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Conflitos e crises no seguimento a Jesus Cristo

A vida e a mensagem de Jesus revelaram uma novidade de tal magnitude


que gerou uma radical conflitividade com as instituições sociais e religiosas de seu
tempo. De fato, com a presença desconcertante de Jesus, chega até nós a “Boa-
Nova”, não precisamente para pôr remendos à lei, ao culto e aos ritos, mas para
revelar a possibilidade de uma nova maneira de viver, uma nova atitude frente
àqueles que a religião excluía: pecadores, pobres e marginalizados.

Tudo o que Ele fazia – suas atitudes, seus gestos, suas palavras – revelava uma
nova visão das coisas, um novo ponto de partida, um novo movimento, um novo
projeto. Sua presença, inspiradora e provocativa, colocava em questão e
desmontava toda uma estrutura social e religiosa que desumanizava.

A Cruz vai ser o sinal e a síntese da dimensão conflitiva de Jesus e de sua


missão. Por ter vivido como viveu, não podia terminar de outra maneira. A
dimensão conflitiva da fidelidade de Jesus à missão é o resultado inevitável do
embate entre sua missão, que anuncia a justiça do Reino e as bem-aventuranças, e
a realidade que não quer ouvir e rejeita a novidade do Reino. Sua existência não
foi “neutra” no sentido de uma vida que passa sem ser percebida.

Jesus não só sofreu a perseguição e os conflitos, mas também nos apresenta


as consequências do seu seguimento. Quem vive radicalmente o Evangelho, vai ser
rejeitado, perseguido... O conflito faz parte da vida do(a) seguidor(a) de Jesus;
ele(ela) vive em meio a uma realidade que resiste à novidade e à transformação
de vida exigida pelo Reino.

Tendo por referência inspiradora a pessoa de Jesus e o modo de agir das


primeiras comunidades cristãs, nós, seguidores de Jesus, devemos enfrentar com
seriedade o sentido cristão dos conflitos pelos quais atravessamos. Deus também
se revela no conflito; nos conflitos há uma manifestação do Espírito.

A crise é um período de insegurança, que convoca a uma nova síntese de


valores e a uma vivência evangélica dos mesmos. O conflito gera a crise porque
obriga a repensar, a aprofundar, arrancando-nos da aparente estabilidade e do
conformismo.

Nesse sentido, o conflito e a crise são um apelo a uma progressiva conversão.


São um convite a um aprofundamento da totalidade do compromisso cristão e a
um crescimento em todos os valores que o conflito pôs em crise. Pode-se afirmar
que não há seguimento cristão, nem aprofundamento de uma maturidade adulta
que não passem pelas crises do conflito.

O conflito leva à maturidade e pressupõe a maturidade para ser assumido e


superado. O conflito pode converter-se em fonte de crescimento quando uma
pessoa ou uma comunidade cristã deixa de negá-lo ou evitá-lo, mas quando
aprende a manejá-lo com atitudes de integração, discernimento e compreensão. O
conflito aprofunda e purifica a existência; aprende-se a discernir entre o essencial e
o acidental e a despojar-se do inútil ou supérfluo para ficar com o que é mais
importante.

O conflito se converte numa experiência positiva quando nos motiva a


desenvolver novas destrezas, nos anima a buscar meios para manejar problemas,
estimula nosso interesse pela comunidade e nos aproxima dos outros, nos leva a
esclarecer nossos pontos de vista e a reexaminar nossas posturas...

Tanto no processo pessoal do seguimento de Jesus como na configuração de


uma comunidade cristã, os momentos de conflitos são inevitáveis; nesses
momentos densos, de encruzilhada e de resistência, abre-se a possibilidade de
descobrir um renovado sentido de unidade e consistência, que permite ao sujeito
(pessoal ou comunitário) sentir-se a si mesmo no meio de constantes tensões.

Os conflitos revelam o movimento da vida. A realidade é dinâmica, move-


se, evolui. O absurdo de querer fixá-la em esquemas teóricos e modos
ultrapassados de comportamento, fatalmente conduz ao confronto de forças, de
ideias, de visões diferentes...

Os conflitos não são negativos. Eles nos ajudam a aceitar melhor a verdade
e fazer nascer o novo, mais rico e mais amadurecido. O Evangelho nos lembra a
morte da semente e a mulher grávida que aguardava sua hora, terminando por
contribuir com vida nova para o mundo.

Em meio aos conflitos, também nossas comunidades cristãs podem crescer


em amor fraterno. É o momento de descobrir que não é possível seguir a Jesus e
colaborar com Ele no projeto humanizador do Pai sem trabalhar por uma
sociedade mais justa e fraterna, mais solidária e responsável. O conflito é um
“ensaio da esperança”, uma certeza de que o Espírito “renova todas as coisas”
sobre a face da terra.

Pe Elton de Oliveira

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