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Cabeçalho
Assunto: Uso de ração vencida na alimentação do rebanho, identificado durante a realização de uma
Auditoria Interna.
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Ementa
“A auditoria interna é uma atividade independente e objetiva, que presta serviços de avaliação e de
consultoria e tem como objetivo adicionar valor e melhorar as operações de uma organização.”
(Maffei, 2015)
A auditoria interna realizada pelo Sr. José identificou uma irregularidade na ração que
estava sendo ministrada ao rebanho da empresa Carnes para a Família que poderia comprometer a
qualidade da carne comercializada pela companhia.
O objetivo deste relatório é analisar a situação encontrada pelo Sr. José, bem como o
posicionamento da alta direção frente à ocorrência relatada.
Inicialmente, analisaremos as obrigações do Sr. José como auditor à luz das boas práticas
inerentes à função de auditor e das obrigações da empresa frente à auditoria e ao preconizado na
literatura pela Governança Corporativa e o Programa de Compliance.
Em seguida, passaremos para a análise da atuação da Alta Direção com base nos
princípios do Compliance e também da Governança Corporativa, quando será apresentada a
importância da alta direção no funcionamento da empresa, a sua influência na cadeia hierárquica,
bem com os problemas decorrentes de uma ação antiética.
No tópico subsequente, serão analisadas as semelhanças e diferenças entre as funções de
Auditor e Compliance Officer.
A fundamentação para as análises aplicadas neste parecer serão identificas em tópico
específico de maneira a facilitar o entendimento das origens dos argumentos utilizados.
Por fim, nas Considerações Finais, serão apresentadas as opiniões deste especialista
quanto às seguintes indagações: se José realmente deve obediência aos gestores da organização no
caso apresentado e se o Auditor Interno tem a mesma independência do Compliance Officer.
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Relatório
A Auditoria Interna abrange as análises, exames, coleta de informações e comprovações,
metodologicamente estruturadas para a avaliação da integridade, eficácia e eficiência dos processos,
dos controles internos, sistemas de informações e do gerenciamento de riscos, visando auxiliar a
administração no cumprimento de seus objetivos.
Durante uma auditoria interna, o Sr. José, auditor interno da empresa Carnes para a
Família, uma empresa líder do mercado de distribuição de carnes no País, descobriu que a ração
dada aos animais estava vencida.
De acordo com o auditor, o fato de alimentar os animais com aquela ração vencida poderia
vir a prejudicar a saúde do rebanho e, consequentemente, contaminar as carnes que seriam vendidas
normalmente.
O Sr. José, considerando aquele fato um risco que poderia se tornar um problema para a
empresa, alertou a alta direção para que ações de correção fossem adotadas. Contudo, a alta
direção, afirmou saber de tais acontecimentos, mas, como conseguiram um melhor preço devido à
proximidade da data de vencimento, fizeram a compra.
A alta direção também informou ao Sr. José que, por ser um funcionário da empresa, ele
não deveria mais tocar no assunto.
Dessa forma, apresentam-se as seguintes considerações e análises:
Das obrigações de José como auditor
Na função e auditor, o Sr. José deve preservar sua autonomia e independência profissional,
pois, apesar de ser um contratado da empresa Carnes para a Família, suas opiniões sobre a área
auditada carecem de total isenção, sem qualquer tipo de ênfase que distorça a realidade dos fatos,
bem como de toda relação pessoal com assuntos e colaboradores envolvidos com o objeto do seu
trabalho.
Ao analisar os processos de produção para certificar se os procedimentos adotados
cumprem as políticas, planos, leis e regulamentos, deve determinar se a organização está em
consonância com as diretrizes. Caso haja alguma não conformidade, como na questão da ração
vencida, deve reportar-se diretamente à alta direção. Contudo, antes de realizar a comunicação,
alguns cuidados devem ser tomados, tais como:
Inteirar-se de todas as circunstâncias relevantes, antes de emitir opinião sobre o caso;
Gerar uma avaliação equilibrada, de acordo com a conjuntura dos fatos;
Não se deixar influenciar de forma indevida por seus próprios interesses ou pelo
interesse dos outros;
Se necessário, utilizar de equipe técnica para assegurar que as informações sejam
fidedignas e o assessoramento baseado em conhecimento profissional;
Adotar o máximo de cuidado, imparcialidade e zelo na exposição das conclusões, além
de apresentar as razões que o motivaram a tal conclusão.
O auditor também deve examinar os meios usados para a proteção dos ativos que, no
cenário analisado, seriam os animais dos quais se extrairão a carne para venda. Assim, deve
averiguar os riscos e as possíveis consequências para o produto final, uma vez que a alimentação
está sendo realizada com ração vencida.
Após comunicar à alta direção do resultado do trabalho de auditoria, contendo as
conformidades e não conformidades, deve se certificar de que as providências necessárias para
corrigir possíveis discrepâncias foram adotadas.
O auditor deve ainda respeitar o sigilo relativo às informações obtidas durante o seu
trabalho, não as divulgando para terceiros, sob nenhuma circunstância, sem autorização expressa.
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Por fim, o auditor deve sempre realizar a auditoria com zelo, diligência e honestidade,
observada a legislação vigente e resguardados os interesses legítimos e éticos da organização,
visando preservar a integridade da organização, os seus objetivos e funcionários.
Das obrigações da empresa como empregadora
Na atualidade, o nível de competitividade empresarial é muito elevado e uma empresa deve
possuir a capacidade de inovação, fornecer produtos e serviços de qualidade, bem como oferecer
diferenciais comerciais aos consumidores, revendedores e sociedade em geral.
Para que a organização consiga vencer e se manter líder de um segmento de mercado,
deve implantar uma boa Governança Corporativa e um bom Programa de Compliance. Uma boa
Governança Corporativa significa fazer o melhor para a organização, o objetivo é crescer e frustrar
qualquer tipo de empecilho e um bom Programa de Compliance, se implantado de forma estruturada,
será um dos métodos mais eficazes no combate a todos os malefícios organizacionais capazes de
soterrar uma empresa.
As auditorias internas, por sua vez, são ferramentas de apoio à Governança que prestam
uma avaliação e oferecem conhecimentos sobre os processos e as estruturas que levam a
organização ao sucesso.
Para tanto a empresa deve colocar pessoal capacitado e com conhecimento das áreas a
serem auditadas. Quanto maior é a qualificação dos auditores, mais credibilidade terá a auditoria
realizada. Assim, para o caso da ração vencida, o Sr. José tinha conhecimento profissional para
avalizar que a situação poderia vir a prejudicar a saúde do rebanho e constituía-se em risco para a
empresa.
Dessa forma, a organização deve parar de fornecer a ração vencida, eliminando o risco de
sanções administrativas e judiciais por alimentar de forma imprópria o rebanho, pois essas sanções,
caso ocorram, podem prejudicar a reputação da empresa e consequente perda de investidores.
Da atuação da Alta Direção com base nos princípios do Compliance e também da Governança
Corporativa
A Governança Corporativa procura desenvolver organismos de controle e monitoramento
que garantam que os dirigentes da empresa estejam alinhados com os objetivos da organização, bem
como focados na missão, visão e valores da empresa.
O IBGC apresenta a seguinte definição de Governança Corporativa:
“A Governança Corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais
organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os
relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos
de fiscalização e controle e demais partes interessadas.
As boas práticas de governança corporativa convertem princípios básicos
em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de
preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização,
facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para a qualidade de gestão
da organização, sua longevidade e o bem comum.”
O Compliance , por sua vez, representa uma adoção de políticas de boa Governança
Corporativa destinadas à diminuição dos riscos das empresas.
Para que se tenha um programa de Compliance efetivo são necessários, entre outros
elementos, o comprometimento e suporte da alta direção da empresa, uma área independente com
funcionários e materiais suficientes, bem como o acesso direto à alta direção da empresa e/ou ao
conselho de administração, um mapeamento e análise de risco e o delineamento de procedimentos e
controles.
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Fundamentação
As análises apresentadas neste relatório foram baseadas no preconizado pelas seguintes
leis, regulamentos e normas nacionais e internacionais:
a) O Foreign Corrupt Practices Act (FCPA) estima que as companhias apenas poderão ser
responsabilizadas pelos atos de corrupção promovidos por seus funcionários;
b) O UK BRIBERY ACT que prevê, além do previsto pela FCPA, a responsabilização da
companhia pela falha em prevenir condutas ilícitas;
c) Lei nº 12.846/2013 que dispõe sobre a responsabilização administrativa de pessoas
jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira;
d) Decreto 8.420/2015 que Regulamenta a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013 e dá
outras providências;
e) Norma ABNT ISO 37001 que fornece os requisitos e orientação para estabelecer,
implementar, manter e aperfeiçoar um sistema de gestão antissuborno;
f) Norma ABNT ISO 19600 que fornece orientações para o estabelecimento,
desenvolvimento, implementação, avaliação, manutenção e melhoria do sistema de
gestão de Compliance.
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Considerações finais
Posicionamento informando se, em sua opinião, José realmente deve obediência aos gestores
da organização no caso apresentado.
Um Auditor virtuoso precisa ser benevolente e altruísta, ou seja, é essencial que os
relatórios sejam imparciais, mas isso não significa que o Auditor possa ou deva ser imparcial quanto
aos melhores interesses da organização. Contudo, a honestidade é uma virtude e a omissão um
pecado e é importante que os relatórios reflitam todos os aspectos do problema, pois é a
administração quem toma as decisões finais sobre como lidar com os problemas identificados.
Diante de todo o exposto no relatório e, considerando que dentre todas as virtudes inerentes
e necessárias em um Auditor, a coragem deve sobressair, pois no caso da alta direção colocar em
risco a imagem de uma empresa líder de um segmento de mercado, a atuação do Auditor no sentido
de coibir tais ações é essencial.
Assim, em minha opinião, o Auditor deverá manter no relatório de auditoria interna as
informações sobre a discrepância encontrada e comunicar, seja por canal de denúncias (hotlines)
seja diretamente ao Compliance Officer a ocorrência para que medidas corretivas sejam adotadas,
tanto em relação à ração vencida quanto às ações e o posicionamento da alta direção.
Posicionamento informando se, em sua opinião, o Auditor Interno tem a mesma independência
do Compliance Officer.
Ao longo desse relatório foi possível identificar as semelhanças, diferenças e peculiaridades
de cada uma das funções de Auditor Interno e Compliance Officer.
Para que um sistema de Governança Corporativa, apoiado pela auditoria interna e pelo
programa de Compliance, possa auxiliar na condução das atividades de gestão para o alcance dos
objetivos da companhia, essas duas atividades que se complementam devem ter a independência
necessária para agir com isenção.
O item X do art. 42 do Decreto 8.420/2015, que Regulamenta a Lei nº 12.846, de 1º de
agosto de 2013 e dá outras providências, sobre o programa de integridade apresenta o texto:
“independência, estrutura e autoridade da instância interna responsável pela aplicação do programa
de integridade e fiscalização de seu cumprimento;”.
Além das muitas situações discorridas neste relatório que demonstram que as funções de
Auditor Interno e Compliance Officer, devem ser independentes, o decreto citado apresenta a mesma
necessidade em sua redação.
Portanto, em minha opinião, entendo que as duas funções devem ser independentes e que
não há um grau de diferenciação na quantidade de independência entre elas. Contudo, não posso me
furtar de comentar que no caso da ração vencida, a alta direção tenta cercear o Auditor,
demonstrando que possivelmente, na empresa Carnes para a Família, existe um controle sobre o
setor de auditoria em relação ao de Compliance.
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