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Arthur C. Clarke
Estávamos com o nível de oxigênio próximo a zero. Foi decidido que a equipe
de resgate cortaria o fino metal do casco e teríamos de transpor, por vinte segundos, o
espaço sem uma roupa espacial, até alcançarmos a nave de resgate. Quando uma
seção circular da parede de nosso alojamento foi aberta, estávamos preparados.
Havíamos prendido a respiração, mas, com a saída violenta do ar da cabine, fui
lançado ao espaço. Senti, se minhas funções cerebrais ainda estavam funcionando,
formigamento na pele e sensação de que meus olhos ardiam. Além disso, sentia
muito frio, indício de que a evaporação em minha pele já estava em processo de se
completar.
Estive, por quinze segundos, sob a ação direta dos raios do Sol, até ser
agarrado por um par de mãos de um astronauta e levado à comporta de entrada da
nave de resgate, onde recuperei minhas funções vitais. Estive cego pela luz solar,
durante o tempo em que passei no vácuo absoluto — e, no vácuo absoluto, notei que
não havia o menor sinal de ruído. Nem mesmo enquanto estávamos no alojamento,
pudéramos vivenciar o silêncio absoluto. Sempre havia o ribombar baixo das bombas
de ar. Mas aqui, no espaço, experimentei um silêncio terrivelmente absoluto.