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“Pemedebismo”: rupturas político, inclusive o PT, força social originalmente


e continuidades no Brasil antipemedebista. A despeito de vivermos uma “nor-
contemporâneo malidade democrática” (p. 9), o Brasil continuaria
a não ser propriamente uma democracia, conclui o
Marcos Nobre. Imobilismo em movimento: da aber- autor. Com Lula e Dilma, a redemocratização se en-
tura democrática ao governo Dilma. São Paulo, cerrou, mas não se completou – argumenta ele –, em
Companhia das Letras, 2013. 204 páginas. virtude da permanência da dinâmica bloqueadora do
Marcelo Moreira pemedebismo, que fecha qualquer canal de protesto
contra o sistema político.
Não é de hoje que os intelectuais tem que con- O autor esclarece que concebe a democracia
viver com a crítica do senso comum sobre sua supos- mais do que somente um conjunto de instituições
ta inutilidade: de que eles pensam demais e fazem de políticas, tomando-a como um “modo de vida” (p.
menos. Mas o que deve fazer um intelectual senão 21), sem, contudo, detalhar ao certo o que entende
refletir radicalmente sobre os rumos do tempo em por essa expressão, mas sugerindo que é na dimen-
que vive? Além de revelar um preconceito corrente, são cultural que se encontra a chave de explicação
essa crítica deixa de perceber (e também se arma de- de nosso impasse. Mesmo assim, poder-se-ia per-
fensivamente contra) as possibilidades de transfor- guntar: mas que elementos culturais são necessários
mação da realidade reveladas pelo pensamento. para a existência de uma democracia? Nobre indica
Numa época em que o clamor das ruas por um que o “pluralismo” seria o traço cultural mais mar-
Brasil “padrão Fifa” se faz ainda ouvir, o livro de cante de uma sociedade democrática, mas não vai
Marcos Nobre tem o mérito de nos relembrar so- além de descrevê-lo muito vagamente como aquilo
bre as possibilidades de uma reflexão radical e sobre que organiza “o próprio cotidiano das relações en-
o papel público de todo intelectual. Imobilismo em tre as pessoas” (p. 9). Como se sabe, há todo um
movimento procura não apenas descrever a lógica de conjunto de estudos, de âmbito internacional, de-
impasse que, em sua concepção, o país vive, mas nominado usualmente de “cultura política”, que
tenta também indicar os meios de sua solução. Nesse poderia ter sido mobilizado pelo autor para suprir
sentido, há que se celebrar a inciativa do autor, a se essa lacuna, mas não o foi.
somar às de tantos outros intelectuais do país – Nobre define o pemedebismo em cinco carac-
não apenas aqueles que têm se dedicado a enten- terísticas fundamentais: 1) governismo, ou seja, in-
der diretamente a “Nova República”, mas também dependentemente de qual orientação ideológica do
toda uma tradição mais longeva de reflexão sobre o governo federal, é preciso sempre permanecer no
Brasil, que se convencionou denominar de “pensa- poder; 2) produção de supermaiorias legislativas, isto
mento político brasileiro”. é, supõe-se que, para governar, é necessário conquis-
A tese fundamental de Nobre é que o Brasil, tar uma ampla base de apoio no Congresso nacional;
desde a sua redemocratização nos idos da década 3) funcionar como um sistema de vetos; 4) impedir
de 1980, convive com uma “cultura de baixo teor a entrada de novos membros no poder, tornando o
democrático” (p. 9), que permitiu “blindar” o país bloco governista pouco ou nada plural; e 5) evitar o
contra transformações sociais mais substantivas. O conflito aberto, solucionando as disputas nos basti-
autor chama essa “cultura política” de “pemedebis- dores da política. Convém notar a discrepância entre
mo”, justificando sua escolha em função do PMDB a definição de democracia e a de pemedebismo: se
(e, mais ainda, o MDB) ter sido o lócus no qual se a primeira é definida como “modo de vida”, o se-
concentraram as diferentes forças de resistência à gundo, como se vê, é explicado essencialmente em
ditadura e, ao mesmo tempo, expressão maior da termos institucionais, precisamente a dimensão não
“ideologia oficial de uma transição morna para a de- analisada pelo autor.
mocracia” (p. 11). Mas o pemedebismo não é algo Percorrendo o período que vai do fim da di-
restrito a um partido específico, esclarece ele, sendo tadura militar ao mandato de Dilma Rousseff, a
antes um fenômeno a dominar hoje todo espectro análise de Nobre identifica sucessivas crises do pe-
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medebismo desde o seu surgimento, quando ele pelas forças conservadoras. O grande problema,
consegue vencer as forças sociais democratizantes conclui Nobre, é que o social-desenvolvimentismo,
porém dispersas. que se espera poder se aprofundar e expandir no
Em resumo, o esquema interpretativo do autor futuro próximo, com o incremento de políticas re-
tenta descrever as transformações e continuidades distributivas, por exemplo, é incompatível com o
na história da última República brasileira como um pemedebismo, uma tendência de conservação do
embate contínuo entre o “progressismo” e “peme- status quo. Desse descompasso, nasceram as cha-
debismo”. Com a pressão dos movimentos sociais madas “Jornadas de Junho”, fenômeno que inspira
durante a Assembleia Constituinte de 1986, as ma- claramente a escrita desse autor, nesta e em outra
nifestações pelo impeachment de Collor em 1992 obra (Nobre, 2013).
e, agora, os protestos de 2013 – expressões do pri- Cabe dizer que, passados dois anos de sua publi-
meiro fenômeno político – o pemedebismo “sofreu cação, Imobilismo em movimento parece ter se torna-
arranhões”, mas foi sempre capaz de neutralizar as do ainda mais atual. Tendo agora a presidência das
forças de transformação, e, em alguns casos, per- duas casas do Legislativo nacional, o argumento de
vertê-las, trazendo-as para o seu “condomínio po- que o pemedebismo ronda a democracia brasileira
lítico”, como teria ocorrido com o PT, sobretudo, como um fantasma a nos assombrar parece ainda
a partir do escândalo do “mensalão”, que fragilizou mais plausível. Sendo, contudo, impossível avaliar
bastante o partido. sistematicamente a obra à luz dos mais recentes
Para Nobre, a compreensão adequada do pe- acontecimentos da política nacional, resta ponderar
medebismo requer um esclarecimento acerca de mais detidamente sobre suas teses fundamentais.
que “modelos de sociedade” se construiu no Brasil Em primeiro lugar, cumpre notar o formato não
no último século. Sucintamente, a designação de acadêmico da obra, evidenciada, entre outros fato-
dois modelos de sociedade é que organizam esque- res, pela ausência de qualquer fundamentação empí-
maticamente o livro de Nobre. De acordo com ele, rica para as teses advogadas por Nobre, deixando o
desde os anos de 1930 se constituiu um ideal de so- flanco aberto às críticas de que o argumento sobre a
ciedade “nacional-desenvolvimentista”, que visava à “pemedebização” do Brasil não passa de uma figura
modernização por meio do protagonismo estatal, e de retórica de seu criador, a contar com a simpatia
que não tinha como “pedra de toque” a democra- ou a ignorância do leitor. Não há comprovações, por
cia (tema do primeiro capítulo de Imobilismo em exemplo, de que, no Brasil pós-redemocratização, os
movimento). Para Nobre, com o ocaso do nacional- partidos se comportem sempre aderindo ao governo,
-desenvolvimentismo no fim regime militar, surge ou de que se tenham buscado construir supermaio-
um novo modelo de sociedade, o “social-desenvol- rias legislativas, para falar apenas de dois aspectos
vimentismo” (assunto dos outros dois capítulos de centrais do argumento de Nobre.
sua obra). Se, no primeiro, o que importava era Mas seria possível argumentar que a forma “en-
promover o desenvolvimento econômico do país saística” de Imobilismo em movimento é decorrente
de modo autônomo, no segundo modelo, a ques- de uma intenção consciente do autor em ampliar o
tão capital é combater as desigualdades sociais, de seu público e interferir, mais diretamente, no de-
poder, reconhecimento etc. Tanto os anos em que bate sobre a política brasileira, evitando o ônus do
o PSDB governou o país sob a batuta de FHC, hermetismo comum aos textos acadêmicos.
quanto a era Lula e Dilma são identificados como Entretanto, se o propósito foi esse, dois co-
expressão do social-desenvolvimentismo. A única mentários são necessários. O primeiro é que o
diferença é que, no primeiro período, quando se faz texto torna-se por vezes repetitivo, e que poderia
a transição do nacional-desenvolvimentismo para o ter melhor acolhida se fosse mais sintético. Nesse
social-desenvolvimentismo, havia uma grande po- sentido, sua outra obra, Choque de democracia, tem
larização ideológica, na medida em que o PT re- mais força persuasiva, na medida em que apresenta
presentava nacionalmente uma força antipemede- essencialmente as mesmas teses, mas num formato
bista e que, a partir de 2002, é também corrompida mais conciso do que Imobilismo em movimento. O
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segundo comentário é que o autor quase não dia- Outro ponto confuso da argumentação de
loga com a literatura especializada. Entenda-se por Nobre diz respeito à transição do nacional-desen-
essa expressão não apenas a produção “empírica” volvimentismo para o social-desenvolvimentismo.
das ciências sociais brasileiras, a fornecer importan- Deixando de lado a simplificação implícita sob es-
tes informações sobre a dinâmica política nacional sas duas rubricas (que não permite o autor fazer,
mais recente, mas também a tradição anterior à por exemplo, qualquer diferenciação entre Vargas,
institucionalização dessas ciências no Brasil. Assim, Jango e os militares do pós-1964, ou, no caso do
a sugestão do pemedebismo como um “achado” social-desenvolvimentismo, entre FHC e Lula), res-
do autor, revela-se frágil quando se leva em con- ta uma dúvida crucial: se o pemedebismo é de fato
sideração estudos bem anteriores que asseveram uma cultura política de blindagem que se constitui
prevalecer no Brasil, há muito, um padrão de con- antes da emergência e da consolidação do social-
chavos entre as elites, como exposto nas obras de -desenvolvimentismo, por que ele permitiu que tal
Raymundo Faoro e Florestan Fernandes, por exem- modelo de sociedade emergisse, já que esse último
plo. Pergunta-se: em que a tese de Nobre difere das se choca com sua lógica elitista?
ideias desses outros intérpretes do Brasil? Não seria No contexto intelectual em que se insere, é
apenas mais uma atualização da mesma ideia, qual preciso destacar que o livro de Nobre procura se
seja, a de que o Brasil, sob a influência de suas eli- contrapor às teses da última obra do cientista po-
tes dirigentes, transforma-se, ao longo dos séculos, lítico André Singer (2012), Os sentidos do lulismo.
para, precisa e paradoxalmente, continuar o mes- Enquanto o último aposta que o cenário atual do
mo? O próprio autor poderia ter recorrido a eles país consiste num novo pacto político conservador
para tornar sua interpretação mais plausível, ou, (diferente do vigente na era FHC), mas de transfor-
pelo menos, para dialogar criticamente com eles, mação gradual do país, assentado sob uma polari-
mas, novamente, não o fez. zação entre “pobres” e “ricos” (sendo os primeiros
Deixando os aspectos formais de lado, cumpre capitaneados pelo PT, e os segundos por PSDB e
tecer mais alguns comentários sobre o conteúdo do DEM), o primeiro afirma que a “ocupação pela
livro. Um de seus pontos mais fracos refere-se à no- esquerda do condomínio pemedebista” (p. 150)
ção de cultura política, utilizada com centralidade redundou no fim da polarização ideológica que
por Nobre. Já se disse que o autor não incorpora marca os anos de 1980-1990 e na “normalização”
sistematicamente os estudos dessa subárea da ciên- do pemedebismo, um “caldo cultural comum in-
cia contemporânea. Usualmente, entende-se por distinto” (p. 156).
esse conceito o conjunto difuso de crenças, valores, Se a interpretação de Nobre é corroborada por te-
disposições e comportamentos que permeiam a so- ses semelhantes (como a de Francisco de Oliveira, que
ciedade e que interferem no comportamento polí- caracteriza o Brasil da era Lula como uma “hegemonia
tico dos indivíduos (Almond e Verba, 1963). En- às avessas, na qual as classes dominadas satisfazem, pa-
tretanto, o que Nobre está realmente tratando em radoxalmente, ainda mais integralmente os interesses
seu livro é da “cultura” das elites políticas, quer no dos dominadores), e que atestam uma convergência
Parlamento, quer nos cargos do Executivo, e não da programática entre PT e PSDB a partir de 2002, ela,
população brasileira, como um todo. contudo, não apresenta quaisquer dados a fim de re-
Além de o autor se utilizar, portanto, do con- futar a interpretação de Singer para quem ainda há
ceito de cultura política de modo equivocado, cum- polarização política, ainda que não entre “esquerda” e
pre notar também que este seja desnecessário para “direita”, como ocorrera nos anos de 1990.
a fundamentação de seu argumento, sendo o peme- O Brasil, sob a vigência do lulismo, na interpre-
debismo apenas a lógica a dirigir o sistema político- tação de André Singer, estaria, desta feita, vivendo
-institucional brasileiro. Tanto é verdade que as cin- um processo, contraditório, é bem verdade, de cons-
co características do pemedebismo fazem referência trução de um Estado de bem-estar social, na medida
antes ao modus operandi das instituições políticas em que promove a expansão e melhoria de vida da
do que à dimensão cultural. classe trabalhadora (a chamada, erroneamente, “nova
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classe média brasileira”) por meio de políticas sociais, que interesses o pemedebismo favorece, ou quais
tais como a valorização do salário mínimo, medidas são as suas relações com os diferentes grupos e clas-
de transferência de renda, de democratização do en- ses sociais da sociedade civil.
sino superior etc. Para Singer, é porque o lulismo é A adesão acrítica de Nobre à “voz das ruas”,
um projeto de justiça social que o eleitorado brasilei- por assim dizer, o estimula a postular que elas re-
ro tem se dividido tão fortemente entre PSDB e PT, presentam o esgotamento do atual modelo político,
sendo este último, tal como entendido pelos setores ao contrário de Singer, que assevera a dificuldade
mais diretamente por ele favorecido, como o “parti- de traçar semelhante diagnóstico, pois ele depende de
do dos pobres”, curiosamente, a mesma denomina- condições materiais favoráveis, tais como o com-
ção dada pelo eleitorado nacional ao MDB quando portamento político do subproletariado (favorecido
ele disputava o poder com o partido governista, o pelas políticas da era Lula), ou a existência de lide-
Arena, nos anos de 1970. ranças carismáticas a coordenar os conflitos entre
Ao contrário do que se afirma em Imobilismo em classes no futuro do país.
movimento, a estabilização do sistema partidário brasi- A outra faceta da idealização excessiva da socie-
leiro, identificada por Singer, é atestada também por dade civil é a condenação irrestrita do pemedebismo.
outros estudiosos, para quem o Brasil hoje aproxima- Nobre não se pergunta, e nem pode, portanto, aju-
-se de um padrão de disputa eleitoral partidária mais dar a compreender, por que o PMDB como partido
consistente (Limongi, 2006; Limongi e Cortez, 2010; do centro ideológico no país tem tanto sucesso elei-
Melo e Câmara, 2012). Embora existam algumas toral, vencendo o maior número de prefeituras nos
variações entre esses trabalhos, eles asseveram preci- últimos pleitos e mantendo-se como fiel da balança
samente o contrário do que é defendido por Nobre, nos governos FHC, Lula e Dilma que, como afir-
isto é, de que nos últimos vinte anos vem ocorren- ma Singer, ainda que tenham continuidades entre si,
do fortalecimento da democracia brasileira, no senti- dificilmente podem ser tomados como exemplos de
do de torná-la mais plural e sólida, haja vista que a um mesmo “modelo de sociedade”? Se esse sucesso
imensa maioria dos eleitores estaria dividida entre dois se deu sob a vigência de eleições livres, idôneas e re-
grandes blocos partidários, liderados por PT e PSDB, gulares, como explicar que uma sociedade civil “em
revelando um processo de gradual, mas importante, movimento” decida por escolher o grupo político
decantação do sistema partidário nacional, conhecido que precisamente barra e frustra suas ambições?
historicamente pela sua fragilidade e inconstância. Como ensaio político que é, Imobilismo em
Por mais sedutor que seja o insight do pemede- movimento não se limita ao diagnóstico de nossos
bismo, num cenário em que vemos Lula sair a pú- males, apresentando igualmente uma terapia para a
blico para defender políticos como José Sarney, por sua correção. O autor propõe, desta feita, duas me-
exemplo, ele não consegue, entretanto, suplantar a didas. Em primeiro lugar, se o pemedebismo “em-
análise de classes proposta por Singer, mais robusta baralha as cartas”, pondo fim à polarização, é preci-
empiricamente e coesa teoricamente, no sentido de so, diz ele, construir uma nova oposição para furar
apontar os limites e as possibilidades de transfor- o bloqueio político que impede o aprofundamento
mação gradual do país através do lulismo. do social-desenvolvimentismo e, por consequência,
Outro ponto fraco do ensaio de Nobre é a no- de uma democracia pluralista e social no país.
tória idealização acerca das “Jornadas de Junho”. A generalidade da primeira proposta contrasta
Em seus dois livros de 2013, o autor não esconde com a segunda. Diz Nobre (p. 154): “é preciso re-
sua simpatia por elas, tomadas como uma “rejeição verter o processo de altíssima concentração de recur-
incondicional do pemedebismo” (p. 13). Todavia, sos orçamentários em poder na União”, conferindo
ele não vai além disso, e não justifica de que modo maior autonomia aos estados e municípios, a fim de
as recentes mobilizações sociais podem produzir fortalecer, perante a sociedade, os espaços de partici-
uma mudança de fato na política brasileira. Ao lo- pação política mais próximos do cidadão, como as
calizar o fator de “atraso” da realidade nacional no Câmaras municipais e as Assembleias estaduais. No-
sistema político, Nobre nem sequer se pergunta a vamente, a mesma crítica se aplica: a incorporação
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mais sistemática de estudos sobre federalismo, por Olhares cruzados nas análises de
exemplo, teria muito a enriquecer a narrativa que o políticas públicas
autor formulou sobre a democracia brasileira, pro-
blematizando o diagnóstico simplificador de que, da Eduardo Cesar Marques e Carlos Aurélio Pimen-
década de 1980 em diante, não houve qualquer des- ta de Faria (orgs.). A política pública como campo
centralização política no país (Abrucio, 1998). multidisciplinar. Rio de Janeiro/São Paulo, Fio-
Do modo como é apresentado – o pemedebis- cruz/Editora da Unesp, 2013. 282 páginas.
mo como fator a imobilizar a sociedade brasileira
Renata Bichir
em crescente movimento –, o livro de Marcos No-
bre apresenta sérias lacunas que o fragilizam quer No Brasil, especialmente após a redemocratiza-
como ensaio de interpretação, quer como estudo ção, os processos de produção de políticas públicas
empírico a contribuir para o quadro geral das ciên- são cada vez mais complexos. Envolvem diversida-
cias sociais brasileiras. de temática, grande número de atores estatais e não
estatais em intricados padrões de interação e pro-
cessos decisórios que se desenvolvem em distintas
BIBLIOGRAFIA arenas, com consequências para públicos distintos.
Construir modelos de análise para compreender a
ABRUCIO, F. (1998), Os barões da federação: os go- produção de políticas públicas, desde os processos
vernadores e a redemocratização brasileira. São decisórios até a implementação e a avaliação, não é
Paulo, Hucitec. uma tarefa trivial. Isso implica, no plano analítico,
ALMOND, G. & VERBA, S. (1963), The civic modelos explicativos que combinem distintas con-
culture: political attitudes and democracy in five tribuições disciplinares por meio da articulação coe-
nations. Princeton, Princeton University Press. rente de variados arsenais teóricos e metodológicos,
LIMONGI, F. (2006), “A democracia no Brasil: para além de macroexplicações por vezes superficiais.
presidencialismo, coalizão partidária e proces- Como compreender melhor os atores, as insti-
so decisório”. Novos Estudos Cebrap, 76: 17-41. tuições e as dinâmicas envolvidos na produção das
LIMONGI, F. & CORTEZ, R. (2010), “As elei- políticas públicas senão a partir de múltiplos olhares
ções de 2010 e o quadro partidário”. Novos Es- disciplinares? A coletânea organizada por Eduardo
tudos Cebrap, 88: 21-37. Marques e Carlos Faria reforça essa perspectiva,
MELO, C. & CÂMARA, R. (2012), “Estrutura da trazendo um excelente panorama da contribuição
competição pela presidência e consolidação do sis- de diferentes campos do saber, a partir de deba-
tema partidário no Brasil”. Dados, 55 (1): 71-117. tes originados no fórum A Multidisciplinaridade
NOBRE, M. (2013), Choque de democracia: razões na Análise de Políticas Públicas, realizado no VII
da revolta. São Paulo, Companhia das Letras. Encontro da Associação Brasileira de Ciência Po-
OLIVEIRA, F. de. (2010), “Hegemonia às avessas”, lítica (ABCP), em 2010, no Recife. Ao longo do
in R. Braga, F. Oliveira e C. Rizek (orgs.), He- livro, que reúne ensaios inéditos elaborados por
gemonia às avessas, economia, política e cultura na especialistas em suas áreas, somos convidados a
era da servidão financeira. São Paulo, Boitempo. conhecer melhor as abordagens de diferentes dis-
SINGER, A. (2012), Os sentidos do lulismo: reforma ciplinas sobre as políticas públicas, tanto aquelas
gradual e pacto conservador. São Paulo, Compa- envolvidas diretamente na sua análise – ciência
nhia das Letras. política, administração pública e mesmo sociolo-
gia e relações internacionais –, como aquelas que
MARCELO MOREIRA contribuem com modelos e categorias analíticas,
é professor adjunto da Universidade Federal explicações para o comportamento de indivíduos
de Lavras (UFLA). E-mail: e grupos – sociologia, antropologia, psicologia so-
marcelomoreira@dch.ufla.br.
cial –, ou ainda disciplinas que fornecem subsídios
DOI: http//dx.doi.org/10.17666/3089171-175/2015 para o processo de produção de políticas públicas –

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