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CURSO DE

NEUROPSICOLOGIA:
INTERVENÇÕES COGNITIVAS PARA
PROFISSIONAIS DA SAÚDE E EDUCAÇÃO

Aula: Atenção

Priscila Lima C. F. Sertori


O que é Atenção?

FOCAR
Atenção

• Sistema Ativador Reticular Ascendente (SARA)

Área de Área de
reconhecimento controle da
seletivo de um atividade
determinado elétrica
estímulo cortical (sono
X vigília)

https://morfofisiologianeurolocomotora.wordpress.com/2014/10/
Atenção

• Vigília e Alerta
– Estado no qual conseguimos responder aos estímulos
sensoriais

?
(LURIA, 1981/1973)
O que atrai a sua atenção?

• Algumas situações tendem a chamar mais a


atenção do que outras
O que atrapalha a atenção?
Sono Fome Estar sob efeito de drogas

Falta de objetivos Sobrecarga de informações Poluição visual e sonora

(LEZAK, 1995; STERNBERG, 2009)


Distração ou Déficit de atenção?

• Afinal, se não estou atento em algo, significa que


estou com problema na atenção?

• Ou é estar distraído?

• Ou é não ter interesse?

• Isso é Déficit de atenção?


Distração ou Déficit de atenção?

Distração Transtorno

• Algo distrai, mas existe a • Pelo menos seis sintomas de


capacidade de voltar a atenção desatenção e/ou seis sintomas de
para a atividade inicial hiperatividade/impulsividade
• É uma ação passageira e ela • Sintomas persistentes 6 meses
termina quando o estímulo • Início antes dos 12 anos
distrator cessa • Dois ou mais ambientes
• Não há outras comorbidade
(DSM 5)
Distração ou Déficit de atenção?

• Nem tudo é dificuldade em manter a


atenção

• A distração, muitas vezes, pode ser causada pelo

desinteresse do indivíduo para realizar uma


determinada atividade
Atenção e Humor

• Todos os humores extremos podem causar


alteração na atenção

– Tristeza e Euforia
– Coragem e Medo
– Passividade e Estresse

(LEZAK, 1995; STERNBERG, 2009)


Atenção

Dúvida:
Toda atividade envolve o
mesmo esforço
atencional?
Toda situação que você
precisa manter a atenção
é igual?
NÃO
Atenção Seletiva

• Capacidade de selecionar apenas parte dos


estímulos disponíveis no ambiente enquanto
mantém os demais excluídos
(LEZAK, 1995)

– Ir ao mercado e procurar uma marca de salgadinhos no


meio da prateleira de salgadinhos
– Ouvir as explicações do médico sobre os remédios
– Ouvir a professora na sala de aula barulhenta
– Atividade para procurar a letra “A” no meio de outras
letras
Atenção Alternada

• Capacidade de alternar entre estímulos ou conjunto


de estímulos, sucessivamente, sem perder o
rendimento em nenhuma das atividades
(LEZAK, 1995)

– Procurar por um salgadinho, então um biscoito e retornar


para o salgadinho
– Fazer uma comida após ler as instruções de uma receita
– Fazer comentário do filme após ver a cena no cinema
– Procurar a letra “A” em uma linha, na próxima linha a
letra “B” e nas próximas continua trocando a letra
Atenção Dividida

• Capacidade de focar a atenção em dois ou mais


estímulos distintos para executar diversas tarefas
distintas simultaneamente
(LEZAK, 1995)

– Procurar determinadas marcas de salgadinhos que ao


mesmo tempo estejam na promoção
– Ler e-mail do trabalho durante uma reunião
– Conversar enquanto cozinha
– Jogo com cartas de baralho “Mau Mau”
– Procurar ao mesmo tempo a letra “A” e “B”
Atenção Sustentada

• Capacidade de manter o foco em uma determinada


atividade com o mesmo rendimento por um
tempo prolongado
(LEZAK, 1995)

– Ficar atento durante toda a aula e aprender tudo


– Estudar
– Montar um quebra cabeça
– Procurar a letra “A” por um período de tempo prolongado
Dicas para melhorar rendimento

• Rastreamento Visual

– Movimento Sacádicos

• Rastreamento visual com comparação de imagens


Dicas para melhorar rendimento

• Caça Palavras

• Atenção Visuoespacial
Dicas para melhorar rendimento

• Uso da voz para favorecer a atenção

Eu não
sei!
Dicas para melhorar rendimento

• Motivação e foco atencional no estudo

DICA:
o Ser ágil não significa ser eficaz!
Dicas para melhorar rendimento

• Analisar as reações emocionais e corporais

• A agitação motora pode ser um indicativo de que


está difícil manter a atenção sustentada
CURSO DE
NEUROPSICOLOGIA:
INTERVENÇÕES COGNITIVAS PARA
PROFISSIONAIS DA SAÚDE E EDUCAÇÃO

Aula: Atenção

Casos clínicos

Priscila Lima C. F. Sertori


Intervenção Neuropsicológica para
estimulação da Atenção
• 12 sessões com crianças/adolescentes

Psicoeducação

Treino Orientação
Cognitivo aos Pais
Treino Cognitivo

Habilidade
Sessão Principal Habilidade Requerida Adjacente

1º Atenção sustentada, rastreamento visual

2º Flexibilidade cognitiva, compreensão de instrução


Atenção Seletiva Atenção sustentada, planejamento, memória

operacional
4º Rastreamento, visuoconstrução espacial
5º Flexibilidade cognitiva
Atenção Alternada
6º Atenção sustentada, rastreamento
7º Flexibilidade cognitiva, seguir regras

Discriminação auditiva, raciocínio lógico, flexibilidade cognitiva, memória operacional,


8º Atenção Dividida
compreensão e produção verbal

9º Controle inibitório, memória operacional

10º Planejamento, rastreamento visual, visuoconstrução espacial


Atenção
11º Planejamento, rastreamento visual, visuoconstrução espacial
Sustentada
12º Planejamento, rastreamento visual, visuoconstrução espacial
Psicoeducação

Objetivo Como é realizado

• Tem como objetivo que o • Tipos de atenção


indivíduo conheça os sintomas • Parte das função executiva
e características da sua • Diferenciação entre distração e
doença, além de reconhecer déficit de atenção
os prejuízos decorrentes
• Identificação das habilidades
• É possível planejar novas atencionais no cotidiano
estratégias de compensação
(GRAVET, ABREU, SHANI; 2003)
Orientação aos Pais

O que é Estratégias

• Identificação das situações • Uso de régua


que favorecem ou dificultam o • Uso de marcador de texto
rendimento atencional • Identificar a palavra chave dos
• Apresentação das estratégias textos
compensatórios • Elencar prioridades
• Adequação da reação do • Programar tempo para cada
responsável frente ao déficit tarefa
atencional do paciente
• Programar intervalo
Projeto Piloto

• Hospital Dia Infantil – Ipq – HCFMUSP


– Atende pacientes de ambos os sexos, com idade inferior
a 17 anos e 9 meses que necessitem de atendimento
psiquiátrico
– Semi-internação
– Objetivo: auxílio no diagnóstico, ajuste medicamentoso e
adequação comportamental

• Intervenção Neuropsicológica para estimulação da


Atenção
– 12 sessões semanais de 50 minutos
Projeto Piloto

• Dados de Identificação
Identificação Idade Sexo Responsável Diagnóstico N° Sessões

P1 7 M Mãe e pai TDAH 10

P2 9 M Mãe TDAH 9

P3 7 M Mãe TDAH 12

P4 13 F Mãe T. Depressivo Maior 8

P5 11 M Mãe T. Espectro do Autismo 8

P6 15 F Pai T. Depressivo Maior 12

P7 13 F Mãe T. Depressivo Maior 6

P8 13 M Pai T. Depressivo Maior 12

P9 17 M Mãe T. Depressivo Maior 8

P10 13 M Pai T. Depressão Maior 6

P11 10 F Mãe T. Espectro do Autismo 6

P12 15 F Mãe e avó TDAH 12


Projeto Piloto

• Avaliação
– Escala para Diagnóstico de TDAH em crianças aplicada
aos pais e professores (MTA-SNAP IV)
– Características
• Escala com 4 níveis de frequência (nada, um pouco, bastante,
demais)
– 9 perguntas com sintomas de desatenção
– 9 perguntas com sintomas de hiperatividade
– 9 perguntas com sintomas de comportamento opositor desafiador
Projeto Piloto

• Questionário MTA-SNAP IV respondido pelo


responsável
SNAP IV responsável antes SNAP IV responsável depois
Escore Escore Escore Escore
Identificação Diagnóstico Combinado Desatento Combinado Desatento

P3 TDAH 2,61 2,22 1,1 0,88


T. Depressivo
P6 Maior 1,05 1,44 0,72 1,22
T. Depressivo
P8 Maior 1,05 1,66 0,61 1,1

P12 TDAH 1,94 2,33 1,5 1,77

• Nota de corte da escala MTA-SNAP IV respondida pelos


responsáveis
– Escore do “item combinado” - 1,67
– Escore do “item desatento” - 1,78 (MATTOS, P. et. al., 2006)
Projeto Piloto

• Questionário MTA-SNAP IV respondido pelo


paciente
SNAP IV paciente antes SNAP IV paciente depois
Escore Escore Escore Escore
Identificação Diagnóstico Combinado Desatento Combinado Desatento

P3 TDAH 2,22 1,77 1,0 0,5


T. Depressivo
P6 Maior 1,05 2 0,70 1,60
T. Depressivo
P8 Maior 0,77 0,88 0,16 0,4

P12 TDAH 1,85 1,68 1,38 1,11

• Não existe pontuação normativa para a escala MTA-SNAP IV


respondida pelo próprio paciente
Projeto Piloto

• Percepção do familiar
– “Estou vendo que eu cobrava ele, como se fosse um
adulto... Não é má vontade, a quantidade de informação
que ele consegue prestar atenção é realmente menor
que a minha”
(mãe P3 - paciente do sexo masculino, 7 anos, diagnóstico TDAH)

• Percepção do familiar
– “Agora eu pergunto para ela se aquele erro na lição, que
pra mim parecia desatenção, ocorreu por desatenção
mesmo ou se ela estava prestando atenção em outra
coisa ou se estava desmotivada”.
(pai P6 - paciente do sexo feminino, 15 anos, diagnóstico T. Depressivo Maior)
Projeto Piloto

• Percepção do paciente
– “Eu consigo fazer várias coisas ao mesmo tempo, mas
para estudar História, tenho que parar tudo e fazer só
isso”
(P3 - paciente do sexo masculino, 7 anos, diagnóstico TDAH)

• Percepção do paciente
– “Eu acho estranho que eu consigo prestar atenção no
jogo e saber todos os caminhos para resolver a missão,
mas eu não sei o caminho da minha casa até a escola...
Agora estou vendo que quando vou para escola fico
prestando atenção em outras coisas, eu fico mexendo no
celular ou pensando nos meus problemas e nem olho
para a rua”
(P8 - paciente do sexo masculino, 13 anos, diagnóstico T. Depressivo Maior)
Pesquisa Científica

• 29 crianças e adolescentes (8-17 anos)


– Critérios de inclusão

– Grupo Controle
Bateria Bateria
neuropsicológica Atividade de neuropsicológica
e escala MTA- treino da atenção e escala MTA-
SNAP IV SNAP IV

– Grupo Experimental

Bateria Atividade de
Bateria
treino da atenção,
neuropsicológica psicoeducação e
neuropsicológica
e escala MTA- e escala MTA-
orientação aos
SNAP IV SNAP IV
pais
Caso: masculino, 9 anos, TDAH / DPAC

• Participante do Grupo Experimental


– 4º ano, sem repetência, diagnóstico TDAH e DPAC
– Acompanhante: mãe e pai (revezavam)
– WISC IV: QI geral: 100 – média

• Avaliação - MTA-SNAP IV
– Escala Pais
• Sem alteração
– Escala Professor
• Redução da frequência de desatenção e hiperatividade (ambos
não sugerem transtorno, porém, após intervenção reduziu
frequência)
Caso: masculino, 9 anos, TDAH / DPAC

Subteste WISC IV Antes Após


IMO Médio inferior Médio
IVP Médio Médio

BPA – Percentil dos Estímulos Detectados


Subteste BPA Antes Depois
At. Concentrada 60 70
At. Dividida 40 80
At. Alternada 80 90

BPA – Quantidade de Erros e Omissões


Subteste BPA Antes Depois
At. Concentrada 10 8
At. Dividida 67 79
At. Alternada 5 11
Caso: masculino, 9 anos, TDAH / DPAC

• Percepção do paciente
– O que você faz quando precisa manter atenção por um
período de tempo prolongado e começa a ter
dificuldades?
• “Uma pausa”

– Alguém te ajuda?
• “Minha mãe”
Caso: masculino, 9 anos, TDAH / DPAC

• Percepção do familiar (mãe)


– O que você faz quando ele precisa manter atenção por
um período de tempo prolongado e começa a ter
dificuldades?
• “Tiro de perto tudo que distrai”
• “Tento motivar: dizendo que vai acabar rápido e depois ele vai
poder ficar livre mais rápido”
– Você propõe algo para tentar melhorar a atenção dele?
• “Quando ele erra, falo para ele tentar de novo. No início ele
reclamava, mas agora ele está aceitando”
• “Deixo ele fazer uma pequena pausa”
• “Como ele tem bastante dificuldade na leitura, deixo que ele leia
com calma, depois vou lendo com ele perguntando o que ele não
conseguiu entender”
Caso: feminino, 12 anos, TDAH

• Participante do Grupo Controle


– 6º ano, sem repetência, diagnóstico TDAH
– Acompanhante: mãe, porém, não participava da sessão
– WISC IV: QI geral: 73 – limítrofe

• Avaliação - MTA-SNAP IV
– Escala Pais
• Redução da frequência de hiperatividade (ambos sugerem
transtorno, porém, após diminuiu a intensidade)
– Escala Professor
• Sem alterações
Caso: feminino, 12 anos, TDAH

Subteste WISC IV Antes Após


IMO Médio inferior Médio
IVP Médio inferior Médio inferior

BPA – Percentil dos Estímulos Detectados


Subteste BPA Antes Depois
At. Concentrada 30 30
At. Dividida 10 30
At. Alternada 20 60

BPA – Quantidade de Erros e Omissões


Subteste BPA Antes Depois
At. Concentrada 5 5
At. Dividida 6 12
At. Alternada 13 8
Caso: feminino, 12 anos, TDAH

• Percepção da paciente
– O que você faz quando precisa manter atenção por um
período de tempo prolongado e começa a ter
dificuldades?
• “Nada”

– Alguém te ajuda?
• “Não, mas minha mãe reclama que eu não estou prestando
atenção porque estou falando muito”
Caso: feminino, 12 anos, TDAH

• Percepção do familiar (mãe)


– O que você faz quando ela precisa manter atenção por
um período de tempo prolongado e começa a ter
dificuldades?
• “Eu falo que ela não está prestando atenção”

– Você propõe algo para tentar melhorar a atenção dele?


• “Eu falo que ela só vai mexer no celular depois de terminar as
lições”
Obrigada

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