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Resumo de Geografia Aluno 2012 Valeiko

Neste resumo, falar-se-á da Geopolítica Clássica com base em alguns autores, bem como de teorias que
buscaram compreender a balança de poder mundial durante fins do século XIX e o início dos anos 1900.

 Conceito de Geopolítica
Em termos gerais, geopolítica se trata do ramo da geografia política o qual
concebe a relação de poder entre territórios. Todavia, especificamente a
geopolítica clássica foi priorizada durante a aula, pois se refere aos períodos
Imperialista e pós-Primeira Guerra Mundial, nos quais foram elaboradas as
teorias geopolíticas que serão apresentadas. Por ter sido compulsoriamente
utilizada como justificativa para as ações imperialistas das potências da época
e para legitimar suas conquistas territoriais, os geopolíticos clássicos
acabaram denegridos posteriormente, acusados de estabelecer uma
geografia a serviço do Estado.
Segundo Johan Rudolf Kjellén, teórico da geopolítica clássica, esta é a
ciência que analisa as relações entre povo, Estado e território e concebe o
Estado como um organismo geográfico ou fenômeno no espaço, que se
“alimenta” de território em busca de recursos (da mesma forma que afirma
Friedrich Ratzel – os Estados são organismos vivos). Assim sendo, só admite a
dimensão física dos espaços delimitados: baseia-se na ideia de território-zona. Dentre as teorias formuladas no
contexto da geopolítica clássica, receberão enfoque a Teoria do Poder Marítimo, a Teoria do Poder Continental
e a Teoria do Rimland.

 Teoria do Poder Marítimo


Também conhecida como Teoria da Baleia, e elaborada no final do século XIX pelo Almirante Alfred Thayer
Mahan, da marinha norte-americana, esta teoria propunha a grande relevância do poder marítimo no destino
das nações, indispensável ao seu desenvolvimento. A marinha mercante seria responsável por garantir a
prosperidade nacional por meio do comércio exterior,
enquanto a marinha de guerra manteria a segurança da
navegação e fluência do comércio marítimo. Os mares
conectariam o mundo, permitindo a existência de territórios
coloniais ultramarinos, mas também seriam formidáveis
barreiras naturais. No contexto da criação da Teoria do Poder
Marítimo, o Estados Unidos ascendia como nova potência
mundial, e Mahan acreditava que o país reunia características
determinantes as quais denunciavam que ele seria a próxima
grande potência naval (destino). Para o almirante, cinco fatores
eram determinantes para possibilitar o desenvolvimento do
poder marítimo de um país: posição geográfica na terra Encouraçado USS Maine.
(localização favorável), configuração física (geografia insular,
continental etc.), extensão territorial do Estado (a qual contribui para medir seus recursos), caráter nacional
da pátria (sentimento de pertencimento e patriotismo) e apoio e contribuição das instituições governamentais
(políticas do governo que concretizem o poder naval do país).
Com base em sua própria teoria, Mahan argumentava que o EUA atendia a estes requisitos favoráveis ao
desenvolvimento marítimo de um país, tendo em vista seu “aspecto insular” – o país contava com acesso aos
oceanos Pacífico e Atlântico. Além disso, detinha um rico e extenso território, possuía o sentimento de nação
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e recebia amplo apoio do governo para o aprimoramento bélico e tecnológico,
estando ainda cercado de Estados continentais os quais representavam pouca
ameaça para si – em contraste com a Europa, onde o risco de conflitos com países
vizinhos era bem mais real. Em suma, para o almirante o Estados Unidos era uma
ilha-continente, cercada por Estados aliados e grandes oceanos que o isolavam e
protegiam, permitindo oportuna projeção de poder para regiões distantes. Ressalte-
se ainda que esta teoria foi vigente no cenário internacional desde metade do século
XIX até o final da Primeira Guerra Mundial, e que a ideia da criação de poderosas
esquadras no Pacífico e no Atlântico pelo EUA foram em grande parte responsáveis
pela construção do Canal do Panamá, que interliga os dois oceanos. Almirante Mahan.

Vale salientar que a Teoria do Poder Marítimo de Mahan substituiu, no âmbito expansionista do Estados
Unidos, a doutrina Monroe de 1823. No contexto do Congresso de Viena (1815), logo após o fim das guerras
napoleônicas, diversas ex-colônias haviam conquistado independência de suas respectivas metrópoles. Além
da restauração da ordem na Europa e da ascensão do Reino Unido como potência hegemônica, outra
consequência dessa assembleia foi a decisão de empreender a recolonização da América Latina. A doutrina
Monroe (enaltecida pela frase “A América para os americanos”) foi a reação do EUA a esta cláusula do
Congresso de Viena, mostrando que o país rechaçava totalmente e se pronunciava abertamente contra a ideia
de recolonização de seus vizinhos latino-americanos. Não se deve, todavia, pensar que os norte-americanos
tomaram essa posição por uma causa comunitária: a verdadeira intenção do Estados Unidos da América era
resguardar para si o continente, de modo que pudesse exercer influência ou mesmo dominar os futuros países
nele localizados – já que não detinha potencial militar para fazer frente às potências europeias na época.
Quando o Almirante Mahan propôs sua teoria em fins do século XIX, o poderio americano sobre a américa latina
já estava consolidado – o EUA, com a teoria do Poder Marítimo, conseguiu a justificativa para começar a
expandir sua influência por outras regiões do mundo.

 Teoria do Poder Continental


Articulada pelo geógrafo Halford John
Mackinder e posterior à teoria do Poder
Marítimo, a Teoria do Poder Continental (ou
Teoria do Urso) defende a existência de um
pivô geográfico da história, uma região core
denominada “heartland” no centro da Ilha
Mundial (reunião da Europa, da Ásia de da
África), que sempre foi o núcleo continental
mais dinâmico da política mundial, um espaço
crucial cujo controle – muito disputado entre
as nações – abriria portas para a edificação de
um grande poder, o qual garantiria o domínio
sobre a Ilha Mundial, que - por sua vez -
determinaria o controle do mundo pelo país
que ocupasse a heartland.
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A heartland, segundo Mackinder, engloba parte da
Europa Oriental, da Ásia Central e da Sibéria, sendo uma
localidade rica em recursos naturais, protegida por diversas
barreiras geográficas– o mar glacial ao norte, cadeias
montanhosa ao Oeste, Sul e Sudeste, e a grande e gélida
planície siberiana a Leste – e possuidora de mares interiores
(como o Mar Cáspio e o Mar de Aral). Esses fatores
neutralizariam a possibilidade de emprego do poder
marítimo de acordo com o teórico. Além da heartland,
existiriam – nessa ordem - a Crescente Marginal ou Interior,
e a Crescente Exterior ou Insular, prolongamentos no mapa
que circundam o pivô geográfico.
Tropas alemães desfilam em Berlim, Primeira
Um exemplo prático da influência da Teoria do Poder
Guerra Mundial.
Continental pode ser compreendido no contexto da Primeira
Guerra Mundial. Em fins do século XIX, a Alemanha ascendia
como nova grande potência militar, econômica e industrial europeia e mundial. Unificada apenas em 1871,
ingressou muito atrasada no processo neocolonial do Imperialismo, recebendo apenas algumas pequenas
colônias africanas durante a partilha da África na Conferência de Berlim. Isto fez crescer o nacionalismo alemão
e o desejo de expansão do Império, que – desprovido de colônias relevantes – procurou conquistas dentro da
Europa, desestabilizando a ordem e paz estabelecidas pelo Reio Unido no Congresso de Viena (1815). Para
alguns estudiosos da geopolítica da época (adeptos à Teoria do Poder Continental), bem como para o ponto de
vista britânico adotado por Mackinder, era temível a marcha alemã rumo ao leste: a Rússia dominava a
heartland, mas apesar do seu poderio militar, o país era pouco industrializado e ainda era regido nos moldes
feudais. Caso os alemães se apoderassem do pivô mundial, seriam uma grande potência continental, quase
imbatível. A possibilidade de uma aliança entre Rússia e Alemanha também assustava as outras potências
europeias, as quais, após derrotarem a Tríplice Aliança na Primeira Grande Guerra, favoreceram a existência
de diversos “Estados tampões” entre os dois países – afastando a Alemanha fisicamente da Rússia.

 Teoria do Rimland
Criada por Nicholas John Spykman, a
teoria do Rimland é um meio termo entre as
duas teorias já apresentadas: partindo da
interpretação de Mackinder, a qual afirma
que o heartland é o pivô da história mundial
e das disputas de poder internacionais, chega
à tese de que não é o controle direto sobre o
“coração do mundo” que garantiria o poder
mundial, mas sim a posse ou influência sobre
o seu entorno. Logo, para Spykman, a região
essencial a qual garante o cerco à heartland e
a edificação de um grande poderio mundial é a Crescente Marginal ou Interior de Mackinder, renomeada como
Rimland. Essa área de orla marítima euroasiática (também chamada de região das fímbrias) seria mais
determinante que o coração do mundo porque é uma vasta zona-tampão de conflito entre o poder marítimo
e o poder terrestre, e dessa forma o seu controle equilibraria as instâncias navais e terrestres dos conflitos.
De nada adiantaria possuir a heartland se outro poder pudesse dominar a Rimland e “cercar” o pivô do
mundo. Spykman ainda revela que os oceanos não separam e protegem, mas aproximam e conectam – para
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ele tanto forças navais quanto terrestres seriam determinantes para o controle de anel marítimo da Rimland.
Saliente-se ainda a importância das áreas geoestratégicas – estreitos, golfos, canais e mares semifechados –
para o controle da região das fímbrias, visto que formam reentrâncias, as quais criam zonas de grande trânsito
comercial de embarcações nas áreas costeiras, essenciais para a comercialização e abastecimento de recursos
ao redor do mundo.
Essa tese foi posta em prática durante a Guerra Fria: o código da contenção do comunismo soviético é
considerado a oposição entre EUA (potência marítima do Crescente Exterior ou Insular que consolidou sua
influência sobre o Rimland e cercanias, expressa pelas alianças com os países da Europa Ocidental e Oceania,
e com alguns Estados do Oriente Médio, Sul e Sudeste
asiático) e União Soviética (grande potência continental
que dominava a heartland quase por completo, a qual
ficou isolada frente ao grande apoio dado pelos países da
orla euroasiática ao EUA). Dessa forma, segundo o antigo
Conselheiro de Segurança Nacional do EUA, o já
conhecido Brzezinski, o vácuo de poder nos “Bálcãs
euroasiáticos” (referência a orla marítima, Rimland) que
surgiu no pós-Segunda Guerra Mundial foi o que permitiu
ao Estados Unidos consolidar, com ajuda dos planos
Marshall e Colombo, a sua influência sobre a “região das Mapa mostra cerco à Heartland.
fímbrias” e isolar a grande potência continental
soviética, detentora do coração do mundo.

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