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Curso COMPACTA - Capacitação de

Monitores e Profissionais das


Comunidades Terapêuticas
APRESENTAÇÃO
Vamos iniciar o curso com este módulo, que aborda conceitos fundamentais
sobre dependência química. De uma maneira dinâmica e com informações
que você poderá identificar no seu dia a dia, poderemos aprofundar o
entendimento de como a dependência química inicia, o que ela faz no
organismo e como as drogas atuam em diferentes pessoas e em diferentes
fases da vida. Com esses conceitos iniciais, ficará mais claro os porquês das
normas e regras que as Comunidades Terapêuticas (CTs) devem seguir. Com
certeza, você terminará este módulo com uma sensação de querer aprender
mais e de ter adquirido conhecimentos valiosos para sua prática profissional.

O conteúdo foi preparado com o que há de mais sólido e atual na literatura


científica brasileira e mundial. Aproveite!

Neste módulo, serão abordados os seguintes tópicos:

1. Aspectos biopsicossociais da dependência química;


2. O impacto do uso e abuso de substâncias nas diferentes fases do
desenvolvimento;
3. Sistemas de diagnósticos: uso e abuso de dependência;
4. A dependência química em populações específicas.

OBJETIVOS
Você conhecerá os conceitos sobre dependência em diferentes fases da vida,
o que ocorre no corpo e na mente humana quando a síndrome de
dependência se instala. Assim, os objetivos principais do módulo são:

 reconhecer os fatores biopsicossociais da dependência química;


 avaliar o impacto das drogas em diferentes idades e em diferentes
públicos;
 ter conhecimento sobre diferentes quadros, que vão desde o uso
eventual não problemático até a síndrome de dependência química.

CARGA HORÁRIA
Carga horária: 10 horas.
CONTEUDISTA
Leonardo Gomes Moreira

TÓPICO 1 - ASPECTOS BIOPSICOSSOCIAIS DA


DEPENDÊNCIA QUÍMICA
A palavra “biopsicossocial” tenta expressar os fenômenos que somam os
fatores biológicos (bio) com os psicológicos (psico) e os sociais (social). Um
erro comum é tentar explicar a dependência química como algo que surge
exclusivamente por um fator, por exemplo, falta de limite, ou falta de vontade
própria, ou até mesmo a condição social. Na literatura, já é bem consolidado
que a dependência química é uma síndrome multifatorial, ou seja, é
decorrente de diversos fatores.

Síndrome é uma palavra que vem do grego e seu significado é reunião. Esse
termo é bastante utilizado na medicina e na psicologia para caracterizar o
conjunto de sinais e sintomas que definem uma determinada doença, ou
condição.
Multifatorial, de forma quase redundante, reafirma que é uma reunião, ou
somatório de fatores, para desencadear a doença, ou condição.

Observe, na figura a seguir, o conjunto de fatores que desencadeiam a


síndrome da dependência química.

Figura 1: Relação entre fatores e síndrome de dependência química.


Fonte: labSEAD-UFSC (2019).

Quando uma pessoa tem casos na família de doenças mentais, passa por
condições emocionais que a deixa vulnerável para a experimentação de
drogas, bem como possui outros fatores que colaboram para o consumo
repetitivo da substância – por exemplo, viver em locais onde a substância é
bastante disponível. Podemos dizer, então, que existem diversos fatores em
sua vida que podem levá-la a desencadear uma síndrome de dependência
química. Porém, é importante salientar que nenhum desses fatores é
determinístico, ou seja, nenhum deles isolado é a causa do desenvolvimento
do problema com drogas.

FATORES DE RISCO
A afirmação de que nenhum fator sozinho pode, de forma determinística, levar
ao desencadeamento da dependência química implica o conceito de risco.
Chama-se fator de risco todas as possíveis influências (biológicas,
emocionais, sociais, culturais ou genéticas) que, somadas, aumentam as
chances do desencadeamento do problema. Sendo assim, nenhum deles
sozinho pode ser considerado uma causa.

SAIBA MAIS

Fatores de risco “[...] designa condições ou variáveis associadas à possibilidade


de ocorrência de resultados negativos para a saúde, o bem-estar e o desempenho
social (NEWCOMB et al., 1986; JESSOR, 1991; JESSOR et al.,
1995 apud SCHENKER; MINAYO, 2005, p. 708).
“Alguns desses fatores se referem a características dos individ́ uos; outros, ao seu
meio microssocial e outros, ainda, a condições estruturais e socioculturais mais
amplas [...]” (ZWEIG et al., 2002 apud SCHENKER; MINAYO, 2005, p. 708-709).

Mas, então, quais são os fatores de risco para o desenvolvimento da


dependência química? Clique nas abas a seguir para conhecer!
Sociais
Psicológicos
Biológicos
A existência de transtornos mentais que predispõe o indivíduo a usar e abusar
de substâncias psicotrópicas pode também ser considerada um fator de risco
biológico, mas geralmente consideramos a predisposição genética como
sendo o principal fator de risco biológico. Assim como podemos herdar
características físicas, como a cor da pele e os traços faciais, também
herdamos heranças comportamentais gravadas em nosso DNA. Vários
estudos tentam correlacionar um determinado gene com a expressão de um
comportamento.

No estudo da dependência química, há resultados que diferem de outros,


conforme o tipo de droga ou herança genética, tanto em mulheres como em
homens, mas há um resultado já consolidado: “A mais forte conclusão da
análise conjunta dos estudos epidemiológicos e moleculares é a presença
notável de fatores hereditários na gênese do abuso ou dependência de
drogas.” (MESSAS, 1999, p. 37).

SAIBA MAIS

Estudos epidemiológicos são limitados para determinar o papel da genética como


fator de risco para dependência química, pois são incapazes de decidir
isoladamente se a agregação do evento na família se dá por via genética ou pela
via do ambiente compartilhado; todavia, estudos com gêmeos ou com filhos
adotados permitem essa conclusão (MESSAS, 1999). Para continuar lendo sobre
este assunto, acesse o artigo A participação da genética nas dependências
químicas

Cada parte de nosso corpo também carrega uma chance, ou vulnerabilidade,


de desenvolver uma doença. Uma pessoa pode comer e beber de forma
desregrada e não ter problemas com colesterol ou no fígado, mas essa
mesma pessoa pode ter um problema grave no tecido da boca ou da
garganta. Então, quando falamos de herança genética ou chance de
desenvolver um problema devido a um comportamento, no caso do uso de
drogas, temos que levar em conta que cada indivíduo é diferente biológica e
emocionalmente. Além disso, cada indivíduo possui órgãos ou tecidos com
diferentes vulnerabilidades para o desenvolvimento de doenças.

Esse conhecimento ajudará você a entender por que indivíduos que


consomem muito álcool podem apresentar exames de fígado normal, por
exemplo. Um exame como esse poderia levar a uma interpretação errônea,
de que o consumo não está afetando o organismo, mas temos que lembrar
que o álcool atua em todos os tecidos, desde a boca até o cérebro e demais
órgãos. Uma pessoa pode não ter a vulnerabilidade para desenvolver a
doença alcoólica no fígado, mas certamente o consumo estará gerando outros
danos em seu organismo. Isso sem falar nos prejuízos emocionais, familiares
e sociais.

Apresentamos, a seguir, um quadro que ilustra de forma complementar esses


diferentes fatores.

SOCIAIS PSICOLÓGICOS

 Estrutura familiar disfuncional: violência  Distúrbios do desenvolvimento.


doméstica, abandono e carências básicas.  Morbidades psiquiátricas: ansiedade,
 Exclusão e violências social. depressão, déficit de atenção e hiperatividade,
transtornos de personalidade.
 Baixa escolaridade.
 Problemas/alterações de comportamento.
 Oportunidades e opções de lazer precárias.
 Baixa resiliência e limitado repertório de
 Pressão de grupo para o consumo. habilidades sociais.
 Ambiente permissivo ou estimulador do  Expectativa positiva quanto aos efeitos das
consumo de substâncias. substâncias de abuso.
Quadro 1: Fatores de risco para o surgimento da dependência química.
Fonte: labSEAD-UFSC (2019), adaptado de Prefeitura de São Paulo (2006).

SAIBA MAIS

Para conhecer mais profundamente sobre os fatores de risco que podem influenciar
na síndrome da dependência química, acesse o seguinte material
complementar: Gerenciamento de casos

De forma semelhante, existem fatores que reduzem as probabilidades de que


a experimentação e abuso de drogas ou o desenvolvimento da dependência
química ocorram. São chamados fatores de proteção, os quais veremos
detalhadamente a seguir.

FATORES DE PROTEÇÃO
No estudo da ciência de prevenção ao uso de drogas, discute-se muito o
conceito de fatores de proteção, que, inversamente aos fatores de
risco, diminuem as chances de ocorrência da experimentação e abuso de
drogas, ou do desenvolvimento da dependência química. Atividades
esportivas ou religiosas, ambiente familiar acolhedor e responsivo, alto
envolvimento com atividades escolares ou possuir habilidades
socioemocionais são exemplos de fatores de proteção nesse caso.

Em um levantamento realizado por Hanson (2002), os principais fatores


protetores ao uso de drogas por adolescentes incluem os demonstrados na
figura a seguir.

Figura 2: Fatores protetores ao uso de drogas por adolescentes


Fonte: labSEAD-UFSC (2019), adaptado de Sanchez, Oliveira e Nappo
(2004).

As ações desses fatores se influenciam mutuamente. Desse modo, um fator


de risco pode comprometer vários campos da vida, ao ser potencializado por
outros fatores desfavoráveis, ou causar pouco ou nenhum dano, ao ser
neutralizado por fatores protetores. Essa interação determina a evolução do
consumo de substâncias em andamento e é importante ressaltar que um fator
de risco isolado não pode levar à dependência química.

CONTRIBUA COM O FÓRUM


Para finalizar o estudo deste tópico, pense em casos nos quais você pode
identificar fatores de risco e de proteção em pessoas acolhidas em sua CT. Analise
o que pode ser feito para fortalecer os fatores de proteção e o que pode diminuir os
fatores de risco dessa pessoa. Se possível, converse com um profissional de saúde
mostrando essa sua análise. Em seguida, vá até o fórum do módulo e exponha a
sua opinião aos seus colegas de curso. Acesse o fórum

Agora, certamente seu conceito de como a síndrome de dependência química


se instala se aperfeiçoou. Tente reler e buscar esses conteúdos quando surgir
algum caso na sua prática que lhe traga dúvidas ou instigue você a identificar
esses fatores descritos.

TÓPICO 2 - O IMPACTO DO USO E ABUSO DE


SUBSTÂNCIAS NAS DIFERENTES FASES DO
DESENVOLVIMENTO
O desenvolvimento do nosso cérebro se inicia ainda no útero materno. Os
neurônios, que são as células que formam esse órgão, se comunicam uns
com os outros através de mensagens químicas e elétricas. É como se um
neurônio jogasse uma mensagem para o neurônio seguinte pegar e ler.
Qualquer coisa que interfira nesse envio ou na leitura da mensagem pode
atrapalhar o processo, e, se a interferência ocorrer enquanto o cérebro ainda
estiver em desenvolvimento, o impacto será ainda maior, e possivelmente
permanente. Clique nas setas para conhecer exemplos.

Por exemplo, caso uma gestante faça uso de alguma substância, o bebê
sofrerá diretamente o efeito, e isso irá torná-lo mais predisposto ao
desenvolvimento de transtornos mentais quando crescer. Assim, o cérebro de
uma criança, desde o seu nascimento até seus sete anos de idade, está
sendo moldado ao que serão os pilares para o funcionamento biológico de
sua futura personalidade, de suas habilidades cognitivas e de seus valores.

As primeiras interações infantis, via de regra, acontecem com a família antes


da entrada na escola. Quando esse contexto ocorre em um ambiente familiar
caótico, crianças podem encontrar riscos ao interagir com pais ou cuidadores
que possuem habilidades parentais ineficazes e falham na criação de seus
filhos, devido não só a possíveis transtornos mentais como também ao abuso
de substâncias
Em ambientes onde há a experimentação de abusos, em que outros fatores
de risco predominam sobre os protetores, as funções cerebrais poderão ser
comprometidas. Desse modo, a entrada de qualquer elemento que afete essa
primeira fase trará consequências a longo prazo, mesmo que esse cérebro,
tão jovem, receba a própria produção do hormônio que é liberado enquanto
está exposto ao estresse.
Em recente estudo, publicado em maio de 2019 na revista Nature,
pesquisadores conseguiram avaliar quais comportamentos dos pais poderiam
ter um desfecho positivo na saúde dos filhos. O estudo tem grande impacto,
pois o método utilizado possibilitou a análise de causa e efeito.

Esse estudo nos apresenta um exemplo de como hábitos saudáveis podem


ter um impacto importante no desenvolvimento das crianças. A possibilidade
de ter ao menos uma refeição em família por dia é um dos hábitos que
aumenta a chance de essas crianças expressarem melhor satisfação com a
vida, de terem maior autoestima, de haver menos casos de depressão, menos
episódios de embriaguez, menos uso de maconha, menos gravidez na
adolescência, em comparação àquelas que não tinham esse hábito familiar.

Figura 3: Hábitos saudáveis que podem influenciar o desenvolvimento das


crianças.
Fonte: labSEAD-UFSC (2019).

É importante relembrar que o somatório de fatores que comentamos


anteriormente é o que acaba dando o resultado final. Contudo, a ciência tem
avançado no sentido de nos proporcionar ações concretas que podem mudar
a maneira como trabalhamos, como orientamos os usuários e como vivemos.

SAIBA MAIS

Após conhecermos um pouco sobre a formação das conexões cerebrais, pode


surgir a seguinte pergunta: podemos recuperar o dano causado?

Por muito tempo, pensou-se que qualquer dano ao cérebro era irrecuperável;
entretanto, nas últimas décadas, observou-se a capacidade do cérebro de
ocupar as áreas lesadas com pedaços de neurônios que crescem das áreas
vizinhas à lesão. Isso se dá especialmente se a causa da lesão cessar e se
houver um estímulo para a reabilitação.

Outro estudo de pesquisadores brasileiros mostrou que os cérebros que


receberam a oportunidade de ficar em um ambiente protegido das drogas por
um tempo maior (em número de meses) tiveram imagens mostrando maior
recuperação.
PARA PENSAR

Tente refletir aqui sobre o tempo que cada acolhido passa na Comunidade
Terapêutica e como individualizar esse tempo para cada pessoa.

A maturidade completa do cérebro, em termos biológicos, só é atingida por


volta dos 24 anos de idade. E a área que mais demora para se desenvolver
no cérebro é justamente a que pesa prós e contras, e mede as consequências
das ações a longo prazo. Portanto, um adolescente de 15 ou 16 anos possui
uma característica muito importante em seu cérebro para além da chuva de
hormônios que naturalmente recebe: ele ainda não desenvolveu
completamente o controle de seus impulsos! Misture isso a um ambiente com
disponibilidade alta de drogas e pouca estrutura sociofamiliar. O resultado é
aquele com o qual você provavelmente lida no seu dia a dia na Comunidade
Terapêutica: jovens que usaram substâncias muito cedo na vida e
desenvolveram dependências graves, possivelmente com outros transtornos
associados.

Nessa faixa etária, outra característica neurobiológica em desenvolvimento é


a capacidade de manter o planejamento e a persistência. Algo que, quando
influenciado pelo efeito da maconha, acaba interferindo em uma função
cerebral chamada volição. Essa função é justamente a manutenção da
persistência, ela se relaciona às funções cognitivas como concentração e,
quando muito afetada, gera os quadros “amotivacionais”.

O adolescente que fez uso de maconha ou de seus derivados e possui o


somatório de fatores para o desenvolvimento de um transtorno se desenvolve
de forma aparentemente normal, mas segue continuamente desistindo dos
seus objetivos
Há uma falha no desempenho escolar e, em seguida, desistência dos
estudos, começa um relacionamento afetivo e logo desiste, começa um
trabalho, mas também não se mantém motivado.
sso explica por que é tão difícil gerar motivação para mudança em um
tratamento. Nesses casos, nas atividades terapêuticas realizadas na CT, é
importante identificar e levar para processos terapêuticos as pessoas que
apresentam essas características ou que se queixam de desatenção.

TÓPICO 3 - SISTEMAS DE DIAGNÓSTICOS: USO, ABUSO,


DEPENDÊNCIA
A seguir, utilizamos partes do livro Manual de Psiquiatria – escrito por
Ronaldo Laranjeiras e Sérgio Nicastri (1996) –, para explicar a respeito da
dependência química, com aspectos históricos e conceitos básicos. Confira
clicando nas setas abaixo.

Conceitos básicos
Substâncias não produzidas pelo organismo que causam modificações ao seu
funcionamento são denominadas drogas. Quando agem diretamente no
sistema nervoso central, são denominadas psicoativas ou psicotrópicas.
Define-se que substâncias ou drogas psicoativas são aquelas que modificam
o estado de consciência do usuário.

O consumo de substâncias que alteram o modo de funcionamento do cérebro


e consequentemente a percepção data de tempos em que tivemos os
primeiros registros do comportamento humano. O vinho e outras formas do
álcool estão amplamente presentes em histórias da Grécia Antiga e das
narrativas bíblicas. O álcool esteve ainda presente como forma de pagamento
pelo trabalho ou fonte de água não contaminada

Mas foi somente ao final do século XVIII e começo do XIX que o conceito de
beber excessivo como uma condição clínica apareceu na literatura.
Provavelmente alguns fatores contribuíram para esta mudança; após a
Revolução Industrial na Inglaterra, ocorreu uma maior concentração
populacional nas cidades, facilitando aos médicos observação pormenorizada
de pacientes com consumo excessivo de álcool. Um segundo fator foi o
desenvolvimento de tecnologias na fabricação de álcool, que ocasionou o
barateamento e maior oferta do produto.

Até a metade do século XIX três autores tiveram influência na literatura sobre
o álcool que extrapolaram seus respectivos países. Bruhl-Cramer, na Rússia,
desenvolveu o conceito de “Dipsomania”, considerado um ato anormal
involuntário, um desejo por álcool, à semelhança de desejo por sal em
algumas condições clínicas. Esquirol, na França, seguindo Morel dentro da
ideia de degeneração, considerava alcoolismo como uma monomania sem
delírio. Magnus Huss, na Suécia, talvez tenha sido o que exerceu maior
influência mundial, com a criação do conceito clínico de “Alcoolismo Crônico”.

Na segunda metade do século XX, o sistema de classificação, pela


necessidade de critérios de maior confiabilidade e validade, passa por
mudanças e começa a considerar os problemas com o álcool e outras drogas
que não envolviam adicção ou dependência. Evidencia-se aqui o nome de
Jellinek, com seu clássico trabalho "The Disease Concept of Alcoholism", que
exerceu grande influência na evolução do conceito desta dependência,
considerando o alcoolismo doença apenas quando o usuário apresenta
tolerância, abstinência e perda do controle.
Nessa classificação, Jellinek diferenciava os transtornos por uso do álcool
naqueles que envolviam um claro processo de dependência (tipos gama e
delta) e naqueles sem dependência (tipos alfa, beta, épsilon). No entanto,
apenas no DSM-III e na CID-8 é que os transtornos por uso de substâncias
sem dependência foram introduzidos.

A CID-8 apresentava a adicção ao álcool como um estado de dependência


física e emocional com períodos de consumo pesado e incontrolável, nos
quais a pessoa experimentava uma compulsão para beber e sintomas de
abstinência quando cessava o consumo. Outros padrões patológicos de
beber, tais como beber episódico e excessivo, distinguiam-se da adicção pela
ausência de compulsão e abstinência.

Em 1976, Grifith Edwards e Milton Gross propuseram uma nova síndrome, a


Síndrome de Dependência do Álcool (SDA).

Em 1977, a Organização Mundial de Saúde (OMS) começou a rever os


conceitos e definições existentes, passando a considerar a dependência ao
álcool e a outras drogas como um problema social e uma doença, também a
admitindo como uma síndrome

Nos anos 1980, a saúde pública passou por uma reformulação, assumindo
esses programas de combate à dependência, com caráter primário e
epidemiológico, pois era crescente o número de casos de pacientes
alcoolistas, com tuberculose, envolvidos em acidentes de trânsito, detidos ou
reinternados.

Quando se trata da definição que origina a dependência ao álcool e drogas,


percebe-se que existem algumas contradições na área social, científica e
médica. Existem diversas outras definições e teorias sobre a dependência
química. Entre elas o modelo psicanalítico, o modelo do comportamento
aprendido, o modelo de doença e o modelo familiar. Vale destacar que
existem diferentes estudos e correntes teóricas que se complementam e que
não se excluem necessariamente.

Existem alguns critérios de diagnóstico especificados no DSM-5 (2014), que


caracteriza o transtorno por uso de álcool como problemático, que pode
ocasionar sofrimento e comprometimento clínico significativo. Acompanhando
o indivíduo em um período de um ano, deve-se observar se ele apresenta
dois dos seguintes critérios a seguir. No entanto, é importante destacar que
apenas um médico especializado pode realizar um diagnóstico preciso.
Figura 4: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5.
Fonte: labSEAD-UFSC (2019), adaptado de American Psychiatric Association
(2014).

Figura 4: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5.


Fonte: labSEAD-UFSC (2019), adaptado de American Psychiatric Association
(2014).

Como já mencionamos anteriormente, cada indivíduo desenvolve um padrão


diferente de consumo de substâncias, de acordo com os diversos fatores
biológicos, psicológicos, ambiente sociocultural e natureza da substância.
Contudo, nenhum padrão de consumo de substâncias de abuso está isento
de riscos. Desse modo, o consumo de álcool em baixas quantidades e com
alguns cuidados pode ser considerado um tipo de consumo de baixo risco.

Já o consumo eventual de álcool em quantidades maiores pode ser


considerado como uso nocivo ou abuso, pois possivelmente pode gerar
algumas complicações, como acidentes de trânsito, confusões, brigas,
irresponsabilidade com os seus compromissos. No caso de consumo
frequente, compulsivo, destinado a evitar sintomas de abstinência e
acompanhado por problemas físicos, psicológicos e sociais, considera-se
uma dependência.

Portanto, de acordo com a forma de consumo e suas complicações, é


possível determinar a diferença entre uso nocivo e dependência. Geralmente,
em casos de pessoas com uso nocivo ou abuso, o indivíduo é criticado por
outras pessoas, o que gera algumas consequências sociais. No entanto, é no
caso de dependência que há a presença de complicações crônicas, como a
cirrose hepática, desnutrição, entre outras.

Percebemos, assim, que o uso dessas classificações não leva em conta se a


pessoa “bebe todos os dias”, ou se “só usa cerveja”, ou “só fuma maconha”. O
que se leva em conta é o dano causado por este uso.

SAIBA MAIS

Na animação Nuggets, você conhecerá o Kiwi. Ao ver a sua jornada, reflita sobre os
efeitos de qualquer substância psicotrópica e encontre nas metáforas os conceitos
de tolerância, riscos do uso e desenvolvimento da dependência.

Cada pessoa tem diversas maneiras de se relacionar com as substâncias


psicotrópicas. O modo como este uso interfere em sua vida deve ser avaliado
por um profissional, observando a distinção entre o uso dessas substâncias
pelo indivíduo, o uso abusivo e a síndrome de dependência química
específica para essas substâncias.

Ao observarmos os critérios dos manuais de diagnóstico, pode parecer difícil


entender um diagnóstico de síndrome de dependência química de Cannabis.
Entretanto, se avaliarmos o estreitamento do repertório e a relevância do uso,
encaixaremos melhor a realidade dessa droga. Clique nas abas abaixo para
entender melhor estes critérios.

O consumo de uma substância torna-se prioridade mais importante do que


coisas que outrora eram valorizadas pelo indivíduo.

A perda das referências internas e externas que norteiam o consumo. À


medida que a dependência avança, as referências voltam-se exclusivamente
para o alívio dos sintomas de abstinência, em detrimento do consumo ligado a
eventos sociais. Além disso, o uso passa a ocorrer em locais onde a sua
presença é incompatível.

Apesar destes dois critérios serem mais claros nos dependentes de maconha,
existem outros que devem ser observados. Por exemplo: sinais de
irritabilidade, inapetência, insônia como parte da síndrome de abstinência a
esta substância.

O segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas – LENAD II, realizado


em 2012 pela Universidade Federal de São Paulo, mostra que mais de 1% da
população adulta masculina brasileira é dependente de maconha e, entre os
usuários adultos, 40% são dependentes (INPAD, 2013, p. 9).

Esses detalhes sobre os critérios diagnósticos em relação à maconha que


foram levantados são importantes para a compreensão de que cada
substância apresentará um conjunto de sinais e sintomas diferentes em sua
expressão. Pode, portanto, haver situações comuns, mas a distinção desses
sinais é essencial para quem lida com o tratamento desses usuários.

Por exemplo, a intoxicação por cocaína acarreta uma série de descargas


adrenérgicas no organismo, assim como uma pessoa pode desencadear
uma crise de pânico ao utilizar a maconha. Em uma sala de emergência, a
distinção de sinais pode elucidar a origem do quadro fundamental, podendo
significar a prescrição de uma medicação que não implique em risco para o
usuário.

PARA PENSAR
E qual seria a definição de intoxicação? Existem aspectos comuns para intoxicação
independente da substância psicoativa (SPA) utilizada? É o que veremos a seguir!

Intoxicação é uma condição transitória, seguindo-se à administração de uma


substância psicoativa, resultando em perturbações no nível de consciência,
cognição, percepção, afeto e comportamento, ou outras funções e respostas
psicofisiológicas. Entretanto, como falamos anteriormente, cada substância
provocará alterações diferentes, envolvendo diferentes mecanismos de ação
no organismo.

As SPAs que possuem uma capacidade de chegar ao sistema nervoso


central com mais velocidade e de lá sair e interromper seu efeito, também
rapidamente, têm um maior potencial de desenvolver dependência química e
episódios de intoxicação.

Dependendo da substância, ela pode ter diferentes formas de uso, como a


cocaína, que é cheirada, injetada ou fumada, e o álcool, que possui diferentes
concentrações conforme o tipo de bebida. É compreensível imaginar que uma
pessoa que injeta a cocaína estará mais vulnerável a sofrer com a
intoxicação, ou que a pessoa que bebe cerveja esteja mais protegida do que
aquela que bebe cachaça.

Os exemplos anteriores tentam esclarecer que não há como fechar conceitos


tão peculiares como “intoxicação” ou “abstinência” somente por SPA. Há um
conceito geral e uma síndrome peculiar para cada substância que se
apresenta de maneira única em cada pessoa.

A redução ou interrupção do uso de substâncias psicoativas pode levar ao


que chamamos de síndrome de abstinência. Para cada substância, essa
síndrome apresenta sintomas diferentes. Veja no vídeo a seguir os sintomas
da síndrome de abstinência para cada substância.

Os conceitos e critérios diagnósticos aqui apresentados devem servir para


oferecer uma melhor compreensão dos casos estudados, auxiliando os
técnicos de diferentes áreas a terem uma linguagem ao menos similar. Deve-
se ter em mente que a categorização de uma pessoa usuária de substâncias
psicoativas em algum desses critérios pode ter um forte impacto social e para
o indivíduo.

Além disso, alguns indivíduos podem até usar do modelo teórico de “doença”
e de seu diagnóstico para justificar a manutenção de comportamentos que
alimentam sua dependência.
TÓPICO 4 - DEPENDÊNCIA QUÍMICA EM POPULAÇÕES
ESPECÍFICAS
Populações especiais ou específicas são objeto de capítulos e de livros
especializados, nos quais há a caracterização das diferenças e das
necessidades particulares de cada grupo. Entretanto, é importante ressaltar
que cada pessoa merecerá uma abordagem específica. A menor população
específica é o próprio indivíduo!

Como vimos nos sistemas de diagnóstico, não há um plano de tratamento


único para cada diagnóstico. É preciso que as singularidades de cada pessoa
sejam incluídas em seu plano de tratamento. Destacamos, aqui, algumas
populações específicas que merecem um olhar atento, em especial, quando
estamos em uma CT:

Figura 5: Tratamento de dependência quimíca em populações específicas.


Fonte: labSEAD-UFSC (2019)

Um exemplo para ilustrar a necessidade de encaminhamentos


individualizados é a condição dos portadores de HIV/Aids:

O tratamento para as pessoas portadoras de HIV/AIDS tem avançado ao


ponto em que a morte já não é o resultado inevitável do diagnóstico. A
terapêutica antirretroviral tornou a infecção por HIV não mais uma condição
terminal, mas uma doença crônica tratável e o principal desafio a ser
enfrentado na próxima década é a melhora da saúde e da qualidade de vidas
desses pacientes. Mais de metade dos portadores de HIV é fumante, e estes
apresentam pior qualidade de vida quando comparados a portadores de HIV
não fumantes (DIEHL; FLIGIE, 2014 p. 156).

O parágrafo acima demonstra a necessidade de os ambientes de tratamento


levarem em conta detalhes clínicos que podem significar um desfecho trágico,
caso o paciente e suas peculiaridades não sejam pormenorizados.

Não abordaremos aqui a questão específica do HIV, assim como outras


doenças, que devem, no contexto das Comunidades Terapêuticas, ter seu
foco no encaminhamento e acompanhamento com a responsabilidade
partilhada entre acolhido, rede de saúde e CT.
Apesar de as CTs não serem categorizadas como ambientes de tratamento
clínico, sabemos que o público que elas acolhem traz, muitas vezes,
demandas que devem ser salientadas e encaminhadas de maneira adequada
para o acompanhamento durante sua estada na CT. É o que veremos nos
tópicos a seguir.

Mulheres
Dentro do contexto da organização dos serviços, veremos sobre a separação
de CTs masculinas, femininas, de adolescentes, de lactantes e outras.

Entre as características peculiares das mulheres, devemos levar em conta se


possuem filhos, em que idade, como é esse vínculo, como está seu ciclo
menstrual, se há possibilidade de estarem grávidas, se usam algum
medicamento ou contraceptivo, entre outras.

SAIBA MAIS

Assista ao vídeo Acolhimento: comunidade terapêutica trata dependência química


de mulheres, e acompanhe uma Comunidade Terapêutica que trata a dependência
química de mulheres.

Mulheres podem enfrentar barreiras diferentes das confrontadas pelos


homens, como questões ligadas ao ciclo hormonal, maior prevalência de
sintomas de depressão e ansiedade, estresse provocado pela dupla jornada
de trabalho ou mesmo por questões estéticas, devido ao medo de ganho de
peso.

Também existem evidências de que as drogas agem de forma diferente em


mulheres, quando comparadas com sua ação em um organismo masculino.

Um dos fatores que explicam essas diferenças, por exemplo, em relação ao


uso de álcool, é o fato de as mulheres possuírem um volume corporal de água
menor do que o dos homens. Isso as leva a concentrações de álcool no
sangue maiores do que as atingidas pelos homens que consomem a mesma
quantidade. Outra hipótese seria as mulheres terem uma quantidade menor
de enzimas que quebram o álcool no fígado.

Em relação à cocaína, as mulheres também demonstram reações diferentes


das dos homens, embora as evidências e explicações sobre essas diferenças
ainda não sejam muito consistentes. Foi observado que mulheres têm uma
resposta subjetiva à cocaína inalada mais duradoura, enquanto os homens,
uma resposta mais intensa e mais rápida. A mulher também apresenta uma
intoxicação mais acentuada durante sua fase folicular, visto que na fase lútea
a mucosa nasal se torna mais viscosa, o que limita a absorção da substância,
diminuindo os níveis plasmáticos. Em relação à maconha e aos opiáceos
(substâncias derivadas do ópio), especula-se acerca de uma potencial
influência dos hormônios sexuais.

Gestantes e perinatal
O uso de drogas na gravidez representa risco tanto para saúde da mulher
quanto do feto, estando relacionado a aborto espontâneo, bebê de baixo
peso, nascimento prematuro, descolamento de placenta e morte súbita.

Por exemplo, um único cigarro (droga lícita comum em algumas CTs) fumado
por uma gestante é capaz de acelerar em poucos minutos os batimentos
cardíacos do feto, devido ao efeito da nicotina sobre seu aparelho
cardiovascular. Além disso, filhos de mulheres que fumaram durante a
gravidez têm mais chance de se tornarem dependentes, caso experimentem
cigarro, do que filhos daquelas que não consumiram cigarros no período
gestacional. O fumo na gestação ainda está associado a problemas cognitivos
e de comportamento em crianças.

Clique nas imagens a seguir para conhecer alguns cuidados importantes em


gestantes.

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Orientações expressas quanto a amamentação.


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Uso de medicamentos.
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Atividades habituais em práticas de laborterapia.


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Idosos
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a população
mundial de idosos ultrapassará os dois bilhões de pessoas no ano de 2050.
Na realidade de acolhimento das CTs, essa população vem apresentando
uma demanda crescente e com características que têm mudado, assim como
as condições de saúde e possibilidade de sobrevida no Brasil também
mudaram.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica, sob perspectiva


cronológica, como sendo idosas as pessoas com mais de 65 anos que vivem
em países desenvolvidos e com mais de 60 anos quando vivem em países
em desenvolvimento.

Você pode ter tido a experiência do acolhimento com pessoas com mais anos
de vida, na sétima ou até oitava década de vida, o que antigamente era uma
raridade. Essas pessoas comumente apresentam outros problemas de saúde
além da dependência química. Esses problemas devem ter seu
acompanhamento compartilhado entre o usuário, a CT e a rede de saúde
local.

Essa população não apresenta mais o que a medicina chama de “reserva


biológica” para as condições adversas. Então, em um exemplo hipotético: se
um acolhido com seus mais de setenta anos, que já trata sua hipertensão
arterial, já toma seus medicamentos diários, sofrer subitamente devido a uma
pneumonia comum, ele terá uma resposta menos potente e essa infecção
poderá agravar seus outros quadros, o que em um adulto de quarenta anos,
com os mesmos problemas, se resolveria pela reserva biológica do próprio
organismo. Ou seja, vamos perdendo a capacidade de voltar nosso
organismo ao normal quando ele sofre alguma interferência externa.

Se você parar para pensar, existem outros cuidados necessários aos


acolhidos idosos, tanto pelas fases de tratamento pelas quais ele pode estar
passando quanto pela própria idade. Clique nas abas para conhecer estes
cuidados.

 Prevenção de quedas
 Uso de medicações
Um ponto importante é a prevenção de quedas. Um tombo em um idoso pode desencadear uma
série de consequências graves.

O cuidado no dia a dia, nas atividades terapêuticas e no uso da medicação


deve ser redobrado. A possibilidade de esquecimento ou até mesmo quadros
mais graves em que a memória esteja comprometida devem ser avaliados e
encaminhados para a equipe de saúde.

Crianças e adolescentes
O consumo de substâncias psicotrópicas na infância ou adolescência gera
consequências profundas e permanentes no desenvolvimento neurológico.
Por ainda estar em desenvolvimento, o efeito das drogas no cérebro de
crianças e adolescentes afeta a forma como os sistemas que modulam as
emoções amadurecem, gerando um aumento significativo no risco de
desenvolver não só a própria dependência de drogas, mas uma série de
outros transtornos na vida adulta, principalmente ansiedade e depressão.
Sendo assim, é fundamental que o uso de substâncias, incluindo o álcool,
seja postergado o máximo possível.

Estudos mostram que o uso precoce de álcool, tão comum, e muitas vezes
banalizado, é um dos grandes fatores de risco para o desenvolvimento de
qualquer tipo de dependência, não só a do próprio álcool. Sendo assim, o
jovem que começou a beber muito cedo terá muito mais chances de
desenvolver dependência de maconha ou cocaína, mais tarde, caso
experimente essas substâncias.

No Brasil, temos índices alarmantes de alcoolismo na população jovem, com


proporções semelhantes às encontradas na população adulta (INPAD, 2013).

Cabe destacar aqui que o Marco Regulatório das CTs e a RDC 29/2011 da
ANVISA proíbem o acolhimento de menores de idade.

 Uso de medicações
A avaliação da rede de saúde deverá inclusive verificar a possibilidade de um
abuso das medicações prescritas, sendo comum a queixa de insônia e o uso
indiscriminado de medicamentos “para dormir”.

Acompanhamento especializado de saúde: as comorbidades e o próprio


tratamento do transtorno por uso de substância (TUS) devem ser iniciados o
quanto antes, pois, conforme ocorre com qualquer outra patologia, os TUSs,
especialmente em crianças e adolescentes, apresentarão uma melhor
evolução quanto mais precoce forem diagnosticados os problemas e iniciados
os tratamentos.

Participação da família ou de um sistema de apoio social comunitário: em


muitos quadros a família já não é mais localizada ou há apenas um membro
que se vincula à criança ou ao adolescente. Nesses casos, é necessário fazer
a ponte de contato com os mecanismos de apoio na comunidade com os
quais a criança ou adolescente se identificar, por exemplo, em igrejas, na
escola, em programas esportivos e de capacitação. Quando há algum vínculo
familiar, esse deve participar e ser acolhido em todo processo do usuário, pois
certamente haverá a necessidade de orientação e até de encaminhamento
para tratamento.

Disponibilização de um programa de atividades que levem em conta seu


diagnóstico, sua idade e a proteção de sua integridade.

A síndrome de dependência química é uma doença complexa e multifatorial


que envolve diversos aspectos; portanto, seu tratamento e sua abordagem
devem seguir a mesma linha. Ajudar a parar de usar uma droga, seja lícita ou
ilícita, é uma medida que demandará um esforço conjunto entre usuário e
equipe da Comunidade Terapêutica.

Para tanto, o apoio de profissionais da saúde e a articulação com as redes de


saúde e assistência social são fundamentais. Esse é apenas o aquecimento,
o primeiro módulo de um curso desenhado especialmente para a qualificação
das Comunidades Terapêuticas no Brasil.

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