imediatos) os valores que as empresas e suas
características pessoais projetadas pelos próprios marcas buscavam propagar e impactar as pessoas
consumidores, delineando assim um pretenso de forma mais ampla. A publicidade transformou
estilo de vida e tipologia psicológica, a partir da a existência destas marcas de algo material e
utilização de algum produto associado ao nome comercial para algo imaterial e emocional, quase
de uma marca reconhecida e respeitada no âmbito espiritual, e essa nova mentalidade do mundo
social. Conforme postula Néstor García Canclini, corporativo alcançou o próprio processo de
“Numa época em que as empresas fabricam não gestão, que levou seus executivos a interpretar
apenas bens úteis, mas também atitudes, estilos de suas empresas com organismos vivos, dotados
vida e aparências pessoais, as marcas globalizadas de “personalidade” e valores, caracterizando-
vinculam milhões de consumidores” (CANCLINI, se assim como um dispositivo fetichista, tal
2008, p. 32). como apresentado por Marx: Uma relação
A ação crucial da publicidade na social definida, estabelecida entre os homens,
sociedade capitalista consiste em favorecer o assumindo a forma fantasmagórica de uma
estabelecimento de uma espécie de hipostasia relação entre coisas (MARX, 2002, p. 81).
dessas marcas em relação ao imaginário coletivo, Este processo fetichista de exaltação das
como se porventura o consumo de um produto marcas elegeu os publicitários, estrategistas de
agregado ao nome da marca fornecesse ao ser marketing e designers como os novos gurus de uma
humano a felicidade e satisfação que ele não heteróclita comunidade de consumidores, que
encontra em suas atividades corriqueiras. se alastrou por todo o mundo e tornou o sistema
No decorrer deste artigo será analisado de mercado um amplo território a ser conquistado
que maneira as marcas apresentam qualidades pelos ardis da sedução. Conforme destaca Laymert
sedutoras de fidelização dos consumidores, Garcia dos Santos, “O consumidor não é mais um
adquirindo um valor simbólico que transcende alvo do mercado, ele torna-se o próprio mercado,
o caráter funcional das suas ofertas materiais, cujo potencial é preciso conhecer, prospectar
promovendo assim o estabelecimento de uma e processar” (SANTOS, 2011, p. 143). Por
relação socioeconômica pautada na especulação conseguinte, o que está em jogo na propaganda
psicológica das marcas como ícones de distinção é a capacidade de estimular a pessoa a consumir
social para os seus detentores, e de que maneira um dado produto, destacando-se as características
esse mecanismo estabelece mudanças nas trocas que se julga como potenciais fontes de atração
econômicas da sociedade capitalista. da percepção do sujeito, cuja sensibilidade se
encontra cada vez mais embotada pelo acúmulo
2 A FORÇA PERSUASIVA DAS MARCAS NA anárquico de estímulos recebidos em sua agitada
SOCIEDADE DE CONSUMO vida cotidiana nos grandes centros urbanos.
Em vista dessas questões, Claude Hopkins, um
A publicidade desempenha papel essencial dos sistematizadores modernos da doutrina
no cenário comercialista do capitalismo tardio, mercadológica da propaganda, afirma que:
enquanto ferramenta de comunicação de massa,
que levava ao público efetivamente consumidor O publicitário competente deve
entender de psicologia. Quando mais
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conhecer sobre ela, melhor. Deve tornou-se uma tarefa árdua para a indústria de
aprender que determinados efeitos
levam a determinadas reações, e utilitários e uma grande responsabilidade técnica,
usar tal conhecimento para melhorar tanto na movimentação de matérias-primas e
resultados e evitar erros. (HOPKINS, distribuição, quanto na manutenção do desejo de
1970, p. 49).
compra do consumidor, já que na verdade essa
disposição desiderativa é o grande combustível da
O mecanismo publicitário, ao revestir com
cadeia produtiva do sistema capitalista como um
qualidades inexistentes os produtos ofertados,
todo. André Gorz argumenta que
faz o consumidor acreditar que ele pode se tornar
alguém “melhor” adquirindo coisas, sejam elas Em mercados virtualmente saturados,
supérfluas ou não. Nesse contexto, Hélio Silva a única forma de crescimento possível
era a rapidez com que se sucediam os
aponta que: gostos, as preferências e as modas.
Não se tratava simplesmente,
O marketing assume-se como campo para as empresas, de “responder”
de conhecimento capaz de dirigir a de maneira quase instantânea à
produção de bens e serviços, com “demanda” cada vez mais volátil
a certeira investida no suprimento dos clientes: deviam adiantar-se a
de demandas delineadas. Assim, ela, acentuar, criar a volatilidade, a
insere-se no funcionamento social, inconsistência, o caráter efêmero
com o intuito de estabelecer relações das modas e dos desejos, opor-se a
entre os produtores e o mercado. Ao toda normalização e a todo senso de
indivíduo, reserva-se, nesse contexto, normalidade. (GORZ, 2004, p. 37).
a condição de consumidor. (SILVA,
2007, p. 29).
A produção de bens de consumo entrou então
As técnicas publicitárias geralmente associam em um novo estágio, no qual a fabricação deixou
a imagem do produto divulgado com elementos de ser uma parte essencial do comércio e as
que não correspondem imediatamente ao marcas passaram a ser aplicadas como chancelas
objeto destacado, pois esse procedimento gera, em produtos já fabricados. A marca foi se tornando
na mentalidade fantasista do consumidor, a cada vez mais uma espécie de selo de qualidade
ideia de que, ao adquirir um produto específico, para o produto destinado ao consumo social.
as qualidades supostamente contidas nesse Erich Fromm desmistifica esse processo fetichista
produto serão assimiladas por sua pessoa. Gino aureolado em torno das coisas ao afirmar que
Giacomini Filho destaca que “A publicidade Não obstante as marcas concorrentes,
nasceu com o claro propósito de fomentar a o efeito geral da publicidade é
transação econômica, principalmente diminuindo estimular a ânsia pelo consumo.
Todas as empresas auxiliam-se
a resistência do consumidor” (GIACOMINI FILHO, mutuamente nessa influência básica
1991, p. 14). por meio da publicidade; o comprador
exerce apenas secundariamente
A cadeia de produção dos bens de consumo o duvidoso privilégio de escolher
acabou por inflar o próprio sistema capitalista entre várias marcas em concorrência.
e motivou um grande encarecimento desses (FROMM, 1987, p. 174-175).
recursos, ocasionando assim o contínuo
distanciamento entre o poder aquisitivo e o valor Nessa nova configuração econômica vigora
comercial das coisas. Fabricar e vender produtos o sistema de capitalização das marcas, isto é,
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a verdadeira fonte de lucro para as empresas dotado de qualidade. José Benedito Pinho
torna-se não a comercialização dos seus produtos destaca que
propriamente ditos, mas a consolidação e
conquista sedutora das suas marcas publicitárias na Uma marca passa a significar não
apenas um produto ou serviço, mas
estrutura social e a especulação financeira desses incorpora um conjunto de valores
nomes. Para tanto, tornou-se imprescindível e atributos tangíveis e intangíveis
relevantes para o consumidor, e
que as marcas representem símbolos próprios que contribuem para diferenciá-
de aceitação de determinados grupos sociais. lo daquelas que lhe são similares.
Conforme aponta Naomi Klein: Assim, ao adquirir um produto, o
consumidor não compra apenas um
bem, mas todo o conjunto de valores
O mercado apoderou-se do e atributos da marca. (PINHO, 1996,
multiculturalismo e da submissão p. 43).
ao gênero da mesma forma que se
apoderou da cultura jovem em geral
– não apenas como um nicho de Para atender essa crescente demanda de
mercado, mas como fonte de novas glorificação da marca acima da própria estrutura
imagens carnavalescas. (KLEIN, 2008,
p. 139). extensiva do produto tornou-se necessária a
elaboração de um discurso persuasivo de sedução
A chave para essa nova fórmula econômica foi e convencimento junto aos consumidores; nessa
uma substancial mudança na maneira de encarar disputa, ganha a peleja a campanha publicitária
o processo de desenvolvimento dos bens do capaz de penetrar nas camadas interiores da
mercado, que migrou de “produzir objetos” para subjetividade do consumidor, aspirante ao estado
“produzir valores”, materializados em imagens, de gozo. Conforme destaca Dominique Quessada:
em conceitos forjados para precisamente
Por intermédio do discurso
agregarem valores sociais. Schröder e Vestergaard publicitário, as empresas se servem
destacam que: da linguagem para convencer
e seduzir. Com a publicidade, o
Os vários grupos sociais identificam- capitalismo se apodera da linguagem
se por suas atitudes, maneiras, jeito e utiliza sua força para fins comerciais.
de falar e hábitos de consumo – por (QUESSADA, 2003, p. 121).
exemplo, pelas roupas que vestem.
Dessa forma, os objetos que usamos Nessas condições, a publicidade adquiriu a
e consumimos deixam de ser meros
objetos de uso para se transformar outorga de gerenciar esse conectivo entre produto/
em veículos de informação sobre marca e indivíduo. A atividade publicitária,
o tipo de pessoa que somos ou
gostaríamos de ser. (SCHRÖDER; revelando as pretensas qualidades singulares
VESTERGAARD, 2004, p. 7-8). dos produtos, favoreceu o estabelecimento de
um sentimento de confiabilidade do indivíduo
Ocorre assim a associação em um mesmo para com um determinado produto. Criou-se
dispositivo identitário a empresa, o público assim uma “cultura” de consumidores baseada
consumidor previamente selecionado e a imediatamente nas determinações econômicas
grande joia do sistema, o produto adornado do capital simbólico chancelado pela publicidade.
com a aura mágica da marca, autêntica distinção Para Baudrillard, “o consumo surge como conduta
mercadológica daquilo que é imputado como ativa e coletiva, como coação e moral, como
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instituição” (BAUDRILLARD, 2007, p. 81). apto a pertencer a certos círculos sociais. Naomi
Entretanto, o impulso consumista subverte Klein destaca que:
essa necessidade natural, tornando-se uma
experiência de satisfação incontrolável de É útil voltar um pouco no tempo
e observar onde o conceito de
desejos estimulados pelo próprio sistema social marca teve início. Embora o uso
estabelecido, que depende basicamente das dessas palavras seja com frequência
intercambiável, marca e publicidade
inclinações consumistas dos indivíduos para não representam o mesmo
que possa então prosperar economicamente. processo. A publicidade de qualquer
Nessas circunstâncias, pode-se beneficiar das produto é apenas uma parte do
grande plano de branding, ou gestão
colocações de Bauman: “De maneira distinta do de marca, assim como o patrocínio
consumo, que é basicamente característica e uma e o licenciamento do logotipo.
Pense na marca como o sentido
ocupação de seres humanos como indivíduos, essencial da corporação moderna,
o consumismo é um atributo da sociedade” e na publicidade como um veículo
(BAUMAN, 2008, p. 41). O fenômeno existencial utilizado para levar esse sentido ao
mundo. (KLEIN, 2008, p. 29).
do consumismo consiste na aquisição de bens
indiscriminadamente, sem corresponder ao
O ardil publicitário consiste em transformar
processo de satisfação genuína de necessidades
simbolicamente algo novo em um produto
vitais. De acordo com Richard Sennett:
que se agregava diretamente no cotidiano do
O consumidor busca o estímulo da consumidor, e somente o fato de se comentar
diferença em produtos cada vez as características funcionais do produto era o
mais homogeneizados. Ele se parece suficiente para a conquista da adesão de um nicho
com um turista que viaja de uma
cidade clonada para outra visitando social. Abraham Moles afirma que
as mesmas lojas, comprando em
cada um delas o mesmo produto. O consumo enquanto valor que
(SENNETT, 2008, p. 137). rege os modos do ser não constitui,
é claro, um elemento novo da vida,
embora, em fins do século XIX, o
O avanço do tecnicismo capitalista consumo tenha sido promovido, de
contribuiu para alimentar o desejo de compra um papel trivial e contingente que
dos consumidores; no entanto, baseando-se da desempenhava nas culturas passadas,
a uma significação essencial. (MOLES,
criação artificial de necessidades e carências 2007, p. 20).
humanas, as novas tecnologias e a produção de
bens em larga escala tornaram-se capazes de No novo modelo de produção, comunicar os
levar o indivíduo ao estado de alienação, por valores das corporações - agora materializados em
não conseguir acompanhar o ritmo frenético do suas marcas - era uma tarefa específica do campo
consumo, devido à renovação e inovação dos da publicidade, que deveria manter seu foco nos
objetos, uma vez que o desejo está sempre aquém valores mais subjetivos de cada marca e estabelecer
da capacidade do consumidor em obter bens conexões quase emotivas com seus consumidores,
materiais e realizar assim suas inclinações. Em de modo que a necessidade da marca se
uma sociedade regida pelos signos consumistas, manifestasse das mais diversas formas na esfera
o comportamento de consumo de um indivíduo é social. O consumidor seria então levado a sentir
utilizado como referencial para classificá-lo como a presença das marcas e a poder experimentá-las
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em diversos outros momentos de sua existência, ávidos por novas formas de identificar, categorizar
além do óbvio consumo do produto. Segundo e alcançar o público, bem como buscar formas
Naomi Klein, “não há recurso explorado que não se de fidelizar este público em um mercado cada
transforme, um dia, em uma marca” (KLEIN, 2008, vez mais concorrido e dinâmico. A tarefa não
p. 454). Essa é a justificativa para se constatar, na consistia somente em estabelecer uma conexão
contemporaneidade, a assimilação de todos os sedutora com o público ou mesmo de descobrir
gostos, tendências, comportamentos, estilos e novos públicos, mas sim em gerar público para os
tribos sociais pelas grandes marcas, que agregam produtos ou produtos para os públicos existentes.
em seus nomes todas essas identidades diluídas na Tal como apresentado por Serge Latouche, “A
impessoalidade da vida ordinária e as transformam publicidade nos faz desejar o que não temos,
em disposições pasteurizadas, retirando-lhes todo e desprezar aquilo que já desfrutamos. Ela
o seu poder de contestação política. cria e recria a insatisfação e a tensão do objeto
Campanhas de “fortalecimento de marca” e frustrado” (LATOUCHE, 2009, p. 18).
de “experiência da marca” tornaram-se cada vez A atividade persuasiva da publicidade foi se
mais corriqueiras, permitindo que um público cada tornando assim cada vez mais impactante em
vez maior obtivesse contato com esses parâmetros suas técnicas expositivas, para que as marcas
conceituais de cada marca; neste processo, foram pudessem estar presentes na vida do consumidor,
agregados continuamente novos valores, que se alcançando-o fora do ponto de venda e agregando
enraizavam nas práticas culturais, nas relações os valores de uma marca com outra, propiciando
sociais e nos costumes de forma quase irreversível. novas experiências para o público e fomentando e
Estabeleceu-se então uma espécie de estética da elevação dos índices de consumo, circunstância que
publicidade pautada na apresentação imagética promove a saúde financeira da economia social.
do produto, assim como uma experiência O sistema da publicidade no decorrer da
antropológica de sociabilidade regida pelos signos era capitalista adquiriu caracteres nitidamente
das marcas e seus postulados efeitos sobre a vida técnicos e profissionais, estruturando-se e
coletiva. Conforme argumenta Naomi Klein: obtendo maior visibilidade tanto no ambiente
político quanto no empresarial, conquistando uma
Em sua maioria, as campanhas massa capaz de institucionalizar-se, auxiliando
publicitárias do final do século XIX
e início do XX usavam um conjunto no desenvolvimento econômico, conquistando a
de fórmulas pseudocientíficas sociedade como um todo, assim como diversos
rígidas: os concorrentes jamais eram
mencionados, usavam-se somente seguidores que acreditam e partilham dos mesmos
declarações assertivas e os títulos ideais que fazem parte do universo publicitário.
tinham de ser grandes, com muito A prática das ações de “experiência de marca”
espaço em branco - de acordo com
um publicitário da virada do século, vem se alastrando e vários são os exemplos das
um anúncio devia ser grande o novas formas de se comunicar valores: A Nike,
suficiente para causar impacto, mas
não poderia ser maior do que o que por exemplo, está alavancando a profunda ligação
estava sendo anunciado. (KLEIN, emocional que as pessoas têm com os esportes
2008, p.30). e a forma física, associando com os símbolos
da vitória e da superação dos limites pessoais.
A publicidade ganhou cada vez mais Naomi Klein destaca que “[...] uma grande marca
respeitabilidade e espaço entre os executivos,
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fatores relacionados ao universo desse produto e um bem tangível e recurso do Marketing para
toda a sua trajetória no mercado, aproximando-o transformar-se em objeto de real valor para a vida
cada vez mais de si, por meio de lembranças e de muitas pessoas na sociedade contemporânea.
situações que influenciarão significativamente Andrea Semprini comenta ainda sobre as marcas:
no processo de decisão de compra. Não obstante
a frieza do sistema capitalista e sua negação da Sua onipresença no espaço público, sua
capacidade para marcar o simbólico e
condição humana, a publicidade estabelece o imaginário coletivos, sua propensão
vínculos emocionais junto ao consumidor, que para movimentar a opinião pública
e chamar a atenção da mídia, suas
passa a ver um produto como o suporte para a funções de intermediário identitário
formação de uma “vida mais feliz”. ou de bandeira coletiva deslocam a
As marcas estão cada vez mais próximas da marca da única esfera do consumo
e a projetam no próprio cerne dos
intimidade da vida individualizada, assumindo um comportamentos sociais, das lógicas de
papel de extrema importância na reconfiguração trocas, dos mecanismos de construção
de identidade dos indivíduos e dos
simbólica das experiências cotidianas no âmbito grupos. (SEMPRINI, 2010, p. 292).
da sociedade de consumo, levando a um processo
de diferenciação existencial não em relação No decorrer do capitalismo tardio, os
aos caracteres de um dado produto, mas sim indivíduos vêm se permitindo comprar sempre
em relação aos princípios pessoais, causando mais, cedendo aos mimos, caprichos e luxos da
assim a sensação de que o fato de possuir algo insaciável era consumista, na qual os produtos
de diferente, ou seja, de “marca”, é o suficiente se inovam e renovam a cada dia, tornando-se
para transformar pessoas em singularizadas e quase que impossível acompanhá-la, ao passo
“melhores”, seja socialmente, etologicamente e que as alternativas de compra e a oferta de
até mesmo moralmente do que as outras. Oliviero produtos ampliam-se. Nessa lógica, consumir
Toscani, em sua verve caústica contra o mundo de um determinado produto preferencialmente
fantasias propagado pela sociedade de consumo, de marca está aquém das necessidades e da
defende a ideia de que: capacidade afetiva desse consumidor. Tal como
reforça Andrea Semprini,
A publicidade não vende produtos
nem ideias, mas um modelo
falsificado e hipnótico da felicidade. O consumo soube interpretar de
Essa ambiência ociosa e agradável diversas maneiras esta cultura
nao é mais do que o prazer de viver do individualismo. As novas
segundo as normas idealizadas dos tecnologias da imagem, do som, e
consumidores ricos [...] A publicidade das telecomunicações colocaram à
oferece aos nossos desejos um disposição do indivíduo uma variedade
universo subliminar que insinua que impressionante de novos instrumentos
a juventude, a saúde, a virilidade, que permitem cultivar sua curiosidade
bem como a feminilidade, dependem e seu desejo de expressão pessoal.
daquilo que compramos. (TOSCANI, As indústrias culturais e os meios
2002, p. 27-28). de comunicação disponibilizaram
ofertas cada vez mais diversificadas,
permitindo corresponder a gostos
Atribui-se uma carga excessiva de poder individualizados e tematizados.
de adesão e valorização semiológica a uma (SEMPRINI, 2010, p. 59)
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As empresas tendem a se adaptar aos esses, por sua vez, que promovem a
satisfação do sujeito em relação a sua
gostos desses indivíduos e muitas seguem à identidade construída. (CASTILHO;
risca essa batalha pelo alcance da satisfação MARTINS, 2008, p. 30).
pessoal depositada na aquisição de um produto
que ofereça status, praticidade e comodidade Agregar valores subjetivos a determinados
para seu público. Tais adequações encontram “produtos” ou a “pessoas” é apostar na
no consumo um ambiente reativo e acolhedor felicidade em longo prazo, acreditando que
para o desenvolvimento da dita “sociedade pós- uma simples marca ou imagem positiva será
moderna”, caracterizada pela constatação do capaz de levar o sujeito à plenitude de uma
fracasso do projeto do progresso constante e vida tranquila, confortável, dotada de respeito
do estabelecimento de uma autêntica ordem e admiração na sociedade. Inicia-se o círculo
civilizacional no mundo. virtuoso de que o sucesso alimenta o sucesso,
A busca por conforto e a procura por bem- que só é possível chamar a atenção do próximo
estar faz do consumidor contemporâneo um e alcançar a popularidade pelo pertencimento
modelo exigente, principalmente em relação à aos parâmetros da “sociedade de espetáculo” tal
personalização de serviços diversos. O surgimento como apresentada criticamente por Guy Debord,
de um novo serviço ou de um novo produto seguindo o modelo determinante de consumo:
não é o suficiente para esse indivíduo, mas sim
algo que supostamente seja imediatamente Sob todas as suas formas particulares
– informação ou propaganda –
direcionado para ele, vindo assim a atender publicidade ou consumo direto
às suas necessidades existenciais e que seja de divertimentos –, o espetáculo
constitui o modelo atual de vida
único e exclusivo, além de proporcionar prazer. dominante na sociedade. É a
Contraditória em sua acepção, a moda diferencia afirmação onipresente da essência
os sujeitos ao mesmo tempo em que os torna já feita na produção, e o consumo
que decorre dessa escolha (DEBORD,
mais gregários. 2006, p. 14-15).
É essa busca por diferenciação que
transforma o mundo do sujeito contemporâneo De que adianta possuir algo considerado de
em um perpétuo sistema imaginário, no qual extrema importância se as demais pessoas não
o indivíduo deposita nas marcas desejos e conhecem ou reconhecem como um bem de
acepções que serão de tamanha importância para valor? Para alguns indivíduos contemporâneos,
a sociedade de consumo, fugindo cada vez mais a satisfação pessoal não é alcançada após a
da realidade e acreditando que o fato de possuir aquisição de um produto, porém, somente a partir
algo de diferente também o torna diferente, do reconhecimento daquele produto como um
gerando assim um caminho inverso, ao passo bem na sociedade. Para Dominique Quessada:
que o aproxima ainda mais daquelas pessoas que
possuem o mesmo produto. Para Káthia Castilho e As marcas apostas às roupas fazem
com que estas, sem elas, não tenham
Marcelo Martins: nenhum modo de aparecer e de ser
vistas. Por extensão, esse fenômeno
Nos mundos ilusórios criados pela afeta até o ser do indivíduo que possui
moda, o sujeito entra em conjugação o objeto marcado. De fato, este último
com determinados produtos aos quais supostamente representa o indivíduo
são agregados valores subjetivos. São sem mediação. Ele permite a alguém
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GIACOMINI FILHO, Gino. Consumidor versus PINHO, José Benedito. O Poder das marcas. São
propaganda. São Paulo: Summus Editorial, 1991. Paulo: Summus Editorial, 1996.
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