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Curso de Direito do UNIBH

Deireito Penal I – Teoria do Crime


2º semestre 2016

Prof. Antônio de Padova Marchi Júnior

Ponto I – Dos conceitos de crime. Do conceito analítico de crime.

1 Introdução.

2 Diferença entre crime e contravenção: art. 1º LICP e Lei 11.343/2006;

3 Conceito legal de crime: o atual Código Penal não define crime, deixando a
elaboração de seu conceito à doutrina nacional;

4 Conceito jurídico de crime:

a) formal: “delito é a ação ou omissão, imputável ao seu autor, prevista e punida


pela lei como uma sanção penal” (LUIZ REGIS PRADO);

b) material: “é a lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico-penal, de caráter


individual, coletivo ou difuso” (LUIZ REGIS PRADO);

c) analítico: fato típico, antijurídico (ilícito) e culpável.

5 Dogmática penal e política criminal: “se comportam como as faces de uma só e


mesma moeda, integrados numa relação de recíproca complementação: a
dogmática penal é a sistematização de conceitos extraídos de um programa de
política criminal formalizado em lei, e todo programa legislado de política criminal
depende de uma dogmática específica para racionalizar e disciplinar sua aplicação”
(JUAREZ CIRINO DOS SANTOS).

6 Conceito analítico de crime adotado por Damásio, Mirabete e Delmanto: crime é


fato típico e antijurídico; a culpabilidade é mero pressuposto de aplicação da pena.

7 Punibilidade: não é elemento constitutivo do crime, mas conseqüência dele.

Leitura complementar:
SANTOS, Juarez Cirino dos. A moderna teoria do fato punível. São Paulo: Freitas
Bastos Editora.
TAVARES, Juarez. Teorias do delito. São Paulo: RT.

1
Ponto II – Evolução histórica do conceito analítico de crime

1 Teoria clássica do delito (CAUSALISMO CLÁSSICO): no final do século XIX, início


do século XX, Von Liszt e Beling inauguraram um novo tempo na teoria do delito ao
conceituarem o crime como ação típica, ilícita e culpável. Característica própria do
causalismo é a inclusão do resultado naturalístico no conceito de ação, concebida
como “movimento corporal voluntário que provoca modificação no mundo exterior”.
O tipo, na proposição original de Beling, foi considerado como descrição puramente
externa da realização da ação, sem nenhum predicado valorativo, nele fazendo-se,
inclusive, a previsão do resultado. A antijuridicidade, que compunha com a ação
típica o injusto penal, era puramente objetiva, sendo destacada da culpabilidade.
Para a comprovação de que a conduta do agente contrariava a lei penal, bastava
verificar a ausência das causas legais de exclusão da ilicitude. A culpabilidade, por
fim, era o lugar adequado ao estudo dos elementos subjetivos – dolo e culpa.

Estrutura formal de crime para a teoria causal clássica: fato típico (conduta positiva
ou negativa; resultado; nexo de causalidade e tipicidade formal); ilicitude (formal) e
culpabilidade (vínculo psicológico entre o autor e o fato).

2 Teoria neoclássica do delito (NEOKANTISMO): como consequência da adoção


do neokantismo como princípio filosófico em contraposição ao positivismo científico-
naturalista próprio do causalismo clássico, o pensamento criminal passou a se
ocupar do mundo dos valores, considerando, por exemplo, conceitos como o de
dignidade da pessoa humana, liberdade e democracia como ideais a serem
alcançados, ocasionando profundas transformações no conceito analítico de crime,
cujos elementos foram de certo modo renormativizados, acabando com a falácia
naturalista de limitar a atividade judicial em mera declaração de vontade da lei (juiz
como “boca da lei”). Desse modo, a ação, antes conceituada como “movimento
corporal voluntário”, passou a ser entendida como “comportamento humano
voluntário”, incorporando a omissão como forma de execução da conduta proibida.
No campo da tipicidade, com a descoberta dos elementos normativos (ex.:
“violência” – 157 CP; “arma” – 157, §2º, I CP; “sem justa causa” – 244 CP etc.) e
subjetivos, reveladores de uma especial finalidade de atuação exigida em alguns
tipos penais (ex.: “para si ou para outrem” – 155 CP; “com o fim de obter” – 159 CP;
“para ocultar desonra própria” – 134 CP), restou afastado o modelo puramente
descritivo e não valorativo do tipo objetivo. A antijuridicidade, por sua vez, passou
a ser entendida como um juízo de reprovação que recai sobre o fato, exigindo certo
desconforto para a sociedade (antijuridicidade material), pois se dele não decorre
nenhum conflito de interesse, deve ser considerado lícito diante da ideia de ampla
liberdade do cidadão no contexto do Estado Democrático de Direito. Permitiu-se,
assim, o surgimento de novas causas de justificação além daquelas previstas em
lei (supralegais). Por fim, a culpabilidade foi totalmente reconstruída,
abandonando-se o insuficiente conceito psicológico do causalismo clássico para se
converter em um conceito normativo (teoria subjetiva-normativa da culpabilidade).
A culpabilidade passa a representar um juízo de reprovação que se faz ao agente
pela realização de um injusto penal quando era exigível que atuasse conforme o
direito (poder-de-agir-de-outro-modo). O juízo de reprovação somente estará

2
presente caso se confirmem os seguintes elementos: (I) imputabilidade, como
capacidade de culpabilidade; (II) dolo normativo e culpa, sendo o dolo entendido
como “dolus malus” e composto por seus elementos naturais (consciência do fato e
vontade de praticá-lo) mais a real consciência da ilicitude e (III) exigibilidade de
conduta diversa, fundada na ideia do livre arbítrio do direito canônico.

Estrutura formal de crime para a teoria causal neoclássica: fato típico (conduta
positiva ou negativa; resultado; nexo de causalidade e tipicidade - material); ilicitude
(material);culpabilidade (imputabilidade; dolo normativo - integrado pela consciência
da ilicitude - ou culpa e exigibilidade de conduta diversa).

3 Teoria da ação final (FINALISMO): a partir da década de 40, Hans Welzel criticou
o fato de a ação ser considerada sem a presença de seu principal elemento, qual
seja, a vontade, passando a conceituá-la como “exercício de atividade final”. A
causalidade passa a ser considerada como obra da inteligência humana e não mero
processo causal, motivando o deslocamento do dolo e da culpa para dentro do tipo
penal, permitindo-se falar em tipicidade dolosa e tipicidade culposa. No campo da
ilicitude, o desvalor da ação passa a prevalecer sobre o desvalor do resultado,
punindo-se o agente não por ter provocado um resultado ruim, mas antes por ter
tido uma vontade contrária ao direito. O dolo, como elemento subjetivo genérico,
volta à sua composição natural (conhecimento do fato + vontade de realizá-lo),
deixando sua carga normativa - a consciência da ilicitude - na culpabilidade, que
passa a ser composta exclusivamente por elementos normativos (teoria normativa
pura).

Estrutura formal do crime para a teoria finalista: fato típico (conduta dolosa ou
culposa; resultado; nexo causal e tipicidade); ilicitude (material); culpabilidade
(imputabilidade; potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta
diversa).

4 Teoria social da ação: procurando uma forma de reunir as principais


características dos modelos anteriores, Wessels conceituou a ação como “conduta
socialmente relevante, dominada ou dominável pela vontade humana”. A
tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade permaneceram com feição finalista, com
exceção desta última, enriquecida com o retorno do dolo e da culpa, que passaram
a exercer dupla função, aqui analisados como ânimo adverso ao direito e grau de
intensidade da ação descuidada, respectivamente.

Estrutura formal do crime para a teoria social da ação: fato típico (conduta dolosa
ou culposa; resultado; nexo causal e tipicidade - material); ilicitude (material);
culpabilidade (elementos normativos [imputabilidade; potencial consciência da
ilicitude e exigibilidade de conduta diversa] e elementos psicológicos [dolo, como
desvalor do ânimo e culpa, como previsibilidade subjetiva].

Ponto III – Funcionalismo penal: principais vertentes

3
A teoria funcionalista compreende a ação a partir de um conceito obtido
à luz das normas e do Direito e não a partir de um conceito pré-jurídico.1
Ao rejeitar o conceito final de ação, o funcionalismo propõe que a
dogmática penal encontre seu fundamento nas necessidades regulativas do
sistema, transformando a perspectiva naturalista das propostas anteriores por uma
concepção essencialmente normativista do Direito Penal.
O conceito de ação deixa de ser o ponto de partida para a análise dos
elementos do tipo, sendo substituído pela imputação objetiva.
Ancorado na teoria do risco, o resultado poderá ser objetivamente
imputado ao agente quando a conduta representar a criação ou o incremento do
risco ao bem jurídico protegido.
Vale destacar que o funcionalismo possui várias vertentes, com destaque
para aquelas apresentadas por Roxin, Jakobs e Zaffaroni.

1. Funcionalismo teleológico de Roxin:


Roxin parte da tese de que um sistema jurídico-penal moderno deve
estruturar-se teleologicamente, isto é, alicerçar-se sobre pontos de vista
valorativos.2
Conforme esclarece Luís Greco3, no sistema de Roxin os valores derivam
da política criminal, mas não de uma política criminal indefinida e sim daquela
estabelecida pelos princípios constitucionais de garantia, própria de um Estado de
direito.
As principais modificações decorrentes desse sistema penal, orientado
para a realização de certos valores, foram assim apresentadas pelo autor:

a) A ação passa a ser conceituada como manifestação da personalidade,


isto é, tudo o que pode ser atribuído a uma pessoa como centro de atos

1
BRANDÃO, Cláudio. Curso de direito penal. Forense: Rio de Janeiro, 2008, p. 129.
2
ROXIN, Claus. Funcionalismo e imputação objetiva no direito penal. São Paulo: Renovar, 2002, p.
230.
3 GRECO, Luís. Introdução à dogmática funcionalista do delito. Revista Brasileira de Ciências

Criminais, nº. 32.

4
anímico-espirituais, em contraposição às definições originadas por um
dado prévio empírico, como a causalidade, o comportamento voluntário
e a finalidade. No sistema de Roxin, a conduta do agente não implica
em nenhuma valoração negativa, nem sequer provisória, uma vez que
tanto os comportamentos socialmente benéficos como os lesivos são
igualmente ações. A finalidade política-criminal que decorre do conceito
de ação é a exclusão imediata da imputação dos resultados que não
podem ser atribuídos ao agente, como centro de atos anímicos-
espirituais (não-ação), independentemente da aparência exterior e das
conseqüências causais do existir humano.

b) No plano do tipo, a ação nele descrita tem como objetivo político-


criminal a prevenção geral através da ameaça abstrata da pena. Cada
tipo, porém, deve ser interpretado teleologicamente, isto é, segundo o
fim da lei. Por outro lado, a eficácia da prevenção geral depende da
taxatividade do tipo penal, o que estabelece uma tensão entre o fim da
lei e a determinação da lei. Outrossim, adverte o autor que também a
culpabilidade já deixa a sua marca sobre o tipo, como decorrência da
aceitação da teoria da imputação objetiva, que exclui a tipicidade
daquelas ações cujos resultados decorrem do acaso ou de um
comportamento antijurídico qualquer, não referido ao tipo concreto
(versari in re illicita). Logo, somente a prevenção especial é estranha ao
tipo.

c) Na categoria do injusto, a ação típica concreta é analisada segundo o


aspecto da autorização ou da proibição, levando-se em conta todos os
elementos reais da situação particular. Para o autor, o injusto exerce
três funções no plano político-criminal: (1) solucionar conflito de
interesses de forma relevante para a punição do(s) envolvido(s); (2)
servir como fundamento para a aplicação da medida de segurança e
outras conseqüências jurídicas e (3) ligar o Direito Penal à totalidade do
ordenamento jurídico. O reconhecimento do injusto no caso concreto
depende da inequívoca demonstração da lesividade social da conduta,
determinada a partir das valorações político-criminais.

d) Para Roxin, o injusto punível é complementado pela idéia de


responsabilidade, que tem como principal pressuposto a culpabilidade
do autor. Além dos requisitos da culpabilidade, a condenação exige

5
ainda a comprovação da necessidade preventiva da pena. Segundo o
autor, a responsabilidade se apresenta como a realização dogmática da
teoria político-criminal dos fins da pena, e, em regra, como uma
indicação para o juiz de que deve aplicar a sanão. Ela não se dirige ao
fato, mas ao autor, eis que se pergunta a respeito de sua necessidade
individual de pena. Por fim, tem inteira procedência a advertência feita
no sentido de que ao interpretar e sistematizar a categoria de
responsabilidade com base nos pontos de vista político-criminais da
teoria dos fins da pena, não interessa a opinião do cientista ou do juiz a
respeito destes fins, mas deve-se partir dos objetivos que se possam
extrair das causas de exculpação escritas na lei e, quando for o caso,
dos aspectos constitucionais que as moldam.

Roxin afirma que a tarefa de interpretar a lei requer da dogmática uma


sistematização sob considerações teleológicas/político-criminais. Em suas letras: o
direito, como ele é, e o direito, como ele deveria ser, não são sob este aspecto
opostos, uma vez que aquilo que a interpretação construirá como o Direito vigente
seja o resultado de pensar adiante as finalidades político-criminais do legislador.4

Tanto o legislador como o dogmata (cientista ou juiz) deve argumentar


político-criminalmente, cada qual em seu âmbito de atuação, sendo que o
segundo não pode ultrapassar o limite imposto pela finalidade legislativa,
ainda que a solução encontrada esteja fundamentada em nobres motivos
político-criminais.

Em outras palavras: o julgador não pode usurpar a função do legislador


ditando autonomamente novas molduras penais.5 Resta à dogmática a tarefa de
demonstrar que uma outra solução seria mais correta segundo as valorações
político-criminais, mas não pode transformar em Direito vigente o Direito por ela
entendido como correto.

2. Funcionalismo sistêmico de Jakobs

4
ROXIN, Claus. Funcionalismo e imputação objetiva no direito penal. cit. p. 273.
5
ROXIN, Claus. Funcionalismo e imputação objetiva no direito penal. cit. p. 284.

6
A grande característica do sistema funcional de Jakobs, que o distingue
dos demais, reside no conceito de bem jurídico penal, que para ele é precisamente
a norma penal.
Desse modo, para Jakobs, a função do direito penal consiste na
reabilitação da validade da norma penal violada.
Tal sistema pretende estruturar-se normativamente, sem se atrelar às
hipóteses vinculadas ao subjetivismo humano, motivo pelo qual considera a conduta
como causação do resultado individualmente evitável.
Ao desenvolver tal conceito de ação, Jakobs procurou confrontar a
afirmação de Welzel no sentido de que seria uma expressão de sentido. Para tanto,
considerou que ela não pode ser compreendida como um mero processo psíco-
físico em que os critérios determinantes seriam as condições psíquicas.6
Ao contrário, Jakobs entende que a ação não deve ser tomada enquanto
elemento natural, mas como algo determinado pela imputação. Somente assim
poderia a ação ser entendida como uma expressão de sentido comunicativamente
relevante.7
Em seu sistema, Jakobs defende a autonomia do tipo em relação à
ilicitude, se contrapondo energicamente ao preconizado pela teoria dos elementos
negativos do tipo.
Em suas palavras:

Propõe-se uma estrutura do crime em três níveis: o crime será a conduta


típica, antijurídica e culpável. A relação entre tipo e injusto não está
corretamente descrita com essa estrutura em três níveis. Tipo e injusto (ou
formalmente: antijuridicidade) somente constituem níveis separados do
crime, quando o nível antijuridicidade adiciona algo ao nível do tipo. Esse
é o caso quando existe justificação, uma vez que, então, ao tipo de injusto
adiciona-se o tipo de justificação. Não existindo justificação, porém, essa
ausência precisa ser constatada em uma etapa mental diversa da
averiguação da realização do tipo e, nesse sentido, pode-se falar em um
grau da averiguação do crime, mas a ausência de justificação não constitui
um nível do próprio crime; pelo contrário, o tipo realizado constitui injusto
em caso de ausência de causas de justificação. 8

6
Nesse sentido, CHAMON JÚNIOR, Lúcio Antônio. Do giro finalista ao funcionalismo penal: embates de
perspectivas dogmáticas decadentes, Porto Alegre: SAFE, 2004, p. 90.
7
JAKOBS, Günther. El concepto jurídico-penal de acción. In: Estudios de derecho penal. Madrid:
UAM/Civitas, 1997, p. 114.
8
JAKOBS, Günther. Tratado de direito penal: teoria do injusto penal e culpabilidade. Trad. Gercélia Batista
de Oliveira Mendes e Geraldo de Carvalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2009, p. 231.

7
Apesar de reconhecer o esforço de Jakobs para revelar a necessidade
de um enfoque conjugado do tipo e da antijuridicidade para a correta delimitação do
conteúdo do injusto, Juarez Tavares critica o sistema proposto por considerá-lo uma
circularidade dentro do próprio âmbito normativo, uma verdadeira decisão em torno
de uma outra decisão.9

3. Funcionalismo redutor de Zaffaroni


A vertente funcionalista encabeçada por Zaffaroni origina-se a partir da
busca por uma fundamentação antropológica do direito penal.
Segundo o referido autor, a lei penal pretende regular ações humanas e,
por isso, não pode criar o homem, motivo pelo qual torna-se necessário
fundamentar o jurídico no antropológico na tarefa de explicitação para a aplicação
da lei penal.10
Desse modo, a funcionalidade entendida como efeito político dos
conceitos jurídicos deve ser reconhecida como dado ôntico dos conceitos penais,
sendo função do direito penal reduzir a intervenção do poder punitivo, isto é, atuar
como filtro de contenção da irracionalidade e violência do poder punitivo.
Zaffaroni possui a clara percepção que a solução punitiva importa num
grau considerável de violência e irracionalidade e, por isso, o sistema penal deve
corresponder ao princípio da intervenção mínima.11
Sendo assim, o que legitima a tarefa do aplicador da lei penal é o respeito
aos princípios fundamentais da dogmática jurídico-penal e da política criminal
traçada pelo constituinte, harmonizando os textos legais de modo a que sejam
aplicados harmoniosamente a fim de se evitar a desagregação do sistema e a
corrosão da lógica jurídica, lesivas aos direitos e garantias fundamentais dos
cidadãos e provocadoras de insegurança social.

9
TAVARES, Juarezs. Teoria do injusto penal, cit. p. 144.
10
ZAFFARONI, Eugenio Raúl e PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro, cit. p.
316.
11
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas: a perda de legitimidade do sistema penal. Rio de
Janeiro: Revan, 2.ª ed., 1996.

8
Lado outro, a efetividade do direito penal corresponde à sua capacidade
para desempenhar a função que lhe incumbe no atual estágio de nossa cultura.12
Logo, sempre que o direito penal não se pautar pelo mínimo
indispensável para garantir a coexistência dos cidadãos deixa de ser efetivo e se
transforma em simples exercício de poder.
A distinção entre direito penal e exercício de poder exerce um papel
fundamental na doutrina de Zaffaroni.
Para ele, o direito penal pressupõe as seguintes condições mínimas: (1)
sua consideração como ordem reguladora da conduta humana; (2) a não
contradição de suas valorações; (3) a não contradição com as leis físicas e (4) o
reconhecimento da autodeterminação do homem.13
Ausente uma dessas categorias mínimas o direito penal se transforma
em puro exercício de poder.
A função do direito penal, portanto, seria propor aos juízes um sistema
orientador de decisiones que contiene y reduce el poder punitivo, para impulsar el
progreso del estado constitucional de derecho.14
A imediata redução do sistema penal e a criação de mecanismos
garantidores de uma máxima contenção do poder punitivo do Estado são, assim,
um necessário passo em um caminho mais longo, mas nem por isso inatingível, de
uma futura superação da própria reação punitiva.

Leitura complementar:
CHAMON JÚNIOR, Lúcio Antônio. Do giro finalista ao funcionalismo penal: embate
de perspectivas dogmáticas decadentes, Porto Alegre: SAFE, 2004.
GRECO, Luís. Introdução à dogmática funcionalista do delito. Revista Brasileira de
Ciências Criminais, nº. 32.
JAKOBS, Günther. Tratado de direito penal: teoria do injusto penal e culpabilidade.
Trad. Gercélia Batista de Oliveira Mendes e Geraldo de Carvalho. Belo Horizonte:
Del Rey, 2009.

12
ZAFFARONI, Eugenio Raúl e PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro, cit. p.
317
13
ZAFFARONI, Eugenio Raúl e PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro, cit. p.
318.
14
ZAFFARONI, Eugenio Raúl; ALAGIA, Alejandro; SLOKAR, Alejandro. Derecho penal parte general. 2ª
ed. Buenos Aires: Ediar, 2002, p. 5.

9
ORDEIG, Enrique Gimbernat. O futuro do direito penal: tem algum futuro a
dogmática jurídico-penal?. Rio de Janeiro: Manole.
ROXIN, Claus. Funcionalismo e imputação objetiva no direito penal. São Paulo:
Renovar, 2002, p. 230.
ZAFFARONI, Eugenio Raúl; ALAGIA, Alejandro; SLOKAR, Alejandro. Derecho
penal parte general. 2ª ed. Buenos Aires: Ediar, 2002.

Ponto IV – Da conduta

1 Fato típico: - conduta (comissiva/omissiva; dolosa/culposa)


- resultado
- nexo causal entre a conduta e o resultado
- tipicidade material

2 A conduta é o primeiro elemento integrante do fato típico, significando ação ou


comportamento;

3 Conduta dolosa (regra geral): art. 18, I e § único, CP;

4 Conduta culposa: art. 18, II, CP;

5 Ausência de conduta: não há dolo ou culpa - e portanto ação - quando o sujeito


provoca resultados em decorrência de força irresistível, movimentos reflexos e
estados de inconsciência:

a) força física irresistível: pode ser proveniente da natureza ou de terceira pessoa


(coação física);

b) movimentos reflexos: reação natural do organismo a determinados impulsos


(choque, espirro etc);

c) estados de inconsciência: sonambulismo, ataques epilépticos, embriaguez


proveniente de caso fortuito ou força maior (art. 28, CP) etc.

6 Condutas comissivas e omissivas:

a) a conduta comissiva consiste em fazer o que está proibido (matar, furtar etc);

b) a conduta omissiva consiste em não fazer o que está determinado por norma
preceptiva;

c) os crimes omissivos dividem-se em duas grandes classes: omissivos próprios


(dever genérico de proteção/crimes de mera conduta - ex.: arts. 135 e 244. CP) e
omissivos impróprios ou comissivos por omissão (dever especial de proteção), que

10
se inserem na tipificação comum dos crimes de resultado desde que praticados
pelas pessoas referidas no §2º do art. 13 do CP.

Leitura complementar:
PRADO, Luiz Regis. Bem jurídico penal. São Paulo: RT;
SALES, Sheila Jorge Selim de. Do tipo plurissubjetivo. Belo Horizonte: Del Rey;
TAVARES, Juarez. Direito penal da negligência. São Paulo: RT;
VARGAS, José Cirilo. Do tipo penal. Belo Horizonte: Del Rey.

Ponto V – Conduta dolosa e culposa

1 Conceito de dolo: dolo é a vontade livre e consciente dirigida a realizar a conduta


prevista no tipo penal incriminador (Rogério Greco);

2 DOLO = CONSCIÊNCIA (elemento intelectual) + VONTADE (elemento volitivo);

3 Teorias do dolo:

3.1 teoria da vontade (CP): dolo é tão somente a vontade livre e consciente de
querer praticar a conduta prevista no tipo penal;
3.2 teoria do assentimento (CP): há dolo quando o agente não quer o resultado
diretamente, mas o entende como possível e o aceita;
3.3 teoria da representação: basta, para a existência do dolo, que o resultado
seja representado mentalmente pelo agente, que o prevê e ainda assim decide pela
continuidade da conduta. Aqui não há distinção entre dolo eventual e culpa
consciente.

4 Espécies de dolo:

4.1 dolo direto: ocorre quando o agente quer cometer a conduta típica;

4.2 dolo indireto: pode ser dividido em alternativo e eventual. No primeiro a


vontade do agente encontra-se direcionada de maneira alternativa. No segundo o
agente, embora não querendo o resultado, assume o risco de produzi-lo;

4.3 dolo genérico: elemento subjetivo implícito em todo tipo penal;

4.4 dolo específico: especial finalidade de agir do sujeito ativo.

4.5 dolo natural: aquele desprovido de consciência da ilicitude.

4.6 dolo normativo: aquele impregnado da consciência da ilicitude.

11
4.7 dolo geral: ocorre quando o agente pratica uma conduta visando produzir um
resultado e, considerando ter obtido êxito, pratica conduta posterior tendente a outro
fim, sendo que somente nesta o resultado se verifica.

6 Estrutura do tipo culposo (art. 18, II CP):

6.1 conceito: culpa é a ação ou omissão praticada sem o cuidado objetivo


necessário que provoca resultado lesivo.

6.2 elementos do delito culposo:

Conduta humana voluntária: nos delitos de natureza culposa, a conduta é o ato


humano voluntário dirigido à realização de um fim qualquer, mas que, por
imprudência, negligência ou imperícia dá causa a um resultado não querido, nem
mesmo assumido, tipificado previamente na lei penal.

Inobservância de um dever objetivo de cuidado: a infringência ao dever de


cuidado objetivo pode ocorrer nas hipóteses de imprudência, imperícia e
negligência.

Resultado não querido e não assumido pelo agente: o artigo 18, inciso II, do
Código Penal exige a verificação de um resultado naturalístico para a caracterização
do delito culposo.

Nexo de causalidade: entre o resultado e a conduta praticada sem a observância


do dever de cuidado.

Previsibilidade: se o fato escapar totalmente à previsibilidade do agente, o


resultado não lhe pode ser atribuído, mas sim ao caso fortuito ou à força maior. A
doutrina distingue entre previsibilidade objetiva e previsibilidade subjetiva.

Tipicidade: parágrafo único do artigo 18 do CP.

6.3 modalidades de culpa: imprudência, imperícia e negligência. Traço comum:


inobservância do dever objetivo de cuidado (“direito penal da negligência”).
IMPRUDÊNCIA é a culpa de quem age (ação descuidada). Característica
fundamental: a culpa se desenvolve paralelamente à ação (ex: excesso de
velocidade, manusear arma carregada etc). NEGLIGÊNCIA é a culpa na sua forma
omissiva. Consiste em deixar alguém de tomar o cuidado devido antes de começar
a agir (ex: deixar de reparar os pneus e verificar os freios antes de viajar; deixar
arma carregada ao alcance de crianças etc). IMPERÍCIA é a demonstração de
inaptidão técnica em profissão ou atividade. Consiste na incapacidade, na falta de
conhecimento ou habilitação para o exercício de determinado mister (ex: motorista
de veículo de passeio que se propõe a dirigir um caminhão e provoca um acidente).

12
6.4 crime culposo e tipo aberto: o tipo culposo é chamado de aberto porque a
conduta culposa não é descrita pela lei penal;

6.5 espécies de culpa: culpa inconsciente ocorre quando o resultado não é


previsto pelo agente, embora previsível para o homem médio; culpa consciente
ocorre quando o resultado é previsto pelo sujeito, que confia levianamente na sua
não ocorrência.

Leitura complementar:
PRADO, Luiz Regis. Bem jurídico penal. São Paulo: RT;
SALES, Sheila Jorge Selim de. Do tipo plurissubjetivo. Belo Horizonte: Del Rey;
TAVARES, Juarez. Direito penal da negligência. São Paulo: RT;
VARGAS, José Cirilo. Do tipo penal. Belo Horizonte: Del Rey.

Ponto VI - Bem jurídico e elementos do tipo

1 Bem jurídico: a tutela penal só se legitima quando socialmente necessária,


segundo a valoração do legislador de cada época;

2 Principais funções do bem jurídico:

a) função de garantia: restringe o jus puniendi estatal;

b) função teleológica: o sentido e o alcance do tipo deve se limitar à função de


proteção de determinado bem jurídico;

c) função individualizadora: a gravidade da lesão ao bem jurídico importa para a


dosimetria da pena (desvalor do resultado);

d) função sistemática: é imprescindível para a formação dos grupos de tipos da


parte especial do Código Penal.

3 Tipo penal (conceito): “é um modelo abstrato de comportamento proibido” (Assis


Toledo)

4 Elementos objetivos do tipo (parte objetiva, tipo objetivo): representam o conjunto


dos caracteres objetivos do tipo, sendo classificados entre descritivos - aqueles
identificados pela simples verificação sensorial (ex.: coisa, móvel, alguém, etc) – e
normativos - que exigem um juízo de valor para o seu conhecimento, seja de ordem
jurídica (ex.: cheque, documento, funcionário público) ou extrajurídica (ex.: ato
obsceno, dignidade ou decoro, etc).

5 Elementos subjetivos do tipo (parte subjetiva, tipo subjetivo): compõem o conjunto


dos caracteres subjetivos ou anímicos do tipo, funcionando o dolo como critério

13
normal de imputação do fato ao agente e a culpa como exceção. O quadro se
completa com os elementos subjetivos especiais, que são os demais requisitos
de caráter subjetivo, distintos do dolo, que determinados tipos exigem para a sua
realização (ex.: para si ou para outrem, art. 155, CP; com o fim de obter, art. 159,
CP e com o intuito de obter, art. 216-A, CP).

6 Elementos específicos do tipo: a fim de favorecer o estudo sistemático da Parte


Especial do Código Penal, a doutrina se esforçou por categorizar determinados
elementos presentes em todos os tipos penais ou, pelo menos, em alguns deles,
conforme a descrição abaixo.

a) Núcleo: é o verbo que descreve a conduta proibida pela lei penal. Existem tipos
penais que possuem um único núcleo (uninucleares) e outros que possuem vários
núcleos (plurinucleares, ou crime de ação múltipla);
b) Sujeito ativo: “o sujeito ativo, ou agente, é aquele a quem o tipo penal atribui a
realização do fato incriminado” (Sheila Jorge Selim de Sales). Na legislação
brasileira, em regra, o agente não é explicitamente referido no tipo. Relativamente
ao sujeito ativo, os crimes podem ser classificados em comuns (podem ser
praticados por qualquer pessoa), próprios (exigem uma especial qualidade do
sujeito ativo, que pode ser natural - art. 123 - ou jurídica - art. 312) e de mãos
próprias (somente podem ser praticados mediante a atuação pessoal do sujeito
ativo - art. 342).
c) Sujeito passivo: titular de um direito. Certos delitos exigem determinado sujeito
passivo (ex.: art. 123, CP). Pessoa jurídica como sujeito passivo. Escusas
absolutórias.
d) Objeto material: coisa ou pessoa sobre a qual recai a conduta.
e) Objeto jurídico: o bem juridicamente tutelado pela lei penal;
f) Resultado: crime de dano e crime de perigo (dano potencial), que pode ser
concreto ou abstrato.

Ponto VII - Relação de Causalidade

1 Nexo causal: elo necessário que une a conduta praticada pelo agente ao resultado
por ela produzido (Rogério Greco).

2 Resultado: natural / material – modificação do mundo físico;


jurídico / normativo – lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico
protegido.

3 Classificação dos crimes quanto ao resultado naturalístico:

a) material: resultado exigido (ex.: artigos 121, 129 e 155, CP);

14
b) formal: resultado não exigido (ex.: artigos 158, 159 e 316, CP);

c) mera conduta: não existe resultado (ex.: arts. 150 e 233, CP).

4 Crimes que exigem o nexo causal: materiais, omissivos impróprios (comissivos


por omissão) e culposos.

5 Crimes que não exigem o nexo causal: formais (em que o legislador antecipa a
consumação); de mera conduta (o legislador não faz previsão de qualquer resultado
naturalístico) e omissivos próprios (em que basta a inação do agente).

6 Teoria da equivalência dos antecedentes causais (conditio sine qua non):

a) adotada pelo Código Penal - art. 13;

b) crítica: regressão “ad infinitum” em busca das causas do resultado;

c) solução: deve-se interromper a cadeia causal no instante em que não houver


dolo ou culpa;

d) processo de eliminação de Thyrén;

e) ocorrência do resultado: interpretação da parte final do caput do artigo 13.

7 Limitações do alcance da teoria da conditio sine qua non:

7.1 Causas absolutamente independentes – art. 13, caput, CP (preexistentes,


concomitantes e supervenientes): o resultado não poderá ser atribuído ao agente,
que responderá tão somente pelos atos praticados;

7.2 Causas relativamente independentes:

a) preexistentes: o resultado é uma conjugação da conduta do agente com uma


causa que já existia anteriormente (exemplo clássico da vítima hemofílica);

b) concomitantes: o resultado é uma conjugação da conduta do agente com uma


causa que está ocorrendo (assassinato de uma pessoa que está sofrendo colapso
cardíaco);

c) supervenientes: art. 13, §1º, CP. Interpretação da expressão “por si só”. Pode ser
empregada a seguinte fórmula: resultado = mesma linha de desdobramento físico
da ação inicial + significância da lesão (morte da vítima em virtude de acidente com
a ambulância e não dos ferimentos anteriormente suportados).

15
8 Relevância causal na omissão: “na omissão não há o nexo de causalidade, há o
nexo de não-impedimento. A omissão relaciona-se com o resultado pelo seu não-
impedimento e não pela sua causação. Esse não-impedimento é erigido à condição
de causa” (Cezar Roberto Bitencourt).

9 Teoria da causalidade adequada: considera como causa o antecedente não


apenas necessário, mas também adequado à produção do resultado (causalidade
= necessidade + idoneidade). É criticada devido a indefinição dos critérios de
probabilidade utilizados na verificação da idoneidade da conduta para alcançar
determinados resultados. Para muitos, foi admitida excepcionalmente no artigo 13,
§1º, CP.

Ponto VIII – Imputação objetiva

1 Gerada pelo funcionalismo, esta teoria renormativizou o tipo objetivo, em


contraposição à configuração puramente naturalística do nexo de causalidade
presente na teoria da equivalência dos antecedentes causais. Há clara separação
entre a causalidade e a imputação. A primeira é categoria prévia à imputação e
vincula-se ao resultado no plano material. A imputação é categoria posterior à
causalidade e consiste em um dado axiológico, existindo quando a conduta CRIA
UM RISCO JURIDICAMENTE DESAPROVADO QUE SE CONCRETIZA NA
PRODUÇÃO DO RESULTADO.

2 Grupos de casos: em sua forma simplificada, a Teoria da Imputação Objetiva,


segundo Roxin, analisa o fato a partir de três níveis de imputação:

a) criação de um risco jurídico-penal relevante ou não permitido ou desaprovado;

b) realização do risco no resultado concreto;

c) infringência ao fim de proteção do tipo penal ou alcance do tipo.

3 Critérios pelos quais não haverá a imputação do resultado a uma pessoa que
fisicamente influenciou na produção do evento:

1º Nível (criação de riscos) - os riscos não são relevantes e a imputação é excluída


nas seguintes hipóteses:

Diminuição de riscos: a atividade do agente diminui o perigo já existente para a


vítima. Ex.: amputação de um membro praticado por médico para salvar a vida do
paciente.

Falta de criação de um perigo juridicamente relevante: não há imputação de um


resultado a uma conduta quando o comportamento não incrementa o risco de forma
relevante (ex.: “fugu” assassino); quando, apesar do incremento do risco, a conduta
é considerada socialmente adequada (ex.: proprietário de um bar que vende bebida

16
alcoólica para um motorista) e, finalmente, quando a conduta geradora do resultado
não incrementa o risco de forma mensurável, comparado ao perigo existente
(transbordamento de um represa após o esvaziamento de uma piscina).

Criação de um perigo e desenvolvimentos hipotéticos de causalidade: para alguns


doutrinadores (corrente minoritária no Brasil), não haverá imputação de um
resultado a uma conduta que o alterou fisicamente quando, desenvolvendo-se
hipoteticamente a causalidade, constata-se que o resultado ocorreria de forma
inexorável (ex.: “carrasco frustrado”). Esta tese foi apresentada pelo médicos
nazistas perante o Tribunal de Nuremberg.

Exclusão da imputação nos casos de risco permitido: não haverá imputação quando
o risco é criado dentro da permissibilidade ditada por uma norma (ex.: transporte
nas grandes cidades).

2º Nível – realização de riscos: há a criação do risco juridicamente desaprovado,


mas não ocorre a realização do perigo num resultado que possa ser imputado à
conduta.

Falta de materialização do perigo: exclui-se a imputação quando o sujeito cria um


perigo mas o resultado não pode ser considerado como a realização desse risco
(ex.: “caso da ambulância acidentada”).

Falta de realização de um risco não permitido: para poder imputar o resultado a uma
conduta não basta a criação de um perigo desaprovado, impende que a violação do
risco permitido haja influído na forma concreta do resultado (ex.: excesso de
velocidade em local proibido e posterior atropelamento).

3º Nível – fim de proteção da norma de cuidado: a criação do perigo não


permitido e a realização do risco não são suficientes para a imputação objetiva,
sendo necessário examinar o alcance do tipo penal e o fim de proteção da norma
(ex.: atropelamento de pessoa maior por excesso de velocidade em área escolar;
autocolocação em perigo etc).

Leitura complementar:
GALVÃO, Fernando. Imputação objetiva. Belo Horizonte: Mandamentos;
GRECO, Luís. Introdução à dogmática funcionalista do delito. Revista Brasileira de
Ciências Criminais. São Paulo: RT, n.º 32, 2000;
ROXIN, Claus. Política criminal e sistema jurídico-penal. Trad. Luís Greco. Rio de
Janeiro: Renovar.

Ponto IX - Iter criminis. Consumação e tentativa.

1 Natureza e tipicidade da tentativa: norma de caráter extensivo que cria novos


mandamentos proibitivos (adequação típica de subordinação mediata);

17
2 Iter criminis

a) fase interna:

I - cogitação: segundo Noronha alguns atos de cogitação são puníveis, p. ex., art.
147 (ameaça), 286 (incitação ao crime), 288 (formação de quadrilha). Para Damásio
são atos preparatórios que a lei erigiu a executórios.

b) fase externa:

II - atos preparatórios: meios e instrumentos utilizados na prática do crime. Também


são impuníveis, salvo quando o legislador cria uma figura típica específica. Ex.: CP,
art. 253 (possuir substância explosiva) X 251 (explosão); 291 (petrechos) X 289
(moeda falsa) etc.

III - execução: atos de tentativa em busca da consumação do delito. Diferença entre


atos preparatórios e atos de execução: teoria subjetiva (há tentativa quando o
agente exterioriza de modo inequívoco sua intenção de praticar o crime); teoria
objetivo-formal (há tentativa quando o agente pratica a conduta descrita no núcleo
do tipo); teoria objetivo-material (há tentativa quando o agente pratica uma
conduta indissociavelmente ligada ao núcleo do tipo); teoria objetivo-individual
(há tentativa quando o agente, segundo seu plano delitivo, pratica uma conduta que
se coloca em relação imediata com a realização do núcleo do tipo) e teoria da
hostilidade ao bem jurídico (há tentativa quando ocorre efetivo ataque ao bem
jurídico protegido);

IV - consumação: realização integral do tipo. Pode variar de acordo com a espécie


de crime. Assim, nos crimes materiais, omissivos impróprios e culposos a
consumação se verifica com a produção do resultado naturalístico (ex.: art. 121);
nos omissivos próprios com a abstenção do comportamento imposto ao agente (ex.:
art. 135); nos de mera conduta com o simples comportamento previsto no tipo (ex.:
art. 150); nos formais com a prática da conduta descrita no núcleo do tipo,
independentemente da produção do resultado (ex.: art. 159); nos crimes
qualificados pelo resultado com o ocorrência do resultado agravador (ex.: art. 129,
§2º, V) e nos permanentes enquanto durar a permanência (ex.: art. 148);

V - exaurimento: pós-fato impunível (CP, arts. 159, 317).

Obs.: vale observar a advertência de Rogério Greco: o iter criminis é um instituto


específico para os crimes dolosos, não se falando em caminho do crime quando a
conduta do agente for de natureza culposa.

3 Elementos do crime tentado:

a) início da execução: a tentativa só é punível a partir do momento em que a ação


penetra na fase de execução;

18
b) não-consumação do crime por circunstâncias alheias à vontade do agente: a
causa interruptiva deve impedir o agente de prosseguir (tentativa imperfeita) ou
evitar o resultado (tentativa perfeita/crime falho);

Obs.: quando a execução do crime se interrompe pela própria vontade do agente


poderá haver desistência voluntária ou arrependimento eficaz, que serão
examinados adiante (art. 15, CP).

4 Espécies de tentativas:

a) tentativa imperfeita (tentativa propriamente dita): o agente não consegue realizar


todos os atos executórios necessários para a consumação do crime por fatores
estranhos à sua vontade (interferência de terceiros);

b) tentativa perfeita (crime falho): a fase executória realiza-se integralmente, mas o


resultado não ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente. A execução
se conclui, mas o crime não se consuma (Cezar Bitencourt).

Obs.: a distinção entre tentativa imperfeita e tentativa perfeita é irrelevante para


efeito de tipificação, influenciando todavia na dosimetria da pena, bem como no
exame da desistência voluntária e arrependimento eficaz.

5 Punibilidade da tentativa:

a) teoria subjetiva: pena do crime consumado porque a vontade do autor é


perfeita;

b) teoria objetiva (CP): exposição do bem a perigo;

c) obrigatoriedade da diminuição legal: art. 14, parágrafo único, CP;

d) exceções: art. 352, CP; art. 309 Código Eleitoral etc.

6 Crimes que não admitem tentativa:

a) crimes culposos: não subsistem sem a produção de um resultado naturalístico.


Exceção: fala-se em tentativa na denominada culpa imprópria, em que o resultado
é querido mas o sujeito incide em erro inescusável (crime doloso que, por erro ou
excesso culposo, recebe o tratamento de crime culposo);

b) crimes preterdolosos: existe a possibilidade da tentativa apenas quando o


resultado gravoso for abrangido pelo dolo;

c) crime omissivo próprio: consuma-se no lugar e no instante em que a atividade


exigida deveria se realizar;

19
d) crimes unissubsistentes: por serem praticados através de um único ato não
admitem fracionamento da execução. Ex.: injúria verbal;

e) contravenções penais: a tentativa é afastada por disposição legal - artigo 4º LCP.

7 Desistência voluntária (art. 15, CP):

a) por motivo de política criminal é impunível (“é a ponte de ouro que a lei estende
para a retirada oportuna do agente” – VON LISZT);

b) desistência voluntária (“posso, mas não quero”) X tentativa (“quero, mas não
posso) – expressões cunhadas por FRANK;

C)não é necessário que a desistência seja espontânea, basta que seja voluntária,
sem coação moral ou física;

d) só é possível na tentativa imperfeita;

e) o agente responde pelos atos típicos já praticados;

f) natureza jurídica: causa de exclusão da adequação típica.

8 Arrependimento eficaz (art. 15, CP):

a) o êxito da atividade impeditiva é indispensável;

b) também não é necessário que o arrependimento seja espontâneo, bastando que


seja voluntário;

c) só é possível na tentativa perfeita;

d) o agente responde pelos atos típicos já praticados – “tentativa qualificada”;

e) natureza jurídica: causa de exclusão da adequação típica;

f) não se confunde com o arrependimento posterior (art. 16, CP).

9 Crime impossível (art. 17, CP):

a) não há tentativa por falta de tipicidade;

b) hipóteses: ineficácia absoluta do meio ou impropriedade absoluta do objeto.

Leitura complementar:

20
BITENCOURT, Cezar Roberto. Do crime consumado e do crime tentado. Revista
dos Tribunais, São Paulo: RT, v. 646;
ZAFFARONI, Eugênio Raúl e PIERANGELI, José Henrique. Da tentativa: doutrina
e jurisprudência. São Paulo: RT.
SPIRITO KALIL, José Artur. Do crime impossível. Belo Horizonte: Del Rey.

Ponto VIII – Antijuridicidade

1. Conceito: É a relação de antagonismo que se estabelece entre uma conduta


humana voluntária e o ordenamento jurídico, de sorte a causar lesão ou expor a
perigo de lesão um bem jurídico tutelado (ASSIS TOLEDO). Ilicitude formal e
material.

2. Causas de exclusão da ilicitude (art. 23, CP): segundo a necessidade de agir ou


reagir em face do perigo (legítima defesa e estado de necessidade – conceituados
pelo legislador) e a atuação conforme o direito (estrito cumprimento do dever legal
e exercício regular de direito – cujos conceitos ficaram a cargo da doutrina).

3. Causa supralegal de exclusão da ilicitude: consentimento do ofendido.

4. Estado de necessidade: art. 24, CP.

4.1 Estado de necessidade justificante e estado de necessidade exculpante


(distinção existente somente nas legislações que adotam a teoria diferenciadora):

a) Teoria unitária (CP) - todo estado de necessidade é justificante, ou seja, tem


a finalidade de eliminar a ilicitude do fato típico e não a culpabilidade do
agente. Aqui não importa se o bem protegido pelo agente é de valor superior
ou igual àquele que está sofrendo a ofensa, ambos os casos resultarão na
exclusão da ilicitude.

b) Teoria diferenciadora: haverá estado de necessidade justificante somente


nas hipóteses em que o bem afetado for de valor inferior àquele que se
defende. Quando o bem salvaguardado for de valor igual ou inferior àquele
que se agride, o estado de necessidade é exculpante, ou seja, afasta a
culpabilidade.

4.2 Princípio da razoabilidade: embora nosso CP tenha adotado a teoria unitária,


tornando inadmissível o reconhecimento do estado de necessidade quando o bem
sacrificado for de valor superior ao preservado, se as circunstâncias o indicarem, a
inexigibilidade de conduta diversa poderá excluir a culpabilidade.

4.3 Elementos objetivos caracterizadores do estado de necessidade:

21
a) prática de fato para salvar de perigo atual: na expressão “perigo atual” está
incluído o “perigo iminente”;

b) perigo não provocado pelo agente: a expressão “que não provocou por sua
vontade” significa não ter o agente provocado dolosamente a situação de perigo,
podendo beneficiar-se do estado de necessidade se agiu culposamente;

c) inevitabilidade do dano: para que se possa alegar o estado de necessidade


exige a lei que o agente não tenha tido possibilidade de evitar o dano produzido por
sua conduta. O agente não tem opção de escolha, deve seguir sempre o caminho
menos gravoso.

d) estado de necessidade próprio e de terceiro: o estado de necessidade de


terceiro somente é possível para defesa de bem indisponível.

e) razoabilidade do sacrifício do bem.

4.4 Dever legal de enfrentar o perigo: art. 24, §1º, CP.

4.5 Elemento subjetivo no estado de necessidade.

5. Legítima defesa: art. 25 CP.

5.1.Definição: art. 25, CP.

5.2. Bens amparados pela legítima defesa: todos os bens são passíveis de defesa
pelo ofendido, desde que as autoridades constituídas não possam defendê-los no
momento do ataque.

5.3. Espécies de legítima defesa: legítima defesa autêntica ou real (art. 25, CP) e
legítima defesa putativa (art. 20, §1º, CP).

5.4. Elementos objetivos:

a) agressão a direito seu ou de outrem: a agressão não se confunde com a mera


provocação. Somente a primeira permite ao agredido defender-se legitimamente.

b) agressão injusta: somente o homem pode praticar agressão injusta, assim


considerada a que não é amparada pelo ordenamento jurídico.

c) atualidade ou iminência da agressão: atual é a agressão que está acontecendo;


iminente é a que está prestes a acontecer. A legítima defesa não se aplica às
agressões pretéritas ou futuras.

d) meios necessários: são aqueles eficazes e suficientes à repulsa da agressão.

22
e) moderação no uso dos meios necessários: a reação deve cessar no mesmo
instante da agressão, sob pena do agente responder pelo excesso.

5.5. Elemento subjetivo na legítima defesa.

5.6. Excesso na legítima defesa (art. 23, § único, CP): pode ser considerado doloso
ou culposo. Diz-se doloso o excesso em duas situações: a) quando o agente,
cessada a agressão, prossegue na repulsa para causar maiores danos ao agressor
inicial e b) quando o agente, depois de estancar a agressão contra sua pessoa, em
virtude de erro de proibição indireto (erro sobre os limites de uma causa de
justificação), acredita que pode prosseguir na repulsa. Nesse último exemplo aplica-
se a regra do art. 21 do CP.

5.7. Excesso culposo na legítima defesa: a situação de agressão sé existe na mente


do agente que, por erro quanto à situação de fato, supõe que ainda será agredido
e dá continuidade ao ataque (descriminante putativa). Outra hipótese de excesso
culposo ocorre quando o agente, devido à má avaliação dos fatos, pratica uma
reação desmedida. Na verdade, embora o CP fale em excesso doloso e culposo, a
conduta de quem excede é sempre dolosa, resultante da negligente aferição das
circunstâncias que a envolviam. Por motivo de política criminal a punição é feita a
título de culpa.

5.8. Excesso na causa: ocorre quando o bem defendido é inferior ao bem atingido.

5.9. Excesso exculpante: elimina a culpabilidade do agente.

6. Estrito cumprimento do dever legal (art. 23, III, 1ª parte, CP):

6.1. Definição: ocorre quando alguém atua em cumprimento de dever que lhe é
imposto por lei. Ex.: agentes estatais que realizam prisões, arrombamento, busca e
apreensão de pessoas ou coisas etc.

6.2. Requisitos: é necessário que o fato seja legítimo na origem e na sua execução
(JOÃO MESTIERI).

6.3. Crimes culposos: não se admite estrito cumprimento do dever legal nos crimes
culposos, pois a lei não obriga à imprudência, negligência ou imperícia. Pode-se
falar em estado de necessidade na hipótese de um motorista de ambulância que
dirige em velocidade excessiva para salvar a vida de um paciente e provoca
acidente de trânsito.

7. Exercício regular de direito (art. 23, III, 2ª parte, CP): ocorre quando alguém atua
exercendo um direito que lhe é outorgado por um ramo da Ciência Jurídica. O que
é permitido por um ramo do direito não pode ser considerado como ilícito por outro.

23
O direito deve ser exercido dentro de limites, indicados pela expressão “regular”.
Ex.: correção dos filhos pelos pais; prisão em flagrante delito por particular; desforço
imediato no esbulho possessório etc. Também há exercício regular de direito nas
intervenções médicas autorizadas e fiscalizadas pelo Poder Público, bem como nas
hipóteses de práticas esportivas cujos resultados lesivos advenham de condutas
praticadas no âmbito do jogo.

8. Ofendículos: são instrumentos predispostos que visam à defesa de bens


jurídicos. Ex.: cerca elétrica, cacos de vidro etc. Para alguns doutrinadores trata-se
de exercício regular de direito; para outros, de legítima defesa preordenada.

Leitura complementar:
COSTA JR, Heitor. Acerca dos elementos subjetivos das causas de justificação.
Revista dos Tribunais, São Paulo: RT, 1982;
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Antijuridicidade. Revista Forense, Rio de Janeiro:
Forense, 1964, v. 208;
PIERANGELI, José Henrique. O consentimento do ofendido. São Paulo: RT.

Ponto IX - Culpabilidade

1. Elementos da culpabilidade: imputabilidade, possibilidade de consciência da


ilicitude e exigibilidade de conduta diversa.

A imputabilidade importa na capacidade do agente de entender o caráter ilícito do


ato (fator intelectual) e na capacidade de determinar-se de acordo com esse
entendimento (fator volitivo).

A possibilidade de consciência da ilicitude refere-se à capacidade específica do


agente de, em um momento determinado, consideradas as circunstâncias em que
atuou, deixar-se motivar pela vontade da ordem jurídica.

Ao juízo de culpabilidade é indispensável, ainda, a exigibilidade de conduta


diversa: deixa-se de reprovar o injusto praticado quando o agente se encontra
diante de circunstâncias que dificultem extremamente sua opção pela vontade da
ordem jurídica.

O conceito complexo de culpabilidade acrescentou a tais requisitos a atitude interna


censurável, que, em síntese, é a razão pela qual o fato se reprova com maior ou
menor intensidade ao autor.

2. Causas excludentes da culpabilidade:

2.1. Inimputabilidade e culpabilidade diminuída:

24
a) sistemas adotados: nosso CP não define a imputabilidade penal, a não ser por
exclusão, ao estabelecer as causas que a afastam (art. 26). São conhecidos três
sistemas definidores da inimputabilidade ou culpabilidade diminuída: (1) biológico;
(2) psicológico e (3) biopsicológico. O Código Penal brasileiro adotou o sistema
biopsicológico, exceto quanto à “maioridade penal”, quando seguiu o sistema
biológico.

b) inimputabilidade: no caso de anormalidade psíquica, devem reunir-se dois


aspectos indispensáveis: um biológico, que é a doença em si, e outro psicológico,
que é o referente à capacidade de entender ou de autodeterminar-se de acordo com
esse entendimento. Além da menoridade, três causas biológicas podem levar à
inimputabilidade do agente, quais sejam, a doença mental, o desenvolvimento
mental incompleto e o desenvolvimnto mental retardado. A menoridade, por
presunção legal, termina aos dezoito anos de idade (art. 27, CP). Por doença
mental se compreende todos os estados mentais, mórbidos ou não, que
demonstrem a incapacidade do criminoso de entender o caráter ilícito de sua ação
ou de determinar-se de acordo com essa compreensão. Desenvolvimento mental
incompleto, por sua vez, é aquele que ainda não se concluiu, abrangendo os
surdos-mudos e os silvícolas inadaptados, que a psicopatologia forense
determinará, em cada caso, se a anormalidade produz a incapacidade referida na
lei. Como desenvolvimento mental retardado compreende-se a oligofrenia, em
suas formas tradicionais – idiotia, imbecilidade e debilidade mental. Em outros
termos, desenvolvimento mental retardado é aquele que não atingiu a maturidade
psíquica.

c) culpabilidade diminuída: situam-se nessa faixa intermediária os chamados


fronteiriços, que apresentam situações atenuadas ou residuais de psicoses, de
oligofrenias e, particularmente, grande parte das chamadas personalidades
psicopáticas ou mesmo transtornos mentais transitórios. Esses estados afetam a
saúde mental do indivíduo sem, contudo, excluí-la. A culpabilidade fica diminuída
em razão da menor censura que se lhe pode fazer, em razão da maior dificuldade
de valorar adequadamente o fato e posicionar-se de acordo com essa capacidade.

2.2. Coação irresistível e obediência hierárquica: são situações legais que


excluem a culpabilidade em razão da inexigibilidade de comportamento diverso (art.
22, CP).

a) Coação irresistível, com idoneidade para afastar a culpabilidade, é a coação


moral (vis compulsiva), a conhecida ameaça, uma vez que a coação física (vis
absoluta) exclui a própria ação, não havendo, consequentemente, conduta típica.
Na coação moral existe vontade, embora seja viciada. Nas circunstâncias em que
a ameaça é irresistível não é exigível que o agente se oponha a essa ameaça, para
se manter em conformidade com o Direito. Na hipótese de coação resistível, não
haverá exclusão da culpabilidade penal, porém há uma diminuição do grau de
reprovação e consequentemente uma atenuante genérica (art. 65, III, “c”, CP).

25
b) Obediência hierárquica: a segunda parte do art. 22 prevê a obediência
hierárquica, que requer uma relação de direito público. A ordem deve ser ilegal, mas
não manifestamente ilegal. Quando a ordem for ilegal, mas não manifestamente, o
subordinado que a cumpre não agirá com culpabilidade, por ter avaliado
incorretamente a ordem recebida, incorrendo numa espécie de erro de proibição.
Agora, quando cumprir ordem manifestamente ilegal, tanto o superior hierárquico
quanto o subordinado são puníveis. O subordinado não tem a obrigação de cumprir
ordens ilegais.

2.3. Emoção e paixão: esses estados emocionais não eliminam a censurabilidade


da conduta (art. 28, I, CP), podendo, apenas, diminuí-la, com a correspondente
redução de pena, desde que satisfeitos determinados requisitos legais.

2.4. Embriaguez e substâncias de efeitos análogos: art. 28, II, CP.

Leitura complementar:
BRODT, Luís augusto Sanzo. Da consciência da ilicitude no Direito Penal
brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey;

Ponto X – Erro de tipo e erro de proibição

1. Considerações iniciais: o erro pode ser conceituado como ausência ou falha de


percepção, bem como ausência ou falha de raciocínio, representando um
“conhecimento falso”. A ignorância, por sua vez, materializa a “falta de
conhecimento”.

2. Tratamento do erro no Direito Penal: teorias do dolo e teorias da culpabilidade.

2.1 Teorias do dolo (1ª fase da evolução do conceito de culpabilidade)

2.1.1 Teoria psicológica da culpabilidade;

2.1.2 Teoria psicológico-normativa da culpabilidade (neokantismo):

ERRO DE FATO (incide sobre circunstâncias de fato);


ERRO DE DIREITO (incide s/ circunstâncias de direito);

2.1.3 A concepção normativa do dolo produziu as seguintes teorias:

a) Teoria extrema(da) ou estrita do dolo: situa o dolo na culpabilidade e a


consciência da ilicitude, que deve ser atual, no próprio dolo. A falta de consciência
do injusto exclui sempre o dolo.
Exs.: Erro de fato que elimina a vontade: “tiros de festim”;
Erro de fato que elimina a consciência da ilicitude: “descriminante putativa”;

26
Erro de direito que elimina a vontade: “deixar de recolher, no prazo legal,
valor de tributo” – art. 2º, II, L. 8137/90;
Erro de direito que afasta a consciência da ilicitude: “turista holandês que
acende um cigarro de maconha nas praias de Trancoso”;

b) Teoria limitada do dolo (Mezger): sem afastar ou negar a primeira, considera as


necessidades práticas da vida para admitir um atuar doloso quando, em casos
isolados, falta ao autor a consciência da ilicitude devido a sua “inimizade ao direito”;
equipara a real consciência da ilicitude com a potencial consciência da ilicitude; ex.:
“anarquistas”;

c) Teoria modificada do dolo: surgiu como reação à teoria limitada do dolo


relativamente à aplicação da potencial consciência da ilicitude somente nos casos
de “cegueira jurídica” (culpabilidade de autor); a pena passou a ser reduzida nos
casos de potencial consciência da ilicitude (art. 21, CP).

2.2 Teorias da culpabilidade (2ª fase da evolução do conceito de culpabilidade)

2.2.1 As teorias da culpabilidade surgiram após o advento do finalismo, cujo modelo


transferiu o dolo para o tipo e dele extraiu a consciência da ilicitude, que
permaneceu na culpabilidade.

2.2.2 O denominado “Direito Penal da culpabilidade” compreendeu em toda sua


extensão o porquê da escusabilidade do erro: sendo a culpabilidade uma censura,
valora-se juridicamente de forma diversa o ato que deriva de erro (falso
conhecimento ou estado de ignorância), porque, nesse caso, escapa à percepção
do agente o estar agindo ilicitamente, não lhe sendo logicamente censurável o não
inibir ou o não reorientar o comportamento que supõe jurídico ou cuja ilicitude
desconhece.

2.2.3 Para as teorias da culpabilidade, o erro - como falso conhecimento ou


ignorância por parte do agente - pode recair, basicamente, sobre circunstâncias
fáticas ou normativas, pertencentes ao tipo legal ou sobre a ilicitude do fato.

2.2.4 Na primeira hipótese (erro que recai sobre elemento do tipo), o autor age sem
o dolo do fato natural por desconhecer ou conhecer falsamente uma circunstância
objetiva do tipo, seja de caráter fático (descritivo) ou normativo. Exs.: caçador que
mata outro pensando ser a caça (circunstância descritiva); agente que subtrai coisa
alheia que supõe sinceramente ser sua (circunstância normativa). Em ambos os
casos ocorre ERRO DE TIPO que exclui o dolo e admite punição por crime culposo,
se previsto em lei.

2.2.5 Na segunda hipótese (erro que recai sobre a ilicitude da conduta), o autor age
com pleno dolo natural (do fato), mas supõe erroneamente que o que faz não é
proibido. Neste caso, persiste o dolo do tipo, mas falta a consciência da ilicitude. Se
inevitável, exclui a culpabilidade; se evitável, reduz a pena. É o chamado ERRO DE

27
PROIBIÇÃO. Ex.: no crime de bigamia (art. 235, CP), o agente se casa novamente
acreditando que o vínculo anterior já havia se extinguido pela simples separação de
fato.

3 Distinção entre erro de tipo e erro de proibição

ERRO DE TIPO: é o que recai sobre circunstâncias que constituem elemento


essencial do tipo. É a falsa percepção da realidade sobre um elemento do crime.
Afeta a vontade. Exclui o dolo (art. 20, CP).

ERRO DE PROIBIÇÃO: é o que incide sobre a ilicitude de um comportamento. O


agente supõe, por erro, ser lícita a sua conduta. Afeta a consciência da ilicitude.
Exclui a culpabilidade (art. 21, CP).

4 Consequências do erro de tipo: afasta a vontade e a consciência do agente e,


portanto, exclui sempre o dolo. Há situações em que se permite a punição a título
de culpa, se houver previsão legal. Pode-se falar, assim, em erro de tipo invencível
(escusável, inevitável) e erro de tipo vencível (inescusável, evitável).

5 Erro de tipo essencial e erro acidental: ocorre o erro de tipo essencial quando o
erro do agente recai sobre um elemento objetivo do tipo, sem o qual o crime deixa
de existir; o erro de tipo acidental recai sobre circunstâncias acessórias ou
estranhas ao tipo objetivo, sem as quais o crime ainda assim subsiste. O erro de
tipo acidental poderá ocorrer nas seguintes hipóteses: (a) erro sobre o objeto (ex.:
“subtração de uma saca de açúcar supondo-a de farinha); (b) erro sobre a pessoa
(art. 20, §3º, CP; ex.: ‘A’ desejando vingar-se de ‘B’ mata ‘C’); (c) erro na execução
(aberratio ictus – art. 73, CP); (d) resultado diverso do pretendido (aberratio criminis
– art. 74, CP) e (e) erro sobre o curso causal (aberratio causae – dolo geral).

6 Conseqüências do erro de proibição: da mesma forma que o erro de tipo, pode-


se falar em erro de proibição invencível (escusável, inevitável) e erro de proibição
vencível (inescusável, evitável). Na primeira hipótese, absolve-se o agente por
ausência de culpabilidade; na segunda, responde pelo crime doloso com a pena
reduzida nos termos do artigo 21 do CP.

7 Espécies de erro de proibição: (a) erro de proibição direto (recai sobre o conteúdo
proibitivo de uma norma. Ex.: “caso do turista holandês”); (b) erro de proibição
indireto (recai sobre a existência da causa de justificação [ex.: “marido que mata a
esposa adúltera para defender sua honra”] ou sobre seus limites [ex.: excesso na
legítima defesa] e (c) erro mandamental (recai sobre a existência da norma
preceptiva, isto é, sobre a existência do dever de impedir o resultado. Ex.: banhista
que aceita o encargo de vigiar uma criança e, depois, não a socorre do afogamento
por entender que não possuía tal dever).

8 Descriminantes putativas e as teorias extremada (estrita) e limitada da


culpabilidade

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Teoria extremada (estrita) da culpabilidade: todo erro sobre a ilicitude é erro de
proibição.

Teoria limitada da culpabilidade: se o erro do agente vier a recair sobre uma


situação fática, caracteriza-se o erro de tipo, que passa a ser denominado erro de
tipo permissivo; caso o erro do agente recaia sobre a existência ou os limites da
causa de justificação, passa a ser erro de proibição.

Teoria da culpabilidade que remete às conseqüências jurídicas: considera o


erro nas descriminantes putativas como erro sui generis. Segundo Luiz Flávio
Gomes, “o erro de tipo permissivo não é um erro de tipo incriminador excludente do
dolo nem pode ser tratado como erro de proibição: é um erro sui generis, excludente
da culpabilidade dolosa: se inevitável, destarte, exclui a culpabilidade dolosa, e não
o dolo, não restando nenhuma responsabilidade penal para o agente; se vencível o
erro, o agente responde pela culpabilidade negligente (= pela pena do crime
culposo, se previsto em lei), não pela pena do crime doloso, com a possibilidade de
redução...”.

Leitura complementar:
GOMES, Luiz Flávio. Erro de tipo e erro de proibição. São Paulo: RT;
TOLEDO, Francisco de Assis. Teorias do dolo e teorias da culpabilidade – teorias
extremadas e teorias limitadas. Revista dos Tribunais, São Paulo: RT, v. 566, 1982.

Ponto XI – Do concurso de pessoas

1 Introdução

1.1 Crimes unissubjetivos e plurissubjetivos;

1.2 Art. 29 CP;

1.3 Teorias sobre o concurso de pessoas:

a) Teoria pluralista: considera tantas infrações penais quantas forem os


autores e partícipes;

b) Teoria dualista: distingue o crime praticado pelos autores daquele


praticado pelo partícipe;

c) Teoria monista (art. 29, CP): existe um crime único, atribuído a todos
aqueles que para ele concorreram, autores ou partícipes.

29
1.4 Teoria adotada pelo Código Penal brasileiro: em razão dos enunciados
dos parágrafos do art. 29, que aproxima a teoria monista da teoria dualista
ao determinar a punibilidade diferenciada dos participantes, fala-se na
adoção da teoria monista de forma “temperada”. Também na Parte Especial
se encontram exceções à teoria monista. Exs.: art. 124 e 126; 317 e 333; 334
e 318; 342 e 343.

1.5 Requisitos para o concurso de pessoas:

a) Pluralidade de agentes e de conduta;

b) Relevância causal de cada conduta;

c) Liame subjetivo entre os agentes;

d) Identidade de infração penal.

2 Da autoria

2.1 Conceito restritivo ou objetivo-formal de autor: autor é aquele que realiza


a ação típica (ou alguns de seus elementos) prevista na lei penal; os demais
são partícipes.

2.2 Conceito objetivo-material de autor: distingue autor de partícipe pela


maior contribuição do primeiro na causação do resultado.

2.3 Conceito extensivo de autor: não faz distinção entre autor e particípe.
Todos que, de alguma forma, contribuem para o crime, são considerados
autores.

2.4 Conceito subjetivo de autor: existe uma vontade de ser autor quando se
que o fato como próprio, e uma vontade de ser partícipe quando se deseja o
fato como alheio.

2.5 Conceito finalista de autor: define o autor como aquele que tem o domínio
finalista do fato (delito doloso). Tem-se como autor aquele que domina
finalmente a realização do tipo de injusto. Coautor aquele que, de acordo
com um plano delitivo, presta contribuição independente, essencial à prática
do delito – não obrigatoriamente em sua execução.
Na coautoria, o domínio do fato é comum a várias pessoas. Assim todo
coautor (que é também autor) deve possuir o domínio do fato – princípio da
divisão de trabalho. No caso de delito culposo, autor é todo aquele que
contribui para a produção do resultado que não corresponde ao cuidado
objetivamente devido (LUIZ REGIS PRADO).

30
A coautoria é autoria; sua particularidade consiste em que o domínio do fato
unitário é comum a várias pessoas. Coautor é quem possuindo as qualidades
pessoais de autor é portador da decisão comum a respeito do fato e em
virtude disso toma parte na execução do delito (WELZEL).

3 Da participação

3.1 Conceito: diz-se da conduta que influencia na prática da infração penal


de maneira acessória, secundária ou diversa da conduta do autor.

3.2 Possui natureza necessariamente dependente da atividade principal (v.


art. 31, CP).

3.3 Pode ser moral (induzimento ou instigação) ou material (prestação de


auxílio material/cumplicidade).

3.4 Teorias sobre a punibilidade da participação:

a) Teoria da acessoriedade mínima: haverá participação punível a partir


do momento em que o autor praticar um fato típico;

b) Teoria da acessoriedade limitada: haverá participação punível a partir


do momento em que o autor praticar uma conduta típica e ilícita;

c) Teoria da acessoriedade máxima: o partícipe só será punido se o autor


praticar um fato típico, ilícito e culpável;

d) Teoria da hiperacessoriedade: o partícipe só será punido se o autor


praticar um fato típico, ilícito, culpável e punível.

3.5 Arrependimento do partícipe: somente não será responsabilizado se


conseguir evitar que o autor pratique o ilícito;

3.6 Tentativa de participação: inadmissibilidade (art. 31, CP);

3.7 Participação por omissão:

a) A participação moral não pode ser realizada por omissão;

b) A participação material pode ser realizada por omissão; o omitente,


contudo, não pode ser garantidor, pois assim atuaria na condição de
autor;

3.8 Participação de menor importância (art. 29, §1º, CP):

31
a) Causa geral de diminuição de pena;

b) Obrigatoriedade da redução (1/6 a 1/3);

c) Aplicação somente nos casos de participação, não se podendo falar em


“coautoria de menor importância”;

3.9 Participação em crime menos grave (art. 29, §2º, CP):

a) Também denominado ‘desvio subjetivo de conduta’;

b) Quebra da teoria monista (ex.: “A” estimula “B” a praticar lesões em “C”;
“B” decide ir além e mata “C”);

c) Aplicação também nos casos de coautoria (ex.: furto x roubo).

3.10 Cumplicidade e favorecimento real (art. 349, CP): é importante saber o


momento em que o auxílio foi prestado, se antes ou após a consumação do
delito.

4 Comunicabilidade de elementares típicas (art. 30, CP)

4.1 Punibilidade no concurso de pessoas (art. 29, CP): a expressão ‘na


medida de sua culpabilidade’ equivale ao juízo de reprovação de cada
agente.

4.2 Circunstâncias e condições de caráter pessoal:

a) Circunstâncias são características pessoais precárias do agente, como a


qualidade de funcionário público, o estado puerperal etc. (P.S: para
alguns, são dados periféricos em relação à figura típica que interferem na
graduação da pena);

b) Condições pessoais são de caráter permanente, como a característica de


ser mulher ou mãe da vítima;

4.3 Elementares do crime: são dados essenciais à figura típica, sem os quais
ocorre uma atipicidade absoluta (indiferente penal) ou uma atipicidade
relativa (desclassificação).

a) Elementares objetivas: são as circunstâncias que se relacionam com o


fato delituoso em sua materialidade (modo de execução, meios de
execução, tempo, lugar etc). Se comunicam com o simples ingresso na
esfera de conhecimento dos participantes.

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b) Elementares subjetivas (pessoais): são as circunstâncias que se referem
à pessoa do agente, não se relacionando com a materialidade do delito
(motivos determinantes, condições ou qualidades pessoais etc). Como
regra geral não se comunicam, salvo se forem elementares do crime e
tiverem ingressado na esfera de conhecimento do participante.

4.4 Síntese das regras da comunicabilidade:

a) a comunicabilidade das elementares típicas é corolário lógico da adoção


da teoria monista;

b) as circunstâncias e as condições pessoais só se comunicam se


elementares do tipo simples, privilegiado ou qualificado (a doutrina
diverge a respeito quando caracterizam causas de aumento ou
diminuição de pena);

c) as elementares típicas só se comunicam para o participante que as


conheça;

d) as circunstâncias objetivas do fato comunicam-se , mesmo quando não


forem elementares do tipo, desde que o participante delas tenha
conhecimento.

5 Outras questões relativas ao concurso de pessoas

5.1 Concurso de pessoas em crimes omissivos:

a) Crimes omissivos próprios (dever genérico de proteção) e impróprios


(dever especial de proteção – art. 13, §2º, CP): distinção;

b) Posição de Juarez Tavares: impossibilidade do concurso de pessoas nos


crimes omissivos (coautoria ou participação);

c) Coautoria em crimes omissivos: para a corrente doutrinária majoritária é


impossível por ser o dever de agir individual, indecomponível e
intransferível; CEZAR ROBERTO BITENCOURT admite a possibilidade
desde que presente o vínculo subjetivo (ex.: banhistas que assistem uma
criança se afogar; pai e mãe que deixam de alimentar o filho);

d) Participação em crimes omissivos: admite-se na forma de “dissuasão”.


Ex.: paraplégico que induz um surfista (dever genérico de proteção) ou o

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salva-vidas (dever especial de proteção) a não socorrer o banhista que
se afogou.

5.2 Concurso de pessoas em crimes culposos:

a) Coautoria em crimes culposos: possibilidade, segundo a tendência


doutrinária contemporânea;

b) Participação em crimes culposos: impossibilidade, segundo a tendência


doutrinária contemporânea

c) Participação culposa em crime culposo: a possibilidade é discutível (a


favor da possibilidade v. Rogério Greco; Miguel Reale Jr.). Ex.: carona
que induz motorista a acelerar e provoca um atropelamento.

d) Divergência de elemento subjetivo (participação dolosa em crime culposo


e vice-versa): inadmissibilidade. Esta situação se resolve pela teoria
monista. Hipótese de erro determinado por terceiro (art. 20, §2º, CP). Ex.:
“A”, querendo matar “B”, entrega uma arma a “C”, dizendo-a
desmuniciada, sem conferir, “C” dispara contra “B” e o mata.

5.3 Autor direto (imediato) e indireto (mediato): autor direto é aquele que
executa a conduta descrita no núcleo do tipo (autor-executor) ou a domina
completamente (autor intelectual). Autor indireto é o que se vale de outra
pessoa como instrumento para a prática da infração penal. O autor indireto é
quem detém o domínio funcional do fato. O CP prevê quatro casos de autoria
indireta ou mediata:

a) Erro determinado por terceiro (art. 20, §2º);

b) Coação moral irresistível (art. 22);

c) Obediência hierárquica (art. 22, segunda parte);

d) Caso de instrumento impunível em virtude de condição ou qualidade


pessoal (art. 62, III, segunda parte).

5.3.1 Outras hipóteses de autoria mediata: força física irresistível; estado de


inconsciência e demais causas de exclusão da ação.

Leitura complementar:
TOLEDO, Assis. Princípios básicos de Direito Penal. São Paulo: Saraiva;
RAMOS, Beatriz Vargas. Do concurso de pessoas. Belo Horizonte: Del Rey.

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