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A chuva fina molhava o rosto de José enquanto ele passava por entre a

multidão que se dispersava devagarinho no último dia de carnaval. Enquanto


caminhava ainda bêbado, o mundo tinha cheiro da manhã de carnaval do
Baden Powell. Tudo era lento sujo e engraçado. Os carros alegóricos, gigantes
de isopor e cola quente, pareciam saídos de um sonho surreal carnavalesco
que preenchia o imaginário da cabeça ainda rodopiante de José.

José bebeu, cheirou, fumou, beijou mulheres e travestis. Se deu ao luxo dos
governantes que cheiravam pó no cu das trans finíssimas e foi abençoado por
marques de Sade esquecendo que tinha mulher e filhos o esperando em casa.
Aqueles dias eram seus dias de redenção desde de que quando foi morar com
Carolina depois do nascimento da primeira filha.

Apesar de reclamar muito no twitter, Carolina sabia que ele precisava dessa
folga para não enlouquecer no calor e na poeira de todos os dias vendendo
coca, água e guaravita nos ônibus da cidade. Ela sabia que ele seria sempre
seu de qualquer forma no fim da noite. Também sabia que essa atitude não era
a melhor. Tinha consciência de que estava só no mundo e que suas filhas só
contavam com ela e com José. No mesmo momento em que via comentários
emponderadores nas redes sociais também se encontrava de frente com toda
a complexidade do que é se relacionar num mundo cão em que todos estão
sozinhos desde o momento do nascimento até o último suspiro no corredor de
um dos poucos hospitais que sobraram do SUS depois da privatização do Pau
no Guedes.

É sacanagem pedir empoderamento ou criticar alguém quando se está muito


bem atrás da tela do seu iphone, escondido numa foto cheia de filtros e
mentiras enquanto gela o rabo cheio de bacurau no ar condicionado do seu
apartamento em Ipanema. Distribuindo conselhos gratuitamente a
simplesmente zero pessoas que não pediram sua opinião mas que também
não conseguem mais deixar de espiar o que todo mundo tem a dizer.

Boca da noite. Boquinha de gata. Chupando mordendo. Bala de Conhaque.


Colored. Collor na garoa. Um grande carro alegórico do prefeito se
desmanchava na chuva que deus enviava para expurgar toda a revolta e
energia sexual acumulada durante o ano. Uni-vos na putaria disse o manifesto
do orgasmo total já que não podíamos mais nos unir nos sindicatos quase
extintos dessa nova era tecnológica uberizada.

José parou por um segundo de frente com aquele bonecão de Olinda que
governava a cidade maravilhosa. Tirou o pau pra fora e mijou nele só de raiva.
Escreveu seu nome completo e cpf descarregando toda raiva e cerveja que
bebeu durante a noite. Teve uma petite mort ao terminar e sua perna deu uma
tremidinha orgástica. Seus olhos viraram de prazer e vingança. Um guarda ao
lado também mijava sorrindo. Não balançou muito o negócio, sabia que a
última gota é sempre da cueca. Saiu fora antes que o guarda o multasse.

Chegou no ponto das vãs da central do Brasil.

— Caxias, via Washington Luiz tem vaga! Vamo, vamo?

— Aceita bilhete único?

— Sobe aí, mermão!

No rádio da vã tocava The Stylistics — You Make Me Feel Brand New na JB


Fm 99.9 do Rio de Janeiro. Padrão em qualquer veículo carioca durante a
madrugada iluminada pelos postes de luz amarela na Avenida Brasil. José
encostou sua cabeça no vidro embalado pela baladinha setentista e foi
cochilando enquanto a chuva aumentava exponencialmente, seja lá o que isso
quer dizer. O painel de notícias da JB informava sobre os alagamentos em todo
o estado e a defesa civil pedia para que os moradores saíssem das áreas de
risco para irem pra só deus sabe aonde.

Chovia forte quando ele desceu no seu ponto em Caxias. Era quase de manhã
mas ainda estava escuro como se a noite não quisesse acabar. As pessoas se
abrigavam debaixo das marquises dos comércios enquanto esperavam os
micro-ônibus que os levariam para mais um dia de trabalho em algum lugar
muito longe de casa. Embaixo da passarela viu um bêbado deitado no chão
usando um papelão molhado como colchão. Ele sorria perversamente agarrado
a sua caninha da roça.

Chovia e repanguelejava e José estava cansado e molhado. Só queria chegar


em casa logo. Depois de pouco pensar saiu na chuva subindo a passarela que
tremia com o vento forte que vinha de todas as direções. No outro lado da
passarela a tia do café armava sua tenta para mais um dia de vendas
informais. Ajudou a tia estender seu comércio. Tomou um café forte no copinho
descartável e acordou minimante para vida com a chuva batendo no seu rosto
ressequido. Chovia forte e o rio estava subindo. Queria chegar em casa logo
para colocar as coisas pro alto. Lembrara finalmente que tinha mulher e filhos.
Saiu correndo o mais rápido pode debaixo da água pesada que caía sobre seu
coro cabeludo e crespo.

Ao chegar em casa, Carolina já tinha colocado a maioria das coisas para cima.
Ajudou então a colocar o berço da filha, ou o que restou dela depois da última
enchente, em cima da caminha de criança da filha maior. O guarda roupa mole
já sem as gavetas de baixo não aguentaria a mais essa aguarada imunda
entrando pelas suas pelas fibras de madeira prensada. Todo ano a mesma
coisa. Volta a Casas Bahia comprar um novo móvel que se perdera na chuva.

— Amor, vamo ter que jogar fora esse guarda roupa. — Disse Carolina.

José coçou a cabeça. Agora com o nome mais sujo que a lama ameaçando
entrar pelo ralo do banheiro, não podia se dar esse luxo de repor o mínimo
necessário para chamar o barraco de casa.

A chuva ainda caía. A mureta em frente ao portão impedia que a água entrasse
na casa mas no banheiro as baratas subiam pelo ralo como cena de horror
coreano. Não tinha mais o que fazer. Ficaram os quatro, o casal mais a duas
filhas pequenas, em cima da fina cama box esperando a água entrar a
qualquer momento.

A ressaca batia forte em José que tentava cochilar sentado com a filha no colo.
Mas toda hora um grito de Carolina o acordava quando uma barata ameaçava
subir na cama. José levantou da cama e deu uma chinelada na barata que se
espatifou soltando milhares de ovos pelo chão enquanto debatia suas
perninhas para o alto morrendo lentamente ao lado de outros corpos já
devidamente chinelados.

Com a garganta seca e o corpo sem um pingo de glicose, José foi até a
geladeira beber água. Pegou a garrafa pet de dois litros e bebeu no gargalo
mesmo. Sentiu um gosto estranho meio barrento. Parecia até que umas
pedrinhas entranharam na sua garganta mas e a sede. E a sede? Aquela água
tinha gosto de que? Gosto de que? Era sabor de veneno com cheiro de cu sujo
e detergente minuano.

— José, não! — Carolina gritou tomando a garrafa da mão de José. — Essa


água tá podre. Peguei do filtro e ainda fervi mas não saiu esse cheiro horrível
de esgoto.

Oh merda. Pensou José que já tinha bebido quase metade da garrafa.


Voltaram para cama e a chuva já estava diminuindo. Graças a Deus a água
não chegou a entrar em casa. A luz cinza do dia nublado entrava pela janela.
José desligou a luz e a televisão que mostrava os impactos e alagamentos da
chuva pela naquela manhã de carnaval. Dormiram os quatro na mesma cama
como crianças que o mundo pariu mas que depois foi comprar cigarro e nunca
mais voltou. O mundo é pai. A sociedade é madrasta.

José sonhava. Sonhava que estava dentro de um chevetinho 94 indo à praia


com sua mulher e as filhas. Nem sabia dirigir e por isso no lugar do volante seu
carro tinha um controle de play 2. No banco de trás as crianças faziam farra
entre as boias e caixas de isopor com cerveja e frango assado com farofa. No
banco do carona, Carolina levava uma tupperware com maionese e José sabia
que tinha comido mesmo sem se lembrar quando.

Sentiu um revertério no estomago enquanto controle de play dois vibrava em


sua mão. Não conseguia gritar. Na sua boca apenas a ânsia de vomito subia e
descia percorrendo todos os chacras de seu corpo astral. Deu pause no
controle e o carro parou na beira de um rio poluído. Saiu do carro para vomitar
e caiu dentro do valão imundo cheio de merda e resíduos das empresas que
descarregavam seu lixo orgânico no que foi um dia rio de verdade.

Enquanto José se debatia na água suja, um ralo enorme começou a sugar todo
o rio num vortex de sonhos escalafobéticos, fúria e dor silenciosa na boca do
seu estomago. Tentava gritar em vão. Em vão tentava gritar. Em vão chamar
por Carolina, pela mãe, por Deus.

Acordou com a mão no estomago e correu direto para o banheiro, suando que
nem um porco. As baratas ainda estavam paradinhas na parede igual aqueles
muros antigos dos anos 90. Que nervoso sentiu ao olhar aquela imagem
Salvadoramente Dalí. Seu estomago doía. Sua cabeça doía. Tudo doía. Suas
mãos tremiam. Com certeza era a água podre que tinha bebido. Ouh porra,
pensou quando o liquido que saiu do seu fiofó caia igual cachoeira na água da
privada. Cagando igual pato e suando igual um animal aquilo parecia que não
tinha mais fim.

Entrou em gnose em fim de tanta força que fizera. Quando o estomago cessou
de colocar para fora tudo que tinha direito, José abriu os olhos e levantou para
ligar a luz que parecia tão mais forte tão mais forte que quase o cegou. Se
olhou no espelho e o que viu foi apenas um amontoado de liquido marrom
avermelhado da mesma cor que o rio ficava quando as empresas de alimento
jogavam resíduo de peixe podre nesse rio que passava atrás de seu barraco.

José agora já não tinha mais forma humana. Era só um amontoado de água
suja com cheiro de cu suado. Se olhava no espelho sem conseguir falar
quando Carolina bateu na porta do banheiro.

— Zé, vai logo. Tô apertada.

O que faria? O que faria? Antes que pudesse responder a sua própria pergunta
Carolina abriu a porta sanfonada.

— Aaaahhh! Que merda é essa? — Carolina gritou alto enquanto José tentava
murmurar alguma palavra balançando e chocalhando água barrenta para todos
os lados. Quando tentou chegar perto da própria mulher, Carolina pegou a
vassoura que estava no banheiro e começou a bater no ser estranho e fedido
que estava à sua frente. Tome e tome e a vassoura passava por dentro homem
liquidifedorento. José caiu na privada novamente e Carolina deu descarga no
mesmo instante fazendo o homem descer pelo ralo num vortex de vergonha e
medo.

Sua consciência descia pelo cano de esgoto num tobogã de angústia e


escuridão. Caiu no valão se misturando com a água e alcançando o nirvana ao
contrário. Ele era uma gota de raiva caindo num oceano de ódio. Podia sentir
em si toda a imundice daquele rio. Os peixes estranhos e deformados que
nasciam daquela água quase radioativa passavam por dentro dele. Deixou-se
seguir o caminho do rio sem saber onde iria chegar já que não tinha mais para
onde ir.

Depois percorrer quilômetros e mais quilômetros de rio, José desaguou na Baía


de Guanabara. Entre plásticos e dejetos humanos e não humanos, peixes
chernobylianos se alimentando de garrafas pet e detergente, José encontrou
um ser antigo. Parente próximo dos dinossauros que pisaram na terra há
muitos anos. Era um jacaré. Bom, era normal ver jacaré por aqui apesar da
poluição nas águas. Mas o que lhe assustou foi o quando bicho parou seu nado
e disse “oi” ficando de frente para a consciência de José. O bicho falava dentro
da mente de José como por telepatia.

— Ei irmão. O que aconteceu contigo? — O réptil perguntou se mexendo de


um lado para o outro enquanto olhava bem de perto nosso herói que narrou
todo seu infortúnio desde de que tomou aquela água estranha que saía de
todas as torneiras do Rio de Janeiro.

— Que merda hein kkk — O jacaré riu e se movimentou rapidamente entre a


sujeira plástica da Baía de Guanabara. — Literalmente você bebeu merda hein
amigo.

José era só ódio por dentro e então uma explosão de água suja nele
manifestou. Queria matar o prefeito, o governador, o presidente! Todo mundo
que tinha água limpa e não ligava para suas filhas que nem podiam tomar
banho naquela merda de lugar esquecido por deus.

— Eu sei o que você está sentindo meu parceiro. E se você se concentrar você
pode tomar a forma que você quiser. Acumule sua raiva e pense na forma que
você quer ter.

José pensou em tudo de ruim que passara na sua vida. Na mãe, humilhada
todos os anos trabalhando em casa de família como empregada doméstica. No
seu pai alcoólatra que abandonou ele e seus irmãos deixando a mãe à deus
dará. Podia sentir o DNA seboso da classe média que descia pelos esgotos e
tomou a forma finalmente de algo parecido com um ser humano. Braços,
pernas, dedos e cabeça. Pelo menos agora poderia sair dali e tentar voltar para
casa. Mas nem sem antes se vingar de quem deveria cuidar da população.
— Isso meu parceiro! Isso! — Eu sei que você quer vingança e eu vou te ajudar
hahaha vamos na casa do prefeito dá uma zuada com a cara dele kkk. Mas
antes de qualquer coisa: prazer, meu nome é Clara Crocodilo. — O réptil meio
humano depois que disse seu nome saiu em disparada enquanto José voltava
a forma liquida e lhe acompanhava por entre a escuridão marrom que se
tornara aquela Baía de águas pluviais.

No escuro da noite, na madrugada silenciosa e sem funk que era o condomínio


de luxo que o prefeito morava, José na forma liquida passou por cima do muro
alto que separava aquele paraíso do resto do inferno que se tornara o Rio de
Janeiro. Dentro dele também estava Clara Crocodilo com todo seu sarcasmo e
dentes grandes sorrindo maleficamente indo em direção a casona do homem
que ajudava a deixar a população cada vez mais pobre.

Agora na frente da mansão do político, José procurava um jeito de entrar na


residência. Clara apontou silenciosamente com suas garras para a tampa do
bueiro na rua reta, limpa e bem asfaltada. José entrou pelos buracos da tampa
depois entrou no cano de esgoto em direção a cozinha da casa.

A torneira da grande cozinha limpa pelas empregadas terceirizadas começou a


tremer a tremer e explodiu em lama sujando todo o ambiente deixando um
cheiro podre pelo ar. José se reconstituiu em formato de humanoide e foi em
direção a porta de entrada. Abriu para Clara Crocodilo que entrou com tudo
naquele antro sujo. Ninguém viu mas eu vi os olhos vermelhos do réptil que se
arrastava deixando toda o carpete fino imundo.

Na sua suíte, o prefeito mijava no luxuoso banheiro que era do tamanho do


barraco de José. O velho deu descarga e estranhou que sua merda não
descera. Não era possível que com o preço absurdo que ele pagava por mês
com dinheiro público aquele vaso tivesse entupido. Deu descarga outra vez e
invés da merda descer o que aconteceu foi que parecia que estava era saindo
mais merda do buraco do sanitário. Mas não era merda não. Era José voltando
da baixada para fazer sua vingança.

Como um chafariz de cocô o vaso sanitário pululava água suja enquanto o


prefeito olhava assustado. Aquela água desceu pelo chão se transformando
numa espécie de Cindel do Killer Instinct marrom. Cheio de ódio no coração
José foi para cima do prefeito que tentou correr para a porta sem saber que a
velocidade de José também aumentara consideravelmente. José parou bem na
porta do banheiro impedindo a saída do prefeito. Sem muita parcimônia
começou a espancar sem parar aquele homem velho e branco dando combos
e mais combos de porrada nele enquanto jogava ele de um lado para o outro
do banheiro com cerâmica fina.

Socos e socos e socos e socos e chutes no estomago e na virilha e mais socos


e socos fizeram o prefeito voar no blindex do box que se espatifou em um
milhão de vidros pelo chão. Sem piedade e com muito ódio José aplicou um
ULTRA COMBO de 105 HITS seguidos dando-lhe um último golpe que fez o
homem voar pela janela caindo no jardim bonito e bem cuidado do lado de fora
da mansão.

José ainda bafejava de raiva com os olhos marrons arregalados quando ouviu
um gemido do lado de fora do banheiro. Saiu para ver o barulho e encontrou a
primeira dama de quatro na cama box feita de molas especiais e Clara
Crocodilo lhe enfiando a rola grande e verde enquanto falava com cara de
louco:

— EU VOU COMER TEU CU

— No cu não, você não vai comer meu cu! — Dizia a primeira dama.

— VOU! VOU COMER SIM SUA VAGABUNDA! VOU E FICA QUIETA AÍ SE


NÃO EU TE MATO HEIN

— Aí...

— FICA QUIETA AÌ SE NÃO EU TE MATO HEIN SAFADA

José viu aquela cena incrédulo mas Clara Crocodilo não parou de meter no cu
da primeira dama até que ouviu os passos dos homens da Bope subindo pela
escada da casa.

— IHH SUJOU MALUCO VAMO SAIR FORA!

Mas não deu tempo e a polícia entrou no suíte atirando, o que não adiantou
muito pois nem o tempo mataria Clara Crocodilo que saiu como uma flecha
pela janelona caindo do segundo andar e entrando pelo mato afora. Clara
Crocodilo escapuliu.

A polícia ainda tentou em vão atirar em José que transformou suas duas mãos
em laminas de água podre e todos os policiais que ali se encontravam
experimentaram toda ira sem fim do homem que bebeu água da CEDAE.
Esquartejou membro a membro cada um daqueles assassinos do Estado
deixando um rastro de sangue, merda, vísceras e botas pretas por toda a casa.

Do lado de fora o caos já estava instalado quando José saiu pela porta da
frente. O exército já o esperava apontando para ele os mesmos fuzis que
matavam crianças a caminho da escola e trabalhadores nos seus carros indo
para a igreja.

Vocês acham que podem parar José? Não podem não! José fez de sua mão
uma AK-47 de água e começou a disparar jatos de água mortais contra o
exército que revidou com todo o seu poder. O que não adiantava nada pois
José agora era só liquido, merda e ódio.

Já tinha matado um tanto considerável de militares quando de repente sentiu


um jato de água lhe jogar contra o muro da casa ao lado. Olhou e viu uma
grande mangueira de bombeiro apontada para si. Estava derretendo e não
conseguia se incorporar naquele liquido. O que era? O que era? Era um grande
caminhão tanque cheio de água sanitária que estava literalmente limpando
seus poderes. Acharam finalmente sua criptonita.

Com o pouco de sujeira que ainda restava em seu corpo, José saiu em
disparada para o bueiro mais próximo sumindo pelos esgotos da cidade
maravilhosa.

José voltou para o seu bairro e passou muito tempo no rio que passava atrás
do seu barraco na baixada fluminense. Agora o que faria? De longe via suas
filhas abandonadas pelo estado e Carolina sendo escravizada
terceirizadamente numa fábrica qualquer que pagava cada vez menos e
lucrava cada vez mais.

José não poderia mais voltar para casa. Imóvel no fundo do raso rio, pensava
em como sua existência colocava em risco a saúde de sua família. Mas agora
que sabia seus pontos fortes e seus pontos fracos poderia fazer muito mais
pelas pessoas que não tinham nem água limpa para beber.

Já sabia o que iria fazer dali para frente. Transformaria em merda toda a vida
dos empresários e políticos que sujavam os rios e privatizavam o país. Ainda
viveria muito se dependesse dos políticos para limparem a água que saía da
torneira e adoecia a população desse país. A sua próxima vítima seria o dono
do frigorifico que despejava resíduos de peixe e frango no rio em que ele
estava vivendo. Comeria o cu dele igual Clara Crocodilo fez e depois o
desmembraria sem dó nem piedade dando seus restos mortais para os peixes
da Chernobyl carioca comerem. E por falar em cu onde estaria aquele jacaré
estranho e sádico que rodava num LP cult dos anos 80 sem saber porque
também teria se transformado em monstro? Devia de estar em algum labirinto
nostálgico gritando na vanguarda das periferias que estão levando a cultura
desse país nas costas.

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