Você está na página 1de 2

21/02/2020 Querida Júlia, desculpe e obrigado | Ardina

21st April 2012 Querida Júlia, desculpe e obrigado

Hoje como há 50 anos, para crer tenho que ver, o que faz de mim um homem de pouca fé...

Querida Júlia, 
confesso que com o tempo venho mudando a minha opinião acerca de programas como o seu ou o
da Conceição Lino (ainda que muito lamente a troca que esta fez em detrimento do "Nós por Cá"
que, consequentemente, se extinguiu). Via estes programas de manhãs ou tardes, fossem os da
RTP1, os da TVI ou os da SIC, como pouco úteis, de má qualidade e um
duvidoso entretenimento para seniores (pese a arrogância). Naturalmente que não evoluíram em
todas as estações (televisões) da mesma forma mas no que toca ao seu "Querida Júlia", vejo-o hoje
como um dos (muito) poucos lugares e momentos de escrutínio de uma Democracia que (nos) é,
cada vez mais, postergada. Só é Democrático aquilo que é decidido pelo Povo, feito em Sua
representação e de acordo com a Sua vontade, e que fica necessaria e obrigatoriamente submetido
ao seu escrutínio. Ora é sabido que apesar do Estado Português estar submetido ao
Principio Democrático, escapam arbitraria, arrogante, potestatica, e abusivamente ao escrutínio e
controlo Popular a esmagadora maioria dos actos que Lhe dizem respeito e as decisões sobre aquilo
que é apenas Seu, seja na Administração Central ou Local, na Justiça (e nos Tribunais, onde o Povo é
sempre mantido na parte de fora da roda de poder dos vários e corporativos pares judiciais), na
Educação (e nas Escolas, Institutos e Universidades), na Saúde (e nos Hospitais e Centros
de Saúde), na Previdência Social, etc.

[http://4.bp.blogspot.com/-
HhiOFo4vSgc/T9ZjhXzmp2I/AAAAAAAAAZ8/39uEetB8vIw/s1600/querida_Julia1.jpeg]

Não foi, seguramente, por acaso ou capricho que - entre outros - há mais de uma década
Boaventura de Sousa Santos classificou este esquema funcional administrativo e político que se vem
desenhando desde há duas décadas invocando não sei que legitimidade democrática, como um
Neo-Corporativismo. E nos corporativismos, sejam os Neos, os Protos ou os Criptos, o Povo não
vota para mandar ou decidir do que é seu, vota para plebiscitar o que decidem aqueles que
abusivamente usurpam poder e poderes. Ora quando os poderes ditos democráticos se afastam
ostensiva e sobranceiramente do Povo e da Sua soberania (e se preciso for, com recurso à força e às
polícias de choque) e, por outro lado, os nomeados e empossados recusam ao povo o seu direito à
informação e ao escrutínio; quando - pasme-se - no programa matinal da Júlia Pinheiro está
presente mais vezes o Povo com os seus problemas reais que no próprio Parlamento - já só podem
este Povo e esta Democracia contar com os Media e de entre estes, com as estações de televisão e
dentro destas com alguns programas que dão voz ao Povo contra os arbítrios e abusos daqueles que
o Povo elegeu e que estando obrigados a actuar em Seu nome, de acordo com a Sua Vontade e no
Seu interesse, decidem por outras Agendas.

ardinarices.blogspot.com/2012/05/querida-julia-desculpe-e-obrigado.html?view=timeslide 1/2
21/02/2020 Querida Júlia, desculpe e obrigado | Ardina

Como exemplos avulsos,

Em matéria de saúde e previdência, onde e a que horas pode o Povo escrutinar, discutir e
alterar [1]

- o que é, na sua essência, a redistribuição da riqueza e como é que vem sendo praticada, i.é., com
que critérios se gerem, aplicam e distribuem quer os seus impostos, quer as suas contribuições,
- quem efectivamente beneficia, como e a que preço, das Prestações do Estado, designadamente da
Educação, da Saúde e da Previdência,
- como se gerem clínica e administrativamente os Hospitais Dele (Povo) e mormente em benefício de
quem,
- que acesso efectivo tem o Povo aos Tribunais e à Justiça,
- que justiça operam e com que discricionaridade em Seu (dele, Povo) nome os pares judiciais,
- ou se afinal a justiça é transparente e é do Povo ou é Couto (corporativo) do tal círculo de pares,
-que critérios e que constitucionalidade permitiram que num Estado Democrático se criassem off-
shores da Democracia como o são as Ordens e Colégios [1]corporativos e que prerrogativas
(sonegadas ao escrutínio Soberano) lhes foram atribuídas,
onde, como e a que horas pode o Povo[2] exercer a sua soberania - e não pode ser apenas
quinquenalmente e nas urnas ou secções de voto - não sei, não vejo onde. Mas sei que todos os
dias há Povo, questões reais e denúncias lúcidas e, consequentemente, há escrutínio Popular no
"Querida Júlia".

[1] Balancetes do défice democrático (link).

[2] O Povo não é uma abstracção e muito menos é apenas a palavra tipografada na CRP. O Povo, parafraseando o
professor Adriano Moreira, é cada Homem e cada Mulher no seu lugar e circunstância.

Publicado 21st April 2012 por Ardina - Jornalismo Transversal

0 Adicione um comentário

Introduza o seu comentário...

Comentar como: vemio (Google) Terminar sessão

Publicar Pré-visualiza Notificar-me

ardinarices.blogspot.com/2012/05/querida-julia-desculpe-e-obrigado.html?view=timeslide 2/2

Você também pode gostar