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Sabrina no. 66
Selva Nua
“MAN OF THE WILD”
Rosemary Carter
Digitalização: Dores Cunha
Correção: Edith Suli
Capítulo I
até o chalé?
Ficarei encantado. - O rapaz sorriu para Emma, mostrando
dentes muito brancos e perfeitos, emoldurados por uma face
bronzeada. - Onde você deixou o carro? No estacionamento? Então
vamos.
Meia hora depois Emma estava na enorme varanda do restaurante,
olhando para o rio. Lance Mason a levara até o chalé e lhe dissera
que voltaria um pouco mais tarde, para acompanhá-la no almoço.
Tinha acabado de desfazer as malas, quando ele voltou. Foram
juntos para o restaurante.
Agora, enquanto comia uma salada de frutas com creme, sentia-se
feliz e à vontade. A atmosfera de férias do campo era divertida. A
enorme varanda estava repleta de pessoas que tomavam bebidas
geladas e conversavam sobre o que haviam visto naquela manhã.
Havia no ar o cheiro de fogo feito de carvão e, perto da cerca de
frente para o rio, pessoas olhavam com binóculos para a mata que
parecia infinita.
- Nenhum animal à vista - disse Emma, examinando a paisagem.
- Você acha? - Lance riu. - Olhe para lá... não, lá, na direção do meu
dedo. Vê algo?
- Eu... não... onde?
- Um pouco para a direita. Sim, perto daquelas árvores. Está vendo
uma coisa marrom?
- Mas há marrom por toda parte - comentou Emma.
- Ah, mas existem marrons, diferentes de outros marrons. Estou
vendo uma girafa. Sim, agora você a vê. Está indo em direção ao rio.
- Ela vem para cá? - perguntou Emma excitada.
- É provável. Mas poderia levar muito tempo, ela não parece estar
com pressa. Mas se você esperasse bastante tempo, talvez a visse
de perto.
- Então. . . -virou-se para o rapaz. - Suponho que por aqui existam
muitos passatempos. . .
- Você tem apenas que ter sorte - explicou ele.
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- Sim.
- Há um elefante lá. Mais de um.
- Mas parece impossível! - exclamou Emma, tentando visualizar o
enorme animal,
- Você terá muitas surpresas. A mata sempre nos apresenta
novidades.
- Lance, vale mesmo a pena esperar? - Estava se lembrando dos
leões naquela manhã.
- Acho que sim. Logo eles se dirigirão ao rio.
Esperaram algum tempo e vários outros carros tinham estacionado
quando viram uma agitação atrás dos arbustos.
- Que será. . . Ora, é uma orelha! - exclamou Emma, quando viu algo
mole e cinzento agitando-se sobre a vegetação. - É... oh. Lance! É um
elefante, mesmo.
Os arbustos abríam-se conforme o elefante passava por eles.
- Ele é enorme! - disse Emma. - Olhe só o tamanho das orelhas e da
tromba! Oh. Lance - E então outro elefante atravessou os arbustos,
seguido de perto por mais um
e os três dirigiram-se para a estrada, parando de vez em quando
para enrolar a tromba ao redor de um galho de árvore.
- Olhe, Emma - disse Lance com calma.
- Mas estou sonhando! Não pode ser! - Outros elefantes começaram
a atravessar os arbustos. Para ela parecia uma infinidade de
elefantes.
A garota pegou a máquina fotográfica e quando eles começaram a
atravessar a estrada em frente ao carro, já estava pronta para
iniciar seu trabalho.
Devia haver quinze dos enormes animais - elefantes de todos os
tamanhos. Mães. país e filhotes, todos juntos num grupo ordenado,
enquanto atravessavam a estrada entre os carros estacionados. Era
uma das visões mais admiráveis que Emma já tivera.
Logo desapareceram. Minutos mais tarde ouviu os gritos dos animais
que se aproximavam do rio.
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mistério.
No campo inteiro ouviam-se os ruídos das pessoas aprontando-se
pata o jantar. De alguma forma, a atmosfera do campo parecia ter
mudado.
Um pouco antes ela estivera na loja passeando, sem propósito
definido, olhando para as prateleiras de comida, para as prateleiras
de curiosidades, macacos empalhados,
bolsas de pele de animais e jóias indígenas.
O que ela mais gostava era de observar as pessoas. O lugar estava
muito animado, devido aos turistas que o lotavam, comprando
comida para o jantar. Homens, mulheres
e crianças, tranquilos e felizes, caminhavam pela loja carregando
pacotes de carne congelada, costeletas de carneiro, bifes e
linguiças - que aprenderiam a chamar de boerewors -, indispensáveis
para os churrascos ou braai.
Os carrinhos estavam repletos de leite e frutas. As crianças
ficavam perto da prateleira de doces. Os pais falavam dos vários
leões que tinham visto naquele dia,
enquanto as mães calculavam quanta comida precisariam e
procuravam as crianças que pareciam desaparecer a cada minuto.
Como tudo aquilo era divertido! Emma sentia vontade de integrarse
naquela algazarra feliz, mas Lance a convidara para um churrasco e
iria buscá-la no chalé.
Deixara a loja depois de algum tempo e caminhara pelo campo. Do
lado de fora dos bangalôs as fogueiras estavam sendo acesas e o
cheiro de carvão e de carne assada já flutuava no ar.
Chegara na cerca ao lado do rio. Havia algo nas águas e no panorama
belíssimo da mata que a fascinava. Tentou imaginar as centenas de
animais que viviam entre aquela vegetação, em suas vidas livres, e
sentiu que nunca se cansaria daquela paisagem. Três meses ali
passariam depressa demais.
- Vê algo? - Emma não o ouvira aproximar-se.
- Não - levantou a cabeça, sorrindo instintivamente e descobriu que
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CAPITULO II
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disse afinal.
- Fico contente que você goste dele - disse ela, rindo. - Está bem,
Johnny, indique o caminho. - E, virando o carro na direção que o
garoto sugeriu, começou a percorrer uma estrada que ainda não
vira.
- Então você mora no parque? - perguntou ela.
- Sim. Meu pai é guarda-florestal.
- Você não vai à escola?
- Sin, vou à escola na cidade. Mas agora estou de férias. Fitou-a
pensativo. - E o que você faz?
- No momento estou aqui para tirar fotografias para um livro que
uma pessoa está escrevendo.
- Mas você não conhece muito sobre animais, não é?
- Espero aprender. - Emma riu outra vez, gostando da objetividade
do garoto. - Você gostaria de me ensinar?
- Lógico. Foi por isso que vim com você.
- Mentiroso!
- Verdade! - Fitou-a com seus olhos enormes.
- Quer dizer que você veio só porque queria ensinar-me sobre os
animais? - Piscou os olhos quando fitou o garoto. - É muito bom ter
você comigo, Johnny. Mas, de verdade, por que você quis vir?
- Está bem - disse com ar de resignação. - Foi porque você me
pareceu uma pessoa agradável e eu queria passear. Meu pai me leva
com ele sempre que pode, mas algumas vezes não dá, e na maior
parte do tempo eu estou na escola. Assim, num dia como hoje eu não
podia ficar só no campo, você não acha?
- Sem dúvida. O que você vai ser quando crescer, Johnny?
- Ah... - ele parecia um pouco incerto.
- Um guarda-florestal, como seu pai?
- Sim. . . Não. Quero dizer, atualmente... - ele parou por um
momento, fitando-a intensamente como se tentasse decidir algo.
Afinal disse: - Você não vai rir se eu lhe disser?
- Claro que não.
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- Sempre acho que todas as corças são impalas, mas não são, não é?
Johnny fitou-a tão pensativamente que Emma teve que forçar-se a
continuar séria, esperando que ele fizesse alguma réplica
zombeteira, mas ele apenas disse, muito sério: - Você realmente não
conhece muito sobre as corças, não é?
- Receio que não.
- Bem, ouça, eu não estou ocupado todos os dias. Nem sempre saio
com meu pai. Assim acho que poderia passar algum tempo com você,
para ensiná-la algo sobre os animais. Quero dizer, você terá que
saber mais para o livro.
- Gostaria muito que você fizesse isso - disse Emma agradecida.
- Você deve conhecer a maior parte dos guardas-florestais, não
é? perguntou ela algum tempo depois, enquanto dirigia lentamente,
com os olhos fixos na estrada. Quase todos.
- Você conhece um homem chamado Stewart? - disse casualmente.
- Claro. Stewart é ótimo. Ele é muito meu amigo. - A voz do garoto
estava cheia de admiração. - Você o conhece?
- Eu... conversei com ele algumas vezes.
- Sim, bem, é que Stewart é... - interrompeu-se neste momento. -
Olhe, Emma, lá está um antílope d água.
Emma parou o carro e olhou para a mata. - Onde? Não vejo nada. . .
Óh, Johnny, você está me enganando!
- Olhe - disse ele pacientemente, apontando. - Lá! Acho que ele está
vindo para cá.
- Oh, lá! Oh, Johnny, estou vendo. É mesmo um antílope d água?
- Sim.
- Como sabe? - perguntou ela.
- Está vendo aquele círculo branco nas costas do animal?
- Sim.
- Isto é o que meu professor de ciências chamaria de sinal.
- Você é mesmo muito inteligente - disse ela com admiração.
- Obrigado - respondeu Johnny com seriedade. - E eu acho você
muito agradável.
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CAPÍTULO III
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- Mas eu sei que ele estava! Agora me lembro. Ele ficou perto de
nós para ouvir o que dizíamos.
- Não posso acreditar nisso, Johnny - disse Emma. - Lance não é
assim. Você não gosta dele, mas ele é uma boa pessoa.
- Mas estou lhe dizendo. . . - O rosto dele estava furioso, e ele
parecia estar prestes a chorar.
- Seja qual for a verdade - disse Stewart com calma - não podemos
deixar que Emma se atrase. Ela vai passar o dia fora e há uma
pessoa esperando por ela.
Emma daria qualquer coisa naquele momento para dizer: desejo
muito passar o dia com vocês. vou dar uma desculpa para Lance. Mas
sabia que não podia fazê-lo. Seria como ferir um homem pelas
costas. E apesar de tudo o que Johnny dissera sobre Lance, o rapaz
lhe dera toda a amizade.
- Não posso fazer nada - começou ela.
- Lógico que não. - Stewart sorriu. - Você está apenas pagando a
multa por ser tão querida.
- Que situação mais desagradável!
- Nem tanto. Lance convidou-a primeiro, você aceitou e deve ir com
ele.
- Isto é o mais correto. - Fitou-o agradecida e então aventurouse: -
Podemos, quem sabe, marcar outro dia, não é, Stewart?
- Faremos isso - prometeu ele. - Vamos, Johnny, vamos ver o que
podemos fazer para passarmos o dia.
Emma estava pensativa quando pegou suas coisas e saiu para
encontrar Lance. É claro que era absurdo o que Johnny insinuara.
Lance não podia deixar de estar na loja. Afinal, era o lugar onde
trabalhava, onde precisava estar. Mas lembrou-se de que ele
dissera que convencera alguém a ficar em seu lugar. Seria possível
que ele a tivesse convidado só por causa do que ouvira?
A face do rapaz surgiu em sua mente, sorridente e bonita. Oh,
aquilo era um absurdo. Devido ao desapontamento, Johnny falara
qualquer coisa. Nem mesmo Stewart endossara o que a criança
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- Ele foi um grande tolo ao deixá-la. - Mais uma vez ele fitou-a
daquela maneira calma que fazia o coração de Emma quase parar.
- Então foi por isso que você veio para cá?
- Eu precisava fugir, sair da Inglaterra, fugir de tudo aquilo. O
navio partiu no dia que teríamos nos casado. Um amigo muito
chegado de meu pai, um entusiasta da vida selvagem, soube o que
acontecera. Ele esteve aqui e está escrevendo um livro sobre suas
experiências. Sugeriu que se eu quisesse vir para cá fotografar
animais - fotografia realmente é meu passatempo -, ficaria muito
feliz em usá-las.
- Entendo. . .
- A vida continua, não é verdade? - Voltou a fitá-lo, embora
soubesse que seus olhos estavam molhados. - Algumas vezes
pensamos que nunca conseguiremos nos recuperar. Mas a vida
continua.
- Sim. - Aproximou-se mais, passou-lhe o braço em volta dos ombros
e puxou-a para perto de si. - A vida continua. Tem que continuar. -
Depois de alguns momentos, acrescentou: - Eu também aprendi isso.
Emma fitou-o de modo inquisidor, sem dizer nada. Sentia uma
estranha sensação de conforto, por estar tão junto a ele. Aquele
fora apenas um gesto platónico, ela o sabia. Stewart pretendia
somente confortá-la e o conseguira.
- Já fui casado - disse com vagar. - Você sabia disso? Emma meneou
a cabeça, sem dizer palavra, sentindo um certo desapontamento e
angústia dilacerando-lhe o coração.
- O nome dela era Mary e morávamos em uma das reservas
florestais do norte. Não é essa espécie de coisa que temos aqui,
campos com chalés e facilidades para os visitantes. Tínhamos um
pequeno bangalô, sozinho no meio de uma grande extensão de terra.
- Devia ser muito solitário.
- Não achava - disse ele.
- Onde está Mary agora? - Emma forçou-se a perguntar.
- Foi morta.
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atalhos que os animais faziam para irem beber água no rio. Era um
local que Emma nunca teria encontrado sozinha. Ali se chegava por
uma estrada secundária usada pelos guardas-florestais, que
Stewart lhe dera permissão para utilizar sempre que quisesse.
Ali, ela sabia, poderia ficar sentada por horas com sua máquina
fotográfica ao lado, absorvendo a paz e a beleza do lugar e, além da
paz de espírito e da tranquilidade,
poderia tirar algumas fotos quando aparecesse algo interessante.
. - Muito obrigada - disse ela, virando-se para ele. - Oh, muito
obrigada, Stewart!
- Por isso? - Ele olhava para Emma com uma expressão que ela não
soube definir muito bem.
- É maravilhoso! É como se um pedacinho do céu tivesse sido
colocado na terra.
- Fico feliz em ouvir isso. - Pôs o carro em movimento e tomou
novamente o rumo da estrada.
Ela ficou desapontada. - Já estamos indo embora?
- Você poderá voltar aqui a hora que quiser. Mas preciso ir para
Lower Sabie. Se não chegar lá rápido, o homem com quem preciso
falar pensará que eu esqueci o compromisso. Além disso, logo seu
estômago estará reclamando por comida!
Foram para Lower Sabie. Stewart parou o carro por uns poucos
minutos frente aos portões antes de entrarem.
Perto do campo havia um tanque de água e, sobre ele, nos
canos condutores, uma quantidade enorme de macacos cinza.
Brincando, pulando e empurrando uns aos outros paíeciam que a
qualquer momento iriam escorregar dos condutores
e cair na água.
- São esplêndidos - Emma ria. - Os leões até podem ser os reis por
aqui, mas são muito distantes. Agora, essas criaturinhas são um
encanto e me fazem rir muito.
- As crianças também gostam muito dos macacos- observou
Stewart. - Acho que os momentos mais felizes das crianças que vêm
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CAPITULO IV
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Foi essa última coisa que quase fez Emma mudar de idéia e não
acompanhá-lo. Mas agora percebera que precisava encarar a
realidade de frente. Estava apaixonada por Stewart, apaixonada
por aquele homem alto que às vezes era zombeteiro e rude e outras
tão terno e gentil. ,
Estava apaixonada por ele como nunca estivera por homem algum. E
era isso o que a fazia hesitar, o que a deixava cheia de reservas. Se
Miranda significava algo para Stewart, se ele a amava, seria mais
difícil para Emma aceitar este fato depois da viagem. Sozinha no
chalé, passara muitas horas pensando e decidira que procuraria
Stewart na manhã seguinte e lhe diria que não mais o acompanharia
na viagem.
Mas quando o vira, quando aquela face morena lhe sorrira, a decisão
caiu por terra. Não podia dizer-lhe que não o acompanharia, como
tambem não conseguira impedir-se
de se apaixonar por ele. - Só queria saber quando vamos partir -
dissera a Stewart.
Fitava-o agora, o perfil decidido e firme, as mãos de dedos longos
pousados com tranquilidade sobre o volante. Ele era tão diferente
de Jimmy, tão diferente do homem
que uma vez pensara amar. Jimmy, com seu riso fácil e com o
charme que fazia tantas mulheres apaixonarem-se por ele. . . Jimmy
era um pouco como. . . como Lance, pensou subitamente.
Franziu a testa com esse pensamento. Na verdade, Lance não era
como Jimmy, apesar de ter ficado bastante contrariado quando lhe
contara que iria viajar com Stewart. Parecia ter tomado isso como
uma afronta pessoal. Emma saíra da Inglaterra para evitar
complicações e se não tomasse cuidado se envolveria mais uma vez
em situações embaraçosas.
Emma suspirou.
- Que suspiro profundo! - Stewart fitou-a e sorriu. - Já está
arrependida de ter vindo comigo?
- Não. - Tinha certeza que o brilho de seus olhos era evidente
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disparar.
Caminhou pelas ruas da cidade, como se estivesse num sonho. As
lojas pareciam um mundo encantado, cheias de coisas
maravilhosas, as pessoas estavam bonitas, as calçadas pareciam
flutuar debaixo de seus pés.
À noite encontrou Stewart esperando-a. - Passou bem o dia? Ele
sorriu e tomou sua mão. - O que faremos hoje à noite? - Emma não
tinha sugestões; e bastava saber que ficariam juntos. - Que acha de
jantarmos e depois irmos ao cinema? Está passando O Império dos
Sentidos. Ainda não assisti, você já?
Emma já assistira, mas não o confessou, pois estava certa de que
nada lhe importaria muito nessa noite. Era suficiente saber que
estaria sentada no cinema escuro, com o homem que amava ao seu
lado.
Emma gostou do filme mais do que da primeira vez. Stewart
segurava sua mão e ela entregou-se como se sonhasse.
Na terceira noite, a última que passariam em Pretória, voltaram a
jantar no restaurante dançante. Emma usou outra vez o vestido
corde-rosa e, pela segunda vez, notou a mesma expressão na face
de Stewart quando a viu. Foi uma noite maravilhosa, tirada de um
mundo de fantasia.
Quando voltaram ao hotel, Stewart levou-a até a porta do quarto e
fitou-a em silêncio por um longo momento. Era um instante precioso
demais para palavras. Afinal, tomou-a nos braços e disse: -
Obrigado, Emma. Obrigado por ter vindo comigo. Foi maravilhoso.
Emma fitou-o trémula, não se atrevendo a falar, esperando que ele
lhe dissesse o que desejava ouvir e que sentia que ele queria dizer.
Mas Stewart apenas a beijou
e virou-se rapidamente em direção ao seu quarto.
Na manhã seguinte saíram cedo para voltar ao parque. Emma sentia-
se um pouco triste. Logo estariam em Skukuza e, embora soubesse
que ainda o veria, sabia também que aquele casulo de encantamento
que os envolvera durante aqueles poucos dias desapareceria.
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- Qual é o problema?
- Acho que ela quer casar-se com Stewart.
- Oh! - Emma gostaria de fazer mais perguntas, mas sabia que não
era
correto tirar vantagem da inocência de uma criança.
- Ela sempre o procura. Faz geléias e malhas de tricô para ele, você
sabia?
- Ela faz isso? - Emma deixou que o carro desse um solavanco, pelo
choque de saber que as coisas entre Miranda e Stewart estavam
num ponto tão sério.
- Sim. São coisas tão tolas. Aquela mulher é louca por Stewart, E
Stewart?, Emma quis perguntar, quis gritar. E quanto a Stewart?
- Emma! - De repente Johnny teve uma idéia e virou-se para ela,
ansioso. - Por que você não se casa com ele?
- Oh, Johnny, eu não posso. . .
- Não, mas você gosta de Stewart, não gosta?
- Sim, gosto de Stewart. - Emma aquiesceu.
- E ele gosta de você. - Como Emma não respondesse, Johnny
continuou, ansioso: - Vamos, Emma, case com ele.
- Não é simples assim, Johnny - protestou ela.
- Por que não?
- Ele não me pediu em casamento.
- Oh! - O garoto ficou desconcertado. - Só isso?
- Só isso não, é uma coisa muito séria. - Apertou o volante com
firmeza e resolveu mudar de assunto. - Bem, vejo uma encruzilhada.
Que estrada vamos seguir?
- A da esquerda. Olhe, Emma, ainda não vejo por que você não
pode. ..
Veja um pássaro naquela árvore lá. - Diminuiu a velocidade
do carro para distrai-lo. - Está vendo?
- Onde? Oh, sim.
É muito bonito. Acho que é o primeiro que vejo dessa espécie.
Que pássaro é, Johnny?
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Depois foram caminhar pelo campo. Estava tudo muito parecido com
aquele primeiro passeio que fizeram juntos, com a única diferença
que naquela primeira noite tudo era novidade e encantamento e
agora se sentia chorando um milhão de lágrimas dentro de si, onde
ninguém poderia vê-las.
Emma sentiu que encontrariam Stewart e depois de algum tempo o
viu caminhar em sua direção. A garota sentiu-se congelar. Como
se percebesse a aflição de Emma, Lance tomou-lhe a mão e, sem
uma palavra, continuaram a caminhar. Stewart aproximou-se deles
propositadamente, sem sorrir, e, como num desafio, Emma não
iargou da mão de Lance. Como ela esperava, Stewart não teve
reação alguma. Como se ela não fosse mais do que uma conhecida
qualquer, cumprimentou-os e continuou.
Foi naquele momento que a idéia que estivera crescendo em sua
mente tornou-se clara. Disse para Lance, num tom de voz casual:
- Estava pensando. . . você acha que eu poderia passar alguns dias
em algum outro campo?
Lance largou sua mão e, quando falou, sua voz estava sardónica.
- Para fugir de Stewart?
- Deus do céu, não! - Emma fitou-o com uma perplexidade de
fingida. - Oh, é claro que eu fiquei aborrecida com o que aconteceu
essa noite, mas Stewart não significa
nada para mim. Não o deixaria afugentar-me de um lugar que
quisesse ficar.
- Tem certeza?
- Bem, claro que sim. - Ela riu e ouviu um som irritadiço. Somos
todos adultos. Stewart tem suas próprias maneiras de fazer as
coisas e eu não tenho nada com isso. Além do mais - deu um suspiro
-, existe Miranda, não é?
Lance ficou em silêncio por alguns momentos com uma estranha
expressão no rosto. - Sim, existe Miranda.
- Bem, voltando ao assunto de ir para outro campo. Quero conhecer
o parque um pouco mais. Ainda não estive no norte. O que você
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sugere que eu faça? Para onde você acha que devo ir?
- Existem muitos campos para onde você poderia ir - disse ele
devagar. - Shingwidzi, Letaba, Punda Milia. A questão é se tem vaga.
- Oh.
- Os campos ficam muito cheios nessa época do ano. Olhe Lance
pegou-lhe o braço -, amanhã de manhã verei o que posso fazer por
você.
- Oh, Lance, obrigada! - sorriu agradecida, pensando no quanto ele
estava bonito ali sob o luar e no quanto era gentil. Não conseguia
imaginá-lo tendo um comportamento arrogante. Beijou-o na face,
levada por um impulso. - Obrigada, Lance.
- Obrigado a você, querida - disse ele com seriedade. - Gostaria de
poder pensar que seu beijo tivesse outro significado. Mas para mim
eles nunca terão, não é?
Emma fitou-o sem dizer nada, sentindo as lágrimas subindo-lhe aos
olhos.
- Ora, vamos - disse ele gentilmente sentindo toda a infelicidade
contida no íntimo da garota. - vou levá-la até o chalé e amanhã lhe
direi se consegui alguma coisa para você.
Uma hiena riu perto da cerca do campo naquela noite; um som agudo
e terrível que quase levou Emma à loucura. Era como se o animal
estivesse rindo dela. "Sua tola, sua tola!" O animal parecia gritar. A
garota afundou a cabeça nos travesseiros para não escutar mais.
De repente se sentiu tremendamente só e triste. Começou a chorar.
Chorou e chorou durante horas, pareceu-lhe, e, quando acordou na
manhã seguinte, viu que o travesseiro estava molhado.
CAPITULO V
- Você está com sorte. - Lance estava alegre naquela manhã, com
sua roupa em estilo safári e mechas de cabelos caindo-lhe na testa.
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- Não, Johnny.
- Mas, Emma...
- Stewart teve suas próprias razões para fazer o que fez ontem
- disse ela - assim como eu tenho as minhas para ir para Shingwidzi.
Acredito que não seria uma boa idéia ir despedir-me dele.
Emma. . . - começou Johnny.
Preciso ir, Johnny - disse com delicadeza. - Não quero
chegar atrasada hoje à noite. Vejo você quando voltar. Aí
poderemos ir ao laguinho dos hipopótamos outra vez e você poderá
terminar seu desenho.
Emma afastou-se rapidamente, sem olhar para trás, tentando
esconder as lágrimas de seus olhos e esforçando-se para não pôr de
lado a decisão que tomara.
Poucos minutos depois, ultrapassava os grandes portões de
Skukuza, tomando a direção do norte. Satara, Letaba, Shingwidzi,
Punda Milia
os campos que estavam situados no centro e no norte do parque.
Os nomes desfilaram em sua mente e em outra ocasião, com outro
estado de espírito, teria ficado encantada com o simples som
daquelas palavras. Mas durante a primeira meia hora de viagem,
sentiu-se muito deprimida.
O sol já estava alto. Aquele era um bom dia para viagens, para ver
animais, pois em curto período de tempo já vira uma hiena saindo de
entre alguns arbustos, parara para ver um antílope e apreciar várias
famílias de macacos e babuínos brincando nas árvores.
Depois de algum tempo ficou impaciente consigo mesma. Estava
sendo ridícula. Viera para a África para fugir de um amor infeliz e
lá estava fugindo de outro. Tinha que ser severa para consigo
mesma. Apreciaria a viagem até Shingwidzi, assim como apreciaria
sua permanência lá. Talvez voltasse para Skukuza, mas no momento
viveria e desfrutaria as coisas que lhe aparecessem, tentando não
pensar num homem que não fora feito para ela.
Não podia dar-se ao luxo de perder muito tempo com a máquina
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verdade que estou aqui para tirar fotografias, mas não sou nenhuma
excelente fotógrafa.
- Para que são as fotos? - perguntou Rose.
- Para um livro. Um amigo inglês está escrevendo um sobre suas
experiências que teve aqui no parque e eu farei as fotografias.
- Ah! Acho que então Lance não exagerou tanto. Terminou Emma?
Oh, aquele vestido, coloque-o no cabide junto com o
meu. Estou livre agora. Vamos, vou apresentá-la
aos outros.
A tarde já chegara ao fim depois de Emma ter guardado suas coisas
e ter tomado um banho e ter sido apresentada por Rose a
diversos jovens do campo. Agora estava escuro e,
sentada perto de uma mangueira, comendo um pedaço de
boerewors, Emma deixava que sensações do novo ambiente
tomassem conta de si.
Todos os temores de ficar sozinha e desolada haviam se dissipado,
primeiro quando conhecera Rose e agora, um pouco depois,
quando fora apresentada para um grupo de jovens que passaria
alguns dias no parque e que as convidara para comer um braai.
O jantar foi divertido. Os rapazes ficavam perto da fogueira,
segurando os longos espetos com carne e as anedotas e risadas
eram frequentes.
Quando terminaram a refeição, sentiam-se felizes e um deles pegou
um violão e começou a tocar. Os primeiros acordes foram suaves e
tristes e por alguma razão trouxeram
lágrimas aos olhos de Emma, que ficou contente por estar escuro e
os outros não perceberem.
Mas depois de alguns momentos, o estado de espírito do rapaz
começou a mudar. A música tornou-se mais rápida e alegre e os
outros começaram a acompanhá-la batendo
palmas ritmadas e, quando ele começou a tocar músicas conhecidas,
passaram a cantar. Enquanto Emma não conhecia as letras, ficou
quieta, prestando atenção nas canções
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CAPITULO VI
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cena que tinha perante os olhos fazia-lhe mal, mas Emma sabia
também que gostava de estar ali, amava a vida, a dedicação à
natureza e às criaturas selvagens, a magia e a beleza, a crueldade
que era a essência da vida e da morte.
Depois de algum tempo Stewart voltou, levou o pequeno impala e
trouxe outro, para quem a vida se tornara difícil. E depois de haver
alimentado aquele animalzinho, ele trouxe um filhote de kudu e
depois uma pequena zebra. Emma alimentou a todos, cuidou de
todos, sentindo-se maravilhada ao pensar que uma garota inglesa
estava
alimentando animais desesperados nas selvas da África.
E assim passou o dia. O sol começou a brilhar com menos
intensidade e cada vez mais surgiam animais em busca de água. No
céu, abutres voavam e esperavam enquanto os animais carnívoros,
instalados na beira do açude, dormiam, esperavam e observavam.
Stewart viera até o jipe e, depois de ter enxugado o rosto banhado
AC suor com um lenço, pegou uma garrafa térmica e alguns
sanduíues - Não é justo fazê-rla sofrer
conosco - disse ele, esperando que Emma ihe servisse café.
Não estou sofrendo - disse a garota.
Mas está fazendo tanto calor! E você não está tão acostumada
quanto nós.
- Nem percebi o calor - disse ela, surpresa ao perceber que aquilo
era verdade. - Eu só queria poder ajudar mais.
- Você está ajudando. - O sorriso de Stewart foi gentil. Ajudando a
alimentar estes animaizinhos, você está fazendo o trabalho de um
dos guardas, permitindo que ele também vá tirar os animais do
lamaçal.
- Oh! - Emma sentiu-se absurdamente feliz.
- Está arrependida de ter vindo?
- Não. Não, Stewart, nem um pouco. - Parou por um momento,
perguntando-se como explicaria seus sentimentos. - É claro que não
estou apreciando tudo isso; teria que ser louca para apreciar todo
este sofrimento. Mas estou contente por estar aqui... Eu... isto me
dá a sensação de pertencer a algo, a algo que vale a pena,
A cor dos olhos de Stewart pareceu intensificar-se e, por um
momento, Emma perguntou-se o que ele iria dizer. Mas Stewart
apenas sorriu, inclinou-se para a frente e passou o lenço pela testa
úmida dela. - Fico contente que você se sinta assim, Emma. - Depois,
estendeu os braços e suspirou. - Bem, deixe-me voltar ao trabalho.
As horas passaram. Inúmeros animais tinham sido salvos. Já estava
na hora de irem embora. - Não é seguro dirigir depois que escurece
- disse-lhe Stewart, quando começaram a voltar para Skukuza.
- Você deve estar cansado - disse Emma com delicadeza.
- Estou sim - concordou.
- Nunca imaginei que você trabalhasse tanto assim - disse a garota,
sentindo-se envergonhada.
- Você imaginava que eu passava o tempo todo em Skukuza bebendo
cerveja gelada, não é? - sorriu. - Está desapontada, Emma? Esse
não é um emprego muito charmoso,
não? Depois do trabalho, eu não chego em cassa com o colarinho
branco imaculado e um jornal nas mãos. Deve padecer-lhe um balho
prosseiro,
pois não está acostumada a esse tipo de coisa.
- É um trabalho de homem - dise ela com simplicidade.
- É. - Fitou-a por um instante com aquela expressão imperscrutável
nos olhos. - É mesmo.
Stewart parecia tão cansado, tão fraco, que Emma o deixou em paz,
assim ele não precisava sentir-se na obrigação de conversar. O
silêncio entre eles era amigável, o silêncio de, duas pessoas que
haviam passado pela mesma experiência, que estavam pensando nas
mesmas coisas, que não precisavam de palavras para se comunicar.
Conforme seguiam a estrada para Skukuza, Emma admitiu que se
sentia feliz. Fora um dia cansativo, inesperado e cruel, que consumiu
toda sua energia, mas acontecera algo de básico em sua vida: a
sensação de ajudar os animais fora extremamente satisfatória.
Aquele tinha sido um dia, Emma tinha certeza, de que nunca mais se
esqueceria.
CAPÍTULO VII
- Deve, mas pior que isto. Está com fome, logo pode morrer.
- Por que, Stewart?
- Porque, não podendo usar a tromba, não pode conseguir alimento.
Pode respirar pela boca, mas precisa da tromba para conseguir
comida.
- Oh, Stewart, que coisa horrível!
- Normalmente, quando isto acontece, o elefante tenta arrancar a
armadilha da tromba, esfregando-a nas árvores, mas isto faz com
que fique mais ferido. - Ele ainda
falava com o mesmo tom de voz. Precisamos encontrar este
elefante.
- Como.. . ?
- Os guardas e os cães de caça vêm saindo há vários dias já. Você
deve ter notado que eu não estava no campo nos últimos dias.
- Emma notara sim e pensara muito na razão da ausência de
Stewart.
- Estávamos na mata, procurando o rastro do elefante.
- E encontraram?
- Não temos certeza. Existem tantos elefantes. Mas precisamos
continuar procurando, até encontrá-lo.
- Por que você me trouxe hoje? - perguntou ela.
- Porque hoje não vou para a mata. Vim pegar algumas informações
dos guardas daqui. Eu queria muito que pudéssemos encontrar o
animal. Não consigo mais continuar
nessa busca.
- O que acontecerá se não encontrarem?
- Nem quero pensar. Vamos continuar procurando até encontrá-lo.
- Ficou em silêncio e Emma sentiu-se comovida por sentir aquela
extrema dedicação. - Você sabia que os elefantes tiram os outros
da agonia?
- Não entendi.
- Normalmente quando algum deles está muito doente, os outros o
ajudam a encontrar alimento. E quando um elefante está ferido, tão
CAPÍTULO VIII
- ... Sim.
- Entendo. - A expressão de Lance tornou-se fria e distante. Está
bem, Emma. Vejo-a por aí. - Virou-se e voltou a trabalhar e Emma,
aborrecida com a infantilidade do rapaz, afastou-se.
Voltou ao lugar perto do rio que passara a amar tanto. Apoiou os
cotovelos na cerca, colocou a mão sob o queixo e ficou olhando a
mata. Não procurava animais, mas pensava nas palavras de Lance. O
que sentia por Stewart estaria se tornando evidente para todos?
Será que o próprio Stewart sabia e dissimulava? Ou ela estaria
ficando obcecada pelo sentimento?
Estava tão distraída em seus pensamentos que não ouviu uma pessoa
aproximar-se até que disse: - Olá, Emma.
- Johnny! - virou-se e seus olhos iluminaram-se de prazer como
todas as vezes que via o garoto. - Não ouvi você se aproximar.
- Eu sei. Você estava no que minha mãe chama de mundo da lua.
- Bem, já voltei - disse rapidamente. - Quer dar um passeio comigo,
Johnny?
- Sim - respondeu o garoto, ansioso.
- Tudo bem para você se nos encontrarmos em meu carro daqui a
mais ou menos dez minutos?
Emma foi até o chalé e, enquanto pegava a máquina fotográfica,
olhou para a pintura pendurada acima da cabeceira da cama e para a
planta sobre a mesinha. Seria aquela
planta um presente oferecido sem pensar, oferecido num impulso
repentino? Estaria imaginando mais do que Stewart pretendera ao
oferecer-lhe o vaso?
Sacudiu os ombros com impaciência, como se tentasse dissipar a
sensação de insegurança que Lance, como fazia quase sempre,
conseguira lhe despertar. E depois perguntou a si mesma,
esforçando-se por ser objetiva, se aquilo seria culpa de Lance. Ele
tinha feito algo errado? Insinuara algo mais do que suas palavras
haviam expressado? Ou seriam seus próprios sentimentos que a
levavam a imaginar coisas?
- Vamos, Emma, fique, por favor. Logo, logo esse sono passa. Fique
aqui comigo.
- Oh. . . Está bem, mas está tão frio. Acho que vou até o chalé pegar
um suéter. Voltarei num instante.
- Não há necessidade - disse Lance, impedindo-a de levantarse. -
Vamos fazer o que todos estão fazendo. Levante-se um pouco.
- Puxou um pouco o tapete, deixando um pedaço suficiente para que
ela se sentasse e, com a outra parte, cobriu-a. - Está mais quente
agora?
- Está!
- Que bom. Se você ficar cansada, pode deitar a cabeça em meu
ombro e cochilar um pouco. Ninguém perceberá e meu ombro é
forte.
- Você é ótimo, Lance - disse ela agradecida, enquanto começava o
filme seguinte.
Emma aceitou o conselho e repousou a cabeça no ombro de Lance,
mantendo os olhos abertos, enquanto tentava concentrar-se no
filme. Era um documentário interessante e, embora sentisse que a
fadiga começava a dominá-la, estava decidida a não dormir. Apenas
inclinara-se contra o rapaz porque era uma posição mais
confortável. De vez em quando se surpreendia com seus olhos que
se fechavam, e forçava-os a ficarem abertos.
Não sabia dizer quando adormecera. Quando acordou o filme já
terminara, sua cabeça escorregara um pouco e agora se encontrava
sobre o peito de Lance. Ao lado deles havia um homem parado
Stewart!
- Oh! - exclamou ela, endireitando-se. E como ele nada dissesse, ela
continuou: - Stewart! Pensei que você não tivesse voltado.
- Estou vendo.
- Stewart... - Ela sabia o que os dois sentados ali, daquela maneira,
poderia significar para ele.
- Sim?
- Sei que eu disse que viria com você, mas você não apareceu.. .
charmoso!
- O que está querendo dizer? - Emma fitou-o com os olhos tristes.
- Ele não é um bom perdedor, você não acha?
- Sim... Não... Eu tinha prometido assistir aos filmes com ele
- Emma explicou.
- Mas você não sabia que ele estava aqui. E não queria ficar sozinha.
- É mesmo.
- E aí você se voltou para raim. O reserva.
- Oh, Lance! - virou-se, chocada com a amargura na voz do rapaz. -
Não foi bem isso o que aconteceu.
- Um reserva. É tudo o que eu sempre vou ser, não é?
- Isso não é verdade, você sabe que não.
- Não é, Emma? Não é?
A garota fitou-o, compreendendo que o que ele dizia era
parcialmente verdadeiro. Gostava dele e de sua companhia, mas
seus sentimentos por Lance e por Stewart não podiam ser
comparados. Amava só a um homem. Todos os outros poderiam ser
seus amigos - bons amigos, mas apenas isso.
- A maneira como você diz isso me parece terrível - suspirou ela
afinal.
- Mas é verdade?
- Não, Lance, não da maneira como você fala. Nunca pensei em você
como reserva.
- Mas você não me ama. - Era uma afirmação, não uma pergunta. - É
uma pena, Emma. Porque você ama um homem que nunca a amará. Eu
a avisei no dia em que nos conhecemos, lembra-se?
Emma não respondeu. Levantou-se, passou a mão nas calças
compridas para tirar a grama, cruzou os braços e disse: - Acho que
está na hora de deitar, Lance. Você vai para o lado de meu chalé?
- Você sabe que sim. Trouxe chá e estou com duas canecas aqui.
Que tal irmos a um dos caldeirões e preparar uma caneca de chá
para cada um? É exatamente o que precisamos agora que está tão
frio.
- Você está com duas canecas? - Emma Fitou-o. - Mas você não
sabia que eu iria ficar com você! Sabia, Lance?
Ele não respondeu imediatamente. - Esperava que sim - disse afinal.
- Lance, você sabia. .. você sabia que Stewart havia voltado?
- Como haveria de saber? Bem, Emma, o fato de eu trazer comigo
uma caneca a mais será suficiente para acusar-me?
- Lógico que não.
- Então vamos tomar chá?
- Obrigada, Lance, gostaria muito.
O chá estava quente e doce e a garota sentiu o liquido espalhar-se
pelo seu corpo como finas labaredas. - Estava uma delícia - disse
Emma, quando foram até a uma torneira lavar as canecas. - E agora
acho que está mesmo na hora de dizermos boa-noite.
Emma despiu-se rapidamente, pois estava bastante frio e, quando já
havia vestido o pijama, sentou-se na cama e ficou olhando para o
vaso que estava na mesinha. Afinal
se deitou, cobriu-se e apagou a luz.
Não conseguiu adormecer e ficou ouvindo os ruídos da noite.
Milhões de grilos cantando e de vez em quando um leão rugia ao
longe.
Pouco a pouco, o campo ia ficando em silêncio, as risadas, as
conversas e a algazarra sadia frente às fogueiras iam
desaparecendo. Logo tudo ficou calmo, apenas os grilos e os sons da
mata continuavam. Emma, porém, ainda continuava acordada.
O que Stewart havia pensado quando os vira naquela noite? Tudo
fora tão inocente. Ela estava sozinha, Lance também e por isso
tinham resolvido sentar juntos. Lance havia trazido um tapete,
como todas as outras pessoas haviam feito, porque aquela região
era muito fria depois que o sol se punha. Ela estava cansada e Lance
deixara
que ela repousasse em seu ombro, como uma criança repousa no
ombro do pai.Só que Lance não era seu pai, e ela, Emma, não era
exatamente uma criança. Ele era um
CAPITULO IX
- Um corpo de bale.
- Os impalas são muito bonitos, não?
- São perfeitos, perfeitos. Aquele ali - Emma apontou para um dos
animais que pastava um pouco afastado dos outros e que parecia ser
o mais bonito - é a primeira bailarina, a bailarina especial.
Ficaram alguns instantes em silêncio, apreciando a cena que tinham
à frente e embora a tensão ainda estivesse presente, não era mais
tão forte.
De repente, Stewart disse: - Olhe, Emma.
- O quê?
- Ali - ele apontou.
- Eu... - Emma passeou os olhos pela mata, mas não viu nada de
anormal.
- Não está vendo? - Ao perceber o espanto da garota, acrescentou:
- Os impalas também não viram. É um leão.
- Sim! - Emma suspirou, pois vira o leão naquele momento, movendo-
se lentamente para a frente. - Ele vai...
- Está se preparando para fazer uma vítima... E eu acho que vai ser
sua primeira bailarina.
- Oh, não! Stewart, não!
- Sim. Ela está tão afastada dos outros...
Stewart parou de falar. As coisas aconteceram muito depressa. Os
impalas percebendo o perigo, a velocidade do leão, a confusão do
impala indefeso.. .
- Faça alguma coisa! - Emma gritou um momento antes que tudo
acontecesse, quando ainda achava que havia tempo de salvar o
animalzinho. - Faça alguma coisa, Stewart!
Desesperada, compreendendo que Stewart não faria nada, Emma
tentou abrir a porta do carro. Neste mesmo momento, a mão de
Stewart fechou-se sobre a dela com tanta força que os olhos da
garota se encheram de lágrimas. Quando Emma se virou para a mata
omra vez, tudo terminara.
- Por que não tentou salvá-la? - Emma gritou, furiosa.
CAPITULO X
garoto de doze anos. - Além do mais, Stewart não iria querer casar-
se comigo.
- Tenho certeza que sim. Ele.. .
- Vamos mudar de assunto, querido. . . Onde os guardas-florestais
foram esta manhã? Vi seu pai saindo logo cedo.
- Sim. - Johnny franziu a testa. - Eles foram atrás de um búfalo
ferido.
- Oh!
- Espero que eles consigam pegá-lo. Os búfalos normalmente são
perigosos, e quando estão feridos.. .
- E... foram muitos guardas-florestais? - perguntou ela.
- Foram.
- Seu pai era um deles?
- Era.
- E... - Era difícil falar o nome que desejava num tom casual, nas
Johnny não parecia muito comunicativo naquele dia, e ela precisava
saber. - E Stewart?
- Também foi.
- Oh! - Será. que sempre teria aquela sensação de angústia, quando
ficasse sabendo que ele corria perigo? Mas não devia preocupar-se
com aquilo, pois dali a poucas semanas, mesmo que quisesse, não
mais ficaria sabendo se ele corria perigo ou não. Perguntou-se se
Stewart lhe escreveria, ou se teria coragem de escrever a ele
mesmo se não tivesse resposta.
- Oh! - repetiu. - Será que eles estão bem?
- Imagino que sim. - Johnny tranquilizou-a.
A manhã passou rapidamente. Estava um dia agradável, não tão
quente quanto o normal. Preferia um tempo mais ameno como
estavam tendo naquele dia do que aquele calor enervante que sugava
as forças dos que não estavam acostumados com ele. Emma olhou o
relógio e percebeu, com pesar, que já estava na hora do almoço.
- Seu estômago deve estar implorando comida, não é, Johnny?
brincou ela.
Ela ficou olhando para ele com o coração cheio de apreensão. Ele já
estava bem distante quando, num impulso, ela gritou: - Stewart!
- Sim? - O homem virou-se e fitou-a.
- Tome cuidado!
Ele continuou fitando-a por mais um instante e o sorriso que Emma
tanto amava apareceu em seus lábios. - Pode ficar sossegada.
Acenou-lhe e afastou-se.
Só quando Stewart sumiu de vista Emma prestou atenção no que a
cercava. Foi aí que viu Lance. O rapaz estava parado não muito
longe, com uma estranha expressão no rosto. Emma perguntou-se há
quanto tempo ele estava ali.
- Lance - disse com voz trémula.
- Olá, Emma. - Ele não fez nenhum movimento em sua direção.
- Você ouviu?
- Ouvi cada palavra. - Pela maneira como ele disse aquelas palavras,
era claro sobre o que ele se referia. - Muito comovente!
- Comovente?
- Você não acha?
- Acho que não entendo você - disse ela, perguntando-se, enquanto
olhava para a expresão dos olhos do rapaz, se algum dia já o
compreendera realmente. - Um homem foi muito ferido. Não vejo
nada de comovente nisso.
- Ah, mas esse homem não é Stewart. - Ainda estava com a mesma
expressão. - E isso é tudo o que interessa, não é?
- Não estou disposta a ter este tipo de conversa agora - afastou-
se. - Preciso encontrar Johnny.
- Jane! - Emma estendeu a mão para a outra mulher, quando entrou
no chalé. - Fiquei sabendo agora.
- Obrigada por ter vindo, Emma. Preciso conversar com alguém.
- O rosto de Jane, normalmente tão alegre, estava pálido e
perturbado, e seus olhos, avermelhados.
- Está fazendo as malas?
- Sim vamos embora logo que meus pais cheguem.
Lance onde ia. - Ele pode estar no laguinho dos hipopótamos - disse.
- vou para lá agora.
- Mas como ele teria conseguido chegar até lá?
- Pode ter conseguido uma carona com alguém. - Quando Lance
fitou-a em dúvida, Emma continuou: - É uma possibilidade. Se ele
não estiver lá, eu volto.. . Lance, se alguém me procurar... se
Stewart voltar e perguntar por mim. . . por favor, você avisa que eu
fui até o laguinho dos hipopótamos e que voltarei no fim da tarde?
Será que seria inútil aquela ida até ao lago?, perguntou-se, enquanto
dirigia no máximo da velocidade permitida. Johnny dissera que
precisava ir só mais uma vez ao laguinho para terminar o desenho.
Ele estava muito animado para participar do concurso. Aquilo
parecia significar muito para ele. E agora que iam embora do campo,
johnny podia ter pensado que não teria outra oportunidade de ir até
lá.
Será que estaria sendo cruel com Johnny? Estaria errada em
imaginar que ele quisesse desenhar, mesmo com o pai no hospital
muito doente? Se outras pessoas achassem essa atitude do garoto
cruel, era porque não o conheciam como ela.
Johnny adorava o pai, disso ela tinha certeza. O acidente sem
dúvida fora um choque terrível para ele. E Johnny era muito
sensível. Podia ter precisado de algo que
o auxiliasse a superar a dor. E sua arte significava muito para ele.
Será que o garoto acreditava que, terminando seu desenho,
encontraria mais força para suportar os tempos difíceis que se
aproximavam?
Nesta linha de raciocínio, não era impossível que Johnny tivesse
procurado alguém que ia para aquele lado e pedido uma carona. Mas
por que não falara com ela para o levar?
De .repente pensou que sabia a resposta também desta pergunta,
pois talvez Johnny tivesse ficado envergonhado, achando que ela
pensaria que ele era muito insensível em querer desenhar numa hora
daquelas.
carro. Estava claro que a maior parte das pessoas que percorria
aquela estrada já havia voltado ao campo, mas não estava
preocupada. Sabia quanto tempo precisava para completar a viagem
de volta e, embora precisasse dirigir no máximo da velocidade
permitida, tinha certeza de que conseguiria chegar a tempo.
A única coisa que a preocupava era o estado do carro. O que podia
ser? Precisava mandar examiná-lo quando chegasse ao campo.
De repente, com um estalido, o motor do automóvel deixou de
funcionar e parou. - Oh, não! - ela gemeu, pisando no acelerador o
máximo que pôde. - Isto não pode acontecer. Não pode!
Mas aconteceu. Olhou a sua volta, pensando em descer e examinar o
motor para ver o que sucedera, embora soubesse que não devia
fazê-lo, pois já estava distante do lago dos hipopótamos e podia
haver um leão pelos arredores. De qualquer modo, sabia tão pouco
da mecânica de um carro que, mesmo que olhasse o motor, não
poderia fazer quase nada.
Quase sem pensar, olhou para o painel do automóvel. Então
compreendeu. Estava sem gasolina! De todas as coisas idiotas que
podiam acontecer, aconteceu aquilo! Como pôde ter saído do campo
sem ter verificado o tanque de gasolina? - Bem, agora não havia
nada a fazer, a não ser continuar ali esperando que alguém viesse a
sua procura.
Embora estivesse aborrecida consigo mesma, não estava
preocupada. Já era tarde e sabia que não passaria mais nenhum
carro, mas dissera a Lance onde ia. Quando dessem
por sua falta, Lance mandaria alguém procurá-la.
Enquanto esperava pensava mais em Johnny do que.em sua própria
situação. Onde estaria o garoto? O que o choque do acidente de seu
pai o levara a fazer? Tivera tanta certeza de que o encontraria no
laguinho dos hipopótamos; ficara tão contente quando teve aquela
idéia, sentindo que aquela intuição estava certa. Mas ele não estava
lá. Não conseguia imaginar o que poderia ter acontecido.
Pensou em Stewart, perguntando-se se o grupo de guardas-
- Foi por isso que você veio até aqui ontem? Você imaginava que ele
poderia estar aqui?
- Sim. Foi o que pensei. - Ficou em silêncio durante alguns instantes.
- Nem por um momento imaginei que ele tivesse ido visitar o pai.
Que estupidez a minha, não?
Stewart, que aconteceu ao búfalo?
- Finalmente conseguimos pegá-lo.
- Foi muito difícil? - pensou na imensidão da mata densa e tentou
imaginar como se abriria caminho à procura de um animal que podia
estar em qualquer lugar.
- Tivemos muita sorte e nossos cães são excelentes. Passei toda
minha vida na mata, mas eles descobrem pistas que para mim
pastariam despercebidas. Encontramos
o búfalo, Emma. É claro que sabíamos mais ou menos onde ele
estava. Nós fizemos o que foi necessário. - Parou de falar. Quando
continuou, sua voz estava cheia de raiva. - Que coisa terrível! Isso
me deixa louco! Foi outro caçador que esqueceu a armadilha
preparada! E veja os resultados. Um homem correu perigo de vida e
um belo animal teve que ser abatido.
Enquanto conversavam, o dia clareava mais. Agora Emma podia
imaginar o que Stewart tinha passado. Viu as linhas de cansaço e
tristeza debaixo de seus olhos e o ar sombrio em sua face. Olhou
para suas mãos e viu que estavam arranhadas e vermelhas, e um
corte fundo atravessava seu polegar direito.
- Você se machucou! - exclamou.
Stewart baixou a cabeça, como se tivesse acabado de perceber o
ferimento. - Não foi nada - disse calmo.
- Você passou por maus momentos.
- Sim, maus momentos. - Stewart fitou-a e a garota ficou perplexa
ao notar que a raiva lhe voltava à face. - Foi terrível, Emma. E
quando cheguei ao campo e descobri que você sumira e que ninguém
sabia para onde tinha ido, sabe o que eu senti?
Emma olhava-o sem compreender.
que saiu tão tarde? Você devia ter imaginado que não daria tempo
de voltar.
- Não foi isso - comentou. - Acabou a gasolina do carro. Stewart
fitou-a por alguns minutos. - Emma, minha pequena bobi-
nha - disse ele desesperado com uma ternura na voz que fez o
coração dela acelerar-se -, como deixou que isso acontecesse? Não
pensou que... - parou antes de terminar a frase. - Por que você não
avisou ninguém? Por que não pediu que alguém me dissesse onde
tinha ido?
- Mas eu avisei - disse pálida. - Avisei Lance.
- Lance?
- Sim. Se ao menos você tivesse perguntado a ele. . . Ficaram em
silêncio. Os abutres voaram e as três girafas que Emma
vira antes atravessaram a estrada outra vez, voltando do rio e
desaparecendo entre os arbustos.
- Eu perguntei a ele - disse Stewart.
- É mesmo? - Emma arregalou os olhos, completamente espantada.
- Sim.
- O que ele disse?
- Nada.
- Ele não lhe disse para onde eu tinha ido?
- Lance apenas me perguntou por que eu achava que ele poderia
saber de seu paradeiro.
- Mas isso é.. . é inacreditável! - Emma sentia-se entorpecida e
chocada. Não conseguia compreender por que Lance se comportara
daquela maneira. - Ele sabia que eu estava perdida?
- Claro. Eu disse a ele.
- Então.. . - A gravidade da traição de Lance começou a tomar
forma. - Ele deve ter percebido que algo tinha acontecido comigo.
Ele sabia. Lance sabia que eu estava
na mata. . . sozinha. Podia ter acontecido alguma coisa... qualquer
coisa. .. não podia? - Olhou para Stewart com tristeza.
- Lógico que sim.
como uma espécie de vingança. Parece que Lance sentiu que você
tem preferência por mim. Ele estava
certo, Emma? - pergunr tou, com muita delicadeza.
Emma virou o rosto,
sabendo que só poderia responder a verdade.
- Sim.
Stewart pegou sua mão e apertou-a.
- Quando voltarmos, quero acertar as contas com Lance - dise
Emma.
- Ele não estará no campo - disse Stewart. - Ia embora do parque
assim que o sol nascesse. - Ia embora? - Emma espantou-se.
- com Miranda.
- Não!
- Para você ver como são as coisas. . .
De repente Emma percebeu que precisava de uma pausa antes de
receber mais informações. Percebeu também o quanto estava com
fome. - Por acaso você trouxe algo que eu possa comer?
Bor um momento Stewart fitou-a sem compreender. - É claro. Tinha
me esquecido. Você não come desde ontem à noite. Deve estar
faminta.
- Desde ontem de manhã - corrigiu-o - e estou morrendo de fome,
- Minha pobre Emma! - Stewart sorriu antes de colocar a mão no
bolso e pegar uma barra de chocolate e uma maçã. - Ração de
emergência, outra regra que não se deve esquecer. - Continuou
sorrindo enquanto a observava morder a maçã vorazmente. - vou
levá-la para o campo, mas antes disso preciso dizer-lhe mais
algumas coisas. Você acha que aguenta ouvir?
- Depois de ter comido tudo isso, sim. - Emma já se sentia melhor e
estava muito ansiosa por ouvir o que Stewart tinha a dizer.
- Eu lhe disse que Miranda imaginava estar apaixonada por mim, mas
que na verdade não estava. Certa vez, há muito tempo atrás, fiz um
favor a ela e ao irmão. Miranda era muito agradecida a mim e
confundiu gratidão com amor.
FIM