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Supremo Tribunal Federal

HABEAS CORPUS 141.080 SÃO PAULO

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


PACTE.(S) : LEONARDO SALERA
IMPTE.(S) : CESAR EDUARDO LAVOURA ROMAO
COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

DECISÃO:

EMENTA: PROCESSUAL PENAL. HABEAS


CORPUS. ROUBO MAJORADO. CONDENAÇÃO
TRANSITADA EM JULGADO. CIRCUNSTÂNCIA
JUDICIAL DESFAVORÁVEL. REGIME INICIAL.

1. Trata-se de habeas corpus, com pedido de concessão de


liminar, impetrado contra acórdão unânime da Sexta Turma do Superior
Tribunal de Justiça, da Relatoria do Ministro Rogerio Schietti Cruz, assim
ementado:

“PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS


CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. PENA-BASE.
CONSEQUÊNCIAS E CIRCUNSTÂNCIAS. MOTIVAÇÃO
IDÔNEA. PROPORCIONALIDADE. AUMENTO DA
TERCEIRA FASE. FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. REGIME
FECHADO. CIRCUNSTÂNCIAS DESFAVORÁVEIS. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. O Tribunal local destacou elemento concreto que
evidencia maior reprovabilidade da conduta do agente, tendo
em vista que o ficou registrado que o réu agiu com excessiva e
desnecessária violência (coronhadas na cabeça da vítima, que
foi obrigada a permanecer no interior do veículo, com duas
armas apontadas contra si).
2. Legítima a exasperação da pena-base pela valoração
negativa das consequências, uma vez destacado que a vítima é
taxista, que ficou sem seu meio de trabalho (o veículo), o que,
inegavelmente, traz maior prejuízo.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
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HC 141080 / SP

3. É proporcional a pena-base estabelecida ao condenado


por crime de roubo, diante da valoração negativa de duas
circunstâncias judiciais – 1 ano e 6 meses acima do mínimo
legal –, se considerados os patamares mínimo e máximo
previstos para o tipo penal que incide na espécie – de 4 a 10
anos de reclusão.
4. O ato decisório foi lastreado em dados concretos, na
terceira fase da dosimetria – ao elevar a pena pelo número de
majorantes –, pois consignou-se que foram três os agentes
envolvidos, os quais, em divisão de tarefas na empreitada
criminosa, elementos que demonstram ineludivelmente, a
maior gravidade do comportamento ilícito (e que não ocasiona
bis in idem, pois não considerado na primeira fase).
5. Diante de vetoriais judiciais desfavoráveis - no caso, as
consequências e os circunstâncias -, é cabível a fixação do
regime fechado, aos condenados não reincidentes, para o início
do cumprimento da pena superior a 4 anos e que não exceda a 8
anos, em conformidade com o § 3º do art. 33 do Código Penal.
6. Agravo regimental não provido.”

2. Extrai-se dos autos que o paciente foi condenado à pena de


6 (seis) anos e 10 (dez) meses de reclusão, em regime inicial fechado, e ao
pagamento de 34 (trinta e quatro) dias multa, pelo crime previsto no
artigo 157, § 2º, I e II, do Código Penal.

3. O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo deu parcial


provimento à apelação da defesa apenas para reduzir a pena de multa.
Em seguida, foram opostos embargos declaratórios, rejeitados.

4. Após o trânsito em julgado da condenação, foi impetrado


habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça. O Relator do HC 380.787,
Ministro Rogerio Schietti Cruz, não conheceu do writ.

5. Contra essa decisão, foi interposto agravo regimental, não


provido.

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HC 141080 / SP

6. Neste habeas corpus, a parte impetrante sustenta a


possibilidade, no caso, da imposição de regime inicial mais brando e
requer a concessão da ordem para que se conceda ao paciente o regime
inicial semiaberto.

Decido.

7. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal


consolidou o entendimento no sentido da inadmissibilidade da
impetração de habeas corpus em substituição ao recurso ordinário previsto
na Constituição Federal (HC 109.956, Rel. Min. Marco Aurélio). A
hipótese, portanto, é de extinção do processo sem resolução do mérito por
inadequação da via eleita.

8. Da mesma forma, o Supremo Tribunal Federal não admite


a utilização do habeas corpus em substituição à ação de revisão criminal
(v.g, RHC119.605-AgR, Rel. da minha relatoria; HC 111.412-AgR, Rel.
Min. Luiz Fux; RHC 114.890, Rel. Min. Dias Toffoli; HC 116.827-MC, Rel.
Min. Teori Zavascki; RHC 116.204, Relª. Minª. Cármen Lúcia; e RHC
115.983, Rel. Min. Ricardo Lewandowski). A hipótese, portanto, é de
extinção do processo sem resolução do mérito por inadequação da via
processual.

9. Por outro lado, não é caso de concessão da ordem de


ofício. Para além de observar que a parte impetrante não juntou aos autos
cópia do inteiro teor do acórdão proferido pelo Tribunal Estadual no
julgamento da apelação, no caso de que se trata, o magistrado de origem,
ao fixar o regime inicial fechado, fez expressa referência à presença de
circunstâncias judiciais desfavoráveis (circunstâncias e consequências do
crime). O que autoriza a fixação de regime prisional mais severo, nos
termos do art. 33, § 3º, do CP. Transcrevo, nesse sentido, o seguinte trecho
da sentença condenatória:

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HC 141080 / SP

“[...]
Passo a dosimetria da pena.
Na primeira fase, observando-se os elementos previstos no
artigo 59 do Código Penal, especialmente as circunstâncias e
consequências do delito, fixa-se a pena-base acima do mínimo
legal para o delito previsto no artigo 157, caput, do Código
Penal, qual seja, 5 anos e 6 meses de reclusão, e 30 dias multa. O
réu praticou roubo não só mediante grave ameaça com
emprego de arma de fogo, mas usando violência física contra
o ofendido, que foi agredido com coronhadas na cabeça
quando pediu para descer do carro. Ademais, os denunciados
fugiram com o carro subtraído e obrigaram a vítima a
permanecer em seu interior, subjugando-a, apontando-lhe
uma arma na cabeça e nas costas e agredindo-a. Tal demonstra
maior gravidade da conduta do réu, agressividade e desprezo
pelo próximo. Cuida-se, ademais, de roubo de taxista,
enquanto aguardava dentro do automóvel o final de um show
para levar a passageira que o contratou para a casa. Esta prática
– abordagem em via pública, dentro de veículo estacionado – é
causadora de grande estado de insegurança na população da
Capital, que vive intranquila e atemorizada enquanto está no
trânsito. No caso, o automóvel é o meio de trabalho do
ofendido, que del não pode se desfazer ou reduzir o uso. Tais
fatos denotam que a conduta do agente é bastante reprovável
e de elevada ofensividade social.
Na segunda fase, tendo em vista a menoridade relativa do
réu, diminui-se a pena para 5 anos de reclusão e 25 dias multa.
Na terceira fase, acresce-se 3/8 à pena, em razão das
causas de aumento de pena do artigo 157, § 2º, I e II, do Código
Penal, totalizando-se 6 anos e 10 meses de reclusão e 34 dias
multa. O aumento se dá no referido patamar, por diversas
razões. Primeiro, a grave ameaça perpetrada com o uso da
arma de fogo, por si só, já causa maior temor na vítima, tendo
em vista seu grande potencial ofensivo. Este pode ocasionar
não só lesão à integridade física dela, como retirar-lhe a vida.

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HC 141080 / SP

Os agentes estavam em quantidade excessiva, em conluio e


organizados, fato que gera mais medo, tornando a vítima
ainda mais submissa e vulnerável, pois não poderia reagir
contra três pessoas. Foi ainda maior a intimidação e redução
de capacidade de resistência do ofendido quando foi agredido
fisicamente com coronhadas. Tais circunstâncias justificam o
aumento da pena no referido percentual, tendo em vista a
gravidade da ação do réu […].
Nos termos do disposto no artigo 33, § 3º, ‘a’ do Código
Penal, o réu cumprirá a pena no regime fechado. Cuida-se de
delito muito grave, que causa terror à população e
intranquilidade social, cometido em concurso de agentes e com
emprego de arma de fogo. As circunstâncias judiciais que
ensejaram o aumento da pena-base e as referentes às causas
de aumento de pena também servem para justificar o regime
de cumprimento de pena mais severo. [...]” - Sem grifos no
original.

10. Nessas condições, muito embora a pena final aplicada ao


paciente (6 anos e 10 meses de reclusão) permita, em tese, a adoção do
regime prisional semiaberto, a presença de circunstâncias judiciais
desfavoráveis, devidamente justificadas com base em dados objetivos da
causa, autoriza a fixação do regime prisional mais severo, na linha dos
reiterados pronunciamentos desta Corte. Vejam-se, nessa linha, os
seguintes julgados:

“[...] 3. A determinação do regime inicial de cumprimento


da pena deve levar em conta dois fatores: (a) o quantum da
reprimenda imposta (CP, art. 33, § 2º); e (b) as condições
pessoais do condenado estabelecidas na primeira etapa da
dosimetria (CP, art. 59 c/c art. 33 § 3º). Sob essa perspectiva, não
há ilegalidade na decisão que aumenta a pena-base em
decorrência da existência de circunstância judicial
desfavorável e estabelece o regime inicial mais grave, como
medida necessária e suficiente para reprovação e prevenção
do crime [...]” (RHC 133.223, Rel. Min. Teori Zavascki).

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HC 141080 / SP

“[...] 2. Conquanto a pena de seis anos e quatro meses de


reclusão imposta ao Paciente permitisse, em tese, a fixação do
regime semiaberto para o início do cumprimento da pena, a
circunstância judicial desfavorável, no contexto do caso
concreto, conduziu à fixação do regime inicial fechado, o que
se harmoniza com a jurisprudência consolidada neste
Supremo Tribunal. Precedentes....” (RHC 131.032, Rel. Min.
Cármen Lúcia)

“[...] 1. Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal


Federal, a presença de condições subjetivas desfavoráveis
pode autorizar um regime prisional mais severo, desde que
esteja atrelado a elementos concretos e individualizados que
demonstrem a necessidade de maior rigor da medida
privativa de liberdade do indivíduo, nos termos do § 3º do art.
33, c/c o art. 59, do Código Penal, o que foi observado na espécie
(HC nº 114.568/ES, Primeira Turma, de minha relatoria , DJe de
8/11/12)....” (RHC 125.339, Rel. Min. Dias Toffoli).

“[...] 1. O regime inicial de cumprimento da pena não


resulta tão-somente de seu quantum, mas, também, das
circunstâncias judiciais elencadas no artigo 59 do Código Penal,
a que faz remissão o artigo 33, § 3º, do mesmo diploma legal.
Destarte, não obstante a pena fixada em quantidade que
permite o início de seu cumprimento em regime aberto, nada
impede que o juiz, à luz do artigo 59 do Código Penal,
imponha regime mais gravoso. Precedentes: HC 104.827,
Primeira Turma, Relator o Ministro Luiz Fux, DJe de 06/02/2013;
HC 111.365, Primeira Turma, Relator o Ministro Luiz Fux, DJe
de 19/03/2013; ARE 675.214-AgR, Segunda Turma, Relator o
Ministro Gilmar Mendes, DJe de 25/02/2013; HC 113.880,
Segunda Turma, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJe de
17/12/2012; HC 112.351, Segunda Turma, Relatora a Ministra
Cármen Lúcia, DJe de 08/11/2012; RHC 114.742, Primeira
Turma, Relator o Ministro Dias Toffoli, DJe de 08/11/2012; HC

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HC 141080 / SP

108.390, Primeira Turma, Relatora a Ministra Rosa Weber, DJe


de 07/11/2012....” (RHC 120.025, Rel. Min. Luiz Fux)

11. Diante do exposto, com base no art. 21, §1º, do RI/STF,


nego seguimento ao habeas corpus.
Publique-se.
Brasília, 07 de março de 2017.

Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO


Relator
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