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SGI-PORTUGAL

EXAME DE ESTUDO DE GRAU 1


2016

MATERIAL DE ESTUDO

“O que significa ser um ser humano? O que é a vida? O que é o


‘eu’? Qual é o propósito da vida? Porque é que nascemos?
Porque é que morremos? O budismo é uma filosofia de vida que
fornece as respostas fundamentais a todas estas questões.
Portanto, estudar o budismo e dominar os seus ensinos é explorar
o significado das nossas próprias vidas e abrir a porta a um
repositório dos mais ricos tesouros espirituais.” (Daisaku Ikdea, A
Nova Revolução Humana, vol. 24, capítulo “Salvaguarda
Vigilante”)
Excertos de orientação sobre o estudo, do presidente da SGI, Daisaku Ikeda

O Gosho é uma obra de fé, de filosofia, de vida diária, de paz eterna e de esperança
infinita. É constituído por uma miríade de jóias de orientação. Os membros da SGI
que leram uma única passagem do Gosho com toda a sua vida, não só mudaram as
suas vidas para melhor, como também fizeram a sua revolução humana.
Qual é o propósito do estudo do Gosho? A resposta está expressa claramente
na seguinte passagem:

“Acredite no Gohonzon, o objecto supremo de devoção em toda a Jambudvipa.


Certifique-se de que fortalece a sua fé, e receba a protecção de Shakyamuni, Muitos
Tesouros e dos Budas das dez direcções. Empenhe-se nos dois caminhos da
prática e do estudo. Sem prática e estudo, não pode existir budismo. Não só deve
perseverar você próprio, como deve também ensinar aos outros. Ambos, a prática e
o estudo, derivam da fé. Ensine aos outros com o melhor da sua capacidade,
mesmo que seja apenas um parágrafo ou frase.” (WND-1, p. 386)

Nesta passagem, estão resumidos os elementos principais da prática do budismo de


Nichiren Daishonin. O que é importante é, em primeiro lugar, a fé, em segundo, a
prática, e, em terceiro, o estudo. A fé forte conduz-nos directamente à Budicidade. E
são a prática e o estudo que fortalecem e aprofundam essa fé. Para nós, o estudo
nunca deve ser uma mera acumulação de conhecimento. Deve ser, rigorosamente,
uma forma prática de aprofundar a nossa própria fé e elevar o nosso estado de vida.
Além disso, o caminho da prática e do estudo leva-nos ao Gohonzon e à
sociedade. Por causa da prática e do estudo encaramos o Gohonzon, recitamos o
Sutra e invocamos Daimoku. Com a sabedoria e a força vital que daí advêm,
levamos a cabo a nossa prática e estudo, no seio da sociedade. Aqui reside o que
chamamos de caminho de bodhisattva. Este é a acção de conduzir outras pessoas
em direcção à felicidade duradoura, enquanto se luta para estabelecer paz eterna
para a humanidade. Esta prática começa com a transformação interior do indivíduo
e, através dela, a substância das nossas vidas é aprofundada e enriquecida. A mais
importante dessas transformações é o atingir da Budicidade nesta vida ou, em
termos modernos, fazer revolução humana ou atingir a realização plena do nosso
potencial.

Daishonin escreve:

“O coração dos ensinos de toda a vida do Buda, é o Sutra do Lótus, e o coração da


prática do Sutra do Lótus encontra-se no capítulo “Nunca Desprezar”. Qual o
significado do profundo respeito do Bodhisattva Nunca Desprezar pelas pessoas? O
propósito do aparecimento neste mundo do Buda Shakyamuni, o senhor dos
ensinos, reside no seu comportamento como ser humano.” (WND-1, p.852)

É quando os frutos do estudo do Gosho se revelam no nosso comportamento, que


podemos dizer que o lemos verdadeiramente.

Fonte: Prefácio à edição em inglês dos “Escritos de Nichiren Daishonin”: The


Writings of Nichiren Daishonin, volume I, Soka Gakkai, 1999.
Excerto do Ensaio de Daisaku Ikeda: Estudo para Aprofundar a Nossa Fé, 9 de
Setembro de 2011

(...)
Um dos nossos membros do Grupo Muitos Tesouros perdeu todas as suas posses,
incluindo a sua casa que há muito era usada como local de reuniões da Gakkai, no
terramoto e tsunami de 11 de Março. A sua cópia do Gosho, os escritos de
Daishonin, que ela usou durante os seus 50 anos de prática, também foi levada
pelas águas. Porém, ela ainda consegue facilmente recitar de cor a seguinte
passagem de “A Abertura dos Olhos”:

Embora eu e meus discípulos possamos encontrar várias dificuldades, se


não alimentarmos dúvidas nos nossos corações, iremos sem falha atingir a
Budicidade. Não tenham dúvidas apenas porque o céu não vos oferece
proteção. Não se sintam desencorajados por não gozarem de uma existência
fácil e segura nesta vida. Foi isto que eu ensinei aos meus discípulos dia e
noite, e no entanto eles começam a alimentar dúvidas e abandonam a sua fé.
Os homens tolos têm tendência a esquecer-se das promessas que
fizeram quando chega o momento crucial. (WND-1, 283)

Eu tinha pedido repetidamente aos nossos membros que gravassem estas


palavras de ouro nos seus corações, e esta membro fez isso mesmo, memorizando-
as tão minuciosamente que poderia escrevê-las de olhos fechados. E agora,
encontrando-se numa situação que pode claramente descrever-se como “um
momento crucial”, ela continua a aplicar esta passagem todos os dias enquanto se
esforça silenciosamente nos bastidores para ajudar as pessoas da sua comunidade.
Declaro que são as mulheres admiráveis como esta sincera membro pioneira
aquelas pessoas a quem Daishonin louvaria de todo o coração, assegurando-lhes
de que “irão sem falha atingir a Budicidade” (WND-1, 283).
Aqui, vemos também o profundo significado do nosso movimento de estudo
“vivo”, no qual membros comuns estudam seriamente os ensinos de Daishonin e
colocam-nos em prática na sua vida quotidiana.
Como Daishonin relata no Gosho “A Abertura dos Olhos”, 12 de Setembro
(de 1271) é o dia da Perseguição de Tatsunokuchi - o dia em que ele descartou o
seu aspecto transitório e revelou a sua verdadeira identidade como Buda dos
Últimos Dias da Lei (cf. WND-1, 269). Desse modo, é o dia em que o sol do budismo
das pessoas se começou a levantar.
O 12 de Setembro é também o Dia do Departamento de Estudo da Soka
Gakkai.

*
O famoso poeta Japonês Kenji Miyazawa (1896- 1933), que personificou o profundo
espírito de Tohoku, escreveu: “Busquemos a verdadeira felicidade para o mundo
inteiro. Na procura, encontramos o caminho.”1
Os escritos de Daishonin são um tesouro de sabedoria para trazer felicidade
a toda a humanidade.
Em Junho de 1951, logo após se ter tornado no segundo presidente da Soka
Gakkai, o meu mestre, Josei Toda, expressou o seu desejo de publicar o Nichiren
Daishonin Gosho Zenshu (As Obras Completas de Nichiren Daishonin) por kosen-
rufu. Eu dei o meu melhor para o apoiar neste grande empreendimento [que foi
concretizado no ano seguinte, a 28 de Abril de 1952].


1
Traduzido do Japonês. Kenji Miyazawa, Miyazawa Kenji Zenshu (Obras Completas de Kenji
O Senhor Toda declarou: "O espírito da Gakkai significa que estamos a
trabalhar para a felicidade do povo do Japão e do mundo inteiro." Ele também disse:
"A grande responsabilidade de realizar a felicidade para toda a humanidade repousa
sobre os ombros da Soka Gakkai”.
Foi com este espírito e com base nos escritos de Nichiren Daishonin, que
nós propagámos a Lei Mística a 192 países e territórios em todo o mundo. O
próximo ano (2012) marcará o 60º aniversário da histórica publicação dos escritos
de Daishonin por parte da Soka Gakkai.

O movimento de estudo da SGI está vibrantemente activo em todas as regiões do


mundo. Este Verão, o nono curso de estudo da SGI-Europa realizou-se em Milão,
Itália. Membros de 29 países participaram, dos quais cerca de 60 por cento eram
membros do departamento de jovens. A tradição da Soka Gakkai de nutrir e treinar
os jovens através do estudo budista permanece inalterada em todo o mundo
No curso deste ano em Milão, os membros estudaram 22 das cartas de
Nichiren Daishonin a Shijo Kingo, bem como "O Verdadeiro Aspecto De Todos Os
Fenómenos", uma carta importante, que eu carinhosamente me lembro de estudar
com os membros quando visitei a Europa há 30 anos atrás (em 1981).
Nessa ocasião, uma responsável de mulheres perguntou-me qual a melhor
forma de desenvolvermos o movimento na Europa. “Eu respondi imediatamente: ‘Fé,
prática e estudo são a chave.’
Fé significa forte convicção e crença – nomeadamente, fé absoluta no
Gohonzon. Prática significa orar para a nossa felicidade e a dos outros, e partilhar
os ensinos de Daishonin com os outros. E estudo significa gravar nas nossas vidas
os ensinos de Daishonin, que pulsam com o seu poderoso espírito de conduzir todas
as pessoas à iluminação, e resistir a qualquer dificuldade de forma a propagar a Lei
Mística.
Fazer esforços contínuos na fé, prática e estudo é a forma mais fundamental
de desenvolver o nosso movimento de kosen-rufu.

*
A fé é para toda a vida, e o estudo permite-nos aprofundar a nossa fé com esse
propósito.
Através do estudo budista, é importante que ganhemos um profundo
sentimento de alegria e convicção na grandeza do budismo de Dashonin; que
desenvolvamos uma atitude mais profunda para com o Gongyo da manhã e da noite
e ao invocarmos daimoku; que sejamos capazes de nos lembrar dos ensinos de
Daishonin e convocar uma coragem invencível quando nos depararmos com
problemas ou dificuldades; e que avancemos com orgulho e confiança, sabendo que
temos uma nobre missão de lutar por kosen-rufu em unidade com os nossos
companheiros membros.
O meu maior desejo é que, particularmente os nossos membros do
departamento de jovens, vivam ao máximo os maravilhosos anos da sua juventude,
em sintonia com o ritmo dinâmico de desenvolvimento interior, que são a fé, prática
e estudo.

Daishonin
iria seguramente
sorrir-vos,
elogiando o vosso espírito brilhante
de dedicação a kosen-rufu.
SGI-Portugal Perguntas do Exame de Grau 1 – 2016
Existem cinco secções neste exame (A-E) e deve preparar respostas para
todas as perguntas colocadas aqui, embora no exame não seja necessário
responder a todas as perguntas. As respostas podem ser encontradas no
material de estudo do Exame de Grau 1 de 2016, que contém o seguinte:

Secção A: O BUDISMO DE NICHIREN DAISHONIN


A1 A Vida de Nichiren Daishonin
A2 Nam-myoho-rengue-kyo
A3 Atingir a Budicidade nesta Vida

Secção B: PRINCÍPIOS BÁSICOS DO BUDISMO


Os Dez Mundos

Secção C: A LINHAGEM E TRADIÇÃO DO HUMANISMO BUDISTA

Secção D: A HISTÓRIA DA SOKA GAKKAI

Secção E: LIBERDADE DE ESPÍRITO

PERGUNTAS DE REFERÊNCIA:

SECÇÃO A: A VIDA DE NICHIREN DAISHONIN


Assinale a resposta correcta
1. Nichiren Daishonin nasceu a:
a) 22 de Fevereiro de 1222
b) 22 de Fevereiro de 1226
c) 16 de Fevereiro de 1222
d) 16 de Fevereiro de 1226
2. Assinale a data do estabelecimento do ensino de Nichiren Daishonin
quando proclamou pela primeira vez Nam-myoho-rengue-kyo:
a) 28 de Abril de 1253
b) 16 de Julho de 1253
c) 28 de Abril de 1260
d) 16 de Julho de 1260

3. Complete a seguinte frase:


A 12 de Setembro de 1271, um grupo de soldados armados levou Nichiren
Daishonin para uma praia situada em ______________, para decapitá-lo, por
ordem de _______________. Ao triunfar sobre esta perseguição, e sem
abandonar a sua condição humana, assumiu a sua identidade verdadeira e
original, como um Buda de infinita sabedoria e compaixão. A isto se chama
_____________________________________.

4. Complete a seguinte frase:


Durante o exílio de Sado, Daishonin escreveu muitas obras fundamentais.
Duas delas, de importância capital, são
_______________________________ e ____________________________ .

5. No seu escrito “Sobre as Perseguições que Recaem Sobre o Sábio”, que


data de 1 de Outubro de 1979, Daishonin assinala que, no vigésimo sétimo
ano desde que estabeleceu o seu ensino, finalmente cumpriu “o propósito do
seu advento [no mundo]” (WND-1, 996).
Por favor descreva qual o propósito do seu advento, ou seja, do seu
aparecimento no mundo.

6. Assinale a data do falecimento de Nichiren Daishonin


a) 12 de Outubro de 1282
b) 13 de Outubro de 1282
c) 12 de Outubro de 1286
d) 13 de Outubro de 1286

A2 NAM-MYOHO-RENGUE-KYO
1. O que significa Nam-myoho-rengue-kyo? Explique brevemente.
2. Qual a diferença entre um Buda e uma pessoa comum. Explique
brevemente.
3. O que é o Gohonzon? Explique brevemente.

A3 ATINGIR A BUDICIDADE NESTA VIDA


1. O que significa “Atingir a Budicidade Nesta Vida”? Explique brevemente.
2. O que significa “Os Desejos Terrenos são Iluminação”? Explique
brevemente.
3. O que significa “Felicidade Relativa” e “Felicidade Absoluta”? Explique
brevemente.
4. O que significa “Estabelecer o Ensino Correcto para a Paz na Terra”?
Explique brevemente.
5. Porque é que a Soka Gakkai é uma organização harmoniosa de
praticantes budistas que herdou o coração de Nichiren Daishonin? Explique
brevemente.

Secção B: PRINCÍPIOS BÁSICOS DO BUDISMO


1. Quais são os Dez Mundos? Enumere-os, por favor.

Secção C: A LINHAGEM E TRADIÇÃO DO HUMANISMO BUDISTA


1. Complete a seguinte frase
Shakyamuni ensinou, por isso, que o caminho mais nobre e admirável para
as pessoas viverem com verdadeira dignidade é o de despertarem para a
___________________ , que existe no _________________, e retornarem
ao seu estado de vida puro e original, que é livre de ____________ou
____________, que causam o sofrimento humano.

2. O que significa a compaixão postulada pelo budismo?

3. No Sutra do Lótus, Shakyamuni assinala que, ao expor o Sutra do Lótus,


pôde cumprir o desejo que tinha desde o passado remoto. A que desejo se
refere?
4. Qual foi o propósito central de todos os esforços de Nichiren Daishonin?

5. Em que consiste a prática da revolução humana? Explique brevemente.

6. Por favor, explique brevemente o que significa “a transmissão para oeste”


ou o “regresso do budismo para o oeste”.

7. Quais são os três tesouros? Enumere-os, por favor.

8. A que corresponde cada um dos três tesouros desde a perspectiva do


tempo sem princípio? Por favor, enumere-o.

Secção D: A HISTÓRIA DA SOKA GAKKAI

1. Descreva três concretizações significativas na vida de Tsunesaburo


Makiguchi.

2. Descreva três concretizações significativas na vida de Josei Toda

3. Descreva três concretizações significativas na vida de Daisaku Ikeda.

Secção E: LIBERDADE DE ESPÍRITO

1. Escreva um fragmento dos que são descritos no Sutra do Lótus e/ou em


algum escrito de Nichiren Daishonin, que descreva as perseguições que
serão provocadas por prelados corruptos.

2. Quais são os Três Poderosos Inimigos? Enumere-os.


3. Descreva cinco (5) acontecimentos ocorridos entres os anos 1990 e 1991
relacionados com o problema com o clero da Nichiren Shoshu, que estejam
descritos no texto deste material.

4. Escreva fragmentos dos escritos de Nichiren Daishonin que avisam e


advertem os inimigos do Buda, e que foram frequentemente citados e
comentados pelos presidentes Makiguchi e Toda.
SECÇÃO A1: VIDA DE NICHIREN DAISHONIN

Nichiren Daishonin (1222–82) dedicou a sua vida à propagação da Lei


Mística — Nam-myoho-rengue-kyo — motivado pela compaixão e por um
compromisso inabalável de erradicar o sofrimento e fazer com que todas as
pessoas pudessem revelar a sua Budicidade inata. Dificuldades e
perseguições recaíram sobre si durante toda a sua vida, por procurar abordar
e pôr um fim aos males que obstruíam a felicidade das pessoas.

1) Primeiros Anos – Infância e Juventude

Daishonin nasceu a 16 de Fevereiro de 1222, na aldeia costeira de Kataumi


na vila de Tojo, distrito de Nagasa, na província de Awa (parte da actual
cidade de Kamogawa na prefeitura de Chiba). Era filho de plebeus e a sua
família ganhava o seu sustento através da pesca.

Aos 12 anos, Nichiren iniciou a sua aprendizagem num templo perto de si


chamado Seicho-ji. Durante este período, ele fez um voto para se tornar na
pessoa mais sábia do Japão (“O Mestre Tripitaka Shan-Wu-Wei”, WND-1,
175). Nichiren procurou obter a sabedoria dos ensinos budistas para
ultrapassar os sofrimentos fundamentais da vida e da morte, e deste modo,
guiar os seus pais assim como todas as pessoas à felicidade genuína.

Com 16 anos, e em busca de um entendimento mais profundo dos ensinos


budistas, entrou formalmente para o sacerdócio em Seicho-ji, recebendo
instruções de Dozen-bo, um prelado sénior deste templo. Pouco tempo
depois, Daishonin escreve que alcançou “uma jóia de sabedoria tão brilhante
quanto a estrela da manhã” (‘O Mestre Tripitaka Shan-wu-wei’, WND-1, 176).
Isto pode ser interpretado como a sabedoria que advém da Lei Mística, que é
a essência do budismo.

Daishonin viajou depois para Kamakura, Kyoto, Nara e outros centros de


aprendizagem budista onde estudou cuidadosamente os sutras e
comentários, guardados em templos principais como Enryaku-ji no Monte
Hiei, a sede da escola Tendai, familiarizando-se com as doutrinas
fundamentais de cada escola. Ele confirmou que o Sutra do Lótus é o mais
importante de todos os sutras budistas e que, a Lei de Nam-myoho-rengue-
kyo, para a qual ele havia despertado, é a essência do sutra e fornece o meio
para libertar todas as pessoas do sofrimento, ao nível mais fundamental. Ele
também despertou para a sua missão de propagar Nam-myoho-rengue-kyo,
como o ensino para as pessoas dos Últimos Dias da Lei alcançarem a
iluminação.

[Nota: Os Últimos Dias da Lei referem-se a um tempo no qual os


ensinamentos do Buda Shakyamuni perdem o seu poder de conduzir as
pessoas à iluminação. Foi considerado geralmente como o período de dois
mil anos que se sucede à morte do Buda. No Japão, acreditava-se que este
tempo tinha começado no ano de 1052.]
A Declaração do Estabelecimento do Seu Ensino

Através dos seus estudos nos principais centros budistas, Daishonin


confirmou a sua missão de propagar a Lei Mística – Nam-myoho-rengue-kyo
– e os meios para fazê-lo. Ele embarcou na sua luta sabendo que iria
inevitavelmente encontrar grande oposição e perseguição.

No dia 28 de Abril de 1253, perto do meio-dia, no templo de Seicho-ji,


Nichiren refutou a doutrina Nembutsu e outros ensinos budistas do seu tempo
como erróneos e proclamou Nam-myoho-rengue-kyo como sendo o único
ensino budista correcto para conduzir todas as pessoas dos Últimos Dias da
Lei à iluminação. Este acontecimento ficou conhecido como a declaração do
estabelecimento do seu ensino. Ele tinha 32 anos. A partir deste momento,
adoptou o nome de Nichiren (literalmente, Lótus do Sol).

A denúncia das doutrinas do Nembutsu por parte de Daishonin, aquando da


declaração do seu ensino, enfureceu Tojo Kagenobu, o administrador local
(um oficial do governo de Kamakura com poderes legais e de cobrança de
impostos) e um crente fervoroso da escola Nembutsu. O mesmo planeou um
ataque armado contra Daishonin que, por pouco, conseguiu escapar.

Em seguida Daishonin dirigiu-se para Kamakura, a sede do governo militar.


Ali passou a morar numa pequena habitação em Nagoe (num local que ficou
conhecido mais tarde como Matsubagayatsu) e embarcou seriamente na
propagação do seu ensino. Ao mesmo tempo que refutava os ensinos
erróneos do Nembutsu e da escola Zen, que tinham adquirido grande
influência entre o povo de Kamakura, Daishonin propagava o ensino de Nam-
myoho-rengue-kyo.

Foi durante este período inicial de propagação que discípulos proeminentes


como Toki Jonin, Shijo Kingo (Shijo Yorimoto) e Ikegami Munenaka se
converteram ao seu ensino.

2) A apresentação do Tratado “Sobre Estabelecer o Ensino Correcto


para a Paz na Terra” e Encontrar Perseguições

Na altura em que Daishonin iniciou os seus esforços de propagação em


Kamakura, o Japão passava por uma série de desastres naturais e
calamidades que incluíam condições atmosféricas extremas, fortes
terramotos, fome, incêndios e epidemias. O terramoto devastador da era de
Shoka em particular, que atingiu a região de Kamakura em Agosto de 1257,
destruiu muitas casas e edifícios importantes em Kamakura.

Este desastre levou a que Daishonin escrevesse o tratado “Sobre


Estabelecer o Ensino Correcto para a Paz na Terra” (WND-1, 6-26) para
clarificar a causa fundamental do sofrimento das pessoas e apresentar os
meios pelos quais as pessoas poderiam erradicar esse mesmo sofrimento. A
16 de Julho de 1260, ele enviou o seu tratado a Hojo Tokiyori, o regente
reformado do governo militar de Kamakura que ainda era efectivamente o
líder mais poderoso do país. Esta foi a primeira vez que Daishonin censurou
as autoridades. (Este episódio é conhecido como o seu primeiro protesto, ou
advertência, contra as autoridades governamentais.)

Neste tratado, ele declarou que a causa destas calamidades sucessivas


assentava na calúnia por parte das pessoas em relação ao ensino correcto
do budismo e na sua confiança em doutrinas erróneas. A causa mais séria,
afirmou Daishonin, era o ensino Nembutsu, popularizado no Japão pelo
prelado Honen (1133 – 1212).

Daishonin incitou as pessoas a pararem de confiar em tais ensinos erróneos


e a abraçar sem demora a fé no ensino correcto do budismo, pois isto iria
assegurar a concretização de uma terra pacífica e próspera. Daishonin
avisou que a crença continuada em ensinos erróneos resultaria no confronto
inevitável do país com o conflito interno e com a invasão estrangeira – duas
das “três calamidades e os sete desastres” ainda por ocorrer.

[Nota: As “três calamidades e os sete desastres” são descritos em vários


sutras e diferem ligeiramente consoante a fonte. As três calamidades incluem
os preços elevados dos cereais ou a inflação (em particular a causada pela
fome), a guerra e as epidemias. Os sete desastres incluem desastres
naturais ou climáticos, tal como alterações extraordinárias das estrelas e dos
planetas e tempestades fora de época.]

Mesmo assim, as autoridades governantes ignoraram o protesto sincero de


Daishonin, e aprovaram tacitamente que os seguidores do Nembutsu
começassem a conspirar para perseguir Daishonin.

Numa noite, um pouco depois da apresentação do seu tratado “Sobre


Estabelecer o Ensino Correcto para a Paz na Terra”, a habitação de
Daishonin foi invadida por crentes do Nembutsu com o intuito de o assassinar
(isto é conhecido como a Perseguição de Matsubagayatsu). No entanto,
Daishonin escapou ileso e, depois deste incidente, deixou Kamakura por um
curto período de tempo.

No ano seguinte, a 12 de Maio de 1261, já de volta a Kamakura, Daishonin


foi preso pelas autoridades e condenado ao exílio em Ito, na província de Izu
(este acontecimento é conhecido como o Exílio de Izu). Após ter sido
absolvido do seu exílio em Fevereiro de 1263, Daishonin regressa a
Kamakura.

Em 1264, regressou à sua província natal em Awa, para visitar a sua mãe
que se encontrava doente. No dia 11 de Novembro desse mesmo ano,
enquanto Daishonin e um grupo dos seus seguidores se dirigiam para a
residência de outro seguidor de nome Kudo, em Amatsu (também na
província de Awa), sofreram uma emboscada, num local chamado
Matsubara, na aldeia de Tojo, por um bando de homens armados sob a
ordem de Tojo Kagenobu, um administrador local. Durante este ataque,
Daishonin sofreu um ferimento na cabeça e partiu a sua mão esquerda. Um
dos seus seguidores foi morto no local. (Esta emboscada é conhecida como
a Perseguição de Komatsubara).
A Perseguição de Tatsunokuchi e “Descartar o Provisório e Revelar o
Verdadeiro”

Em 1268, uma carta oficial do império Mongol chegou a Kamakura exigindo a


subordinação do Japão e a ameaçar um ataque militar caso esta exigência
fosse rejeitada. Com este acontecimento, o perigo de que a calamidade de
uma invasão estrangeira sucedesse sobre a nação, tornou-se muito real.

Isto impulsionou Daishonin a escrever onze cartas de protesto dirigidas a


altos funcionários do governo, incluindo o regente Hojo Tokimune, e aos
líderes dos principais templos budistas em Kamakura. Nestas cartas, ele
afirmou que o perigo iminente de uma invasão havia sido previsto no seu
tratado “Sobre Estabelecer o Ensino Correcto para a Paz na Terra”, e
expressou a esperança de que os prelados das várias escolas budistas se
reunissem com ele num debate público oficial.

Nem os líderes governamentais nem as instituições religiosas acolheram o


apelo de Daishonin. Em vez disso, considerando a comunidade de crentes de
Daishonin como uma ameaça à estrutura de poder existente, o governo
começou a tomar medidas repressivas contra a mesma.

Por esta altura, os prelados da escola Verdadeira Palavra gozavam de uma


influência crescente pois haviam sido responsabilizados com a missão de
liderar orações para a derrota das forças Mongóis. Ryokan (Ninsho) do
templo de Gokuraku-ji em Kamakura, prelado da escola dos Preceitos da
Verdadeira Palavra também se tornava cada vez mais influente devido às
suas ligações com figuras poderosas do governo.

Destemidamente, Daishonin começou a refutar os erros das escolas budistas


oficiais, que estavam a exercer uma influência negativa sobre as pessoas e a
sociedade como um todo.

No Verão de 1271, o governo ordenou que Ryokan orasse pela chuva, em


resposta a uma seca prolongada. Tendo tomado conhecimento disto,
Daishonin fez uma proposta a Ryokan: se o mesmo fosse bem-sucedido e
conseguisse produzir chuva no espaço de sete dias, Daishonin tornar-se-ia
seu discípulo; se no entanto este falhasse, então Ryokan deveria depositar a
sua fé no Sutra do Lótus.

Quando as suas orações não produziram chuva ao fim de sete dias, Ryokan
pediu uma extensão de mais sete dias. Novamente a chuva não caiu, em vez
disso levantaram-se ventos ferozes. Ryokan havia claramente perdido este
desafio.

Em vez de honestamente reconhecer a sua derrota, Ryokan tornou-se ainda


mais hostil em relação a Daishonin. Ele planeou levantar acusações contra
Daishonin, com a apresentação de uma queixa junto do governo, no nome de
um prelado Nembutsu com quem tinha laços estreitos. Ryokan também fez
uso da sua influência junto de funcionários de topo no governo, assim como
das suas esposas, para que Daishonin fosse perseguido pelas autoridades.
Embora Ryokan fosse amplamente respeitado por entre a população como
um prelado devoto e virtuoso, ele apreciava as armadilhas do poder e do
privilégio e conspirava com oficiais do governo em serviço das suas próprias
necessidades.

No dia 10 de Setembro do mesmo ano (1271) Daishonin foi convocado pelo


governo e interrogado por Hei no Saemon-no-jo Yoritsuna (também
conhecido como Taira no Yoritsuna), o vice-chefe do Gabinete de Assuntos
Policiais e Militares (sendo que o regente era o próprio chefe). Daishonin
advertiu-o e salientou a atitude apropriada para os governantes da nação
baseada no ensino correcto do budismo.

Dois dias mais tarde, a 12 de Setembro, Hei no Saemon-no-jo liderou um


grupo de soldados armados e invadiu a habitação de Daishonin, e prendeu-o,
tratando-o como se ele fosse um traidor. Nessa ocasião, Daishonin protestou
fortemente contra Hei no Saemon-no-jo, avisando-o que se o mesmo o
derrubasse – o ‘pilar do Japão’ – as calamidades do conflito interno e invasão
estrangeira iriam descer sobre a terra. (Os eventos de 10 e 12 de Setembro
marcaram o seu segundo protesto contra as autoridades governamentais).

Mais tarde nessa noite, Daishonin foi subitamente levado para a praia de
Tatsunokuchi na periferia de Kamakura, por soldados armados sob as ordens
de Hei no Saemon-no-jo e outros, que haviam conspirado para que Daishonin
fosse aí decapitado, em segredo. No entanto, no momento em que o
carrasco ergueu a sua espada para o golpe final, uma esfera de luz brilhante
irrompeu pelo céu, no sentido noroeste, oriunda da direcção da ilha vizinha
de Enoshima. Os soldados ficaram aterrorizados, pelo que a tentativa de
matar Daishonin teve que ser abandonada. (Este episódio é conhecido como
a Perseguição de Tatsunokuchi.)

Esta perseguição teve um significado extremamente importante para


Daishonin. Ao triunfar sobre a Perseguição de Tatsunokuchi, ele descartou o
seu estatuto provisório como uma pessoa comum e não iluminada,
sobrecarregada pelo karma e sofrimento, e, permanecendo um ser humano
comum, revelou a sua identidade verdadeira e original como Buda, possuindo
sabedoria e compaixão infinitas (o Buda do tempo sem princípio ou o Buda
eterno). A isto se chama “descartar o provisório e revelar o verdadeiro”. (No
capítulo 4 encontra-se uma explicação mais detalhada sobre este conceito.)

A partir desse momento, o comportamento de Daishonin foi o do Buda dos


Últimos Dias da Lei, levando-o a inscrever o Gohonzon para que todas as
pessoas o pudessem reverenciar e abraçar como o objecto fundamental de
devoção.

O Exílio de Sado

Após a Perseguição de Tatsunokuchi, enquanto o governo deliberava sobre o


seu destino, Daishonin ficou detido durante quase um mês na residência de
Homma Shigetsura (o vice-governador de Sado), em Echi, na região de
Sagami (parte da que é, actualmente, a cidade de Atsugi, na província de
Kanagawa). Durante esse período, os seguidores de Daishonin em
Kamakura foram sujeitos a vários tipos de perseguições, incluindo acusações
injustas que os apontavam como autores de incêndios, assassinatos e outros
crimes.

Por fim, Daishonin foi condenado ao exílio na Ilha de Sado (parte da que é
actualmente a província de Niigata). Daishonin saiu de Echi no dia 10 de
Outubro e chegou ao cemitério de Tsukahara, em Sado, a 1 de Novembro.
Aí, atribuíram-lhe como domicílio um pequeno santuário em ruínas
denominado Sammai-do, local outrora utilizado para a realização de rituais
fúnebres. Daishonin enfrentou condições terrivelmente adversas. O frio em
Sado era implacável e Daishonin não tinha alimentos suficientes nem roupa
quente. Além disso, estava rodeado de inimigos, seguidores da Escola
Nembutsu que planeavam assassiná-lo.

Os seguidores de Daishonin em Kamakura continuavam também a ser


perseguidos. Alguns chegaram mesmo a ser presos, banidos, ou a ter as
suas terras confiscadas. A maior parte dos seguidores que se mantiveram
começaram a alimentar dúvidas e renunciaram à sua fé, por medo ou para se
protegerem a si próprios.

Nos dias 16 e 17 de Janeiro do ano seguinte, em 1272, várias centenas de


monges budistas da Ilha de Sado e de províncias continentais vizinhas
reuniram-se em Tsukahara com o intuito de assassinar Daishonin. Homma
Shigetsura travou-os, propondo que, ao invés de matar Daisonin, tentassem
travar um debate religioso com ele. Quando esse debate aconteceu, Nichiren
refutou inteiramente todos os ensinos erróneos das várias escolas budistas
da sua época. (Este episódio ficou conhecido como o Debate de Tsukahara).

Em Fevereiro, uma facção do então regente Clã Hojo rebelou-se, e


desencadearam-se crises em Kamakura e Kyoto, sedes do governo militar e
da capital do império, respectivamente. (Este evento ficou conhecido como
Revolta de Fevereiro ou a Rebelião de Hojo Tokisuke). Cumpriam-se as
previsões de Daishonin de conflitos internos após exactamente 150 dias de
as ter declarado em protesto junto de Hei no Saemon-no-jo na altura da
Perseguição de Tatsunokuchi.

No início do Verão desse ano, Daishonin foi transferido de Tsukahara para


Ichinosawa, também em Sado, mas a sua vida continuou a ser ameaçada
pelos discípulos enfurecidos do Nembutsu.

Nikko Shonin, que veio mais tarde a tornar-se sucessor de Daishonin,


permaneceu a seu lado durante o exílio em Sado, seguindo-o fielmente,
servindo-o e vivendo com ele as mesmas provações. Daishonin foi
progressivamente ganhando seguidores durante o seu exílio em Sado,
incluindo por exemplo Abutsu-bo e sua mulher, a monja laica Sennichi.

Nichiren produziu muitos escritos importantes durante o seu exílio em Sado.


Particularmente relevantes são “A Abertura dos Olhos” e “O Objecto de
Devoção para Observar a Vida”.
“A Abertura dos Olhos”, escrita em Fevereiro de 1272, explicita que
Daishonin é o devoto do Sutra de Lótus dos Últimos Dias da Lei que pratica
exactamente de acordo com os ensinos do Sutra do Lótus. Em última
instância, revela a sua identidade como o Buda dos Últimos Dias da Lei,
dotado das três virtudes de soberano, professor e pai, para conduzir todas as
pessoas desta era à iluminação. (“A Abertura dos Olhos” é mencionada como
“o ensino que revela o objecto de devoção em termos da Pessoa”).

“O Objecto de Devoção para Observar a Vida”, escrito em Abril de 1273,


apresenta o objecto de devoção de Nam-myoho-rengue-kyo, que será
abraçado por todas as pessoas nos Últimos Dias da Lei, como veículo para
atingir Budicidade. (É referido como “o ensino que revela o objecto de
devoção em termos da Lei”).

Em Fevereiro de 1274, Daishonin foi absolvido e, em Março, partiu de Sado e


regressou a Kamakura.

Em Abril, no seu encontro com Saemon-no-jo, Daishonin debateu com ele


vigorosamente, denunciando as acções do governo, que tinham ordenado
que monges orassem para a derrota dos mongóis, baseados na Escola
Verdadeira Palavra e noutros ensinos erróneos do budismo. E, respondendo
a uma pergunta directa de Hei no Saemon-no-jo, Nichiren anunciou que a
invasão Mongol aconteceria seguramente ainda antes do final daquele ano.
(Este acontecimento assinala o seu terceiro protesto contra as autoridades
governamentais).

Tal como Daishonin previra, uma enorme frota Mongol atacou Kyushu, a mais
meridional das quatro principais ilhas japonesas, em Outubro de 1274. (Esta
é apontada como a primeira invasão Mongol).

Com este evento, as duas previsões sobre conflitos internos e invasão


estrangeira que Daishonin fizera no seu tratado “Sobre Estabelecer o Ensino
Correcto para a Paz na Terra” revelaram ser verdadeiras.

Era a terceira vez que Daishonin debatia directamente com as autoridades


governamentais, prevendo as crises que viriam a assolar o país. Declarando
que as suas previsões se tinham concretizado, Daishonin escreveu: “Já por
três vezes até agora me destaquei por ter tal conhecimento” (“A Selecção do
Tempo”, WND-1, 579).

3) Fixando Residência no Monte Minobu

Quando o governo rejeitou o seu último protesto, Daishonin decidiu


abandonar Kamakura e estabelecer-se na vila de Hakii, na encosta do Monte
Minobu, na região de Kai (actual província de Yamanashi). O administrador
da região era Hakii Sanenaga, que se tinha tornado seguidor de Daishonin
pelos esforços de propagação de Nikko Shonin.

Daishonin mudou-se para o Monte Minobu em Maio de 1274. Contudo, tal


mudança não significou de forma alguma um afastamento do mundo.
No Monte Minobu, Nichiren redigiu alguns dos seus escritos mais relevantes,
incluindo “A Selecção do Tempo” e “Sobre Retribuir as Dívidas de Gratidão”.
Nestes textos revelou vários ensinamentos importantes, em particular as
“Três Grandes Leis Secretas” (o objecto de devoção do ensino essencial, o
santuário do ensino essencial e o daimoku do ensino essencial).

Através de palestras sobre o Sutra do Lótus, Daishonin dedicou-se a forjar


discípulos que levariam a cabo kosen-rufu no futuro.

Durante este período escreveu também várias cartas aos seus seguidores
laicos por todo o país, encorajando-os e instruindo-os pacientemente para
que perseverassem com fé forte, vencessem nas suas vidas e
manifestassem o estado de Budicidade.

4) A Perseguição de Atsuhara e o Propósito do Aparecimento de


Daishonin neste Mundo

Após a mudança de Daishonin para o Monte Minobu, Nikko Shonin assumiu


a liderança na propagação dos ensinos de Daishonin no Distrito de Fuji, na
Província de Suruga (actual centro do Município de Shizuoka), conseguindo
convencer vários prelados da Tendai e seus seguidores a abandonar as suas
velhas filiações religiosas e começar a praticar os ensinos de Daishonin.

Isto provocou assédio e perseguição por parte dos templos Tendai locais, e
as pessoas que abraçaram o ensino de Daishonin foram alvo de ameaças.

A 21 de Setembro de 1279, vinte agricultores seguidores de Daishonin foram


presos sob falsas acusações em Atsuhara, uma aldeia na província de
Suruga, e levados para Kamakura. Na residência de Hei no Saemon-no-jo
foram submetidos a terríveis interrogatórios, comparáveis a tortura. Embora
pressionados a abandonar a sua fé no Sutra do Lótus, todos eles
permaneceram fiéis à sua crença.

Três dos vinte seguidores que foram presos – os irmãos Jinshiro, Yagoru e
Yarokuro – acabaram por ser executados, enquanto os restantes dezassete
foram banidos das suas terras. (Esta série de eventos ficou conhecida como
Perseguição de Atsuhara).

O exemplo destes agricultores que perseveraram na fé sem poupar as suas


vidas convenceu Daishonin de que pessoas comuns, humildes, sem qualquer
estatuto social tinham desenvolvido uma fé suficientemente forte para
enfrentar grandes perseguições.
Em “Sobre as Perseguições que Recaem sobre o Sábio”, datada de 1 de
Outubro de 1279, vinte e sete anos após ter proclamado o seu ensino,
Daishonin faz referência ao propósito do seu aparecimento neste mundo (ver
WND-1, 996), dizendo que no 27º ano desde o estabelecimento do seu
ensino, tinha finalmente “cumprido o propósito do seu advento [no mundo]”.

Quando era ainda uma criança, Daishonin já tinha feito o voto de se tornar
uma pessoa de sabedoria que compreendesse a essência do budismo,
libertando todas as pessoas do seu sofrimento ao nível mais profundo. A
concretização desse voto foi o propósito que guiou a sua vida. Expondo o
ensino de Nam-myoho-rengue-kyo, a Lei fundamental para a iluminação de
todas as pessoas, e revelando as Três Grandes Leis Secretas – o objecto de
devoção do ensino essencial, o santuário do ensino essencial e o daimoku do
ensino essencial – Nichiren estabeleceu as fundações para kosen-rufu que
iriam perdurar para todo o sempre.

Durante a Perseguição de Atsuhara, pessoas comuns que abraçaram a fé em


Nam-myoho-rengue-kyo, que engloba as Três Grandes Leis Secretas,
dedicaram-se a kosen-rufu sem poupar as suas vidas. O facto de tais
pessoas terem surgido demonstrou que o budismo de Nichiren Daishonin era
um ensino que viria a ser abraçado por pessoas comuns, um ensino para a
iluminação de toda a Humanidade.

Daishonin cumpriu, assim, o propósito do seu aparecimento neste mundo. O


que viria a chamar-se Gohonzon do segundo ano da era Koan (1279) foi
inscrito também durante este período.

Na época da Perseguição de Atsuhara, os seguidores de Daishonin


empenharam-se na fé com o espírito de união de “muitos em corpo, um em
propósito”. O seu jovem discípulo Nanjo Tokimitsu, administrador de uma
aldeia vizinha de Atsuhara, lutou incansavelmente para a protecção dos seus
companheiros de fé.

5) A Morte de Daishonin e a Sucessão de Nikko Shonin

No dia 8 de Setembro de 1282, com a saúde em declínio, Daishonin deixou


Minobu, lugar onde vivera durante nove anos. Partiu, por recomendação dos
seus discípulos, com a intenção de se deslocar às termas terapêuticas da
Província de Hitachi (parte dos actuais municípios de Ibaraki e Fukushima).
Quando chegou a Ikegami, à casa do seu seguidor Ikegami Munenaka (o
mais velho dos irmãos Ikegami), na Província de Musashi (actualmente Bairro
Ota, em Tóquio), começou a tomar providências para o período após a sua
morte.

A 25 de Setembro, apesar de se encontrar gravemente doente, consta que


deu uma palestra aos seus seguidores a partir do tratado “Sobre Estabelecer
o Ensino Correcto para a Paz na Terra”.

A 13 de Outubro de 1282, com 61 anos, Daishonin faleceu na casa de


Ikegami Munenaka, dando por terminada a sua nobre vida como devoto do
Sutra de Lótus.

Após a morte de Daishonin, apenas Nikko Shonin deu continuidade ao


espírito destemido do seu mestre e às suas acções por kosen-rufu.
Consciente de que era o sucessor de Daishonin, Nikko Shonin continuou a
insurgir-se contra a calúnia à Lei, protestando perante as autoridades
governamentais. Nikko Shonin preservou cada um dos escritos de Daishonin,
referindo-se a eles com a honorífica designação de Gosho (escritos
honoráveis), e encorajou todos os discípulos a lê-los e a estudá-los como
escrituras sagradas para os Últimos Dias da Lei. Nikko Shonin treinou
também vários excelentes discípulos, que se empenharam na prática e no
estudo do budismo.

Fonte: Os Princípios Básicos do Budismo de Nichiren Daishonin para a Nova


Era de Kosen-Rufu Mundial. Capítulo 1: O Budismo de Nichiren Daishonin (1)
- A Vida e Ensinamentos de Nichiren Daishonin.
A2 NAM-MYOHO-RENGUE-KYO

Nam-myoho-rengue-kyo é a essência do budismo e a Lei fundamental


percepcionada por Nichiren Daishonin para resolver os sofrimentos de toda a
humanidade. Aqui, iremos analisar alguns dos aspectos importantes de Nam-
myoho-rengue-kyo:

A Lei Fundamental que Permeia o Universo e a Vida

Nam-myoho-rengue-kyo é a Lei fundamental que permeia o universo inteiro e


toda a vida.
Shakyamuni, o fundador do budismo, encarava os sofrimentos de
todas as pessoas como o seu próprio, e procurava uma forma de resolver
estes sofrimentos. No processo, Shakyamuni despertou para a verdade de
que a eterna Lei fundamental do universo e da vida, que permeia tudo, existia
dentro do seu próprio ser. Esta profunda compreensão fez com que passasse
a ser conhecido como o Buda, ou o “Iluminado”. Depois, com sabedoria e
compaixão, expôs numerosos ensinamentos que foram posteriormente
compilados em sutras budistas. Entre eles, o Sutra do Lótus ensina a
verdadeira essência da iluminação do Buda.
Nichiren Daishonin identificou esta Lei, para a qual Shakyamuni
despertara – a Lei que consegue dissipar o sofrimento humano a um nível
profundo e que abre o caminho para a felicidade genuína – como Nam-
myoho-rengue-kyo.

A Lei Essencial para Atingir a Budicidade

Budas são aqueles que incorporaram a Lei nas suas vidas, ultrapassaram
todo o sofrimento, e estabeleceram um estado interior de felicidade absoluta.
A Lei de Nam-myoho-rengue-kyo é o princípio essencial, ou o meio,
para atingir a Budicidade.

A Eterna Lei Inerente à Vida de Todas as Pessoas

Os Budas despertaram para a verdade de que a Lei existe, não só nas suas
vidas, mas também nas vidas de todas as pessoas. Eles compreendem que
esta Lei, que tudo permeia, transcende as fronteiras da vida e da morte e
nunca poderá perder-se ou ser destruída.
A Lei de Nam-myoho-rengue-kyo é universal, inerente a todas as
pessoas; é também eterna, permanecendo ao longo das três existências do
passado, presente e futuro.

O Profundo Significado Reflectido no nome Nam-myoho-rengue-kyo

O profundo significado da Lei fundamental está reflectido no seu nome, Nam-


myoho-rengue-kyo.
Myoho-rengue-kyo, é o título completo do Sutra do Lótus em japonês,
e que se traduz literalmente como “O Sutra do Lótus da Maravilhosa Lei
(Mística)”.
Porque a Lei exposta no Sutra do Lótus é difícil de apreender e
compreender, é chamada de Lei Mística (myoho).
O Lótus (rengue) é usado como uma metáfora para descrever as
características distintas da Lei Mística.
Apesar de crescer em água lamacenta, a flor de lótus permanece
imaculada pelo seu ambiente, dando origem a flores puras e fragrantes. Isto
evoca imagens daqueles que praticam e têm fé na Lei Mística. Apesar de
viverem no mundo real repleto de sofrimento, eles permanecem puros, no
pensamento e na acção, ensinando outras pessoas e guiando-as para a
iluminação.
Outra característica da flor de lótus, ao contrário de outras plantas, é
conter a vagem da semente (o fruto do lótus) dentro dos botões da flor;
assim, flor e fruto surgem e crescem ao mesmo tempo. A flor (a causa) e o
fruto (o efeito) existem juntos, simultaneamente. Este exemplo é também
usado para ilustrar que o estado da Budicidade, apesar de imperceptível,
existe até nas vidas das pessoas comuns que ainda não manifestaram este
estado de vida, e também que, mesmo depois de uma pessoa se tornar num
Buda, nunca perde os estados de vida que caracterizam uma pessoa comum.
Kyo, que significa “sutra”, indica que o Sutra do Lótus (Myoho-rengue-
kyo) contém a verdade eterna – A Lei Mística – e que as pessoas devem
reverenciar e depositar a sua fé nela.
Nam, ou “namu”, é a tradução fonética dos caracteres chineses da
palavra em sânscrito “namas”, que significa “saudação” ou “reverência”. Este
termo também foi traduzido, usando o caracter chinês para “devotar a vida”
(kimyo). Devotar a vida, neste caso, significa dedicar-se de corpo e mente à
Lei e esforçar-se por praticá-la e incorporá-la em todo o seu ser.
Nam-myoho-rengue-kyo é o coração e a essência do Buda,
expressado na acção sábia e compassiva de conduzir todas as pessoas à
iluminação.

O Estado de Vida Iluminado de Nichiren Daishonin

Apesar de o Sutra do Lótus ensinar a Lei fundamental do Universo e da vida,


não revela a natureza ou o nome exacto da Lei.
Nichiren Daishonin despertou para a verdade que a Lei exposta no
Sutra do Lótus existia na sua própria vida, e revelou essa Lei como sendo
Nam-myoho-rengue-kyo.
Por outras palavras, Nam-myoho-rengue-kyo não é simplesmente
“Myoho-rengue-kyo”, o título do Sutra do Lótus, com o prefixo “nam”, mas o
nome da Lei em si.
Ao revelar a Lei como sendo Nam-myoho-rengue-kyo, Daishonin abriu
o caminho de forma concreta para libertar fundamentalmente as pessoas do
sofrimento e da ilusão que surgem da ignorância sobre a verdadeira natureza
das suas vidas, ajudando-as a construir uma felicidade inabalável.
Esta é a razão pela qual reverenciamos Nichiren Daishonin como o
Buda dos Últimos Dias da Lei, uma época plena de confusão e sofrimento.
Nam-myoho-rengue-kyo é o estado iluminado da Budicidade ou a
verdadeira identidade de Nichiren Daishonin, que incorporou no seu ser a Lei
que permeia o Universo e toda a existência.
Pessoas Comuns São Elas Próprias a Lei Mística

O estado de vida da Budicidade é também inerente às vidas das pessoas


comuns não-iluminadas – a cada pessoa. Todas as pessoas são, inerente e
originalmente, Nam-myoho-rengue-kyo.
No entanto, enquanto ignorarem esta verdade, as pessoas comuns
são incapazes de demonstrar o poder e funções da Lei de Nam-myoho-
rengue-kyo que existem dentro delas. Despertar para esta verdade é o
estado de vida de um Buda; duvidar ou permanecer ignorante sobre esta
verdade é o estado de vida de alguém não-iluminado. Quando temos fé e
praticamos Nam-myoho-rengue-kyo, o poder e funções da Lei Mística são
activados e expressam-se nas nossas vidas e, desta forma, manifestamos o
estado de vida da Budicidade.

O Objecto de Devoção para a Prática, Revelado na Forma de uma


Mandala

Nichiren Daishonin representou a sua própria Budicidade ou estado de vida


iluminado sob forma de uma mandala. E fez dela o objecto de devoção
(Gohonzon) para a nossa prática budista, para que nós, pessoas comuns,
pudéssemos manifestar Nam-myoho-rengue-kyo nas nossas vidas e atingir a
Budicidade, tal como ele.
Daishonin escreve: “Nunca procure este Gohonzon [o objecto de
devoção] fora de si própria. O Gohonzon existe apenas na nossa carne
mortal de pessoas comuns, que abraçam o Sutra do Lótus e invocam Nam-
myoho-rengue-kyo” (“O Verdadeiro Aspecto do Gohonzon,” WND-1,832).
É importante reverenciarmos Nam-myoho-rengue-kyo – a Lei
Fundamental e o estado de vida de Budicidade incorporados no Gohonzon –
acreditando e aceitando que são inerentes às nossas vidas. Ao fazê-lo,
podemos aceder à Lei Mística que reside dentro de nós e manifestar a nossa
Budicidade inerente.
N’Os Registos dos Ensinos Transmitidos Oralmente, Daishonin afirma:
“Grande alegria [é aquilo] que uma pessoa experiencia quando compreende
pela primeira vez que a sua vida foi sempre, desde o princípio, um Buda.
Nam-myoho-rengue-kyo é a maior de todas as alegrias”. (OTT,211-12).
Quando compreendemos profundamente que somos inerentemente
Budas e Nam-myoho-rengue-kyo, podemos manifestar nas nossas vidas um
maravilhoso benefício e boa fortuna ilimitada. Não existe maior alegria na
vida do que esta.
Quando triunfamos sobre dificuldades através da nossa prática da Lei
Mística, iremos levar vidas de alegria insuperável, ao mesmo tempo que
desenvolvemos um estado de felicidade eternamente indestrutível.
A3 ATINGIR A BUDICIDADE NESTA VIDA E KOSEN-RUFU

1) Atingir a Budicidade nesta Vida

O propósito fundamental da nossa fé e prática budistas é atingir o estado de


vida da Budicidade.
Ao abraçar a fé no Gohonzon e desafiar sinceramente a prática
budista para si e para os outros, qualquer pessoa pode atingir o estado de
Budicidade nesta existência. Este é o princípio de “atingir a Budicidade nesta
vida”.
“Prática para si” significa levar a cabo a prática budista para nosso
próprio benefício. “Prática para os outros” significa ensinar e guiar outros à
prática budista para que, também eles, possam ter benefício.
Especificamente, “prática para si e para os outros” significa fazer Gongyo e
invocar Daimoku, Nam-myoho-rengue-kyo, enquanto procuramos chegar aos
outros para lhes falar sobre o budismo, ensinando-os e guiando-os e, como
tal, propagando a Lei Mística.
Nichiren Daishonin escreveu: “Se os devotos do Sutra do Lótus
levarem a cabo a prática religiosa como o sutra indica, então cada um deles,
sem excepção, irá seguramente atingir a Budicidade na sua existência
presente. Citando uma analogia, se plantarmos um campo na Primavera e no
Verão, então, mais cedo ou mais tarde, iremos certamente obter uma colheita
durante esse ano” (“As Doutrinas dos Três Mil Domínios num Único Momento
de Vida”, WND-2, 88).
Atingir a Budicidade, ou tornar-se num Buda, não significa tornar-se
numa espécie de ser humano especial, completamente diferente do que
somos agora, nem significa renascer na nossa próxima existência numa terra
pura totalmente afastada deste mundo.
Daishonin explica da seguinte forma o que significa “atingir”, em atingir
a Budicidade: “’Atingir’ significa abrir ou revelar." (OTT, 126). Portanto, atingir
a Budicidade significa simplesmente revelar a nossa Budicidade inerente.

Como pessoas comuns podemos revelar este estado de vida


iluminado tal como somos. Isto está expresso nos conceitos budistas do
“atingir da Budicidade pelas pessoas comuns" e “atingir a Budicidade na
nossa forma presente”.
Atingir a Budicidade não significa ir para um outro mundo. Significa,
antes, estabelecer um estado de felicidade absoluta e indestrutível aqui, no
mundo real.
Daishonin afirma que “acabamos por perceber e ver que cada coisa - a
cereja, a ameixa, o pêssego, o damasco - possui, na sua própria identidade e
sem ter de passar por qualquer mudança, os três corpos eternamente
dotados [do Buda]” 2 (OTT, 200). Como esta passagem sugere, atingir a
Budicidade significa viver de uma forma em que tiramos o máximo das

2
Os três corpos do Buda referem-se ao corpo de Dharma, ao corpo de recompensa e ao corpo
manifesto. O corpo de Dharma é a verdade fundamental, ou Lei, para a qual o Buda é iluminado. O
corpo de recompense é a sabedoria para compreender a Lei. E o corpo manifesto são as acções
compassivas levadas a cabo pelo Buda para guiar as pessoas à felicidade.
nossas qualidades únicas inerentes e desenvolvemos ao máximo o nosso
potencial.

Por outras palavras, ao atingir a Budicidade, as nossas vidas são


purificadas, permitindo-nos dar expressão total às suas características
inerentes; ganhamos um forte estado de vida interior que não é abalado por
nenhuma dificuldade.
Atingir a Budicidade não é o alcançar de um objectivo final. O estado
de Budicidade é caracterizado por uma luta constante, baseada na fé na Lei
Mística, para eliminar o mal e gerar o bem. Aqueles que lutam
incansavelmente por kosen-rufu são Budas.

“O Atingir da Budicidade pelas Pessoas Comuns” e “Atingir a


Budicidade na Nossa Forma Presente”

As expressões “pessoa comum” ou “comum mortal” aparecem


frequentemente em sutras e textos budistas, indicando uma pessoa não-
iluminada. O Sutra do Lótus ensina que as pessoas comuns possuem
inerentemente o estado de vida de Budicidade e que conseguem revelar esse
estado. Isto é, é-nos possível manifestar esse nobre estado de vida dentro de
nós enquanto pessoas comuns. Isto está expresso em termos budistas como
“as pessoas comuns são idênticas ao estado mais elevado do ser” (OTT, 22)
e “uma pessoa comum é um Buda” (“O Exílio em Izu”, WND-1, 36).

Atingir a Budicidade é um processo de manifestação do estado de vida


de um Buda, que está originalmente presente no interior de todas as pessoas
(o mundo inerente da Budicidade). Um Buda não é, portanto, um ser especial
separado ou superior aos seres humanos. Daishonin ensinou que atingir a
Budicidade é revelar a mais elevada humanidade – ou seja, a Budicidade –
nas nossas vidas como pessoas comuns.
A isto chama-se “atingir a Budicidade na nossa forma presente”. Isto
significa que as pessoas podem alcançar o estado de vida de um Buda tal
como são, sem terem de renascer ou de mudar a sua forma presente de
pessoas comuns.
Embora haja outros sutras do budismo Mahayana, além do Sutra do
Lótus, que ensinam sobre o atingir da Budicidade, todos eles exigem, pelo
menos, duas condições:

A primeira é que a pessoa não pertença a nenhum dos seguintes


grupos, que foram considerados incapazes de atingir a Budicidade:
praticantes dos dois veículos (ouvintes-da-voz e os despertos-para-a-causa),
pessoas más e mulheres.
Os praticantes dos dois veículos acreditavam que era impossível para
eles alcançar o elevado estado de vida do Buda, por isso contentavam-se em
tentar alcançar apenas o estado de arhat – o estado mais elevado de
consciência nos ensinos para os ouvintes-da-voz. Estes praticantes
aspiravam à anulação do corpo e da mente ao alcançar este estado, no qual
todos os desejos terrenos seriam completamente extintos, dando por
terminado o ciclo de renascimento neste mundo. Muitos sutras do budismo
Mahayana condenavam severamente estes praticantes a não conseguirem
atingir a Budicidade.
Estes sutras ensinavam também que, antes de poderem atingir a
Budicidade, as pessoas más teriam primeiro de renascer como pessoas boas
e as mulheres teriam de renascer como homens. Nem as pessoas más nem
as mulheres eram consideradas capazes de atingir a Budicidade tal como
eram. Embora esses sutras ensinassem sobre a possibilidade de alcançar a
Budicidade, apenas um número limitado de pessoas possuía os requisitos
necessários para fazê-lo realmente.

A segunda condição para atingir a Budicidade, nos sutras do budismo


Mahayana além do Sutra do Lótus, era uma pessoa dedicar-se à prática
budista durante repetidos ciclos de nascimento e morte (conhecidos por
“incontáveis kalpas de prática”) de forma a poder libertar-se do estado de
vida de uma pessoa comum, não iluminada, e atingir o estado de vida de um
Buda.

Atingir a Budicidade nesta Vida enquanto Pessoa Comum

Por contraponto, o Sutra do Lótus ensina que atingir a Budicidade não é uma
questão de nos tornarmos num ser extraordinário ou fora do comum, mas
que cada pessoa pode, tal como é, revelar o estado de vida de Budicidade
dentro de si.
Nichiren Daishonin clarificou, ainda, que a Lei fundamental através da
qual todos os Budas atingem a iluminação é Nam-myoho-rengue-kyo. Ele
também manifestou o seu estado de vida iluminado que é uno com essa Lei
na forma do Gohonzon – o objecto de devoção de Nam-myoho-rengue-kyo.
Ao abraçar a fé no Gohonzon de Nam-myoho-rengue-kyo, qualquer
pessoa pode manifestar a Budicidade inerente à sua vida.
Nichikan escreveu: “Se aceitarmos e acreditarmos neste objecto de
devoção e invocarmos Nam-myoho-rengue-kyo para ele, então as nossas
vidas serão elas próprias o objecto de devoção dos três mil domínios num
único momento de vida; nós somos o fundador, Nichiren Daishonin” (“Os
Comentários de Nichikan”).

Ao acreditarmos no Gohonzon e ao continuarmos a desenvolver


esforços na fé e na prática pelo bem de kosen-rufu, podemos manifestar nas
nossas vidas de pessoas comuns o mesmo estado de Budicidade que
Nichiren Daishonin.
Isto expressa-se também nos princípios de “atingir a Budicidade na
nossa forma presente” e “atingir a Budicidade nesta vida”.

[Nota: Nichikan (1665-1726) foi um prelado erudito que viveu no Japão


durante o período Edo (1603-1868). Ele sistematizou os princípios budistas
de Nichiren Daishonin, atribuindo-lhes nova ênfase, tal como haviam sido
herdados e transmitidos pelo seu discípulo e sucessor directo, Nikko Shonin.]

"Os Desejos Terrenos são Iluminação" e "Os Sofrimentos do


Nascimento e da Morte são Nirvana"
A ideia de "atingir a Budicidade na nossa forma presente" pode ser expressa
a partir de uma outra perspectiva distinta nos princípios de "desejos terrenos
são iluminação" e "os sofrimentos do nascimento e da morte são nirvana".

Os vários sutras e escrituras tradicionalmente classificadas como


ensinamentos Hinayana, na época de Daishonin, ensinavam que a causa do
sofrimento se encontrava nos nossos desejos terrenos ou impulsos iludidos,
e que não havia outra maneira de eliminar o sofrimento se não extinguindo
tais desejos ou impulsos. O objectivo desses ensinamentos era a
emancipação (despertar, que traz consigo a libertação do sofrimento),
através da prática de inúmeros preceitos (regras de disciplina) e da
acumulação dos resultados de uma prolongada e intensiva prática e treino.
Contudo, tentar alcançar um estado totalmente desprovido de desejos
terrenos levou as pessoas a procurar anular tanto o seu ser físico, como o
espiritual, e assim escapar ao ciclo do nascimento e da morte, não mais
renascendo de novo neste mundo. Em última análise, isto equivale a uma
completa negação ou rejeição da vida.
Nos sutras Mahayana, que não o Sutra do Lótus, era negada a
possibilidade de atingir a Budicidade às pessoas dos dois veículos que
praticam os ensinamentos Hinayana, às pessoas más, e às mulheres.
Isto representa uma maneira de pensar que é, em essência, muito
semelhante às doutrinas Hinayana, criando uma separação ou divisão entre
as pessoas comuns e o Buda, que é difícil de superar.
Estes sutras também apresentam Budas fictícios – como o caso do
Buda Amida ou Buda Mahavairochana – que em muito transcendem os seres
humanos nos seus atributos, e habitam reinos separados, distantes do
mundo real.
Estes sutras ensinam que para as pessoas comuns se tornarem
Budas, elas devem aprender, praticar e adquirir os aspectos da iluminação do
Buda, um pouco de cada vez, ao longo de muitas vidas sucessivas.
Além disso, a crença de que as pessoas não se poderiam tornar
Budas através dos seus próprios esforços ou do seu próprio poder deu
origem a uma ênfase em procurar a salvação através do poder absoluto de
um Buda.
Pelo contrário, o Sutra do Lótus revela que todos os seres humanos
possuem inerentemente o estado de Buda, um estado de vida de compaixão
e sabedoria, e que é possível aceder e manifestar essa Budicidade interior.
Mesmo as pessoas comuns cujas vidas são dominadas pelos desejos
terrenos, sobrecarregadas pelo karma negativo e repletas de sofrimento,
podem – ao despertar para a realidade de que a Budicidade existe dentro das
suas próprias vidas – manifestar a sabedoria da iluminação do Buda, libertar-
se do sofrimento, e alcançar um estado de liberdade absoluta.
Uma vida atormentada pelos desejos terrenos e pelo sofrimento pode
tornar-se numa vida de liberdade sem limites que brilha com sabedoria
iluminada, tal como é. Este é o significado do princípio "desejos terrenos são
iluminação".
Nichiren Daishonin ensina que o mundo da Budicidade dentro de nós é
Nam-myoho-rengue-kyo.
Quando acreditamos no Gohonzon de Nam-myoho-rengue-kyo,
invocamos daimoku e despertamos para o nosso verdadeiro e nobre eu, a
sabedoria para viver a nossa vida, a coragem e confiança para enfrentarmos
os desafios da adversidade e superá-los, e a compaixão para cuidarmos do
bem-estar dos outros, irão brotar dentro das nossas vidas.

"Os sofrimentos do nascimento e da morte são nirvana" significa que,


embora possamos estar num estado de sofrimento causado pelas realidades
dolorosas do nascimento e da morte, quando acreditamos no Gohonzon e
invocamos Nam-myoho-rengue-kyo, podemos manifestar o tranquilo estado
de vida da iluminação do Buda (nirvana) nas nossas vidas.
Os princípios "desejos terrenos são iluminação" e "os sofrimentos do
nascimento e da morte são nirvana" ensinam-nos que, quando nos
baseamos na fé na Lei Mística, podemos viver vidas positivas e proactivas,
transformando todos os problemas e sofrimentos que temos numa causa
para o crescimento e a felicidade.

Felicidade Relativa e Felicidade Absoluta

O segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda (1900-1958), ensinou que


existem dois tipos de felicidade: a felicidade relativa e a felicidade absoluta. A
felicidade relativa descreve uma condição na qual as nossas necessidades
materiais são realizadas e os nossos desejos pessoais satisfeitos. Mas os
desejos não têm limites; e, mesmo que por um tempo possamos desfrutar da
sensação desses desejos terem sido realizados, ela não é duradoura. Uma
vez que este tipo de felicidade está dependente de circunstâncias externas,
se essas circunstâncias mudarem ou desaparecerem, o mesmo acontecerá à
nossa felicidade. Essa felicidade é chamada de relativa, porque ela existe
apenas em relação aos factores externos.
Por outro lado, a felicidade absoluta é um estado de vida em que estar
vivo, em si, é uma fonte de felicidade e alegria, independentemente de onde
estamos ou de quais as nossas circunstâncias. Descreve uma condição de
vida em que a felicidade emerge de dentro de nós. Porque não é influenciada
por condições externas, é chamada de felicidade absoluta. Alcançar a
Budicidade significa estabelecer este estado de felicidade absoluta.
Ao vivermos no meio das realidades deste mundo, é inevitável
encontrarmos vários problemas e dificuldades. Mas, da mesma forma que
alguém que é forte e apto fisicamente pode escalar facilmente uma
montanha, ainda que carregue uma carga pesada, aqueles que construíram
um estado interior de felicidade absoluta podem usar qualquer desafio que
encontram como um ímpeto para fazer emergir uma força de vida poderosa e
superar calmamente a adversidade. Para fortes escaladores de montanha,
quanto mais íngreme e mais exigente for a subida, maior o prazer que
sentem em superar cada desafio no caminho até ao topo. Da mesma forma,
para aqueles que, através da prática budista, adquiriram a força de vida e a
sabedoria para superar dificuldades, o mundo real, com todos os seus
problemas e desafios, é um lugar para a criação de valor, rico em satisfação
e realização.
Além disso, enquanto a felicidade relativa, que depende de factores
externos, desaparece com a morte, a felicidade absoluta do estado de vida
da Budicidade persiste eternamente. Como Daishonin escreve:
"Atravessando o ciclo de nascimentos e mortes, uma pessoa faz o seu
caminho na terra da natureza de Dharma, ou iluminação, que lhe é
interiormente inerente" (OTT, 52).

2) O Tratado “Sobre Estabelecer o Ensino Correcto para a Paz na Terra”


e Kosen-rufu

O propósito da prática do budismo de Nichiren, para além do atingir da


Budicidade nesta vida a um nível individual, é o de conseguir realizar
felicidade para nós e para os outros. Como orientações para uma prática que
assegure a felicidade para nós próprios e para os outros por entre as
realidades da sociedade, Nichiren Daishonin sublinhou a importância de
“estabelecer o ensino correcto para a paz na terra” e kosen-rufu.

“Estabelecer o Ensino Correcto para a Paz na Terra”

O budismo de Nichiren é um ensino que permite às pessoas transformarem o


seu estado de vida e desenvolverem um estado de felicidade absoluta no
decurso desta existência. Além disso, através de uma tão profunda
transformação interior em cada indivíduo, procura concretizar a paz na
sociedade como um todo.
Nichiren Daishonin estabelece o princípio para concretizar a paz no
seu tratado “Sobre Estabelecer o Ensino Correcto para a Paz na Terra.”
“Estabelecer o ensino correcto” significa promover a fé e a aceitação
do ensino correcto do budismo como a fundação para a vida das pessoas, e
fazer do ensino budista do respeito pela dignidade da vida o princípio
fundamental que motiva a sociedade. “Para a paz na terra” significa realizar a
paz e a prosperidade na sociedade, assim como a segurança e a protecção
de todos os indivíduos nas suas vidas quotidianas.
Para além de indicar a nação como uma instituição política regida
pelas autoridades vigentes, a “terra” em “Sobre Estabelecer o Ensino
Correcto para a Paz na Terra” refere-se, num nível mais profundo, à base das
vidas diárias e sustento das pessoas. Nesse sentido, refere-se não apenas à
estrutura social formada pelos seres humanos, mas também à própria terra –
ao meio ambiente natural.
A crença de Nichiren Daishonin – de que as pessoas são a presença
central na terra – poderá talvez ser discernida pelo uso frequente por parte de
Nichiren, no manuscrito original de “Sobre Estabelecer o Ensino Correcto
para a Paz na Terra”, do caracter chinês que corresponde a “terra” (também
“país” ou “nação”) escrito com o elemento para “povo” dentro de um
rectângulo, em vez dos caracteres utilizando o elemento “rei” ou o elemento
que sugeria o domínio militar, dentro de um rectângulo, que eram os mais
frequentemente usados.
Daishonin também escreveu, “Um rei vê o seu povo como os seus pais
(“Ofertas na Neve”, WND-2, 809), sublinhando que os que estão no poder
deveriam fazer do povo a sua fundação. Ele advertiu, ainda, que os
governantes “que não atendem ao sofrimento do povo, ou não o
compreendem” cairão nos maus caminhos (Ver “Sobre a Protecção da
Nação”, WND-2, 92).
Ainda que o tratado “Sobre Estabelecer o Ensino Correcto para a Paz
na Terra” tenha sido escrito para a realização da paz no Japão naquela
época, o seu espírito fundamental é o de assegurar a paz e a segurança para
todas as pessoas e, mais, concretizar a paz no mundo inteiro e a felicidade
de toda a humanidade até um futuro distante.
Daishonin escreveu este tratado e protestou com as autoridades
governantes motivado pelo seu desejo de pôr um fim ao sofrimento das
pessoas do seu tempo. Ele estava a demonstrar, através do seu próprio
exemplo, que os praticantes do budismo não podem contentar-se com uma
prática budista que consista unicamente em orar para a sua própria
iluminação. Pelo contrário, baseando-se nos princípios e no espírito do
budismo, devem comprometer-se activamente na procura de soluções para
os problemas e desafios que a sociedade enfrenta.
Em “Sobre Estabelecer o Ensino Correcto para a Paz na Terra”
Nichiren Daishonin escreveu, “Se se preocupa minimamente com a sua
segurança pessoal, deveria antes de tudo orar pela ordem e segurança
através dos quatro cantos da terra, ou não deveria?” (WND-1, 24).
A atitude egocêntrica exemplificada pelo desvio do olhar face aos
problemas da sociedade e o retiro para um domínio só de fé religiosa é
severamente repudiada no budismo Mahayana.
Hoje, a Soka Gakkai está envolvida em esforços para resolver
problemas globais nas áreas da paz, cultura, educação e direitos humanos,
com base nos princípios e nos ideais do budismo de Nichiren. Estes esforços
estão também de acordo com o princípio e o espírito de “estabelecer o ensino
correcto para a paz na terra”, articulados por Daishonin.

Kosen-rufu

O objectivo do budismo é partilhar e propagar o ensino correcto, que


incorpora a iluminação do Buda, e conduzir todas as pessoas a atingir o
estado de vida da Budicidade e assegurar a paz e a prosperidade de toda a
humanidade.
Por essa razão, o Buda Shakyamuni afirma no Sutra do Lótus: “Após o
meu falecimento, no último período de quinhentos anos, devem propagá-lo [a
este ensino] amplamente por toda a Jambudvipa [o mundo inteiro], e nunca
permitir que seja interrompido, não devendo deixar que [forças negativas
como] forças demoníacas, demónios dos seres humanos, seres celestiais,
dragões, yakshas [espíritos benevolentes da natureza], demónios
kumbhanda [espíritos deformados] ou outros, se aproveitem dele!” (“Os
Feitos Passados do Bodhisattva Rei Medicina” cap. 23, LSOC, 330).
Esta passagem afirma que “no último período de quinhentos anos” –
ou seja, o período actual dos Últimos Dias da Lei – a Lei Mística deve ser
“propagada amplamente” pelo mundo inteiro. (Aqui, “propagar amplamente” é
uma tradução dos caracteres chineses pronunciados kosen-rufu, em
japonês).
No Sutra do Lótus, o Buda confia também a missão da ampla
propagação, ou kosen-rufu, nos Últimos Dias da Lei, aos Bodhisattvas da
Terra que, enquanto seus discípulos desde o passado inimaginavelmente
remoto, são os bodhisattvas que se têm vindo a treinar e a capacitar
profundamente.
Durante a transmissão do Sutra do Lótus, inúmeras multidões de tais
bodhisattvas emergem da terra. Guiados pelo Bodhisattva Práticas
Superiores, fazem o voto de propagar a Lei Mística, a essência do Sutra do
Lótus, após a morte de Shakyamuni.
Shakyamuni, por sua vez, prevê que, após a sua morte, estes
Bodhisattvas da Terra irão surgir neste mundo cheio de sofrimento e, tal
como o sol e a lua, irão iluminar a escuridão da vida das pessoas e conduzi-
las à iluminação.

Kosen-rufu é o espírito fundamental de Nichiren Daishonin

Em total conformidade com a passagem do Sutra do Lótus acima referida,


Nichiren Daishonin empenhou-se ao máximo para propagar a magnífica Lei
de Nam-myoho-rengue-kyo na época malévola dos Últimos Dias da Lei,
enquanto enfrentava numerosas perseguições que colocaram em risco a sua
vida.
Daishonin refere-se da seguinte forma à ampla propagação da Lei
Mística, ou kosen-rufu:

O “grande voto” refere-se à propagação do Sutra do Lótus [Nam-


myoho-rengue-kyo]. (OTT, 82)

Se a compaixão de Nichiren for verdadeiramente grandiosa e


abrangente, Nam-myoho-rengue-kyo propagar-se-á por dez mil
anos e mais, por toda a eternidade, pois tem o poder benéfico de
abrir os olhos cegos de cada ser vivo no país do Japão, e bloqueia
a estrada que leva ao inferno do sofrimento incessante. (“Sobre
Retribuir as Dívidas de Gratidão,” WND-1, 736)

Quando eu, Nichiren, abracei pela primeira vez a fé no Sutra de


Lótus, eu era como uma única gota de água ou uma única partícula
de pó em todo o país do Japão. Mas, mais tarde, quando duas
pessoas, três pessoas, dez pessoas e eventualmente cem, mil, dez
mil e um milhão de pessoas vierem a recitar o Sutra de Lótus
[invocar Nam-myoho-rengue-kyo] e a transmiti-lo aos outros, então
elas formarão um Monte Sumeru da perfeita iluminação, um oceano
de grande nirvana. Não procure nenhum outro caminho para atingir
a Budicidade! (“A Selecção do Tempo,” WND-1, 580)

Estas passagens mostram-nos claramente que a concretização de


kosen-rufu, a ampla propagação da Lei Mística, é o espírito fundamental de
Nichiren Daishonin.
Daishonin também incentivou repetidamente os seus seguidores a
dedicarem a sua vida a kosen-rufu, atingirem a Budicidade, e realizarem o
princípio de “estabelecer o ensino correcto para a paz na terra”.

Soka Gakkai – Tornar Kosen-rufu uma Realidade


A Soka Gakkai é uma comunidade harmoniosa de praticantes budistas que
herdou o espírito de Daishonin e lhe dá continuidade, propagando a Lei
Mística exactamente como ele ensinou nos seus escritos.
Daishonin escreveu: “Se tiver o mesmo propósito que Nichiren, então
deve ser um Bodhisattva da Terra.” (“O Verdadeiro Aspecto de Todos os
Fenómenos,” WND-1, 385). A Soka Gakkai, que tem propagado a Lei Mística
com o mesmo espírito que Daishonin, é a organização dos Bodhisattvas da
Terra que estão a cumprir a missão de kosen-rufu.

Até ao aparecimento da Soka Gakkai, setecentos anos após a morte


de Daishonin, ninguém tinha sido capaz de propagar amplamente a Lei
Mística. Foi a Soka Gakkai que concretizou as previsões de Shakyamuni e de
Nichiren Daishonin. Isto prova que a Soka Gakkai é a organização que surgiu
para realizar a missão de kosen-rufu, agindo de acordo com o propósito do
Buda.
A Soka Gakkai está a tornar kosen-rufu uma realidade, propagando a
Lei Mística pelo mundo inteiro, tal como o Sutra do Lótus ensina.

Fonte: Os Princípios Básicos do Budismo de Nichiren para a Nova Era de Kosen-


rufu Mundial. Parte 1, Capítulo 1: O Budismo de Nichiren Daishonin- A Vida e os
Ensinos de Nichiren Daishonin. Março de 2016.
SECÇÃO B: PRINCÍPIOS BÁSICOS DO BUDISMO

Os Dez Mundos

O budismo identifica Dez Mundos – dez condições ou estados de vida - que


experienciamos nas nossas vidas, movendo-se de um para outro a qualquer
momento, de acordo com as nossas interacções com o ambiente e com as
pessoas que nos rodeiam. Cada um de nós possui o potencial para
experienciar os dez, desde um desespero claustrofóbico, um ódio infernal, a
uma alegria infinita e uma sabedoria esclarecedora.

Os Dez Mundos são: Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Humanidade, Êxtase,


Aprendizagem, Compreensão, Bodhisattva e Budicidade. Ao fortalecermos a
nossa vida espiritual, através da invocação de Nam‐myoho‐rengue‐kyo, o
budismo de Nichiren ensina que, em vez de estarmos à mercê do nosso
ambiente, podemos desenvolver a capacidade para definir o nossa própria
direcção e, assim, passarmos uma maior parte do nosso tempo nos estados
de vida mais positivos.

Cada um de nós tem a tendência para gravitar em torno de um estado de


vida particular, e se este for um dos mundos mais baixos, podemos causar
muito sofrimento a nós próprios e aos que nos rodeiam. Ao elevarmos a
nossa condição de vida que se manifesta nos Dez Mundos, podemos
manifestar os aspectos positivos de qualquer situação em que nos
encontremos.

O mundo de Bodhisattva é um estado de compaixão, no qual nos dedicamos


ao bem-estar e felicidade dos outros. A Budicidade é um estado de plenitude
e de liberdade perfeita, cheio de sabedoria, vitalidade e coragem, onde até
superar desafios se torna numa fonte de alegria.

Os Dez Mundos detalhadamente:

Inferno: Um estado de sofrimento e desespero, no qual sentimos não ter


liberdade de acção. É caracterizado pelo impulso para a destruição de nós
próprios e de tudo à nossa volta.

Fome: O estado de sermos controlados por um desejo insaciável de dinheiro,


poder, estatuto, etc. Embora os desejos se encontrem presentes em qualquer
dos Dez Mundos, neste estado ficamos à mercê deles, não sendo capazes
de os controlar.

Animalidade: Um estado onde somos governados pelo instinto, sem fazer


uso da razão nem do sentido moral, nem da capacidade de discernimento a
longo prazo. Actuamos pela lei da selva e não hesitamos em nos aproveitar
dos que são mais fracos do que nós, adulando os que são mais fortes.

Ira: Aqui, emerge a consciência do ego, mas é um ego distorcido, egoísta e


ganancioso, que está determinado a ser melhor do que os outros a qualquer
preço e vê tudo como uma potencial ameaça à sua pessoa. Neste estado, só
nos valorizamos a nós próprios e tendemos a desprezar os outros.

Humanidade (ou Tranquilidade): Este é um estado de vida neutro e


passivo, no qual se pode facilmente mudar para os quatro mais baixos.
Embora, neste estado nos comportemos geralmente de uma forma humana,
somos extremamente vulneráveis perante influências exteriores fortes.

Êxtase (ou Céu): Este é um estado de alegria intensa que provém, por
exemplo, da concretização de algum desejo; uma sensação de bem-estar
físico ou de contentamento interior. Embora seja intensa, a alegria
experienciada neste estado é de curta duração e também vulnerável a
influências externas.

Os seis estados, do Inferno até ao Êxtase, são chamados os seis caminhos,


ou seis mundos, inferiores. Aqui, felicidade e satisfação dependem
totalmente das circunstâncias e, por isso, são passageiras e sujeitas à
mudança. Nestes seis mundos inferiores, baseamos toda a nossa felicidade,
e até a nossa inteira identidade, em fenómenos exteriores.

Os dois estados seguintes, Aprendizagem e Compreensão, surgem quando


reconhecemos que tudo o que experienciamos nos seis caminhos é
impermanente, e começamos a procurar uma verdade duradoura. Ao
contrário dos seis caminhos, que são reacções passivas ao ambiente, os
outros quatro estados são conseguidos através de um esforço deliberado.

Aprendizagem: Neste estado, procuramos a verdade através de estudarmos


os ensinos ou as experiências dos outros.

Compreensão: Neste estado não procuramos a verdade nos ensinos dos


outros, mas sim através da nossa própria percepção directa do mundo.

Bodhisattva: Os Bodhisattvas são aqueles que aspiram atingir a iluminação


e, ao mesmo tempo, estão determinados a permitir que todos os outros seres
consigam o mesmo. Conscientes dos laços que nos ligam a todos, neste
estado, compreendemos que qualquer felicidade que seja sentida apenas por
nós é incompleta e dedicamo-nos a aliviar os sofrimentos dos outros. A maior
satisfação dos que se encontram neste estado é terem um comportamento
altruísta.

Budicidade: A Budicidade é um estado dinâmico de perfeita liberdade, no


qual a pessoa desperta para a verdade suprema da vida. Caracteriza-se por
uma compaixão infinita e uma sabedoria ilimitada. Neste estado, podemos
resolver de forma harmoniosa o que parecem ser contradições irresolúveis do
ponto de vista dos outros nove mundos. Um sutra budista descreve os
atributos da vida de Buda como sendo o eu verdadeiro, a libertação perfeita
em relação aos laços kármicos por toda a eternidade, uma vida purificada da
ilusão, e a felicidade absoluta.

(Fonte: www.sgi.org)
SECÇÃO C LINHAGEM E TRADIÇÃO DO HUMANISMO BUDISTA

A Soka Gakkai é uma organização religiosa que pratica os ensinos budistas


que se iniciam com o Buda Shakyamuni na Índia, e são depois continuados e
desenvolvidos pelos eruditos budistas indianos Nagarjuna e Vasubandhu,
que foram reverenciados como bodhisattvas; Os Grandes Professores T’ien-
t’ai (Chih-i) e Miao-lo (Chan-jan) da China; o Grande Professor Dengyo
(Saicho) do Japão; e Nichiren Daishonin. A Soka Gakkai mantém a linhagem
ortodoxa e a tradição do humanismo budista que começou com Shakyamuni,
que afirma o respeito pela vida e por todos os seres humanos.
A Soka Gakkai baseia-se no Sutra do Lótus, uma escritura central do
budismo Mahayana. A sua prática e as suas actividades, adequadas à época
contemporânea, conservam intacto o espírito fundamental do Sutra do Lótus
tal como foi ensinado e exemplificado por Nichiren Daishonin na sua vida e
nas suas acções.

Shakyamuni

Shakyamuni nasceu como príncipe na Índia antiga (Lumbini, o seu local de


nascimento, localiza-se hoje no Nepal.)
Na sua juventude, Shakyamuni testemunhou os inevitáveis
sofrimentos da existência – nascimento, velhice, doença e morte. Muito
embora fosse ainda jovem e com uma saúde vigorosa, compreendeu que,
também ele, um dia, iria experienciar estes sofrimentos. Decidiu deixar a sua
casa e embarcar numa demanda espiritual para encontrar uma solução para
estes sofrimentos fundamentais.
Como príncipe, Shakyamuni desfrutava de uma vida de grande
conforto e desafogo, que a maioria das pessoas invejaria. Mas, quando
tomou consciência de que as riquezas e luxos que as pessoas procuravam
na vida eram, em última análise, fugazes e vazios, deixou de encontrar
verdadeiro prazer neles. Isto levou-o a procurar uma filosofia ou ensino que
pudesse clarificar o verdadeiro significado da existência humana.

Buda – O Que Despertou

Shakyamuni não estava satisfeito nem com o ensino espiritual tradicional da


Índia, nem com as novas escolas de pensamento e crença que se tornaram
prevalecentes nessa altura. Em vez disso, ele procurou, através da prática da
meditação, encontrar as causas fundamentais e as soluções para os
sofrimentos da vida. Desta forma, ele despertou para o Dharma universal e
eterno, ou Lei, que permeia toda a vida e o universo.
O nome Shakyamuni é um título honorífico que significa “sábio dos
Shakyas” – Shakya é o nome do clã ao qual ele pertencia, e muni significa
“Sábio”. O título “Buda”, nome pelo qual ficou conhecido universalmente,
significa “o que despertou.”
A Lei para a qual Shakyamuni despertou tornou-se o cerne dos
ensinos budistas.

A Sabedoria para Compreender a Dignidade Inerente à Vida


Shakyamuni declarou que a ignorância das pessoas acerca da dignidade
inerente às suas próprias vidas dá origem a que sejam governadas pelo
egoísmo. Isto leva-as a serem consumidas por desejos egoístas e imediatos,
e a procurarem a sua felicidade à custa dos outros. Ele ensinou, por isso, que
o caminho mais nobre e admirável para as pessoas viverem com verdadeira
dignidade é o de despertarem para a Lei universal e eterna que existe no
interior de cada pessoa, e retornarem ao seu estado de vida puro e original,
que é livre de escuridão fundamental ou ignorância, que causam o sofrimento
humano.
O ensino do Buda pode ser considerado como uma “restauração do
valor inerente à vida”, cujo propósito é que as pessoas restabeleçam as sua
própria dignidade suprema, activem o seu potencial interior infinito, e
empreguem os recursos da sua sabedoria inata.

A Compaixão para Respeitar Todas as Pessoas

Ao despertar as pessoas para o valor e dignidade das suas próprias vidas,


Shakyamuni ensinou-as também a compreender e respeitar o valor e
dignidade das vidas dos outros. Este é o espírito básico da compaixão
budista.
Shakyamuni explicou uma vez a um certo rei, que todos os indivíduos
valorizam a sua própria vida mais que tudo, e que, por isso, aqueles que se
amam a si próprios não deveriam causar dano aos outros.
A compaixão, tal como é ensinada no budismo, significa compreender
que os outros são tão preciosos e importante quanto nós próprios e, como tal,
devemos valorizá-los como nos valorizamos a nós próprios. É um ensino de
mútua compreensão e respeito.

O Sutra do Lótus – A Essência do Budismo Mahayana

Shakyamuni expôs os seus ensinos durante 50 anos, e, após a sua morte, os


seus discípulos compilaram registos das suas palavras e acções. Os que
continham os ensinos doutrinais principais do Buda ficaram conhecidos como
“sutras.” Dentre todos os seus ensinos, aqueles que fazem referência à
compaixão e sabedoria são o foco dos sutras Mahayana. E, das muitas
escrituras que integram a corrente do budismo Mahayana, destaca-se o Sutra
do Lótus, que tem sido exaltado como o “rei dos sutras.”
No Sutra do Lótus, o Buda diz que, ao expô-lo, cumpriu o desejo que
acalentou desde o passado remoto de elevar todas as pessoas ao mesmo
estado de vida dele próprio. Mais ainda, ele apela repetidamente a
incontáveis discípulos que herdem e partilhem este desejo eterno, ou voto, e
levem a cabo a prática de compaixão para o concretizar.

Nichiren Daishonin – O Devoto do Sutra do Lótus

Nichiren Daishonin considerou o sofrimento de todas as pessoas como o seu


e, numa época de grande agitação, procurou encontrar o caminho para aliviar
esse sofrimento. Ele fez o voto de identificar e preservar os ensinos budistas
capazes de levar felicidade genuína e dignidade a todas as pessoas.
Daishonin estudou os escritos e comentários de budistas eruditos anteriores,
enquanto lia cuidadosamente e examinava por si próprio os muitos sutras
budistas. Como resultado dos seus estudos, ele encontrou a resposta que
andava à procura no Sutra do Lótus, que ensina o caminho para todas as
pessoas darem expressão ao seu potencial ilimitado e manifestá-lo na
sociedade.
Com base nos ensinos do Sutra do Lótus, Daishonin determinou
fortemente ajudar todas as pessoas a atingir verdadeira felicidade e
dignidade, e a realizar paz e segurança na sociedade. Ele encontrou
perseguições por parte das autoridades que colocaram em risco a sua
própria vida, e oposição feroz por parte da população, por causa da falta de
compreensão do ensino correcto do budismo e do apegos erróneos das
pessoas às formas antigas de pensamento. Contudo, nenhum destes o
impediu minimamente. Ele continuou a agir em perfeita concordância com os
ensinos do Sutra do Lótus, encorajando e revitalizando as pessoas, mesmo
arriscando a sua vida.
Nichiren Daishonin estabeleceu a prática de invocação de Nam-
myoho-rengue-kyo e inscreveu o Gohonzon como objecto de fé, ou devoção.
Ao identificar, revelar e estabelecer o ensino que é a essência do Sutra do
Lótus, ele abriu o caminho para todas as pessoas atingirem a Budicidade.
No seu tratado “Sobre Estabelecer o Ensino Correcto para a Paz da
Terra,” Daishonin declara que paz e prosperidade social são indispensáveis
para construir felicidade individual. Ele escreve:

Se a nação for destruída e as casas das pessoas desaparecerem, então


para onde se poderá fugir em busca de segurança? Se se preocupa
minimamente com a sua segurança pessoal, deveria antes de tudo orar
pela ordem e segurança através dos quatro cantos da terra, ou não
deveria? (WND-1, 24)

O foco dos esforços de toda a vida de Daishonin foi estabelecer o ensino


correcto para a paz da terra – ou seja, estabelecer a filosofia de respeito pela
dignidade da vida como princípios orientadores da sociedade e construir um
mundo onde as pessoas pudessem viver em paz e segurança.
Isto está em concordância com os esforços que os praticantes de
budismo têm feito desde os tempos de Shakyamuni, para derrotar a natureza
destrutiva do egoísmo que inflige tanto dano e sofrimento às pessoas e à
sociedade. Assinalou, assim, uma nova abordagem humanista com base no
espírito fundamental do budismo de permitir às pessoas realizarem felicidade
para si próprias e para os outros – uma abordagem que procura promover
confiança, criação de valor e harmonia.
Um ponto-chave para este processo foi o diálogo baseado na razão e
no humanismo.

A Soka Gakkai – Reviver o Budismo de Nichiren nos Tempos Modernos

Através dos seus esforços altruístas, os três presidentes fundadores da Soka


Gakkai - Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda, e Daisaku Ikeda – reviveram a
filosofia e prática de Nichiren Daishonin nos tempos modernos.
Os membros da Soka Gakkai envolvem-se em diversas actividades
com base na orientação dos três presidentes fundadores.
A um nível pessoal, enquanto se desafiam em todas as áreas da vida,
eles usam a prática de invocar Nam-myoho-rengue-kyo para reflectir
profundamente e manifestar nas suas vidas a esperança e a coragem para
lidarem com os problemas que encontram. Mais ainda, eles esforçam-se para
desenvolver um carácter rico baseado num compromisso sólido com valores
humanistas. Esta é a prática da revolução humana.
Através de conversas diárias com os seus companheiros membros, e
das reuniões da Soka Gakkai, os membros aprofundam também a sua
compreensão dos escritos de Nichiren Daishonin e da orientação do
presidente da SGI, Daisaku Ikeda, partilham as suas experiências na fé, e
encorajam e apoiam-se mutuamente.
Paralelamente, eles dialogam com os seus amigos e conhecidos sobre
os princípios e ideais do budismo e como a sua prática budista enriqueceu as
suas vidas. Desta forma, geram compreensão e apoio pela filosofia
revitalizante do budismo de Nichiren e as actividades humanista da Soka
Gakkai, enquanto ampliam a rede daqueles que abraçam a fé na Lei Mística.

A Transmissão para Oeste do Budismo de Kosen Rufu Mundial

A prática do budismo de Nichiren tem como objectivo permitir às pessoas a


realização da felicidade tanto para si próprias como para os outros. Também
fomenta a contribuição dos indivíduos para a comunidade como bons
cidadãos, e sublinha a importância de se tornarem pessoas indispensáveis
nas quais os outros podem confiar e com quem podem contar, e a postura de
darem o seu melhor em casa, no trabalho, e na sociedade.
A Soka Gakkai também está activamente envolvida na resolução das
questões globais que a humanidade enfrenta nos dias de hoje. Através das
suas exposições internacionais contras as armas nucleares e iniciativas para
apoiar os refugiados, destaca a importância da paz, respeito pela dignidade
da vida, e dos direitos humanos. E, através de exposições sobre temas
ambientais, tem também como objectivo promover a consciência da
necessidade de esforços para proteger o ambiente global.
A Soka Gakkai redescobriu a tradição da prática da filosofia humanista
com origem em Shakyamuni, e herdada por Nichiren Daishonin,
reconhecendo-a e estimando-a como a quintessência do budismo. Mais
ainda, a Soka Gakkai está a levar a cabo esta tradição e espírito na
sociedade dos dias de hoje e, através das suas actividades e iniciativas,
trabalha para passá-los às gerações futuras.
Através do diálogo com o objectivo de aprofundar a compreensão e
fornecer inspiração, nós, da Soka Gakkai, lutamos continuamente para
cultivar e capacitar o maior número de indivíduos que possam, nos seus
respectivos papéis e áreas, exemplificar o humanismo budista. Este
movimento, que tem como objectivo realizar a felicidade da humanidade
assim como a paz mundial, é chamado de kosen rufu.
O budismo, com origem na Índia, viajou para Este, chegando ao
Japão. Agora, está a ser transmitido de volta ao Oeste, propagando-se não
só aos países da Ásia e Índia, mas para a mundo. Isto é referido como a
“transmissão para oeste” ou o “regresso para oeste” do budismo. Hoje o
nosso movimento humanista budista estendeu-se a 192 países e territórios
por todo o globo.
Os Três Tesouros

A Soka Gakkai é a organização que herdou, nos tempos modernos, o


verdadeiro espírito e linhagem do budismo transmitido por Shakyamuni.
É premissa básica de todos os budistas respeitar e valorizar o Buda, a
Lei (os ensinamentos do Buda) e os praticantes da Lei. Por isso, estas três
premissas são tidas como o Tesouro do Buda, o Tesouro da Lei e o Tesouro
da Ordem Budista (comunidade de seguidores). Juntas, são conhecidas
como “os três tesouros”. O Tesouro do Buda é o Buda que expõe o ensino; o
Tesouro da Lei é o ensino exposto pelo Buda; e o Tesouro da Ordem Budista
é a congregação de pessoas que acredita nesse ensino e o pratica.
Em sânscrito os três tesouros (triratna) chamam-se Buda, Dharma e
Samgha. A palavra Samgha originalmente significa “corpo colectivo” ou
“assembleia”. Quanto à Ordem Budista, a expressão foi foneticamente
transposta para o chinês e depois para o japonês em dois caracteres,
pronunciados como sogya (em japonês). Mais tarde, a palavra foi contraída
ao primeiro caracter, so, que passou também a ser usado para referir os
prelados budistas. Mais tarde, o termo samgha foi também transposto para o
chinês e japonês em dois ou três caracteres que significam literalmente
“encontro harmonioso”, pronunciado em japonês como wago ou wago-so.
No decurso da longa história do budismo, vários ensinos surgiram para
guiar as pessoas de acordo com as suas necessidades e capacidades, a
época, e as mudanças que ocorriam na sociedade.
A descrição específica dos três tesouros difere um pouco dentro de
cada ensino. Na Ásia Oriental, o Tesouro da Ordem Budista, ou Samgha,
passou a referir exclusivamente os prelados budistas homens, e não a
comunidade dos crentes como um todo.
No budismo de Nichiren Daishonin, o budismo da sementeira (assim
apelidado porque semeia as sementes da iluminação, ou seja, Nam-myoho-
rengue-kyo), reverenciamos os três tesouros na perspectiva do tempo sem
princípio, a dimensão fundamental da existência. “Tempo sem princípio”,
neste caso, é o termo usado para descrever aquilo que sempre esteve
presente desde o passado remoto e que permanecerá no futuro eterno. Em
termos da prática budista, diz respeito ao momento primordial do atingir da
Budicidade, quando as pessoas comuns revelam e manifestam a Lei Mística
eterna que sempre esteve presente dentro de si. Os membros da Soka
Gakkai reverenciam eternamente estes três tesouros para atingirem a
Budicidade.
O Tesouro do Buda, na perspectiva do tempo sem princípio, é Nichiren
Daishonin, o Buda do tempo sem princípio, ou o Buda eterno que, no
contexto da sua própria vida enquanto pessoa comum, revelou a Lei
fundamental para o atingir da Budicidade.
O Tesouro da Lei, na perspectiva do tempo sem princípio, é o
Gohonzon ou o objecto de devoção de Nam-myoho-rengue-kyo, que Nichiren
Daishonin revelou como sendo a Lei para a iluminação universal.
O Tesouro da Ordem Budista, na perspectiva do tempo sem princípio,
é Nikko Shonin (o discípulo e sucessor directo de Nichiren Daishonin), que
protegeu e transmitiu correctamente o Tesouro do Buda e o Tesouro da Lei.
Estes são os três tesouros a serem reverenciados no budismo da
sementeira de Nichiren Daishonin.
Quando reverenciamos (nam) estes três tesouros, recebemos o
benefício de semear as sementes da iluminação (Nam-myoho-rengue-kyo) e
somos por isso capazes de atingir a Budicidade.
A palavra nam deriva do sânscrito namas (que significa vénia ou
reverência), e foi traduzida como “dedicar a vida”, em chinês, que significa
basearmo-nos em alguma coisa e segui-la em corpo e espírito, acreditar nela
e fazer dessa crença a nossa própria fundação.
Além disso, o Tesouro da Ordem Budista, em sentido lato, refere-se à
congregação de pessoas que protegem, transmitem e propagam
correctamente os os três tesouros como objectos de respeito e reverência.
Hoje, a Soka Gakkai é o Tesouro da Ordem Budista, porque é a organização
que está a dar continuidade ao espírito e à conduta de Nichiren Daishonin, e
a fazer avançar kosen-rufu mundial.

Fonte: Os Princípios Básicos do Budismo de Nichiren para a Nova Era de Kosen-


rufu Mundial. Parte 3, Capítulo 1: A Linhagem e Tradição do Budismo Humanista.
Junho de 2016.
SECÇÃO D: A HISTÓRIA DA SGI
Os Três Presidentes

Tsunesaburo Makiguchi

Tsunesaburo Makiguchi (1871-1944) foi um educador, escritor e filósofo.


Fundou a Soka Kyoiku Gakkai (antecessora da Soka Gakkai) em 1930. Como
educador, Makiguchi fez uma oposição férrea às autoridades repressivas do
Japão e às práticas pedagógicas daquela época, tendo como ideal introduzir
no ensino um foco mais humanista e centrado no bem-estar do ser humano.
Por causa disso, foi forçado a abandonar prematuramente a carreira
educativa e, mais tarde, foi condenado à prisão por se opor à política do
regime militarista. Morreu na prisão por subnutrição aos 73 anos de idade. As
suas teorias educativas humanistas ganharam postumamente
reconhecimento internacional.

• Princípios Educativos

Durante a maior parte da sua vida, o Sr. Makiguchi dedicou-se à


reforma do sistema educativo japonês que, no seu entender, não fomentava
o pensamento independente, a criatividade e a felicidade dos alunos. O Sr.
Makiguchi acreditava que a educação deveria estar ao serviço das pessoas,
em lugar de satisfazer as necessidades do Estado. As suas ideias
pedagógicas e teorias sobre ‘criação de valor’ (soka), que são a base da sua
filosofia, estão expostas na sua obra de Soka Kyoikugaku Taikei (O Sistema
da Pedagogia de Criação de Valor, 1930). As perspectivas do Sr. Makiguchi
contrariavam categoricamente a política do governo militarista, que priorizava
o treinamento de indivíduos que se subordinassem totalmente ao estado.

• Revolução Religiosa

Em 1928, com 57 anos, o Sr. Makiguchi conheceu o budismo de


Nichiren Daishonin e encontrou na sua abordagem holística uma
correspondência perfeita com o seu próprio pensamento. Dois anos depois,
juntamente com o seu colega Josei Toda, fundou a Soka Kyoiku Gakkai
(Sociedade para a Educação de Criação de Valor), a precursora da Soka
Gakkai e da SGI.
Originalmente composta por um pequeno grupo de docentes
dedicados à reforma educativa, a Soka Kyoiku Gakkai foi-se transformando
gradualmente numa organização com um grande número de membros
dedicados à propagação do budismo. Tudo partiu da crescente certeza do Sr.
Makiguchi e do Sr. Toda de que a filosofia de Nichiren Daishonin – com
ênfase na transformação da sociedade através da transformação do indivíduo
– era o meio para alcançar a reforma que tinham procurado consolidar
através da educação.

• Prisão

Entretanto, o governo japonês, empenhado numa agressiva campanha


bélica, impôs o Xintoísmo como religião oficial, induzindo o nacionalismo e a
adoração ao imperador. As autoridades mostraram-se intolerantes ante
qualquer oposição. O Sr. Makiguchi rejeitou firmemente essa atitude
repressiva. Em 1943, foi detido e encarcerado juntamente com o Sr. Toda.
Até ao fim, o Sr. Makiguchi não comprometeu as suas convicções, tendo
morrido na prisão por subnutrição em 1944. Tinha 73 anos.

Josei Toda

Josei Toda (1900-1958) foi um educador, editor e empresário que,


enquanto segundo presidente da Soka Gakkai, reconstruiu esta organização
budista depois da Segunda Guerra Mundial, convertendo-a num dinâmico
movimento civil.

• Encontro com o seu mestre

O Sr. Toda nasceu em Hokkaido, uma ilha setentrional do Japão,


tendo-se mudado para Tóquio com pouco mais de vinte anos. Na capital, o
Sr. Toda conseguiu vaga como professor na escola em que Tsunesaburo
Makiguchi era director. O jovem ficou impressionado com a filosofia
pedagógica do Sr. Makiguchi, que prontamente o acolheu como seu
discípulo. Em 1928, o Sr. Toda seguiu o Sr. Makiguchi na decisão de praticar
o budismo de Nichiren Daishonin. Mais tarde, ambos fundaram a Soka
Kyoiku Gakkai, antecessora da Soka Gakkai.

• Prisão

Em 1943, o Sr. Toda e o Sr. Makiguchi foram detidos e levados para a


prisão por se oporem às políticas do governo japonês, cujas autoridades
militaristas continuavam a aumentar o seu controlo sobre a população e a
suprimir qualquer forma de oposição. Na prisão, o Sr. Toda dedicou-se à
prática e ao estudo do budismo de Nichiren Daishonin, conseguindo
aprofundar a sua compreensão da doutrina. Os seus esforços permitiram-lhe
perceber que a Budicidade é um potencial inerente a toda a vida, e
confirmaram a sua total confiança de que todas as pessoas podem
manifestar essa condição iluminada através da prática dos ensinos de
Daishonin.

• A Reconstrução da Soka Gakkai

Uma vez libertado da prisão, no final da Segunda Guerra Mundial, o


Sr. Toda começou a reconstruir a Soka Kyoiku Gakkai, alterando-lhe o nome
para ‘Soka Gakkai’ (Sociedade para a Criação de Valor). O Sr. Toda defendia
que, através da prática do budismo e de uma transformação interior do
indivíduo, ou revolução humana, todas as pessoas podiam transformar o seu
destino para melhor. Esta mensagem – que condensava os profundos
conceitos budistas num guia prático para a vida quotidiana – ecoou entre
inúmeras pessoas que estavam na miséria ou a sofrer com doenças e outras
aflições, em pleno caos do pós-guerra, dando-lhes coragem e esperança.
Como resultado daquela difusão extraordinária do budismo, em 1958 – ano
da morte de Josei Toda – a Soka Gakkai tinha-se já transformado numa
organização de quase um milhão de membros.

• Legado de Paz

Josei Toda é também recordado pela sua postura inflexível contra as


armas nucleares, que ele definiu como ‘o mal absoluto que ameaça o direito
inalienável das pessoas à vida’. Por isso, exortou os jovens membros da
Soka Gakkai a trabalharem para a abolição dessas armas. Essa sua posição,
que proclamou publicamente no dia 8 de Setembro de 1957, é a base das
actividades da SGI para a paz. Honrando os ideais do Sr. Toda, o seu
sucessor Daisaku Ikeda, presidente da SGI, fundou o Instituto Toda de
Investigação para Paz. O Instituto junta investigadores da paz, activistas
comunitários e especialistas de órgãos internacionais e legislativos na
elaboração de projectos relacionados com a edificação da paz e do diálogo
entre civilizações.

Excerto da Declaração de Josei Toda para a Abolição das Armas Nucleares

«Agora quero partilhar convosco o que espero que considerem


como a mais fundamental das minhas instruções para o futuro.
Como desde há muito venho afirmando, é aos jovens que cabe
assumir a responsabilidade pela próxima era. Hoje quero tornar
claros os meus sentimentos e a minha posição no que respeita aos
ensaios com armas nucleares, questão que tem acendido debates
por toda a sociedade. Como meus discípulos, espero que herdem a
declaração que vou fazer e que façam tudo aquilo que estiver ao
vosso alcance para propagar o seu propósito por todo o mundo.
Embora se tenha levantado um movimento global exigindo a
proibição dos testes com armas nucleares, o meu desejo é ir mais
fundo e atacar o problema desde a raiz. Quero denunciar e arrancar
as garras que se escondem nas profundezas de tais armas. Quero
declarar que qualquer pessoa que ouse empregar armamento
nuclear deve ser condenada à morte, sem excepção,
independentemente da sua nacionalidade e quer o seu país seja
vitorioso ou derrotado.
Porque digo isto? Porque nós, os cidadãos do mundo, temos o
direito inviolável de viver. Qualquer pessoa que ponha em risco esse
direito é a personificação do mal, um demónio, um monstro.
Proponho que a humanidade aplique, em cada caso, a pena de
morte a todos os responsáveis pelo uso de armas nucleares, mesmo
que essas pessoas pertençam ao lado vencedor.
Ainda que um país possa conquistar o mundo por meio da
utilização de armas nucleares, os conquistadores devem ser
considerados demónios, a própria incarnação do mal. Acredito que a
missão de disseminar esta ideia por todo o mundo cabe a cada
membro do Departamento de Jovens do Japão.»
Josei Toda fez inúmeras contribuições para o movimento de kosen-rufu da
Soka Gakkai desde a sua saída da prisão. Exemplos das suas principais
concretizações são:

- Julho de 1949: lançamento da Daibyakurengue (revosta mensal budista).


- 20 de Abril de 1951: é lançado o Seikyo Shimbun (jornal budista), integrando
o primeiro fascículo do romance do Sr. Toda A Revolução Humana.
- 3 de Maio de 1951: é nomeado segundo presidente da Soka Gakkai.
- 28 de Abril de 1952: publicação do Gosho Zenshu (os escritos principais de
Nichiren Daishonin).
- Setembro de 1952: a Soka Gakkai é oficialmente registada como
organização religiosa.
- 8 de Setembro de 1957: Declaração do Sr. Toda para a Abolição das Armas
Nucleares.
- Dezembro de 1957: a Soka Gakkai atinge 750.000 famílias membros.
- Março de 1958: a Soka Gakkai doa o Grande Salão de Leitura (Daikodo) ao
templo de Taisekiji.
- 16 de Março de 1958: Josei Toda conduz a cerimónia do ‘16 de Março’, onde
transmite a responsabilidade do movimento de kosen-rufu ao seu jovem
discípulo Daisaku Ikeda e a mais 6.000 membros do departamento de jovens.

O Sr. Toda faleceu no dia 2 de Abril de 1958. Realizou a sua missão e


estabeleceu firmemente a fundação do movimento de kosen-rufu.

Daisaku Ikeda

Daisaku Ikeda nasceu em Tóquio, a 2 de Janeiro de 1928. Foi o quinto


filho de uma família de produtores de algas marinhas. Cresceu numa época
em que o regime militarista japonês estava a conduzir inevitavelmente a
nação rumo à guerra. Em 1937, ano em que a grande hostilidade entre o
Japão e a China culminou na conflagração entre os dois países, o irmão mais
velho de Daisaku Ikeda foi enviado para a frente de batalha, seguido um
tempo depois pelos seus outros três irmãos. O seu irmão Kiichi morreu na
guerra, mas a forma como havia expressado o seu desagrado pela forma
como os militares japoneses tratavam o povo chinês ficou firmemente
gravado no coração de Daisaku Ikeda.
Quando era ainda um jovem adolescente na década de 1940, o Japão
entrou na Segunda Guerra Mundial. A sua casa foi destruída duas vezes por
ataques aéreos e ele sofreu na pele a devastação dos bombardeamentos
que arrasaram a cidade de Tóquio, a 9 e 10 de Março de 1945, nos quais
pereceram cem mil habitantes.
No caos do Japão do pós-guerra, Ikeda conheceu Josei Toda (1900-
1958), líder da organização budista Soka Gakkai, que se tinha oposto às
políticas do governo durante a época da guerra e, por isso, sofrido
perseguições e dois anos de prisão. Josei Toda estava empenhado em
reconstruir a Soka Gakkai, a organização que tinha fundado com o educador
Tsunesaburo Makiguchi (1871-1944) em 1930, e que tinha sido praticamente
destruída pelo governo militarista durante a guerra. Josei Toda tinha a
convicção de que a filosofia do budismo de Daishonin, que se centrava no
potencial de cada ser humano, haveria de ser a chave para alcançar uma
transformação social dentro do Japão. Daisaku Ikeda ingressou na Soka
Gakkai em 1947. Dedicou-se completamente a apoiar o Sr. Toda e a sua
visão, e completou a sua própria educação sob sua orientação, tendo-se
convertido no seu mestre de vida. Daisaku Ikeda foi assistente pessoal do Sr.
Toda quando as suas empresas colapsaram durante a guerra, e mais tarde
desempenhou um papel crucial no monumental processo de aumentar o
número de membros da Soka Gakkai de 3.000 (em 1951) para 750.000 (em
1957).
Os seus feitos enquanto Responsável do Departamento de Jovens
incluem:

- A Campanha de Osaka: liderou a campanha de propagação no capítulo de


Osaka, atingindo 11.111 novas famílias membros num único mês.
- O incidente dos mineiros de Yubari: o sindicato dos mineiros de Yubari
violou o direito dos membros da Soka Gakkai à liberdade religiosa,
expulsando do sindicato os membros da organização. Em Junho de 1957,
Daisaku Ikeda visitou Yubari e refutou a violação do sindicato, protegendo os
membros desta perseguição.
- O incidente de Osaka: Daisaku Ikeda foi preso pela polícia de Osaka sob
suspeita de ter violado a lei eleitoral. Ele liderou uma campanha eleitoral em
Osaka e alcançou uma vitória miraculosa. Esta vitória foi um choque [para os
poderes instituídos], o que provocou a sua prisão injustificada. Em 1962, o
tribunal declarou-o inocente.

• Presidente da Soka Gakkai no Japão

Em Maio de 1960, dois anos após a morte do Sr. Toda, Daisaku Ikeda,
com 32 anos, sucedeu-o no cargo de presidente da Soka Gakkai. Uma das
primeiras iniciativas que tomou na sua nova posição foi viajar para fora do
Japão, com o objectivo de encorajar os membros da Soka Gakkai que viviam
no estrangeiro. Nos Estados Unidos, como nos diversos países que visitou
durante os anos seguintes, Ikeda estabeleceu uma estrutura organizativa que
motivou e facilitou uma relação de maior frequência entre os membros. Nos
primeiros anos da sua presidência, fez viagens pela América do Norte e do
Sul, Europa, Ásia, Médio Oriente e Oceânia, e em cada lugar estabeleceu as
fundações de uma organização global que conta hoje com membros em 192
países e territórios. Foi também durante as suas viagens ao estrangeiro que
começou a projectar a fundação de uma série de instituições dedicadas à
investigação académica, ao intercâmbio cultural e ao estudo da paz. Tais
organismos incluem:

- o Instituto de Filosofia Oriental (1962);


- o Museu Min-On (1963);
- o Museu Fuji de Arte de Tóquio (1983);
- o Centro Ikeda para a Paz, Aprendizagem e Diálogo (anterior ‘Centro de
Investigação para o Século XXI’, 1993);
- e o Instituto Toda de Investigação para a Paz (1996).

Tanto Josei Toda como o seu mestre Tsunesaburo Makiguchi foram


educadores que se dedicaram a implementar a pedagogia desenvolvida pelo
Sr. Makiguchi sobre a criação de valor, e uma das iniciativas de Daisaku
Ikeda foi estabelecer um sistema de instituições educativas que reflectissem
os ideais dos seus predecessores:

- Fundação das Escolas Soka de Ensino Básico e Secundário (Tóquio,


1968); seguida do estabelecimento da Universidade Soka (1971); e da
Universidade Soka dos Estados Unidos, (2001).

A criação destes centros de aprendizagem, que estão abertos a todas as


pessoas e não oferecem uma educação religiosa, foi o primeiro grande passo
dentro de um trabalho incessante visando desenvolver um sistema de
educação humanista que Daisaku Ikeda descreveu como ‘a derradeira tarefa
da sua vida’. Em 1965, Daisaku Ikeda começou a escrever o romance
histórico, em fascículos, intitulado A Revolução Humana, no qual se detalham
as lutas do seu mestre Josei Toda para reconstruir a Soka Gakkai, após ser
libertado da prisão, no fim da Segunda Guerra Mundial. A obra inicia-se com
uma condenação concisa e feroz da guerra e do militarismo, e apresenta um
contexto claro dos objectivos movimento: “A guerra é atroz e desumana.
Nada é mais cruel, nada é mais trágico”.
A 8 de Setembro de 1968, durante um discurso pronunciado perante
cerca de 20.000 membros do Departamento de Estudantes da Soka Gakkai,
Daisaku Ikeda fez um apelo à normalização das relações diplomáticas Sino-
Japonesas, e delineou os passos para a concretização desse objectivo.
Nessa altura, a China era considerada por muitas pessoas no Japão como
uma nação inimiga, e encontrava-se isolada dentro da comunidade
internacional. A proposta de Daisaku Ikeda recebeu duras críticas, mas,
mesmo assim, atraiu a atenção daqueles que, tanto no Japão como na
China, estavam interessados no restabelecimento das relações entre ambos
os países – como foi o caso do primeiro ministro Chou Enlai.
Daisaku Ikeda começou os seus diálogos com figuras da política
durante a década de 1970. Foi uma época de profunda tensão entre as
superpotências, que mantinha a humanidade inteira alerta, sob ameaça de
um extermínio nuclear. Entre 1974 e 1975, Daisaku Ikeda visitou a China, a
União Soviética e os Estados Unidos, ocasiões em que se reuniu com Chou
Enlai, com o primeiro ministro soviético Alexei Kosygin e com o Secretário de
Estado norte-americano Henry Kissinger, respectivamente, num esforço para
superar o ponto-morto em que se encontravam as relações internacionais, e
para abrir um canal de comunicação que prevenisse o estalar de uma guerra.
Uma das características distintivas da filosofia da paz de Daisaku
Ikeda é o seu compromisso com o diálogo. Ele reuniu-se e trocou pontos de
vista com representantes das esferas culturais, educativas e artísticas de
todo o mundo. Muitos dos seus encontros foram publicados em forma de
diálogos colaborativos, em que ambos os interlocutores buscam um terreno
comum sobre diversos temas: história, economia, paz, astronomia e
medicina, entre muitos outros. Dentre as pessoas com quem Daisaku Ikeda
publicou estes diálogos encontram-se o historiador britânico Arnold Toynbee,
o ex-presidente soviético Mikail Gorbatchov, o teólogo Harvey J. Cox, a
especialista em desenvolvimento sustentável Hazel Henderson, o activista de
direitos humanos Austregésilo de Athayde, o literato chinês Jin Yong, e o
líder muçulmano indonésio Abdurrahman Wahid.
As actividades de Daisaku Ikeda durante a década de 1970 são prova
de que a sua visão sobre o papel que o budismo de Nichiren Daishonin
dentro da sociedade – a importância que essa filosofia confere à felicidade
das pessoas – não se limita a um sentido fechado da religiosidade. Para
Daisaku Ikeda, o budismo de Nichiren é a base filosófica de um compromisso
activo com os desafios globais do mundo de hoje.

• Presidente da Soka Gakkai Internacional

A 26 de Janeiro de 1975, os representantes da Soka Gakkai de 51


países e territórios reuniram-se na Ilha de Guam, onde se fundou a Soka
Gakkai Internacional (SGI), com Daisaku Ikeda como presidente fundador.
Guam, cenário de um dos combates mais sangrentos da Segunda
Guerra Mundial, foi escolhida simbolicamente como local dessa reunião,
onde se iniciaria um novo movimento para a paz. Desde então, a SGI tem
criado uma ampla rede global, com organizações afiliadas e independentes
em 84 países e territórios.
Para além de ensinar a prática e a filosofia do budismo de Nichiren
Daishonin, as organizações locais da SGI promovem as causas da paz, da
cultura e da educação nas suas respectivas sociedades, e, a uma escala
global, a organização desenvolveu exposições públicas internacionais sobre
temas como a criação de uma cultura de paz, a abolição nuclear, o
desenvolvimento sustentável e os direitos humanos.
Em 1983, Daisaku Ikeda começou a escrever propostas de paz que
tem vindo a publicar anualmente no dia do aniversário da fundação da SGI,
26 de Janeiro. Estas propostas oferecem uma perspectiva sobre diversas
questões fundamentais para a humanidade, sugerindo soluções e respostas
com base na filosofia budista. Entre os assuntos prioritários nelas abordados,
contam-se as iniciativas para fortalecer as Nações Unidas e para incentivar a
participação da sociedade civil, que Daisaku Ikeda considera essencial para
estabelecer um mundo de paz. As propostas ilustram a importância crucial do
diálogo como meio de superar a estagnação em graves questões globais.
Para além da sua própria experiência em tempos de guerra, o ponto
de partida das actividades de Daisaku Ikeda em prol da paz foi a declaração
para a abolição das armas nucleares proclamada por Josei Toda em 1957,
um ano antes da sua morte. Toda denunciou tais armas como sendo ‘a
incarnação do mal absoluto’ e enfatizou que a sua utilização deveria ser
condenada, não do ponto de vista da ideologia, da nacionalidade ou da
identidade étnica, mas a partir da dimensão universal da humanidade e do
direito inalienável à vida de todas as pessoas. Daisaku Ikeda dedicou-se sem
descanso a propagar esta mensagem por todo o globo, despertando a
consciência pública e construindo um movimento popular dedicado à abolição
dessas armas absolutamente desumanas.
Em 1974, Daisaku Ikeda aceitou o convite para dar uma conferência
na Universidade da Califórnia, em Los Angeles. No ano seguinte, deu uma
conferência na Universidade Estatal de Moscovo, intitulada Uma Nova Rota
para o Intercâmbio Cultural entre Oriente e Ocidente. Na mesa ocasião,
aceitou o doutoramento honorário que lhe foi conferido por aquela
universidade. Tais feitos assinalaram o começo de um reconhecimento
internacional cada vez maior pelos contributos de Daisaku Ikeda para os
intercâmbios culturais e a promoção da educação e da paz.
Durante as décadas de 1980 e de 1990, Daisaku Ikeda foi convidado a
apresentar conferências em cerca de 30 universidades da Ásia, América e
Europa. As suas dissertações sobre temas como a educação, o intercâmbio
cultural e a paz estão sustentadas sobre a perspectiva budista, tendo sempre
em conta as particularidades do contexto cultural, intelectual e histórico do
país em que se realizam.
Até hoje, Daisaku Ikeda já foi distinguido com cerca de 300
doutoramentos honorários, outorgados por instituições de todo o mundo. Os
seus escritos sobre a paz são frequentemente utilizados em cursos
universitários, em países tão diversos quanto a Argentina e os Estados
Unidos. Mais de 20 institutos de investigação académica se dedicam ao
estudo da sua filosofia.
O princípio fundamental do pensamento de Daisaku Ikeda é a
suprema dignidade da vida, um valor que ele considera ser a chave para uma
paz duradoura e para a felicidade da espécie humana. Na sua visão, a paz
global reside essencialmente na transformação consciente que cada
indivíduo empreende no mais profundo da sua vida, e não depende apenas
das reformas sociais ou estruturais. Mesmo que possa parecer um longo
caminho a percorrer, Daisaku Ikeda tem a convicção de que este é a única
forma de construir uma cultura de paz imperecível. Essa ideia expressa-se de
maneira mais sucinta numa passagem da sua mais conhecida obra, A
Revolução Humana, que relata, de forma ficcional, a história e os ideais da
Soka Gakkai: “Uma grande revolução num único indivíduo irá ajudar a
alcançar uma mudança no destino de uma nação e, além disso, irá permitir
uma mudança no destino de toda a humanidade.”
SECÇÃO E: LIBERDADE DE ESPÍRITO

O PROBLEMA CRIADO PELO CLERO


Perspectiva histórica do ponto de vista do ensino de Nichiren Daishonin

[Texto baseado no discurso do presidente da SGI, Daisaku Ikeda, numa


conferência nacional executiva de responsáveis realizada no Centro Cultural
de Shinano, Shinanomachi, Tóquio, a 25 de Novembro de 2003.]

Introdução
Quem são as pessoas mais dignas de respeito? Aquelas que
trabalham para a felicidade dos seus semelhantes; aquelas que estão
firmemente comprometidas com a verdade e a justiça. Esta é a descrição dos
membros da SGI, e cada um deles é um tesouro de valor incalculável.
É imperioso transformar a realidade de um mundo que oprime e obriga
pessoas boas e humildes a sofrer. Esta é a era da democracia, a era que
reconhece a soberania do povo. Mesmo as pessoas mais poderosas,
detentoras da maior autoridade, só existem para servir os seres humanos. O
contrário jamais deveria acontecer.
É fundamental que valorizemos e apreciemos cada indivíduo. Este é o
ponto de partida de kosen-rufu. Esforcemo-nos calorosamente por dar alento
a cada pessoa, por abraçar e apoiar as pessoas. Escutemos os seus
problemas e trabalhemos ao lado dos nossos pares até que atinjam a vitória.
As vozes que vibram de sinceridade, as vozes impregnadas de
convicção, são uma incrível força de bem. As palavras, como o ar que
respiramos, são grátis. O mesmo acontece com a oração. Porém, embora
não custem dinheiro, são algo infinitamente importante e poderoso, e
constituem a base da nossa vida.
De acordo com as palavras de Daishonin, “a voz faz o trabalho do
Buda”, é fundamental que os líderes usem a sua voz sem reservas para
dialogar com as pessoas.

Prelados corruptos que conspiram com as autoridades

Numa carta a um dos seus discípulos, Matsuno Rokuro Saemon, Nichiren


Daishonin escreve:

O quinto volume [do Sutra do Lótus] afirma que, após a morte do Buda,
chegados os Últimos Dias da Lei, um devoto do Sutra do Lótus irá
certamente aparecer e que, nessa altura, nesse país, um sem número de
monges, que professam ou violam os preceitos, se reunirá e denunciará o
devoto ao governante da nação, causando o seu desterro e a sua ruína. (…)
Por isso, estou convencido que atingirei a Budicidade no futuro. (WND-1,
892)

Nesta carta, Daishonin esboça claramente o paradigma que seguem


as perseguições que recaem sobre os praticantes do ensino correcto dos
Últimos Dias da Lei, referindo-se à sua própria luta baseada no facto de ter
lido o Sutra do Lótus com a sua vida.
Por outras palavras, a perseguição será provocada por prelados
corruptos, e os meios empregados serão a difamação e as acusações
infundadas. Para além disso, estes prelados formarão alianças com
indivíduos sem escrúpulos. detentores de responsabilidade e autoridade
seculares. Porém, o que assegura aos praticantes o atingir da Budicidade é
precisamente o triunfo sobre este tipo de ataques. Este princípio invariável
está exposto no Sutra do Lótus e em muitos escritos de Daishonin.

Por exemplo, em “A Selecção do Tempo”, Daishonin afirma:

Tais inimigos encontrar-se-ão não tanto entre os maus governantes e


os ministros perversos, entre os não-budistas e os reis-demónio, ou entre os
monges que desobedecem aos preceitos. Pelo contrário, eles são esses
grandes caluniadores da Lei que se encontram entre os prelados eminentes
que aparentam seguir os preceitos e ser homens de sabedoria. (WND-1, 584)

Mais, em “Sobre os Presságios”, cita um excerto de uma escritura


budista que afirma:

“Tais maus prelados exilarão e mandarão matar este homem do


ensino correcto.” (WND-1, 647)

Em “Resposta às acusações de Gyobin”, cita também outro sutra onde


Shakyamuni manifesta o seguinte:

“Os que tratarão de destruir o meu ensino correcto serão os prelados


com aspecto de arhats, que fingirão possuir as três revelações e os seis
poderes transcendentais”. (GZ, p.182)

E na “Carta de Petição de Yorimoto”, que Daishonin escreveu em


nome do seu discípulo Shijo Kingo para limpar o seu nome de falsas
acusações, assinala:

“[…] o venerável Nichiren, enviado D’Aquele que Chegou da Verdade


Shakyamuni, foi exilado devido às acusações fabricadas pelo monge
Ryokan”. (WND-1, 812)

As provas e as características que distinguem o devoto do Sutra do


Lótus

A Soka Gakkai está a levar a cabo kosen-rufu de acordo com o ensino de


Daishonin. Precisamente por isso, em consonância com o histórico 60º
aniversário da sua fundação [em 1990], sofre uma perseguição como a que
prevê o Sutra do Lótus e indica o Gosho. O facto de serem difamados e
insultados, serem vítimas de ódios e invejas ainda maiores do que as que
ocorreram durante os tempos do Buda, e serem atacados pelos três
poderosos inimigos, são emblemas e provas que distinguem os devotos do
Sutra do Lótus.
Devoto do Sutra do Lótus é aquele que luta intrepidamente contra
grandes perseguições e pratica o ensino correcto.

O Tremendo Crescimento de Kosen-rufu Deve-se Totalmente à Soka


Gakkai

Em Março de 1990 o clero, sem qualquer diálogo com a Soka Gakkai,


anunciou arbitrariamente que iria aumentar os valores das doações
monetárias a cobrar pela prestação de diversos serviços religiosos aos
crentes laicos. Por exemplo, subiram em 50% a doação exigida para receber
o Gohonzon, e duplicaram a doação exigida para a inscrição de placas
memoriais para os falecidos (Jp. toba) e por fazerem as cerimónias
memoriais pelos falecidos. Esta foi uma decisão despótica, completamente
contra qualquer padrão razoável de uma conduta decente. Visto agora, foi
claramente um antever da natureza avara do clero que mais tarde seria
totalmente exposta.
No mês seguinte, em Abril de 1990, sob o patrocínio de Daisaku
Ikeda, terminou de se construir no templo principal o Albergue Geral nº2 do
Templo (um albergue para participantes nas peregrinações. O Albergue nº 1
do templo tinha sido concluído em 1988.) Só em 1990, somando a este
segundo albergue do templo, a Soka Gakkai construiu 8 templos regionais
para o clero em vários locais pelo Japão. A propósito, a Soka Gakkai
construiu um total de 356 templos, dos quais 320 foram construídos [sob a
presidência de Daisaku Ikeda].
Também, ao longo dos anos, foram conduzidos incontáveis grupos
de peregrinos ao templo principal – o total de presenças chegou a mais de 70
milhões – e fizeram-se esforços concertados para melhorar as infra-
estruturas do Taiseki-ji, incluindo o patrocínio da construção do Grande
Templo Principal (Sho-Hondo) e do Grande Salão de Recepção
(Daikyakuden).
Na reforma das terras levada a cabo após a Segunda Guerra
Mundial, os terrenos do Taiseki-ji foram drasticamente reduzidos para menos
de 17 hectares (42 acres). No entanto, através das contribuições da Soka
Gakkai ao longo dos anos, o terreno do templo principal abrange agora mais
de 330 hectares (816 acres), uma dimensão sem precedente na história do
templo.
O generoso apoio ao clero é a razão pela qual os sucessivos sumos
prelados Nissho, Nichijun, e Nittatsu4 expressaram uma profunda gratidão e
louvor pela Soka Gakkai.
Em particular, 1990 marcava o 700º aniversário da fundação de
Taseki-ji, e, para celebrar tal ocasião, o departamento local de jovens de
Shizuoka organizou um maravilhoso festival cultural em Setembro. Apesar
dos membros do departamento de jovens estarem a trabalhar tão
arduamente na preparação deste evento, Nikken e os seus camaradas
estavam reunidos no Escritório de Tóquio do Taiseki-ji em Nishikata, no

4
O 64º alto prelado, Nissho (1879-1957); o 65º alto prelado, Nichijun (1898-1959); e o 66º alto prelado,
Nittatsu (1902-79); Nikken foi o 67º alto prelado).
Bairro de Bunkyo (em 16 de Julho), e no Dai-shonin (um salão de palestras)
nos terrenos do templo principal (em 18 de Julho), arquitectando uma
conspiração para destruir a Soka Gakkai, à qual chamaram Operação C [“C”
de “cortar”].
Este é exactamente o tipo de intriga com o objectivo de obstruir
kosen-rufu que Daishonin refere quando escreve: “As pessoas odeiam-me e
conspiram incessantemente em segredo para me prejudicarem”. (WND-1,
330), e “[O prelado corrupto Gyochi] conspira tramas e põe a correr mentiras
com o objectivo de eliminar o pouco que resta dos praticantes do Sutra do
Lótus” (GZ, 853).
Foi durante uma audiência em 21 de Julho – somente três dias após
a reunião clandestina no templo principal para conspirar a queda da Soka
Gakkai – que Nikken atacou o Presidente Akiya, acusando-o de “arrogância
herética”. A sua perda de compostura e os seus modos tirânicos foram
totalmente contrários a um sumo prelado de uma escola budista.

Um Esquema Fraudulento

Então, em Dezembro, quando o ano de 1990 estava a chegar rapidamente


ao fim, o clero enviou subitamente uma carta inquérito5 à Soka Gakkai.
Continha uma lista das mais ridículas acusações – tais como a acusação de
que cantar o grandioso hino de Beethoven à liberdade humana universal,
“Ode à Alegria”, constituía “elogio a ensinos não-Budistas”. Mais ainda, o
clero exigia uma resposta às suas acusações no prazo de sete dias.
Procurando descobrir o que tinha despoletado esta situação, os
responsáveis seniores da Gakkai fizeram todos os esforços para se
encontrarem e dialogarem com os representantes do templo principal, mas o
clero rejeitou todos os pedidos.
Então, em 27 de Dezembro, o clero convocou uma sessão especial
da assembleia, na qual reviu as regras da Nichiren Shoshu, e com isso
exoneravam Daisaku Ikeda da posição de líder de todas as organizações
laicas da Nichiren Shoshu. Também o Presidente Akyia e outros
responsáveis da Soka Gakkai foram destituídos dos seus cargos de
representantes laicos seniores da Nichiren Shoshu. Os membros do Japão
ficaram aturdidos com esta acção. Os seus feriados de Ano Novo, pelos
quais esperavam com alegria e antecipação, foram completamente
arruinados.
Além disso, na sua mensagem de Ano Novo transmitida na edição
da revista mensal de estudo, a Daibyakurengue, em Janeiro de 1991, [que foi
posta à venda em meados de Dezembro de 1990, antes destes
acontecimentos terem lugar], Nikken tinha elogiado o crescimento e
desenvolvimento da Soka Gakkai. Este foi um exemplo evidente de Nikken
ter “duas caras” (WND-1, 324) e “contradizendo as suas próprias palavras”
(cf. WND-1, 807), que são vistas no budismo como sérias ofensas.

[Nikken escreveu na sua mensagem de Ano Novo no Daibyakurengue: “Um


dos mais notáveis feitos da liderança do Presidente Ikeda, neste período do

5
Um documento intitulado “Questões Referentes ao Discurso do Presidente Honorário Daisaku Ikeda
na 35ª Reunião de Responsáveis de Centro.” Esta reunião de responsáveis teve lugar a 16 de
Novembro de 1990, para celebrar o 60º aniversário da Soka Gakkai.
pós-guerra de migração humana global e intercâmbio, tem sido o grande
avanço de Kosen-rufu mundial através do estabelecimento de organizações
locais para os membros que apareceram em cada país. O firme
desenvolvimento global de Kosen-rufu que vemos hoje é um maravilhoso
acontecimento na história do budismo, de acordo com as palavras douradas
em “A Selecção do Tempo”.]

No começo de 1991, Nikken recusou receber o Presidente da Soka


Gakkai, Sr. Akiya, e o Director Geral, Sr. Morita, para a sua troca habitual de
cumprimentos de Ano Novo no templo principal, e, depois disso, evitou
sempre encontrar-se com os mesmos, declarando que “não eram dignos de
ter uma audiência” com ele.
Nos seus escritos, Nichiren Daishonin descreve a forma cobarde como
o infame Ryokan tentou identicamente evitar o diálogo: “Quando eu voltei de
facto para Kamakura [do exílio em Sado], Ryokan fechou os seus portões e
proibiu a entrada a qualquer pessoa. Por vezes, até fingia estar doente,
dizendo que tinha apanhado uma constipação” (WND-1, 482).
Nikken, como um Ryokan dos dias de hoje, comportou-se exactamente
da mesma forma.

A Natureza do Sábio Falsos

Nichiren Daishonin escreve detalhadamente sobre a natureza dos sábios


falsos arrogantes – o terceiro dos três poderosos inimigos3:

Vamos aplicar estas passagens do sutra a Ryokan. Elas


descrevem-no na perfeição. Podíamos resumi-las em cinco
características. Primeiro, dar a imagem de seguir os
ensinamentos mas, na realidade, ser devasso. Segundo, ser
mesquinho e avaro. Terceiro, ser invejoso. Quarto, postular
ideias erradas. Quinto, ser lascivo.
(GZ, 350)

Nichiren Daishonin expõe claramente a verdadeira natureza de


Ryokan. Nikken é também o epítome de um falso sábio. Ryokan perseguiu
Nichiren Daishonin e os seus seguidores com todos os meios que conseguiu
reunir. Da mesma maneira, Nikken procurou perseguir e destruir a Soka
Gakkai.

Acusações sem Fundamento

Voltando ao assunto da carta inquisitória recebida do clero [em Dezembro de


1990, intitulada “Questões referentes ao Discurso do Presidente Honorário
Ikeda na 35ª Reunião de Líderes de Sede da Soka Gakkai”4]. Uma vez que o


3
Os Três Poderosos Inimigos: Tipos de poderosos inimigos que perseguem aqueles que propagam o
Sutra do Lótus na época impura depois do falecimento de Shakyamuni. Baseado na secção de 20
linhas do verso do capítulo “Devoção Encorajadora” (13º) do Sutra do Lótus, o Grande Professor Miao-
lo identifica-as como pessoas laicas arrogantes, prelados arrogantes, e falsos sábios arrogantes.
4
O Presidente da SGI Sr. Ikeda é também o Presidente Honorário da Soka Gakkai. A 35ª Reunião de
Líderes de Sede neste caso teve lugar a 16 de Novembro 1990.
clero continuava a rejeitar o pedido para dialogar sobre o assunto, a Soka
Gakkai acabou por enviar uma resposta escrita, na qual protestava contra as
suas acusações sem fundamento e apontava as incorrecções na transcrição
do discurso, proveniente de uma gravação de origem questionável.
Como resultado, o clero foi forçado a reconhecer a existência de vários
erros na sua transcrição, e retirou as questões relacionadas com essas
citações falaciosas. A sua retractação destruiu inteiramente o fundamento em
que se basearam as suas falsas acusações. Mas, em vez de apresentarem
um pedido de desculpas oficial, lançaram-se numa tentativa de provocar
problemas nas organizações da SGI no estrangeiro e de intimidarem e
alarmarem todas as pessoas de variadas maneiras, como, por exemplo,
recusando-se a conceder o Gohonzon aos membros da Soka Gakkai.

Conluio de um Ryokan e um Devadatta dos Dias de Hoje

Nichiren Daishonin, referindo-se ao ensinamento do Sutra do Lótus de que


“os demónios maus apoderar-se-ão de outros,” escreve: “Como o poder do
demónio celestial não tem efeito sobre mim, ele [o Rei Demónio do Sexto
Céu] procura então apoderar-se do governante e dos seus altos funcionários,
ou de prelados tolos como Ryokan, levando-os a odiarem-me” (WND-1, 310).
Inúmeros acontecimentos demonstram que o que está por detrás da
conspiração para perturbar a união harmoniosa dos crentes, adveio do
conluio de Nikken com o que o budismo designa como um “mau amigo” – um
indivíduo a quem o próprio Nikken uma vez acusou de ser semelhante a
Devadatta [o arqui-inimigo de Shakyamuni].
Nichiren Daishonin escreve: “[Desta forma] se associaram pessoas
más a Devadatta” (WND, 147), e “Devadatta observou as actividades do
Buda e, com uma pedra grande, fez o seu sangue [do Buda] correr” (WND,
146).
Por outras palavras, é como se um Devadatta dos dias de hoje e um
Ryokan moderno juntassem forças para destruir a Soka Gakkai, uma
organização que está fielmente a levar a cabo a intenção e o decreto do
Buda.

Uma Medalha de Honra

O clero enviou depois um aviso anunciando que o sistema existente de


peregrinação mensal operado pela Soka Gakkai5 seria abolido e que, num
novo sistema a ser implementado directamente sob o controlo do clero, os
membros da Soka Gakkai teriam de se registar nos seus templos locais para
obter os documentos necessários que lhes permitiriam visitar Taiseki-ji. Por
outras palavras, o clero tentou usar as peregrinações como um meio de
chantagem para a submissão dos membros da Soka Gakkai. Os seus
esforços foram, contudo, em vão, porque os membros se recusaram a ser
defraudados ou influenciados por tais tácticas.

5
Depois da 2ª Guerra Mundial, o clero e o templo principal estavam numa situação de extrema pobreza
tal, que se considerou a hipótese de tornar Taiseki-ji numa atracção turística, como forma de se
sustentar. Devido ao seu desejo sincero de proteger o templo principal, o segundo presidente Josei
Toda inaugurou o sistema de peregrinação mensal da Soka Gakkai em Outubro 1952, que serviu para
contribuir significativamente para o subsequente desenvolvimento e prosperidade do clero durante as
quatro décadas no qual teve lugar.
Quando o primeiro e o segundo presidentes da Soka Gakkai,
Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda, foram presos pelas autoridades
militares japonesas durante a Segunda Guerra Mundial, o clero também os
proibiu cruelmente e a todos os membros da Soka Gakkai, de visitar Taiseki-ji
e qualquer outro templo da Nichiren Shoshu.
De forma semelhante, em 1952, quando um grupo de membros do
departamento de jovens lançou a sua chamada Operação Festival Tanuki,6
confrontando um padre calunioso sobre as suas acções traidoras durante a
guerra, a Assembleia da Nichiren Shoshu reuniu-se para demitir o Presidente
Toda de representante laico sénior da Nichiren Shoshu e proibi-lo de visitar o
templo principal.
Nessa altura, o Presidente Toda escreveu sobre essa última decisão
na sua coluna “Epigramas” no Seikyo Shimbun:

Eu pensei que tinha recebido uma recompensa pela


minha lealdade em censurar a calúnia à Lei, mas em vez de um
elogio, eles entregaram-me uma repreensão: “Está proibido de
visitar o templo principal!” Os meus discípulos responderam em
uníssono, “Sendo assim, nós não o visitamos também; aqui
têm!”
***

Quando perguntei ao nosso presidente, Epigrama da


Pessoa-Laica7, ele sorriu e disse: “Não dês muita importância. É
causa para celebração.
***

Como é explicado na descrição dos três poderosos


inimigos, um dos truques de malfeitores é afastar dos templos
os devotos do Sutra do Lótus. Agora o Buda concedeu ao
nosso presidente a distinta medalha de honra de ser afastado
do templo, como prova de que ele é um grande líder de
shakubuku.
***

O Epigrama da Pessoa-Laica sorri e diz: “Os membros


da Assembleia de Nichiren Shoshu são o segundo ou o terceiro
dos três poderosos inimigos?”

Tal como o Presidente Toda sabiamente compreendeu, a proibição das


peregrinações da Gakkai ao templo principal poderia também ser de facto
descrita como uma medalha de honra por parte de Nichiren Daishonin.

6
Operação Festival Tanuki foi o nome dado a um plano elaborado por um grupo de membros do
departamento de jovens em 1952 para protestar contra um prelado sénior calunioso de nome Jimon
Ogasawara. (O nome da operação derivou do facto de Jimon com frequência dizer de si mesmo, “Sou
tão habilidoso como um tanuki [um cão racoon japonês]”) Durante a guerra, procurando atrair favores
do governo militarista, Ogasawara tinha defendido a doutrina errónea de que o Buda era meramente
uma manifestação provisória da Deusa do Sol Xinto. Ele foi ainda responsável pelo iniciar das
perseguições do governo à Soka Gakkai. Na Operação Festival Tanuki, os membros do departamento
de jovens, motivados por um desejo de proteger a pureza dos ensinamentos de Nichiren Daishonin,
refutaram a teoria errónea do prelado e forçaram-no a escrever uma carta de pedido de desculpas ao
Presidente Makiguchi, que tinha morrido na prisão pelas suas crenças.
7
Pseudónimo do Presidente Toda para se referir a si próprio.
A Profunda Sabedoria e Consideração do Buda

A Soka Gakkai conduziu e orientou a organização de peregrinações em


grupo a Taiseki-ji com o maior cuidado e atenção a cada pormenor, orando
constantemente para que tais visitas fossem feitas em segurança, sem
acidentes. Através destes esforços meticulosos, estabeleceu-se o brilhante
recorde de um grande total de mais de 70 milhões de visitantes ao templo
principal [durante um período de 40 anos].
É bem possível, no entanto, que se as peregrinações continuassem a
acontecer àquele ritmo, um grave acidente pudesse ter ocorrido.
Nichiren Daishonin estava sempre profundamente preocupado com a
segurança dos seus discípulos. Com esta prioridade sempre em mente, ele
incitou Shijo Kingo a evitar visitá-lo em Minobu, enquanto a viagem de ida e
volta fosse perigosa. (cf. WND-1, 952-53).

Uma Petição Assinada por Milhões em Todo o Mundo

Em Novembro de 1991, o clero enviou uma ordem de dissolução à Soka


Gakkai (datada de 7 de Novembro), e depois um aviso de excomunhão
(datado de 28 de Novembro), que foram tentativas evidentes de intimidação.
Imperturbáveis, contudo, os membros da Soka Gakkai celebraram com
alegria o dia da “excomunhão”, como que assinalando a nossa
independência espiritual em relação ao clero corrupto.
A 27 de Dezembro, um mês depois— um ano depois do clero ter
demitido Daisaku Ikeda da liderança de todas as organizações laicas da
Nichiren Shoshu — a Soka Gakkai enviou uma petição exigindo a demissão
de Nikken da sua posição de sumo prelado. A petição foi assinada por cerca
de 16.250.000 pessoas no mundo inteiro. Era Nikken, pelo contrário, que
havia sido “excomungado” por uma aliança global de Bodhisattvas da Terra,
composta por 16.250.000 pessoas.
Ao mesmo tempo, prelados honestos de boa consciência tomaram
uma posição e anunciaram a sua solidariedade enquanto camaradas na fé
dedicados a kosen-rufu. Ao todo, 30 templos e 53 padres abandonaram a
Nichiren Shoshu.

Vozes de Apoio de Todo o Mundo

Pessoas conscientes e informadas de todo o globo começaram, também, a


manifestar-se em grande número, a apoiar e a defender a Soka Gakkai.
O Professor Nur Yalman da Universidade de Harvard é um
antropólogo cultural de renome. Nas suas observações na sequência da
segunda comunicação do Presidente Ikeda em Harvard, em Setembro de
1993, o Professor Yalman afirmou claramente, perante um auditório de
distintos educadores e eruditos, que a reforma religiosa levada a cabo pela
Soka Gakkai foi um desenvolvimento de grande significado na história do
budismo, tal como a reforma protestante tinha sido um marco na história do
cristianismo. O notável movimento reformista da Soka Gakkai, notou ele, iria
ter implicações importantes não só para o budismo, como também para
outras tradições religiosas. Ele descreveu-o como representativo de uma
nova partida e um novo desenvolvimento na história da religião.8
O falecido Dr. David Norton, um eminente professor de filosofia na
Universidade de Delaware nos Estados Unidos, expressou a sua posição
com poderosa convicção [1991]: “O clero, no seu ataque às actividades da
Soka Gakkai que tem vindo a construir uma rede de cultura e educação no
Japão e no mundo, é culpado do que só pode ser descrito como uma
profunda miopia ou, até mesmo, cegueira. Se me perguntarem a causa dessa
cegueira, temo que a minha única resposta só possa ser, ‘Cíume’”.
Acrescentou ainda: “O aviso de excomunhão por parte do clero vai
completamente contra o ensino de Nichiren de que todas as pessoas
possuem a natureza de Buda e que este potencial precioso nunca deve ser
afastado ou negado.”9
Grandes mentes fora do Japão vêem claramente as acções ultrajantes
e imprudentes do clero à sua luz verdadeira.

Um Movimento Laico Progressista contra um Clero Anacrónico

O professor Shin Anzai (1923-98), falecido professor emérito da Universidade


Sophia do Japão e notável sociólogo japonês da religião, partilhou o seguinte
ponto de vista:

Em anos recentes, a Soka Gakkai deu início a um novo


caminho enquanto organização laica separada do clero.
Considero isso como um resultado inevitável proveniente da
diferença fundamental entre a aberta e progressista Soka
Gakkai e o clero fechado e conservador. O clero transformou-se
num anacronismo, demonstrando uma ausência de
compreensão do valor da paz, cultura e educação, agarrando-
se a tradições limitadas e tentando controlar os seguidores
laicos pela autoridade e pela força. Se a Soka Gakkai não
tivesse reivindicado a sua independência em relação ao clero,
estaria eventualmente destinada a tornar-se numa organização
fechada e hipócrita, arruinando o seu brilhante futuro e o seu
desenvolvimento global. Os intelectuais e os jornalistas
japoneses têm de saber este facto, mas falham completamente
em compreendê-lo. Acredito que isto advém de uma espécie de
inveja [em relação à Soka Gakkai] - o mesmo problema que
aflige o clero.10

O professor Tetsuro Aramaki, professor emérito da Universidade de


Kanazawa Seiryo (antiga Universidade de Economia de Kanazawa) e um
respeitado economista, observou:

O clero, que por direito se deveria dedicar a salvação de


todos os seres vivos, na sua exigência de que o grupo laico


8
Seikyo Shimbun (o jornal diário da Soka Gakkai), 26 de Setembro de 1993.
9
Seikyo Shimbun, 19 de Dezembro de 1991.
10
Soka Shimpo (o jornal quinzenal do departamento de jovens da Soka Gakkai), 20 de Agosto de 1997.
Soka Gakkai se dissolva, mostra uma insensibilidade totalmente
imprópria de uma organização religiosa.11

Além dele, o Professor Yukio Kamono da Universidade de Asahi, um


notável professor de direito, que é também professor emérito da Universidade
de Kanazawa, disse:

Quando soube do Aviso de Excomunhão, devo dizer em


geral que senti que foi uma medida extrema e arbitrária.
Excomungar uma organização inteira sem qualquer discussão,
somente uma folha de papel – mesmo do ponto de vista de um
procedimento legal normal – é altamente irregular. 12

E o falecido Professor Kuniyasu Take (1933 – 2002) da Escola


Feminina de Artes Liberais de Doshisha em Kyoto, defendeu:

Porque é que o clero procura dissolver uma organização


dos seus crentes laicos [a Soka Gakkai] que se dedica à
libertação espiritual das pessoas de todo o mundo? Sinto-me
obrigado a destacar o comportamento suicida do clero.13

Uma Religião que Afirma o Valor da Vida

O Dr. Bryan Wilson, professor adjunto emérito da Universidade de Oxford e o


primeiro presidente da Sociedade Internacional para a Sociologia da Religião
(mais conhecida pelo acrónimo francês, SISR), com quem o Presidente Ikeda
desenvolveu um diálogo publicado com o título Human Values in a Changing
World: A Dialogue on the Social Role of Religion, (Valores Humanos num
Mundo em Mudança: um diálogo sobre o Papel Social da Religião) escreveu
sobre este assunto:

O que emerge das reacções do clero a esta abertura às


culturas internacionais [feita pela Soka Gakkai] é o
provincianismo limitado que prevalece nesta fechada casta
religiosa, isolada das correntes do pensamento contemporâneo,
que interpreta a sua herança espiritual como uma experiência
limitada e localizada...
Sem estes esforços por parte da Soka Gakkai, a Nichiren
Shoshu teria permanecido uma obscura seita Japonesa,
desconhecida do mundo secular, e provavelmente com muito
pouco significado, até mesmo no Japão. Ao defender o budismo
como uma religião que afirma a vida, a Soka Gakkai salvou o
budismo Japonês das suas preocupações com os rituais
fúnebres dos mortos.14


11
Seikyo Shimbun, 28 de Novembro de 1991.
12
Seikyo Shimbun, 13 de Dezembro de 1991.
13
Seikyo Shimbun, 22 de Novembro de 1991.
14
Daibyakurenge (o jornal de estudo mensal da Soka Gakkai), Janeiro de 1992.
Para além disso, o Dr.Wilson interpretou de forma positiva a
interrupção das peregrinações da Soka Gakkai ao templo principal, referindo
que “a fé religiosa transcende todo esse simbolismo localizado [como o
representado por Taiseki-ji].”15 Continuou:

É pela difusão do compromisso e da sua manifestação


na vida diária e no culto dos crentes que a religião desenvolve a
sua influência e realiza a sua missão. A devoção a um sítio
particular - por muito significativa que este tenha sido nos
períodos formativos do desenvolvimento da religião - deve dar
lugar a um espírito universalista se essa religião se quiser tornar
numa grande influência nos assuntos do mundo.16

O Dr.Wilson também considerou a emergência da liderança laica na


religião como parte de um inevitável processo histórico, e a sua afirmação
pode hoje, sem qualquer dúvida, ser comprovada.

Promovendo os Valores Profundos e a Universalidade do Budismo

Daisaku Ikeda publicou também um diálogo com o falecido historiador de arte


francês e campeão do espírito humanista, René Huyghe (1906-97), intitulado
Dawn After Dark (Amanhecer Depois da Escuridão). O Sr. Huyghe observou
que o mundo devia agradecer à Soka Gakkai por promover os valores
profundos e universais do budismo, assim como pelos seus esforços no
avanço da paz mundial através da elevação do espírito humano baseado nos
ideais budistas. Qualquer pessoa, disse, lamentaria ataques vergonhosos
motivados pela fome de poder ou de ganho material, que possam prejudicar
os esforços admiráveis da Soka Gakkai para erguer a humanidade, e o seu
esplêndido sucesso.17
O Dr. Howard Hunter, actual professor emérito de religião na
Universidade de Tufts nos Estados Unidos, disse [em 1991] que tinha um
grande interesse em observar que tipo de efeito a excomunhão de mais de
10 milhões de seguidores laicos por uma pequena minoria de prelados
reclamando ortodoxia, teria nos próprios prelados, uma vez que tinha sido
uma acção tão extraordinária. Acrescentou ainda que, quando um grupo
religioso perde o contacto com os corações dos seus seguidores que estão a
lutar genuinamente para aplicar as suas crenças religiosas na sociedade e no
mundo real, esse grupo está a caminho da ossificação.18

Um desenvolvimento sem precedentes

Cumprem-se este ano vinte anos desde a notícia de excomunhão por


parte do clero. A vitória da Soka Gakkai, à luz do budismo, é inquestionável.
Nichiren Daishonin registou o destino de Ryokan e dos seus colegas:
“Podem pensar que aqueles que acreditam no Prelado Dois Fogos [Ryokan]
prosperam [mas esto não é certamente o caso]” (WND, 638). A retribuição

15
Ibid.
16
Ibid.
17
Soka Shimpo, 6 de Março de 1991.
18
Seikyo Shimbun, 26 de Dezembro de 1991.
estrita que está a recair sobre Nikken e o seu grupo é prova de que eles
foram excomungados e condenados pelo próprio Nichiren Daishonin.
Hoje, todas as aberrações da seita Nikken foram postas a descoberto
perante o mundo: a conspiração para tentar destruir o movimento de kosen-
rufu, o falso credo de idolatrar o sumo prelado, a visão errónea da verdadeira
transmissão da Lei, o uso impróprio das cerimónias e serviços clericais, a
discriminação que coloca o clero acima da comunidade laica, e a corrupção e
degeneração gerais que impregnam a escola.
O Sr. Makiguchi, o nosso presidente fundador, observou certa vez:

Quão mais grave é a ofensa desses prelados Budistas e


Xintoístas que se encontram mais acima no rio e põem veneno
nas águas. Neste caso, mesmo uma pequena transgressão
pode tornar-se numa ofensa extremamente grave, plantando a
causa que trará má retribuição eternamente. Quão mais grave
ainda é, então, opor-se a um grande bem e contribuir para um
grande mal, reverenciar um grande mal e caluniar um grande
bem.

O Sr. Makiguchi referiu também:

Quanto mais os outros caluniam e desprezam o Sutra de


Lótus, maior a felicidade [que em última instância os seus
devotos viverão como resultado desta perseguição]. Vamos
certamente vencer na nossa luta. O importante é pormos em
acção nas nossas vidas o princípio de “transformar o veneno
em remédio”.

O Presidente Toda também declarou: “Trair a Soka Gakkai é trair


Nichiren Daishonin. Saberão do que falo quando virem a retribuição que
essas pessoas sofrerão no fim das suas vidas.”
E discutindo a “Carta de Sado” de Nichiren Daishonin, ele disse:
“Nichiren Daishonin declara que quando prelados maléficos se aliam a
governantes maléficos e perseguem aqueles que procuram estabelecer o
ensino correcto, então aqueles que lutam contra tal injustiça com a coragem
de um coração de rei leão, atingirão seguramente a Budicidade.”
O Sr. Toda disse ainda: “O espírito da Soka Gakkai é o de trabalhar
para a felicidade do nosso país e de todos os países do mundo. O propósito
de kosen-rufu é o de tornar possível que todos os povos do mundo vivam
felizes.”
E declarou: “Sejamos tão orgulhosos quanto os Reis Leões! Pois,
segundo o Gosho, é assim que nos tornaremos Budas – ‘tal como Nichiren’.”

Advertir Com Ainda Mais Firmeza os Inimigos do Buda

Nichiren Daishonin adverte firmemente:

Ambos, professor e discípulos cairão certamente no


inferno do sofrimento incessante, se virem inimigos do Sutra de
Lótus, mas lhes derem importância ou não os repreenderem.
(WND-1,747)

***

Mais do que oferecer dez mil orações para um remédio,


melhor seria simplesmente banir este mal específico. (WND-1,
15)

***

A partir deste momento, aconteça o que acontecer, não


se deixe influenciar na sua fé por nada. Deverá advertir com
ainda mais firmeza [os inimigos do Buda]. (GZ,1090)

Todas estas são passagens às quais o Presidente Makiguchi e o


Presidente Toda se referiam e que citavam e comentavam frequentemente.
Vamos, também nós, nunca abrandar na nossa luta, continuando a
lutar pela justiça até ao fim, tal como nos ensina Nichiren Daishonin.

A Fé é a Força Motriz Para a Vitória

Palavras que o Presidente Ikeda guarda como tesouros desde a sua


juventude:

As primeiras são do poeta americano, Walt Whitman (1819-92), que


cantou nas suas Folhas de Erva: “Eu seria o mais audaz / e o mais
verdadeiro ser do universo.”19 Sejam os mais audazes e os mais verdadeiros
seres do universo! Façamos disso o nosso objectivo.
O antigo dramaturgo grego Sófocles (c.496-406 AC) escreveu: “Em
qualquer situação, a verdade tem sempre a maior das forças.”20 Não existe
arma mais poderosa do que a verdade.
An Ch’angho (1878-1938), um importante arquitecto da independência
coreana, que é muitas vezes descrito como o Gandhi da Coreia, declarou:
“Sejam determinados para realizar dez coisas no espaço de tempo em que
outros realizam uma.”
A determinação é a chave para o crescimento e a fonte de força.
Uma passagem famosa dos escritos Budistas [que é citada pelo
Daishonin] afirma:

Se quer entender as causas que existiram no passado,


olhe para os resultados, tal como eles se manifestam no
presente. E se quer entender que resultados se manifestarão no
futuro, olhe para as causas que existem no presente. (WND,
279)


19
Walt Whitman, Leaves of Grass. (Nova Iorque: Dutton, 1968), p.392.
20
Sófocles, Fragmentos, editado e traduzido por Hugh Lloyd-Jones. (Cambridge MA: Harvard
University Press, 1996), p.413, fragmento 955.
Dedicando-nos a uma luta resoluta no presente, criamos um futuro
vitorioso cheio de esperança e felicidade. Em última instância, ao triunfarmos
agora, estamos a assegurar o nosso triunfo no futuro.
A fé é a força motriz para a vitória.
CRONOLOGIA

1990

13 de Março: Sem aviso ou diálogo prévio, a Nichiren Shoshu anuncia à Soka


Gakkai o aumento do preço que cobrava aos praticantes pela entrega de
Gohonzon e a realização de outras cerimónias.
16 de Julho: Nikken planifica a “Operação C”, junto com outros prelados da
Nichiren Shoshu.
16 de Dezembro: O administrador da Nichiren Shoshu, Nichijun, envia um
questionário à Soka Gakkai.
23 de Dezembro: A Soka Gakkai envia uma resposta, na qual propõe iniciar
um diálogo relativo ao questionário.
25 de Dezembro: Nikken reúne-se no Templo Principal com repórteres
sensacionalistas para planear a publicação de críticas à Soka Gakkai em
diversos meios.
27 de Dezembro: a Nichiren Shoshu organiza uma reunião urgente, modifica
o regulamento interno e destitui Daisaku Ikeda do seu cargo de responsável
geral dos crentes laicos da Nichiren Shoshu.

1991

2 Janeiro: Nikken recusa encontrar-se com o Presidente da Soka Gakkai,


Einosike Akiya, e com o Director Geral, que o visitam com a intenção de
dialogar.
12 de Março: Revela-se a intenção de Nikken de construir uma casa privada
em Tóquio.
17 de Março: O Director Geral da Soka Gakkai de Espanha abandona o
cargo, dado o desenrolar destes acontecimentos.
1 de Julho: A Nichiren Shoshu põe em marcha um novo sistema de
peregrinação, no qual é proibida a entrada no templo principal dos crentes
laicos que não tragam consigo uma autorização emitida por um templo local,
como medida de pressão aos membros da Soka Gakkai.
7 de Novembro: A Nichiren Shoshu envia uma carta a ordenar a dissolução
da Soka Gakkai.
28 de Novembro: A Nichiren Shoshu envia uma carta de excomunhão à Soka
Gakkai.
27 de Dezembro: A Soka Gakkai envia uma carta de petição de renúncia de
Nikken como sumo prelado, assinada por 16.249.638 pessoas.

1992

2 de Fevereiro: 7 prelados abandonam a Nichiren Shoshu e formam um


grupo com a intenção de promover a reforma da Nichiren Shoshu.
11 de Agosto: A Nichiren Shoshu expulsa Daisaku Ikeda como membro da
sua escola.

1993
2 de Outubro: A Soka Gakkai começa a entregar o Gohonzon de Nichikan
Shonin.
4 de Dezembro: Nikken visita Espanha para estabelecer um templo da
Nichiren Shoshu em Madrid, que recebe o nome de Myosho-ji.

1994

1 de Janeiro: Revela-se a existência da “Operação C”, através de uma nota


escrita por um prelado.
3 de Fevereiro: Revela-se a intenção de construir outra mansão privada para
a família Nikken em Tóquio.
24 de Julho: A Nichiren Shoshu convoca uma peregrinação de 60.000
pessoas ao Templo Principal. O fracasso na participação neste evento evita
um desastre, dadas as deficiências da organização.

1995

23 de Agosto: A Nichiren Shoshu anuncia a destruição do edifício do Templo


Principal conhecido como “Grande Salão de Recepção” (Sho-Hondo).

1997

30 de Novembro: O clero anuncia a perda de direitos dos membros da Soka


Gakkai como crentes laicos da Nichiren Shoshu.

1998

26 de Março: Fracasso da convocatória de uma peregrinação de 100.000


pessoas, e novo desastre organizativo.

1999
7 de Julho: Revelação de declarações em que Nikken manifesta as suas
dúvidas sobre a autenticidade do Dai-Gohonzon.

2005

4 de Dezembro: Nikken anuncia a sua intenção de renunciar ao cargo de


sumo prelado.
15 de Dezembro: Nikken torna efectiva a sua renúncia e Nichinyo Hayase é
designado sucessor.
16 de Dezembro: Celebra-se a cerimónia de mudança de sumo prelado.

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