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Combustão - 1ª parte

A forma mais empregada para produção de calor na indústria é a combustão, definida como a
reação entre os elementos químicos de um combustível e o oxigênio.

A oxidação dos combustíveis é uma reação exotérmica, sendo a quantidade de calor liberada
função da composição química do combustível e dos produtos finais de combustão. Observe as
reações:

C+ O2 —» CO2
Nessa reação, 1 Kg de C irá produzir 8.100 Kcal

2H2 + O2 —» 2H2O

1 Kg de H2 produzirá 34.100 kcal

S+ O2 —» SO2

1 Kg de S produzirá 2.200 kcal

C+ ½ O2 —» CO

1 Kg de C produzirá 2.407 Kcal

CO + ½ O2 —» CO2
1 Kg de CO produzirá 5.693 Kcal

Os elementos que não participam da combustão se mantém inalterados.

Na combustão o objetivo é obter o máximo possível de calor. Não basta porém que o
rendimento calorífico atenda às necessidades requeridas, é preciso que isto seja feito de forma
econômica. A fim de maximizar-se o rendimento da combustão, deve-se obter o melhor
aproveitamento possível do potencial energético do combustível através de alguns fatores
operacionais, como:

- Regular a relação ar-combustível;

- Proporcionar uma perfeita mistura ar-combustível.

A íntima mistura do combustível com o ar aumenta a superfície de contato entre ambos e têm
influência decisiva na velocidade de combustão. Quanto mais íntima a união dos elementos,
melhor a combustão.

- Ar para a Combustão

Conhecendo-se a composição do combustível e com base na estequiometria da reação,


consegue-se calcular o ar necessário para a queima do combustível.

A quantidade de ar que fornece o oxigênio teoricamente suficiente para a combustão completa


do combustível, é chamada de "ar teórico" ou "ar estequiométrico".

Na prática, sabe-se que é muito difícil obter uma boa combustão apenas com o ar
estequiométrico. Se utilizarmos somente o "ar teórico", há grande probabilidade do combustível
não queimar totalmente (haverá formação de CO ao invés de CO2) e conseqüentemente a
quantidade de calor liberada será menor.

Para se garantir a combustão completa recorre-se a uma quantidade adicional de ar além do


estequiométrico, garantindo desse modo que as moléculas de combustível encontrem o número
apropriado de moléculas de oxigênio para completar a combustão. Essa quantidade de ar
adicional utilizada é chamada de excesso de ar. O excesso de ar é a quantidade de ar fornecida
além da teórica.

O excesso de ar proporciona uma melhor mistura entre o combustível e o oxidante, mas deve
ser criteriosamente controlado durante o processo de combustão. Deveremos conhecer a
quantidade ideal mínima possível de excesso a ser introduzida na queima, pois o ar que não
participa da combustão tende a esfriar a chama, sem contribuir para a reação. Quanto maior o
excesso de ar, maior o volume de gases nos produtos de combustão e conseqüentemente
maior a perda de calor pela chaminé, influindo negativamente na eficiência da combustão.

Entretanto as perdas por excesso de ar aumentam em proporção muito menor que as perdas
com combustível não queimado. Assim, nos processos de combustão industrial sempre se
trabalha com excesso de ar.

A figura abaixo apresenta uma relação entre a vazão de ar para a combustão e as perdas de
calor nos gases de exaustão da caldeira. Pode-se observar que caminhando-se da esquerda
para a direita, passa-se de uma zona onde as perdas de energia se dão através de
combustíveis não queimados para outra onde estas perdas ocorrem por excesso de ar. Existe
entretanto, na transição entre as duas curvas, uma zona de máxima eficiência de operação, ou
seja, onde as perdas são mínimas. A largura desta faixa de perdas mínimas depende das
particularidades da instalação, do tipo de queimadores e do combustível.

O teor de excesso de ar a ser utilizado varia de acordo com o tipo de combustível a ser
queimado e também com o equipamento de queima, sendo menor para combustíveis gasosos e
maior para combustíveis líquidos e sólidos.

- Cálculos Estequiométricos

1) Cálculo da necessidade teórica de ar


Nos cálculos estequiométricos é de grande utilidade o emprego de unidades molares. O mol é a
abreviação de molécula-grama (quantidade em gramas igual à massa molecular da substância
considerada) e o Kmol a abreviação de molécula-quilograma (quantidade em quilogramas igual
a massa molecular da substância considerada).

Durante a combustão, a massa de cada elemento permanece a mesma. Considere inicialmente


a reação:

C+ O2 CO2

Nesta equação, 1 Kmol de carbono reage com 1 Kmol de oxigênio formando 1 Kmol de dióxido
de carbono, ou então, 12 Kg de carbono reagem com 32 Kg de oxigênio para formar 44 Kg de
dióxido de carbono:

C+ O2 CO2
1 Kmol 1 Kmol 1 Kmol

12 Kg 32 Kg 44 Kg

Logo,

1 Kg de C necessita de 2,66 Kg de O2 (32/12)

Para os outros constituintes do combustível, teremos:

H2 + ½ O2 H20

2 Kg 16 Kg 18 Kg

Logo,

1 Kg de H2 necessita de 8 Kg de O2

S+ O2 SO2
32 Kg 32 Kg 64 Kg

Logo,

1 Kg de S necessita de 1 Kg de O2

Assim, a massa de oxigênio teórica necessária para a combustão completa do combustível será
calculada pela seguinte expressão:

mO2 = 2,66 x (%C) + 8 x (%H) + 1 x (%S) (kg O2/Kg comb.)

onde:

% C = porcentagem de carbono existente na composição do combustível;

% H2= porcentagem de hidrogênio existente na composição do combustível;

% S = porcentagem de enxofre existente na composição do combustível.

Caso existia O2 na composição do combustível, deveremos descontar essa quantidade da


massa total acima calculada. Assim:

mO2 = 2,66 (%C) + 8 (%H) + 1 (%S) - 1 (%O2) (kg O2/Kg comb.)

onde:

%O2 = porcentagem de oxigênio existente na composição do combustível.

Na maioria dos processos de combustão, o oxigênio é fornecido pelo ar atmosférico. A


composição do ar em peso é aproximadamente: 23% de oxigênio e 77% de nitrogênio. Logo, a
quantidade teórica de ar para a combustão completa será:

moar = 11,5 (%C) + 34,8 (%H) + 4,35 (%S) – 4,35 (%O2) (kg ar/Kg comb.)

onde:

Se temos uma mO2 = 2,66 e sabemos que isso corresponde a 23% da composição em peso da
ar, então a massa total de ar irá equivaler a:

2,66 – 23%

x – 100% x = 11,5 Kg ar

8 – 23%

x – 100% x = 34,8 Kg ar

1 – 23%

x – 100% x = 4,35 Kg ar

Obs.:

Para obter o número de moles (n) estequiométrico do ar de combustão, basta utilizar a


fórmula:

n=

Logo, teremos:

n O2 =m O2 / 32

n N2 =m N2 / 28

Logo:

nº moles ar estequiométrico = n 02 +n N2

Considerando a massa específica do ar a P = 1 atm e T = 0º C, r (ar) igual a 1,2928 Kg/m3,


teremos que o volume teórico de ar para a combustão completa será:

rar =

o
V ar = 8,89 (%C) + 26,9 (%H) + 3,36 (%S) - 3,36 (%O2) (m3 ar/ Kg comb.)
Onde:

1,2928 = 11,5 / Var Var = 8,89

1,2928 = 34,8 / Var Var = 26,9

1,2928 = 4,35 / Var Var = 3,36

Como este volume se refere a condições de P = 1atm e T = 0ºC (273 K), devemos convertê-lo
para condições de trabalho normais utilizando a seguinte expressão:

Nesses cálculos não será levado em conta a formação de CO, uma vez que a priori, não se
pode determinar quanto de carbono irá formar CO2 e quanto irá formar CO. Também admite-se
que o nitrogênio não participe da reação.

Caso não se disponha da composição elementar exata do combustível usado em determinado


processo de queima, poderão ser utilizados os valores médios abaixo mostrados:

Exemplo composição média %C %H2 %S %O2 %N2


de um combustível
Lenha 47-52 6-9 - 40-44 -
Óleo combustível 83-87 11-16 Até 5 Até 7
Gás natural 73-77 23-26 - 1,5-2 1-2
Bagaço cana 46-47 6-7 - 43-45

2) Cálculo da necessidade real de ar

Como dito anteriormente para conseguirmos uma queima completa do combustível, há


necessidade de se introduzir um excesso de ar. A quantidade desse excesso depende de vários
fatores, mas apresentamos a seguir os valores comumente utilizados para os combustíveis
mais comuns:

Combustível Excesso ar utilizado - a (%)


Lenha 40 – 50
Óleo combustível 15 – 20
Gás natural 5 -10

Logo, a massa e volume reais de ar a ser introduzida para queima do combustível será:

o
m ar =m ar . a (Kg ar / Kg comb.)

o
V ar =V ar . a (m3 ar / Kg comb.)

Pode-se também considerar a água presente no ar e para isso devemos fazer uso de uma carta
psicrométrica, onde dependendo da umidade relativa do ar encontraremos a quantidade de
água presente no ar:

mtotal ar = mar + (mar . x)

onde:

x = quantidade de água no ar (kg água/kg ar seco) de acordo com a umidade relativa

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